Sorri, agradecido, enquanto ele me deu um aceno de cabeça, indicando que a conversa havia terminado. Saí do escritório e fui direto para o carro. Peguei o celular no bolso e, sem pensar duas vezes, liguei para o Bernardo. Queria compartilhar logo a novidade.
— Alô, Rafa? — a voz de Bernardo soou do outro lado da linha, carregada de uma saudade que eu também sentia.
— Oi, Tenho uma novidade — disse, com um sorriso que ele não podia ver, mas que certamente ouviria no meu tom.
— Fala, tô curioso — ele riu.
— Seu pai me chamou pra ir na capital essa semana. Trabalho. Vamos na quinta-feira pra fechar uns contratos, mas depois vou ficar o fim de semana por aí. Pensei em aproveitar e passar esse tempo contigo. O que acha?
— Rafa, você tá falando sério? Vai poder ficar o fim de semana aqui? — Bernardo parecia animado, o tom de sua voz mudou instantaneamente.
— Sim, vou. E mal posso esperar para te ver. Faz tanto tempo… — suspirei, sentindo o peso da saudade.
— Nossa, eu também tô contando os dias. A gente precisa se ver, conversar, matar essa saudade — ele respondeu, a voz cheia de emoção.
— E não só conversar, né? — falei em tom de brincadeira, tentando aliviar um pouco a tensão do momento, mas ao mesmo tempo deixando claro o que ambos desejávamos.
— Pode ter certeza que não vamos só conversar — ele respondeu de volta, com um tom de voz que me fez sorrir.
— Então tá combinado, quando eu chegar na capital, a gente se vê. Vou te avisando. Não vejo a hora, sério.
— Eu também, Rafa. Vai ser incrível te ter por aqui de novo.
O resto da conversa foi leve, cheia de risadas, planos e promessas. Quando desliguei o telefone, fiquei por alguns minutos pensando no reencontro. Apesar da proximidade crescente com Caio e do quanto nossas “festinhas” me faziam explorar novos lados de mim, era com Bernardo que meu coração sempre voltava. A distância era difícil, mas o que sentíamos um pelo outro parecia forte o suficiente para aguentar as semanas separados.
Mas, no fundo, uma pontada de culpa surgia por não contar a ele sobre o Caio. Não era que eu estivesse fazendo algo errado, afinal, não tínhamos um relacionamento exclusivo… mas o que Bernardo pensaria se soubesse? E, então, um pensamento novo me atravessou: será que, assim como eu tinha o Caio, Bernardo também tinha alguém na capital? A ideia me incomodava, embora eu soubesse que não poderia cobrar nada. Mas se ele tivesse alguém... eu sentiria ciúmes. Essa dúvida ficou comigo por mais tempo do que eu gostaria, mas logo tratei de espantá-la. Afinal, o fim de semana na capital prometia ser inesquecível, e era nisso que eu queria focar.
(...)
Finalmente chegou a quinta-feira, e partimos para a capital logo cedo. A viagem de carro seria de quase seis horas, e passamos por duas cidades antes de chegar ao nosso destino. No carro, estavam eu, Sr. Alyson, o Sr. Antônio e Marieta, uma das secretárias do Alyson. Conforme seguíamos pela estrada, o sol começou a nascer, pintando o céu de um laranja vibrante, como se o horizonte estivesse em chamas. Os campos ao nosso redor se iluminavam gradualmente, revelando um mar de verdes e dourados que dançavam sob a brisa da manhã. A luz suave filtrava-se pelas árvores, criando sombras longas e mágicas que se estendiam pela estrada. Era um espetáculo que, em meio ao ruído do motor, nos fazia sentir pequenos diante da grandiosidade da natureza.
A viagem seguiu tranquila, com conversas sobre trivialidades e risadas ocasionais, enquanto a música preenchia o ar. Na última cidade antes da capital, o Sr. Antônio e Marieta desceram para resolver algumas burocracias e pegar outro carro para retornar à cidade do Alto. Eu me acomodei no banco da frente, animado, e segui conversando com Alyson sobre o que eu esperava para o fim de semana. Comentei que tinha convidado o Bernardo para ir à praia, já que eu nunca tinha entrado no mar, e que a única vez que vi o mar, foi quando o Sr. Antônio me levou em nossa última viagem. Alyson abriu um sorriso ao ouvir isso.
— Você vai ter muito tempo para aproveitar, — disse ele. — Nossos compromissos profissionais devem ser rápidos.
O silêncio que se seguiu foi confortável, mas logo senti um frio na barriga quando Alyson perguntou:
— Rafa, posso te fazer uma pergunta?
A tensão no ar era palpável. Eu me virei um pouco para olhar para ele, nervoso, sem saber o que esperar.
— E seu pai? Ele não mora com você? Você nunca falou sobre ele.
Aquela pergunta me pegou de surpresa. Eu não esperava por isso, e uma onda de emoções invadiu meu peito.
Respondi ao Sr. Alyson, tentando manter a voz firme, mas sentindo o peso da história que eu sempre carreguei.
— Então... é uma história complicada. O que minha mãe sempre me disse foi que, quando ela ficou grávida de mim, meu pai não quis saber. Ele mandou ela sumir e disse que não ia me assumir. O pai dela também não aceitou a gravidez e acabou expulsando minha mãe de casa. Ela foi morar no interior de Minas, com a ajuda de um parente distante, e começou a trabalhar na antiga fazenda onde eu nasci e me criei.
Alyson engoliu em seco, o olhar dele agora mais sério, como se estivesse digerindo cada palavra. Ele ficou em silêncio por alguns segundos antes de perguntar:
— E pra você, foi tudo bem ter sido criado assim, sem um pai por perto?
— Foi, sim, — respondi, tentando sorrir. — Minha mãe soube me criar sozinha. E os antigos donos da fazenda me tratavam como parte da família. Eu tinha algumas regalias por lá, mas, infelizmente, quando o dono faleceu, os filhos decidiram vender as terras, e foi aí que viemos para o Alto.
Alyson me olhou com um ar de compreensão, mas continuou:
— E você? Tem raiva do seu pai? Nunca teve vontade de conhecê-lo ou saber mais sobre ele?
Eu suspirei e olhei para a estrada à frente.
— Raiva? Não, nunca senti raiva. Mas também... nunca fiz questão de conhecer alguém que me rejeitou antes mesmo de eu nascer.
Seguimos viagem e logo chegamos à capital. Fomos direto para a reunião, que aconteceria em uma antiga fábrica de queijos a uns 15 minutos da cidade. O Sr. Alyson estava interessado em comprar o lugar para abrir uma fábrica de queijos na capital. Era a primeira de várias reuniões, o que me deixou feliz, já que isso significava mais viagens para cá no futuro. Conhecemos as instalações da fábrica, e depois o Sr. Alyson foi acertar alguns detalhes burocráticos. Fiquei esperando do lado de fora, aproveitando o momento sozinho para mandar uma mensagem ao Bernardo. Avisei que já tinha chegado e que estava esperando seu pai terminar a reunião. Ele respondeu quase que imediatamente, dizendo que estava ansioso pela nossa chegada e perguntou a que horas iríamos para casa. Respondi que, pelo jeito, deveríamos ir direto dali.
Também aproveitei para mandar uma mensagem ao Caio, avisando que já estava na capital. Ele respondeu que já estava com saudades e que eu deveria aproveitar bem a cidade, pois queria saber de tudo depois. Sorri ao ler a mensagem. Às vezes, a sensação que eu tinha era de que eu e Caio éramos mais amigos do que qualquer outra coisa... amigos com benefícios, claro. A única questão que me incomodava um pouco era o envolvimento dele com o Bernardo. Eu não comentava nada sobre isso com o Caio, por respeito ao Bernardo, mas também não sabia se deveria trazer esse assunto à tona. Até hoje, eu só falaria sobre isso se ele perguntasse algo diretamente.
Após a reunião, seguimos para a casa do Sr. Alyson. No carro, ele parecia pensativo, até que, do nada, começou a falar, quebrando o silêncio.
— Sabe, Rafa, estou muito animado com essa nova fábrica. A proximidade com a capital vai facilitar muita coisa, especialmente com as exportações. Já estamos quase fechando um grande contrato com uma rede de supermercados aqui, e essa fábrica será fundamental para agilizar tudo. — Ele falava com entusiasmo, seus olhos brilhando.
— Faz todo sentido — respondi, tentando absorver a grandiosidade dos planos dele. — Estar mais perto da capital vai cortar muitos custos e melhorar a logística. A empresa só tem a ganhar com isso.
— Exatamente — ele disse, me olhando rapidamente com aprovação. — Mas, além disso, tem algo que eu queria falar com você. Sei que você tem planos de vir morar na capital, certo? Quando passar no vestibular...
— Sim, tenho. Ainda estou me preparando, mas é meu objetivo. — Respondi, curioso com o rumo da conversa.
O Sr. Alyson deu um leve sorriso e continuou, com um tom de voz mais pessoal, quase paterno.
— Rafa, quero que você saiba que, quando essa fábrica aqui estiver funcionando plenamente, quero que você esteja à frente dela em algumas situações. Quando eu não puder estar presente, você será a pessoa em quem confiarei. Sei que você tem potencial, e quero que trabalhe e estude ao mesmo tempo. Mas fique tranquilo, não será nada puxado como o trabalho no Alto. Quero que tenha tempo para se dedicar aos seus estudos e ao seu futuro. Quero te ajudar a chegar lá.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo o que ele tinha acabado de dizer. Eu nunca esperava uma oportunidade dessas, muito menos de alguém como ele.
— Uau, Sr. Alyson... eu... nem sei como agradecer por isso. O senhor tem sido tão generoso comigo desde que cheguei. — A emoção na minha voz era clara. — Sério, não sei nem como expressar o quanto estou grato.
Ele sorriu mais abertamente, com um olhar fraternal.
— Você não precisa agradecer, Rafa. Eu confio em você, e vejo muito potencial. Você tem garra, vontade de aprender, e isso é raro. Tudo o que eu puder fazer para te ajudar, vou fazer com o maior prazer. — Ele colocou a mão brevemente no meu ombro, transmitindo um apoio que me comoveu profundamente.
— Obrigado, de verdade. Eu não imaginava que seria possível algo assim. Sempre achei que teria que batalhar muito mais até conseguir me estabelecer por aqui. — Agradeci, ainda emocionado com a confiança que ele depositava em mim.
— Você já está batalhando, Rafa. E eu estou aqui para te ajudar nessa caminhada. Só peço que continue sendo essa pessoa comprometida e dedicada que você sempre foi. Vai dar tudo certo. — Ele falou com um sorriso acolhedor, me dando ainda mais confiança.
O caminho até a casa seguiu com uma leveza que eu não sentia há muito tempo. Sentir que alguém acreditava em mim, de verdade, me dava forças que eu nem sabia que precisava. Ao mesmo tempo, uma pequena ansiedade começava a crescer dentro de mim, misturada com a empolgação pelo fim de semana com Bernardo. Mas as palavras do Sr. Alyson ficaram ecoando na minha mente, como um apoio incondicional que eu nunca pensei ter.
Antes de chegarmos à casa do Sr. Alyson, ele suspirou profundamente, como se estivesse pensando em algo mais pessoal.
— Sabe, Rafa... — Ele começou, o tom de voz mais suave, quase melancólico. — Eu queria tanto que o Bernardo, meu filho, fosse como você... Que ele se interessasse pelos negócios da família, pelo trabalho que eu faço aqui. — Ele fez uma pausa, olhando para a estrada à frente. — Acho que por isso me apeguei tão rápido a você, moleque. Você meio que está sendo o que o Bernardo não é, e... eu gosto muito disso.
Suas palavras me pegaram de surpresa. Senti um calor no peito, uma mistura de vergonha e gratidão por ele me ver dessa forma. Sorri, envergonhado, mas também emocionado com a sinceridade dele.
— Eu... não sei nem o que dizer, Sr. Alyson... — Respondi, tentando achar as palavras certas. — Só quero que o senhor saiba que pode contar sempre comigo. De verdade.
Ele me olhou por um segundo, com um sorriso de aprovação no rosto, antes de voltar a atenção para a estrada.
— Obrigado, Rafa. É bom saber que posso confiar em alguém assim. — Ele disse, e o silêncio que se seguiu foi confortável, como se ambos tivéssemos entendido o significado profundo daquela troca de palavras.
Logo depois, chegamos à sua casa, e eu ainda estava processando a importância do que ele havia me dito.
Chegamos à casa do Sr. Alyson, e mal pude conter minha surpresa. A casa era enorme, de dois andares, elegante, com um estilo moderno, mas sem perder um ar aconchegante. As paredes externas eram de um tom bege suave, contrastando com as janelas amplas de vidro, que deixavam a luz natural entrar. O jardim da frente era bem cuidado, com plantas ornamentais que deixavam o caminho até a entrada ainda mais bonito. Assim que entramos, o hall de entrada era espaçoso, com um piso de mármore claro, e um lustre no teto que dava um toque refinado a tudo. Senti meus olhos brilharem ao olhar em volta, impressionado com a beleza e o luxo do lugar.
Assim que passamos pela porta, vi Bernardo já nos esperando na sala de estar. Ele estava encostado no braço do sofá, com os braços cruzados, e assim que viu o pai, foi logo abraçá-lo.
— E aí, pai, tudo certo? — disse Bernardo, com um sorriso no rosto.
— Tudo certo, filho. — O Sr. Alyson respondeu, dando um tapinha nas costas de Bernardo.
Quando foi minha vez, ele me cumprimentou com um aperto de mão, mas algo meio sem jeito. Talvez pela presença do pai. Mesmo assim, o fato de estarmos ali, perto um do outro, sabendo que tínhamos um final de semana inteiro pela frente, fez meu coração disparar de alegria.
— Bernardo, leva o Rafa para o quarto de hóspedes, ajuda ele a se instalar. E depois se prepara para o almoço. — O Sr. Alyson pediu, olhando para nós dois.
— Pode deixar, pai. — Bernardo respondeu, lançando um olhar rápido para mim, quase disfarçando um sorriso.
A casa tinha dois andares, então subimos uma escada de madeira polida que levava ao andar superior. Cada degrau parecia ecoar levemente no ambiente, e eu mal conseguia conter minha empolgação. Bernardo foi à frente, me guiando até o quarto onde eu ficaria.
— Aqui, ó... — Ele disse, abrindo a porta do quarto de hóspedes.
O quarto era espaçoso, com uma cama de casal grande, lençóis brancos impecáveis, e uma vista incrível da cidade pela janela.
Assim que a porta se fechou, nos olhamos por um segundo, e foi como se o tempo tivesse parado. Arriscamos um beijo rápido, seguido de um abraço apertado. O cheiro de Bernardo, a sensação do seu corpo junto ao meu, tudo aquilo me fazia esquecer de tudo ao redor.
— Senti sua falta. — Ele murmurou contra meu ouvido, segurando minha nuca com delicadeza.
— Também senti a sua. — Respondi, o coração batendo mais rápido.
Aqueles poucos segundos juntos já faziam meu corpo vibrar de expectativa para o que ainda estava por vir. Sabíamos que precisávamos ser rápidos, afinal, ainda tinha o almoço, e o Sr. Alysson logo poderia notar nossa ausência.
— Vamos indo... — Ele disse, sorrindo de lado. — Meu pai vai querer saber por que estamos demorando tanto.
— É, melhor não dar motivos. — Concordei, embora quisesse ficar mais um pouco ali, aproveitando o momento.
Descemos as escadas novamente, lado a lado, e mesmo que estivéssemos controlando o desejo, o simples fato de estarmos juntos enchia o ambiente de uma tensão agradável. Sabíamos que o fim de semana prometia muito mais.
To ficando curioso e ansioso pelo proximo conto