Ryan saiu do carro e empertigou-se; arrumou o nó da gravata e colocou a boina negra sobre a cabeça, ajeitando o escudo de metal nela fixado; era a primeira vez que ele realizava essa incumbência desacompanhado de um “orientador”, já que a ideia era de ser o mais impessoal e discreto possível quando transmitir a “mensagem” para seus destinatários.
Após trancar o carro, ele atravessou a rua tranquila e arborizada daquele bairro residencial típico do centro-oeste americano. A medida em que se aproximava da casa que era o destino final de sua missão, o jovem soldado sentia seu coração acelerado e sua respiração acima do normal; respirou fundo e tornou a passada mais rítmica, até ver-se na frente da porta principal; tocou a campainha e manteve-se em posição de alerta.
Janine abriu a porta e arregalou os olhos ao ver Ryan …, controlou-se para não desabar em lágrimas, e depois de um sorriso forçado convidou-o a entrar; o soldado hesitou por um instante, já que lhe fora dito que, logo de início, ele deveria dar a notícia na porta da casa, recusando eventual convite para entrar, pois isso seria fora do protocolo. Entretanto, cativado pela beleza singular de Janine, Ryan tirou a boina, segurando-a nervosamente entre as mãos e acenou aceitando o convite.
Janine pediu que ele a acompanhasse até a cozinha, pois acabara de preparar um café; ela encheu uma caneca alta com a bebida quente e lhe ofereceu, indicando uma banqueta para que ele pudesse sentar-se. Ryan obedeceu a tudo como um autômato, esquecendo-se por alguns instantes da tarefa a que fora incumbido. Ele sorveu alguns goles do café, e em seguida, enfiou a mão dentro da jaqueta retirando um envelope branco com o brasão militar.
-Senhora Mayers – começou ele, torcendo para não ser interrompido – Em nome do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, e com enorme pensar, que lhe comunico o desaparecimento em ação de seu marido, o cabo Jonas Mayers …, lamentamos profundamente a sua perda, Senhora …
Embora o discurso ainda não chegara ao seu fim, Ryan foi obrigado a silenciar ante o choro descontrolado da jovem esposa que deixou sua caneca de café ir ao chão, enquanto tentava segurar-se na beira da bancada ao centro da cozinha. Ryan, imediatamente, levantou-se e correu até ela, segurando-a em seus braços.
Janine aninhou-se nos braços do soldado e desabou em um choro ainda mais intenso e desesperador. Permaneceram assim por algum tempo, até que Janine recompôs-se do choque inicial, pedindo mais informações ao soldado Ryan. Ele narrou detalhadamente o acontecido, sempre tomando cuidado para não distanciar-se do “script” que lhe fora durante o treinamento. A jovem viúva ouvi tudo demonstrando atenção, mas Ryan sabia que a dor era maior que a compreensão do que estava realmente acontecendo. Quando terminou sua narrativa ensaiada, Ryan desculpou-se pela forma como lhe dera a notícia e despediu-se tencionando ir embora. “Você poderia ficar um pouco mais, por favor?”, pediu Janine em tom choroso.
Inicialmente, o militar disse que não poderia demorar mais do que o esperado, pois seu pernoite seria no Forte Leslie e no dia seguinte retornaria para a capital, mas a insistência de Janine acabou minando suas forças e ele aquiesceu em ficar um pouco mais. Tomaram mais café e a jovem preparou algo para comerem.
No curso da refeição, Janine contou que seu marido não tinha familiares próximos, pois seus pais faleceram há alguns anos; contou ainda que o irmão mais velho de Jonas servia na Marinha, mas que raramente se viam. Disse ainda que os pais dela eram missionários e estavam em algum lugar da África, razão pela qual, ela estava só. Ryan tentou remediar o clima pesado contando que conhecera seu marido na Academia e que ele sempre fora bem-humorado e companheiro.
No fim da noite, já na porta da casa Ryan despediu-se de Janine; enquanto se afastava, ouviu a jovem perguntar: “Você tem telefone celular?”. O soldado estancou seus passos e sentiu um arrepio …, aquilo era totalmente contra o regulamento …, mas, mesmo assim, ele voltou para próximo da jovem e lhe deu um cartão. “Posso ligar …, digo, se precisar conversar com alguém?”, tornou a perguntar. Ryan limitou-se a acenar com a cabeça e foi embora sem olhar para trás.
Foi uma noite intranquila para o soldado, que rolou na cama sem sono e pensando em Janine; lembrava de seu olhar doce ainda marejado e sentiu uma vontade imensa de tê-la em seus braços, consolá-la e …, amá-la! Eram quatro horas da manhã quando seu celular vibrou anunciando a chegada de uma mensagem de texto.
“Se você puder, queria vê-lo mais uma vez. Venha tomar um café comigo, ou, quem sabe, poderíamos jantar. Janine”, dizia o texto. Ryan ficou surpreso e, ao mesmo, tempo, assustado com aquela mensagem. Lembrou-se dos ensinamentos do Sargento Russel sobre os perigos do envolvimento emocional com os destinatários das mensagens, e receou estar no limite da ética envolvida com seu trabalho.
Logo pela manhã, ele se apresentou ao oficial encarregado e depois das formalidades, pediu sua autorização para passar o dia na cidade, comprometendo-se a tomar o primeiro ônibus no dia seguinte em direção à base aérea de Edwards, onde embarcaria para a capital. O Major Roundtree não se opôs, inclusive, lhe indicando um restaurante, cuja comida era razoável e um motel onde ele poderia dormir. Ryan agradeceu e despediu-se do oficial.
Passou a manhã, zanzando pela cidade; tomou café da manhã em uma cafeteria cuja dona era uma senhora muito gentil. Aproveitou a hospitalidade para saber se ela conhecia Janine. Dona Caroline, sorriu com os olhos, dizendo que a conhecia e que jamais vira uma jovem tão doce e educada. Comentou sobre seu marido e quis saber se Ryan o conhecia. O rapaz preferiu desconversar e depois de tomar mais um café, despediu-se.
Pouco antes do almoço, o soldado não viu outra opção, senão ir ao encontro de Janine; antes de fazê-lo, porém, enviou uma mensagem de texto, informando que estava a caminho. Em resposta, a jovem viúva ligou para ele, dizendo que o esperava ansiosamente e que viesse o mais rápido possível.
Foi um reencontro repleto de ansiedade e coroado por uma aura de desejos inconfessáveis; Ryan sorveu as duas primeiras cervejas que Janine lhe ofereceu com goles enormes, tentando controlar o desejo que vicejava em seu âmago, percebendo que também Janine parecia incomodada como alguma coisa.
Comeram uma refeição frugal, muito embora nenhum deles estivesse realmente com fome, e depois do café, sentaram-se na sala, tentando manter uma conversa amena. Ryan não sabia o que fazer e muito menos o que falar; ele se sentia preso ao desejo de consolar Janine, não como um mensageiro, mas como um homem só e apaixonado.
Todavia, para sua surpresa, foi Janine que tomou a iniciativa, levantando-se de onde estava para sentar-se ao seu lado. “Me beija, por favor …, preciso me sentir mulher outra vez!”, ela pediu em tom de súplica. Todos os alertas se acenderam na mente do jovem soldado, prevenindo-o dos riscos do que estava por acontecer …, mas, a carne e o desejo falaram mais alto que a paixão.
Eles se abraçaram e se beijaram longamente, saciando uma sede que há muito gritava em seus entristecidos âmagos. O que se seguiu foi algo terno e, também, tempestuoso; primeiro foram os gestos delicados e inquietantes de Janine, despindo o vestido azul-celeste que guardara para o regresso de seu marido, revelando seus doces detalhes de fêmea linda e sensual; Ryan sentiu-se hipnotizado ao vislumbrar aqueles peitos empertigados coroados por mamilos durinhos que gritavam pela carícia masculina, e a barriga de pele alva cujos contornos generosos pareciam ter sido concebidos apenas para satisfazer um homem apaixonado.
Ainda com seus gestos inseguros, mas doces, Janine livrou-se da última peça de roupa que ainda recobria seu corpo, exibindo uma vagina lisa e brilhante, denotando seu estado de excitação; Ryan levantou-se para abraçá-la, e assim que o fez, selou novos beijos calorosos. No momento seguinte, Janine ajudou o rapaz a desfazer-se do uniforme, pondo à mostra toda a sua excitação e desejo que sentia por ela.
-Me perdoe se eu for desajeitada – sussurrou a viúva, esfregando seu corpo contra o de Ryan – Mas, faz tanto tempo, que mais pareço uma colegial.
-Não se preocupe, querida – respondeu Ryan entre beijos – Eu também me sinto assim …, como se fosse a primeira vez …
-Esta será nossa primeira vez, meu amor – emendou Janine – A primeira vez …, e, talvez, a última!
Ryan tomou Janine no colo e conduziu-a para o quarto; assim que entraram, o rapaz hesitou; olhou para a cama e imaginou cometendo um ato antiético e também uma imperdoável traição. “Não fique temeroso …, ele nunca se deitou nessa cama …, você será o primeiro homem a fazê-lo”, disse Janine com singeleza. Ryan depositou-a na cama, vindo sobre ela; estavam tão excitados que a penetração deu-se com imensa facilidade.
Ao sentir-se preenchida pelo membro de Ryan, Janine suspirou longamente e depois gemeu, contorcendo-se debaixo do seu parceiro, que deu início a uma sequência ritmada de movimentos pélvicos que logo redundaram no primeiro orgasmo em Janine, que o anunciou com veementes gemidos de felicidade.
-Ui! Meu amor! Há quanto tempo eu não me sentia mulher …, desejada – comentou ela, com voz embargada, ainda sob o domínio dos movimentos de seu parceiro.
E após este, outros orgasmos se sucederam …, cada um mais caudaloso e intenso que o anterior, causando uma onda de êxtase indescritível, que era o prenúncio de uma noite inesquecível.
A partir daquele primeiro momento de pleno envolvimento, Ryan e Janine avançaram noite adentro; o ineditismo de certas atitudes e iniciativas, surpreendiam a ambos; Janine subiu sobre o corpo de Ryan e com sua ajuda, sentou-se até que o membro pulsante tomasse conta de seu interior, sucedendo-se movimentos de sobe e desce que faziam dela uma amazona dominando sua fogosa montaria.
A jovem contorcia-se a cada novo gozo propiciado pela boca ávida de Ryan que não se cansava de saborear as delícias ocultas entre as pernas da sua paixão inesperada. No auge do êxtase da cumplicidade, Janine aninhou-se entre as pernas de Ryan e também saboreou seu membro, ora lambendo, ora sugando-o até ouvir seu parceiro gemer de prazer.
As horas, infelizmente, voaram entre os corpos suados do casal improvável; beijos e carícias se sucediam em um turbilhão sem fim; Ryan cobriu o corpo de sua parceira que lhe dera as costas, esfregou seu membro no vale entre suas nádegas, ao sabor dos gemidos e dóceis palavras que ela balbuciava, dominada pelo desejo e pelo prazer.
Janine virou-se na cama, permitindo que Ryan a penetrasse ainda mais uma vez; ele golpeou com movimentos intensos mas cuja cadência denunciava o quanto ele a desejava não apenas como fêmea, mas, principalmente, como mulher …, uma mulher que merecia sentir-se, mais uma vez desejada …, e nesse clima repleto de um idílio não anunciado, Ryan explodiu em um orgasmo quente, denso e volumoso …, extenuados, Janine e Ryan adormeceram abraçados como um verdadeiro casal.
O dia seguinte foi febril; eles acordaram com um sentimento misto de alegria reprimida, culpa, ressentimento e arrependimento. Depois do café da manhã, o soldado vestiu seu uniforme e pegou sua mochila …, tentou ser um pouco mais cavalheiro, mas Janine não lhe permitiu esse gesto, atirando-se nos braços dele e suplicando para que ele ficasse …, Ryan disse que precisava resolver algumas coisas, mas, assim que possível, voltaria para os braços dela e lá permaneceria.
Lamentavelmente, quis o destino que ambos seguissem caminhos tortuosos; Ryan foi dispensado da missão de mensageiro e enviado para o JSOC (Joint Special Operations Command), atuando como oficial de ligação e inteligência e operando em situações especiais no Oriente Médio …, por mais de dois anos …, nesse tempo, enviou várias cartas para Janine, mas, nenhuma dela foi correspondida …, exceto uma …
“Desculpe a demora em lhe escrever. Quando eu pensei que minha vida seguiria um novo curso ao seu lado, Jonas voltou! Ele foi resgatado em uma operação na fronteira do Paquistão. Ele não é o mesmo, Ryan. Ele está estranho, distante, mas, ainda assim, é meu marido! E eu não posso deixá-lo. A única coisa que ele não sabe é que a criança que eu lhe disse ser adotada, na verdade é seu filho! Não exijo nada de você, apenas que jamais se esqueça de mim, pois, eu jamais te esquecerei. Sua Janine!”.
Ryan guardou a carta no bolso de sua jaqueta, olhou para o outro lado da rua e viu uma criança brincando no jardim de uma escola …, ele sorriu e sentiu-se feliz. Deu partida no carro e rumou de volta para suas origens, levando na memória a imagem da doce Janine.
P.S. Centenas de soldados voltam do combate com traumas psicossomáticos que jamais os deixarão, como feridas que nunca se curam!