Bernardo [24/25/26] ~ Primeira vez com Rafael

¬_Ah, finalmente, né?_ falou Alice _Estão demorando demais. Vocês são homens, não precisam desse rodeio todo para fazer sexo.

Estávamos conversando sobre os planos de Rafael para o fim de semana.

_Acho que ele estava me dando espaço. Ele sabe que ainda não estou totalmente à vontade com o assunto._ respondi olhando em volta para conferir que ninguém prestava atenção no que falávamos.

_Sem comentários._ falou revirando os olhos.

_Estou nervoso. Lógico que eu quero, mas sei lá.

_Ai, que bonitinho, o Bernardinho está nervosinho porque vai dar pro carinha que ele ama.

_Alice!

Em vão, ela só ria. Eric passou por nós dois e nos cumprimentou com um aceno de cabeça, que respondi do mesmo jeito. Nada escapa aos olhos de Alice.

_O que foi isso?

_Isso o que?

_Você e o Eric.

_Nada, uai. Cumprimentei ele como cumprimentaria um colega de sala qualquer.

_Mas ele não é um colega de sala qualquer, você até pouco tempo odiava ele e não queria vê-lo nem pintado de ouro. Você mente muito mal, sabia?

_É que...

Comecei a engasgar com a resposta e ele sacou tudo.

_Bernardo, Bernardo... Aquele dia que você estava pensando em ir visitá-lo, você realmente foi?

Nem precisei responder, ela viu a resposta nos meus olhos.

_Bernardo! Por que você não me contou?

_Porque eu estava com vergonha. Não queria admitir pra ninguém além de mim mesmo que estava traindo Rafael assim.

_Vocês...

_Não! Não, de jeito nenhum. Trair no sentido de trair sua confiança, afinal ele não gostaria nada de saber disso.

_Quer dizer que ele não sabe?_ falou com o ar de mãe dando bronca.

_Não... Ainda não tive coragem de contar.

_Você sabe que está cavando a própria cova, né?

_Sei, mas é mais forte que eu.

_O que eu faço com você, Bernardo?

_Tenha muita paciência.

Eu ainda não tinha contado nada para Rafael. Eu continuava adiando sempre para o dia seguinte, que nunca chegava.

_E o Pedro, nada?_ perguntei já sabendo da resposta.

_Não, nada agora, e nada nunca mais.

_Você é muito cabeça dura, sabia?

_Não, você que é cabeça dura de ficar insistindo num assunto que eu já dei por acabado.

_Não está acabado para ele.

_Tenho que concordar com Rafael: você é muito burro de ainda defender o Pedro.

_Não preciso escutar isso de novo.

_Então não comece esse assunto.

O assunto Pedro e Alice estava em stand by, por mais que eu quisesse ajudar Pedro com isso, Alice estava irredutível, e não adiantaria forçá-la a nada. Ele teria que dar tempo ao tempo.

O grande dia havia chegado e eu estava uma pilha de nervos. De tão nervoso, acho que inconscientemente me afastei um pouco de Rafael e fui passar o intervalo com Alice. Ele pareceu não ter percebido.

Você tem que relaxar, Bernardo. Se você estiver todo tenso assim na hora vai estragando tudo.

_Sei lá, acho que eu gostaria que tivesse rolado naturalmente, sem marcar nada, de surpresa.

_Que bobagem! Não tem problema nenhum em marcar hora pra transar, deixa esse romantismo bobo de lado.

_É, eu sei...

_E quais os planos dele exatamente?

_A gente vai jantar em algum lugar, ele não falou aonde, disse que era surpresa. Depois a gente vai pra casa dele, os pais dele já vão ter viajado, e eu vou dormir lá.

_Humm... E seus pais?

_Falei que vou pra uma festa e dormir na casa de um amigo depois.

_Eles não sabem que você vai fazer a festa dormindo com um amigo?_ perguntou rindo.

_Muito engraçada a senhora.

_Obrigado!

[...]

Quando a noite chegou, eu mal me aguentava quieto. Andava de um lado para o outro do quarto. Milhões de coisas poderiam dar errado. Os pais dele poderiam voltar, a gente poderia brochar, ele poderia perder o interesse em mim e se arrepender de tudo. Eu estava inseguro, e era meu direito estar. Eu me entregaria ao cara que eu amo, uma coisa muito romântica na teoria, mas precedida por muito nervosismo na prática.

Eram nove da noite quando ele deu um toque no meu celular me avisando que me esperava na porta do meu prédio.

_Juízo, hein?_ recomendou minha mãe quando passei pela porta, mas não tive nem cara para responder.

Ao entrar no carro, meus pulmões foram tomados pelo cheiro do seu perfume e meus olhos foram se acostumando com a escuridão até o sorriso de Rafael começar a aparecer para mim. Ali todo o nervosismo já tinha desaparecido. Não tinha como alguma coisa dar errado. Era eu, era Rafael, tudo seria mágico, e eu tinha tanta certeza disso quanto do ar que eu respirava. Juro, minha vontade de beijá-lo ali mesmo, na porta da minha casa, quase foi maior do que meus medos.

_Oi._ falei sem conseguir conter meu sorriso.

_Oi. Você está lindo!

_Você também não está de se jogar fora.

_Vamos?_ perguntou já dando partida no carro.

_Claro. Aliás, vamos para onde?

_Eu fiz uma surpresa para você...

_Eu não me dou muito bem com surpresas...

_Dessa você vai gostar muito.

_Vê lá, hein.

Em poucos minutos chegamos em frente a um prédio numa rua claramente residencial. Rafael usou o controle para abrir a garagem e entrar com o carro. Tínhamos ido direto para a casa dele.

_Uai, não íamos jantar?

_E vamos.

Olhei para ele com cara de dúvida.

_Eu queria ficar à vontade com você, pegar na sua mão enquanto jantamos, essas coisas, mas você nunca me deixaria fazer isso em público. Então eu resolvi fazer eu mesmo o seu jantar.

_Você?_ perguntei meio surpreso, meio divertido.

_Sim, eu! Sou um ótimo cozinheiro.

_Isso que eu quero ver.

Chegamos ao quinto andar do prédio e ele abriu a porta me dando passagem. Não era um apartamento chique, mas se via que a família dele tinha boas condições financeiras, era tudo muito bem decorado. Mas o que se destacava era a mesa: estava cuidadosamente posta para duas pessoas, tudo pensado nos mínimos detalhes. Foi impossível não corar e me sentir lisonjeado pela sua atitude. Ele realmente não media esforços para me impressionar.

_Eu sei que está meio cafona, mas é meu jeito de ser romântico._ falou meio tímido me levando à mesa.

_Está lindo, Rafa. Fico pensando no que eu vou ter que fazer para te recompensar.

_Ah, você vai dar um jeito.

Ri e fingi que não notei seu tom malicioso. Eu estava decidido a relaxar e aproveitar aquele momento. Eu merecia. Ali só havia nós dois, nada de recriminações ou medos. Apenas nós dois.

O jantar estava delicioso, ele tinha feito um tipo de carne assada com um molho especial. Disse que tinha feito vários testes até conseguir acertar. Quando terminamos, ele me levou até o sofá, foi à cozinha e trouxe duas grandes tigelas com sorvete. Comíamos a nossa sobremesa em silêncio, mas olhando intensamente nos olhos um do outro. O próprio jeito como levávamos a colher à boca era muito malicioso. Não éramos assim naturalmente, claro, era o vinho do jantar que já tinha subido e feito efeito.

_Então..._ ele começou colocando a taça de sorvete de lado.

_Então..._ fiz o mesmo _Você ainda não me apresentou a sua casa...

_Não seja por isso.

Ele levantou me pegou pela mão e me puxou para dentro do apartamento.

_Esse é o banheiro social, esse é o quarto da minha irmã, esse...

_Você tem irmã?

_Tenho, nunca te contei?

_Não, Rafa. Não tem risco dela aparecer?

_Ter tem, mas acho muito difícil porque ela tá estudando nos Estados Unidos.

_Ah, bom, porque eu fiquei preocu...

_Então, aquela porta lá na ponta é a suíte dos meus pais._ ele falou apressado, mas se acalmou quando chegou na última porta restante _E esse... É o meu quarto.

Ele abriu a porta e eu vi o universo de Rafael pela primeira vez. O seu quarto era uma extensão dele mesmo. Apesar das cores sóbrias, era muito iluminado pelas luzes da cidade e cercado de prateleiras com brinquedos antigos de sua infância. Combinava muito com a personalidade solar e brincalhona do dono.

_É a sua cara!_ falei admirando.

_Você acha?

_Sim, não poderia ter um lugar melhor pra gente...

Me refreei no final da frase envergonhado. O álcool tinha o efeito de retardar o freio da minha língua. Devia ter ficado muito vermelho, pois Rafael começou a rir.

_Pra gente o que?_ falou trancando a porta atrás dele.

_É... É...

_Isso?

Ele me agarrou pela cintura e colou meu corpo ao seu. Nossos rostos ficaram a milímetros de distância. O seu hálito quente aquecia meus lábios. Simplesmente fechei meus olhos e abri um sorriso, apreciando aquele momento. Ele então tomou a iniciativa de, ainda segurando minha cintura, me beijar. Não era um beijo qualquer. Não era um beijo dentro do carro temeroso que alguém nos visse. Não era um selinho rápido e rotineiro. Não era um beijo calmo. Era um beijo furioso, inflamado, passional. Sim, era um beijo com amor, mas não era um beijo romântico, era beijo de desejo. Nós dois sabíamos o que aconteceria ali, e era tudo o que desejávamos. Nós roçávamos nossos paus duros um contra outra ainda sob a proteção das nossas roupas. Minhas mãos exploravam descontroladamente sua nuca e suas costas sob a camisa. Não me contive e a puxei com pressa, louco de desejo. Seu corpo era bem definido, mas macio. Não era como se ele se matasse na academia para ter um corpo trincado, parecia que ele tinha nascido daquele jeito, pronto. E para completar, seus pelos ralos desciam do peito por fina linha até se perderem dentro da sua calça. Eu olhava parado sem saber nem por onde começar a me divertir.

_Gosta do que vê?

_Uhum...

_Tem muito mais pra se ver.

_O que por exemplo?

Ele riu, me empurrou pela cintura até a cama onde caí de costas, ainda que apoiado sobre meus cotovelos. Sem tirar seus olhos dos meus, ele começou lentamente a tirar seus sapatos, meias e calça. Foi impossível não me lembrar de uma cena muito semelhante com Eric, mas tratei logo de sufocar. Ele era a última pessoa em quem eu queria pensar no momento.

_Então? Gosta do que vê?

O corpo do Rafael era lindo. Se Eric (era impossível não fazer comparações já que ele era o único outro cara com quem eu já havia chegado àquele ponto) tinha um corpo liso, branco, duro, talhado na academia, como uma estátua renascentista, Rafael tinha um corpo desenhado para o pecado. Sua pele era levemente morena e coberta por uma fina camada de pelos nas pernas, nos braços e no peito. Apesar de não ser trincado, suas formas eram muito bem definidas, naturais, com coxas grossas e hipnotizantes. E dentro da sua cueca branca, seu pau já se insinuava de um tamanho considerável. Minha boca se encheu de água, como uma verdadeira puta.

_Mas eu ainda não vi tudo._ respondi _Preciso ver tudo para emitir uma opinião.

_Sem chance, senhor Bernardo. Só vai ver o que quer quando me mostrar o que eu quero ver.

_O que você quer ver?

_Tudo!_ falou safado.

_Me ajuda a me livrar desse monte de pano, então._ respondi ainda mais safado.

Ele sorriu e começou lentamente a desamarrar meus sapatos, os tirando. Logo depois foram as meias, e ele completou o movimento apertando forte meus pés. Ele se ajoelhou na cama entre as minhas pernas e se concentrou em puxar meu cinto. Logo depois foi a vez de me despedir da minha camisa. E por último foi minha calça, que ele tirou com ferocidade, quase num movimento único.

Estávamos empatados, ambos de cueca admirando o corpo um do outro sem deixar se perder um sorriso no rosto. Foi dele a iniciativa dos próximos movimentos. Ele começou a subir com a boca lentamente pelo meu corpo. Primeiro mordiscando meus pés e minhas panturrilhas. Depois apertando com desejo minhas coxas enquanto as beijava. Não desgrudou sua língua da minha pele enquanto caminhava com ele sobre minha barriga e meu peito. Eu estava todo arrepiado e gemia baixinho com os olhos fechados. A sensação de sua língua quente em contato com minha pele me enlouquecia. Logo já estávamos novamente perdidos num beijo interminável. Nossas mãos exploravam livremente o corpo um do outro. Eu descobri que as coxas era minha parte favorita do corpo de Rafael, então as apertava com força. Minhas mãos então escorregaram pela sua cueca e, sem um pingo de timidez, apertei com vontade seu pau, que se seguiu por um gemido de Rafa. Sem me fazer de rogado, troquei de posição com ele e arranquei sua cueca com fúria. Seu pau era grande e grosso, perfeitamente desenhado com suas veias aparentes e a cabeça rosa exposta. Era suculento. Eu não conseguiria me fazer de tímido, de sem jeito, era magnético. Abocanhei num só movimento seu membro quase me engasgando. Ele urrou de prazer e o sentir pulsar dentro da minha boca. Ainda que não tivesse um gosto ou textura especial, a fantasia do momento, de colocar a boca numa parte tão íntima dele, me dava muito prazer. Seus gemidos altos só contribuíam.

_Ahh! Vai, não para, chupa tudo!

Obedeci sem facilitar. Eu caminhava com a língua por toda a extensão do corpo do seu pau e depois enfiava o que conseguia na boca. De vez em quanto descia pro seu saco, o que ele respondia com mais gemidos abafados. Durante todo o ato eu massageava toda a extensão das suas coxas, apreciando sua maciez, seu calor, a textura da sua pelagem. Sem muito planejamento, apenas me deixando levar pelos meus desejos, fui descendo a língua cada vez. Ele não se fez de rogado e se virou de bruços na cama expondo a sua linda bundinha. Ela era bem gordinha, avantajada, com uns poucos pelos na parte interna. Não sou cego, mesmo com roupa eu já havia percebido que Rafael era dono de um belo traseiro e ele sempre foi meu objeto de desejo. Eu intercalava beijos e lambidas com apertões. Rafa sufocava seus gemidos no travesseiro, mas sem dúvidas estava gostando. Me surpreendi quando ele se virou e me ofereceu uma camisinha.

_Tem certeza?_ perguntei.

_Sim, quero que você seja o meu primeiro.

Fiquei surpreso com aquela informação.

_Você nunca...?

_Já fiquei com outros caras, você sabe, mas nunca fui passivo.

_Tem certeza que você quer isso, a gente pode ir devagar.

_Tenho certeza absoluta._ falou sorrindo e me olhando nos olhos _Só seja carinhoso comigo.

Não me fiz de santo. Vesti a camisinha no meu pau, levantei suas pernas e comecei a penetrá-lo muito devagar. Era uma sensação tão indescritível aquilo, ir penetrando aquele lindo cara que eu amava. Seu corpo apertava o meu pau, me dando mais tesão ainda. Tive que me segurar para não fazer movimentos muito bruscos. Os olhos de Rafael estavam cerrados com muita força, ele estava sentindo dor. Fiquei parado até que ele se acostumasse. À medida que vi suas expressões se suavizando, fui aumentando a intensidade dos movimentos. Não demorou muito para que eu estivesse bombando com força dentro dele. Um desejo incontrolável tomou conta de mim. E ele gemia, gemia alto, arranhava meu peito e minhas pernas. Ali, mais do que nunca, eu tive certeza que ele era meu e eu era dele.

Vi o seu pau balançando duro como pedra na minha frente e, ainda guiado unicamente pelo desejo, peguei uma camisinha embaixo do travesseiro onde o vi pegar a primeira, a vesti no seu pau e sentei sentindo cada centímetro me rasgar por dentro. Doeu? Sim, muito, até porque seu membro era maior do que o de Eric e já fazia algum tempo desde a última vez, mas não me importava. Naquele momento, até a dor que eu sentia era prazerosa. Ele demorou um pouco a situar com a nossa troca de posições, mas logo já estava com a mão na minha cintura me guiando e forçando seu pau para dentro de mim, como que querendo afundá-lo cada vez mais, o que eu sempre respondia com gemidos. Depois de pouco tempo naquela brincadeira, seu urro alto e o pulso que seu pau dentro de mim, indicou que ele estava gozando. Foi o bastante para me fazer gozar também, sem mesmo tocar no meu pau, espirrando nas nossas barrigas e nos nossos peitos.

Foi tão intenso, tão inacreditável. Aquela brincadeira toda não devia ter durado mais do que quinze ou vinte minutos, mas me pareceu horas diante do prazer proporcionado. Estávamos exaustos. Caí sobre o seu corpo e com meu rosto ao lado do seu. Estava tão cansado que não conseguia falar nada, só nossas respirações ofegantes quebravam o silêncio do quarto. Ele me abraçou com tanto carinho, que senti como se minha alma estivesse sendo beijada. A última coisa que ouvi antes dos meus olhos fecharem foi:

_Eu te amo, Bernardo.

Era a primeira vez que ele me falava isso.

_Eu também te amo, Rafael._ respondi já sonolento, sem mesmo pensar muito sobre o poder daquela declaração.

Era a primeira vez na vida que eu dizia isso a alguém.

Eu estava em um outro plano. Era essa a minha sensação. Eu não fazia mais parte desse mundo, eu não estava ligado à Terra ou à realidade. Eu fazia parte agora de uma realidade inventada...

Acordei sonolento e grogue com a luz já invadindo a persiana do quarto. Demorei um pouco para me situar, e sorri satisfeito ao me lembrar de estar do quarto de Rafael. Como era diferente da primeira vez que transei com Eric. Se naquela vez eu me senti sujo e fugi, agora eu me sentia tão leve quanto podia ser e tinha vontade de eternizar aquela sensação.

Senti a ausência de Rafael e por um segundo me alarmei com medo de tudo aquilo ter sido fruto da minha imaginação, mas me tranquilizei quando ouvi sons vindos de algum lugar do apartamento. Não fui procurá-lo de imediato, aproveitei para me espreguiçar e me enrolar naqueles lençóis. O cheiro de Rafael invadia meus pulmões como uma droga terrível e poderosa, tendo a euforia como efeito. Eu me lembrava de termos acordado em algum ponto da madrugada para tomarmos banho, onde voltamos a transar. Depois voltamos para o quarto, trocamos a roupa de cama, deitamos e ficamos nos beijando até pegarmos no sono novamente. E aquilo parecia cada vez mais surreal para mim. Para me lembrar de aquilo era real, identifiquei aquele som baixinho que invadia o quarto como o cantarolar de Rafael. Não me aguentei. Vesti uma cueca, entrei no banheiro e lavei minha boca, já que não tinha trazido escova de dente, e, com muito cuidado para não fazer barulho, fui andando pé ante pé até a cozinha, onde Rafa se encontrava. Ele não me viu de imediato, então me encostei na parede e fiquei o observando. Ele estava sem camisa atrás de uma bancada mexendo numa panela no fogão. Cantarolava alguma melodia alegre. Eu estava muito apaixonado por ele. Foi impossível não sorrir e entregar minha posição. Ele me olhou e sorriu também.

_Ah, não vale! Era para eu levar na cama.

_Nada, deixa a cama para outras coisas._ respondi.

Aos poucos eu ia pegando intimidade com ele, e já começava a fazer esse tipo de brincadeira. Fui chegando mais perto para beijá-lo, mas levei um susto ao me aproximar.

_Rafael! Você está pelado!

Ele não tinha se dado ao trabalho nem de colocar uma cueca, cozinhava pelado na cozinha.

_O que que tem? Ninguém vai me ver além de você. E você gosta do que vê, não?_ riu malicioso.

Ele ainda chacoalhou a cintura, fazendo seu pau, ainda mole, se balançar de um lado para o outro. Não podia negar que era uma visão muito excitante. Além de achar o corpo de Rafael lindo, eu sempre tive um fetiche por caras em estado natural, ou seja, nus fazendo coisas banais, sem estar necessariamente excitados. Se eu não tivesse certeza absoluta que nunca tive intimidade o bastante com ninguém para revelar isso, desconfiaria de uma armação de Rafa.

_Gosto muito!_ respondi me aproximando e lhe dando um beijo.

Era pra ser só um pequeno agrado, mas ele já me agarrou pela cintura e me prendeu contra a geladeira enquanto me beijava ferozmente. Foram precisos alguns minutos para que ele me soltasse.

_Você é louco!_ falei _E se alguém entrasse aqui?

A cozinha do apartamento era conjugada à sala, de modo que se alguém entrasse no apartamento, não teríamos aonde nos esconder.

_Não se preocupe._ respondeu calmamente, mas sem me soltar _Meus pais não voltam até amanhã à noite, a empregada não vai aparecer antes de segunda-feira e, por via das dúvidas, deixei minha chave na porta, assim ninguém conseguiria abri-la por fora.

_Você é um gênio do mal, Rafael...

_Tudo para te manter aqui como meu prisioneiro.

_Seria lindo, mas uma hora eu terei que voltar para casa, sabe?

_Sim, mas não hoje. Você é só meu esse fim de semana.

_Não posso dormir aqui de novo, Rafa.

_Por que não?

_Porque eu tenho pais que ficam muito em cima?

_É só você ligar para eles._ falou me oferecendo um telefone sem fio que ele puxou de trás de si.

Eu teria muitos bons argumentos para rebater sua proposta, mas eu não queria. Eu queria ficar com ele. Queria prolongar ao máximo aquela fuga da realidade. Demorei um pouco a convencer minha mãe, mas por fim consegui.

_Pronto, agora eu sou oficialmente seu prisioneiro até amanhã.

_Meus maiores sonhos se realizando.

_E o que você anda aprontando aqui na cozinha, senhor?

Ele foi até a geladeira e tirou um bolo de chocolate de tamanho médio.

_Você se lembra de quando eu falei que era meu favorito?_ perguntei.

_Eu presto muito atenção em tudo o que você me fala. Fiz questão de aprender a fazer um bolo muito decente para você.

_Você que fez?!

_Sim! E ainda não acabou.

Ele voltou à panela que estava no fogão e derramou seu conteúdo sobre o bolo, se revelando uma calda de chocolate ainda fervente.

_Desse jeito vou querer permanecer em cativeiro para sempre.

_É a ideia!

[...]

Depois de almoçarmos bolo de chocolate, deitamos na sua cama e ficamos em silêncio acariciando um ao outro. Era um silêncio diferente. Não era um daqueles silêncios estranhos quando não se tem nada para ser dito. Era um silêncio reconfortante onde nada precisava ser dito. Nos bastava ouvir a respiração do outro.

Foi ali, naquele momento preciso enquanto Rafael tocava meus cabelos e eu sentia o calor do seu corpo no meu, enquanto os barulhos da cidade ecoavam de algum lugar lá fora, que eu percebi que eu amava aquele garoto. Eu sei que eu já havia dito aquilo a ele na noite anterior, e não havia mentido, mas a percepção daquilo era outra coisa. Eu realmente sentia um amor imenso por aquele cara e já não sabia mais viver sem ele. Eu não tinha ideia de como podíamos ter um futuro, se escondidos ou escancarados, isolados do mundo ou como um casal suburbano, com um casal de filhos ou de goldens retrievers, apenas sabia que um futuro sem Rafael já não era mais uma opção. Aquilo mudava tudo.

_Por que você está chorando, Bernardo?_ ele perguntou assustado me segurando pela cabeça.

Eu não sei em que ponto dos meus devaneios eu começara a chora, mas agora eu percebia que lágrimas rolavam silenciosamente pelo meu rosto.

_Eu te amo.

Foi tudo o que eu conseguia dizer e puxei sua cabeça para um beijo calmo. Ele ainda me olhava confuso.

_Eu te amo e isso é muito assustador para mim.

Ele foi começar a falar, mas eu o impedi.

_Eu não costumo me abrir com ninguém com frequência. Então, agora que peguei o embalo, deixa eu terminar.

Ele consentiu. Eu me sentei na cama de frente para ele, respirei fundo e comecei:

_Eu nunca amei ninguém na vida, Rafael. Nem um coleguinha de escola, nem uma menina bonita, muito menos Eric. Eu amo meus pais e meus irmãos, mas é um amor diferente, é um amor que sempre esteve lá, deste o momento que me entendo por gente, um amor com o qual me acostumei durante os anos. Do mesmo modo, amo meus amigos, mas é um amor também diferente, fraterno, distante. Com você é diferente. Com você esse amor foi construído dia após dia. Um dia eu acordei sentindo uma força descomunal dentro de mim, uma vontade de posse, uma saudade, um carinho sem tamanho por você, e isso era amor.

Ele me escutava muito atentamente com um sutil sorriso nos lábios.

_E isso me assusta muito! É uma coisa grande demais, parece maior do que eu. Eu nunca achei que esse tipo de coisa existisse. Eu não sei lidar com isso. Eu não sei como seguir com isso. Eu estou perdido. Tudo o que eu imaginava da vida veio abaixo por sua causa. Você virou meu mundo de cabeça para baixo e me deixou sem direção. Eu te amo, e isso me assusta...

Eu tinha desabafado para ele o que já vinha rondando minha cabeça por dias, mas que eu não conseguia ter colocado em palavras nem mesmo para Alice. Agora, minhas cartas estavam na mesa, eu estava me expondo por inteiro para ele.

Fiquei esperando por sua reação. Rafael suspirou fundo, deitou-se na cama e ficou encarando o teto. Quando fui questioná-lo, ele começou:

_Eu te amo há muito tempo, Bernardo. Eu não sabia muito bem como lidar com isso. Eu já havia me apaixonado por garotas, mas o que eu sinto por você não se compara com aquilo. E isso me assustou também. Eu posso parecer muito forte e decidido para você, mas é um disfarce. Eu sei que o mundo é perigoso, que as pessoas não gostam de nós, que nós podemos ser agredidos por andar de mãos dadas na rua. Imaginar um futuro com outro cara também me desnorteia, por mais que eu já tivesse aceitado minha sexualidade há muito tempo.

Ele me olhou, pegou minha mão e a pousou sobre seu peito.

_Eu não tenho as respostas que você procura, meu amor. Não sei de dizer para onde seguir. Tudo o que eu posso de oferecer é minha companhia nessa jornada de descobertas. Vamos deixar acontecer o que tiver que acontecer. Vamos com calma, um passo após o outro. Eu te amo, e não pretendo de deixar partir.

Não tinha muito o que dizer, apenas me abaixei e o beijei. E ficamos ali, nos beijando calmamente deitados nus um sobre o outro. Podem ter passado minutos ou horas, ou mesmo dias, eu não sei. Não havia nenhum outro lugar em que eu quisesse estar. Rafael era tudo o que eu precisava no momento.

[...]

O resto do fim de semana se passou naquela doce rotina de sexo, carícias e silêncios. Se eu pudesse ficar preso com ele o resto da vida ali, eu ficaria. Ser seu prisioneiro como ele havia sugerido. Mas, infelizmente, uma hora ou outra o encanto tem que acabar.

_Eu não queria que você fosse embora..._ ele falou manhoso.

_Eu também não queria interromper isso, mas temos que voltar ao mundo real.

_Prefiro essa nossa realidade inventada.

Ri do seu jeito de falar. Estávamos no seu quarto e eu acabava de colocar minha última peça de roupa. Ele me abraçava por trás, ainda nu, e me dava beijinhos na nuca e nos ombros.

_Pode ser assim pra sempre, Bernardo. É só a gente querer.

Me peguei aflito com seu comentário. Eu queria Rafael para sempre comigo, sim. Mas não conseguia me ver envelhecendo com ele como um casal. Eu ainda tinha preconceitos e barreiras muito fortes dentro de mim que iam de encontra àquilo.

_Rafael...

Ele me virou de frente e me interrompeu antes que eu pudesse falar alguma coisa.

_Eu sei dos seus medos, eu vejo nos seus olhos as suas dúvidas. Mas você precisa admitir para você mesmo uma coisa: você me ama, e você não quer viver sem mim. Você mesmo disso isso, mas tem relutância em acreditar. Me dê uma chance de te mostrar que podemos enfrentar o mundo juntos._ ele fez uma pausa e pegou nas minhas mãos _Bernardo, você aceita ser meu namorado?

Palavras com o poder de me tirar o fôlego. Namorado... Eu não estava preparado para aquilo. Sim, eu amava Rafael, mas eu não queria oficializar isso, gritar aos sete ventos. Não havia necessidade disso.

_Eu não sei quando vou conseguir ser seu namorado, Rafael, não sei nem mesmo se um dia vou conseguir. Não vou poder de dar as mãos em público, muito menos te beijar. Não vou poder te apresentar à minha família oficialmente. Não vou poder usar uma aliança, pois as pessoas perguntariam. Então, para que tornar isso oficial?

_Pra eu ter certeza que você é meu._ respondeu sério.

_Eu sou seu. Sou só seu há muito tempo.

_Firmar namoro é isso. Garantir que o outro será só seu e de mais ninguém. Não tem nada a ver com exibir a relação ao resto do mundo._ ele recomeçou com a voz novamente doce _Então, Bernardo, vou perguntar de novo e dessa vez dê a resposta certa. Você aceita ser meu namorado?

Eu não tinha vontade de namorar. Não queria oficializar nada, pois não me representaria nada novo. Seria apenas mais um peso para carregar. Mas eu não conseguiria magoar Rafael e negar seu pedido. Como naquele seu plano para se vingar de Eric, eu faria qualquer coisa para fazê-lo feliz, pois esse era nosso ciclo. Eu vivia para fazer Rafael feliz.

_Sim, eu aceito ser seu namorado, Rafael._ respondi com um sorriso.

Ele sorriu de volta e começou a beijar todo o meu rosto. Ri do seu jeito infantil de demonstrar felicidade.

_Eu prometo que vou te fazer muito feliz!

Minha felicidade não estava nas mãos dele, mas sim nas minhas próprias, e eu tinha consciência disso. Eu precisaria travar uma longa luta contra mim mesmo para conseguir ser feliz naquele novo cenário tão incerto.

Eu queria ser feliz, mas eu tinha forças para isso?

Eu estava namorando Rafael. Eu tinha um namorado. Eu namorava um outro cara. Quando acordei na segunda-feira de manhã, tudo ainda parecia surreal. Estar num relacionamento sério com um homem ia contra tudo aquilo que eu havia planejado para a minha vida.

“Então por que aceitou o pedido de namoro?” vocês podem se perguntar. Para agradar Rafael, como já havia virado hábito. Eu não tinha me acostumado com meu novo status e não fazia a mínima ideia de como iria lidar com a questão, mas de certo modo eu estava tranquilo. Vocês podem me imaginar pirando com a questão, chorando desconsoladamente abraçado aos meus joelhos num canto escuro do quarto. Mas não. Sim, ainda não estava totalmente à vontade e a coisa toda me preocupava, mas eu estava melhor do que seria de se imaginar. No fundo eu estava feliz com o pedido de namoro, por mais que eu não quisesse admitir para mim mesmo.

“Eu era só do Rafael e ele era só meu”. Sorri sozinho pensando assim. Contanto que ele cumprisse a promessa de não nos expor, daria certo.

Bem animado, fui para a cozinha praticamente saltitando para tomar café da manhã. Infelizmente para mim, estou cercado de pessoas observadoras.

_Que alegria toda é essa?_ perguntou meu pai.

_Que alegria?_ respondi já me contendo.

_Você entrou na cozinha flutuando e cantarolando.

_Eu? Impressão sua.

_O fim de semana deve ter sido bom, hein?_ completou meu irmão mais velho.

Eu devo ter ficado muito vermelho porque começaram a rir sem parar, chamando a atenção do resto da casa, que em segundos apareceu na cozinha para saber o que estava acontecendo. O inferno estava instalado.

_O que foi?_ perguntou minha irmã.

_O Bernardo andou aprontando no fim de semana.

_Como assim?

_Seu irmãozão tá com a vida sexual em dia.

_Para com isso!_ gritei já não me aguentando quando meus irmãos caçulas começaram a rir também.

_Agora vai ter que contar!_ falou minha irmã.

_Não tenho nada pra contar pra nenhum de vocês!

_O que está acontecendo aqui?_ falou minha mãe chegando na cozinha.

Minha família nunca se reunia pra fazer uma refeição juntos, mas para tirar sarro de mim era uma união de dar gosto.

_O Bernardo se deu bem no fim de semana!_ falou meu irmão.

_Para com de falar isso Tiago! Não aconteceu nada!

_Como assim? Você não ia pra festa de um colega e acabou dormindo lá?_ perguntou minha mãe toda inocente.

Todos começaram a rir da inocência da minha mãe e do meu rosto já estava roxo de tanta vergonha.

_Você andou mentindo pra gente, Bernardo?_ perguntou ela num tom sério.

Sim, eu estava mentindo pra eles. Aliás, eu estive mentindo para eles durante minha vida toda. Eu não era quem eles pensavam que eu fosse. Eles moravam na mesma casa que eu há dezoito anos e não sabiam quem eu era. Isso era triste. Triste e desesperador.

_Não é assim, mãe...

_Teresa, o Bernardo não é mais uma criança._ falou intervindo meu pai, já percebendo que o tom de brincadeira tinha sumido _É normal que ele tenha uma vida sexual. Mas sim, meu filho, está na cara que você andou mentindo sobre seu fim de semana.

O meu pai era um homem sério. Ele era de dar medo em qualquer um, apesar de não amedrontar a mim e meus irmãos. Olavo era um advogado corporativo competente e com fama de agressivo. Ele era grande, alto, forte, com uma barba escura sempre alinhada. Ele tinha uma farta cabeleira em diferentes tons de preto e cinza. Sua aparência era completada com sobrancelhas grandes e um olhar intimidador. Ele nunca levantou a voz ou a mão para mim ou para os meus irmãos. Apenas o olhar dele era o bastante para nos fazer tremer, embora eu sempre o tenha considerado um pai carinhoso na medida que a sua personalidade permitia. As únicas pessoas que eu já tinha visto enfrentar o meu pai eram o meu falecido avô, seu pai, e minha mãe. Por isso, não havia como enfrentá-lo ali, ainda mais com aquela plateia tão atenta.

_Não é assim, pai...

Obviamente, eu não podia lhe contar toda a verdade. Mas também não adiantava continuar mentindo pra eles. Me decidi pela estratégia de meias verdades:

_Sim, eu fui numa festa de um amigo, me diverti muito,_ devo ter ficado azul quando disse isso, mas continuei _dormi na casa dele e no outro dia me ofereci para ficar e ajudar a arrumar tudo. Aí acabamos chamando mais uns amigos para acabar de beber a bebida que tinha sobrado, e achei melhor dormir por lá de novo.

A segunda parte era uma mentira deslavada, e a primeira era um pouco fantasiosa, para dizer o mínimo. Como eu disse, meu pai era um bom advogado, e como tal podia sentir cheiro de mentira a milhas de distância. Eu vi nos seus olhos que ele não acreditou numa vírgula do que eu disse. Eu me segurava para não tremer ou chorar.

_Bom, está mais claro agora, não é, Teresa?_ perguntou desviando os olhos de mim para a minha mãe.

_Eu ainda não gosto disso.

_Ele não seria sua criança para sempre.

Tive que me controlar para não soltar o ar depressa num sinal de extremo alívio. Era óbvio que eu não tinha enganado meu pai, mas ele estava cobrindo minha mentira. No mínimo achava que o machão do filho dele estava pegando putas por aí.

_Agora, todos circulando. Vocês vão se atrasar._ completou meu pai sem me olhar.

Saí de casa o mais rápido que pude, com medo de cair num interrogatório outra vez.

[...]

Ao sair do meu prédio, me deparei com Rafael de braços cruzados encostado no seu carro. O que sempre tive medo dessa coisa toda de namorar Rafael era a vontade dele de agir como um namorado. Eu não estava preparado para isso. Era o tipo de coisa que me constrangia e me despertava o medo de ser descoberto. Mas eu decidi que não ia brigar com ele sobre aquilo naquele dia. Primeiro porque meu dia já tinha começado com uma certa dose de adrenalina, e segundo, porque eu não tinha coragem de desmanchar o lindo sorriso que ele sustentava para mim.

_Bom dia, moço!

_Bom dia, Rafa. Você não tem jeito, né?

_O que foi? Não posso ser um rapaz gentil que prestou o favor de dar carona para um colega de sala que mora no caminho dele?

_Minha casa não fica no seu caminho. É um desvio de dez minutos.

_Sim, mas só nós dois sabemos disso.

Ri do sorriso safado que ele mantinha enquanto falava isso. Sem mais demora, entrei no seu carro. Assim que entrou no carro, ele se curvou para me beijar, mas eu fui mais rápido e me afastei.

_Sério? Na frente da minha casa, com todos prestes a sair?

Ele riu sem graça, apesar de eu ter tentado falar isso com humor. Ele apertou minha perna e deu partida no carro. Ele fingiu que não tinha ficado magoado com o que fiz, mas eu já o conhecia muito bem, além do fato dele ser um péssimo ator.

_Desculpa, Rafa, eu...

_Eu que me desculpo, prometi ir devagar. É que você estava tão lindo ali que não resisti.

Ri encabulado pelo elogio.

_Eu me sinto péssimo ao ficar podando suas aproximações assim, mas eu...

_Tudo bem, Bernardo, eu te amo. Nós vamos conseguir fazer isso funcionar.

Sorri e apertei sua mão sobre a minha perna.

Mas nem as palavras dele conseguiram me aliviar. Eu estava num relacionamento sério com ele, mas não podia ser aquilo que ele desejava que eu fosse como namorado. Eu não podia andar de mãos dadas por aí, dar-lhe um beijo sempre que o via, ou mesmo deixar que ele me buscasse todo dia em casa. Sem contar que a minha família não poderia desconfiar que eu estava num relacionamento com alguém, como aconteceu hoje. Isso implicaria em apresentá-lo eventualmente, o que estava completamente fora de questão. Rafael dizia que estava tudo bem, mas não estava. Isso feria ele, mesmo que nem ele percebesse.

Talvez aí morasse uma das maiores diferenças entre eu e Rafael. Meu objetivo de vida era ser feliz, mas aquela felicidade pacata e tranquila. Já Rafael gostava da felicidade do caos. Ele queria um grande amor, um daqueles cheios de lágrimas, desencontros, reencontros e discussões turbulentas. Enfim, ele gostava do drama. Ele fantasiava com aquele grande amor das ficções, aquele que marca a vida. O grande problema é que, naquele momento específico da nossa vida, eu não poderia oferecer a Rafael o amor que ele queria, nem ele poderia me dar a felicidade que eu tanto almejava. Era um relacionamento fadado ao fracasso, mas nós não víamos. Ou víamos e ignorávamos. Muita coisa poderia ser evitada se tivéssemos essa consciência na época.

Ironicamente, era isso que faria do meu relacionamento com Rafael um grande amor daqueles com os quais ele sonhava: cheios de lágrimas, desencontros, reencontros e discussões turbulentas.

[...]

_É oficial agora?_ perguntou Alice.

_Sim!_ respondemos juntos.

Alice era a primeira e a única pessoa que sabia do nosso relacionamento, e permaneceria assim se dependesse de mim.

_Até que enfim! Tinha que aparecer alguém pra tirar o Bernardo dessa vida chata!

_Agora só falta encontrar alguém pra tirar essa sua amargura!_ respondi no mesmo tom.

_Sem brigar, crianças._ interferiu Rafael, mesmo sabendo que era tudo brincadeira.

_Uai, é só me arranjar alguém que preste.

_Já arranjei e você dispensou o coitado. Agora que arrume um sozinha.

_Prefiro morrer solteira a me contentar com alguém com o caráter do seu amiguinho.

_Pois é justamente o que vai acontecer.

Era o meu estilo de conversa com Alice. Estávamos brincando? Sim. Mas estávamos cutucando as feridas um do outro? Também. Era aquilo que proporcionava a dinâmica toda especial das nossas conversas. Rafael nem ousava se meter com medo de sair ferido.

_Eu vou deixar vocês se amarem em paz e vou ali lanchar._ ele falou se afastando da gente.

_E como vai ser agora?_ perguntou Alice quando ele saiu do nosso campo de visão.

_Eu não sei. Eu estou muito feliz onde estamos agora, mas Rafael não vai se contentar com isso. Ele vai sempre querer mais de mim.

_E ele está certo. Você é o tipo de pessoa que se não for empurrado pra frente, não anda. E Rafael sabe disso.

_Não precisava ofender.

_Não é ofensa se for verdade. Você se acomoda com as coisas, Bernardo. Você tem sonhos, mas não tem ambição. Sem ambição, fica muito difícil alcançar seus sonhos.

_É fácil de falar, mas eu...

_Tem que enfrentar o mundo, blá, blá, blá._ ela falou me interrompendo _Eu sei, já falei que te entendo. Mas não vale a pena? Quantas pessoas não sonham em encontrar alguém que ame e as ame de volta? Você tem isso! Rafael tem seus defeitos, mas é um garoto de ouro. Bonito, educado, simpático, inteligente, o genro que toda mãe quer, o sonho dourados de muitos meninos e meninas, e você está deixando isso escapar.

_A gente oficializou não faz nem dois dias direito, Alice, não é pra colocar essa pressão toda em mim e nele.

_Estou apenas te expondo os fatos. Rafael vai, sim, sempre querer mais de você, e você não se dispõe a dar o que ele quer. Quanto tempo você acha que vai durar o namoro de vocês assim? Isso cansa, viu? Ele não vai ceder pra sempre com você, uma hora vai jogar tudo pra cima. E aí, meu amigo, ou você se assume pro mundo todo de uma vez ou perde o Rafael.

_Me assumir não é uma possibilidade, mas...

_Então, é uma questão de tempo até ele terminar com você.

Ela estava certa. Alice sempre estava certa quando se tratava em analisar minhas atitudes e meus pensamentos. Eu nenhum momento da conversa eu me senti ofendido pelas suas palavras, justamente por saber que elas eram verdadeiras. Em algum momento eu teria que escolher entre continuar com Rafael ou continuar no armário.

“Mas você não quer tanto ser feliz? Escolha Rafael e que o mundo se dane!” vocês podem pensar, mas nada é tão simples assim.

Um erro crucial que muitas pessoas cometem é associar o amor como sinônimo de felicidade. Muitas pessoas amam e são amadas, mas não são felizes por diversos outros motivos. Muita gente é feliz mesmo solteira, ou viúva, cercada apenas por família e amigos. Não é uma questão fácil. E se eu me assumir? Existia uma possibilidade enorme de eu perder meus amigos e minha família. Se não perdesse no sentido mais literal da palavra, eles passariam a me tratar diferente, eu deixaria de ser o Bernardo que eles conhecem, um cristal se quebraria sem chance de ser remendado. Não acho que me dariam uma surra ou me expulsariam de casa, mas eu seria capaz de conviver com seus olhares de nojo e de julgamento? Tem como ser feliz assim?

Então, não, meus caros, eu não considerei a hipótese de me assumir, nem que fosse para um pequeno número de pessoas com quem eu convivia. Assim, a única dúvida que restava era: quanto tempo eu ainda tinha com Rafael?


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Ficha do conto

Foto Perfil contosdelukas
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Nome do conto:
Bernardo [24/25/26] ~ Primeira vez com Rafael

Codigo do conto:
217843

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
11/08/2024

Quant.de Votos:
3

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