Passo a passo, Jurgen aproximou-se da jovem que permanecia sentada sobre seus joelhos, com a cabeça baixa e os braços estendidos ao longo do corpo; ele apreciou aquele corpo jovem e viçoso, sentindo a excitação borbulhar em seu interior; o alemão não conseguia resistir ao chamado do desejo que clamava por todos os seus poros, sabedor de que, naquela noite, Helen queria uma única coisa: entregar-se a ele!
Repentinamente, a jovem levantou um dos braços apanhando um objeto que jazia sobre a cama; com surpresa, Jurgen viu tratar-se de seu chicote de montaria. Helen segurou o objeto com ambas as mãos e levantou os braços, oferecendo-o ao alemão em uma clara demonstração de que estava disposta a servir aos desejos de seu senhorio. O oficial alemão, olhou para aquela cena e sentiu-se vencido pela vontade, agora incontrolável, de servir-se do corpo e também da alma daquela mulher.
Todavia, mais uma vez, ele surpreendeu sua parceira; aproximando-se ainda mais dela, ele tomou o chicote com uma das mãos, atirando-o para longe; em seguida, ele tomou-a pelos braços, fazendo com que ela se levantasse. “Dispa-me!”, ordenou ele com rispidez; Helen, ainda sem encarar seu parceiro, obedeceu, tornando a ajoelhar-se a fim de tirar-lhe as botas, o que fez com muita atenção e cuidado. Novamente, ficou em pé, e desabotoou a camisa, girando em torno de Jurgen e retirando a veste pelos braços estendidos.
Em poucos instantes, o alemão estava nu, exibindo toda a sua excitação revelada sob a forma de um membro rijo e ereto; Helen não foi capaz de evitar um olhar guloso sobre aquele instrumento em riste, que significava a consecução de tudo que ela sempre ansiara. E não foi preciso palavras para que ela se ajoelha-se em frente ao alemão, tomando em sua boca o membro rijo cuja dureza ela, finalmente, pode sentir.
Depois de usufruir a destreza oral de sua parceira, Jurgen tomou-a nos braços e fê-la posicionar-se de quatro sobre a cama, pois, o que ele desejava era algo que ela sabia ser seu objeto de desejo, e por essa razão, Helen não ofereceu nenhuma resistência, deixando-se conduzir docemente. Jurgen, por sua vez, cego de desejo e excitação, segurou sua presa pelas ancas, impulsionando sua pélvis em franco ataque ao botão virgem da holandesa.
O primeiro golpe forçou Helen a sufocar um grito enterrando seu rosto em um travesseiro oportuno; e os golpes sempre furiosos do alemão impingiram ainda mais dor e sofrimento a ela, que, de todas as formas, resistia sabendo que era aquilo que ele desejava …, ela sabia que Jurgen sentia um enorme prazer ao possuir e submeter uma mulher, como uma simbólica expressão do poderio de seu povo, resumido à dominação que ele impunha às fêmeas das raças “inferiores”; ela também sabia que Anette recusara-se a aceitar tal humilhação, já que supunha haver mais que desejo carnal entre eles. Então, aquele era seu momento …, único e especial.
Sofrendo as agruras do desejo animalesco de Jurgen, Helen resistiu. E mesmo quando, após muito tempo, a dor foi sucumbindo a uma expressiva sensação de prazer, ela deixou-se levar por uma encenação que, certamente, elevaria a sensação de domínio do parceiro, que precisava daquilo para sentir-se ainda mais macho e mais poderoso.
A ejaculação também aconteceu como uma onda quente e viscosa, invadindo as entranhas da jovem holandesa, deixando-a ao sabor dos últimos golpes desferidos pelo membro viril de seu parceiro; minutos depois, Jurgen estava deitado sobre a cama, vencido, prostrado, suado e exausto. Helen bem que teve ímpetos de deitar sua cabeça sobre o peito largo do alemão, mas não ousou, supondo que, caso o fizesse, poderia, deliberadamente, incitar o senhorio, que, por sua vez, poderia irritar-se ao ponto de escorraçá-la do quarto ao sabor do seu chicote. Por isso mesmo, ela retirou-se do recinto sem ser notada, caminhando com dificuldade em direção ao alojamento nos fundos da cozinha.
Nos dias que se seguiram após aquele “incidente”, segundo o próprio alemão, nada foi dito; as conversas entre Jurgen e Anette resumiam-se ao essencial, e mesmo quando ele tentava uma abordagem mais intimista, ela recuava, limitando-se a proteger-se de uma eventual agressão. Jurgen jamais ousaria agredir Anette; o que ele sentia por ela beirava um amor inconfessável, que precisava ser reprimido dada as circunstâncias em que ambos se encontravam.
Quanto a Helen, Jurgen também mantinha o habitual silêncio que sempre reinou entre eles. Nos poucos momentos em que ela ousava dirigir-lhe a palavra, o alemão limitava-se a respostas lacônicas, acenos de cabeça e comentários monossilábicos. A holandesa se contentava com as migalhas de atenção de seu senhorio, pois, em seu íntimo, ela nutria a esperança que, em algum momento, ele a veria com outros olhos …, com os mesmos olhos que mirava Anette.
Certa tarde, Jurgen voltou correndo para casa, acompanhado do cabo Mayer; ambos entraram na residência como um furacão descontrolado; enquanto arrumavam suas coisas ante os olhos perplexos de Anette e Helen, Jurgen ordenava à francesa que arrumasse seus pertences pessoais, pois, ainda naquela noite eles sairiam de Paris, primeiramente, rumo à Berlim e, depois, conforme soprassem os ventos da guerra, fugiriam para a Suíça, valendo-se de sua neutralidade e também de documentos falsos já obtidos com antecedência.
Sem esperar por resposta, ele deu ordens ao cabo Mayer para que providenciasse a destruição de vários documentos, relatórios e outros papéis que poderiam ser incriminadores. Os dois soldados corriam de um lado para o outro, pegando coisas, empacotando tudo que encontravam pela frente …, alheio aos olhares das duas mulheres, a preocupação de Jurgen concentrava-se em eliminar qualquer rastro de sua presença na França ocupada, o que lhe asseguraria uma fuga segura, seja para Berlim, seja para a Suíça …, ou qualquer outro lugarem que pudesse encontrar abrigo e esconderijo.
Perplexa e sem ação, Anette afastou-se de Jurgen, e após um momento de hesitação, ela criou coragem e disse que não o acompanharia naquela empreitada. O oficial alemão quedou-se, por um instante, observando o rosto da mulher francesa, tentando compreender porque ela se recusaria a fugir com ele. “Você sofrerá acusações de ter acobertado e trabalhado para um alemão!”, ele disse com voz firme; “Ninguém te dará guarida, muito menos compreensão …, você vai sofrer, Anette!”, ele prosseguiu em tom de ameaça.
-Não me importo – ela respondeu em tom suave e resignado – Sei do meu destino …, e ele não será escrito com fugas, mentiras e alienações …, lamento, Herr Captain …, eu ficarei …
Jurgen quedou-se perplexo ante a decisão de Anette, mas os olhares quase desesperados do cabo Mayer denunciavam a urgência que o momento exigia; incontinenti, Jurgen prosseguiu com sua tarefa. Correu até seu quarto, onde, para sua surpresa, encontrou Helen, usando um capote marrom e segurando uma pequena mala de couro. “Onde você pensa que vai?”, perguntou o oficial, sem interromper o que fora fazer.
-Eu vou com o Senhor – ela respondeu, com voz miúda – Vou para servi-lo …, para fazer de mim o que quiseres, meu senhor …
-Basta! – gritou Jurgen sem olhar para Helen – Não há lugar para você junto comigo …, esqueça essa ideia e procure ajuda …, em alguns dias os militares aliados estarão às portas de Paris …, e, então, minha cara, sua vida não valerá uma moeda furada!
E assim, Jurgen deixou a jovem holandesa aturdida com suas palavras e ensimesmada com seus pensamentos …
Nos dias que se seguiram, os alemães fugiram de Paris, enquanto, ainda enfrentando resistência esporádica, os militares aliados tomavam conta da cidade. Logo, o governo colaboracionista de Vichy caiu e o governo provisório instalado em Londres retornou triunfante, trazendo à sua frente o General De Gaulle.
Anette foi retirada de sua casa por um grupo de franceses revoltados que ansiavam por vingança com aqueles que, de alguma forma, houvessem colaborado com os invasores alemães; sob uma chuva de tapas, socos, chutes e bofetões, ela foi levada até uma pequena praça onde outras mulheres aguardavam sua sorte. Todas tiveram seus cabelos raspados e suas vestes rasgadas, com uma forma de execração pública, a qual perduraria até que o ódio desaparecesse, ou elas sofressem com os suplícios que ainda lhe seriam impostos.
Enquanto aguardava sua sorte, Anette olhou para o fim da rua e pode ver a silhueta de Helen; ela ainda vestia o capote marrom e tinha nas mãos a pequena maleta de viagem …, mesmo à distância, elas se olharam …, não havia nenhum sentimento, nenhuma manifestação …, apenas o silêncio e a profunda tristeza em seus rostos …, cada uma seguiria sua sorte …, e a de Anette certamente já estava selada. A partir daquele momento ela era apenas mais uma “cabeça raspada” que serviria de exemplo, satisfazendo o ódio coletivo de seus compatriotas, que mal faziam ideia de que ela era filha de judeus e que estivera sob o mesmo teto com um oficial alemão apenas porque ele se apaixonara por ela …, mas, tudo isso não tinha nenhuma importância …, Anette era uma “cabeça raspada”, uma traidora e pelo resto de sua vida assim seria vista.
Helen seguiu seu caminho, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, poderia ser denunciada como colaboracionista, como também sabia que fora recusada pelo único homem a quem se entregara sem restrições, e que isso doía muito mais do que tudo …, ela sabia bem de sua sina. Dias depois, ela também era uma “cabeça raspada”, vítima do ódio coletivo e do desejo de vingança de um povo que fora subjugado e humilhado por tempo demais.