Romance e Sedução (1)

Este dia poderia ser um como tantos outros, mas desde que acordara, um mau agouro me perseguia. Não foi apenas queimar o pão que colocara para torrar, ou descobrir que faltava luz e que não tinha lâmina de barbear, tendo que sair com uma terrível barba de 15 dias. Além disso, sem eletricidade, meu despertador não tocara e eu me encontrava totalmente atrasado para uma reunião na agência de publicidade PPP, para quem costumo fazer alguns desenhos.

Não consegui chegar a tempo na reunião e sem poder estar lá para explicar e justificar minha trilha sonora, era certo que seria recusada, o que não constituía propriamente uma novidade, pois já estou habituado com a relativa falta de visão de muitos clientes.

Mas o pior foi que na volta, furei um pneu em plena hora do rush no elevado do Joá. Quer mais? O estepe estava no mesmo estado. Foi o fim. Depois de amaldiçoar por alguns instantes, da companhia de eletricidade ao dono das “Rosquinhas Raquel”, só me restava uma boa caminhada até o posto de gasolina mais próximo, que não era tão próximo assim, em busca de um borracheiro.

Quando estava fechando o carro e terminando minhas preces para que ele não fosse depenado por “amigos do alheio”, um fusquinha vermelho, bem velho, aproximou-se e parou. Dele ouvi uma voz perguntando se precisava de ajuda. Era uma moreninha sorridente que aparentava uns vinte e poucos anos, mas talvez tivesse mais. Ela se ofereceu para me levar com os pneus, até o borracheiro. Que maravilha, realmente era a ajuda que precisava. Pacientemente esperou que pegasse o estepe no porta malas do meu carro e o colocasse no banco de traseiro do seu fusca.

Fomos conversando e ela contou que uma vez passara por um problema desses e que ninguém a ajudara, por isso sabia o sufoco que eu deveria estar passando. O trânsito não estava nada fácil e demoramos um bocado até o borracheiro. Quando chegamos, tirei minha roda e agradeci, pronto para dar-lhe as costas, no bom sentido, quando ela perguntou:

- Como você vai voltar?
- Eu pego um táxi! - não tinha esperanças de conseguir um tão cedo, mas era o jeito.
- É quase impossível pegar um nessa hora! - e mostrando pela primeira vez seu belo sorriso completou - Eu te levo lá de volta!
Achei a ideia ótima, mas tinha que ser educado e dizer que “não precisa”, “pois pode demorar”, “é muito trabalho” e todas as coisas idiotas que se diz nesses casos.
- Não me importo! - disse com a maior simplicidade.
Já havia aceitado. No posto, ofereci algo do bar enquanto esperávamos. Encostada no freezer de bebidas, com uma luz forte no rosto, pude examina-la melhor. Era bonita, do tipo cheio de curvas, com um sorriso sincero. Era do tipo “mignon” e muito gostosa. Contou que trabalhava numa loja de música, vendendo CDs. Não era nada interessante, mas prestei atenção por educação, fazendo aquelas perguntas bestas sobre trabalho enquanto examinava seu decote, suas coxas e sua bundinha. Ela adorava música e o trabalho. Na verdade, achava seu trabalho o máximo. Isso é bom, mas eu prestava mais atenção nas suas pernocas roliças e nos seus peitinhos, do que nesse papo.
O pneu ficou pronto e fizemos o trajeto de volta até o meu carro. Tirei a roda de dentro do fusca e agradeci:
- Muito obrigado! Nem sei como agradecer.
- Não tem de que! - respondeu sorrindo.
Quando ela arrancou com o carro me lembrei de que não pedira seu telefone, mas ela parou logo adiante no acostamento, em frente ao meu carro. Talvez meu dia não estivesse tão ruim assim. Fui até ela:
- Já que você parou se tiver um pouco de paciência te levo para jantar. - arrisquei.
Ela sorriu e fez que sim com a cabeça. Foi a troca de pneu mais rápida que já fiz. Voltei ao carro dela:
- Podemos ir, mas vou ter que passar em casa! - falei mostrando o estado das minhas mãos e calça.
- Sem problema, não tenho horário mesmo.
Agradeci aos céus e falei para me seguir.
(continua)