ANTES DE PARTIR

A enfermeira Glenda Collins olhava o final de tarde em um dos cais de Portsmouth onde uma enorme confusão de homens, máquinas e navios ficava ao largo da visão do horizonte cinza, que mais parecia uma figura fantasmagórica, anunciando o que estava por vir, pois, afinal, faltavam menos de dois dias para o início da “Operação Overlord”, um esforço conjunto das forças militares aliadas com a finalidade de derrotar o domínio alemão na Europa.

Ela fora recrutada nos Estados Unidos, como enfermeira chefe de uma equipe de apoio médico que embarcaria em um dos diversos navios hospitais, que seguiriam na retaguarda e que, após o desembarque militar acompanhariam as forças expedicionárias prestando suporte aos soldados feridos.

Depois de um curso de três semanas em uma cidade nos arredores de Londres, a fim de atualizar as profissionais dos recentíssimos aparatos de apoio médico, cirúrgico e clínico, bem como de novas técnicas de suporte à vida, Glenda e suas meninas foram transferidas para a região portuária, onde receberam algum treinamento militar, como o correto uso de pistolas, fuzis e metralhadoras.

E agora, após tanto esforço, se aproximava o momento em que tudo se consumaria em um ataque militar maciço e sem precedentes na história da humanidade; esse pensamento orbitava a mente da enfermeira que não tinha a mínima ideia do que seriam os dias seguintes …, apenas a incerteza e o medo que precisavam ser domados minuto após minutos.

Ela fitava o horizonte enquanto fumava um cigarro, depois de uma refeição de campanha e várias xícaras de café; sua ansiedade era a ansiedade de milhões de homens e mulheres que mundo afora participavam, de alguma forma, daquela operação como agarrados à última esperança de derrotar um exército que, até aquele momento, mostrara-se terrivelmente hábil em conquistar e submeter.

Por essa razão aquele “ola!”, vindo de uma rampa lateral ao ponto onde ela se encontrava, soou tão acolhedor para resgatá-la de seus próprios temores inconfessáveis; ao olhar para a figura masculina que se aproximava, Glenda, imediatamente, reconheceu o andar discreto do cabo da infantaria inglesa James Donavan; Donavan era um soldado com certa experiência, e embora aparentasse jovialidade, era um homem de trinta e poucos anos. As marcas em seu rosto e as mãos duras e fortes eram seu testemunho de experiência em combate.

Ao mesmo tempo, Donavan tinha um carisma e uma doçura que, desde o primeiro momento, encantaram a enfermeira americana; Glenda gostava da companhia do soldado inglês, e isso tornou-se mais intenso durante os treinamentos em que ele era um dos orientadores, e sempre tratara todas as meninas da equipe de Glenda com enorme carinho e respeito. Era, sem dúvida, um cavalheiro.

Donavan de aproximou de Glenda e a cumprimento com um gesto de cabeça; ela sorriu de volta, jogando a bituca no chão e tornando a procurar outro cigarro; assim que o colocou entre os dedos, o cabo aproximou a chama de seu isqueiro em um gesto de gentileza. Glenda inclinou-se para incendiar a ponta de seu cigarro, agradecendo o gesto em seguida.

-Qual deles é o seu, cabo – ela perguntou mirando para o porto abaixo, onde dezenas de vasos de guerra estavam atracados a espera da ansiada partida.
-Embarcaremos naquele cruzador real – ele respondeu apontando para a belonave mais distante onde se via balançar ao vento a bandeira inglesa – E qual deles é o seu?

-Nossas embarcações estão mais ao norte – Glenda respondeu, soltando uma baforada – elas seguirão bem atrás de vocês …, recolheremos feridos e somente após a confirmação de que o terreno é seguro desembarcaremos …

-Então, vocês não ficarão no mar por muito tempo! – ele interrompeu com um tom animado – Vamos chutar os traseiros dos malditos alemães antes mesmo que eles consigam nos ver …

-Adorável seu entusiasmo, cabo! – comentou Glenda com um sorriso entre os lábios – De qualquer modo minhas meninas e eu estamos prontas …, nossa, o que eu daria agora por um gole de uísque!

-Olhe, enfermeira – disse Donavan com um ar sério – Acho que é algo que posso dar um jeito …

-Como? – questionou ela, com um ar de espanto.

-Espere aqui, que eu já volto – disse o cabo enquanto corria por entre as sombras dos contêineres que pareciam formar um labirinto sem fim.

Novamente, Glenda estava só, ensimesmada com as preocupações de quem estava às portas da maior e mais perigosa aventura de toda a sua vida; e ela estava tão absorta que tomou um susto quando uma mão estendeu-lhe uma caneca de metal; ela olhou para o dono da mão e constatou que se tratava de Donavan, trazendo consigo duas canecas e uma pequena garrafa.

-Tome, enfermeira – disse ele enquanto emborcava – Talvez hoje não seja o melhor dia para nos embebedar …, mas, quem sabe …, talvez não haja outro.

Em pouco mais de meia hora, o casal conseguira esvaziar a garrafa de uísque; estavam “altos”, mas ainda assim conscientes de seu futuro comum. Fumavam mais um cigarro, em silêncio, pois palavras não preencheriam o vazio de suas almas e a aflição que rondava seus corações.

-Acho que eu tomaria mais uns tragos! – comentou Glenda, como se apenas expressasse com palavras todos seus sentimentos naquele momento.

-E eu te beijaria – emendou Donavan, sem pensar nas palavras – Apenas um beijo antes de partir …

-Estou precisando me sentir aquecida – disse Glenda também ignorando a profusão de palavras.

Repentinamente, o cabo e a enfermeira estavam enlaçados, beijando-se com enorme e indescritível ardor …, um ardor fora de hora, mas providencial para o que estava por vir. Donavan enlaçou Glenda com seus braços, apertando-a contra si, em uma clara demonstração do desejo que sentia por ela …, um desejo casual, mas também voluntário, ao qual a enfermeira correspondia deixando seu corpo ser envolvido por uma onda de desejo.

Muitos beijos depois, o desejo tornara-se incontrolável, e o casal já não mais podia evitar o que estava por vir …, eles precisavam aproveitar o momento, o desejo e o fogo que ardia no interior de seus corpos.

-Vamos sair daqui! – disse Glenda com a voz embargada e incerta.

-Vamos! – concordou Donavan, tomando-a pela mão – Venha, conheço um lugar onde podemos ficar mais à vontade …

Andando a passo largo, e trazendo Glenda a reboque, Donavan serpenteou pelas ruas formadas por enormes colunas de contêineres, demonstrando que conhecia muito bem todos os caminhos ali formados e deixando a enfermeira quase tonta de tantas curvas e paradas repentinas. Depois de minutos que mais pareceram horas, eles chegaram ao destino desejado.

Tratava-se de um galpão de pé direito alto, com comportas da mesma altura, onde se vislumbrava uma portinhola de menor estatura, cuja finalidade era permitir a entrada e saída de pessoas e não de maquinário pesado. Donavan olhou para Glenda e sorriu; correram na direção da porta, e entraram …

Donavan tateou no escuro até encontrar um conjunto de interruptores; acendeu a luz que iluminava a área mais próxima de onde estavam.

-O que é isso? – perguntou a enfermeira curiosa e um tanto preocupada.

-É um velho galpão para armazenamento de suprimentos auxiliares – respondeu o cabo, tornando a enlaçar Glenda pela cintura – Pouquíssimas pessoas veem até aqui …

-E o que você pretende fazer aqui, cabo? – tornou a perguntar a enfermeira, com um sorriso malicioso iluminando seu rosto.

-Pensei que aqui fosse o lugar ideal – respondeu ele, apertando-a ainda mais contra seu corpo – Um lugar para que eu pudesse saciar todos os desejos de uma mulher que, assim como eu, está partindo rumo ao desconhecido!

-Todos os desejos? – ela questionou em tom provocador – Acho que você está se superestimando, cabo!

-Então, espere um pouco! – ele respondeu, enquanto corria na direção de algumas caixas de madeira.

Donavan fuçou …, fuçou …, e depois de algum tempo, ele havia montado duas camas de campanha, cobrindo-as com tecido de paraquedas; em seguida, correu até a luminária, e subindo em uma pequena escada de apoio, moveu a haste da luminária, de tal modo que ela projetasse seu facho na direção da cama, cobrindo-a parcialmente com uma pequena tampa de metal.

Ao saltar da escada, olhou para Glenda que, por sua vez, sorria com a criatividade do soldado. E antes que ela pudesse fazer qualquer comentário, o cabo aproximou-se, enlaçou-a e sua boca procurou pela dela, selando mais um beijo ardente. Enquanto apreciava a ousadia do soldado, Glenda soltou o broche que prendia sua capa azul-marinho, deixando que ela escorresse até o chão.

O que se sucedeu foi uma avalanche de gestos e movimentos carregados de desejo e de paixão; em poucos minutos, Glenda estava apenas de lingerie, permitindo que Donavan saboreasse com seus olhos o corpo escultural da enfermeira norte-americana; sem perder a oportunidade, ele ajudou-a a livrar-se das únicas peças de roupa que o separavam da antevisão do paraíso.

Quase que hipnotizado, ele perdeu-se na beleza dos seios de sua parceira; suavemente, ele sentiu sua maciez e calor; brincou com os mamilos intumescidos, para, logo a seguir, tomá-los na sua boca, sugando-os com carinho; Glenda acariciou os cabelos do soldado, gemendo baixinho, apreciando a carícia íntima.

No momento seguinte, foi ela quem o ajudou a despir-se, exibindo sua nudez máscula e viril; Glenda, por alguns minutos, observou o corpo de seu parceiro: Donavan não tinha um porte atlético, mas, ao mesmo tempo, tinha um corpo enxuto, bem cuidado e com formas bem definidas; era um homem que qualquer mulher desejaria em sua cama …, e naquele momento, olhando para a virilidade dele exibindo-se orgulhosamente, a enfermeira sentiu em seu interior um desejo pulsar vibrante.

Eles se engalfinharam, abraçando-se e apalpando-se quase furiosamente; sentir o corpo masculino roçando toda a sua pele, causava em Glenda uma sensação indescritível de aconchego e de proteção; ela entregou-se às carícias do soldado, deixando que ele explorasse todas as suas intimidades; sua boca prescrutou sua púbis úmida e quente, deliciando-se com seu sabor agridoce.

E num instante, Glenda experimentava um gozo único e especial que a fez gemer de prazer, sentindo seu corpo sacudido por estertores que a deixavam a mercê do macho que a possuía. Ela tocou o membro rígido de Donavan, apreciando suas dimensões e sua firmeza alarmante. Desejou ser penetrada por ele, como se fosse a última vez em sua vida.

Todavia, quando o soldado inglês ousou fazê-lo, ela tomou uma iniciativa inesperada …, empurrando o rapaz para a cama, subiu sobre ele, cavalgando-o com a ousadia de uma amazona sensual. Ela subia e descia sobre o membro ereto de seu parceiro, sorvendo todo o prazer que lhe era proporcionado com uma onda de gozos intensos e que pareciam não ter mais fim …

Naquele velho galpão, há poucas horas da maior ofensiva militar da história da humanidade, a enfermeira norte-americana e o cabo inglês estavam entregues ao idílio do corpo e também da alma …, beijos, carícias, gozos, suspiros gemidos …, Glenda perdeu-se na imensa onda de prazer que Donavam lhe proporcionava.

Cada gozo era mais vigoroso que o anterior, e ela jamais poderia imaginar que aquele homem seria o único a fazê-la sentir-se fêmea …, mesmo que fosse a última vez em sua vida, ela guardaria em seu âmago o gozo, o gemido.

E quando ela se deu por vencida pelo intenso prazer que varria seu corpo, Donavan ainda tinha energia para prosseguir; segurando-a pela cintura, ele girou o corpo sobre a cama, colocando sua parceira sob ele, que prosseguiu golpeando com um vigor renovado, e fazendo sobrevir mais orgasmos em sua parceira, que sentia-se dominada pela virilidade do filho da guerra. E nesse clima tonitruante, Donavan, após um grito surdo, despejou seu sêmen quente caudaloso no interior de sua parceira, encerrando o que foi uma noite para jamais ser esquecida.

EPÍLOGO.

Derrotados pelo prazer e exaustos pelo delicioso esforço, Glenda e Donavan adormeceram pesadamente, acordando apenas com o apito estridente e distante de algum Vaso de Guerra preparando-se para o que estava por vir. Ao entreabrir os olhos, ainda tentando acostumar-se com a luminosidade difusa que tomava conta do ambiente, Donavan tateou em busca do corpo quente e macio de Glenda …

…, mas, ele nada encontrou, constatando que estava só sobre a cama improvisada; o soldado sentiu-se tomado por uma tristeza incomum, sentimento que ele poucas vezes experimentara com a intensidade daquela manhã; levantou-se, procurando por suas roupas; ao tocar sua camiseta, percebeu algo preso a ela; era um broche com o símbolo da cruz vermelha, utilizados pelas enfermeiras para prender a gola do casaco azul-marinho típico de seus uniformes.

Junto com ele, um bilhete com os dizeres: “Detesto despedidas! Elas jamais são suportáveis …, fique com este broche não como um presente, mas com o eterno lembrete de como você tornou feliz a noite de uma mulher! Obrigado e cuide-se”.

Muitos meses após o dia “D”, em um hospital de campanha improvisado em uma instalação na fronteira oriental da França, Glenda cuidava de seus afazeres, recebendo ainda centenas de soldados feridos, cujas lamúrias e os gemidos tornavam ainda mais difícil o seu trabalho. Todavia, um olhar não intencional conduziu sua atenção para dois soldados que chegavam; um deles carregava o companheiro apoiado pelo braço por sobre o ombro, enquanto o outro cambaleava titubeante, demonstrando a gravidade de seu estado.

Imediatamente, Glenda reconheceu Donavan como o soldado que trazia o companheiro para o primeiro atendimento. Glenda correu até eles, e ajudou-o a colocar seu colega sobre uma maca, chamando uma outra enfermeira para ajudá-la a prestar o primeiro atendimento.

Quando deu por si, Donavan já não estava mais ali; e ao sair para fumar um cigarro, viu o cabo inglês, sentado na escadaria da Igreja semidestruída que ficava do outro lado da rua. Foi até ele, e sentou-se ao seu lado. Não conversaram, apenas apreciaram a companhia um do outro, usufruindo de rostos amigos, sorrisos e trejeitos.

Em poucos minutos, ele se levantou, pegou sua arma e seu capacete; deu um passo, mas voltou-se logo em seguida; tomou a enfermeira nos braços e puxou-a para si, encerrando um beijo há muito ansiado. “Quando essa maldita guerra acabar, eu vou te procurar …, vou te encontrar …, e vou me casar”, ele sussurrou em seu ouvido, partindo logo em seguida. Glenda, incapaz de reagir ante a frase sussurrada, limitou-se a ver Donavan partir …

Anos depois, trabalhando em um hospital para veteranos em Londres, Glenda recebeu a visita de um soldado; era um fuzileiro real, e ela não demorou a reconhecer naquele rosto o rapaz que fora trazido por Donavan para ser socorrido. Ela tentou esboçar um sorriso, mas, ao ver o que ele trazia nas mãos, o sorriso foi sufocado por um soluço seguido de copiosas lágrimas que rolavam por seu rosto.

Ele tinha nas mãos o broche que ela deixara para o cabo inglês …, caindo de joelhos ela foi confortada pelo gentil fuzileiro …, e nada precisou ser dito.

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Comentários


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aventura.ctba Comentou em 08/03/2018

Que delicia de conto, fiquei excitadíssima enquanto lia, votado com certeza! Adoraria sua visita na minha página...bjs Ângela

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garota-veneno Comentou em 07/03/2018

Essas histórias me enchem de tesao!

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Comentou em 07/03/2018

Ameiii




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Ficha do conto

Foto Perfil trovão
bemamado

Nome do conto:
ANTES DE PARTIR

Codigo do conto:
114101

Categoria:
Fantasias

Data da Publicação:
06/03/2018

Quant.de Votos:
5

Quant.de Fotos:
2