Não imaginei que dormir com a mente tão cheia de pensamentos e o coração tão cheio de magoa fosse tão fácil.
Aquele não foi um sono tranquilo.
Eu rolei na cama enquanto tinha pesadelos com o Alex entrando em um avião e voando para longe de mim.
Acordei subitamente assustado. Meu coração estava acelerado e o suor pingava da minha testa.
Demorei alguns minutos pra perceber onde eu estava e porque estava tão assustado.
Quando me acalmei, consegui lembrar do pesadelo que acabara de ter com o Alex voando para longe de mim.
Aquele sonho me fez perceber que mesmo ele tendo escondido de mim que iria viajar eu não conseguia odiá-lo.
E vê-lo partir seria um grande pesadelo real.
Eu precisava conversar com ele, mas não tinha condições de fazer isso àquela noite.
Olhei no relógio e ainda era 18:20 h.
Eu precisa conversar com alguém.
Só havia duas pessoas com quem eu queria falar naquele momento: O Carlos e a Marília.
Pensei um pouco sobre para quem ligar e decidi que era hora de matar dois coelhos com uma cajadada só.
Peguei o telefone e disquei o número...
- Alô!
- Alô, Marília? Aqui é o Renato.
- Renato... Nossa eu estava preocupada com você. Você saiu da escola correndo... Você está bem?
- Não Marília, eu não estou bem. Será que a gente pode se encontrar? Eu queria conversar com você.
- Claro, claro. Você quer ir até a sorveteria?
- Hoje não. Hoje eu queria conversar com você em um lugar onde a gente possa ter mais privacidade. Eu estou muito mal e tem algumas coisas que eu preciso que você saiba também.
Ela fez uma pausa e disse:
- Olha, vem aqui em casa e depois a gente pode ir num lugar que eu conheço.
- Tá bom. Estou chegando. Beijos.
- Beijos .
Eu não sei porque não ligue para o Carlos, quero dizer, nessa situação seria mais fácil ligar pra ele, afinal ele sabia sobre mim e o Alex... Mas por algum motivo eu não me sentiria bem conversando sobre o Alex com o Carlos.
Escolhi a Marília porque eu aproveitaria a chance para falar que eu era gay e estava namorando com o Alex.
Era meio arriscado... Ela podia ficar chateada e nunca mais falar comigo, mas eu tinha uma boa intuição acerca da Marília.
No mínimo ela guardaria meu segredo.
Cheguei á casa dela menos de dez minutos depois.
Quando ela abriu a porta e me viu com sofrimento estampado na cara, correu e me abraçou.
Era um abraço quente e eu pude sentir o perfume doce que vinha dos cabelos cacheados dela.
Ela me olhou nos olhos e disse “vem comigo”.
Eu a segui sem dizer nenhuma palavra. Ela me guiou por várias ruas do nosso conjunto até chegar na última rua, onde havia uma outra praça como a praça da árvore das Luzes, mas diferente da outra, essa praça era quase deserta e tinha vários ipês.
Era um lugar bem bonito, porém meio distante e acredito que por isso poucas pessoas frequentavam o lugar.
Sentamos em um banco escondido atrás de um ipê e iluminado por uma luminária de estilo colonial.
Marília sentou ao meu lado e não disse uma única palavra, simplesmente me olhou com olhar indagador esperando eu começar a falar sobre o motivo do meu sofrimento.
- Marília, eu não tenho sido muito sincero com você - eu comecei a dizer - Tem uma coisa sobre mim que você não sabe.
- Tem a ver com a sua fuga repentina da escola hoje?
- Tem sim. Bom, na verdade eu não sei nem por onde começar, eu não quero que você pense mal de mim... Eu realmente gosto da sua amizade, Marília e eu nunca quis que você interpretasse meus sentimentos de outra forma. Na verdade o que eu preciso que você saiba para que você possa entender o motivo de eu ter fugido hoje é... Eu namoro com o Alex!
Eu olhei pra ela e ela estava branca, e com um olhar triste... Eu não sabia o que dizer ou o que fazer naquela situação.
Já estava me arrependendo de não ter ligado para o Carlos quando uma lágrima escorreu dos olhos dela e ela disse:
- Então é mesmo verdade... Eu desconfiava, na verdade todo mundo desconfiava, - ela disse com a voz triste. - mas eu realmente gostaria de estar enganada sobre vocês dois!
- Por favor, não fique com raiva de mim; eu gosto muito de você e não queria te dar falsas esperanças...
- Mas deu!
- Me desculpe... Por favor!
Ela limpou o rosto e levou uma das mãos ao meu rosto e parou uma lágrima que ia escorrendo. Ela suspirou fundo e perguntou:
- Porque você fugiu hoje? Não foi por causa da aula de física eu imagino...
Eu sacudi a cabeça negativamente e falei:
- Ele vai embora; vai para os EUA... Ele já sabia disso antes de me conhecer e nunca me contou nada.
Nessa hora eu comecei a chorar de novo e ela acariciou minha nuca e eu deitei o colo dela no banco e nós dois choramos pelos nossos amores.
Eu chorava pelo Alex e ela chorava porque me amava e doía muito me ver chorando por causa de um cara.
O vento derrubou algumas folhas do ipê amarelo mais próximo sobre nós. Eu me sentei e abracei a Marília. O abraço dela era sempre muito bom; sem dúvida ela era uma pessoa especial.
Eu nem acredito que estudei na mesma sala que ela por tanto tempo e nunca percebi que existia alguém assim perto de mim.
Talvez se eu tivesse conversado com ela antes, as coisas fossem diferentes. Talvez ela me desse aulas de violão e nós dois poderíamos estar ali, naquela praça tão bonita, namorando e comentando sobre o nosso novo amigo que iria para os EUA...
Talvez a gente até estivesse feliz por ele.
Mas não foi assim que o destino quis...
Eu olhei pra ela e prometi que no dia seguinte iria ouvir os “porquês” do Alex.
Nós voltamos para casa juntos. Eu a deixei no portão da casa dela e ela como sempre beijou meu rosto corado.
Quando cheguei em casa encontrei um bilhete da minha mãe onde ela dizia que tinha saído com o tio João para dançar.
Por um momento fiquei surpreso por ela ter saído, quer dizer eu estava altamente depressivo naquele dia, ela poderia ter ficado em casa me consolando.
Mas minha mãe já tinha feito a parte dela e era hora de parar de pedir consolo e descansar porque no dia seguinte eu teria uma longa e definitiva conversa com o AlexEu acordei cedo naquele dia; mais cedo que o habitual.
Sentei na beira da cama e uma única imagem veio à minha mente: eu e o Alex deitados na cama dele; um simplesmente olhando para o outro.
Aquele era o olhar mais doce e apaixonado do mundo!
Eu precisava do Alex, precisava do abraço dele e eu tinha certeza que mais tarde quando eu abrisse a porta ele estaria lá.
Minha mãe e a Marília estavam certas.
Eu precisava ouvir os motivos dele.
Talvez a viagem dele fosse curta e eu estivesse fazendo a maior tempestade no copo d’água da história.
Mas se tinha uma coisa que não deixava eu me confortar com essa ideia, foi o jeito como ele falou da viagem. Não sei explicar... Eu simplesmente sabia que essa viagem não era a passeio.
Agora faltava pouco para a nossa conversa.
Tomei meu banho e quando saí da cozinha, minha mãe já estava de pé fazendo café.
- Acordou mais cedo hoje.
- É, estou meio ansioso para resolver meu problemas.
- Estou vendo que você está melhor hoje. Pensou no que eu te disse?
- Pensei sim. Eu vou conversar com ele hoje.
- Engraçado... Ele acordou mais cedo que você hoje...
- Do que a Senhora está falando?
- Ele já está lá fora, sentado na mureta de sempre.
Meu coração bateu mais rápido...
- Você não vai lá?
- Vou sim, mas vou tomar café da manhã primeiro.
- Você está adiando isso!
- Mãe, eu já disse que vou falar com ele. Só deixa eu fazer isso do meu jeito, tá bom?
- Ok, ok!
Ela terminou de fazer o café, fez o desjejum comigo, saiu para trabalhar e eu fiquei sentado ali na cozinha, olhando para os armários, reunindo toda coragem que havia em mim para ir falar com ele e de certa forma saber qual seria o nosso destino.
Destino... Lá estava eu falando como o idiota impulsivo do Romeu.
Levantei-me e fui em direção à porta da frente, e antes de abri-la, senti um pouco de vergonha por ter saído correndo e chorando na frente dele no dia anterior.
Abri logo a porta e lá estava ele... Lindo como nunca, sentado na mureta do vizinho.
Mas tinha algo de diferente nele.
O olhar estava triste e quando ele me viu mordeu o lábio inferior com uma expressão que misturava receio e tristeza.
Eu pedi para ele entrar.
Ele passou do meu lado sem dizer uma palavra e se sentou no sofá.
Eu me sentei em frente dele e nós ficamos nos olhando por alguns segundos até que ele disse:
- Eu te devo mil desculpas... E eu não espero que você me perdoe. Eu só quero que você me escute.
Eu suspirei e ele continuou...
- Acho que eu nunca comentei com você que o meu pai e a minha mãe se conheceram em um congresso de psicologia em São Francisco nos EUA. Ela era americana e nasceu e foi criada em uma pequena cidade no interior da Califórnia. Bom, depois que eles se casaram, a minha mãe se mudou para o Brasil com meu pai e eu nasci aqui. Quando eu tinha quatro, ela morreu e eu nunca pude conhecer minha avó e os parentes da minha mãe que moram na Califórnia. A vovó sempre me manda cartões de natal e presentes de aniversário e minha tia Roly me liga todo mês, desde que eu aprendi a falar. Eu sempre quis ir para os EUA conhecer minha família, ver os lugares onde a minha mãe viveu a maior parte da vida dela, falar com as pessoas que a amavam. Eu sempre quis saber como a minha mãe era. O papai não gosta de falar muito nela e sempre que eu pergunto ele diz que “tem feridas que nunca fecham, por favor não mexa nas minhas”. E para ele pagar uma passagem para mim estava fora de cogitação, fora todo o trabalho de conseguir o visto...
Ele ficou emocionado enquanto falava e eu me senti triste em vê-lo falar de uma família, que ele não conhecia, com tanto carinho.
Era comovente a vontade dele de conhecer a mãe.
Eu perdi meu pai muito novo, mas perder a mãe deve ser muito pior...
Ele continuou:
- Então, há dois anos, minha tia Roly se tornou diretora da antiga escola onde minha mãe estudou, e nessa escola, eles têm um programa de intercâmbio... Então ela me ligou e me explicou como tirar o visto e como me inscrever no programa. Ela convenceu meu pai a me levar até Brasília onde eu pude tirar meu visto. Para mim foi mais fácil do que para muitos, porque minha mãe era americana. Então eu mandei uma cópia do meu histórico escolar anexado com meu certificado de conclusão do curso avançado de inglês. Além disso também gravei um vídeo falando sobre a minha vontade de estudar na escola onde minha mãe se formou. O único problema era que minha antiga escola não tinha convênio com o programa de intercâmbio norte americano, na verdade nenhuma escola na minha cidade tinha e foi por isso que eu mudei de cidade. É claro que se meu pai já não tivesse passado em um concurso público para cá eu poderia esquecer o meu sonho, então eu me mudei, me matriculei na escola, enviei tudo que eu precisava para minha tia e duas semanas depois, eu recebi a resposta da aprovação. Eu fiquei muito feliz! Eu ia realizar um sonho e esse dia foi perfeito pra mim porque foi no mesmo dia que eu conheci você.
- Você soube da aprovação no dia em que a gente se encontrou na loja do Japa?
- Sim
- E por que você não me contou nada sobre isso?
- No começo eu ia contar, mas nós ficamos muito amigos e eu era seu único amigo naquela época. Eu tive medo de te contar e você se fechar para as pessoas de novo. Eu não queria te decepcionar e depois... Depois eu me apaixonei por você e você me fez o cara mais feliz do mundo... Tudo entre a gente era perfeito... E, além disso, ainda faltava algum tempo antes da minha viagem e eu queria ficar com você pelo máximo de tempo possível sem a sombra da despedida, você entende? Se você soubesse como nós poderíamos ter nos entregado tanto um ao outro, Renato...
- Você me enganou, Alex! Como você pode deixar que eu me envolvesse tanto se você sabia que ia embora? Eu estou muito magoado... Meu coração está em pedaços... Ontem foi o pior dia da minha vida...
Nessa hora as lágrimas começaram a escorrer do meu rosto e minha respiração ficou mais profunda e eu não consegui mais falar.
- O que você faria se soubesse?
- Eu não teria... Ido tão longe...
- E não foi bom ir longe? Não foi bom ter vivido ao máximo esse amor? Você foi a melhor coisa que me aconteceu, Renato!
- Se eu sou a melhor coisa que te aconteceu, - eu disse em prantos. - então fica! Por favor, fica por mim!
Eu o abracei forte e o prendi entre os meus braços. Sem querer eu estava imobilizando ele, e continuei falando...
- Agora que a gente se envolveu, mudou tudo né? Então fica!
Eu falava como um desesperado...
Era possível perceber a insanidade no meu pedido e ele respondeu com a voz baixa:
- Você... Você tem ideia do que está me pedindo?
Eu o soltei, sentei do lado dele e fiquei esperando ele terminar de falar.
- Eu não posso trocar um sonho por outro Renato... Esse é o sonho da minha vida, e não é só por mim... É pela minha mãe, pela minha avó... Pela minha família...
Eu me senti o pior dos egoístas.
- Eu preciso de ar.
Eu disse para ele enquanto me levantava. Fui até a janela que dava para o jardim da minha mãe e fiquei olhando para as roseiras.
Eu precisava de serenidade.
Ele veio por trás de mim e me abraçou... Eu deixei a contra gosto e ele disse no meu ouvido:
- Por favor, não me peça a única coisa que eu não posso fazer...
- Me... Me desculpe... Eu não tinha o direito de te pedir isso. Eu só...
Um nó se formou na minha garganta. Ele cheirou meu pescoço e algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto.
Eu respirei e perguntei:
- Você ganhou as passagens com aquelas provas?
- Sim.
- E... E pra quando é a viagem? - senti meu corpo tremer enquanto aguardava a resposta.
- Daqui há três semanas.
Pela segunda vez, em dois dias, perdi o chão sob os meus pés.
Eu me virei pra ele e o abracei como se nada no mundo pudesse arrancar ele dos meus braços e murmurei no ouvido dele enquanto apertava mais o abraço:
- Seu idiota... Como você pode me fazer te amar tanto assim?
- Você me perdoa?
- Eu nunca vou te perdoar por isso... Mas eu também não poso deixar de passar cada segundo dessas três semanas com você!
- Isso é paradoxal, sabia? - ele disse com a imitação de um sorriso no rosto.
- O que não é paradoxal no amor?
Nós nos beijamos e foi o beijo mais diferente de todos os que já trocamos... Havia raiva, mágoa, amor, paixão e saudade no mesmo beijo...
- Alex, quanto tempo você vai passar lá?
- Dois anos e meio... Eu volto seis meses antes do vestibular.
Meu coração parou, e ele percebeu a dor no meu rosto e disse:
- Mas eu vou te ligar toda semana; mandar e-mail... Podemos conversar no MSN... E talvez eu venha passar duas semanas com meu pai no ano que vem.
A cada palavra dele os fragmentos do meu coração viravam pó... Migalhas do que foi um coração apaixonado um dia... Migalhas... Era só isso que o Alex podia me oferecer...
Migalhas...
Eu não ia viver de migalhas... E embora eu o amasse muito e quisesse passar o máximo de tempo com ele antes dele partir e deixar de ser meu, nesse momento eu comecei a planejar a besteira que eu disse antes...
Eu não seria o único a ficar com o coração em migalhas na hora da separação.
- Eu preciso ir Renato, tenho que resolver algumas coisas com meu pai e não vou pra escola hoje.
- Tudo bem. - eu disse meio sério.
- Então, tudo ok?
Como ele podia perguntar se estava tudo ok?
Tive vontade de dar um murro na cara dele, mas me contive.
- Você não existe, sabia?
- Hum... Você não vai pra escola hoje?
- Vou sim. Só vou pegar o violão e já vou indo.
Dei um beijo nele, de despedida, e fechei a porta atrás dele.
Fui até meu quarto, peguei meu violão e resolvi fazer uma coisa que a Marília me disse que sempre fazia quando estava com o coração apertado. Ela tocava esse sentimento na forma de melodia.
Sentei na cama e pensei no que eu estava sentido e a música apropriada me veio à mente...
Linger
Quando terminei de tocar a música, enxuguei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, ergui minha cabeça e fui para a escola.
Cheguei bastante atrasado. Sentei no meu lugar de sempre.
No lugar onde deveria estar o Alex, estava sentada a minha nova melhor amiga.
Era muito bom ver a Marília. Ela sorriu pra mim e pela primeira vez desde que acordei eu tive um motivo para sorrir.
Foi bom assistir aula, aprender coisas, fazer exercícios de física.
Tudo isso enchia minha mente.
O Carlos ajudou a Marília e a mim com o exercício e no intervalo nós tocamos juntos.
Ela me deu algumas dicas sobre solos e eu contei a ela sobre os motivos do Alex.
Ela disse que entendeu ele, mas concordou comigo que ele não deveria ter deixado a nossa história se prolongar tanto, já que ela já nasceu com data para terminar.
Voltamos para casa juntos; o Carlos, ela e eu.
Quando cheguei em casa, mamãe estava me esperando e eu contei a ela sobre minha conversa com o Alex.
Derramei algumas lágrimas básicas e fui para o meu quarto.
Eu só tinha três semanas com o Alex. Só três semanas de oxigênio. Eu estava arrasado, mas pelo menos tinha parado de chorar.
Eu me deitei na cama e fiquei olhando para o teto azul claro com estrelas brancas do meu quarto.
Meus pensamentos vagaram pelo vácuo até a hora em que meu celular tocou.
Era o Alex.
- Amor, você não vem estudar aqui hoje?
- Alex, hoje eu não estou com clima. Vamos fazer assim: eu passo na sua casa mais tarde, tipo umas 17:00 h e a gente vai pra sorveteria com o pessoal.
- Tá! Ok então. - ele disse com uma voz estranha.
Eu queria muito aproveitar meu tempo com ele; cheirar ao máximo o perfume do pescoço dele, mas eu ainda estava muito magoado por ter sido iludido.
A melhor opção seria ficar perto dele junto com outras pessoas, assim a gente ia poder se comportar como amigos e quem sabe conversar normalmente, sem falar dessa viagem.
Liguei para o Calos, Matheus, Larissa, Alê e, claro, para a Marília.
- Eu não sei se é uma boa ideia eu ir, Renato.
- Por favor Marília! Eu vou ficar perdido lá se você não for.
- Não vai não. Você vai ter o Carlos e o Alex...
- Não é a mesma coisa sem você.
- Não é a mesma coisa vendo você e o Alex juntos...
Eu fiquei em silêncio...
Como eu era idiota... Ela estava apaixonada por mim e claro que me ver com o Alex deveria magoá-lá.
- Olha, eu prometo que vou pensar, tá bom! Se eu mudar de ideia, eu apareço.
- Obrigado, Marília! E, ah! Leva as Cifras.
- Eu nunca saio sem elas!
- Beijos!
Ela era, sem dúvida, uma pessoa maravilhosa!
No horário marcado eu cheguei na casa do Alex.
A gente trocou alguns beijos e eu percebi que ele queria me fazer ficar, mas eu insisti em sair logo e usei o argumento que eu sabia que iria abalar mais a ele.
- O Carlos já deve estar esperando a gente.
Ele ficou visivelmente furioso, mas me seguiu quando eu saí.
Quando chegamos à sorveteria, eu vi o Matheus e a Larissa sentados na grama perto das grandes raízes da árvore das Luzes.
Nos unimos a eles e logo em seguida chegaram a Alê e o Carlos.
A tarde estava sendo bem agradável. Era muito bom ter amigos!
Dessa vez o Matheus tinha levado um jogo, “Perfil”... Quem nunca jogou?
A gente se divertiu muito e até o Alex estava rindo das piadas do Carlos. As burrices da Alê fizeram a nossa alegria também.
E quando o jogo estava quase acabando, a Marília chegou e sentou do meu lado. Eu lhe dei um sorriso de agradecimento e ela ficou toda vermelha.
O Jogo acabou e a gente fez a já tradicional roda de música.
O Alex fez sucesso tocando... Todo mundo gostava de ouvi-lo tocar e logo começou a juntar gente ao nosso redor.
O Alex tocava muito bem, mas eu cantava bem melhor que ele. Essa era a opinião da galera.
Depois eu aproveitei pra contar a eles que eu ia começar e estudar música no conservatório que o tio João ia pagar pra mim.
A grande maioria das tardes das duas semanas seguintes foi assim... Com os amigos, passando o tempo de forma descontraída.
Não demorou muito pra gente se tornar conhecido na árvore das Luzes e por isso fomos surprendidos por um pedido do dono da sorveteria, que convidou a gente pra fazer um showzinho “oficial” no lugar, três dias antes do Alex viajar.