Kabuki part. 2 "O canto das espadas"

JAPÃO, ano de 1874.

        O ar da noite era frio e assobiante, a lua cheia que deveria iluminar os caminhos de Kiosh jazia escondida sobre uma densa camada de nuvens de chuva. Toda a cidade dormia e os únicos sons que se ouviam eram os dos grilos, o assobiar do vento, e o andar de alguém na escuridão.
        Uzuki caminhava lentamente até a floresta e, suas sandálias de madeira faziam um som chamativo nas pedras que formavam o calçamento da rua que ficava nos fundos da casa do senhor seu tio. O belo samurai trajava um kimono preto, uma fita vermelha no cabelo, a espada de seu pai atada a cintura e um punhal escondido na manga esquerda. Ele andava em direção á floresta amaldiçoada. A floresta de kabuki. A entrada da floresta ficava apenas a duzentos metros da casa do seu tio, onde deixou o jovem Kiang dormindo em sua esteira após se unirem em uma paixão carnal.
        Uzuki chegou à entrada da floresta e hesitou por alguns momentos. O guerreiro colocara a mão no cabo da espada e respirou fundo. Ele tinha certeza que seja lá o que estivesse acontecendo na floresta a culpa não pertencia ao mundo espiritual, mas sim a alguém de carne e osso.
        - Então que seja feita a justiça. Se minhas intenções forem nobres o bastante que os espíritos ancestrais fortaleçam minha espada – disse sussurrando o samurai -, caso contrário, que minha morte não seja em vão.
        - Eu já ouvi isso antes – disse uma voz na escuridão. – Há algum tempo, se minha velha memória não me engana.
        O samurai ficou em posição de combate, mas não sacara a espada. Estava acostumado com surpresas durante uma batalha e mesmo assim aquela voz o pegou desprevenido.
        - Quem está aí? - perguntou Uzuki tentando discernir sombras de sombras em meio a escuridão da noite.
        - Apenas um velho sem sono. – Das sombras um pequeno clarão de luz. Por um breve momento Uzuki pode ver com quem falava. Era um velho do vilarejo, um pescador. A luz que agora se extinguira foi a chama usada para acender o fumo do velho. Uma pequena brasa e fumaça. – Meu filho também jurou a morte do espirito de Kabuki, e meu outro filho depois dele e também meu genro e depois meu sobrinho. Todos entraram na floresta e nenhum deles retornou. O ultimo foi o filho do Yakage. Se você realmente pretende matar Kabuki tome cuidado, criança.
        O velho começou a tossir fortemente.
        - Agradeço o conselho nobre senhor! – Uzuki fez um gesto de agradecimento mesmo sabendo que o homem provavelmente não poderia vê-lo. – Prometo que vingarei sua família assim também como pretendo vingar a minha.
        - Tantos outros já disseram isso e nenhum deles voltou. – O velho tossiu novamente. – Esqueça a vingança, faça justiça. Kabuki precisa parar ou Kiosh acabará.
        Tanto a brasa como a fumaça e a voz do velho homem desapareceram.
        “Ele veio e se foi sem fazer o menor ruído” pensou o samurai, “poderia ter me matado se assim desejasse. Talvez eu esteja ficando fora de forma”.
        Uzuki relaxou sua postura e adentrou a floresta escura. Suas sandálias de madeira agora pisavam em folhas secas e terra úmida. A trilha que no passado era usada como principal rota de comércio estava vazia e até o ar que se respirava parecia diferente. Uzuki caminhou com uma estranha sensação de estar sendo observado. Além do vento o espadachim ouviu alguns sons como galhos finos se quebrando e piados de pássaros, pois novamente a mão no cabo da espada e cantou uma canção que seu velho pai um dia tinha lhe ensinado.

Todos sabem o que ocorreu
Uma noite fria de setembro
Capturado o homem foi
Acorrentado ele aguardou
Amanheceu
E a liberdade daquele homem não chegou
Houve mudança em sua sorte
O homem foi condenado à morte.

Olhem, vejam lá!
O carrasco do senhor
O homem diz a todos
“Eu não sou culpado!”
Um golpe de espada
O homem foi decapitado.

O minguar da lua finalmente começou
Lembra aquele homem?
Inocente se provou
O culpado foi achado
Escondido lá no norte
Por seus crimes confessados
A sentença foi à morte
O inocente que morreu era pai de uma criança
Carrego a minha espada
Eu terei minha vingança.

Espreitando, espreitando
Esperando um momento
Sangue eu terei
Não ouvirei seu lamento
Senhor de Kyoto
Acabou o seu tempo.

Não corra, não corra
Estou aqui, ali e lá
Não corra, não corra
Sua cabeça eu irei cortar
Não corra, não corra
Não pode se esconder
Não corra, não corra
Por matar um inocente você irá morrer.

        Quando terminou a canção o samurai percebeu que já tinha percorrido um longo caminho e que deveria estar próximo ao que os aldeões chamavam de meio da floresta, era onde ficava uma grande pedra na qual foi entalhado o nome de Kiosh e as informações de como chegar nela. A pedra ficava no meio do caminho entre Kiosh e o fim da floresta, por isso o nome de meio da floresta.
        Aos poucos as nuvens de chuva foram se dissipando no céu escuro e a luz da lua cheia iluminou timidamente a floresta. Uzuki estava certo quando julgou estar chegando ao meio da floresta, agora que a lua começara a iluminar seu caminho conseguia ver a pedra mais a frente. O samurai ouviu alguns passos entre as árvores e parou.
        - Boa noite. – Disse Uzuki com a mão na espada sabendo que alguém em algum lugar o estava observando.
        - Uma música muito triste para uma noite tão linda! Não acha meu caro senhor? – perguntou alguém oculto entre as árvores.
        - Concordo, mas a música não foi escolhida ao acaso. – Respondeu Uzuki tentando descobrir de onde vinha à voz que saia das árvores. – Esta canção narra a vingança de um garoto, um garoto cujo pai foi morto inocentemente pelas ordens de um rico senhor. Achei que essa história se assemelha ao que está acontecendo em Kiosh.
        - Entendo. – Disse a voz em resposta. – Então eu sou o rico senhor, Kiosh é o pai inocente e você é o garoto com a espada. Veio me derrotar, samurai? Muitos tentaram e muitos morreram. O que o faz pensar que é diferente dos outros?
        - Muitos morreram é verdade, mas eram pescadores, caçadores, artesãos ou comerciantes. Eu, como você mesmo percebeu, sou um guerreiro. Apareça. Hoje você enfreará alguém que realmente sabe usar uma espada.
        Uma forte brisa gélida veio do norte e Uzuki apertou a mão no cabo da espada. As árvores balançavam e as folhas voavam no céu da noite.
        Saindo das árvores no lado esquerda da trilha de terra úmida, o jovem defensor de Kiosh viu o que aparentava ser um homem vestido com roupas pretas e uma máscara Kabuki de aparência assustadora. Por um pequeno momento Uzuki realmente achou que fosse um espirito, mas a razão logo falou mais alto e o samurai desembainhou sua espada.
        - Agora Kiosh está sobe minha tutela, renda-se ou prepare-se para lutar! – Uzuki usou sua voz de samurai, sua voz fria e cortante.
        O homem mascarado a sua frente sacou duas espadas curtas, não eram katanas nem ninjatos. Uzuki ficou apreensivo, aquelas armas não eram conhecidas, seu adversário poderia muito bem ser um ninja e não um samurai como Kiang havia dito.
        - Diga-me, você é japonês? – perguntou Uzuki com sua voz fria.
        - Sim. Sente-se incomodado por eu não utilizar o estilo clássico de combate?
        - A espada japonesa deve ser utilizada com as duas mãos.
        - Isso mesmo, você aprendeu bem. – Disse o mascarado - Mas essas espadas não são japonesas.
        - Entendo. – Uzuki segurou a espada com as duas mãos e posicionou as pernas.
        O homem mascarado moveu-se rápido como um relâmpago e, quando Uzuki percebeu suas laminas gêmeas estavam em formato de tesoura prontas para arrancar sua cabeça. Mas pro reflexo do que por qualquer outra coisa, Uzuki foi capaz de erguer a espada e bloquear o ataque do inimigo. As espadas se chocaram e um som cortante e agudo ecoou por toda a floresta.
        - Quantos já caíram perante esse golpe? Eu me pergunto. – Disse o homem por trás da mascara. Era nítida a alegria em sua voz. – Parece que realmente vou enfrentar alguém que sabe usar uma espada.
        - Eu lhe avisei Kabuki. – Uzuki mantinha a espada firme uma vez que a posição de tesoura do inimigo ainda estava sendo pressionada contra ele.
        Kabuki viu uma brecha na guarda do samurai e desfez o ataque, Uzuki percebeu o movimento e balançou sua lâmina.
        Espadas dançaram.
        Espadas cantaram.
        Metal contra metal novamente ecoando por toda a floresta.
        Durante um combate o samurai habilidoso consegue apender sobre seu adversário e, Uzuki aprendeu muita coisa sobre Kabuki. Seu estilo de luta não era nem de longe gracioso ou parecido com o que se usava nas batalhas. Com certeza mão era um ninja ou Uzuki já estaria morto. O mais provável é que fosse algum homem com habilidade em espadas gêmeas que se aproveitava da população pacata de Kiosh, usara o nome e a máscara de Kabuki para poder obter certa vantagem emocional contra os mais religiosos.
        Espadas dançaram, espadas cantaram.
        O homem podia não ser um ninja ou samurai, mas sabia como utilizar as espadas. Uzuki percebeu que uma seguia o movimento da outra e que para vencer teria que separa-las.
        Espadas dançaram, espadas cantaram.
        - Morra! – gritou Uzuki. – Corte da lua minguante!
        O samurai abaixou-se rapidamente e virou seu corpo para o lado esquerdo do inimigo, levantou com a espada empunhada ao contrário com uma só mão e atacou Kabuki. O mascarado conseguiu defender-se apenas com uma das lâminas, mas Uzuki girou a espada para frente e para o lado e desarmou Kabuki, perdendo sua espada no movimento. Ambas as lâminas caíram longe demais para serem recuperadas no calor da batalha, uma vez que os inimigos estavam tão perto um do outro.
        - Seu tolo! – Gritou Kabuki usando sua outra lâmina contra o jovem.
        Uzuki rapidamente posicionou seu corpo para receber o ataque estando ele aparentemente desarmado e de mãos nuas, o samurai utilizou de agilidade e destreza física em movimentos que aprendeu antes das batalhas. Mal sabia Uzuki que aqueles movimentos séculos mais tarde seriam chamados de jiu-jitsu. O protetor de Kiosh conseguiu desarmar seu inimigo e o lançou ao chão, antes que Kabuki pudesse dizer alguma coisa Uzuki retirou o punhal que guardara em sua manga esquerda e cortou sua garganta o mais fundo que conseguiu.
        Kabuki agonizava e seu sangue jorrava, o samurai ficara melado com o sangue do inimigo e nesse momento ele teve certeza absolta.
        - Era apenas um homem. – Disse para se mesmo.
        Uzuki pegou sua espada do chão e a colocou de volta na bainha, preferiu deixar o corpo do inimigo ainda com máscara e onde morrera. “Será um aviso para todos os que tentarem atacar a minha cidade e um alívio para todos aqueles que um dia já temeram essa máscara.” Pensou o jovem.
        O caminho de volta a cidade estava mais agradável, a lua brilhava mais forte, o vento estava mais calmo e até as árvores pareciam mais amigas. Uzuki não sabia se tudo aquilo era por que seu inimigo estava morto e a cidade de sua infância protegida ou se era por que voltaria para os braços do jovem Kiang. Seja lá qual fosse o motivo os dois eram ótimos.
        O samurai continuou caminhando quando avistou a silhueta de alguém lá longe correndo na trilha seguindo em sua direção. Rapidamente parou e sua mão foi até o cabo da espada. A silhueta tomava forma enquanto a pessoa avançava rapidamente, sons de passos descalços eram ouvidos nas folhas secas. A pessoa estava usando um kimono branco e carregava uma espada com as duas mãos junto ao peito, como se a arma fosse pesada demais para aguentar carregar da maneira correta.
        - Uzuki! – gritou a pessoa de kimono branco ainda distante.
        - Kiang? – disse Uzuki para se mesmo e correu na direção do garoto. Quando o alcançou soltou a espada de seu pai e o pequeno rapaz jogou a espada que carregava para cair nos braços de seu amado. Os dois se abraçaram fortemente e o samurai agora não tinha mais dúvidas, o motivo era ele. Kiang.
        - Quando eu acordei e não vi você – disse o garoto com o rosto no peito do samurai -, eu procurei por toda a casa e não o achei. Então me lembrei do que você prometeu. Peguei a primeira espada que encontrei e vim atrás de você. Eu fiquei com tanto medo. Eu achei que fosse perder você!
        O garoto de cabelos castanhos soluçava em seu choro inocente. Uzuki se afastou um pouco do abraço e com dedos carinhosos tocou o queixo de Kiang e ergueu sua cabeça até seus olhares se encontrarem.
        - Eu voltei pra você, meu amor. – Disse sorrindo o samurai. – E ninguém vai me afastar de você. Eu juro.
        Só agora Kiang viu o sangue no kimono de seu amado que acabara sujando sua veste branca.
        - Não! – disse o rapaz desesperado. – Meu amado, está ferido?
        - Não meu pequeno, esse sangue não é meu. Kabuki foi derrotado e Kiosh agora está segura.
        Os olhos de Kiang se iluminaram como duas estrelas e seu sorriso era de dar inveja aos diamantes. Ele pulou nos braços de seu amado e deu-lhe um beijo forte e demorado. Uzuki segurou-lhe pela cintura com uma das mãos e a outra desceu até a bunda do jovem aprendiz de ferreiro. Seus corpos foram se entregando ao desejo ardente que queimava dentro deles ao ponto de tirarem um o kimono do outro e se deitarem nus na trilha que cortava a floresta tendo como testemunha de seu amor a luz da lua cheia. As folhas secas serviram de esteira enquanto os jovens rapazes se beijavam apaixonadamente.
        - Você é lindo! – disse Uzuki com não mais que um sussurro. O samurai estava ofegante e seu corpo ardia. Seus pelos se arrepiavam ao toque dos lábios de Kiang em sua pela nua. O belo aprendiz se deitara sobre seu guerreiro vingador e deslizava seus lábios por todo o corpo atlético de Uzuki. O gosto salgado do suor, os gemidos de seu amado e o pau de Uzuki latejando lá embaixo fizeram o rapaz lamber o corpo do samurai com mais intensidade e prazer. O pênis de Uzuki estava duro e molhado com o pré-gozo que tivera ao ser lambido por seu pequeno de cabelos castanhos.
        Kiang levou suas mãos dos ombros de Uzuki até o pênis duro entre as pernas do samurai, depois o colocara na boca e chupou como se o mundo fosse acabar. A floresta em volta sussurrava com o vento e as folhas nas árvores cantavam em honra ao amor dos apaixonados. Uzuki gemia cada vez que Kiang chupava seu pênis, o aprendiz de ferreiro acariciava o corpo do samurai com a mão esquerda e massageava as bolas com a direita enquanto o pau do guerreiro latejava em sua boa quente.
        O garoto retirou sua boca daquele pênis molhado e latejante e foi engatinhando até a boca de seu amado onde deixou outro beijo quente. Kiang estava corado e suado, seu corpo exigia o de Uzuki, ele só ficaria completo quando aquele homem estivesse dentro dele. O rapaz foi com cuidado e subiu em seu guerreiro de forma que sua bunda ficasse em cima do pênis de Uzuki.
        -Você é meu e eu sou seu. – Disse o jovem.
        - Sou apenas seu meu amor. – Respondeu o samurai.
        Kiang seguro o pênis de Uzuki e o colocou dentro de seu ânus, gemeu alto no meio da floresta e as árvores pareceram responder. Kiang estava lá, sentado em cima do pênis do homem que amava e começou a cavalgar lentamente. Era como se seu corpo estivesse em chamas, ambos suavam, um dentro do outro, um completando o outro.
        - Sim! – gemia Uzuki com seu pênis dentro daquele cu apertado. – Assim meu amor. Hã!
        Kiang estava gemendo alto e cavalgando cada vez mais rápido, Uzuki começou acariciar a coxa do rapaz com uma das mãos e com a outra começou a punhetar o aprendiz que cavalgava com seu pênis ereto e balançando. Ambos gemiam como em uníssono. Era prazer, suor, desejo, fogo, terra, duas espadas ao chão e um homem completando outro. Kiang cavalava e o pau do samurai entrava cada vez mais fundo até que em sincronia os dois gozaram fortemente.
        Cansado Kiang caiu ao lado de seu amor e os dois se abraçaram nas folhas caídas da floresta e entraram num sono quieto e apaixonante.
        

                                                                                                        Fim.

Foto 1 do Conto erotico: Kabuki part. 2


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Comentários


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morsolix Comentou em 11/12/2017

Uma estória com enredo.Adorei.

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ksn57 Comentou em 11/12/2017

Historia interessante e muito bem escrita, gostei e tem meu voto.




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Kabuki part. 2 "O canto das espadas"

Codigo do conto:
110159

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
11/12/2017

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