__ 2 meses depois –
Dois meses se passaram, e algumas coisas importantes aconteceram nesse tempo. Primeiro, o Bernardo. Ele se recuperou bem, recebeu alta e, aparentemente, estava tudo normal de novo. Sua rotina voltou ao normal, mas meu tio e minha tia decidiram que ele não retornaria para São Paulo tão cedo. Ele precisaria esperar mais um ano, até estar 100% recuperado, para retomar o curso de piloto de avião.
Tive uma conversa com o Bernardo sobre o Lucas. Não fui totalmente sincero, mas contei o essencial: disse que estava gostando do Lucas, que ele era especial, e que ficamos pela primeira vez na Semana Santa. Bernardo não acreditou. Na cabeça dele, eu e o Lucas já nos pegávamos muito antes disso. Mesmo assim, ele aceitou bem o meu relacionamento, ou melhor, o meu namoro com Lucas. Sim, era um namoro. Tínhamos nossas brigas, mas estávamos nos entendendo da melhor forma possível.
Quanto ao Bernardo e ao JP, o que eu já suspeitava se confirmou: eles meio que engataram um namoro. JP quase todo final de semana ia para o Alto, ou Bernardo vinha para cá. Eles tinham um relacionamento aberto, algo que funcionava bem para os dois.
Falando nisso, Bernardo me perguntou se o meu relacionamento com Lucas também seria aberto. Respondi que não. Lucas nem cogitava essa ideia, e só de mencionar algo do tipo seria motivo para uma briga.
Durante esses dois meses, minha relação com o Lucas era incrível. Estávamos nos conhecendo melhor, e, apesar de vocês já terem acompanhado minhas aventuras sexuais em outros momentos, eu e Lucas ainda não tínhamos transado. Não faltava desejo, mas era algo delicado. Na minha cabeça, ele tinha medo. Eu imaginava que ele ainda não tinha tido nenhuma relação sexual com outro homem. Por isso, estávamos indo com calma — muita calma.
E, sim, nesse tempo, eu me mantive fiel. Não fiquei com meu pai, meu tio ou qualquer outra pessoa. Não tinha interesse ou vontade. A rotina puxada da faculdade me ajudava a canalizar essa energia, e os momentos que eu tinha com o Lucas bastavam. Trocar beijos e sarros com ele era muito melhor do que qualquer transa que eu já tinha tido antes.
Claro, tínhamos nossas brigas. O principal motivo? As meninas. Lucas ainda ficava com algumas garotas. Ele tinha seus amigos héteros na faculdade, e sempre que saía com eles acabava ficando com alguém. Isso me deixava triste. Afinal, eu queria o Lucas só para mim. Mas, desde o início, aceitei essa condição. Sabia que precisaria conviver com isso — pelo menos enquanto minha paciência aguentasse.
Quando estávamos sozinhos, porém, era mágico e único. Conversávamos sobre absolutamente tudo, e Lucas sabia ser extremamente romântico. Ele me dava presentes criativos, pegava o violão e cantava para mim. Saíamos para a praia, íamos ao cinema, fazíamos programas simples como bons amigos aos olhos dos outros. Mas, entre nós, era um namoro. Não houve pedido oficial, nem uma data para comemorar um ano. A gente simplesmente foi ficando, dia após dia.
Lucas me completava, e eu o completava. Era assim que vivíamos — um dia de cada vez.
O Dia dos Namorados estava se aproximando, e seria o nosso primeiro juntos. Eu estava animado, imaginando como seria especial. Como de costume, estávamos no carro após a academia, conversando e ouvindo música. Tocava “Forró dos Plays”, uma banda bem conhecida no RN e no CE. De repente, começou uma música que parecia escrita para nós. A letra dizia:
“Não faz assim, não me toca assim, pois a carne é fraca
Sei que namoramos há um tempo, mas o amor espera
Tire a mão do meu pescoço, sabe, desse jeito vamos pegar fogo aqui no carro…
Tu sabes que eu tenho vontade de fazer aquilo que tu bem sabes…
A música continuava, e Lucas, acompanhando a voz da cantora, cantava olhando diretamente para mim. Eu me perdia na sua beleza e no timbre suave da sua voz.
Às vezes dá vontade de avançar
Fazer e saciar
Não sei como estou aguentando
Tu acha mesmo, que é a minha vontade
De dizer não, só por pura vaidade
Eu só quero fazer tudo certo
Dando passo a passo
Por isso, que vai ter que esperar (iê-iê-ié)
A nossa primeira vez
Não vai ser num carro
Nem pode ser em qualquer esquina
Em qualquer beco
Tem que ser algo especial (ié)
Fora do normal (ié)
Algo sem igual (iê-ié)
Quando a música terminou, ele me puxou para um beijo e sussurrou no meu ouvido:
— Tem que ser algo especial, fora do normal, algo sem igual!
Eu sorri, mas uma pergunta veio à tona:
— Você está com medo da nossa primeira vez? – perguntei, olhando fundo em seus olhos.
Ele hesitou um instante, depois confessou:
— Confesso que sim, mas já estou planejando. Quero que seja inesquecível, no Dia dos Namorados, na surpresa que estou preparando para você.
Fiquei tocado pela sua sinceridade, mas também não resisti a provocá-lo:
— Que fofo você! Já estou ansioso e, confesso, subindo pelas paredes. Mas me diga… Vai ser sua primeira vez com um homem, não é?
Lucas desviou o olhar, focando na estrada à nossa frente. Meu estômago revirou com a tensão. Ele então respondeu, num tom quase baixo demais para ouvir:
— Não. Eu já transei com outro cara.
Fiquei atônito, quase sem acreditar no que ouvia.
— O quê? Quem? Quando? Você me traiu? Achei que eu seria o seu primeiro!
Ele respirou fundo antes de responder:
— Foi no Canadá. Eu ficava com uma menina e ela quis fazer um ménage. Chamei o cara que morava comigo… A gente ficou, e acabou rolando entre nós dois e ela. Depois disso, fiquei algumas vezes com ele. Desculpa, eu não queria mentir pra você.
Minha mente fervilhava. Eu não sabia como reagir.
— Todo esse tempo, Lucas? E só agora você me conta?
— Eu não tive oportunidade. Foi algo no passado, antes de te conhecer.
Ainda incrédulo, pedi:
— Quem é ele? Quero ver uma foto.
Lucas pegou o celular e me mostrou a foto de Artur. De imediato, reconheci o garoto de uma postagem que Lucas havia feito no Carnaval.
— Uai, você postou uma foto com ele no Carnaval! A gente já se conhecia naquela época!
— Sim. A gente se encontrou no Ano Novo e no Carnaval, e acabou rolando de novo. Mas não precisa ter ciúmes, Rafa. Ele sabe de você. Na verdade, ele sempre soube de você e me incentivou a ficar com você. Ele era o único amigo com quem eu podia desabafar sobre tudo isso. Se eu tive coragem de me abrir com você, foi graças a ele.
Minha cabeça estava girando. A decepção tomou conta de mim.
— Não vou dever meu relacionamento a esse estranho. Você deveria ter me contado tudo isso antes. Estou me sentindo enganado. Esse tempo todo eu achando que você estava com medo ou que não estava pronto… Mas, na verdade, você passou anos transando com outro cara. Sinceramente, Lucas, estou muito decepcionado.
Não sei se foi frustração por ter idealizado que eu seria o primeiro do Lucas, mas aquilo mexeu comigo, principalmente com meu ego. Era um sentimento de posse tomando conta de mim novamente. Eu sei que muitos podem me julgar por ter ficado com raiva de algo que fazia parte do passado dele, mas, para mim, aquilo era estranho. Como já disse, eu ainda não tinha a maturidade necessária para lidar com situações como essa.
Fiquei profundamente abalado. Claro, eu também escondia coisas do Lucas. Coisas que eu jamais pensava em contar, como as minhas transas com meus tios, primos e… meu pai. Eu sabia que ele não entenderia, muito menos me perdoaria, então preferi guardar tudo para mim. Mesmo assim, estava errado em querer “massacrá-lo” pelo fato de ele ter transado com outro cara. Era meu ego ferido misturado com a frustração, e eu não tinha esse direito.
Fechei a cara, e o Lucas, percebendo minha mudança de humor, tentou contornar a situação. Ele ficou cheirando meu pescoço e pedindo desculpas, mas eu não estava pronto para perdoar naquele momento. Disse que estava tarde e que queria ir para casa, precisava pensar. Dei um selinho rápido e, ao me afastar, vi seus olhos marejados. Ele me pediu desculpas mais uma vez, e eu saí sem olhar para trás.
Hoje eu entendo que passado é passado, presente é presente, e o futuro… bem, o futuro é incerto. Mas naquela noite, eu só queria ficar sozinho, refletir sobre as minhas atitudes. Cheguei em casa, tomei um banho e, com a mente mais calma, percebi o quanto eu estava errado. Não era justo sentir raiva dele por algo que aconteceu antes de sequer nos conhecermos. As coisas com o Lucas sempre aconteceram de forma natural, e nunca tínhamos tido essa conversa antes. Não fazia sentido cobrar algo que ele não me devia.
Decidi que colocaria uma pedra nesse assunto e que não mandaria mensagem para ele naquela noite. Eu precisava de tempo para digerir tudo. Assim, esperei até a manhã seguinte. Quando acordei, peguei o celular e enviei uma mensagem:
“Bom dia, Lucas. Desculpa pela minha cena de ontem. Fiquei, sim, com ciúmes, mas entendo que é algo do passado. Entendi o seu lado e não suporto ficar brigado com você. Te amo. Tenha um ótimo dia.”
A resposta não demorou:
“Bom dia, Rafinha. Tudo bem. Peço desculpas mais uma vez por não ter sido sincero antes. Já estava triste achando que teria que desmarcar o nosso Dia dos Namorados. Saiba que será algo especial e fora do normal, igual à música. Te amo. Até a academia à noite, onde a gente vai combinar direitinho esse dia 12. Te amo, te amo.”
Ler aquilo me trouxe alívio. Era isso que importava: nosso amor, nossa conexão. O passado, por mais complexo que fosse, não deveria ser um peso para o presente que estávamos construindo juntos.
É o modus operandi dis narcisistas… tambem fazem do sexo, ferramenta de manipulação, deixando o parceiro sempre com tesão para conseguir dominá-lo… Vivi isso muitos anos e saquei desde das histórias com a Brenda que o Lucas era narcisista… ansioso pra ver como o Rafa vai lidar com a situação
Uau, excitante.