A coisa toda começou no aeroporto em Salvador. Estava na sala de espera esperando meu vôo para São Paulo, quando um perfume absolutamente fantástico enche o ar à minha volta. Tento localizar de onde vem, mas não consigo. Paciência. Pouco depois, o vôo é chamado para embarque, como o assento é marcado e detesto muvuca, fico quietinho no meu banco, mas o perfume desaparece. Finalmente, quando a fila diminui vou para o portão e embarco. Já estava meio irritado, por não ter conseguido o assento que gostaria, no corredor, detesto janela. Assim que coloco minha mochila no bagageiro, descubro que meu assento (21A) esta ocupado. Num primeiro momento, não consigo distinguir se é ele ou ela, uma aparência totalmente andrógina, mas de traços muito bonitos. Ao perceber que estou olhando, a pessoa me olha e solta a famosa frase :
- Esse assento é seu ?
- Sim, qual o seu ?
- Ahhh, é 21C , corredor.
- Quer trocar ? Até prefiro corredor.
- Ahhh moço, obrigado.
Problema resolvido, ocupo o lugar e quando acontece o aviso de fechamento de portas, descubro que o assento do meio esta vazio. Satisfeito, afivelo o cinto. Minutos depois o avião decola. E lá vamos nos para Congonhas. Mais ou menos no meio do vôo, o rapaz que esta na cadeira ao meu lado resolve usar o banheiro, óbvio que tenho que levantar para que ele passe. Quando o faz descubro de onde vinha e vem o perfume, dele. Minutos depois, ele volta.
- Desculpa incomodar moço !
- Imagina ...
- “brigada” !
A voz dele, embora masculina, tem um timbre diferente, quase feminino. Antes de me sentar novamente, uma olhada mais atenta ao meu vizinho de fileira. Decididamente, o rapaz realmente é muito bonito e delicadissimo tambem, digo isso em função do seu jeito de falar, dos seus gestos, mas como isso não é da minha conta, deixo de lado.
Em Congonhas, enquanto espero para pegar minha bagagem na esteira, o rapaz esta no outro lado dela, por acaso ele me sorri, retribuo educadamente. Ele pega suas coisas antes de mim e vai saindo. Pouco depois pego minha mala e sigo para a saída. Na área externa torno a cruzar com ele, que esta em companhia de um casal, outra vez ele me encara e sorri. Confesso, aquilo me deixa meio desconsertado, não sou nenhum galã. Sou apenas um cara de meia idade (cinquentão), relativamente em forma, apenas um pouco mais alto que a maioria, tenho 1.85 m. Sigo para os táxis e rumo para casa.
No dia seguinte, uma quarta, ao abrir meus e-mails, um convite de um cliente para o cocktail/jantar de lançamento de um produto, num espaço de eventos transado nos Jardins, as 18:00 horas do mesmo dia. Até penso em não ir, mas o convite não é daqueles genéricos, veio diretamente do meu cliente e é assinado por ele, logo o bom senso diz que será interessante ir.
Num horário que acho adequado saio do escritório e vou para o tal cocktail. São Paulo é sempre uma surpresa e acabo chegando mais cedo ao lugar. Detesto isso, mas por sorte, meu cliente me vê à entrada do buffet, me recepciona e entramos. Passamos os minutos seguintes a falar de negócios, até que ele tem que receber os convidados. Pego um uisque e vou para a varanda, onde encontro alguns conhecidos e por ali fico conversando.
Finalmente, acontece a apresentação do tal produto, destinado ao mercado de moda. Terminada a apresentação, vou ao bar para mais um uisque. Segundos depois, o mesmo perfume do aeroporto se espalha ao meu lado. Imediatamente, me viro para descobrir de onde vem. E ali quase ao meu lado esta o rapaz do avião. Cruzamos olhares e o improvável acontece. Ele vem em minha direção.
- Olaaaaaaaa ! Desculpa, mas não era você ontem no avião ?
- Sim, era sim !
- Coincidência, não ?
- Muita, muita mesmo. Curioso, o que você esta fazendo aqui ?
Antes de responder, ele se apresenta - Fernando (Nando) - conta que a mãe tem uma confecção e eles usam máquinas do meu cliente. Também me apresento - Hermann - e explico que participei de parte do desenvolvimento da máquina. A partir dai começa uma conversa bastante agradável, descubro que ele tem 20 anos, mora em SP, estava voltando de férias na Bahia, que trabalha com a mãe, sendo responsável pelos desenhos e estamparia. Durante a conversa, não deixo de notar que além de muito educado e delicado, tem mãos muito femininas e usa rímel. Bom, num evento do tipo, certos detalhes não são de se estranhar. A conversa flui de maneira tão natural que quando percebo estou na mesa ao lado dele para o jantar. As outras pessoas na mesa não conheço, mas logo rola um entrosamento geral.
Continuo no meu uisque e ele com vinho branco. A fila do “self-service” diminui e nos dois nos levantamos para ir ao “buffet”. Nesse momento, ele tira seu paletó e o coloca nas costas de cadeira. Impossível não notar, sua calça é levemente mais apertada na cintura e nos quadris, não sei se ele tem cintura mais afinada e quadris mais largos, se é o corte da calça ou as duas coisas juntas. Aquilo me intriga. Nos servimos e voltamos para nossa mesa.
Terminada a janta, um DJ começa a se apresentar, penso comigo que esta na hora de ir embora, cerca de 22 horas. Levanto-me da mesa e começo a me despedir do pessoal. Ao me despedir de Fernando, para minha absoluta surpresa, pergunta se não gostaria de ficar com seu número, educadamente digo que sim. Só que o “DETALHE” fica pelo seguinte, ao invés dele me passar o número diretamente, ele pede o meu e me liga.
- Pronto, agora é só salvar !
Sem saída educada, gravo o nome do rapaz. Feito isso me despeço e sigo para casa. No caminho, faço uma revisão mental do acontecido.
Confesso, nunca tive atração por rapazes, mas Nando me deixou perdido, totalmente perdido ou melhor, totalmente confuso.
Vai Parte 2
Gostei muito do início desse futuro romance!💘
Votado !
Bem escrito.Define personagens e lança um plot: curiosidade do narrador para o personagem titulo.Votadissimo.