Uma vez li em um livro que todos somos gays em maior ou menor grau. Concordo plenamente. Sou um homem casado, pai de um belo garoto e apaixonadíssimo por minha esposa, mas aconteceu e pronto. Aconteceu no ano de 2007. Hoje tenho 29 anos. Eu estudava em uma universidade pública e adorava o fato de finalmente estar cursando o nível superior, era um sonho que se realizara. Algumas pessoas afirmam que você aprende a viver de fato, quando entra em uma universidade, um ambiente aberto a tudo, no qual pode se fazer várias descobertas, várias viagens( droga, sexo, grupos alternativos...) em fim, é uma experiência a trás da outra. Nunca fui do tipo que pensava que a droga era uma forma de auto-afirmarão, uma maneira de ser rebelde, com ou sem causa. Vamos aos fatos. Numa sexta feira eu estava voltando da faculdade para o centro da cidade onde morava na época. Eu sou uma daquelas pessoas que sempre anda ouvindo som, um daqueles caras que se empolga e acaba cantando, mesmo sem ter o menor talento para a música. Pois é, eu entrei no ônibus ouvindo música e cantando. Logo chamei a atenção de muita gente. Uma dessas pessoas era um rapaz negro, forte e muito simpático, que aparentava ter entre 24 e 27 anos. Depois fiquei sabendo sua idade, ele tinha 30. Ele começou a sorri, e foi retribuído, é claro. Sentei do seu lado, mesmo porque era a única cadeira vazia. Eu costumo ouvir música com dois objetivos: um porque gosto de música e outro pra evitar papo chato com quem está ao meu lado, em qualquer lugar que seja. Desta vez não funcionou. Ele começou a puxar assunto, não deu pra fincar mudo. Começamos a conversar e em um determinado momento ele disse: “Você parece que é bom de língua, não canta ruim não”.Imagina só, eu entrei cantando American Pie e o cara diz que não estava cantando ruim, fala sério. Só podia ser gozação. De qualquer modo fomos conversando até o nosso destino, que era o mesmo. Falamos de música e ele disse que gostava de um determinado cantor, mas que não tinha conseguido comprar seu último álbum acredite ou não eu também gostada desse cantor e por coincidência, se é que existe. Eu estava com esse álbum no meu som. “É uma pena eu não ter como fazer uma cópia pra mim”, disse ele. Eu disse-lhe que no centro havia muitas lan houses e que ele poderia comprar uma mídia e faríamos a cópia pra ele, eu não convidaria um estranho pra ir a minha casa, não mesmo. Passamos em uma lan house e ele fez a cópia. Saímos e eu já estava me despedindo pra ir pra casa quando ele perguntou se não queria beber alguma coisa, afinal era sexta e na sexta beber ou sair com amigos para a curtição é quase que sagrado. Aceitei, por educação, é claro. Fomos a um barzinho que tinha ali por bebemos e conversamos um pouco sobre muita coisa. Entre essas coisas disse que estava estudando língua estrangeira e por isso que eu gostava de ouvir e cantar. Ele não perdeu tempo e disse outra vez que me achava bom de língua, eu ri e disse que não era bom, mas ainda ficaria. Era apenas questão de treino e ele perguntou: “Em que sentido você fala de treino e bom de língua em que sentido também”? Confesso que não falei no sentido de ousadia, mas respondi: “em todos os sentidos, inclusive no escatológico sexual”, olhando com a maior cara de safado e completei: “Tanto faz ser como ele ou ela, como diz a música de Renato Russo gosto de meninos e meninas”. E bebi um pouco de “campari”, que por sinal adoro. Pensei que ele fosse dar uma desculpa qualquer e ir embora, mas apenas balançou a cabeça, bebeu um pouco e disse: “É um mundo louco, você é sempre expansivo assim cara?Fala tudo que pensa e sem se preocupar com o que o outro vai dizer? Eu respondi que sim e mudei de assunto. Ele percebeu e disse que não tinha problema, pois já havia tido algumas relações sexuais com outros caras quando era adolescente, mas que fazia um tempão que não praticava mais. Era casado, mas isso não impedia de fazer outra vez. E perguntou se eu estava a fim de ir pra um lugar mais reservado. Respondi-lhe que sem problema. Ligamos para nossas respectivas senhora e saímos. Fomos a um hotel bem discreto e lá transamos como dois animais selvagens, como se o mundo fosse acabar. Não costumo fazer isso, não sou uma pessoa fácil, mas confesso que um pouco de loucura às vezes faz muito bem para o ego, é muito bom dar e receber prazer sem cobranças. Duas pessoas fazendo sexo por sexo e nada mais. Claro que a princípio parece estranho, animalesco, mas faz parte de vidas faz parte da nossa loucura que ajuda a quebrar uma rotina, um cotidiano. Como havia dito fizemos sexo como animais e repetimos a dose outra vez. No final, nos vestimos e saímos conversando como se nada tivesse acontecido. Sem a menor culpa. Nos despedimos e trocamos telefone, só então perguntamos que nome deveria colocar no celular, rimos! É verdade, até então sabíamos muita coisa um do outro, mas não sabíamos o nome. Era como se não tivéssemos identidades. Estranho, mas acontece todos os dias, em todos os lugares. Sexo por sexo pode até ser algo ruim, dependendo do ângulo, é claro, mas é ótimo. Hoje nos encontramos com alguma freqüência e ainda curtimos o mesmo estilo musical e mesmo cantor. O que nos ligou naquela noite foi apenas sexo, mas hoje temos um laço bem mais forte, somos amigos e amigos podem transar, ou não? Preferimos pensar que sim. Aprendemos muita coisa um com outro, inclusive no sexo. Hoje sei explorar um corpo com mais habilidade do que sabia, sem contar que fiquei muito mais safado e posso dizer, despido de algumas coisas. Quebramos barreiras a todo tempo e isso me deixa feliz. Continuamos casados e bem casados, conhecemos a esposa um do outro e às vezes vamos a alguns lugares juntos, as duas família. Somo amigos, somos irmão, somos amantes.
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