Naquela quinta-feira, ao desembarcar em São Paulo, fui direto para casa, creio que quem leu as duas primeiras partes do meu conto tem uma ideia dos milhões de pensamentos que me passavam. Numa tentativa patética, admito, de salvar nosso casamento, decidi ser romântico e fui pouco antes do final do expediente ao seu trabalho , levando flores! Quando cheguei, Adriana estava em uma reunião com diretores e fiquei numa antessala aguardando-a. Quando ela saiu e me viu, ficou surpresa e um tanto sem graça, mas disfarçou me beijando e abraçando, começou a fazer perguntas sobre o trabalho, olhei para a sala de reunião e estavam saindo alguns diretores, o chefe dela e seu amante, Alexandre, inclusive notei que ele olhou para mim, depois para as flores nas mãos da minha esposa e deu um discreto sorriso de deboche. Cumprimentei o dono da empresa e depois voltamos para casa. Olhava para Adriana dentro do carro para ver se estava sem graça, com remorso, mas o que notava é que ela estava apenas ausente.
Talvez ela tenha pensado que por lhe trazer flores, teríamos uma noite romântica, mas ao sugerir isso pouco antes do jantar, disse-lhe para deixarmos para o dia seguinte. Na verdade, eu não estava com vontade, muito menos em nossa cama, aliás apesar de toda roupa de cama ter sido trocada, estava com nojo de me deitar lá, naquela noite, dei um jeito de fingir que peguei no sono na sala, mas de sexta para sábado, tiver que dormir no quarto com muita raiva.
Decidi que no sábado seria o dia ideal para conversarmos, se ficaríamos juntos, não sabia, mas tinha que botar aquilo para fora. Deixei nossa filha na casa dos avós e antes mesmo do almoço, chamei Adriana para sala. Eu estava muito nervoso internamente, mas tentei manter-me calmo e falar num tom de voz adequado
--Serei direto, porque temos muito o que conversar. Eu descobri que você tem um amante, Adriana.
Claro que ela ficou pálida, levantou do sofá com um pulo, cruzou os braços, o que na linguagem corporal significa defesa, e andou pela sala.
--Mas como...O quê?
Adriana não negou, começou a chorar, escondendo o rosto. Naquela hora, imaginei que ela explicaria o que ocorreu, pediria perdão, que não faria mais etc., minha intenção era, caso notasse que minha esposa estava de fato arrependida, fazer uma cena, sair de casa por uns dias, mas depois voltar e recolocar o casamento nos eixos, mas ela apenas chorou um pouco e pediu para lavar o rosto e já voltaria. Trancou-se no banheiro por um bom tempo e depois saiu já recomposta do choro, mas com expressão arrasada. Sentou-se no sofá, respirou fundo e disse:
--Tudo bem, Paulo. É verdade...Conheci uma pessoa...E estamos tendo um caso...
--Há quantos meses?
--Seis.
Na hora pensei. “Puta que pariu, só comecei a notar algo diferente há uns dois meses, mas a coisa já vinha há tempos”.
--Tá, me fala por que isso? A gente estava tão bem.
--Você quer toda a verdade?
--Acho que é o mínimo
--Bem, o nome dele é Alexandre, veio da filial de Porto Alegre para trabalhar aqui há um ano. Desde que chegou, ficou fissurado em mim, me chamava para jantar, me elogiava, me comia com os olhos, mas sem que mais ninguém na empresa notasse. Nos primeiros meses, senti raiva dele não me ver como uma profissional, mas como provavelmente mais uma de suas conquistas, mas como a gente ficou envolvido em um projeto que o doutor Raul passou, pude notar várias qualidade em Alexandre. Ele respeitava e gostava das minhas ideias, formamos uma dupla muito afiada e durante a execução dos projetos era tudo profissional, mas quando acabava, ele sempre me fazia um elogio, mandava uma mensagem. Comecei a nota-lo melhor, um homem bonito, perfumado e muito sensual. Uma tarde, ele me roubou um beijo no estacionamento e aceitei, mas a nossa primeira vez foi naquela viagem para Salvador no congresso, passamos dois dias transando muito, a gente só saía para os eventos da empresa, mas fora isso, ficamos o tempo todo no quarto. Era para ser só uma aventura de viagem, mas...
- Mas o quê?
-Quando voltamos, não conseguimos mais ficar longe um do outro e desde lá estamos transando duas ou três vezes por semana. E tem mais...
-Mais do que isso?
Adriana começou a chorar novamente, mas logo secou as lágrimas, respirou fundo e disse com ar imponente.
-Eu não queria isso, juro por nossa filha, mas...Eu amo o Alexandre...
Quem acha que saber ou ver a esposa dando para outro é um golpe violento, não sabe o que é ouvi-la dizendo que ama outro cara. Senti um frio por todo meu corpo, algo avassalador e precisei de alguns segundos em silêncio, ali eu vi que mesmo que aceitasse continuar com Adriana após a traição, talvez ela que não quisesse e isso foi assustador.
Pedi um tempo para nos acalmarmos. Pensei bastante e depois a chamei novamente para conversar. Expliquei com calma que é muito comum pessoas entediadas no casamento, encontrarem alguém e acharem que estão apaixonadas, mas tudo não passa de algo temporário. Disse ainda que poderíamos fazer terapia de casal e que eu estava disposto a perdoá-la porque tinha muitas coisas em jogo, eu a amava, tínhamos uma filha pequena e nos dávamos bem. Estou resumindo aqui, mas fiquei mais de meia hora argumentando, porém sua resposta em meio às lágrimas foi:
--Perdão, Paulo, você não merece nada disso, ao contrário da maioria dos maridos, você é maravilhoso como amante e como companheiro do dia a dia, mas ele e eu estamos realmente apaixonados, queria ter te contado antes, mas toda vez sentia pena e fui adiando, mas a verdade é que estamos pensando em viver juntos, claro, vamos ter que resolver nossa situação, preparar a Andressa (nossa filha), mas eu realmente quero ficar com ele. Sei que estou te machucando demais, mas essas coisas acontecem sem a gente querer.
Completamente espatifado em termos de sentimentos, tentei uma última cartada vexatória e propus que para não se precipitar e depois se arrepender, ela poderia continuar se encontrando discretamente com o tal Alexandre por mais uns meses e eu faria vistas grossas, depois de um tempo, ela decidiria com mais calma. Mas Adriana nem titubeou e disse:
-Não dá mais, Paulo. Já começamos a parte mais difícil, é melhor acabarmos logo. Eu quero o divórcio numa boa, a gente pode pensar em guarda compartilhada da Andressa, se bem que será difícil para nós dois, já que passamos o dia trabalhando, mas vamos resolver isso logo.
Senti um ódio profundo, pois a forma com que ela falou, não foi de improviso, já tinha pensado em tudo antes. Voltei a falar que poderia ser só uma fase de encantamento e depois passar, mas ela estava irredutível.
De marido conciliador e até que estava se rebaixando, eu virei o roteiro e comecei a ameaça-la, dizendo que a família e todos nossos amigos saberiam do que ela era capaz, trazer o amante em casa. Adriana negou, mas quando disse que tinha provas (sem citar quais), ela disse que tinha sido um grande erro, mesmo tendo gostado na hora, mas que fora só uma vez, porque estava tão apaixonada por ele que começou a fazer loucuras e que foram muitas nesses seis meses.
Terminei dizendo que não facilitaria para ela no divórcio, mas que de minha parte estava tudo acabado. Adriana foi para o quarto e se trancou. Ela começou a chorar alto. Aquele dia foi um dos mais difíceis da minha vida. O sentimento era de estar chapado por uma droga muito forte em alguns momentos e de achar que não estava conseguindo respirar em outros.
Fui surpreendido ao ver Adriana saindo do quarto com uma mala, ela disse que o melhor a fazer era passar uns dias na casa dos pais e depois trataríamos da separação.
Alguns dias se passaram, eu fiquei tão mal que decidi me afastar da empresa por dois meses, comecei a pensar na separação e como seria para nossa filha. Adriana tentou apressar as coisas me ligando, mas não atendia. Até que um dia, eu liguei e disse a ela:
--Aceito conversarmos sobre a separação, com a condição de dividirmos a guarda da Andressa e de que você me conte detalhadamente as tais “loucuras” que fez com o Alexandre, mas não quero nada abstrato, quero detalhes.
Obviamente que ela achou aquilo absurdo, mas de maneira masoquista, eu queria ouvir toda aquela sujeira, porque acreditava que só assim, minha cabeça conseguiria apagar todas as coisas boas que vivemos. Depois de eu explicar isso, Adriana, mesmo com vergonha, aceitou passar por um “interrogatório”.
Era um fim de tarde frio, Adriana chegou com um casado branco ¾ e uma calça social. Apesar de estar vindo direto do trabalho, ela estava muito bonita e maquiada.
Sem muitas delongas, disse que independentemente do que ela contasse, eu não seria agressivo, apenas queria ouvir tudo aquilo para servir como uma terapia maluca para me fazer não sentir a menor vontade de um dia olhar para ela com qualquer sentimento bom.
Adriana pediu que eu começasse e eu comecei:
-Por que você tem certeza de que ama esse cara, mesmo estando tão pouco tempo juntos?
-Essas coisas não são medidas por tempo, eu me apaixonei por você logo no começo...
-Sim, mas éramos jovens, quase sem nenhuma responsabilidade, além disso, se tivéssemos uma convivência ruim, o amor teria acabado logo, mas ocorreu o contrário, fomos nos dando cada vez melhor. Quem garante que entre vocês haverá essa mesma cumplicidade ou que um dia você vai acordar e dizer, porra, joguei fora um casamento de 10 anos por uma aventura?
-Apesar do pouco tempo, estamos muito apaixonados, ele quer que eu vá morar já no apartamento dele, fala até filhos. Ele não é só uma transa legal, é o cara da minha vida, me perdoa por eu dizer isso.
Essa me derrubou por dentro, mas mantive a calma.
-Tá, mas além de treparem aqui na nossa cama, a mesma cama em que a Andressa muitas vezes se deitou com a gente com medo ou porque estava doentinha, quais outras insanidades vocês cometeram, você deixou escapar aquele dia que foram muitas.
-Não há desculpa para o que eu fiz ao trazê-lo aqui, mas a paixão faz a gente cometer essas besteiras. Sei que você não acreditará, mas fiquei muito mal pelo que fiz e estou fazendo a você e essa vergonha de ter transado com ele aqui, é uma coisa que vou me punir para sempre.
-Certo, mas fala das loucuras, lembra que falei que queria detalhes.
-Ah, Paulo, várias coisas. Como disse, nossa primeira vez foi em Salvador...Posso falar mesmo?
Ele conseguiu me levar para o quarto dele e me pegou como se estivesse há anos sem dar uma e puta que pariu, como chupou gostoso. A gente trepou muito, mas ele sempre arrumava um jeito de me excitar novamente me chupando, fazendo eu gozar na boca dele, em troca eu também permiti que ele gozasse em minha boca. Quando voltamos para São Paulo, fizemos algumas coisas, como trepar no estacionamento da empresa, uma noite que você estava viajando, acabei dando para ele do lado de fora do carro em uma rua deserta, o safado botou até no meu cu e eu gozei por causa do tesão e da adrenalina, chupá-lo dentro de uma sala de cinema e depois ele me bolinar até eu gozar. Às vezes, arranco a calcinha no meio do expediente e entrego a ele para que cheire, depois ele arruma um jeito de fingir que estamos discutindo algo em uma mesa, mas, na verdade, ele está enfiando dois dedos na minha boceta ou alisando meu clitóris. Enfim, essas coisas doidas foram muito boas, mas agora vemos que é melhor fazermos em um espaço nosso, sem colocar em risco nossos empregos ou de acabarmos caindo na internet, por isso, quero resolver nossa situação.
-Uma última pergunta, seja sincera, ele trepa melhor do que eu?
-Por favor, Paulo! Só falta agora perguntar se o pau dele é gigantesco.
-Responda.
-Se você não fosse bom de cama, eu não teria me casado com você, você é tão safado e criativo quanto ele, mas a vida é cheia de armadilhas, a gente acha que está tudo bem e de repente se apaixona por outro. Não foi o sexo apenas, o sexo com ele é ótimo, aconteceu de eu me apaixonar, vi que esse é o cara com quem quero passar a minha vida. Lamento muito por ter que te dizer isso.
Fiquei alguns instantes calado e um silêncio perturbador tomou conta da sala do nosso elegante e grande duplex. Depois conclui que tudo aquilo tinha sido inútil, levantei-me como que dando por encerrada a conversa, disse que a gente se separaria e que eu esperava ter que vê-la o menos possível. Adriana tentou me dar um abraço de piedade com os olhos marejados, mas me afastei e abri a porta, não sem antes dizer:
--De todas as merdas que você disse naquele sábado e hoje, a única coisa que quero que você grave: “A paixão faz a gente cometer essas besteiras”, você, minha esposa, pode ter cometido a besteira da sua vida.
Ela deu de ombros como se dissesse “Foda-se, vou ser feliz com ele” e saiu.