— Vou te levar a um lugar — disse ele, interrompendo o beijo com uma firmeza que me fez sentir pequeno. Ele voltou a dirigir, e o silêncio dentro do carro era opressivo.
Eu estava inquieto, aflito. Até um dia atrás, eu nunca havia sentido atração por outro homem. E agora? Agora estava indo a um lugar desconhecido, nas mãos do pai do meu melhor amigo. Amigo com quem eu estive apenas minutos antes. Era uma traição em camadas, uma confusão sem fim. Eu precisava acabar com aquilo, mandar ele me levar para casa e fingir que nada aconteceu. Mas então sua mão pousou na minha perna, firme, quase possessiva. A simples pressão dos dedos dele era uma ordem silenciosa: fique quieto. E eu obedeci, como se fosse propriedade dele.
Seguimos rumo à Zona Sul, e quando chegamos ao Flamengo, ele entrou no estacionamento de um hotel luxuoso. Um hotel que gritava poder e decadência ao mesmo tempo. Ele estacionou sem uma palavra, saiu do carro e me fez segui-lo até o elevador. Quando apertou o botão da cobertura, senti um calafrio.
O apartamento era de tirar o fôlego. Uma sala decorada com elegância fria, paredes adornadas com arte minimalista, como se cada detalhe tivesse sido meticulosamente pensado para impressionar. A cama parecia um trono, imensa, com lençóis de linho que certamente custariam o salário de meses de qualquer pessoa comum.
— A partir de agora, esse é o nosso lugar — disse Marc, sua voz ecoando pela sala. Ele me seguia de perto enquanto eu explorava o espaço, e sua presença era sufocante.
— Quem disse que eu quero me encontrar com você de novo? — retruquei, minha voz vacilando. A verdade é que estava mentindo para mim mesmo. Eu queria, sim, estar com ele. Meu corpo gritava por ele.
Marc soltou um riso baixo, cheio de desprezo, como se soubesse o quanto eu estava preso a ele. Ele tirou a camisa lentamente, revelando um abdômen esculpido, um corpo que parecia feito para o pecado. Seus cabelos pretos, com alguns fios grisalhos, davam a ele um ar de homem maduro, inegavelmente sexy, e ao mesmo tempo, perigoso.
Ele se aproximou, os olhos fixos em mim, e começou a me beijar novamente, mas dessa vez com uma lentidão calculada, como um predador que sabe que a presa está rendida. Aquele beijo não era mais uma explosão de desejo; era uma armadilha sedutora, e eu caí nela.
O beijo se intensificou, e meu corpo cedeu. Quando ele percebeu que eu estava completamente à mercê, me levantou e me levou para a cama. Cada movimento era cuidadoso, como se ele estivesse esculpindo o momento para que ficasse gravado em mim para sempre.
Marc me virou de bruços, os lábios dele traçando um caminho pelas minhas costas. Sua barba raspando a pele era como fogo líquido, e eu me perdi completamente naquele toque. Ele sabia o que estava fazendo — e sabia que eu estava fraco.
— Eu nunca fiz isso antes — sussurrei entre gemidos, tentando ainda agarrar um último fio de controle.
— Só relaxa... Deixa comigo.
A voz dele era como um veneno doce, e eu me rendi. Ele beijava cada pedaço do meu corpo, como se estivesse reclamando o que já considerava seu. Quando ele pegou o creme e passou sobre mim, a sensação quente me envolveu, como se estivesse sendo marcado. E então, ele me tomou. Cada centímetro dele me preenchendo, cada movimento calculado, cada palavra sussurrada no meu ouvido reforçava a ideia de que eu era dele.
A dor inicial foi sufocada pelo calor do momento, e mesmo que meu corpo estivesse gritando por alívio, algo em mim desejava mais. Eu me contorcia sob ele, cada movimento seu fazia meu corpo trair meus pensamentos. Quando percebi, eu estava gozando, sem ao menos me tocar. E quando senti o calor dele dentro de mim, soube que ele tinha conquistado a última parte de mim.
Ele caiu sobre mim, o peso de seu corpo me prendendo na cama, e o quarto caiu num silêncio abafado, apenas o som de nossas respirações preenchendo o espaço. Eventualmente, eu fechei os olhos, sentindo uma estranha sensação de completude, e adormeci.
Acordei algum tempo depois, com Marc acariciando meus cabelos, murmurando algo que não conseguia entender direito. Ainda meio grogue, ouvi quando ele disse:
— Vamos, eu te lavo.
Abri os olhos e me virei para a cama. O lençol estava manchado de sangue. Meu coração disparou. Aquilo tinha saído de mim? Eu não sabia como reagir.
— Calma, é normal na primeira vez — Marc disse com uma frieza que não combinava com a gravidade do que eu estava vendo. Ele me pegou nos braços e me levou até a banheira, já cheia de água morna. Sentado, ele me fez encostar no peito dele, e por um momento, tudo parecia estar em suspensão. O calor da água, as mãos dele em meus ombros, o silêncio quebrado apenas pelo som suave da água.
Eu estava imerso em algo muito maior do que eu. E mesmo sabendo que tudo estava errado, não conseguia me afastar.
— Você tem esposa, né? — perguntei, quebrando o silêncio.
— Eu não sinto mais nada por ela — ele disse, sua voz calma, como se estivéssemos falando do tempo. — Eu quero você. Desde o dia em que te vi naquela boate.
— Isso é errado... Eu sou amigo dos seus filhos.
— Isso é entre nós. Ninguém precisa saber. Eu gostei. Você gostou. Por que complicar?
Fechei os olhos, tentando fugir da realidade, e acabei adormecendo de novo, deitado no peito dele. O sábado passou rápido demais, e terminamos assistindo filmes na cama, o peso da presença de Marc ao meu lado tão reconfortante quanto assustador.
Na manhã seguinte, acordei com uma mensagem de Kadu. Aquelas palavras, misturadas ao calor dos braços de Marc ao meu redor, tornaram tudo ainda mais confuso.
Eu precisava fazer uma escolha.
Eu me virei na cama, o celular ainda em mãos, e li a mensagem de Kadu:
"Preciso me desculpar por aquele beijo? Eu gostei muito e queria que se repetisse."
O coração disparou. O que eu poderia responder? Claro que ele não precisava se desculpar, eu também tinha gostado, mas como eu explicaria que eu não podia continuar com aquilo? Eu estava mergulhado em algo muito mais profundo — eu estava com o pai dele. Um conflito tão moral quanto emocional.
Respirei fundo e, antes que pudesse pensar melhor, digitei:
"Foi maravilhoso."
Kadu respondeu quase instantaneamente, como se estivesse esperando minha resposta:
"Estou ansioso para te ver na segunda. Quero falar com você."
O peso das palavras dele se misturava com o calor do corpo de Marc, que me envolvia com seus braços, me prendendo de novo. Cada gesto dele, cada toque, reforçava o domínio que exercia sobre mim. Eu sabia que precisava escolher, e sabia que Kadu merecia algo melhor. Mas Marc... ele era a peça que faltava, o elo sombrio que me puxava para um abismo de prazer e caos.
Antes que eu pudesse digitar qualquer coisa, Marc apertou meu corpo contra o dele com mais força, seus braços como correntes invisíveis.
— Bom dia, meu amorzinho — disse ele, a voz rouca ainda carregada de sono, enquanto seus lábios roçavam meu pescoço.
— Bom dia — respondi, sentindo cada célula do meu corpo se arrepiar sob o toque dele. Era uma mistura de medo e desejo.
Marc me virou para ele, seus olhos profundos me encarando com um olhar predatório. Começou a me beijar de novo, suas mãos explorando cada parte do meu corpo com a mesma posse de sempre. Mas de repente, a cena da noite anterior voltou à minha mente, o sangue nos lençóis.
Me afastei rapidamente, tentando controlar o turbilhão de emoções.
— Vamos tomar um banho? Eu... eu preciso ir embora. Minha mãe já mandou mensagem — menti, desesperado para escapar daquela tensão.
Ele me encarou por alguns segundos, os olhos como facas cravadas em mim. Será que ele sabia que eu estava mentindo?
— Vai lá... Eu vou te esperar aqui — respondeu, com um sorriso de canto, como se estivesse jogando um jogo cujo resultado ele já sabia.
Fui até o banheiro, enchi a banheira com água quente e me afundei nela, tentando organizar os pensamentos. O que eu estava fazendo? Como eu havia chegado ali? Kadu era doce, carinhoso, genuíno. E Marc... Marc era um labirinto de controle, desejo e escuridão. Cada vez que eu tentava me afastar, ele me puxava mais fundo.
Quando saí do banho, enrolado na toalha, vi algo sobre a cama que não estava ali antes. Algumas bolsas grandes e um envelope.
— O que é isso? — perguntei, confuso.
— Algumas roupas novas e... um celular — disse ele, casualmente. — Ah, e tem isso também — continuou, tirando um envelope do bolso da calça. Ele o estendeu para mim.
Eu abri o envelope e vi uma quantia absurda de dinheiro ali dentro. Meu estômago revirou. Era isso, então? Eu era uma mercadoria para ele, uma diversão paga? Senti um misto de raiva e humilhação queimando dentro de mim.
— Eu não faço programa — falei, jogando o envelope na cama com desprezo.
Marc riu de leve, aquele riso cínico que já conhecia bem.
— E eu disse isso? — Ele se aproximou com aquele mesmo ar superior, me encarando. — Isso é um presente. Encare como algo que estou te dando porque gosto de você.
— Eu não quero que você pense que pode me comprar como deve fazer com as outras pessoas com quem sai — respondi, tentando manter a firmeza, mas sentindo meu corpo fraquejar debaixo do olhar dele.
Ele se aproximou mais, me dando um longo e profundo beijo, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.
— As pessoas com quem eu saio, eu não passo a noite com elas. Nunca dormi com ninguém. Você é diferente.
Havia verdade nas palavras dele? Eu não sabia. Mas queria acreditar, porque, apesar de tudo, eu não queria perder Marc. O toque dele era tóxico, mas também viciante, e minha alma já estava embebida demais para recuar agora.
Estou ficando apaixonado por seus contos