Já era quase 00h quando outra mensagem do João chegou: “Professor, olá! Você está chateado comigo?”, “Olá, João. Não estou não, porque deveria?”, “Pelo que fiz ontem”, “Bom, você disse que foi sem querer, então eu não tenho nada a ver com aquilo, certo?”, “Sim, nada a ver”, “Então está tudo bem, não tem com o que se preocupar. No mais eu já até deletei as fotos”, “Ah é? Apagou mesmo?”, “Sim, apagadas!” “Então tudo bem, boa noite e até amanhã?”, “Amanhã? Por quê?”, confesso que nem estava me lembrando, mas o garoto logo devolveu: “Ué, amanhã é quinta. Aulas todas as terças, quintas e sábados, não é?”, “Nossa, é mesmo. Nem me liguei”, “Acho que você está é trabalhando demais, professor kkkkkk”, “Pior que sim”, “Então boa noite!”, “Boa noite, João!”
Na aula de quinta, João parecia ainda mais fechado, quase outra pessoa. Ele havia penteado o seu cabelo loiro num topete elegante, usava uma blusa social muito bem passada e mantinha-se muito mais na dele do que no primeiro dia. Por toda a aula ele não disse uma palavra, não fez uma pergunta sequer, apenas anotou tudo o que eu havia passado no quadro enquanto os outros alunos discutiam sobre a matéria do dia e tiravam suas dúvidas. Quando a aula terminou, ele começou a guardar suas coisas. Parecia fazer um pouco de hora, enquanto os outros alunos já saiam. Eu me aproximei da carteira dele e fui direto:
— Você tem um tempinho, João?
— Ah, professor! Nem te vi se aproximar — ele falou, meio surpreso quando me viu de pé em frente a carteira dele. — Claro que sim, pode falar.
— Como você conseguiu o meu número? — Falei sem rodeios. Era melhor deixar as coisas claras ali mesmo antes que ele pudesse se sentir na liberdade de tentar alguma coisa. Eu não estava disposto a cair em tentações com meus alunos.
— Eu pedi a Julia, te disse.
— Engraçado, porque ela me jurou que não passou meu telefone para ninguém.
Por uns segundos ele desviou o olhar e encarou o chão.
— Só queria saber como conseguiu o meu número, não estou chateado nem nada.
— Foi o Ramon que passou — ele finalmente confessou.
— Mas o Ramon não… — então eu me lembrei que realmente eu havia dado o meu telefone ao Ramon uma vez, quando ele precisou de umas dicas com o visto para os EUA. O Ramon era um dos alunos que haviam feito intercâmbio. Aquele que eu havia apresentado ao João no primeiro dia do jovem na escola lá naquela unidade da escola de idiomas.
— Desculpa, eu devia ter esperado hoje para te perguntar sobre as aulas de reforço. Mas é que eu gostei mesmo da sua aula e das dicas que me deu logo no primeiro dia que eu queria marcar logo.
— Sem problema — devolvi sorrindo, apesar de meio paranoico por dentro. — É que eu não costumo passar meu telefone para meus alunos. Só passei ao Ramon, pois ele precisava de umas dicas sobre o intercâmbio e fiquei de ajudá-lo.
— Bem que você podia me dar umas dicas também, heim? — João então retrucou, deixando um sorriso incrível se formar em seus lábios finos. Naquele momento eu vi que ele era um jovem muito bonito, muito mais do que pareceu a primeira vista, e sabia muito bem usar desse charme. E foi também naquele instante que eu percebi que João seria, talvez, o primeiro aluno a me dar “trabalho”.
— Peça para a Julia marcar uma aula de reforço para você no sábado. Estarei disponível às 13h. Só tenho esse horário essa semana, pode ser?
— Claro que pode! Ele respondeu ainda rindo.
— Não tem problema mesmo? Pois nossa aula normal de sábado será às 10h e você terá de ficar aqui pelo Centro até as 13h.
— Sem problema. Vai ser até bom, pois esse sábado é minha folga na empresa do meu pai e como ele trabalha até as 14h, eu posso ficar fazendo hora lá até as 13h. É aqui mesmo, no Centro.
— Então combinado. Mas não esquece de agendar com a Julia, ok?
— Ok!
— Então agora eu tenho que dar minha outra aula, olha aí os meninos chegando aí — Apontei para duas alunas que acabavam de entrar na sala.
Quando eu estava deixando a escola pública, lá pelas 17h30, recebi uma mensagem do João. Eu estava já dentro do ônibus a caminho da minha faculdade. A mensagem pedia desculpas por ele ter pegado o meu telefone sem o meu consentimento e mais uma vez se desculpando pelas fotos. Eu respondi para ele que estava tudo ok. E então cheguei à faculdade. A quinta terminou sem mais situações inesperadas. A sexta passou tranquila também. Já havia até esquecido a histórias das fotos e já nem lembrava mais. Saí para uma balada com uns amigos da faculdade na sexta à noite. Cheguei em casa as 01h00 e fui dormir direto, pois tinha aula no curso de idiomas naquele sábado.
No sábado, João não estava mais usando roupa social. Ele veio com uma bermuda clara que deixava a mostra um belo par de pernas quase lisinhas, uma blusa polo azul que realçava seus olhos claros e o tom da sua pele. Quando a aula com a turma do João terminou às 11h, ele veio até a minha mesa e perguntou que horas eu iria almoçar. Um perfume suave, porém gostoso, escapava do menino. Diferente do perfume forte que ele costumava usar durante os dias da semana. Eu disse que ficaria lá na escola até às 14h, direto, que almoçava lá mesmo, pedia comida. Ele fez uma cara de um pouco chateado e se despediu. Ignorei. Não iria o deixar ir além com suas investidas. Passado a hora do almoço, pontualmente às 13h, o João voltou para a sua aula de reforço. Nessas aulas é apenas o aluno que a contrata e o professor. Ficamos a aula inteira revisando algumas pronúncias e passei algumas dicas de conversação para ele. Muito sério, ele fez observações e tirou algumas dúvidas e já quis marcar uma próxima aula de reforço, mas disse que só poderia de novo no sábado após o que viria. Ele assentiu e já foi agendar com a Julia. Nesse tempo eu já arrumei minhas coisas, despedi dos meus colegas da escola e comecei a me caminhar até o ponto do ônibus, que ficava bem de frente a casa onde funcionava a escola de idiomas. Não passou nem dois minutos que cheguei ao ponto e eis que lá vem o João saindo da escola. Ele me viu, deu um tchau discreto e entrou num carro. Pensei ser um uber, mas o carro deu a volta e parou na frente do ponto, de modo que a janela do passageiro, onde o João estava sentado, se abriu e revelou o rosto sorridente dele:
— Se estiver indo pro seu bairro nós podemos te deixar no metrô. Vamos passar em frente uma estação, não é pai? — Então o aluno novato se voltou a um senhor de aparência jovial e muito parecido com o filho, que me deu um “olá” e confirmou a história do jovem.
— Entra aí, te deixamos na estação — o homem falou e eu, meio sem graça, não tive como recusar a carona.
No caminho, João me apresentou ao pai e disse que estava gostando muito das minhas aulas. Soube que o pai do meu aluno se chamava Roberto (nome fictício) e ele me agradeceu por estar ajudando o filho com a pronúncia. Eu disse que aquele era o meu trabalho. Assim, até a estação, fomos conversando sobre coisas triviais, enquanto eu tentava descobrir como o João sabia que eu iria pegar o metrô. Mas, como se ele tivesse lido meus pensamentos, o garoto falou, quando estávamos já na frente da estação:
— Quando estava marcando a aula com Júlia, ela me disse que você sempre saia correndo no sábado pra pegar metrô, então pensei que poderíamos te dar uma carona, já que meu pai e eu vamos almoçar por aqui no centro mesmo.
— Obrigado, João, Sr. Roberto!
— Não tem de que, professor! — Foi o pai do João quem respondeu.
— Até a próxima terça! — João se despediu.
— Até, Tchau!
Esse menino é esperto. Pensei comigo mesmo enquanto o carro deles se distanciava. Eu precisava dar um jeito nessas “investidas” do meu aluno novo antes que as coisas começassem a se complicar. Porém, João era esquivo e muito educado. Além disse sua discrição era invejável. Era meio difícil ele sacar que eu curtia homens, pois eu sou também super discreto (ainda mais com meus alunos), mas de alguma forma eu sabia que ele sabia sobre mim, pois os seus olhares estavam ficando cada vez mais ousados assim como as suas ações. Resolvi então tentar descobrir o que ele sabia ou se o jovem estava jogando verde.
Quando cheguei em casa fui fazer minhas coisas das escolas, organizar minhas matérias da faculdade e lá pelas 19h resolvi que enviaria uma mensagem ao João. Comecei com um “olá”, e rapidamente tive um “oi” como resposta. Decidi falar sobre o assunto da aula daquele sábado e o papo ficou só nisso, até que achei que já era a hora de resolver aquilo e mencionar as fotos: “Mas aqui, João, me diz uma coisa, você mandou mesmo aquelas fotos por engano?”, “Sim, não era pra você”, “Blz”, “Nossa, agora fiquei com vergonha, pois você tocou no assunto do nada”, “Relaxa, é normal hoje em dia as pessoas mandarem fotos pelados para algum interesse”, “Por esse lado é kkkkk”, “Mas depois você enviou para a garota certa?”, então João parou de responder. Não era muito normal ele ficar nem cinco segundos sem nem ao menos aparecer João está digitando... na tela. E então apareceu: “Professor, posso te falar uma coisa?”, e eu já sabia o que iria vir a seguir: “Claro, fala aí”, “Eu não fico com garotas (e veio uma carinha de vergonha junto da mensagem)”, “Ah, sim... de boa!”, “Mesmo?”, “Normal, é a sua opção, certo?”, “Sim.”, “Então aquelas fotos eram para um homem?”, “Na verdade… eram pra você mesmo”, o menino foi direto, não pensei que ele conseguiria, a julgar pelo lado ‘na dele’ quando frente a frente tanto comigo quanto com os outros alunos. Por um momento eu não soube o que responder e mandei uma carinha sorrindo e então percebi que aquele era o momento de cortar a conversa: “Olha João, respeito sua opção sexual e tudo, mas eu não sou gay, não curto ficar com homens, entende?”, tinha que mentir para preservar minha ética profissional, “Claro que sim, professor. Desculpa! Por favor, não conta nada para o meu pai!”, “Ei, relaxa garoto, eu não tenho porque contar nada para o seu pai”, “Mesmo?”, “Uai, claro… por que eu contaria?”, “Pensei que você ia contar e eu teria que ir para outro curso”, “Como?”, “Sabe, vou te contar. Eu saí da outra unidade que era mais perto de casa, porque um amigo meu descobriu que eu sou gay e aí ele ameaçou falar com o pessoal da minha turma se eu não fizesse o que ele queria”, “Nossa, que cara idiota”, “Pois é, se meu pai descobre acho que ele me mata”, “Então seus pais não sabem?”, “Eu moro com o meu pai somente, minha mãe morreu e minha irmã mora na Itália”, “Sinto muito pela sua mãe!”, “Tudo bem, eu era muito novo quando aconteceu”, “Olha, eu entendo seu lado. Fica tranquilo eu não vou dizer nada sobre isso. Muito menos ao seu pai”, “Promete, professor?”, “Caram fica de boa! Olha, tenho que estudar aqui, pois segunda tenho uma prova difícil. Fica bem ok?”, “Você também. E obrigado, professor!”, “Você não tem que me agradecer”. E então não trocamos mais mensagens no final de semana inteiro. Pensei que minha conversa com ele tinha afastado a ideia dele de dar em cima de mim, mas então, na terça-feira seguinte, eu descobri que estava enganado.
Quando a terça-feira chegou, eu logo recebi uma ligação da escola de idiomas dizendo que um aluno havia agendado um horário comigo antes da aula normal daquele dia. Como eu tinha disponibilidade e não queria furar com a escola, eu confirmei, mesmo já sabendo quem poderia ser o tal aluno. Ao chegar na escola, João já estava me esperando. Ele usava seu habitual traje social (o uniforme do trabalho com o pai) e abriu um sorriso meio sem graça quando me viu. Uma vez dentro da sala de aula, às 08h como ele havia marcado sua aula de reforço, eu comecei a tirar suas dúvidas. Na media que eu ia conversando com ele eu notava que o aluno estava meio distante, apesar de focado na matéria. Num momento ele pediu para ir ao banheiro. Eu estava na mesa corrigindo umas coisas enquanto ele resolvia uns exercícios e então ele levantou-se da cadeira, quando disse que podia ir ao banheiro. Porém ouço o clic da porta se trancando e me viro ao aluno. João havia acabado de fechar a porta e se colocou diante dela.
— Preciso te contar uma coisa — ele soltou, antes mesmo que eu dissesse algo.
— Mas não precisa trancar a porta — e então eu levantei e fui até a porta, mas ele segurou o meu braço muito rápido e me puxou de encontro ao seu corpo.
O beijo aconteceu de repente. Uma mão dele ainda no meu braço e a outra acariciando meus cabelos. Aquele cheiro forte do perfume do dia a dia do aluno inundou meu olfato e quando dei por mim eu já estava retribuindo aquele ato ousado. Levei minhas mãos aos cabelos de João e, suavemente, passei a corresponder o beijo. Ele soltou o meu braço e apertou minha cintura, fazendo nos peitos se aproximarem ainda mais. Comecei a sentir algo muito duro na calça dele e logo meu pau já estava babando sob a cueca. João beijava com intensidade e ao mesmo tempo com leveza. Sua língua era macia e seu hálito era uma delícia. Quando nossas bocas se desgrudaram, relutantes, eu o encarei nos olhos e disse:
— Acho que você vai precisar de mais aulas particulares, João — Sorri, quando ele soltou uma risada sacana e então percebi que aquele aluno novato havia me pegado de jeito.
Theweekend... Obrigado!
Você escreve MUITO bem! Que hino de conto <3
Olá, leitores! Passando para avisar que eu irei trazer a parte 3 hoje ou no máximo amanhã. Ontem tive uns contratempos... Aguardem!