Houve uma explosão que me arremessou há alguns metros de distância; a visão estava turvada, um zunido infernal ecoava em meus ouvidos impedindo que eu conseguisse escutar com clareza; quando a tontura tornou-se controlável, fiquei de pé e olhei ao redor; eu estava cercado por cadáveres destroçados e outros corpos que ainda exibiam sinais de vida embora isso pudesse ser apenas uma ilusão da minha mente; o odor acre invadia minhas narinas causando ânsia e cada respiração parecia queimar meus pulmões …, no meio daquele caos eu olhei mais adiante e vi uma jovem caminhando em minha direção. Sua beleza alva harmonizava com seus longos cabelos platinadas contrastava com o marrom o cinza que me rodeavam e a camisola diáfana que vestia permitia ver com perfeição a silhueta de um corpo esbelto de formas esguias e sensuais; seus pezinhos afundavam naquele terreno feito de lama, excremento e sangue e quando ela tornava a erguê-los eles surgiam imaculadamente limpos; eu não conseguia me mover e o pequeno embrulho com ataduras de campanha que trazia em uma das mãos foi ao chão como se alguém o tivesse tirado de mim; a mulher continuou se aproximando e quando chegou perto o suficiente encarou-me com um sorriso divinal. “Venha comigo! Me deixe dar a você experiências que jamais esquecerá!”, sua voz suave e doce ecoou em minha mente embora eu não conseguisse perceber seus lábios se movendo e ao mesmo tempo senti o toque gélido de suas mãos em meu rosto enquanto ela trazia seus lábios para perto dos meus ensaiando um beijo insólito …, acordei suado e ofegante! Aquele sonho …, ou pesadelo repetia-se semana após semana logo meses depois que retornei da guerra na Europa deixando para trás os horrores que presenciei e também daqueles em que participei; tomando cuidado para não acordar Darlene eu me levantava e caminhava até a cozinha na ponta dos pés sorvendo mais de meia garrafa de água gelada; depois disso uma boa dose de uísque e um cigarro. Com o fim do conflito mundial eu voltei para minha cidade natal, terrinha pacata e provinciana buscando retomar uma normalidade que custava a se firmar; tomei as rédeas da funerária fundada por meu avô e mantida por meu pai cuja idade já um tanto avançada exigia que ele se dedicasse a tarefas mais leves com o menor esforço possível impondo a mim manter o negócio funcionando e custeando nossa sobrevivência. Pensei em voltar para a cama, mas o temor de que aquela visão tornasse a nublar minha mente fez com que eu optasse por vestir uma roupa e sair caminhando pela cidade. Estávamos na hora mais escura da alta madrugada e eu perambulei a esmo por ruas, avenidas, praças e alamedas fumando e torcendo para ser agraciado com os primeiros raios de sol de um novo dia; e tudo foi muito rápido: primeiro som da sirene da ambulância, depois a freada brusca e em seguida o vozerio alarmado vindo de todos os lados; quando me aproximei vi uma adolescente jazendo sobre o asfalto ainda úmido pelo orvalho da noite com o socorrista atarantando não sabendo bem o que fazer. Usando de meus conhecimentos como paramédico combatente, me ajoelhei ao lado do corpo e depois de um rápido exame visual comecei a realizar uma massagem cardíaca com o socorrista usando um ambu para retomada da respiração …, infelizmente, todo esse esforço foi em vão, pois a jovem estava morta. E mais uma vez aquela frustração pela impotência diante do inevitável tomou conta de mim. Na noite seguinte o corpo da jovem Helen foi trazido do necrotério municipal para minha funerária; não haviam muitas informações sobre ela, apenas que sua mãe morrera no parto e o pai a deixara entregue a própria sorte; com o respeito habitual desci o lençol um pouco abaixo do pescoço e fiquei admirando aquele lindo rostinho agora sem vida. “Vamos, rapaz! Dê a ela o que é preciso! Beije-a!”, a voz eclodiu em minha mente quase como uma explosão no momento em que eu me inclinara para observá-la melhor; tomei um susto tal que saltei para trás quase perdendo o equilíbrio. Um suor frio escorria pelas têmporas e as mãos tremiam em quase descontrole. “Beije a garota! Ela saberá te recompensar!”, disse a voz ecoando metálica em minha mente; minha vontade era recuar saindo dali o mais rápido possível, todavia algo desconhecido me mantinha preso no lugar impondo que eu tomasse a única decisão possível. E por mais que eu tivesse me esforçado quando dei por mim estava com os lábios próximos dos lábios cadavéricos de Helen culminando em um longo beijo que não demorou em ser retribuído por uma boca ávida e uma língua quente e molhada explorando minha boca. Quando nos desvencilhamos eu não podia crer no que acontecia: diante de meus olhos estupefatos, Helen estava viva! Seus olhos azuis cintilavam e a rubescência natural voltara a colorir sua face com um lindo sorriso em seus lábios rubros e cheios de vida; lentamente ela se levantou exibindo sua nudez alucinante; não havia marcas, cicatrizes ou qualquer outro detalhe anatômico que pudesse mesmo de longe indicar que ela havia realmente falecido na noite anterior, e em lugar disso o que eu via era um corpo de formas esguias cuja exuberância e o viço provocavam em mim uma excitação desmedida. Helen aproximou-se tomando minhas mãos nas suas fazendo-as pousar sobre suas mamas médias e cuja firmeza era arrebatadora; não me contive e passei a apertá-los carinhosamente chegando a beliscar os mamilos intumescidos ouvindo-a gemer baixinho com uma voz rouca e miúda; sem que eu pudesse esboçar uma reação ela abriu minha calça e pôs para fora o membro cuja rigidez pulsante chegava a doer. Helen então se ajoelhou e segurando a vara pela base começou a lamber gentilmente a glande provocando uma onda quase interminável de arrepios percorrendo minha pele e turvando minha consciência. Pouco depois ela o fez desaparecer dentro de sua boca ávida que me sugava com tal ênfase que tinha a impressão de que almejava extrair minha energia vital; eu não tinha qualquer controle sobre a situação limitando-me a gemer acariciando seus cabelos. Ao dar-se por satisfeita ela se levantou e tornou a selar minha boca com a sua seguindo-se de beijos luxuriosos e atrozes; seguindo meu instinto enlacei-a com meus braços puxando seu corpo contra o meu para sentir sua vibração. Sua pele estava levemente fria, mais por conta do ambiente da sala de conservação que eu sempre mantinha em baixa temperatura, e mesmo assim eu podia senti-la vibrando de excitação; quando nos desvencilhamos ela voltou para a maca deitando-se nela e abrindo as pernas enquanto acariciava sua vulva num irrecusável convite dirigido a mim; tentando conter a afobação, tirei minhas roupas e avancei até ela que fez gestos indicando que queria sentir-se saboreada em suas partes íntimas. Abandonando a realidade me entreguei definitivamente ao momento insólito que parecia ser uma ilusão com plenitude sensorial e mergulhei meu rosto entre as pernas de Helen passando a desfrutar de sua vulva quente e úmida que não demorou em vibrar diante do primeiro gozo que verteu sobre minha língua ao mesmo tempo em que ela se contorcia gemendo miúdo usufruindo do prazer que eu proporcionava naquele momento. Dediquei àquela carícia oral todo o esmero propiciando a ela uma sequência quase interminável de orgasmos que faziam seu corpo se contorcer sobre a maca em uma espécie de dança cheia de sensualidade. Tomado por um rompante frenético e tresloucado, subi sobre a maca cobrindo o corpo de Helen com o meu e não perdendo tempo em penetrá-la com movimentos rápidos e profundos que a fizeram gemer miúdo mais uma vez; desferi uma sucessão de movimentos pélvicos, ora enterrado, ora sacando meu membro gestos que logo resultaram em mais orgasmos sacudindo o corpo de Helen que me fitava com uma expressão lânguida e ao mesmo tempo insinuante. Copulamos por tanto tempo que eu já perdera qualquer noção do que havia ao meu redor concentrando-me apenas em desfrutar daquela linda jovem cheia de desejo; infelizmente me vi obrigado a capitular diante de tanto esforço físico atingindo meu ápice num gozo alucinante, esguichando jatos de esperma dentro de Helen. Eu estava exaurido, suado e ofegante e ao fitar o rosto de Helen fui arrebatado por uma estranha sensação vendo aquela expressão plena e sorridente esvanecer-se diante de meus olhos que foram tomados por uma densa escuridão enquanto uma dormência inexplicável me atirava num profundo vazio. Sem qualquer compreensão do que acontecia, fui acordado com Darlene nua sentada sobre mim quicando em delirantes movimentos e gemendo sem parar anunciando a espiral orgásmica que dominava seus sentidos e também sua consciência; involuntariamente eu a segurei pela cintura conduzindo aquela deliciosa dança de minha esposa sobre mim chegando a apertar suas mamas fartas e beliscar seus mamilos provocando sensações renovadas de prazer. E foi nesse clima que ambos atingimos um clímax perfeito e harmonioso que há muito tempo não experimentávamos com tal magnitude. Darlene desabou sobre mim enchendo meu rosto de beijos dizendo-se grata por uma foda matinal tão intensa. “Matinal! Já amanheceu! E o corpo? O corpo de Helen? Quem cuidou dele?”, perguntei com tom alarmado sem esconder minha ansiedade. -Como você sabia o nome daquela moça? – questionou Darlene mostrando-se surpresa – Bom, isso não importa! …, graças e você e ao socorrista ela sobreviveu e foi levada para o hospital …, mas pelo que eu soube ela desapareceu durante a noite …, você foi um herói! Como sempre! Naquele momento achei por bem mudar de assunto, pois caso contasse a ela sobre o que eu achava que havia acontecido na sala de conservação creio que Darlene me acharia maluco o que ela já suspeitava por conta do pesadelo estranho que me assolava há meses. Nos dias que se seguiram não tive mais problemas durante o sono e achei que tudo havia retornado à normalidade, deixando a experiência com Helen enterrada entre doces memórias de momentos que ainda vibravam em meu corpo. E muito tempo se passou até que tudo desaparecesse nas brumas do esquecimento, exceto por uma tulipa rubra que alguém deixou sobre a maca da sala de conservação e junto com ela um bilhete que dizia: “Guarde esse mimo com muito carinho e cuidado, pois dentro dele está a minha essência que para sempre será sua!”.
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Parabéns, parei para ler seu conto. Um conto no estilo poético, muito bom.
Comentou em 17/01/2024
Impressionante sua capacidade e qualidade no desenvolvimento de um tema, seja ele em qualquer categoria, sempre mostrando uma escrita refinada e de alto nível, faz a gente se prender a história e se excitar com cada paragrafo, é realmente um dos melhores escritores que conheci, merecedor de muitos votos, obrigada por nos proporcionar e apreciar essa leitura, parabéns.
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