Do lado de fora do lava rápido vi o homem no chão e Marcelo batendo nele, soco atrás de soco, o homem não tentava reagir, parecia estar desacordado.
Mesmo nas minhas circunstâncias e de longe era possível ver o ódio que Marcelo sentia a cada soco que acertava no rosto do homem.
Uma roda de pessoas se formou a volta da confusão.
Tateei o chão lentamente a procura de meus shorts.
Encontrei-o, estava rasgado mas pelo menos conseguiria me cobrir.
- Marcelo! - falei devagar e baixo, mas percebi que ele me ouviu quando ele parou de socar o homem e veio rapidamente em minha direção.
O ódio no rosto dele tinha passado, e agora eu só via preocupação.
- Você ta bem? - ele perguntou apavorado.
Fiz que não lentamente com a cabeça.
- Meu Deus, o seu pé - ele falou.
Olhei pro meu pé, uma poça de sangue tinha se formado ao redor, tinha alguns cortes que pareciam profundos e alguns cacos de vidro agarrados.
Não sentia dor, não sentia nada.
Por dentro me sentia apavorado, estava com nojo de mim e do meu corpo, tinha vontade de sair correndo.
Mas meu corpo não correspondia a euforia que eu sentia por dentro.
Marcelo me pegou no colo e eu apaguei totalmente.
Acordei sentado em uma cadeira desconfortável numa sala pequena.
Olhei pela janelinha na parede ao lado, parecia estar amanhecendo.
Haviam mais duas pessoas na sala, um idoso e uma mulher de meia idade.
Procurei Marcelo, ele não estava.
Demorei alguns segundos pra assimilar tudo que o tinha acontecido.
Havia um algodão com esparadrapo cobrindo a parte de dentro do meu cotovelo, em cima da minha veia.
Marcelo entrou na sala e logo se sentou do meu lado.
Segurei firme em seu ante braço, ele me trazia segurança.
Ele passou a mão na minha perna, os olhos dele estavam lacrimejados e eu torcia pra que ele não chorasse, eu não estava em condições de consolar ninguém, eu é que precisava ser consolado.
- Te deram um remédio na veia, pra dor passar, disseram que quando você acordasse sentiria dor, e fizeram um curativo no seu pé.
Meu pé estava quase todo envolto em algodão, faixas e esparadrapo
Assenti com a cabeça.
Me ajeitei na cadeira, ele estava certo, meu pé doeu e minha bunda estava ardendo muito.
- Aaíh - falei baixinho.
Ele só ficou olhando pra mim, parecia desconfortável sem saber o que fazer.
- Precisa de alguma coisa? - ele perguntou.
- To com fome.
- Como aqui é só um Posto de Saúde eles não tem comida, mas acho que tem uma padaria à uns minutos daqui, posso ir buscar alguma coisa.
- Não, eu vou com você - falei - a gente come alguma coisa e volta pra viagem.
Marcelo sorriu debochado.
- Você acha mesmo que depois disso você ainda vai continuar viajando?
- Não vou? - perguntei.
- Não, nós vamos voltar pro Mato Grosso assim que você puder sair daqui.
Segurei as mãos de Marcelo e olhei em seus olhos.
- Marcelo, eu não quero voltar pra casa, quero continuar com você, viajando.
Ele abaixou a cabeça.
- Eu prometi que ia cuidar de você, e olha no que deu Otávio.
- Aconteceu Marcelo, não dá pra mudar, mas agora a gente tem que ir em frente, você sabe que eu preciso trabalhar, se eu que acabei de sofrer isso na pele já estou bem pra ir acho que você também deveria estar.
Mentira, eu não estava bem, nenhum pouco, mas não queria que Marcelo ficasse se sentindo mal por mim e eu também precisa de dinheiro, então preferi mentir.
Ele ficou pensativo por um longo tempo.
- Ta bom Otávio - ele respondeu baixinho.
Uma moça baixinha entrou na sala e veio até mim.
- Ta se sentindo melhor? - ela perguntou.
- To sim.
- Ótimo, você já ta liberado pra ir quando se sentir à vontade.
- Ta bom, Obrigado.
Ela anotou alguma coisa em sua prancheta e saiu da sala.
- Já estou me sentindo bem, vamos - falei.
- Se você está dizendo!
Ele me ajudou a levantar. Saí da sala andando devagar, passei pelo curto corredor, não tinha muita gente ali e o lugar parecia precário.
O caminhão estava estacionado logo a frente do Posto de Saúde, Marcelo me ajudou a entrar e em seguida fomos para a tal padaria.
Nos sentamos em uma mesa perto da porta, pedimos pão e café.
- O que aconteceu com o cara? - perguntei.
Ele olhou pra mim e respondeu.
- Não faço idéia.
- Como assim? Eu vi você batendo nele.
- Sim, eu bati e muito, se você não tivesse me chamado talvez eu teria matado ele.
Olhei assustado.
- Não se preocupa - ele voltou a falar - depois que você apagou eu te levei pro posto de saúde e não sei o que houve com ele, mas...com certeza a galera que tava lá deu um jeito nele pra nós.
Ele piscou e riu.
Não tinha muita certeza do que "dar um jeito" significava, resolvi não perguntar e tentar esquecer aquilo.
Tomamos o café.
- Vamos - eu disse quando terminei.
Ele suspirou.
- Tem certeza que está bem pra viajar?
- Já disse que sim Marcelo, vai ser até melhor, só preciso esquecer isso e a viagem vai me ajudar.
Nós fomos até o caminhão em silêncio, Marcelo estava pensativo.
Voltamos pra estrada e Marcelo voltou a falar.
- Acho que eu sei de um jeito pra você esquecer isso ainda mais rápido.
- Como - falei sorrindo.
- Sexo!
Me assustei, tinha acabado de ser violentado, minha bunda estava doendo e Marcelo queria me comer.
- Calma! - ele falou percebendo meu susto - a gente pode transar pra você esquecer isso, mas... O que você acha de inverter as posições?
Eu sorri.
Estava começando a me animar.
Sensacional relato
estou acompanhando o conto, desde o primeiro dia.. e confesso que estou apaixonado e louco para ver o desfecho dessa história.. Abro todos os dias esse site apenas pra verificar se já foi liberado mais um capítulo, então pf não demora pra postar pf. Obrigado
Amando o conto cara, tu escreve divinamente...ótima história.