Dizem que a verdade dói, que machuca, que muitas vezes é dura e crua. Uma verdade pode ferir mais do que uma mentira. No entanto, certa vez ouvi de um amigo que, embora a verdade realmente machuque, ela se cura mais rápido; a ferida cicatriza com maior rapidez. Já a mentira não dói de imediato; é como um câncer silencioso. Quando a descobrimos, a ferida demora mais a fechar ou cicatrizar. Ela pode não doer tanto no início, mas, a longo prazo, causa uma dor muito maior.
Mas por que falo isso? O que a verdade e a mentira têm em comum? Então, caro leitor, compartilho que o que aconteceu naquele fim de tarde, enquanto estávamos na praia admirando o pôr do sol, somente eu e Lucas, foi algo marcante. Eu não sabia, mas ali estava prestes a ter minha segunda maior decepção com Lucas. Alguns podem não considerar isso uma decepção, mas, para mim, foi como uma faca que penetrou meu peito, que doeu, que não me fez entender na hora. Precisei de muito tempo para compreender que Lucas estava certo e eu, errado.
— O que foi, amor? Você está tão calado. — falei, alisando suas coxas.
— Rafa, eu te amo muito, você sabe disso, né? — ali, senti que uma tempestade se aproximava.
— Eu também te amo, Lucas.
— Eu quero terminar nosso namoro.
— Como assim? O que eu fiz? O que aconteceu?
— Você não fez nada. Eu só quero que nosso relacionamento aconteça do jeito certo, sem repetir os mesmos erros que cometi no passado com a Brenda.
— Você está com outra pessoa?
— Não, não é isso. Mas eu caí de paraquedas nesse mundo gay: fiquei com o Arthur na época em que estava no Canadá, fiquei com você aqui, com meu primo, mesmo que por chantagem… Sei lá, hoje eu me aceito, admiro homens, tenho vontade de ficar com outras pessoas. E quero fazer isso da maneira certa, sem trair você. Como eu disse, quero fazer as coisas certas; eu te amo demais para te machucar.
— Lucas, por favor, podemos abrir o relacionamento, fazer um A3, sei lá, encontrar uma solução juntos.
— Rafa, já considerei essa possibilidade, mas não quero. Não me sentiria bem vendo você com outro cara. Amo você demais para suportar isso; sei que não estou preparado. Quero que terminemos de forma amigável, que possamos ser amigos. Desde que comecei a terapia, mudei. Estou menos narcisista do que antes. Falo de coração aberto o que sinto. Amo muito você, Rafa, e não quero machucá-lo.
Não aguentei e comecei a chorar. Como disse, a verdade dói. Lucas estava me deixando porque queria aproveitar a vida. Claro que ele tinha esse direito, mas eu era completamente dependente emocionalmente dele. Eu o amava mais que tudo; Lucas era meu tudo, minha vida. Aceitaria qualquer coisa para ficar com ele, até mesmo uma traição, desde que ele voltasse para mim. Ao ter esse pensamento, entendi perfeitamente o que Brenda sentia por Lucas. Ela era essa pessoa, mas não tinha culpa; eu não tinha culpa. O culpado era Lucas, por ser tão bonito e envolvente, que fazia as pessoas se sentirem presas a ele. Eu me sentia preso, e ele fazia isso de forma natural. Lucas tinha um jeito único, um olhar marcante, um beijo bom, um sexo gostoso; era impossível querer deixá-lo. E ali, naquele fim de tarde, eu estava sendo deixado para trás. Obviamente, chorei, pois não queria aceitar. Lucas me abraçou e disse que era melhor irmos. Recolhemos nossas coisas e fomos para o carro em completo silêncio. Quando entramos, desabei em lágrimas e disse que não queria aquele fim, que aceitaria qualquer coisa, mas tudo o que disse foi em vão.
— Rafa, você não pode aceitar minhas “migalhas”. Entenda isso. Sei que você me ama; eu te amo muito e não quero te ver sofrer.
— Vou sofrer sem você, Lucas. Não vou conseguir ficar longe de você.
— Rafa, a gente não vai deixar de se falar. Não vou ficar com raiva de você. Só preciso de um tempo, preciso viver algo que nunca vivi. Se você me ama do jeito que diz, deveria me deixar ir embora. Já parou para pensar que, se eu fizer o que você está propondo, vai ser bom? É isso que você quer? Que eu fique com quem eu quiser, e você sempre fique pensando se eu fiquei ou deixei de ficar? Você nunca vai ter paz, e eu vou estar confortável, porque vou ter o melhor dos dois mundos: vou ter você para me dar carinho e atenção, e posso curtir com quem quiser. Isso pode ser bom a curto prazo, mas a longo prazo você vai se machucar, e é isso que eu não quero. Eu te amo demais e não quero carregar essa culpa.
— Por favor, Lucas, eu te amo — implorei, as palavras saindo entre soluços. — Você está com outra pessoa, não está?
Lucas permaneceu em silêncio, respirando profundamente. Então, com um olhar que evitava o meu, respondeu:
— Sim, conheci alguém. Estamos nos aproximando, e eu quero ficar com ele. Não quero te trair. Quero viver isso de forma honesta. Sei que isso pode te machucar agora, mas acredito que, com o tempo, você entenderá. Será o melhor para nós dois.
As palavras dele cortaram meu coração.
— SAIA DO CARRO AGORA. Não quero mais te ver. – Falei gritando e começando a chorar.
— Rafa, por favor, não faça isso. Quero terminar de forma respeitosa. Estou tentando ser honesto. É assim que você quer resolver?
— Desde o momento em que você entrou neste carro, tudo acabou. Não me procure mais. Vá atrás desse novo amor ou quem quer que seja. Acabou. — Gritei, minha voz tremendo de raiva e dor.
— Eu te amo, Rafa. Sei que estou fazendo o que é certo. Vou respeitar sua decisão. Fique bem. Se precisar de algo, me ligue.
Lucas recolheu suas coisas e desceu do carro. Fiquei ali, sozinho, com o coração em pedaços, as lágrimas escorrendo sem cessar. Cada soluço parecia rasgar minha alma, e a dor era tão intensa que mal conseguia respirar. Pensava em todas as promessas que fizemos, nos momentos que compartilhamos, e me sentia perdido, sem rumo, sem chão.
Eu o amava profundamente, mais do que jamais imaginei ser possível. Ele era meu, e essa sensação de posse me consumia. Agora, ele estava indo embora para viver com outra pessoa, alguém que ele conheceu recentemente, alguém que não era eu. Essa traição, essa troca, me dilacerava por dentro.
Chorei até não ter mais forças, até minhas lágrimas se transformarem em um vazio profundo. Decidi ir para casa, mas o pensamento de estar sozinha me aterrorizava. Dirigi até a casa do meu pai, cada quilômetro percorrido sendo uma tortura, cada lembrança uma lâmina afiada em meu peito.
Lembrei da primeira vez que nos vimos pessoalmente, do nosso primeiro beijo, dos passeios a cavalo pela fazenda, das brigas e reconciliações. Tudo parecia um filme passando diante dos meus olhos, uma história que agora chegava ao fim. Lucas era o meu grande amor, o primeiro homem que eu realmente amei de verdade. E agora, ele se afastava de mim, levando consigo uma parte de mim mesma.
A dor era indescritível, uma dor que só eu sabia o que estava sentindo. Era como se o mundo tivesse perdido as cores, como se a vida tivesse perdido o sentido. E eu me perguntava: como seguir em frente quando a pessoa que você mais ama decide partir?
Essa dor, essa perda, me transformou. Aprendi que o amor pode ser ao mesmo tempo a maior fonte de felicidade e a maior causa de sofrimento. E, apesar de tudo, eu sabia que precisava encontrar forças para seguir em frente, para reconstruir minha vida, mesmo que, naquele momento, tudo parecesse impossível.
Ao chegar na casa do meu pai, percebi que todos estavam fora. Não queria que ninguém visse meus olhos vermelhos e o rosto inchado de tanto chorar. Tranquei-me no quarto e afundei o rosto no travesseiro, permitindo que as lágrimas escorressem sem restrições. As palavras de Lucas ecoavam incessantemente em minha mente, como um mantra doloroso que não conseguia silenciar.
Estava sofrendo profundamente. Aquela era a segunda vez que chorava desesperadamente por ele, a segunda maior decepção que eu tinha com Lucas. Queria culpá-lo, transformá-lo em um monstro, mas a verdade era que ele foi sincero comigo. O problema não estava nele; estava em mim. Amá-lo demais, querer tê-lo só para mim, não era saudável. Mas, entre lágrimas e soluços, não conseguia compreender isso. Foi um longo processo de autodescoberta e aceitação que ainda iria demorar bastante.
No dia seguinte, ao acordar e tomar café da manhã com minha família, meu pai e minha irmã notaram minha expressão triste e o rosto inchado. Logo perguntaram o que havia acontecido. Disse que havia terminado com Lucas, mas que estava bem. Meu pai ficou preocupado, pois sabia o que eu havia tentado quando terminamos da outra vez, e disse que iria passar o dia comigo. Tranquilizei-o, dizendo que tinha plantão e passaria o dia estudando na faculdade. Ele ainda insistiu, mas eu precisava seguir em frente e tinha minhas responsabilidades.
Durante os dias que se seguiram, Lucas e eu não tivemos muito contato. Trocamos algumas mensagens, mas aquilo estava sendo doloroso para mim. Queria falar com ele, queria estar com ele. De repente, meu mundo colorido se tornou preto e branco. Meu sorriso desapareceu, meu coração deixou de acelerar por certas coisas. A verdade é que estava vivendo um dia após o outro, mas sabia que precisava dar a volta por cima de alguma forma.
Na manhã de domingo, Lucas me enviou uma mensagem perguntando se poderia levar o Bruninho, nosso filho, ao cinema. Ele estava com saudades dele e queria passar um tempo juntos.
Concordei prontamente. Afinal, o Bruninho havia passado a semana perguntando pelo "tio Lucas", e essa seria uma oportunidade para ambos se reencontrarem. No fundo, eu nutria a esperança de que esse momento pudesse abrir espaço para uma conversa sincera, uma chance de resolvermos as pendências que ainda pairavam entre nós.
Fazia uma semana desde o nosso término, e ao vê-lo novamente, meu coração acelerou. Quando Lucas chegou por volta das 16h, o Bruninho correu para abraçá-lo, e nós nos cumprimentamos de longe, com um olhar que dizia mais do que palavras poderiam expressar.
Então, meu filho perguntou:
– Papai, você vai com a gente também?
– Não, filhote. Você vai sair só com o seu tio. Nada de dar trabalho. O papai tem que estudar um pouco.
– Mas por quê?
– Porque sim, filho. Papai não vai. Mas na semana que vem, te levo ao cinema também, pode ser?
– Mas por quê?
Meu filhote estava naquela fase em que tudo é motivo para um "por quê", e era uma luta até ele entender. Depois de muita conversa, eles partiram.
Lucas estava diferente. Sua energia parecia mais leve, como se estivesse seguindo em frente, enquanto eu permanecia ali, parado, deixando para trás alguém que não deveria estar sofrendo por mim. Foi nesse momento que comecei a perceber uma luz no fim do túnel. Eu não deveria deixar minhas emoções tomarem conta de mim; eu é que deveria tomar conta delas. Precisava retomar as rédeas da minha vida. Essa autodescoberta foi sendo construída aos poucos, não foi do dia para a noite. Mas ali nasceu a esperança de que um novo Rafael poderia surgir, mesmo no caos que estava minha vida sentimental.