Tudo começou há dois meses, quando eu finalmente consegui um emprego que estava de olho há alguns meses. Comecei a lecionar numa escola de idiomas. Sempre fui um profissional dedicado e que busca sempre manter a ética no ambiente de trabalho. Não costumo misturar minha vida pessoal com trabalho e vice-versa, porém as coisas meio que começaram a sair um pouco do controle, pois nesse emprego novo, logo de cara, eu já conheci uma pessoa muito especial que me fez cruzar algumas linhas que jamais imaginei ser capaz.
Trabalho como professor de Língua Inglesa em escola pública e agora numa escola particular de idiomas da minha cidade. Não é um lugar tão conhecido, mas é um emprego bem legal que eu sempre quis; Além de me ajudar ainda mais em minhas despesas. Tenho certa experiência em lidar com alunos e, como disse, nunca, jamais me envolvi com nenhum deles, nem ex-alunos (apesar de imaginar isso algumas vezes, entretanto ficou apenas na fantasia). Mas isso começou a mudar quando conheci o meu aluno novo que veio transferido de outra unidade dessa escola particular de idiomas.
No dia em que conheci o dito cujo, eu havia chegado um pouco mais cedo na escola de idiomas para tratar de uns assuntos financeiros com os donos do lugar. Após a reunião, a gerente me comunicou da chegada de um novo aluno, que havia sido transferido de outra unidade da escola devido a problemas de adaptação. Ela disse que o aluno era de nível mais avançado e que gostaria que eu fizesse uma entrevista com ele para poder ver em qual turma o encaixaria. Eu tenho três turmas nessa escola: uma de nível médio e duas de níveis avançados. Disse que tudo bem, e ela perguntou se eu já poderia atender o aluno, pois ele já estava a caminho da escola. Concordei, como já havia chegado mais cedo mesmo, e a minha gerente me cedeu uma das salas de reuniões para a entrevista. Prontamente fui para a sala e preparei um teste básico para o aluno novo junto a algumas perguntas que sempre gostava de fazer para me aproximar mais dos meus alunos e ver quais são seus objetivos ao aprender o idioma. Passado alguns minutos na sala de reunião, a gerente bate à porta trazendo o aluno.
No primeiro momento, achei um pouco estranho o aluno, pelo fato desta escola de idioma ter um público mais adolescente (alunos de mais ou menos 13 a 18 anos). Daí eu me lembrei que a outra unidade ficava com os alunos mais velhos, e como a minha gerente disse que o novato veio dessa logo caiu a ficha. Não é que o aluno era tão mais velho assim, mas eu estava tão acostumando com os alunos mais jovens, mesmo a pouco tempo ali, que estranhei um pouco a barba meio rala no rosto claro do rapaz. Digo rapaz, pois ele (apesar de aparentemente mais velhos que meus alunos habituais) possuía traços bem joviais ainda. Um olhar direto e bastante curioso, um corpo mais desenvolvido do que os demais alunos (porém ainda não de homem) e escondia-se atrás de roupas sociais. A gerente o apresentou como João (vou chamá-lo assim). O jovem se aproximou, cumprimentou-me com um aperto de mão firme e se sentou numa poltrona defronte a mesa em que eu estava. Logo que a gerente saiu eu me levantei e me apresentei, dando as boas-vindas ao novo aluno e falando um pouco sobre o curso e a escola.
João não dizia muita coisa. Ele apenas ficava me observando e, quando falava, usava de monossílabos para concordar ou discordar de alguma coisa que eu dizia, porém somente quando eu o questionava. Após eu explicar tudo o que tinha para dizer e fazer minhas perguntas habituais para avaliar o aluno, eu constatei que ele gostava bastante de leitura, cinema e de viagens. O jovem disse que tinha 21 anos, trabalhava com o pai numa empresa de turismo e que o seu objetivo com o inglês era para realizar um intercâmbio e fazer um curso ao mesmo tempo, na Europa, junto com uma irmã que já estava por lá há dois anos. Após essa breve avaliação, entreguei ele um rápido teste para ver em qual sala o colocaria. Ele sorriu timidamente, pegou a folha e começou a escrever. Terminou o teste em menos de 10 minutos, o que chamou a minha atenção e me fez colocá-lo (após corrigir sua prova e constatar que ele realmente era um bom aluno) numa das turmas avançadas, porém com menos alunos, pois ele me disse que queria focar mais na fala (pronúncia), pois era a parte que ele tinha maior dificuldade. Disse que o colocaria na turma com menos alunos e que inclusive tinha dois alunos lá que já haviam feito intercâmbio. João apenas soltou um “ok”, depois um “obrigado” e eu disse que ele poderia voltar a procurar a gerente e avisar em qual turma ele ficaria. O garoto me agradeceu de novo e deixou a sala de reunião.
Quando saí da sala, depois de uns minutos, lá estava a gerente e João vindo em minha direção. Ela me falou que tinha perguntado ao aluno se ele já queria começar naquele dia. Ele falou que sim e então a gerente veio me comunicar. Como já estava quase na hora da aula começar, ofereci para acompanhar o novato até a sala de aula. Ele agradeceu e veio caminhando de cabeça baixa, ao meu lado. Assim que entramos na sala, já tinha dois alunos lá, e por coincidência um deles era um dos que haviam feito intercâmbio. Eu os apresentei e logo o João se enturmou com o outro, o tal que havia morado em Londres por seis meses. A turma foi enchendo e os meus 10 alunos daquela sala haviam chegado. Logo eu iniciei a aula, apresentei o João, expliquei a matéria do dia e passei uma lição de conversação, em que pedi aos alunos que fizessem duplas e discutissem um texto ora cada um fazendo um papel de um dos dois personagens do texto para treinar a pronúncia. Entretanto, como havia 11 alunos (agora com João), o novato ficou sem par, pois todos os outros (mais enturmados) logo já elegeram rapidamente suas duplas. Então eu me prontifiquei a fazer par o garoto e pedi que ele viesse até minha mesa com sua carteira. Fizemos o exercício, depois trocamos as duplas e eu fiz minhas considerações. A aula se encerrou, os alunos começaram a sair e eu apaguei o quadro para me preparara para a próxima turma. Foi então que sinto alguém me cutucando no ombro.
João me olhava com uma cara de perdido. Eu perguntei o que ele desejava e ele quis saber se ele havia tido um bom desempenho no exercício de conversação. Disse que mais ou menos, pois havia umas coisas que ele precisava melhorar. Ele estava muito focado em sotaque e isso estava prejudicando a pronúncia dele em alguns pontos. Ele riu brincando que era culpa dos filmes, eu disse que era normal esse tipo de influência, mas que não era complicado de corrigir, que era só uma questão de treino. Ele então falou que a gerente havia dito para ele que haviam aulas de reforço e que ele gostaria de marcar. Eu disse que tudo bem, ele só precisava agendar com a secretária do curso. João me agradeceu e deixou a sala. Os alunos do próximo horário começaram a chegar e mais uma aula ia iniciar-se.
Logo meu horário de trabalho chegou ao fim. Despedi do pessoal da escola de idiomas e fui almoçar, pois ainda tinha o segundo tempo, à tarde, na escola pública e à noite ainda tinha a faculdade (último ano, amém!). O dia passou normal, cheguei na minha república, tomei um banho, comi alguma coisa e me joguei na cama para tentar ver um filme, no celular mesmo, pois se caísse no sono era só jogar o aparelho de lado. Então, no meio de um episódio de uma série, recebo uma mensagem. “Olá”, “Olá, quem é?”, “Sou eu professor, o João”. Uai, como esse menino conseguiu o meu número. Eu pensei. E como se ele tivesse lido esse pensamento recebo outra mensagem: “A Julia me passou seu número, porque ela não estava achando a sua agenda, ela pediu para eu tentar marcar com você uma aula de reforço, tudo bem?”, “Ah, sim...” eu retornei, mas sabendo que aquilo era mentira, pois a Julia, a secretária, não passava os números do professores assim. “Olha só, João, eu estou meio ocupado agora”, já fui logo cortando o aluno, também estava realmente afim de terminar aquele episódio. “Desculpa aí, professor”, “Não, tudo bem! Vamos marcar na próxima aula, ok?” “Está bem então, boa noite e mais uma vez me desculpa por incomodar”, “Tranquilo, João, boa noite!”. Ele então não mandou mais mensagens e eu finalmente consegui terminar o episódio. Deu sono demais, mas antes de desabar eu fiquei imaginando como aquele aluno tinha conseguido o meu número. E então, quando já estava começando a sonhar quase, meu celular vibra, era o bendito João e meu coração deu um pulo quando eu vi a foto que ele tinha me mandado: Uma bundinha toda lisinha, redondinha e branca e em seguida uma rola, clara, reta, cabecinha vermelha e com pelinhos tão dourados quanto os cabelo curtos do aluno novo. Fiquei sem saber o que responder, mas logo as fotos sumiram, foram apagadas. E ele mandou a mensagem: "Nossa professor, desculpa cara! Não era para você!"
Theweekend... Que bom que gostou!
Maravilhoso <3
Que bom que estão gostando. Vou tentar postar a continuação ainda hoje a noite. Tentarei finalizar na segunda parte.
Muito bom conto, me prendeu e agora fico na expectativa de quando irá terminar...
Adorei, já usei essa tática de mandar foto e depois apagar e se desculpar e consegui um macho fixo que me fode desde 2016. Estou ansioso pelo resto do conto