Podem optar por uma aparência que mistura elementos masculinos e femininos. Isso pode incluir escolhas de vestuário, penteados, maquiagem e acessórios que não são facilmente categorizados como pertencentes a um gênero específico. Sua expressão pode variar amplamente, refletindo a individualidade e a criatividade de cada pessoa. Esta identidade de gênero pode ser complexa e multifacetada. Algumas pessoas podem se identificar como não-binárias, gênero-fluido ou agênero, enquanto outras podem se ver como uma combinação de masculino e feminino. A androginia permite uma maior liberdade para explorar e expressar a identidade de gênero de maneiras que vão além das expectativas tradicionais.
Normalmente enfrentam desafios relacionados à aceitação social e compreensão. A sociedade impõe normas rígidas de gênero, e aqueles que não se conformam a essas normas podem enfrentar discriminação, preconceito e incompreensão. No entanto, a crescente visibilidade e aceitação das identidades de gênero diversas estão ajudando a criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor para pessoas andróginas. Sua representação na mídia, na moda e na cultura popular é crucial para aumentar a visibilidade e a aceitação. Figuras públicas andróginas, como artistas, modelos e ativistas, desempenham um papel importante ao desafiar estereótipos de gênero e promover uma maior compreensão das identidades de gênero diversas.
É uma expressão rica e variada da identidade de gênero que desafia as normas tradicionais e promove uma visão mais inclusiva e fluida do gênero. Ao celebrar a diversidade e a individualidade, a androginia contribui para uma sociedade mais aberta e acolhedora, onde todas as pessoas podem expressar quem realmente são. Nico, um jovem da periferia de São Paulo, Corinthiano raiz, esportista, músico, popular entre seus colegas acredita num mundo diferente de cores muito mais amplas do que simplesmente o azul e o rosa. Suas cores preferidas são outras. Preto, branco, cinza chumbo
Suas referencias, são diversas. David Bowie, Iggy Pop, Lou Reed, Roxy Music e Suede. Mas, sua verdadeira inspiração vem de Hipólita. Ela tem esse nome em homenagem a Filha de Ares, o deus da guerra, e da rainha Otrera, conhecida por possuir um cinturão mágico, cuja obtenção foi o nono dos Doze Trabalhos de Hércules. Lita, como é chamada por ele, é uma mulher diferente, forte, determinada, atleta de alta permanece, briguenta. Uma defensora dos “frascos e dos comprimidos”. Ninguém batia no seu irmão menor ou seu primo querido. Lita não leva desaforo para casa. Então Nico nutria por ela uma paixão platônica, seu desejo é tê-la nos braços. Braços curtos diante da beleza e do poder dessa jovem guerreira.
Sua primeira paixão foi Melina, colega de classe, linda, magra, cheia de sonhos e curvas. Filho único, tinha seu quarto, seu espaço, seu principado. Nele muitas tardes e noites teve sua amada nos braços, na cama. Amava olhar cada detalhe daquele delicado corpo, jovem, cheio de tesão. Foi ela numa manhã qualquer que olhou para ele e viu também delicadeza no seu rosto, numa brincadeira então pediu para maquiá-lo. Minutos depois lá estava ele diante do espelho com lindos olhos traçados a lápis. Olhou, gostou, ficou apavorado com medo da reação de seus pais. Se eles o vissem assim, o terror estaria instalado. Então lavou o rosto limpando todo resquício da maquiagem.
Perdido ou não vagava de balada em balada. Até encontrar uma casa que o acolhesse. Foi no Madame Satã, também conhecido como Madame Underground Club, uma das baladas mais icônicas de São Paulo. Localizado na Rua Conselheiro Ramalho, no bairro da Bela Vista, o clube famoso por seu ambiente underground e sua rica história na cena cultural paulistana. Lá tinha liberdade externar seu lado gótico. Suas roupas escuras, sua maquiagem leve e todos os acessórios necessários para ser reconhecido, aceito, por aqueles irreverentes personagens da noite paulistana.
Todos amavam Nico. Ele não queria amor, queria respeito, admiração. Era o final dos anos noventa, então sua ação precisava ser cirúrgica, caso contrário seria apenas mais um naquela massa vista pela sociedade como desajustada. Disposto a explorar novas possibilidade, num dia solitário, invadiu o quarto da mãe e surrupiou uma saia plissada preta. Vestiu, se olhou no espelho, gostou. Depilou o corpo meticulosamente, não deixou um só rastro da sua juvenil masculinidade. Para completar o look, sequestrou uma meia arrastão, colocou um coturno, uma calcinha preta, uma camisa branca aberta até o umbigo, um blazer preto com detalhes em chumbo e lápis negro nos olhos. Da cintura para cima era Nicolas da cintura para baixo era Nicole.
Sem se importar com a opinião alheia, pegou o ônibus, o metrô, sob olhares indecisos. O que era aquilo, um homem, uma mulher ou ambos. Ele não era nada disso, era simplesmente Nico. Nada poderia defini-lo, nada poderia limitá-lo. Seu principado fora ampliado num piscar de olhos, do quarto de pouco mais de 6 metros quadrados para os quilômetros que levavam ao seu palácio no território livre do Underground Club. Nico, simplesmente Nico.