Contos Vorazes: O Fotógrafo (4)

Naquele fim de tarde voltei para casa esforçando-me para controlar as lágrimas e refogar a dor que pulsava em meu peito; deitado na cama eu não conseguia dormir, pois sempre que fechava os olhos a imagem de Evaristo invadia minha mente e as doces lembranças de nosso idílio tomavam de assalto meu corpo e minha alma; a maior infelicidade residia na certeza que me afligia de que nunca mais o reencontraria e nunca mais desejaria alguém como eu o desejara nos poucos momentos que tivemos juntos. E os dias que se seguiram eram um amálgama de torturante solidão acrescida de uma enorme depressão que me fazia ponderar a frase de Nietzsche: “Se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você”, não como uma ameaça, mas como uma forma de libertação do sofrimento que me consumia pouco a pouco.

A idas à academia começaram a rarear e mesmo quando eu insisti em lá comparecer parecia que todos me olhavam com um ar de reprovação, embora eu soubesse que meu caso com Evaristo jamais fora de conhecimento naquele ambiente; Herculano tentava me reanimar e eu desconfiava de que ele sabia de alguma coisa embora se mantivesse silente, agindo como se tivesse a obrigação de ajudar-me de alguma forma. Infelizmente, acabei desistindo dos exercícios e adotei uma vida quase monástica, escondendo-me em meu apartamento e saindo com muita raridade.

Tudo se agravou um pouco mais quando passei a consumir álcool em excesso, chegando mesmo ao ponto de embebedar-me até perder os sentidos; Luka veio em minha procura várias vezes, mas eu jamais o recebi como não recebia mais ninguém; numa manhã, estava em uma cafeteria sorvendo um expresso puro e encorpado como um remédio para uma ressaca homérica quando um rapaz se aproximou. Demorei um pouco a lembrar-me dele; era o rapaz mamador da academia; ele se apresentou e foi quando soube que se chamava Rodney perguntando se podia sentar comigo; aquiesci apenas por educação, pois ainda preferia afundar-me na solidão.

Bastaram alguns minutos para que entabulássemos uma conversa amena e despreocupada; Rodney mostrou-se alguém com uma boa cultura geral e muito antenado; trabalhava com tecnologia da informação conseguindo desenvolver sua própria empresa o que lhe permitiu autonomia financeira e liberdade de agir. “Sabe, olhando você aqui percebi que tem algo errado …, perdeu alguém, não é?”, perguntou ele a certa altura em um tom cheio de naturalidade.

-Você descobriu isso só me olhando? – perguntei com uma ponta de desconfiança – É muita perspicácia para alguém tão jovem!

-Eu sei o que você está sentindo …, eu já passei por isso! – respondeu ele com o tom se tornando um pouco amargo – E quando perdi eu também me perdi!

Formou-se então um pesado silêncio entre nós; eu encarava aquele rosto jovial que sempre parecera ansioso por novas sensações e vi alguém tão triste quanto eu. E para quebrar o silêncio, Rodney decidiu desabafar sobre seu envolvimento com Evandro o personal da academia e de como eles chegaram a morar juntos até quando ele flagrou o sujeito trepando com a recepcionista; tiveram uma briga daquelas e Evandro justificou seu ato alegando que era bissexual e por isso mesmo gostava de variar de vez em quando. “Cê acredita! Ele disse na minha cara que precisava variar! Como se o que tínhamos, para ele não passava de um sexo casual e fortuito! Me senti arrasado quando ele disse isso, pegou suas coisas e foi embora sem sequer dizer adeus! Foi muito traumático pra mim!”, arrematou ele ao final de tudo.
Procurei desviar de um tema tão doloroso tanto para ele quanto para mim e a medida em que conversávamos eu notava que Rodney, além de inteligente também era dotado de uma sagacidade apurada para sua idade além de possuir um bom humor contagiante; seguimos conversando até que ele me convidou para conhecer seu apartamento; no início eu hesitei, mas logo acabei por aceitar já que não havia nenhuma intenção escusa no convite. No estacionamento da cafeteria descobri que ele possuía uma motocicleta Suzuki Hayabusa (“falcão peregrino”) de cor grafite e muito vistosa; antes de colocar o capacete ele me disse para segui-lo já que eu estava de carro.

No curto trajeto descobri que Rodney residia relativamente perto de mim em um edifício de construção recente e linhas arrojadas; estacionei no bolsão destinado a visitantes enquanto ele descia para o estacionamento subterrâneo, vindo ao meu encontro logo em seguida; seu apartamento tinha uma decoração minimalista onde se destacava sua área de trabalho composta por vários equipamentos que pareciam ser de alta tecnolgia.

Ele convidou-me a sentar no amplo sofá de tecido grosso e de tom sóbrio enquanto ia até a cozinha em estilo americano; ao retornar trazia duas latinhas de refrigerante e um dispenser de salgadinhos que tinha o formato do capacete de um “stormtrooper” de Guerra nas Estrelas, algo que me deu vontade de rir, mas me contive para não magoá-lo.

-Eu tenho refrigerante, suco e água …, nada de alcoólico – disse ele ao estender a latinha para mim abrindo um sorriso – lamento desapontá-lo!

Retomamos nosso papo e eu não demorei a perceber que a companhia de Rodney me causava um inexplicável bem-estar sendo capaz de afastar de minha mente a sensação de vazio e o assédio depressivo. Passado quase mais de uma hora em que falamos, rimos e brincamos sobre coisas da vida, Rodney aproximou-se de mim e seu que eu esperasse, segurou meu rosto entre suas mãos e aproximou seus lábios dos meus; selamos um beijo prolongado e eu fiquei extasiado em desfrutar de algo tão bom e que me fazia tanta falta.

No entanto fomos tomados por um envolvimento tão frenético que quando dei por mim estávamos nus sobre sua cama trocando mais beijos e carícias; era a primeira vez que eu o vi nu e permaneci alguns minutos examinando-o com certo apuro; embora praticante habitual de musculação, ele tinha um corpo bonito, porém sem exageros típicos dos frequentadores mais assíduos com um peito e barriga bem torneados e lisos; seu ventre também parecia esculpido como uma escultura greco-romana que ostentava um membro de tamanho médio com um calibre acentuado.

O rosto dele era uma incógnita, pois sua mestiçagem não parecia fácil de ser decifrada sendo uma mistura entre o oriental e o caucasiano, mas o detalhe mais atraente eram seus olhos verdes cristalinos que pareciam dotados de luz própria; nos engalfinhamos animadamente com beijos e carícias até ele propor um “meia nove” que foi desfrutado com toda a sua voracidade; com nossos membros babando saliva grossa, Rodney pediu que eu o penetrasse o que fizemos na posição de ladinho comigo por trás dele; explorei seu selinho com os dedos antes de cutucar com a glande o que se seguiu com algumas estocadas contundentes até que eu obtivesse êxito.

Enquanto eu golpeava aproveitava para morder seu pescoço e também dar beliscões em seus mamilos ouvindo-o gemer baixinho e vez por outra projetar seu traseiro contra meu bruto rijo que varava seu buraquinho golpes cadenciados que tornavam céleres aos poucos; desci a mão até encontrar sua ferramenta rija que masturbei animadamente.
Chegamos ao ápice ao mesmo tempo e eu senti mais que prazer, pois experimentava uma espécie de alívio emocional que afastava a sensação depressiva que me perseguia desde a partida de Evaristo; ficamos engatados desfrutando do momento e sentindo nossos membros esvaecerem-se aos poucos; ao final ferramos num sono gostoso sem que nos desfizéssemos da posição de conchinha em que estávamos. A tarde já ficara para trás quando Rodney me acordou de uma forma carinhosa manipulando meu membro enquanto beijava meus lábios.

Foi a vez dele pedir para me penetrar o que desejava fazê-lo na posição “frango assado”; tomei a iniciativa de presenteá-lo com uma deliciosa mamada em seu membro que já se apresentava pronto para o embate e depois deitei de barriga para cima escancarado-me com as pernas erguidas mirando o rosto dele que veio tomando posição entre minhas coxas enquanto flexionava minhas pernas; ajudei-o a guiar sua vara na direção do meu orifício e deixei que ele golpeasse.

Fiquei surpreso com os gestos carinhosos de Rodney que tratava aquele momento com extremo afeto e desvelo revelando-se um amante envolvente e muito impetuoso; senti algum incômodo no início, mas logo estava recebendo-o dentro de mim que não perdeu tempo em iniciar uma sucessão de socadas vigorosas e rítmicas provocando em mim uma deliciosa sensação de prazer que se revelou também em uma ereção renovada que fez os olhos de Rodney faiscarem de desejo; ele passou a manipular-me com o mesmo vigor com que estocava com extrema destreza e veemência; desta vez nos prolongamos um pouco mais, pois supus que estávamos mais relaxados e também mais íntimos e quando o gozo sobreveio também acorreu em ambos ao mesmo tempo.

Rodney desabou sobre mim implorando por beijos que cedi com imenso prazer. E a noite chegou e avançou nos encontrando em uma nova rodada de prazer logo depois de uma ducha revigorante com direito a muitos beijos e mamadas alternadas; e ao final estávamos esgotados sem uma gota de energia vital o que nos levou a ferrar em um sono pesado e necessário. Quando acordei em plena madrugada fiz menção de ir embora, mas Rodney pediu quase em tom de súplica que eu dormisse com ele.

Como éramos dois carentes abandonados à própria sorte não fui capaz de me recusar a atender ao seu pleito e assim dormimos abraçados logo depois de uma longa troca de beijos e carícias que não queríamos que terminasse. Na manhã seguinte, já passada das oito horas me vi só na cama e quando me levantei a procura de meu parceiro o encontrei sentado à frente de seus equipamentos absorto em trabalho; sem incomodá-lo fui até o banheiro para uma ducha para acordar de vez e depois me vesti.

-Mas, você vai voltar, não vai? – perguntou ele com tom ansioso, quando me aproximei avisando que precisava ir.

-Prometo que e volto sim! – respondi acariciando seu rosto – e quem sabe você também pode me visitar em casa, não é?

Rodney então se levantou e me abraçou beijou meu rosto antes que colássemos nossos lábios em um beijo cheio de volúpia. Fui para casa experimentando um certo alívio que logo se mostrou muito fugaz, pois a noite, sozinho em casa minha mente via-se invadida pela máxima de Schopenhauer: “Aquilo que falta, me atormenta”, e o que mais me faltava era ter Evaristo ao meu lado. Nos dias que se seguiram eu adotei uma postura fugidia, buscando no sexo uma espécie de válvula de escape que pudesse afastar de minha mente a imagem do único homem que me completava e me tornava pleno.
Todas as manhãs eu procurava por Rodney e juntos desfrutávamos de uma cópula fortuita e sempre cheia de sacanagem; aprendi a dar e receber o “beijo grego” e me aprimorei no ato de tal maneira que conseguia conduzir meu parceiro à beira da loucura o mesmo se dando quando ele se propunha a fazê-lo. Foi nessa época também que me tornei um devasso culminando com um evento que quase transformou-se em uma catástrofe pessoal inevitável e com péssimos e indesejáveis efeitos. Tudo começou quando Rodney me perguntou se eu já havia participado de uma orgia envolvendo mais de um parceiro. “Sim, claro que gostaria”, foi minha resposta entusiástica quando el quis saber se eu aceitaria participar de uma.

Por sugestão dele, o evento aconteceria na academia onde eu e ele já praticáramos atividades físicas logo depois do final do expediente; cheio de uma ansiedade profana eu fui para lá no horário combinado e ele me aguardava logo na entrada, pois assim que entrei Rodney incumbiu-se de fechá-la; em silêncio, subimos ao segundo piso e entramos no escritório de Jonas que era o proprietário e que lá estava acompanhado de Evandro o personal; ambos estavam nus e seus membros eretos denunciavam o que aconteceria a seguir.

Todavia, o que aconteceu foi humilhante e doloroso; eles me cercaram e quase rasgaram minhas roupas pouco antes de começarem a bolinar meu corpo como seu eu fosse um objeto; quando tentei argumentar que não era aquilo que eu esperava, Jonas desferiu um par de sonoras bofetadas em meu rosto deixando-o marcado; foi um gesto tão surpreendente e ao mesmo tempo tão agressivo que Rodney se insurgiu contra ele, porém acabou por levar a sua cota de reprimenda física.

Em seguida fizeram que ingeríssemos uma substância desconhecida que turvou nossas mentes e limitou nossas reações; por mais de duas horas, eu fui seviciado pelos dois brutamontes cheios de testosterona e também de alguns picos de cocaína; enquanto Evandro me obrigava a sugar seu membro, Jonas enterrava sua vara em meu orifício fazendo questão de que fosse o mais doloroso e humilhante possível, tudo perante os olhos esbugalhados de Rodney que me fitava com uma expressão cheia de vergonha. “Tu se prepara também, putinha! Você é o próximo!”, rosnava Jonas sem perder o ritmo dos golpes violentos contra meu traseiro que estava cheio de marcas dos tapas e cintadas que ele fazia questão de aplicar a esmo. Por mais que eu quisesse resistir, não tinha forças e minha mente permanecia enevoada impedindo-me de esboçar uma reação.

Quando se deram satisfeitos em meu abusar, os dois partiram para cima de Rodney obrigando-me a vislumbrar aquele espetáculo torpe e monstruoso; o rapaz gritava enquanto era abusado de todas as formas possíveis e sempre que eu tentava desviar o olhar um deles vinha até mim, me esbofeteava obrigando-me a testemunhar toda aquela selvageria. O final deu-se no momento em que eles puseram Rodney e a mim de joelhos usando nossas bocas para receber seus membros impressionantemente rijos até que nos tornássemos depósitos de seus sêmens. Eu quase me sufoquei com o membro de Jonas entalado em minha boca despejando uma carga desmedida de esperma e mesmo assim ele pouco se importou com isso.

Depois disso fomos largados lá no piso frio do escritório nus e lambuzados cheios de dor e repulsa. Infelizmente não consegui recuperar minha consciência tomado por um torpor que me fez cair em um negror profundo como se minha alma estivesse abandonando meu corpo; e foi nesse clima insólito que eu ouvi uma voz …, era a voz de Evaristo que me chamava suplicando para que eu não partisse. E ao longe eu ouvi “Con Te Partiró!”. Eu havia perdido a única pessoa que me respeitava e também me amava …, agora restava apenas o vazio e a escuridão; o vazio que aprisionava minha mente e a escuridão que aprisionava minha alma …, e a única coisa que me importava não estava mais comigo.

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Comentários


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rebekacastro Comentou em 04/09/2022

Estou gostando de ver essa nova nuance em seu estilo... Um suspense em meio à trama... Muito bom!!!

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titoprocura Comentou em 02/09/2022

As armadilhas do desejo! Já vi muita gente embarcar em aventuras perigosas, apenas por um minuto de prazer. Beleza de texto rapaz, cheio de reviravoltas... Votado!

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morsolix Comentou em 15/08/2022

Que coisa!




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Ficha do conto

Foto Perfil trovão
bemamado

Nome do conto:
Contos Vorazes: O Fotógrafo (4)

Codigo do conto:
206279

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
14/08/2022

Quant.de Votos:
9

Quant.de Fotos:
4