Guilherme não acreditava no que via. Seu colega morto no chão e o assassino olhando em seus olhos. “Não é possível”, pensou Gui. De repente o cara entrou no banheiro e olhou meio assustado para Gui, que estava totalmente paralisado de medo.
— Você tá com ele? – perguntou o rapaz ao tirar o capuz da blusa de frio que vestia. Agora Gui o podia ver com maior clareza, mas isso não o tranquilizou.
— S-s-sim – Gui não conseguia responder.
— Não precisar ficar com medo não. Você tem uma boca muito gostosa e chupa bem pra caralho. Não faz sentido te matar e desperdiçar isso – disse o assassino, e continuou – mas, você tem que me prometer que não vai dizer quem eu sou, ou onde eu moro, tá?
— T-tá.
— Diga apenas que você não conseguiu ver o rosto por causa do capuz.
O rapaz piscou para Guilherme e saiu do banheiro. Guilherme ainda estava em estado de choque. “Não é possível que o Daniel seja um assassino”, pensou. Gui não acreditava que o cara com quem saíra logo que se mudou para Vitória e conhecera em um ponto de ônibus, era um assassino.
Imediatamente Gui sentiu repulsa por ter tocado no cara que matara seu colega. O seu celular tocou e Gui voltou a si, atendendo o telefonema:
— Alô.
— Oi meu leãozinho, onde vocês estão? – disse Ricardo.
— Ric, o Júlio está morto – disse Gui, chorando – alguém o pegou fora do banheiro e atirou nele. Eu fiquei aqui dentro do banheiro, escondido. Me ajuda.
— Como assim morto? Onde você está?
— Dentro do banheiro público, vem logo.
— Calma, eu tô indo aí – disse Ric, desligando o telefone.
— O que aconteceu? – perguntou Rafaela.
— Não sei, o Gui tava chorando e assustado, parece que alguém machucou o Júlio lá no banheiro, eu tô indo pra lá.
— Eu também vou – disse Marcelo.
— Vamos todos – disse Fernando – Garçom, a conta por favor.
Ricardo, Marcelo, Rafaela, Fernando, Gabi e Patrícia foram para o local. Chegando lá, encontraram Guilherme sentado ao lado do corpo de Júlio. Correram para ver e Ricardo abaixou-se olhando perplexo para Júlio que estava todo ensanguentado.
— O que aconteceu? – Ric perguntou para Guilherme que estava chorando.
— Um cara atirou nele.
— Alguém chama uma ambulância – Ric gritou – Atirou como?
— Eu não sei. Eu estava lavando meu rosto lá dentro e ouvi os tiros, então me escondi dentro da cabine do banheiro e vi quando o cara entrou, lavou as mãos e foi embora. Ele estava com blusa de capuz.
Gui achou melhor mentir, afinal Daniel sabia onde ele pegava ônibus todos os dias.
— Já chamaram a ambulância e a polícia – Marcelo disse – Ric, o Júlio está... morto.
Ricardo olhou mais uma vez para o corpo de Júlio e começou a chorar. Guilherme o abraçou e Ric disse:
— Vem, deixa eu tirar você daqui de perto.
Depois do corpo recolhido pela perícia, a polícia começou a tomar depoimentos e disse ao Guilherme:
— Você precisa depor para o delegado.
— Amanhã ele vai – disse Ricardo – agora ele precisa dormir.
Ricardo chamou seu motorista e colocou Guilherme no carro. Eles foram para a casa de Ric. No caminho, Ricardo disse:
— Já avisei o pai de Júlio sobre tudo, ele foi ao IML.
Gui não disse nada.
— Como era o cara e como exatamente tudo aconteceu, Gui? Me diz a verdade, pode confiar em mim.
Guilherme sentiu uma confiança enorme no olhar de Ricardo.
— O Júlio e eu mijamos. Ele terminou de lavar as mãos e saiu do banheiro. Eu fiquei na pia lavando as mãos e o rosto, porque estava me sentindo meio enjoado. Eu ouvi uma gritaria e percebi que o cara estava armado e ia fazer algo contra o Júlio.
— O que o cara disse?
— Ele disse que estava cansado de cobrar o Júlio. O Júlio disse que ia pagá-lo, mas então ele disse que o Júlio ia pagar com a vida e atirou. Eu subi na báscula e vi o cara com uma blusa de capuz. Ele deu três tiros no Júlio e entrou no banheiro.
— Você viu o rosto dele?
Guilherme olhou para Ricardo e começou a chorar.
— Ele mora perto da minha casa.
— O quê?
— Logo que me mudei pra Vitória, eu comecei a pegar ônibus para a faculdade e sempre tinha um carinha no ponto me dando mole. Trocamos telefone e ele me ligou um dia, nós saímos, transamos e nunca mais o vi... até hoje.
— Você tá querendo dizer que não só conhece o assassino, como já transou com ele?
— Eu não sabia que ele era um assassino.
— Eu sei que não. Você não faz o tipo que se interessa em assassinos, mas continua a história.
— Eu nunca mais o vi, mas aquele dia que você socou um cara na boate, aconteceu algo estranho. Quando eu fui ao banheiro da boate, lá estava cheio, então decidi ir na rua mesmo. Eu achei um lugar tranquilo e mijei. Quando estava voltando pra boate eu vi um cara com a mesma blusa de frio ameaçando o Júlio e o Júlio disse que iria pagá-lo. Eu acho que esse cara tá ameaçando o Júlio há uns meses.
— Meu deus!!
— O que foi? – Gui perguntou.
— Eu acho que esse cara é um traficante. Você sabe o nome dele?
— Ele disse que se chamava Daniel.
Ricardo de repente ficou pálido e com uma expressão de descrença.
— O que foi Ric? – Guilherme quis saber.
— Esse cara te viu hoje?
— Claro que viu, ele só entrou no banheiro porque me viu lá dentro olhando todo o crime – respondeu Gui já gritando em desespero.
— E ele não fez nada com você?
— Ele disse que...
— Disse... Não precisa se envergonhar.
— Ele disse que eu chupava bem e que era um desperdício me matar, mas que era pra eu ficar de bico calado.
— E você vai fazer isso – Ric falou.
— O quê?
— Amanhã você vai à polícia e no seu depoimento vai dizer o que você me disse lá no local do crime, que você não viu o rosto do cara que estava com capuz na cabeça e vai esquecer o que viu aquele dia na boate.
— Por quê?
— Porque você precisa continuar vivo. Escuta Gui, esse cara é um traficante barra pesada. Ele parece um playboy, usa roupas de marca e seus clientes são filhinhos de papai como o Júlio e eu. Eu mesmo já comprei maconha com ele, mas o Júlio deve ter comprado outras coisas como LSD e Ecstasy, então o melhor é você não se expor, mas não se preocupe, eu vou mexer meus pauzinhos para vingar a morte do Júlio.
— Ric, não vai se envolver em nenhum crime.
Estacionaram o carro em frente a casa de Ricardo.
— Relaxa, me leãozinho. Amanhã vamos ao velório e enterro do Júlio e depois você vai à delegacia. Eu cuido do filho da puta do Daniel.
Essa história é uma ficção, assim como seus personagens.
Sinistro. BETTO
Rs é sempre bom estar certo, aff pq tem que ter morte... Abração!!! Aguardando ansiosamente!!