Do terraço superior do palácio principal, ele observava o horizonte, esperando que Ravena e sua comitiva surgissem subitamente, anunciando sua chegada e com ela as ameaças que ela poderia representar. Um toque suave em seu ombro o tomou de sobressalto …, era Néfer, a sacerdotisa do Templo de Ísis.
-O que preocupa o Escriba Chefe nesta noite suave? – ela perguntou com sua voz doce.
-Ravena está de volta! – ele disse em tom de alerta – E com ela …, bem, você sabe …
-Ela já está aqui – respondeu Néfer sem demonstrar preocupação – Ela chegou pelo portão leste, vinda do porto …
-E onde ela está? – quis saber Senmut com tom impaciente.
-No Templo da Ísis Negra – respondeu Néfer, incapaz de esconder um certo temor em sua voz – Ela pediu que ninguém soubesse de sua chegada, exceto o próprio Faraó.
-E o que ele disse a respeito disso? – tornou a perguntar o Escriba.
-Disse apenas que ela poderia ficar, desde que não saísse dos domínios do Templo de Ísis – respondeu a Sacerdotisa – E pediu para vê-lo …
-A mim? – ele bradou, incrédulo – O que aquela rameira vulgar quer de mim?
Néfer ficou perplexa com a expressão do Escriba Chefe ao proferir aquelas palavras grosseiras; ela conhecia Senmut desde a infância e jamais o viu irritar-se ao ponto de esbravejar daquela maneira rude. Percebendo que sua atitude causara impacto em sua interlocutora, o queixo-duro inclinou-se e pediu desculpas. Em seguida, afastou-se da Sacerdotisa, caminhando em direção à cidade do Templo.
Assim que ganhou a rua viu-se acompanhado por quatro guerreiros da infantaria real, que compunham sua escolta pessoal; avançaram em direção ao portão principal que dava acesso ao conjunto fortificado. Em posição de alerta, dois lanceiros colocaram-se em posição de combate, mas, no momento em que viram de quem se tratava retornaram à posição atenção, saudando o Escriba como de costume.
Do lado de dentro dos muros, Senmut ordenou a seus guardas que esperassem por ele na casa de vigília, onde outros guerreiros mantinham-se em estado de atenção. Olhou para frente e vislumbrou o Templo de Ísis Negra, a deusa do caos, necessária aos excessos da ordem …, também era a deusa da libertação …, do desejo e da purificação …, embora houvessem sacerdotes, o templo era cuidado por sacerdotisas, mulheres escolhidas desde a tenra infância para frequentarem o Templo e aprender seus segredos.
No pórtico de entrada do Templo, duas sacerdotisas o aguardavam, como se soubessem de sua chegada. Ele perfilou-se em frente a elas e esperou pela aclamação que o autorizava a adentrar ao Templo.
-Seja bem-vindo, Escriba Chefe! – saudou uma delas com um sorriso insinuante – Tu sabes que para entrares neste Templo, deves obedecer as normas …
Antes que a jovem sacerdotisa encerrasse seu discurso, Senmut desafivelou o cinturão onde trazia sua espada Khopesh, entregando-a para a outra jovem sacerdotisa; sem hesitar, o Escriba despiu-se de suas vestes, mostrando sua nudez aos olhos gulosos das jovens. As expressões em seus rostos e os sorrisos indisfarçados, denunciavam que a visão da nudez do homem de meia-idade havia lhes despertado um interesse incomum.
Sem esperar por outra reação, Senmut avançou pelo pórtico, adentrando ao Templo; pelo longo corredor, Senmut viu-se ladeado por homens nus; eram guerreiros, servos, sacerdotes e escravos; alguns deles estrangeiros. O Escriba notou um guerreiro Númida, cuja pela escura e brilhante realçavam sua musculatura avantajada, assim como um bárbaro das terras do norte, com sua pele alva e coberta por estranhas tatuagens.
Todos eles formavam uma espécie de corredor humano ao longo do caminho que conduzia ao átrio central onde estava o salão de oferendas, o altar de culto da deusa e a tenda reservada, que servia de área de descanso e repouso. Já dentro do átrio, Senmut vislumbrou a figura voluptuosa de Ravena que, nua, estava deitada de lado em uma longa cadeira de vime, couro e tecido. Ao vê-lo, a princesa sorriu e o saudou:
-Que bela surpresa! Sua visita muito me agrada, Chefe dos Escribas …
-Não se trata de uma visita, princesa – ele respondeu com tom solene, sem interromper sua caminhada na direção dela – Ao que sei, fui chamado à sua presença, e, então, aqui estou …
-Ah! Entendo – ela disse, interrompendo o Escriba, e tentando esconder a ponta de ironia em seu tom de voz – Eu chamei você porque preciso de uma autorização para obter gêneros alimentícios para meus seguidores junto aos escribas que controlam a silagem …, também preciso de um aval de crédito em moedas para alguns pagamentos que preciso realizar …
-Apenas isso? – perguntou o escriba, interrompendo a princesa bastarda – Se assim o for, fornecerei as autorizações imediatamente …, quanto o aval de crédito …, preciso me reunir com o Faraó …
-Ele não vai se opor – foi ela quem interrompeu – Afinal, sou filha da rainha e gozo de certos privilégios …
-Se não há mais nada para tratar – disse Senmut, já com certa irritação – peço licença para me retirar …
O escriba não esperou por resposta, dando as costas para a princesa e caminhando em direção à saída. Entretanto, ele não conseguiu concluir seu intento, já que dois sacerdotes munidos e lanças curtas, colocaram-se à sua frente, impedindo que ele continuasse.
Ele, então, se voltou para o átrio, onde Ravena estava de pé, olhando para ele. “Vou considerar sua postura como fruto de um arroubo injustificado, baseado em um preconceito a meu respeito …, mas, apenas desta vez …, que isso não se repita!”, ela asseverou com voz grave, e uma pontinha de ironia. Senmut curvou-se em solene reverência e retomou seu caminho.
Já do lado de fora dos domínios do templo da Ísis Negra, e devidamente vestido, Senmut dispensou sua guarda pessoal e rumou para outra edificação que situava-se atrás do palácio principal …, era a provedoria, de onde ele e seus subordinados controlavam e administravam os recursos do reino. Senmut entrou e mal percebeu a presença de outros escribas dedicados às suas tarefas. Foi para a ala onde situavam-se seus aposentos pessoais; apenas o Escriba Chefe tinha direito a aposentos dentro da provedoria …, cargo que Senmut há muito ocupava, graças ao voto de confiança que a Rainha lhe concedera …
A Rainha …, a Nobre Dama das terras do norte, como ele a conhecera desde a tenra infância; Senmut fora incumbido de cuidar daquela criança linda e sorridente que estava prometida para ser a próxima rainha do Nilo, pois, quando atingisse a maioridade, ela seria desposada por Tutmés II, o futuro Faraó.
Com o passar dos anos, o afeto de queixo-duro pela jovem aprimorou-se e também aprofundou-se, e Senmut viu-se enredado por uma paixão inominável por sua protegida. Lutou com todas as forças contra essa paixão avassaladora, beirando às raias da autoflagelação, e teria vencido não fosse uma noite …, apenas uma noite.
Ele e Nobre Dama estavam a sós no palacete em que ela residia, meses antes de concretizar sua união com o Faraó, e ela confessou-lhe o desejo que nutria pelo queixo-duro; aquele olhar doce de olhos cintilantes, um sorriso tímido, mas repleto de intenções, foram as setas que perfuraram a couraça moral do escriba, tornando-o um boneco manipulável nas mãos da deusa Bastet, rendendo-se ao desejo que ardia entre suas pernas e dentro de seu peito.
Com a delicadeza de um cavalheiro, ele despiu sua amada, explorando cada centímetro de sua pele cor de bronze, quente e macia; deteve-se nos mamilos intumescidos que pareciam implorar para ser objeto de prazer do escriba; ele os sugou avidamente, alternando-os dentro de sua boca sequiosa, cuja língua atrevida extraiu uma sequência quase infindável de suspiros da jovem, que deliciou-se com a carícia.
Senmut fez com que ela se deitasse sobre um largo divã de vime coberto por peles, mergulhando seu rosto entre as pernas da jovem, deixando que sua boca insaciável encontra-se o pequeno músculo que pulsava no interior da gruta morna e úmida; ele inebriava-se com o odor perfumado e sabor adocicado do líquido que vertia da vulva quente de sua amada, sorvendo-o com carinho, enquanto sua língua saboreava ainda mais aquela flor de carne.
Nobre Dama exasperou-se ante a primeira onda de prazer, e gemeu longamente quando os primeiros orgasmos sobrevieram, fazendo seu corpo ser sacudido por insanos espasmos, e arrepios serpentearem ao longo de sua pele. Senmut não se rendeu ao delírio que provocara no corpo de sua amada, prolongando-se em propiciar ainda mais prazer a ela. Não se dando por vencida ante o delicioso assédio oral de seu tutor, Nobre Dama balbuciou: “Vem, meu amor …, dá-me aquilo que mais almejo …, aquilo que mais desejo …, faz-me tua fêmea!”.
-Perdoa-me, minha criança! – ele respondeu, com tom de voz hesitante – Mas, não posso! Tu és a prometida do Faraó …, a futura Rainha do Nilo …, eu não posso!
Agindo movida apenas por puro impulso, Nobre Dama puxou para cima a túnica de Senmut, buscando o objeto de sua cobiça licenciosa; sentiu toda a dureza do membro do seu guardião, que passou a pulsar em sua mão; ela apertou aquele inquietante apêndice, fazendo o escriba gemer de prazer.
-Jamais serei de outro homem, como desejo pertencer a você! – ela declarou com voz lânguida – realiza o desejo que arde como chama eterna em meu interior …
Senmut, vencido pela inebriante declaração de Nobre Dama, rendeu-se ao seu devaneio; ele ficou de pé e despiu-se, exibindo sua virilidade tonitruante que vibrava de modo insano. Ele a cobriu com seu corpo, deixando que seus sexos se encontrassem em um contato explosivo.
Ela gemeu de prazer ao sentir aquele membro enorme cutucar sua gruta intocada, e contorceu-se ao sentir o roçar entre seus lábios úmidos e carnudos da glande abusada; com uma estocada vigorosa, Senmut forçou a primeira invasão, obtendo um êxito que foi comemorado com gemidos e suspiros, enquanto as mãos dela cravavam as unhas em seus ombros musculosos.
Selando sua boca com um beijo, o queixo-duro avançou com movimentos pélvicos lentos e curtos, propiciando uma inédita sensação em sua amada que contorcia-se ainda mais, gemendo e mordendo o lóbulo de sua orelha; em total entrega aos delírios da carne, sob a égide da deusa Bastet, Senmut seguiu em seu intento, incentivado por sua amada.
Em dado momento, Nobre Dama soltou um gemido contido de dor, o que o fez cessar seus movimentos pélvicos; “não, meu amor …, não pare! Eu lhe imploro! Faça-me sua!, ela balbuciou, em tom de súplica. Senmut, então, encheu-se de um vigor renovado, e com movimentos mais contundentes, concluiu a penetração inicial, sentindo sua masculinidade enterrada nas entranhas de sua amada.
Seguiu-se, então, um frenesi de movimentos corporais que expressavam o desejo compartilhado e ansiado por ambos; pele contra pele, boca contra boca, beijos amalgamados, carícias sem fim …, Senmut estava em estado de êxtase …, o prazer usufruído por ambos parecia obedecer a uma conspiração conjurada pelo deuses no firmamento e tornada real na terra, naquele momento. O queixo-duro imprimiu mais ritmo aos seus movimentos, que foram correspondidos pela Nobre Dama, em uma sincronia mais que perfeita de corpos, desejos e realizações.
Em dado momento, o escriba sentiu um arrepio percorrer sua pele, e um espasmo anunciou que o fim estava muito próximo; ele anunciou o evento para sua amada, tencionando sacar-se de seu interior para que não houvesse consequências indesejáveis; entretanto, ela o segurou pela cintura, mantendo-o dentro de seu corpo. “Não faça isso!”, ela pediu em súplica. “Satisfaça teu prazer dentro de mim e deixe-me sentir essa onda caudalosa aquecer minhas entranhas …, vou te guardar comigo …, para sempre!”, ela insistiu com voz ansiosa e cheia de desejo.
Senmut viu-se arrebatado ante o delicioso apelo de Nobre Dama; intensificando ainda mais seus movimentos, ele, finalmente, atingiu o ápice, despejando sua carga quente e caudalosa no interior de sua amada …, o destino selara, para sempre, a vida de ambos.