O Veneno da Prostituição – O resumo da minha trajetória.

Meu nome é Carla. Bom, não é o meu nome de Batismo.
Carla “nasceu” quando eu tinha 16 anos e modelava na agência de modelos. Gosto desse nome, quando tive oportunidade de usá-lo, foi para estrear na prostituição.
Fui adotada bem novinha. Tive sorte que muitos não tiveram. Boas escolas, roupas e viagens. Antes dos 10 anos, entrei para uma agência de modelos. Foi um sonho realizado, só quê?
Sofri abusos sexuais do marido da dona desta agência, não apenas uma vez, dezenas delas. Isso mexe com a cabeça de qualquer pessoa, ainda mais uma (girl). Foram 2 anos desfilando para eles. Saí de lá. Minha mãe adotiva brigou com a dona. Esses abusos me fizeram pular etapas, me refiro a sexualidade.
Dois anos depois, sofri outro abuso, desta vez, um tio do meu pai adotivo. São feridas que vão modulando a cabeça de qualquer um. O perigo, às vezes, está dentro da própria casa ou na família.
Tudo isso teve consequência, cresci acreditando que sexo era normal para antiga idade. Como mencionei no começo no texto. Foi com aquela idade que comecei a me prostituir. Parei com 19 anos. Me envolvi com drogas e bebidas alcoólicas. Meus pais adotivos me internaram em várias clínicas. Gastaram dinheiro e anos comigo.
Com muito sacrifício, dor e paciência. Consegui vencer a dependência química. A minha vida mudou, estudei, trabalhei e até cheguei a noivar.
Só que o convívio com os meus pais adotivos, não era o mesmo. Com 23 anos saí de casa. Aluguei um apartamento no Centro de São Paulo. Comigo veio morar uma antiga amiga, a Gabriela. Trabalhava muito e ganhava pouco. Muitas dificuldades para pagar o aluguel. Mara, minha mãe adotiva ajudou por um período a pagar algumas contas. Emagreci muito, entrei em depressão. Tanto esforço para nenhum resultado.
Ao contrário de mim. Gabriela vivia linda, corada, usava roupas de grifes, andava só de táxi, chegava bêbada na hora que eu estava saindo para trabalhar e cheia de grana.
Quem não desconfiaria de uma pessoa que não trabalhava e tinha dinheiro?
Quando conseguir conversar com ela. Gabriela revelou que – “Tinha abandonado o emprego e tinha voltado a fazer programas”.
Questionou Gabriela falando – “Que eu deveria fazer o mesmo” – “Que eu estava me destruindo por um salário de merda”.
Fiquei com aquela conversa o mês todinho. Me “matava” para nada. As mensalidades da faculdade atrasadas. Devia para o banco, juros, cartão de crédito. Tantas coisas na minha cabeça. Dormia mal. Ah, foram muitas situações.
Só sabe o que passa, é a própria pessoa. É ou, não é?
No começo do mês seguinte. Tomei uma conversa com a Gabriela e cheguei à conclusão. – “Tinha decidido voltar para a prostituição”.
Peguei 5 mil reais emprestados da amiga. Me repaginei toda. Dos pés aos dentes e terminando no cabelo. Comprei roupas, sapatos e lingeries. Aproveitei o dinheiro, fiz um book com fotos sensuais para expô-las nos sites de acompanhantes.
A Carla renasceu. O telefone não parou mais de tocar. Em duas semanas conseguir quitar as dívidas. Saí do antigo emprego na agência de turismo. Devolvi os 5 mil emprestados da amiga e nunca mais tive problemas com falta de grana. Me afastei da minha família, com medo deles descobrirem, mudei de apartamento, fui morar sozinha.
Reconstruí minha vida ganhando muito dinheiro fazendo programas. Só que o glamour da prostituição é tudo enganação.
Sofri alguns estupros de clientes, filhos de cadelas. Quem se arrisca na prostituição, pode o perigo bate na porta todos os dias.
Ganhei dinheiro, comprei meu apartamento, carros, viajei para muitos lugares, conheci muitas pessoas e transei com aproximadamente 2 mil delas.
No dia 16 de novembro de 2019. Recebi uma ligação da Mara, minha mãe adotiva. Meu pai tinha sofrido um enfarte. No hospital, fui enxotada pelos parentes me chamando de – “De puta, vagabunda e prostituta”.
Resumo da história. Um conhecido que até hoje não sei o nome. Descobriu as minhas fotos no site de acompanhantes e contou tudo para o Acácio, meu pai adotivo, que enfartou.
Foram centenas de tentativas para me reconciliar sem sucesso. No final de dezembro do ano de 2019. Abandonei a prostituição com 30 anos. Fui pedida em casamento.
Meu marido foi um dos clientes. A cerimonia aconteceu 6 meses depois. A família dele nem sonha que fui garota de programa. Apenas uma prima adotiva compareceu. Abandonei de vez a família, faz 2 anos que eu não os procuro. E assim continua.
Esse foi um pequeno resumo da minha trajetória. Se você acredita ou não, posso lhe assegurar. O que eu vivi, só eu sei da minha dor.
Obrigada!