O Rapaz da guarita (Parte 6)


CAPÍTULO 21

Eu me vi, de repente, em uma sinuca de bico...
A vontade era de dizer não, e deixar que ele decidisse. Depois da decisão poderia acatar ou ver o que faria.
Por outro lado, eu tinha certeza de uma coisa. A intenção dele era boa. Eu duvidava da dela. E ele já tinha me dado várias provas de sua maturidade e honestidade nessa relação louca.
Meu medo era dizer não, e ele enxergar em mim a insegurança que ele não demonstrava hora nenhuma. E isso sujar meu lado.
Eu gostava dele. Queria tentar, ficar com ele. E agora, isso...
- Daniel... Escuta aqui.
- Escuto.
- Sendo muito franco contigo. Não gosto nada da situação. Não duvido de você e da sua boa intenção. Duvido da dela.
- Mas tu nem a conhece direito.
- Ah, cara... Conheço as mulheres, velho. E tenho uma pergunta.
- Fala?
- Porque você não me contou?
- Porque não deu tempo. Eu ia te contar. O mais rápido possível. Até porque preciso dar a resposta prá ela, e dependia da sua.
- Bom, pelo que você falou, não dependia...
- Ela não sabe disso. Ela acha que depende.
- Você ia me perguntar?
- Claro né. Mas tu me surpreendeu com seu convite. Bruno, de boa. Se não houvesse essa possibilidade dela vir, hoje mesmo eu te diria que eu viria morar contigo. Não tenho medo de tentar. Nenhum. Mas tudo que te pediria é um tempinho maior... Duas, três semanas. Ela se ajeita, e tudo se resolve.
- Cara, ela quer um lugar prá ficar não é? Porque você não a deixa na sua casa, e vem prá cá?
- Bruno, ela quer uma casa prá ficar e apoio. É mais que uma casa.
- Sei...
- E minha tia não deixaria ela ficar lá sem mim. Aquela casa é um favor prá mim, não prá uma ex namorada.
Me deixei cair na cama. Deitei e fechei os olhos.
Ele se deitou ao meu lado.
Não falamos nada. Ele recostou a cabeça no meu peito, e ficou ali, abraçando minha cintura e olhando o teto. Eu virei meu rosto prá ele, e ficamos nos olhando por um tempo imenso, sem dizer nada. Respirei fundo, puxei seu rosto e dei um beijo rápido. Ele fechou os olhos e curvou as pernas, se colocando numa posição quase fetal, de frente prá mim. Passava a mão no meu rosto suavemente.
- Confia em mim, seu bobo. Eu te amo, não quero nem brincar com a chance de te perder. Sei o que estou fazendo.
- Eu confio em você Dani. Já te falei isso. Só acho que às vezes a gente precisa se preservar e não dar margens à surpresas desagradáveis cara... Nem todo mundo tem o coração que você tem...
- Por isso o mundo tá assim.
- É verdade. Mas eu sinto muito se eu não consigo ser tão bonzinho agora, cara. Eu podia fingir que tá tudo bem, e deixar as coisas acontecerem. Não consigo.
- Eu sei. Por isso que estou contigo.
- Bom... Vamos lá, tenho que te deixar em casa. Foi um dia e tanto.
Me levantei debruçado em seu peito ainda sem camisa, e ele veio junto. Me abraçou de pé, forte, sua cabeça em meu ombro. Ficamos assim um tempo, trocando carícias em nossas nucas.
- Beleza. Vamos. Não fica mal.
- Não tô mal. Tô ressabiado. Só isso.
Eu o deixei em sua casa, e mesmo sem ter tido a resposta, sabia qual seria. Ele não conseguiria dizer não, e Ana viria ficar com ele por algum tempo. Eu tinha que me preparar. Não seria fácil.
Tava morto de ciúmes. De dúvida. De receios...
E completamente apaixonado por ele.
Cheguei em casa e me joguei embaixo do chuveiro quente. Da minha cabeça não saía a imagem de seu rosto quando ele saiu do carro. Era um olhar pidão, meio que implorando para que eu confiasse nele e não colocasse tudo a perder.
Fui prá sacada e encostei ali. A noite estava fresca, a vida corria lá fora. Dois meses que estávamos juntos, que pareciam um ano. Tanta coisa tinha acontecido.
Passou pela minha cabeça aquele flashback completo...
Desde a primeira fase quando ele ainda estava na empresa. A forma que nos conhecemos, sua abordagem e camaradagem de início, com todo seu charme. As aventuras todas... Desde a balada com a Ana, passando pelo autorama, a praia, tudo que passamos no Rio, minha primeira experiência "a quatro", loja de shopping, aquela sacada.
Mas apesar de todas essas loucuras, os tantos momentos íntimos que tínhamos vivido também, que ele inclusive me surpreendia. Noites de papo cabeça, de sono sem sexo, de conversas francas, de favores trocados.
Percebi e me dei conta de como tínhamos, de certa forma e como ele mesmo tinha comentado, nos moldado um ao outro. Eu me via muito mais parecido com ele, mais louco, mais livre, porém ainda com minhas neuras e inseguranças...
Eu o via de certa forma mais comedido. Respeitoso por meus limites. Aquela necessidade inicial de se mostrar, me mostrar, e provocar mulheres e homens em qualquer lugar, tinha de certa forma se convertido em uma busca por prazer em lugares inusitados, em uma tentativa de me mostrar o lado bom de tudo isso e numa experiência dividida de tesão, paixão e descobertas.
Eu tava feliz como há tempos não me sentia.
Não ia desistir assim...
Que viesse a Ana. Se fosse de boa mesmo, ótimo. Rapidinho eu ia saber. Se fosse briga pelo amor dele que ela quisesse, era o que ela iria ter!
Meu celular tocou uma mensagem recebida.
"Tudo que quero é seu bem, e estar bem ao seu lado. Confia em mim. Te amo. Seu homem". Sorrindo, dormi. Conformado em não tê-lo comigo tão rápido assim...
Apesar da preocupação, os dois dias seguintes passaram tranquilamente. Eu me preparando psicologicamente prá chegada dela, que viria no final de semana, ele tentando me tranqüilizar de uma maneira muito esperta: Não tocando no assunto, tentando não dar a ele a devida importância. Ou realmente não dando a ele a importância que eu dava. Sei lá. Só sei que de certa forma funcionou. Eu "comuniquei" que aceitava a força que ele queria dar a ela, mesmo sabendo que isso não faria diferença na decisão que ele ia tomar - como ele tinha me alertado. Ele me "comunicou" que minha decisão teria sim feito a diferença, mas que estava feliz com o fato de eu confiar nele.
E assim ficamos.
Sexta Feira. Véspera da chegada. Duas da tarde e eu voltando do almoço.
Tocou meu telefone.
- Bruno?
- Não... Catatau.
- Seu bobo.
- Fala Dani... Beleza meu gatão?
- Eu tô legal, e você?
- Também. Voltando do almoço.
- Legal. Vai estar em casa que horas?
- Por volta das sete, aparece lá?
- Vou sim. Tava pensando em passar a noite contigo, e amanhã a gente ir cedo pegar a Ana na rodoviária. Pode ser?
- Hã... Claro. Pode sim. Te espero.
- Beijo molhado...
- Pego depois...
- Hehehe... Valeu.
Entrei no escritório e ouvi alguém me chamando...
- Bruno?
- Oi Marcão. Não te vi de manhã.
- Cheguei tarde. Tem dez minutos?
- Claro...
Marcão era um amigão. Nos conhecíamos a mais de oito anos, antes mesmo de trabalharmos juntos ali. Ele era o único que vinha acompanhando todo meu lance com Daniel, desde o início. E eu tinha aberto a atual situação com ele dois dias atrás.
Fomos até a cafeteria.
- E aí Brunão... Tô muito curioso brother, ela já chegou?
- Amanhã Marcão... Ele acabou de ligar. Vai prá casa hoje e amanhã a gente vai pegá-la na rodoviária. Seja o que Deus quiser.
- Já sabe hein, cara... Como te falei, fica esperto. Confio na sua intuição e confio no Daniel, mas fica bem esperto com ela. Não dá mole não!
- Fácil falar cara. Vou ter que sondar, tentar ver como a coisa anda, como ela vem. Tenho que me segurar prá que ele não fique decepcionado comigo.
- Tá certo, mas não engole tudo não. E me deixa a par do que rolar, combinado? De fora a gente enxerga melhor as coisas.
- Pode deixar, Marcão. Valeu mesmo pela força.
Dei um abraço forte.
- E aproveita hoje a noite, ok ?
- Hehehe... Pode deixar. Quer participar?
- Sai fora cara, ainda não evoluí tanto assim...
Rimos juntos. Marcão era o hétero mais friendly que eu conhecia. E um parceirão prá toda hora. Nos despedimos e fomos cada um pro seu andar. O dia passou rápido e consegui não pensar no assunto, nem no dia seguinte. Cheguei em casa, liguei o som e me larguei no sofá. Eu queria esperá-lo pro banho, e tava com preguiça de cozinhar. Pediria uma pizza e tudo beleza.
Ele chegou um pouco depois das sete, exalando aquela masculinidade e energia que me fascinavam tanto. O recebi com um beijo franco, e o convidei prá nos banharmos juntos.
- Ai, mas que delícia... Tava com tanta saudade do seu corpo.
- Só do meu corpo?
- Só não. Mas confesso que com MAIS saudade dele que da sua mente.
- Você...
- Acha ruim?
- Nem um pouco... Vem!
Nos despimos sem pressa, devorando-nos a cada movimento. E reservando todo o tesão acumulado para o que viria a seguir...
Eu acabei de tirar minha roupa, e me sentei no sofá, esperando por ele que ia mais devagar, parando às vezes prá me olhar. Ele terminou de se despir, se levantou e veio até mim. Sentou-se no meu colo de frente prá mim, pernas abertas, segurou meu rosto e o guiou para seu tórax.
Comecei beijando seus ombros, descendo pelo peitoral, agasalhando seus mamilos com a boca faminta. Minhas mãos desciam pelas suas costas, sua cintura, parando e apertando sua bunda linda. Ele se contorcia de olhos fechados, gemendo baixinho.
Aqueles mamilos na minha boca me fizeram lembrar Ígor...
Fomos nos inclinando, nos apertando e em segundos estávamos no chão. Eu recostado no sofá e ele descendo com seus lábios pelo meu corpo, até chegar a minha virilha. Lambia minha cintura, as minhas coxas, engoliu minhas bolas, segurou meu pau e batia uma punheta forte enquanto subia e descia com a língua pela base toda.
- Cara... que caralho lindo. E é meu!
- Tava com saudade?
- Muita cara. Sonho com ele todos os dias!
- Não precisa sonhar velho... Ele tá aqui. É real.
- Tô vendo cara, muito real.
Me deixei largar ali no chão, enquanto ele se dedicava ao meu cacete com destreza, carinho, cuidado e paciência. Era uma delícia vê-lo tendo tanto prazer em me dar prazer. O meu prazer era maior com o dele. Um círculo vicioso de necessidade de contentar um ao outro. Queria retribuir embora parecesse não ser necessário.
Apesar da vontade de ser egoísta e simplesmente aproveitar o momento, o desejo de retribuir o prazer foi maior... Desci com minhas mãos pelas suas costas, me inclinei e consegui alcançar seu pau com minha boca. Engoli tentando levar no mesmo ritmo, e com a mão explorava outros cantos de seu corpo. Ele demonstrou satisfação. Reagiu. Contorceu-se. Abriu-se. Gemeu...
- Ahahahah... Continua.
Continuei. Até explodirmos juntos num gozo que parecia querer nos brindar com força para encarar tudo o que cruzasse nosso caminho.
E o banho a seguir, juntos, lavou minha alma.
Refrescou minha cabeça. Eu estava pronto.
Era seis da manhã. E lá estávamos nós esperando por Ana na rodoviária. Ela chegou com uma mala até que pequena para uma mulher que estava disposta a ficar. Estava bonita, ela era bonita. Daniel a recebeu com um beijo no rosto, tímido, mas receptivo. Ela veio até mim e me cumprimentou. Não consegui notar nada em seu olhar, em seu jeito. Nem raiva, nem ciúme, nem mágoa, nem indiferença. Nada. O que me assustou.
- Bom dia meninos. Poxa, valeu pelo trabalho de vir até aqui.
- Nada Ana. Agradece ao Bruno que levantou mais cedo prá vir comigo...
Ele me olhou com um sorriso aberto, e me abraçou de lado.
Ela sorriu.
- Valeu Bruno. Obrigada mesmo.
- Que isso. Bem vinda.
- Obrigada.
- Bom gente, vamos loguinho, pois quero deixá-los em casa e tenho que correr pro trabalho.
- Ah, Bruno. Você vai tomar café com a gente, ao menos.
- Dani, posso engolir o café, e olhe lá. A gente se encontra à noite. Eu apareço lá.
CLARO que eu ia aparecer... Ia marcar presença prá que ela notasse que eu não estava brincando.
Fomos pro carro. Como que para enfatizar a situação, ele abriu a porta de trás, convidou-a a entrar, fechou-a educadamente e foi se sentar comigo na frente. Mãos na minha coxa. Falando com ela pelo retrovisor...
- Foi tudo ok de viagem?
- Hãhã... E vocês, tudo bem?
- Tudo em paz.
- Que bom.
- É...
Silêncio. Desconforto...
- E você Ana - não resisti - quais seus planos? Já tem alguma ideia...?
- Ah, já sim. Faço questão de te contar à noite, Bruno...
- Legal
Foi a primeira vez que pesquei em suas palavras e em seu tom de voz que sim, eu teria problemas.

CAPÍTULO 22

Eu os deixei em casa, engoli o café como combinado e saí prá empresa, louco de vontade de ficar, e cheio de dúvidas.
Que saco! Não queria estar daquele jeito. Eu confiava no filho da puta, mas ENTENDIA que era um risco, uma tentação e um perigo. Mas não podia fazer nada... Nada.
Ao me despedir, ele veio até a porta. Me abraçou sem censura na frente dela, me deu um beijo carinhoso e sussurrou no meu ouvido.
- Já sabe. Confia em mim. Te amo.
- Ok... Juízo.
- Vou tentar.
Dei um beliscão em sua bunda.
Fui trabalhar e tentei na medida do possível espairecer e me ocupar o máximo possível. Vez ou outra me lembrava, tentava esquecer e voltava ao início. Ele me mandou uma mensagem no meio da tarde, confirmando o convite e "intimação" para estar lá à noite. Eu iria, sim... Mas dormiria lá? Como conduzir isso? Dar um voto de confiança, mostrar que estava seguro não estando e voltar prá casa deixando-os lá ou marcar território nessa primeira noite, para deixar as coisas claras?
Isso iria ajudar ou atrapalhar? Sondar primeiro?
Abrir o jogo? Bater um papo franco com os dois?
Expor-nos assim?
Decidi que iria deixar a coisa rolar, e tomaria minha decisão de acordo com os acontecimentos da noite. Mais prudente assim.
Estávamos já no meio do jantar. O papo fluía tranqüilo, um clima até mais agradável do que eu pensava que podia ser. Daniel estava mais relaxado, menos tenso. Ana mais transparente, me parecia. Eu, mais alerta... Daniel, nada bobo que era, criou aquele momento que eu não sabia que queria ter. Inventou que tinha acabado a cerveja, e voaria no mercado na esquina. Tudo para nos deixar sozinhos. Saquei por sua piscadela, já na saída.
Eu e Ana sozinhos... Mais uma vez, desconforto.
Ela foi a primeira a falar...
Ela se levantou da mesa vagarosamente, me olhando de rabo de olho e se dirigiu à sacada. Encostou-se ali, olhando prá rua encostada no vidro. Era cena de novela.
- Ele é muito sedutor, né Bruno?
- ...
- É sim. Mais que sedutor eu diria. É um grande cara!
- Sim, é... Competente.
Eu me sentei no sofá, de frente prá ela.
- Competente? Não entendi Ana...
Ela me olhou com um sorriso estranho. Voltou-se para a rua novamente.
- A gente ia se casar Bruno. Ele te disse?
- Hã... Não.
- Claro que não. Mas estava num empreguinho de merda. Ganhando pouco. Eu o sustentava, praticamente.
- Não sabia...
Ela sorriu.
- Ele me garantiu que em menos de um mês aqui, se eu o deixasse vir, arranjaria uma mulher rica para sustentá-lo, e que em um ano ele faria grana o suficiente para voltar e a gente se ajeitar.
Frio na barriga. Gelo, eu diria. Minha garganta ficou seca.
- Só não pensei que ele toparia se envolver com um homem. Mas, ah! Lógico que eu sabia que ele curtia homens também. Ele fazia programas em Ribeirão às vezes. Te contou...?
Minha visão estava turva.
- Não né? Ela se virou por um momento de frente prá mim. Estava séria. Triste. Amargurada. Ou encenando maravilhosamente!
- Bruno... Sei que não é culpa sua. É muito fácil cair na dele... Nós dois caímos.
Eu precisava falar algo.
- Ana, tem uma coisa que não se encaixa aí...
- O quê?
- Eu NÃO sou rico.
Ela riu alto. Mais uma vez voltou-se prá rua.
- Ah, Bruno... Você pode não se considerar rico, mas tem bem mais, eu diria o suficiente para uma arrancada bem legal.
Apesar de toda a confusão na minha cabeça, eu tinha que defendê-lo. Precisava de tempo prá pensar.
- Você está querendo o que com isso? Tirar ele de mim?
Ela se virou, mais séria, mais direta... Me olhou fundo nos olhos...
- Bruno... Quem foi que tirou o Daniel de quem primeiro?
Me calei.
- Fala, Bruno. Responde.
Eu me levantei e cheguei perto dela. Minhas pernas tremiam. Eu percebi que suava frio. Será possível? E tudo aquilo que eu via no olhar dele? E toda aquela sinceridade e maturidade? Será que tudo era atuação? Ou era jogo dela? Uma tentativa desesperada de me colocar contra ele?
Como saber?
Que merda me sentir tão dentro de uma novela...!
- Ana, eu não tirei o Daniel de você... Não pedi nada. Ele chegou e me disse que tinha terminado contigo. Que não rolava mais.
- Hã hã... Rápido assim? Você sempre foi esse romântico?
- O que você quer de mim?
- De você, nada. E nem sei se eu quero o Daniel de volta, que isso fique claro. Só não quero e não acho justo que ele se passe por esse anjo que parece ser. Isso não é justo.
- Ele tá louco prá te ajudar.
- Sentimento de culpa Bruno. É o mínimo que ele podia fazer.
Eu não queria acreditar em nada daquilo. Era muito difícil acreditar. Ela pareceu avistar algo. Virou-se e retornou à mesa.
- Ele está voltando. Bruno, escuta aqui... Só vim te alertar, e não vou ficar esse tempo todo. Se eu fosse você não comentava nada com ele.
- Por quê?
- Simples. Eu vou negar tudo. Vou afirmar que não falei nada contigo. Eu prometi isso prá ele antes de vir, era condição, e ele confia em mim. Se você mencionar algo, ele se vira contra você. Bom... A não ser que...
- O que?
- Que você já não faça questão dele. Se já estiver certo de que o melhor é estar sem ele, pode falar. Ele não vai te perdoar por querer jogar a culpa em mim.
- Ana... Não seja boba. COMO é que eu saberia de tudo isso se você não me contasse? Como é que eu inventaria ou criaria só verdades na minha acusação?
- Bruno... Não seja bobo. Quem te disse que em tudo que eu te falei só há verdades?
- Como?
Ela sorriu e retomou uma posição fria, sóbria e tranqüila enquanto ele entrava na sala.
Eu... Não sabia o que fazer.
Ele entrou e eu fui ao banheiro. Me encostei na parede e chorei. Chorei raiva, chorei dúvida, chorei decepção, chorei como a muito não chorava. Chorei baixo, abri a torneira do lavabo e quase que mergulhei minha cabeça ali, buscando uma forma de pensar, de raciocinar com certa lógica. Eu queria acreditar que aquilo era só veneno, só mágoa e tentativa de acabar com tudo que éramos... Algo me pedia para retomar aquela conversa, analisar cada detalhe. Mas era impossível naquele momento.
Eu não tinha condições nenhuma de encará-los. Não conseguia encenar como ela fazia. Ou ele fazia? Tava puto, com raiva de mim mesmo, dela, dele, daquela merda de situação na qual tinha me colocado. Queria cair da cama... Acordar do pesadelo. Encontrá-lo ali do meu lado, segurando meu rosto, buscando minha boca...
Queria começar de novo. Queria só acreditar nele. Queria sair dali, jogar prá ele tudo que tinha acontecido, desmascará-la... Ou desmascará-lo? Queria? Eu sabia o que queria?
Eu queria sair correndo, me esconder. Me refugiar.
Fiquei ali, naquele devaneio não sei por quanto tempo...
Ouvi uma batida suave na porta.
- Bruno? Tu tá bem?
- Hã...
- Bruno?
- Já vou Daniel... Não estou passando muito bem não.
- Abre aí!
Uma segunda voz...
- Abre aí Bruno, deixa a gente te ajudar.
Vadia!
Eu enxuguei meu rosto, respirei fundo e abri a porta. Estava pálido, claro. Nem precisava fingir nada. Ele me segurou.
- Cara, o que foi?
- Não sei. Algo não caiu bem. Tô mal... Acho que vou embora.
- Não. Fica aqui. Tu não pode sair assim.
- Eu tô ok, Daniel. Por favor, me deixa ir.
- Assim não. A gente vai contigo. Vamos a um hospital.
- Não, tô bem. Por favor, me deixa tranqüilo. Amanhã estarei melhor, e a gente conversa.
- Deixa ele, Daniel. Talvez precise descansar. Não quer ficar aqui Bruno? Ela perguntou.
- Não, obrigado. Preciso ir.
Fugi, sem dar muito tempo de nada. Ele me chamou ainda uma vez. Apertei forte seu braço, olhei firme em seus olhos e implorei...
- Por favor.
Voltei prá casa confuso, triste, bêbado de emoções e recordações. Pensava em tudo, desde o início. Buscava uma saída. Liguei o rádio e rezei, depois de muito tempo, para ser iluminado. Para enxergar um caminho. Para não ser idiota nem irresponsável. Para não ser injusto nem inocente. Para não ser racional nem sentimental demais. Para conseguir clarividência... Tudo o que tinha vivido com ele, tudo que tinha aprendido com ele, tudo que tinha visto em seus olhos...
A música veio. Começou leve. Começou serena.
Eu encostei o carro, apaguei as luzes e ouvi. Cada detalhe. Cada palavra. Cada melodia. Meu sorriso voltou timidamente, junto com as lágrimas. Tudo ficou claro prá mim. Parecia loucura, mas eu já sabia o que fazer. Já sabia em quem acreditar. Já sabia por quê...
Mais tranqüilo embora não totalmente recuperado, religuei o carro e voei pro meu apartamento. A primeira coisa que fiz ao chegar foi ligar lá. Eu queria que ela ficasse esperta.
- Dani?
- Oi lindo. Tá melhor?
- Tô sim, só ligando prá te deixar tranqüilo.
- Pô Bruno, péra aí...
Ouvi ele falando algo baixinho e o som da TV ficando mais baixo. Ele estava se afastando da sala.
- Bruno?
- Fala...
- Aconteceu alguma coisa? Aqui? Tu ficou chateado?
- Não gato, fica em paz. Comi algo que não caiu bem.
- Foi isso mesmo?
- Claro. Fica tranqüilo.
- A gente se vê amanhã?
- Pode ser. Que tal amanhã, para retribuir, vocês virem prá cá?
- Eu e a Ana?
- Claro...
- Ah... Beleza então.
A voz dele sorria...
- Em todo caso Bruno, te ligo amanhã cedo prá ver se tu tá legal.
- Ok...
- Dorme bem. Qualquer coisa me liga.
- Pode deixar.
- Te amo...
- Eu também.
Desliguei o telefone e liguei pro Marcão. Nessas horas, amigo é tudo.
Menos de uma hora e ele estava sentado na minha frente. Contei cada detalhe da conversa com a piranha, sem dizer a minha decisão. Como que querendo a opinião de alguém de fora. Marcão me conhecia, e tinha acompanhado nossa relação. Conhecia Daniel de certa forma.
Acabei o relato e ele estava sério. Se levantou, foi até a sacada, voltou, sentou-se de novo...
- Velho, que puta vadia! Você não caiu nessa, caiu?
- Quase velho. Fiquei confuso prá caralho.
- E o que fez?
- Nada. Saí de lá prá pensar, colocar tudo em ordem. Como te falei, ele acha que eu passei mal. Eu acho que ela acha que eu vou acabar tudo, e caí na dela.
- E você? Vai fazer o quê?
- Cara, vou seguir meu coração, velho. Pagar prá ver.
- Ai, porra! Que alívio. Te falei que era armação dessa vadia.
- Com ele, vou fazer de conta que nada aconteceu. Tudo o que ela quer são duas coisas: Que eu acredite de cara e termine com ele, jogando na cara dele ou não. Ou que eu conte prá ele o que ela me falou. Aí é cilada. Se for verdade, o que não acredito, Ou ele nega tudo e ainda se faz de vítima, ou confessa e aí tô fodido. Se for mentira, ela consegue o que quer... Ele vai ficar “p” da vida pelo fato de eu estar colocando tudo em dúvida...
- Então...?
- Vou ficar de boa. Fazer ela acreditar que estou me fodendo prá isso, e ver a reação dela. E dele também, claro.
- Então você ainda desconfia?
- Não é que eu desconfie, Marcão.. Algo lá no fundo me diz que é armação, mas ao mesmo tempo mentira se disser que estou completamente seguro disso.
- Cara, mas vamos considerar... E se for verdade? Foi lá atrás porra. Nenhuma chance de você tê-lo conquistado de verdade, e ele estar arrependido...?
- Até tem Marcão. Mas se fosse isso, acho que ele teria ficado muito mais com o pé atrás em relação à volta dela. Seria um risco, concorda?
- Não sei Bruno. O Dani é muito desencanado! É muito transparente. Inocente mesmo. Se bobear, ele se arrependeu tanto e está tão certo que você confia nele, e no relacionamento de vocês, que não se sentiu ameaçado.
- Que no fundo, é o que está acontecendo né?
- Graças a Deus cara. Mas quer saber a minha opinião?
- Fala...
- Armação dessa puta vadia, velho. Dor de corno. Perdeu o macho prá outro cara, deve ser bem pior... O Dani tá limpo nessa. Aposto contigo.
- Tomara meu amigo... Tomara.
Eu o abracei, ele se foi me deixando em condições de dormir.
Que dia!

CAPÍTULO 23

Eu repassei muita coisa de tudo que tínhamos vivido nesse tempo no dia seguinte. Encontrei muitos fatos que me faziam acreditar nele, mas ao mesmo tempo não encontrei "provas" contra as acusações dela. Não iria encontrar mesmo. Percebi que não seria esse o caminho para encontrar as respostas que queria.
Me concentrei na minha estratégia. Antecipei possíveis reações de ambos e pensava nos movimentos a seguir. Aquilo tava me cansando. Minha cabeça fervia. Resolvi desencanar e deixar acontecer... Afeee.
Umas dez da manhã. Tocou o telefone.
- Bruno?
- Não... Zé Colméia...
- Ah... Ele sorriu. Você tá bem!
- Tô sim Dani, e você?
- Beleza gato. Fiquei preocupado contigo, mas agora tô legal.
- E a Ana?
- Hã... Saiu prá entregar uns currículos. Ela está bem empenhada, sabe?.
- Opa! E como!
- Hã?
- Nada, ontem ela me falou um pouco dos planos. Muito empenho mesmo da parte dela!
- É, que bom né? O quanto antes ela conseguir se ajeitar, melhor prá nós...
- Podes crer.
- ...
- Dani?
- Geme...
- Vocês vêm hoje à noite?
- Vamos sim.
- Pego vocês que hora?
- Não precisa Bruno, a gente chega de boa. Por volta de umas oito.
- Então tá, vou esperar.
- Beijo na boca.
- Tchau.
Era simplesmente IMPOSSÌVEL acreditar que ele estivesse encenando. E se estivesse... Caralho! Merecia um Oscar. Era delicioso.
Por incrível que pareça trabalhei de boa. Baixei "No Frontiers" e ouvi o dia todo, me abastecendo para a noite que viria. Seria uma noite de decepção ou revelações, tinha certeza. E eu estava surpreendentemente preparado!
Eles chegaram dez minutos antes, eu estava acabando o jantar.
Ele lindo, cabelo que estava crescendo ainda molhado, camiseta justa, bermuda leve. A vaca estava HORROROSA!!!
Mentira, tava linda também... Tinha que reconhecer.
Ele me deu um beijo e abraçou sem pudor.
- Tá melhor então?
- Tô sim, valeu...
Ela me olhava friamente atrás dele.
- Oi Bruno. Que bom que está melhor.
Sorri "à la Johnny Depp".
- Valeu Ana. Venham, estão com fome já?
- Não, quer um help aí?
- Esquenta não gato, tô acabando. Senta aí e podem ficar me admirando.
Ele se sentou e segurou o rosto com as mãos, inclinando-se como que paquerando. Era um moleque. Ela nos investigava. Notava pelo seu olhar que estava confusa. Não sabia o que eu estava aprontando. Tinha certeza que ela aguardava uma recepção muito menos calorosa da minha parte.
- E aí Ana? Como foi o dia? Alguma notícia boa?
- Ah... Entreguei alguns CVs e agora é aguardar né?
- Claro... Tomara que dê tudo certo rápido prá você.
- Ah, é... Vai dar sim. Sei que demora um pouco, nada é de um dia pro outro, mas graças ao suporte do Dani, tô tranqüila.
Os dois me olharam. Olhares completamente diferentes.
O dele dizia "Vai ser rápido, não se preocupe"
O dela dizia "Você tá ferrado se depender de mim"
- Ah sim. Mas vai ser rápido! Você é super qualificada!
Resolvi começar a atacar também. Sair da defensiva.
Contornei a mesa e me aproximei dele por trás. Massageando seus ombros eu segurei seu rosto e dei um beijo em sua nuca. Ele sorriu.
- Já contou prá ela Dani?
- O quê?
Eu olhei fundo em seus olhos. Ele entendeu.
- Ah... Ainda não.
- Tudo bem...?
- Claro... Fala você.
Era tudo que eu queria.
- Já decidimos Ana... Assim que você se ajeitar, e se Deus quiser vai ser rápido porque você é capaz disso, o Dani vem morar comigo.
A cor sumiu de seu rosto. Ela se segurou. Deu uma risada pálida.
E eu vi o inferno em seus olhos...
Notei que Daniel não estava esperando aquilo, mas como sempre, ele reagiu naturalmente. Me beijou e tratou em tranquilizá-la.
- Mas fique calma Ana. Conversamos antes e a gente vai te dar todo o apoio necessário. Só depois a gente se ajeita. Né Bruno?
- Claro, gato. Não temos pressa nenhuma, até porque temos toda uma vida, certo?
- Hum, que lindo...
Estava uma delícia fazer aquilo com ela! Caralho, melhor que sexo! E eu já podia quase ter certeza, pela reação dos dois, que tinha acertado na estratégia. Ela estava engolindo do próprio veneno.
- Bom, queridos... Vamos lá. Tá pronto.
Nós nos sentamos na mesa e íamos conversando sobre tudo. Eu e Dani tagarelávamos. Ela acrescentava alguns hã-hãs e risadinhas enquanto ciscava no prato.
- Não gostou, Ana? Tá comendo nada...
- Não é isso Bruno. Estou esquisita.
- Poxa... Será que pegou minha virose?
- Espero que não.
- Ah, se foi isso... Porra, vou-me sentir culpado.
- Que isso Bruno, não é nada disso. Ela tava bem até agora há pouco...
- Eu estou legal, gente...
Mudei de assunto. Que passasse bem mal mesmo.
Em um determinado momento, Dani pediu licença e foi ao banheiro. Eu sabia que a resposta viria ali. Me preparei. Foi só a porta se fechar.
- Você não acreditou no que te disse Bruno? Está se enganando ou o quê?
- Ana, pensei muito, sabe... Não me importo. Não acredito, mas se for verdade, acho que ele mudou. A gente se ama. Não vou cair na sua, sorry.
- Você vai falar prá ele?
- Prá que? É o que você quer né? Não vou não.
Ela limpou a boca e me fuzilou com os olhos.
- Bruno, escuta aqui. Vou ser bem direta contigo. Ele não te ama, está apaixonado talvez. Você nunca vai poder dar a ele o que eu vou poder...
- Ana, sinto te dizer. Ele já te conhecia. Me parece que ele já fez a sua opção. Não acha?
Ela deu uma risadinha perigosa.
- Você que pensa gatão. Perdi a primeira batalha. A guerra, só está começando.
- Que vença o mais forte.
- Não necessariamente Bruno... Não necessariamente...
É. Seria uma guerra!
Voltamos à nossa encenação assim que Daniel voltou à mesa. Eu estava surpreso com a desenvoltura dela, mas também com a minha! Estava orgulhoso de mim mesmo. Quase feliz de novo. Terminamos o jantar, enrolamos no papo e ela, justificando o mal estar que a tinha impedido de comer direito, pediu para ir embora.
- Se incomoda Daniel? Não queria atrapalhar vocês, mas tô mal...
- Que isso Ana. Vamos embora então.
- Eu deixo vocês lá.
- Não precisa Bruno. A gente vai de busão, ou pego um táxi. É rápido.
- De jeito nenhum. Deixo vocês lá.
No caminho, ele sentado ao meu lado, ela no banco de trás fingindo mal estar.
- Melhorou não, Ana?
- Um pouco. Só preciso chegar a casa e dormir. Descansar.
- Não quer passar num hospital Ana?
- De jeito nenhum Bruno. Nada que uma bela noite de sono não dê jeito.
Não ia deixar de provocar.
- Poxa Dani... Já que ela precisa dormir, que tal voltar comigo? Tô com saudade...
Ele me fez um cafuné e sorriu gostoso. Seus olhinhos brilharam.
- Eu também gato. Muita... Mas, não sei, se importaria, Ana?
Ela me fritava pelo retrovisor.
- Não Dani... Tenho um pouco de medo de ficar naquela casa sozinha, mas se quiser voltar, tudo bem.
Ele me olhou, cara de moleque carente que perdeu o pirulito.
- Ai Bru, vontade não me falta. Mas tenho pena de deixá-la sozinha... Tu entendes?
- Claro lindo. Não podia esperar outra coisa de você. Por isso que te amo. O importante prá mim é saber que a vontade não te falta...
- Repete a primeira parte.
- Por isso que te amo.
Ele me beijou no rosto, e virou-se meio que para compartilhar com ela sua alegria. Pelo retrovisor percebi seu sorriso torto.

CAPÍTULO 24

Uma hora depois estava em casa, Marcão remoendo as unhas ouvindo tudo...
- Caralho velho. Que puta vadia!
- Nem fala cara. Mas você precisava ver a cara dela "confessando" o crime.
- Mandou muito bem Bruno. Mas que pena que ele não veio e deixou-a lá.
- Você acha que isso é ponto prá ela?
-Não, de jeito nenhum. Ele pensou. Não, conhecendo o pouco que conheço dele, ele não a deixaria assim. Se sente responsável por ela aqui.
- É foda... Isso é um trunfo dela, cara. Ela vai usar disso o máximo que puder.
- Vai mesmo, mas segue desse jeito cara. Você não pode tentar colocá-la contra ele. Ela vai se revelar, ou ser vencida pelo cansaço.
- Porra cara, assim espero, viu? Vou ter que lidar com isso e não deixar nosso lance esfriar. É isso que ela vai querer fazer.
- Hum... Bom, já sabe que pode contar comigo se inventar alguma coisa, ok?
- Prá qualquer coisa?
- Epa... Calma lá, velho. No que está pensando?
Eu ri da cara de susto dele.
- Nada. Mas talvez precise dos seus dotes... Hehehe...
- Como assim?
- Calma. Confia em mim. Só se eu precisar vou te falar. Mas acho que não vai ser preciso não.
- Que medo, porra...
- Hehehehe... Fica sossegado velho. E valeu mesmo viu?
- Que isso irmão, tamo aqui. Junto. Vou querer ser padrinho.
- Obaaa... Claro!
- A gente se vê amanhã, cara.
- Não quer ficar aqui hoje?
- Não, de boa. Não ia ser legal o Dani saber que estou dormindo aqui.
- Ele não saberia. E mais... Ele tá dormindo lá, com a ex... Você nem é meu ex ainda.
- Seu viado. Melhor não. Até amanhã.
- Valeu, grande.
Ele saiu. Liguei o rádio. Relaxei no sofá e fui caindo devagarzinho num sono de paz.
No dia seguinte combinamos de almoçar juntos, só eu e ele, claro. Minha estratégia era sondar, tentar notar o que ela tava aprontando. Mas não rolou.
- Meu gato. Onde você quer comer?
- Bom dia lindo. Melhor colocar essa pergunta na voz passiva...
- Hã???
- Onde eu quero ser comido? Qualquer lugar. Me leva prá qualquer lugar onde eu possa cair de boca em ti, te beijar todo, me entregar inteiro velho... Tô subindo pelas paredes de tesão em você.
- Caralho Dani... Pára que eu vazo velho.
- Então se manda.
Dirigi como um louco prá casa, ele apertando minha coxa e se debruçando sobre meu corpo quando parava em semáforos... Melhor (quem diria eu dizendo isso...), de vidros semi-abertos e eu não tava nem aí. A vontade agora era minha de abrir o resto e berrar bem alto: "Ele é todo meu...!"
Subimos apressados, e ele me empurrou prá sacada. Notei que esse jejum tinha trago de volta parte daquele lance da aventura. Ele não estava nem um pouco sossegado... Era uma tentação.
Os dois sem camisa, meio da tarde, rua movimentada, ele me colocou de costas prá rua, se abaixou e me chupava gostoso, explorando minhas pernas, minha bunda, meu peito. Eu acariciava seus cabelos e gemia baixo, pedindo mais...
- Que saudade de você Dani!
- E eu meu gato, fode minha boca! Me mostra seu tesão... Sou teu.
- Só meu, cara?
- Só teu velho. Quando quiser...
- Ahahahahah...
Depois de um tempo ali, nos arrastamos e caímos ao lado do sofá. Ele se sentou na beirada, ergueu as pernas e ofereceu seu cuzinho para que eu caísse de boca. Eu chupava fundo enquanto batia uma punheta safada... Ele gemia e se contorcia prá mim.
- Porra, velho, não demora. Me fode. Me arregaça. Quero você!
- Só se for agora!
Levantei suas pernas e encaixei meu cacete duro em seu buraco, de frango assado, me debruçando sobre seu corpo e caindo de boca em seus lábios, em seus peitos, acariciando seus cabelos. Estávamos com tanta fome um do outro que nenhum de nós fez questão de se segurar ou frear o prazer que sentíamos. O gozo veio vindo do fundo, minha perna tremia e ele piscava seu rabo, aumentando meu prazer. Acelerou a pegada em seu pau, rebolando gostoso.
- Não vou agüentar mais Bruno, goza comigo!
- Vamos juntos, caralho.
- Ahahahahaha. Meu macho!
- Meu puto gostoso!
- Aahahha
Gozamos deliciosamente e nos largamos nos braços um do outro. Fiquei beijando seu rosto e acariciando seu peito. Ele retribuía carinhosamente.
- Porra Bruno... Que tesão velho. Não pensei de ser tão difícil.
- O que?
- Ficar sem você mais perto. Te ter a qualquer hora. Tá foda...
- Bom, Dani, a gente sabia né?
- Não sabia, cara. Primeira vez que tenho que ficar assim mais longe de tu desde que...
- Desde que...?
- Desde que me vi apaixonado por ti, cara... No início era atração, tesão, carne, química...
- E agora?
- Prá mim é mais. Já te falei. Espero que prá ti também.
- O que você acha?
Ele riu.
- Ah... Acho que também é assim prá você. Me garanto, sabe?
- Seu puto.
- hã hã... Sou sim. Nunca escondi. Pelo contrário, né?
Tive que rir junto.
- Dani... Como está com a Ana?
Não consegui ficar quieto. Era hora de sondar.
- Como está o que Bruno?
- Sei lá... Ela tá de boa?
Ele se levantou, recostando-se no sofá e me olhando. Investigava.
- Por quê? Aconteceu algo?
- Não...
- Fala sério.
- Não, nada mesmo... Por quê?
- Sei lá. Saímos dois dias, e nos dois cada um de vocês passou mal em um... Sou eu a zica?
Ele era observador.
- Não, bobo. É a comida mesmo.
- Sei lá. Fiquei meio bolado. Tentei sondá-la, mas ela também falou que não era nada. Não quer nos atrapalhar, fica insistindo prá eu ficar contigo, deixá-la sozinha... Mas sei lá, fico mal, entende? Afinal, eu a trouxe né?
- Você a trouxe?
- Quero dizer... Eu a deixei vir.
- Ah.
Fiquei meio preocupado. Ele notou.
- Que foi?
- Nada... A gente precisa voltar né? Tô com fome...
- Hummm... Ele se mexeu, chegando seu corpo no meu.
- Pára, seu porra... Tô com fome de comida.
- Ahhhhh... Que pena.
Nos levantamos e começamos a nos arrumar.
- Vou bater rapidinho uma vitamina prá gente.
- Ok.
O celular dele tocou.
- É ela.
Vadia... Tava marcando de perto mesmo. Só acompanhei o papo.
- Oi Ana.
- É, dei uma saída... Já to voltando.
- Não, tô aqui no Bruno. Vim almoçar com ele.
- Ah linda, não ia dar tempo de te pegar aí e levar de volta. Estamos correndo...
Linda ???
- É... E a gente tava precisando namorar um pouquinho né?
- Não quis dizer isso Ana.
- Sem drama, ok? Você não está atrapalhando nada... Sossega.
- Tá bom. Olha, a gente se fala de noite.
- Pode deixar. Beijo.
- Mando sim. Até.
Ele veio na minha direção.
- Ela te mandou um beijo.
- Ok... Manda outro bem grande. Molhadinho
Saímos e eu já sabia que a noite ele estaria com ela.
Ele parecia chateado. Tanto quanto eu.
        A tarde passou rápida, a noite nem tanto. Ele me passou uma mensagem por volta das sete, dizendo que não apareceria, a vaca não estava ainda muito bem, ainda indisposta. A intrometida. Tive que me conter para não cair na dela e responder que era joguinho sujo dela, e estava sacaneando. Respondi que tudo bem.

        Não sei porquê, não dormi bem. Fiquei pensando naquela situação toda, eu disputando um cara com sua ex-namorada.
Eu sempre tinha sido um cara muito racional em meus relacionamentos, e eu não me via envolvido em nada assim até a muito pouco atrás. Era estranho. Porque ao mesmo tempo que era angustiante, dava raiva, bronca, cansava e irritava, era bom. Me sentia vivo. Havia um motivo e razão para cada dia novo. E não era só o Daniel não, apesar de ver e ter nele grande parte da minha motivação. Mas era eu também. Meu ego estava meio inflado, embora correndo perigo. Mais uma vez em tão pouco tempo repassei milhares de vezes nossos momentos juntos. Ri sozinho de alguns, fiquei encabulado em outros. Deitado na cama, meia luz, rádio tocando baixinho uma música nova, de uma voz até então desconhecida prá mim... Falava de trilhas e caminhos que levavam à um único destino, de metades inteiras e de meias verdades, de detalhes atentados pelo coração, de distâncias superadas, de perder... Dormi ouvindo aquilo. Não tinha ideia do que o dia seguinte me traria de presente!
Acordei meio assustado e com o celular ao meu lado. Não tinha tocado e nenhuma mensagem recebida. Rolou um ciúme. Me levantei e fui direto pro banho, ainda meio dormindo. Estava me acabando na água morna e revigorante quando o telefone tocou. Não era ainda sete da manhã... Fiquei preocupado, telefone tocando essa hora.

        Saí me enrolando na toalha. Peguei o fone e a voz dele era nervosa.

        - Bruno?
        - Eu... Dani?
        - Oi, bom dia querido.
        - Uau, que surpresa, tão cedo.
        - É... Bruno, preciso muito te ver agora cedo. Tem jeito?
        - Aconteceu alguma coisa, Dani ?

        Ele demorou um pouquinho prá responder.
        Como sempre, ele não sabia mentir.

        - Aconteceu. Preciso te contar algo, e preciso de sua ajuda.
        - Você tá bem ?
        - Tô, tô bem sim. Pode ser ?
        - Mas Dani, antes do trampo, no almoço ?
        - O que for melhor prá você.

        Eu não ia conseguir esperar.

        - Eu te pego aí em meia hora, pode ser ? A Ana tá em casa?
        - Tá, tá dormindo. Ela vai achar que eu fui pro trabalho.
        - Beleza então. Te pego aí e a gente vai tomar um café.
        - Pode ser aí no seu AP?

        Medo...

        - Ok. Tô indo.
        - Vem... te amo cara.
        - Também.

        Saí meio assustado, já pensando em todas as possibilidades. Ele teria descoberto? Ela o teria seduzido? Ela teria inventado algo a mais? Criado algum problema? Affff... Eu o peguei em frente à sua casa. Seu rosto era tenso e ele veio calado, falando pouco e se mexendo muito. Preferi respeitar o momento dele, eu sabia que ele queria falar só em casa. E já dava prá perceber que era sério.

        - Você tá me deixando preocupado, Dani.
        - Bruno, tu confia em mim ?
        - Você duvida que eu confie em ti?
        - Não...
        - Então...

        Ele começou a chorar baixinho.
        Entramos quietos, ele se sentou no sofá, pernas prá cima. Me puxou suavemente e me beijou com paixão. Segurando minhas mãos, me abraçou e ficou com o rosto deitado em meu ombro.

        - Dani... você tá me deixando muito nervoso.
        - Ahhhh - ele respirou fundo - Vamos lá.
        - Fala.
        - Bruno,tu sabe que eu nunca te escondi nada...
        - Sei...
        - Tu duvida do que eu sinto por ti?
        - Não Dani, não duvido.
        - Você é capaz de perdoar?
        Meu corpo se retesou todo. Ele vinha então confirmar toda aquela história? Não tinha sido uma farsa? Caralho, de novo...
        - Dani... Me fala tudo. Conta tudo, e eu vou te dizer se consigo.
        A vontade que eu tive foi de dizer "eu já sabia" e poupá-lo, mas se era verdade, queria sim ouvir de sua boca, a sua versão. Tava preparado.
        - Ontem a noite, eu devia ter te ouvido. Ela estava passando mal, acho que estava. Parecia carente e culpada por nos estar afastando... eu não queria... ela me questionou... Ah Bruno.
        Outro rumo...
        - Cara, não tõ entendendo nada!
        - Bruno, a gente dormiu junto. Eu e Ana.
        Vaca. Vadia. Puta... eu sabia!
        Fiquei em silêncio, meio que anestesiado. Um monte de coisas passaram pela minha cabeça. Apesar do turbilhão de ciúme, raiva e orgulho ferido, resolvi ser prático. Tentar, eu diria.
        - Sei... E foi bom prá você ?
        - Fisicamente falando, não foi ruim. Você me conhece, cara. Mas me senti péssimo durante e depois. Só pensava em você.
        - Sei... Durante também ? Daniel...
        - Caralho Bruno, ela me rodeou, não consegui resistir! Foi só sexo.
        - Hã hã...
        Fiquei parado calado, olhando prá ele...
        - Fala alguma coisa Bruno?
        - Eu preciso pensar Dani... Preciso pensar.

---------------------- CONTINUA ---------------------------


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Comentários


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victor1607 Comentou em 04/06/2014

Já estou viciado em seus contos.




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Ficha do conto

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Nome do conto:
O Rapaz da guarita (Parte 6)

Codigo do conto:
47908

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
02/06/2014

Quant.de Votos:
4

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