Certa noite Francis percebeu uma pintura pendurada na parede mais ao fundo da estalagem que lhe chamou a atenção; tratava-se de uma mulher seminua que parecia despir uma espécie de roupa que possuía barbatanas; ao perguntar para Marion sobre a pintura ouviu a história da mulher-foca; segundo a lenda os habitantes da ilha em tempo imemoriais acreditavam que as focas são a "reencarnação" de humanos que perderam as suas vidas por afogamento no mar. Segundo a lenda, uma vez por ano, na véspera do dia de Reis, estes animais reúnem-se na costa da ilha Mikladalur. Durante a noite, tiram as suas peles de foca, tornam-se humanos novamente e dançam na escuridão.
-A lenda ainda conta que um jovem pescador roubou a roupa de foca de uma mulher a fim de mantê-la ao seu lado escondendo a vestimenta em um baú mantendo a chave sempre em sua posse; eles viveram por anos frutificando amor e filhos; certo dia ao sair para pescar notou que estava sem a chave e ao voltar para casa viu-se só com os filhos; nas vésperas da aparição dos seres foca a mulher veio ter com o pescador em sonho implorando que ele não matasse seus familiares o que ele ignorou – prosseguiu Marion – “Bom, no final isso exigiu uma vingança se tornando uma maldição ceifando a vida de centenas de pescadores; alguns irão afogar-se no mar, outros irão cair de falésias... e assim continuará até que morram homens suficientes para que possam unir os braços ao redor de toda a ilha de Kalsoy! Depois de amaldiçoar o homem e a aldeia, a mulher-foca desapareceu, para nunca mais ser vista!”, arrematou Marion com tom entristecido.
Abismado com a narrativa fantástica, Francis ficou comovido ao que Marion procurou aliviar oferecendo-lhe mais uma caneca de café. Naquela noite, ainda relembrando as palavras da dona da estalagem ele vagou pela praia pedragosa olhando as ondas indo e vindo num ciclo sem fim e pensando na dor daquela mulher-foca que perdera toda a sua família por conta da intolerância humana; repentinamente ele achou ver uma silhueta vindo das águas para a praia. Aturdido com a imagem Francis não conseguiu esboçar nenhuma reação mantendo-se imóvel enquanto a silhueta ganhava forma e visibilidade.
E quando finalmente ambos estavam frente a frente, Francis viu que se tratava de uma linda mulher que sorria para ele; notou que estava nua exibindo uma beleza única e especial; sua pele alva como a neve contrastava com os longos cabelos negros como a noite que esvoaçavam ao sabor do vento frio que vinha do mar; seu rosto era de uma beleza cativante dotado de profundos olhos azuis e lábios cor de púrpura que desenhavam a forma de um coração; os seios firmes e redondos eram encimados por mamilos intumescidos coroados por aureolas de tom suavemente rosado e o baixo-ventre era glabro e liso. Francis ainda se encontrava tomado por uma inexplicável letargia mesmo quando a mulher estendeu sua mão até tocar-lhe o rosto numa delicada carícia que o deixou arrepiado pressentindo uma crescente e incontrolável excitação! “Leve-me com você! Me deixe preencher a tua solidão!”, disse ela num tom meigo e inquietante causando enorme impacto na mente do marceneiro.
Sem pensar em mais nada, Francis tirou sua jaqueta agasalhando a desconhecida que retribuiu o gesto colando seus lábios aos deles encerrando um longo e luxurioso beijo; de mãos dadas eles caminharam pelas ruas desertas do vilarejo até chegarem à oficina de Francis onde nos fundos situava-se sua modesta residência. Foram para o quarto onde a mulher livrou-se da jaqueta e em seguida ajudou Francis a se despir. Com gestos medidos e carinhosos ela acariciou o corpo de Francis que se via tomado por incontáveis arrepios percorrendo seu corpo; em dado momento a desconhecida beijos os mamilos do sujeito e logo os alternava em sua boca lambendo e sugando avidamente.
Francis ficava mais surpreso com sua companhia a cada momento já que tinha ela toda a iniciativa para seduzi-lo com sua sensualidade intrigante; aos poucos ela começou a se ajoelhar até que o membro rijo do macho estivesse ao alcance de sua boca e sem cerimônia começou a dar longas lambidas antes de fazê-lo desaparecer sugando-o avidamente; Francis beirou a insanidade ao sentir aquela boca quente e molhada sugando e lambendo seu membro provocando uma experiência sensorial que ele há muito tempo não desfrutava; e tal era a dedicação da forasteira em usufruir da carícia oral que não media esforços em proporcionar ao seu parceiro algo extasiante.
Assim como começou o desfrute terminou com ela empurrando gentilmente o sujeito até ele se deitar sobre a cama permitindo que ela viesse por cima dele; com extrema habilidade ela tomou o membro em uma das mãos descendo sobre ele até obter êxito em um perfeito encaixe com o mastro sendo agasalhado por sua vulva. Francis não conteve um gemido alucinado que fez sua parceira abrir um enorme sorriso antes de dar início a eloquentes movimentos de sobe e desce cuspindo e engolindo a vara viril e provocando delirantes sensações que faziam Francis gemer e suspirar de forma incontida.
A certa altura ela se inclinou sobre ele oferecendo-lhe as mamas que Francis não perdeu tempo em segurar cuidando de saborear os mamilos que de tão durinhos pareciam frutas maduras. A cópula avançou noite adentro e o casal envolvia-se em uma cumplicidade intensa e alucinante com mudanças de posição em vários momentos; Francis cobriu a desconhecida impondo uma sequência de movimentos pélvicos tão contundentes a que fizeram gozar caudalosamente por várias vezes sempre celebrando com beijos quentes e demorados. Era alta madrugada quando ele anunciou sua capitulação diante do esforço desprendido.
-Goze, meu amor! Faça de mim um ser pleno e feliz! – balbuciou a desconhecida em tom de súplica mirando o rosto crispado de seu parceiro.
Com os músculos retesados e o corpo sacudido por vigorosos espasmos Francis empreendeu um derradeiro esforço que culminou em seu clímax vertiginoso e abundante irrigando o colo de sua parceira que também recebeu em retribuição um gozo digno de amantes envolvidos por uma aura de absoluta cumplicidade. Esgotados, ofegantes e transpirando sem parar eles ainda permaneceram engatados usufruindo do êxtase daquela comunhão perfeita e inexplicável acabando por desfalecerem caindo em um sono entorpecente.
Francis acordou sobressaltado pulando sobre a cama e olhando ao redor em busca de uma confirmação de que tudo o que acontecera na noite anterior não fora apenas um mero devaneio onírico e que aquela mulher não fora apenas fruto de sua imaginação; embora ainda sentisse no corpo o preço cobrado pelo esforço físico a que fora submetido ele precisava da certeza tangível certificando algo que parecia irreal.
-Não foi irreal, meu querido …, tanto, que estou aqui – disse a desconhecida surgindo na soleira da porta do quarto ainda exibindo sua nudez estonteante parecendo que tinha o dom de ler pensamentos – Me chamo Ayra e estou aqui por você!
Francis olhava para ela com uma expressão aturdida ansioso por respostas para as centenas de perguntas que orbitavam em sua mente, me especial a de saber se Ayra era uma mulher-foca. Ela sorriu mais uma vez caminhando em sua direção e sentando-se na beirada da cama. “Sim, meu querido …, eu sou quem você pensa! Mas estou aqui apenas por você …, e preciso te pedir uma coisa!”, disse ela com tom doce e suave. Prontamente, Francis quis saber o que ela queria lhe pedir e depois de um silêncio enigmático ela prosseguiu.
-Quero de faças um baú de madeira com uma tramela de ferro – explicou ela estendendo a mão onde jazia uma peça metálica – tome, este é o cadeado que servirá para trancar o baú …, ele deve estar pronto antes do último ciclo da lua …
-E enquanto eu construo esse baú …, você ficará comigo? – interrompeu ele perguntando com tom ansioso.
-Infelizmente, não …, mas não se preocupe … eu voltarei para ti – respondeu ela acariciando o rosto do marceneiro – ao final de cada ciclo lunar eu virei ter contigo …
Com gestos suaves, Ayra se levantou e afastou-se em direção da porta e num piscar de olhos desapareceu sem deixar vestígios. Francis ainda aturdido com tudo que acontecera teve ímpeto de sair atrás de Ayra, mas desistiu sabendo que não a encontraria; naquela mesma noite sentiu vontade de desabafar com alguém, mas não o fez com a certeza de que não acreditariam nele e resignou-se em atender ao pedido de Ayra.
Nos dias que se seguiram, o sujeito deu início à fabricação do baú com a escolha da madeira e a elaboração de um esboço do seu formato; Francis trabalhou com afinco dedicando toda a sua atenção em elaborar uma peça digna de valor sempre ansiando pelo retorno de Ayra. E ao final do primeiro ciclo lunar ela veio ao seu encontro; sua ansiedade era tal que não perdeu tempo em tomá-la em seus braços aquietando sua boca com a dela em esfuziantes beijos repletos de desejo. Ayra entregou-se a ele sem qualquer hesitação chegando ao ponto de colocar-se de quatro sobre a cama chamando-o para o primeiro round do aguardado embate sexual.
Francis arremeteu seu membro invadindo a gruta quente e úmida de Ayra que soltou alguns gemidos prolongados pedindo que ele avançasse sem temor; com movimentos pélvicos contundentes e segurando a fêmea pela cintura o sujeito golpeou alucinadamente observando seu esforço render uma torrente de orgasmos sacudindo o corpo de Ayra cujos gemidos haviam se transformado em gritos. Ainda sedentos de prazer o casal mudou de posição várias vezes até o momento em que Ayra se pôs entre as pernas de Francis passando a saborear seu membro propiciando-lhe um delirante êxtase; o sujeito, por sua vez, achou por bem inovar e depois de pedir a Ayra que se deitasse ele veio sobre ela em posição invertida permitindo que ambos pudessem se saborear mutuamente.
E o esforço foi de tal magnitude que Francis não foi capaz de controlar seu clímax despejando sua carga quente e espessa nas entranhas de Ayra que por sua vez desfrutou de um derradeiro e alucinante orgasmo; postos fora de combate por mais um embate luxurioso eles acabaram por adormecer abraçados trocando beijos e carícias. E pela manhã, o sujeito viu-se sozinho novamente. Aquele doce e inebriante interlúdio erotizante perdurou ao longo de todos os ciclos lunares dotando o casal de uma cumplicidade única e especial; muito embora Francis temesse a aproximação do último ciclo lunar do ano que poderia significar a perda de Ayra, algo em seu interior o tranquilizava como uma certeza inaudita do que estava por vir. E finalmente quando esse temido momento chegou ele apenas afastou essa preocupação de sua mente cuidando de tratar sua parceira com toda a dedicação que ela merecia. “Venha, meu doce! Faça-me inteiramente tua!”, disse Ayra no momento em que se posicionou em decúbito dorsal sobre a cama.
Francis vislumbrou o traseiro delineado com uma perfeição quase divinal e respirou fundo preparando-se para cumprir seu desígnio; ele separou as nádegas roliças e com sua língua explorou o vão entre elas carícia essa que logo redundou em doces lamúrias balbuciadas em tom luxurioso; ainda não satisfeito em suas preliminares, Francis sugeriu que repetissem o gesto de saborearem-se mutuamente ao que Ayra aquiesceu de bom grado; usufruíram então de uma delirante carícia oral conjunta e logo depois retomaram a preparação para selarem sua cumplicidade; Francis procurou ser cuidadoso e carinhoso e ao obter êxito na penetração anal manteve-se imóvel tempo suficiente para que ambos se acostumassem àquela nova sensação.
Seguiu-se então a mais harmônica e perfeita conjunção carnal entre um macho e uma fêmea com ambos desfrutando de uma experiência sensorial repleta de movimentos corporais alucinantes, gemidos delirantes e um gozo anal que chacoalhou o corpo de Ayra cuja reação foi gritar reafirmando seu amor por Francis que ouvindo essas palavras regozijou-se com a dádiva que o universo lhe concedeu. A cópula anal seguiu seu curso de modo magistral com os corpos movimentando-se em sincronia única o que propiciou a Ayra usufruir de mais um gozo estupendo que a fez se render ao exaurimento que já tomava conta de si e que culminou com o orgasmo profuso de Francis inundando suas entranhas provocando um derradeiro êxtase luxurioso.
Com uma colossal fadiga tomando conta de seus corpos e de suas mentes, Francis e Ayra adormeceram abraçados como se fossem um só corpo; e pela manhã ele surpreendeu-se ao ver que Ayra não havia partido; ela pediu para ver o baú e Francis a levou até a oficina onde exibiu o artefato concluído com entalhes nas laterais como também na parte superior com uma tremela forjada com a forma de uma foca; Ayra examinou detidamente o objeto e não conteve lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
-Ficou perfeito, meu amor …., uma verdadeira obra de arte – disse ela em tom elogioso após abraçar e beijar seu parceiro – retornarei às vésperas do dia de Reis …., não te preocupes …., não terás nenhuma decepção …., apenas confie em mim ….
Ao invés de responder, Francis preferiu beijá-la ardentemente como uma forma de confirmar sua confiança em suas palavras. Ayra partiu e como o prometido retornou no dia marcado; eles se deitaram mais uma vez e conjuraram uma cópula efervescente envolta em uma aura de inexplicável magia desfrutando de um gozo sincronizado com o Universo e em cujo firmamento imperava uma lua altiva e orgulhosa. Pouco antes da meia-noite, Ayra tomou a mão de Francis e ambos foram até a oficina onde ela pediu para que ele trouxesse o baú até a praia. Junto a um conjunto rochoso ela se aproximou de um vão retirando algo que parecia ser uma espécie de roupa depositando-a dentro do baú pedindo que Francis o lacrasse com o cadeado que possuía apenas uma chave.
Ele fez o que ela lhe pedira e depois entregou-lhe a chave pesaroso do que poderia acontecer; Ayra tomou a chave na palma da mão e depois voltou-se para o mar atirando-a o mais longe possível. "O conteúdo desse baú não tem mais nenhuma importância …., o que importa a partir de agora é a vida que levaremos juntos até o fim de nossos dias ..., é isto que você quer, meu amor?", perguntou ela ao ser questionada sobre o conteúdo do baú. Francis tomou-a em seus braços e sorriu antes de beijá-la. Não muito longe dali, Marion observava o casal e sorria tomada por imensa felicidade; logo depois deu as costas e desapareceu através de uma pesada bruma que viera do mar e cobrira toda a ilha. Dizem que o baú ainda jaz em algum lugar da ilha, porém ninguém sabe onde! Nem mesmo a prole de Francis e Ayra.
Epílogo: “Quem quiser pode conferir a estátua de bronze feita pelo escultor feroês Hans Pauli Olsen foi inaugurada no local de origem da lenda, a localidade de Mikladalur, na ilha de Kallsoy, no arquipélago das feroés”.
Existem muitos relatos sobre A Lenda da Mulher Foca. Mas eu particularmente achei o seu lindíssimo. E a ilustração com a estátua ficou maravilhosa. Obrigado por esse texto tão inspirador. Você é demais! Sou seu fã confesso!!! Abraços!
Gostei da história, da lenda, do conjunto da obra. VOTADO.
Perfeito, um texto impecável com uma mistura de romance e erotismo, em cada paragrafo uma viagem no pensamento e ansiedade pelo acontecimento final, excelente, é um escritor formidável, parabéns meu amigo por nos proporcionar essa obra, uma satisfação ler e admirar seus relatos, tem toda minha admiração.