Na manhã do dia seguinte eu acordei cedo voltando-me na cama para ter certeza de que não estava sonhando; Evaristo estava mesmo ali, na minha cama dormindo pesadamente; compartilhávamos da mesma cama que por anos fora o reduto amoroso meu com minha falecida esposa; olhava para aquele torso desnudo esculpido pelos céus e aquele rosto que ora parecia angelical e ora transformava-se em um diabinho sapeca louco por beijos e carícias pensando se era real ou um sonho; fosse o que fosse eu queria que jamais tivesse fim.
Levantei-me e fui para a cozinha preparar alguma coisa para o nosso desejum matinal; fritei ovos, torrei algumas fatias de pão americano, somei queijo branco, iogurte, cereais e mel; estava tão absorto na tarefa doméstica de preparar o café da manhã para meu companheiro que não atinei que ainda permanecia nu indo de um lado para o outro da cozinha. E quando tudo ficou pronto sobre a mesa virei-me para retornar ao quarto e dei com Evaristo de pé encostado no batente da porta com os braços cruzados sobre o peito me observando silenciosamente.
-Há quanto tempo você está aí? – perguntei enquanto me aproximava dele.
-Tempo suficiente para saborear sua nudez e sua naturalidade aqui na cozinha! – ele respondeu abrindo um enorme sorriso – E creio que tudo isso seja para mim …, ou não?
-E pra quem mais seria, seu bobo – respondi separando seus braços para que eu pudesse me aninhar entre eles – As vezes me vejo como um velho idiota querendo bancar o adolescente sonhador que tem muito ainda pela frente …
-E tem mesmo! Ao meu lado – ele me interrompeu emendando – E esqueça essa história de idade …, seja quem você quiser …, e não precisa bancar o adolescente …, você é quem você deseja ser …
Acabamos com a conversa por meio de uma longa sequência de beijos e caricias; sentamos à mesa e saboreamos a refeição. Depois ele me pediu para usar o notebook, pois precisava resolver alguns assuntos pendentes. Deixei-o à vontade enquanto dava um jeito na sujeira que eu mesmo fizera, limpando e lavando todos os acessórios que usara. Estava abstraído com meus pensamentos quando senti os braços dele me envolvendo pela cintura e sua boca beijando e mordiscando meu pescoço provocando uma onda de gostosos arrepios.
-Hummm, olha que eu posso me acostumar com isso – disse eu com tom carinhoso – Você é muito sapequinha viu!
-Acho bom mesmo que se acostume! – ele respondeu ainda beijando e mordiscando – Você é meu …, e eu adoro mimar você!
-Hummm, tô sentindo isso! – respondi quando o membro dele iniciou uma ereção roçando minhas nádegas – Gosto muito desse tipo de mimo!
Imediatamente, Evaristo girou meu corpo e nos beijamos entre carícias e provocações; seu membro enrijecia chegando a cutucar o meu que correspondeu com o mesmo entusiasmo. Uma impetuosidade crescia entre nós ensejando que logo estaríamos na cama mais uma vez.
-Olhe, vamos fazer o seguinte – disse eu evitando mais um beijo dele – Vamos nos vestir, ir para a academia, malhar um pouco e depois …, voltamos pra cá e passamos a tarde juntos …, o que você acha?
Antes que ele pudesse responder seu celular que estava sobre a mesa vibrou insistente; Evaristo desvencilhou-se de mim e tomou o aparelho na mão; em seguida teclou nervosamente e ao final tornou a abraçar-me. “Sinto muito, meu querido, mas tenho um compromisso agora …, mas vá você para a academia e depois nos encontramos no meu loft, pode ser?”, sugeriu ele com tom ameno ao que eu aquiesci pedindo um último beijo antes de nos separarmos.
Evaristo fez questão de me deixar na academia para depois seguir ao seu compromisso; cumprimentei o personal e a recepcionista indo para os aparelhos e iniciando meu circuito; mesmo concentrado nos exercícios eu tinha a impressão de que havia um clima diferente no ambiente embora eu não soubesse do que se tratava. Pouco antes de encerrar minha atividade, o personal aproximou-se perguntando seu eu era amigo de Evaristo ao que respondi afirmativamente. Ele deu um sorrisinho e piscou para mim.
Não sei dizer porque, mas aquele gesto causou-me uma certa atribulação que eriçara meus sentidos; por um momento passei a agir realmente como um adolescente desvairado e um tanto inconsequente imaginando cenas libidinosas que poderiam suceder-se propiciando um sexo casual sem compromissos; afinal, eu e Evaristo ainda estávamos nos conhecendo e ademais que mal haveria nisso! Por outro lado, o gesto também provocou insegurança com minha mente e meu coração digladiando-se entre a confiança plena e a possessividade ciumenta.
No final das contas deixei tudo isso de lado e fui para a área das duchas a fim de uma ducha para depois voltar para casa; “Oi, Tio! E aí! Posso dar uma mamada bem gostosa?”, perguntou aquele rapaz que há algum tempo atrás me presenteara dessa maneira, assim que cheguei no vestiário; mais uma vez eu pensei como um adolescente desvairado e me voltei para ele exibindo meu membro. O rapaz veio até mim e se pôs de joelhos lambendo meu mastro sem tocá-lo valendo-se apenas de sua língua abusada.
Senti um frisson correndo pela espinha e me vi obrigado a sentar no banco de madeira abrindo mais as pernas e deixando que ele se divertisse com minha ferramenta que já enrijecera por completo. Não conseguia atinar com mais nada apenas com a cena daquele jovem de joelhos entre as minhas pernas abertas mamando meu membro com uma voracidade impressionante; acariciei seus cabelos incentivando-o a prosseguir em sua doce tarefa. Repentinamente um estertor sem aviso pôs fim ao nosso interlúdio com meu gozo explodindo em sua boca. O rapaz mostrou ainda mais habilidade quando conseguiu reter toda a carga dentro de sua boca, fazendo questão de exibir com orgulho antes de engoli-la sem rodeios. “Valeu, Tio! Fazia um tempão que eu não dava uma mamada tão gostosa! Tchau!”, disse ele em tom alegre, enquanto limpava a boca com a palma da mão levantando-se e dirigindo-se para as duchas.
Voltando para casa eu me impressionava relembrando o evento envolvendo o rapaz na academia; por um lado eu ainda me surpreendia com a minha atitude que de alguma forma me pareceu inconsequente e até mesmo reprovável, pois afinal de contas eu não era mais um adolescente louco para experimentar tudo que a vida podia me oferecer como se não houvesse amanhã. Já por outro, de alguma forma eu me senti traindo Evaristo como se tivéssemos uma relação de longa data onde confiança e cumplicidade fossem tudo de mais relevante para ambos.
Pouco depois do almoço, por várias vezes tentei ligar para Evaristo, porém sem sucesso o que me levou a deixá-lo em paz supondo que tinha muitos negócios pessoais a resolver. Pretendia também eu resolver umas coisas quando o interfone tocou; o porteiro informou que havia um rapaz querendo falar comigo; fiquei surpreso quando ao olhar pela câmera vi que se tratava de Luka, o amigo de Evaristo; intrigado com a razão de sua visita autorizei que subisse. “Desculpe aparecer desse jeito, mas preciso te dizer algo!”, disse ele com tom alarmado assim que abri a porta disparando para dentro sem esperar por um convite.
-Eu nem sei bem como te dizer …, mas o Evaristo está te traindo! – prosseguiu ele com tom enfático sem parecer teatral.
-Me traindo? Com quem? E porquê? – questionei com a mente turvada e um esgar roendo meu estômago – O que eu fiz pra ele?
-Você não fez nada! Ele é que não presta! – alegou Luka com tom revoltado – Desde que vi vocês na galeria achei que não era justo que ele te enganasse, ou mesmo te usasse!
-E com quem ele me traiu? – perguntei já alterando o tom alterado sentindo uma ira germinar dentro de mim.
-Não conheço o sujeito, mas deve ser um putinho qualquer! – respondeu ele com tom irritado – Eu vim porque queria que você soubesse …, e soubesse também que eu …, eu …, fiquei atraído por você!
Naquele momento eu já não sabia mais o que pensar, nem mesmo o que dizer; minha mente ainda processava a alegação de Luka, mas meu coração já transbordava de dor e revolta. Eu estava a ponto de cometer um desatino qualquer apenas para sentir o sabor da vingança que Evaristo merecia, esquecendo-me do que eu mesmo fizera na academia; eu estava com o coração partido e a alma em fúria e não pensei quando segurei o rosto de Luka com minhas mãos colando meus lábios aos dele em um beijo turbulento e insensato.
Não demorou para que nos engalfinhássemos como dois faunos sequiosos por sexo arrancando nossas roupas com gestos estabanados; levei Luka até o sofá e assim que ele se deitou eu me aninhei entre as suas pernas lambendo e masturbando seu membro ereto cujas dimensões deixavam um pouco a desejar em relação ao de Evaristo, embora isso não me importasse naquele momento; depois de lamber e chupar muito, fiz com que ele ficasse de costas para que eu separasse suas nádegas passando a linguar seu selinho que piscava no ritmo de seus gemidos.
Salivei muito sobre ele antes de meter dois dedos em seu interior fazendo movimentos circulares como querendo laceá-lo; Luka grunhia, suspirava e gemia, no entanto não conseguia esboçar uma reação já que minha fúria dominava a ambos; cuspi em meu membro e sem rodeios golpeei com força até conseguir uma penetração um pouco dolorosa.
Luka gemia, suspirava e chegou mesmo a soltar uns gritinhos histéricos, mas eu estava alheio a tudo isso; enquanto estocava com força penetrando o mais fundo que podia minha mente pensava em Evaristo, na tristeza da traição e na frustração de ter sido usado; todas as palavras de carinho, todos os beijos, nossas noites de desfrute libidinoso …, tudo não passava de uma farsa, um embuste apenas para me iludir! Continuei socando cada vez mais fundo e mais forte, pouco me importando se Luka estava sentindo prazer ou não, pois eu o estava usando como Evaristo fizera comigo.
Um espasmo vigoroso acompanhado de arrepios percorrendo minha pele puseram fim àquela cópula quando eu atingi o clímax gozando profusamente, encharcando as entranhas do meu parceiro com uma carga de sêmen que parecia não ter fim; quando terminamos, eu saí de cima dele recostando-me no lado oposto do sofá exausto e ofegante olhando Luka que tomava a mesma posição e também me olhava com uma expressão enigmática; percebi que seu membro permanecia rijo e ereto pulsando veemente denunciando que também ele precisava ser saciado.
Desejando uma vingança completa, peguei Luka pela mão e fomos para o meu quarto onde me deitei de bruços numa posição de entrega submissa; o rapaz veio até mim e fez com que eu sugasse seu membro que ele socava dentro de minha boca para deixá-lo bem lambuzado de saliva grossa; ele sentou-se entre minhas pernas abertas, separou minhas nádegas com certa rudeza e salivou sobre meu orifício preparando-se para me currar; Luka deixou todo o carinho de lado tratando-me apenas como um mero objeto de desfrute, socando com alguma violência e grunhindo como um animal selvagem. “Você é um velhote bem putinho! Merece apenas isso! Umas boas socadas nesse cu largo!”, dizia ele entre os dentes denotando um tom de rancor.
Não havia prazer, não havia idílio ou mesmo cumplicidade; o que havia era apenas sexo oportuno em que Luka me usava da forma que bem lhe aprouvesse; de meu lado eu não me importava com mais nada; a imagem de Evaristo me vinha à mente e as lágrimas marejavam meus olhos; jamais eu imaginara que naquele estágio da vida eu me apaixonaria por alguém com tanta intensidade e que pudesse me causar tanta dor; as estocadas de Luka por mais que pudessem ser dolorosas, repercutiam muito mais em meu coração do que em meu corpo, e quando ele, finalmente, atingiu seu ápice eu respirei não de prazer, mas de alívio.
Luka sacou seu membro, levantou-se e com andar displicente dirigiu-se até a sala para pegar suas roupas e depois foi ao banheiro para se lavar; quando olhei para ele algum tempo depois ele tinha o celular nas mãos tirando fotos de mim. “Isso aqui é pra mostrar pro Evaristo que você presta menos que ele! São dois vadios!”, vociferou ele antes de ir embora, me deixando lá humilhado, triste e tomado por uma enorme sensação de vazio. Dormi e acordei várias vezes e em todas elas a sensação permanecia. Pela primeira vez em muito tempo desde a perda de minha esposa, eu chorei!
Na manhã seguinte fui acordado pelo celular com uma mensagem de Evaristo pedindo que eu o encontrasse mais tarde no aeroporto; tomado por uma revolta indômita, liguei para ele e assim que atendeu vomitei palavras eivadas de dor, ódio e repulsa; ele ouviu tudo em silêncio e ao final o que ele disse acabou comigo …, aliás, não o que ele disse, mas sim o que ele mostrou: as fotos que Luka tirara de mim no dia anterior. “Não sei o que dói mais; ter a certeza de que não te traí conscientemente, ou de ter sido traído num ato impensado!”, escreveu ele na legenda.
Agora, sentado sozinho naquele saguão de aeroporto repleto de pessoas eu me sentia mais só que nunca. Eu jogara fora algo que não tinha preço …, algo que me transformou para melhor!
Muito cara! Uma trama que parecia resolvida se apresenta agora com uma reviravolta e novos fatos.... !
Às vezes o ciúme nos cega e por mais que nos apresentemos como modernosos, acabamos fazendo bobagens!!! Votado!