Todavia, agora, faltava pouco …, muito pouco; mais um dia de viagem e ele estaria em casa. Sua égua de batalha relinchou com se compreendesse a ansiedade de seu dono. Valteno acariciou o pescoço de sua montaria e olhou para o horizonte, observando o manto da noite avançando inexorável do poente para o nascente, cobrindo com sua escuridão o mundo e a vida.
Valteno interrompeu sua cavalgada, ponderando que precisava encontrar um lugar onde pudesse passar a noite, esperando o nascer de um novo dia, o último dia que o separava de seu lar e dos seus entes queridos.
Brilhance, a égua, relinchou, balançando a cabeça; Valteno inclinou-se sobre ela tentando apaziguá-la e viu o que a deixava nervosa; um pequeno brilho inconstante podia ser visto a certa distância. Provavelmente, seria uma moradia. Valteno ficou intrigado com a possibilidade de haver alguém morando em um local tão isolado e distante de tudo, mas seu corpo, seu estômago, e principalmente, a agitação de sua égua, foram motivos suficientes para convencê-lo a seguir até aquele local.
Marchando com certa velocidade, ele não tardou em chegar ao seu destino; era uma pequena choupana, em cujo interior via-se um brilho bruxuleante, indicando fogo aceso. Valteno apeou de sua montaria e caminhou até a porta de madeira carcomida; antes de bater, a porta abriu-se como se tivesse vontade própria.
O enorme guerreiro saxão abaixou a cabeça, curvou-se para entrar no interior da mísera moradia. Era algo bem simples, destituído de cuidado, mas estranhamente convidativo e aconchegante. Havia uma mesa de madeira, duas cadeiras e um pequeno catre feito de palhas e pele.
No canto mais ao fundo, via-se o fogo, cercado por pedras com um cavalete de metal de onde pendia um caldeirão que exalava um cheiro apetitoso, incitando as narinas e o estômago do saxão, que não sabiam o que era uma boa comida há muito tempo.
Sentada em um canto, próximo do fogo, uma figura curvada, com a cabeça coberta, mexia o conteúdo do caldeirão com uma espécie de colher de madeira. Sem voltar-se para o visitante, a figura, com voz feminina decrépita, denunciando tratar-se de uma anciã, convidou-o para sentar-se e partilhar o alimento em preparo.
Fragilizado pela fome, e ansioso em saciá-la, Valteno não se fez de rogado, sentando-se à mesa e aguardando a iguaria em preparo. Ainda sem mostrar o rosto, a anciã serviu um prato fundo de barro, onde fumegava o ensopado de aroma delicioso. E enquanto o cavaleiro saciava sua fome descomunal, a anfitriã ofereceu-se para alimentar também sua montaria, o que foi aceito entre grunhidos inaudíveis de um esfomeado.
Satisfeito, Valteno sentiu um cansaço incomum tomar conta de si, como se a alimentação voraz despertasse toda a exaustão que seu corpo retivera desde o início de seu retorno ao lar. Incontinenti, ele se livrou da armadura de couro, desabando sobre a cama de palhas e pele, adormecendo de imediato.
Foi um sono profundo, quase letárgico, que deixou o cavaleiro inanimado, respirando lentamente e o corpo relaxado. Sua mente, mesmo turvada pelo sono, viajava por um mundo onírico, no qual ele e sua amada reencontravam-se e entregavam-se a um amor irrefreado e repleto de desejo.
Valteno parecia sentir o corpo nu de sua amada em seus braços, acariciando a forma e a exuberância de sua amada, a mais deliciosa das fêmeas que ele conhecera em sua vida. Uma excitação exultante tomava conta de seu corpo, expondo na carne aquilo que a mente e o desejo experimentavam no mundo dos sonhos.
Repentinamente, o que era sonho transmutou-se em um pesadelo infernal; Brenda fora arrancada de seus braços e reduzida a uma forma etérea, aprisionada em uma gaiola cintilante de vidro; desamparada e desesperada, a jovem debatia-se contra sua prisão, ansiando dela sair, mas suas tentativas eram inúteis, servindo apenas para potencializar seu desespero e temor pelo que podia lhe acontecer.
No momento seguinte, Valteno vislumbrou que a gaiola cintilante pendia na garra de um ser repugnante, com corpo mesclado de formas humanas e bestiais, com enormes chifres que queimavam como chamas eternas ao som das lamúrias de almas crepitando em seu interior. Com a mente arrebatada pela imagem de sua amada presa e indefesa, Valteno entrou em um misto de desespero e fúria incontidas, e isso fez com que ele fosse trazido de volta à realidade, não apenas por sua vontade, mas pela vontade de alguém de poder superior a ele …
Urrando como um animal ferido, Valteno deu um salto, tentando levantar-se, mas vendo-se impedido de fazê-lo; ele estava nu e acorrentado ao leito que, agora, não era mais um catre simplório, mas um bloco de rocha dura e fria, assim como o local não era mais a miserável choupana que ele avistara ao longe; Valteno estava uma cela de rocha, mal iluminada, úmida e malcheirosa.
Ainda tomado pelo desespero, ele lutou para libertar-se dos grilhões que prendiam seus pés e mãos …, e antes que ele pudesse prosseguir em seu esforço vão, a porta da cela abriu-se, inundando o interior com uma luz branca intensa. Lentamente, uma silhueta amorfa foi surgindo e crescendo, invadindo o ambiente e caminhando com passos resolutos.
Acostumando-se ao brilho intenso da luz que feria seus olhos, Valteno conseguiu discernir que a silhueta tinha a forma humana. Achou que fosse a anciã que o recebera e que se tornara seu algoz …, mas, no momento seguinte, ele constatou que não era ela.
Mãos delicadas surgiram retirando o capuz que cobria a cabeça do visitante, revelando uma mulher lindíssima, de pele alva, olhos negros profundos e longos cabelos platinados. Ela encarou o saxão, cujo âmago vibrou de uma maneira muito incomum. Caminhando em sua direção, a mulher abriu o manto que a cobria, deixando que ele escorregasse ao longo de seu corpo, exibindo suas formas voluptuosas e exuberantes.
O incauto saxão engoliu em seco, ao ver tanta formosura em uma mulher! Era uma beleza exuberante cujo corpo mais parecia um poema escrito pelo maior dos poetas, e seu rosto era algo que deixaria louco qualquer mortal. Valteno, mesmo acorrentado, sentiu-se imensamente atraído por aquela mulher desconhecida, percebendo uma ereção cuja potência era algo sem igual.
A mulher caminhou, a passos lentos e medidos, na direção do saxão, que ainda lutava contra os grilhões que o prendiam, mas com intenção totalmente divergente da de outrora. Ele sentiu um arrepio percorrer seu corpo no momento em que a estranha anfitriã tocou seu membro com sua mão quente e macia. Parecia que ela o possuíra através de seu membro duro, e toda a sua vontade fosse minada, deixando-o à mercê das vontades daquela estranha.
Com uma ousadia inesperada, ela sentou-se sobre o ventre do cavaleiro, ainda tendo na mão seu membro duro como pedra; e no instante seguinte, ela o conduziu na direção de sua vagina, descendo sobre ele com um movimento único e vigoroso. Valteno, pela primeira vez em sua vida, sentiu-se possuído, como se ela controlasse tudo à sua volta, inclusive a vontade dele.
Apoiando-se sobre o peito largo do saxão, a mulher inclinou-se o suficiente para oferecer-lhe os mamilos intumescidos, enquanto fazia sua pélvis e cintura subir e descer sobre o membro masculino, em uma sessão sexual conduzida pela vontade dela. Valteno, instintivamente, procurou os mamilos de sua parceira, sugando-os com a voracidade de um esfomeado.
O sexo entre eles era intenso, febril, mas sempre sob o controle da fêmea, como se o macho fosse seu objeto; seu rosto exibia uma expressão enigmática, as vezes feminina, as vezes dominadora, mas sempre no comando de tudo que acontecia. E ela deliciava-se com o estado de excitação escravizada do saxão que agia como um animal treinado apenas para foder sem conhecer limites.
Depois de muito tempo, tempo esse que Valteno não era capaz de medir, sua parceira desconhecida experimentou uma sequência de orgasmos que pareciam multiplicar-se a ponto de ela quase desfalecer, muito embora isso não acontecesse, pois, no momento seguinte, ela retomava os movimentos de maneira frenética.
O tempo transcorreu como um sopro de vento sem fim, e Valteno não conseguia mais controlar sua impetuosidade, sentindo o gozo aflorar em todo o seu corpo …, mas a estranha percebia essa movimentação física de seu parceiro, e, vez ou outra, cessava os movimentos mantendo o membro enterrado em suas entranhas, mordiscando-o com seus lábios vaginais, controlando o orgasmo de seu parceiro.
Isso repetiu-se por várias vezes; tantas que o saxão já não tinha mais controle sobre sua própria vontade; era ela quem controlava tudo!
-Você anseia por sua amada, saxão? – ela perguntou com voz rouca, mas firme.
Incapaz de responder por conta de sua respiração arquejante, Valteno limitou-se a balançar a cabeça em afirmação.
Sem demonstrar qualquer sentimento, a mulher sentou-se sobre o cavaleiro e com um gesto de uma das mãos, fez surgir no ar a gaiola dourada, onde se podia ver, em seu interior, a amada Brenda.
Entre o desejo animalesco que o dominava e a visão terna de sua amada aprisionada em uma gaiola cintilante, Valteno desesperou-se. “O que você vai fazer com ela?”, quis ele saber, esforçando-se para proferir a pergunta.
-Dela nada quero, seu idiota! – respondeu a mulher, cuja expressão era de escárnio – É de você que eu quero!
-De mim! – perguntou-se o cavaleiro, atônito – O que você quer de mim?
-Quero sua alma! – ela respondeu com um sorriso malicioso – Pois, teu corpo já é meu! Você já me pertence …, entregue-se …, curve-se a mim, e Brenda será poupada …, caso contrário …
Ela não terminou a frase; voltou seu olhar para a gaiola e soprou suavemente; ante seus olhos, Valteno viu Brenda sucumbir lentamente, como se sua energia vital fosse sugada de seu corpo, até que restasse apenas uma “casca” vazia e quebradiça.
-Não, por favor! – ele suplicou, quase em forças – Faço o que você quiser …, qualquer coisa …, mas, por favor, poupe minha doce menina!
Com um estalar de dedos, a gaiola desapareceu no ar; a mulher inclinou-se novamente sobre seu escravo e retomou os movimentos pélvicos, experimentando mais orgasmos ainda …, finalmente, ela intensificou os movimentos, até que Valteno ejaculasse violentamente.
Foi um gozo estranho …, era como se, a cada jato de sêmen, parte de sua energia vital fluísse para dentro do corpo daquela mulher diabólica …, e quando tudo acabou, ela se levantou, mirando orgulhosa para o membro flácido de seu escravo oportuno.
-Então temos um trato, Saxão! – ela disse, com voz suave e pausada – Você me pertence de agora para sempre …, seu corpo e sua alma são meus …, e nem pense em descumprir nosso acordo, pois, para mim, Brenda é apenas mais uma vítima a ser sacrificada.
Enquanto ela se afastava, Valteno, ofegante, quis saber o que seria dele.
-Amanhã pela manhã, você partirá, rumo ao seu lar – ela respondeu – No momento oportuno, eu irei até ti, para que você sirva aos meus propósitos …
-Mas, afinal, quem é você? – quis ele saber com uma curiosidade atroz.
-Eu sou o demônio! – ela respondeu, seguindo-se uma gargalhada fantasmagórica – Eu sou seu demônio particular, Saxão …, você me serve, e eu sirvo ao meu Senhor …, é tudo que precisa saber …, agora descanse …, amanhã será um novo dia.
Repentinamente, tomado por um torpor inesperado, Valteno viu seus olhos se fecharem involuntariamente, enquanto todo o seu corpo era tomado por uma letargia avassaladora …, a última imagem que ficou em sua mente, era da mulher demônio, que, agora, tinha em seu poder o corpo e a alma do Saxão …, e nada mais ele viu, ouviu ou sentiu, apenas uma voz ecoando em sua mente:
“Meu nome é Magdala …, lembre-se disso, Saxão …, Magdala é sua dona!”