A MALDIÇÃO DAS FERAS - A Terra dos Lordes



Ao norte do reino de meu pai, na base das montanhas nevadas, fica a província de Wilkor, antigo lar de meu tio Mezler, morto em batalha há alguns anos. Hoje o local é mais conhecido como a Terra dos Lordes, devido às residências construídas para seus seis filhos, cada qual concebido com uma amante diferente. Não seria seguro para um rei, visitar estas terras em momento tão conturbado, com estranhos assassinatos, mas assim mesmo o faço, rumo ao funeral de Gustav.

O inverno tarda a passar por aqui e a neve segue cobrindo tudo ao redor. Eis um eficiente disfarce para as minas de diamantes que se encontram nas cordilheiras e cuja extração alcança toneladas. Após horas de cavalgada sob gélido clima, alcanço as casas de meus primos Harold e Ashter, que encontram-se vazias, após chego enfim à mansão de meu falecido tio. Lady Mezler, a esposa legítima, me recebe no saguão.

- Majestade, sabíamos que viria - diz em reverência -, Gustav lhe tinha alta estima. Sentimos não poder comparecer ao vosso casamento. Tivemos alguns infortúnios nesse período. A morte de Gustav é mais um na lista.

- Ofereço meu sincero pesar pela grande perda - respondo.

Preocupa-me mais, no entanto, o estado de sua filha mais nova, Ewa, que há muito não vejo. Não tarda para essa surja, bela como sempre, à descer as escadas. Sua pele e vestes claras parecem resplandescer e iluminar o lugar, ainda que em seu semblante carregue tristeza. Um casaco de macia lã lhe cobre os ombros, mas deixa a mostra o colo, onde um colar de diamantes pousa e guia o olhar até o fundo do decote. Sempre foi desejo de nossos pais nos unir em casamento, mas o destino nos traçou outros caminhos. Não nego, porém que por sermos próximos, já cedi a sua curiosidade mais de uma vez e lhe revelei meu corpo, deixando-a tocar as partes que quisesse. Não nego também que ainda sinto por nada receber em retribuição. Uma vez que em Wilkor, a castidade de uma dama é consagrada ao leito nupcial, me restando apenas imaginar os contornos de seu corpo, a testura e profundidade de suas partes mais íntimas, assim como os gemidos que executaria. Aproveito para confessar também que vez ou outra ela me invadiu os sonhos e me fez despertar em êxtase.

- Frederick, ainda bem que está aqui - diz Ewa enquanto envolve os braços em mim e seca suas lágrimas sobre meu peito. Os dias foram difíceis desde a morte de Gustav. É muito bom ter um amigo por perto.

Eu a abraço de volta, sem qualquer segunda intenção, e recosto meu rosto sobre sua cabeça, não podendo, no entanto deixar de sentir o doce aroma de seus cabelos.

Nos dirigimos todos até o salão principal, onde o corpo de Gustav aguarda enrolado em tecidos, sob os cuidados do pároco local, e familiares, incluindo seus demais irmãos que restaram vivos: Tourian, Isaac e Drigory, que se isola em um canto. É Drigory, no entanto, o primeiro a se aproximar de nós, atravessando o salão em direção a Ewa.

- Ewa, fico contente que esteja melhor - diz enquanto pega sua mão e a conduz para perto de si. É apenas depois que se dirige a mim-. Freederick, fico surpreso em vê-lo em Wilkor, já que há muito se esqueceu dessas terras - transparecendo sua arrogância habitual, desproporcial a sua colocação como último na linha de sucessão-.

- De fato estive ausente, Drigory, mas agradeço por me lembrar do motivo.

Me despeço de Ewa e me afasto do casal, que permanece junto ao corpo. De longe observo as investidas de Drigory sobre Ewa, na desculpa de a confortar. Quando lhe enxuga as lágrimas e desliza os dedos até seu pescoço. Quando lhe beija as mãos e devaga até os pulsos. Quando lhe toca o colo, como se conferindo seus batimentos acelerados. Quando lhe envolve a cintura e discretamente explora seu quadril. Tantos outros modos que outrora foram meus e que, na juventude, faziam o sangue circular com vigor na região do baixo ventre, tornando mais suportável o ambiente das montanhas. Sinto que ainda hoje surtem o mesmo efeito. Eu poderia continuar a descrevê-los por horas, me vendo ao seu lado, sentindo seu corpo com meus dedos, despindo-a completamente com o olhar. Eu a possuiria ali mesmo naquele salão e lhe revelaria os prazeres da carne, restringindo o ato a minha imaginação apenas, pois não ousaria corromper meus votos nupciais. Por vezes, os desejos que a mente produz estrapolam o campo das ideias e se projetam não apenas sob as vestes, mas transpassam na própria feição, de modo que Tourian logo veio me trazer de volta a realidade.

- Como seu primo mais velho, recomendo conter melhor seus desejos - fala aos meus ouvidos enquanto apertamos as mãos. Em Wilkor, ofensa contra a castidade e adultério são crimes graves e a pena é sangria em praça pública. Não me agradaria assumir o trono assim, tão derrepente - complementa em tom de sarcasmo.

- Não se preocupe. Os motivos que me trazem aqui são outros. Já sabem as condições da morte?

- Após a cremação, vamos nos reunir no conselho para discutir a situação. Por hora, só posso dizer que o corpo foi achado na floresta. Estava degolado.

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Ficha do conto

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arthurgarber38

Nome do conto:
A MALDIÇÃO DAS FERAS - A Terra dos Lordes

Codigo do conto:
211749

Categoria:
Fantasias

Data da Publicação:
15/03/2024

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