— O que aconteceu? — perguntei, minha voz baixa, mas cheia de ansiedade.
Ela respirou fundo, os olhos perdidos no teto como se buscasse respostas nas estrelas invisíveis daquela noite. O silêncio que veio em seguida me fez temer o pior. Meu coração disparou e, antes mesmo que ela falasse, uma ideia assustadora me atravessou a mente: será que Alysson era meu pai?
Ela finalmente quebrou o silêncio, mas a tensão no ar continuava pesada.
— Bom, Rafa, é sobre seu pai... — sua voz soava fragilizada, como se carregasse o peso de anos de segredos e mágoas. Ela fez uma pausa, e eu vi lágrimas surgindo em seus olhos, algo que me fez estremecer por dentro. — Quando eu era mais nova, me envolvi com o seu pai... Ele era novo também, e acabou que fiquei grávida de você.
Ela parou novamente, dessa vez tentando conter as lágrimas que agora insistiam em cair. Meu coração se apertou.
— Ele... ele não aceitou. — Sua voz vacilou, e eu senti a dor em cada palavra que saía de sua boca. — Disse que não iria assumir e me pediu para sumir da vida dele.
Minha garganta secou. Eu queria interromper, dizer algo, mas minha mãe parecia tão frágil, tão despedaçada ao reviver aqueles momentos que eu não consegui. Ela continuou, com o olhar agora fixo no chão, como se estivesse vendo tudo aquilo acontecer novamente diante dos seus olhos.
— Claro que aquilo me destruiu. Eu o amava, Rafa. Ele foi o meu primeiro amor, meu primeiro homem... e ele me virou as costas como se eu não fosse nada. Foi como se tivessem enfiado uma faca no meu peito. Mas o pior ainda estava por vir. — Ela parou de novo, lutando contra as lágrimas, e eu quase podia sentir o peso da dor que ela carregava por tantos anos. — Quando contei aos meus pais que estava grávida, o meu pai... o seu avô... ele não aceitou. Pra ele, uma filha mãe solteira era uma vergonha insuportável. E ele me expulsou de casa.
Ela começou a chorar, e eu senti um nó se formar na minha garganta. O desespero nos olhos dela era real, e a dor que eu sentia, ao vê-la assim, me consumia.
— Com a ajuda da minha irmã, acabei indo morar no interior de Minas, onde você nasceu. E seu pai... — ela parou de novo, respirando fundo, tentando manter a calma —, bom, eu nunca mais tive notícias dele. Por anos, pensei que ele havia simplesmente desaparecido.
Eu estava atordoado, tentando processar tudo. Uma parte de mim queria gritar, perguntar quem ele era, o porquê de tudo aquilo, mas eu sabia que ainda não era o fim.
— Quando voltamos a morar aqui no Alto, descobri que o irmão do seu pai... é o Alysson. — Ela fez uma pausa, e dessa vez, o choque em mim foi imediato. Eu fiquei paralisado. — Fiquei aflita, Rafa. Não queria que você estivesse perto dessa família, mas... a Sonia, minha irmã, foi quem te ajudou a conseguir o emprego na fábrica. Ela falou diretamente com o Alysson, e eu fui contra, porque não queria que você soubesse nada disso. Mas o Alysson soube que você não sabia quem era o seu pai de verdade, e ele se aproximou de você.
Ela respirou fundo, olhando diretamente nos meus olhos, e o medo nos seus era claro.
— O seu pai, Rafa... — ela engoliu seco, os olhos marejados —, ele quer te conhecer. Ele tem conversado com o Alysson, tentando pedir desculpas, tentando se aproximar de você, e o Alysson estava me pressionando a contar a verdade.
Eu fiquei ali, em silêncio, meu coração batendo forte no peito. Minha mente estava um caos. O que significava tudo aquilo? O homem que me abandonou queria voltar? Depois de todos esses anos? E o Alysson, esse homem com quem eu tinha me envolvido, sabia de tudo?
Minha mãe me olhava com os olhos vermelhos, como se estivesse esperando por uma reação, qualquer que fosse. Mas eu simplesmente não sabia o que dizer. Não sabia como reagir.
A revelação foi como uma bomba. Tudo o que eu acreditava, o que eu sabia sobre mim mesmo, parecia desmoronar.
Eu já conhecia essa história sobre meu pai, mas minha mãe nunca havia me contado com tanta emoção. E claro, aquilo mexeu comigo. Durante toda a minha vida, eu cresci sabendo que não tinha um pai, que ele simplesmente não fazia parte da minha história. E agora, saber que ele estava ciente da minha existência... foi difícil processar.
Mas o que senti naquele momento foi algo previsível, algo que sempre esteve dentro de mim. Enxuguei as lágrimas da minha mãe com cuidado, querendo de alguma forma aliviar a dor dela, mesmo que fosse impossível.
— Mãe, sinceramente, não faço a mínima questão de conhecer esse cara — disse com firmeza, mas sem elevar a voz. — Não precisa se preocupar com isso. Depois eu converso com o Alysson, mas... eu nunca precisei de um pai, e não vai ser agora que vou precisar. Sempre foi eu e você, e vai continuar sendo daqui pra frente. Só nós dois.
Ela me olhou com uma mistura de tristeza e alívio, como se parte da culpa que carregava tivesse sido suavizada pelas minhas palavras. Nos abraçamos em silêncio, um abraço cheio de compreensão e apoio. Por mais que a história fosse dolorosa, o vínculo que tínhamos era o que realmente importava.
Depois da conversa, minha mãe foi preparar o jantar, enquanto eu fiquei ali, sozinho com meus pensamentos. Tudo parecia um turbilhão caótico na minha mente: Alysson, Bernardo, um pai ausente, e agora esse segredo revelado. Nada fazia muito sentido, e ao mesmo tempo, era como se tudo estivesse vindo à tona de uma vez só.
Decidi mandar uma mensagem para o Caio, perguntando se ele estava de bobeira. Precisava de alguém com quem conversar, de um ombro amigo que me ajudasse a tirar esse peso das costas. Depois de jantar com minha mãe, fui até a casa dele. Assim que cheguei, ele me recebeu com um selinho, e eu o puxei para um abraço mais longo, como se aquele contato fosse o único lugar onde eu pudesse me sentir seguro.
Caio, sempre observador, percebeu que algo estava errado. Ele me olhou com aquela expressão de preocupação que eu já conhecia.
— O que aconteceu, Rafa? — perguntou, sua voz suave e calma.
Eu já havia contado a ele superficialmente sobre o fato de não ter um pai presente na minha vida, mas essa era a primeira vez que me sentia preparado para contar toda a história. Respirei fundo e falei.
— Minha mãe... contou tudo hoje. Meu pai... é o irmão do Alysson.
Caio arregalou os olhos, surpreso, mas não disse nada de imediato. Contei a ele em detalhes tudo o que tinha acontecido, quando finalizei ele apenas me puxou para perto de novo, me abraçando com força. E naquele momento, eu soube que podia contar com ele, mesmo em meio a todas essas novas revelações que estavam bagunçando minha cabeça.
Deitados em silêncio por um tempo, senti o peso de tudo se acalmando um pouco. Quebrando o silêncio, perguntei ao Caio:
— E aí, quando você vai viajar?
Ele me olhou, visivelmente animado, e respondeu:
— Acho que na próxima semana já tô indo. A campanha só começa oficialmente em agosto, mas tem toda a pré-campanha pra organizar, então já vou começar a trabalhar nisso.
Ele pegou o celular e me mostrou a foto do político com quem iria trabalhar.
— Olha só, que gato! — disse com um sorriso de malícia, enquanto passava o dedo na tela.
Eu olhei e, realmente, o cara era bonito. Novo, com aquele jeito de filho de político tradicional, daqueles que estavam começando a vida pública.
— Pois é, ele é filho de um político importante aqui do estado. A família dele é super influente, e o pai vai fazer de tudo pra garantir que o filho seja eleito. Vai ter muito dinheiro envolvido nessa campanha.
Eu ri, já imaginando o Caio todo animado nesse ambiente, e perguntei:
— E tu tá nessa por causa do dinheiro ou porque gosta de política?
Ele deu de ombros e sorriu, com aquele jeito leve de sempre.
— Eu sempre curti a política do interior, sabe? Não é só por causa da grana, claro que isso ajuda, mas o que me chama atenção é como é tudo muito mais animado. As festas, os comícios, tudo vira um grande evento, a galera participa de verdade, se envolve. Acho que você vai adorar quando começar a ver isso, Rafa. A política aqui é bem diferente de onde você morava. Lá parece mais... distante. Aqui, é tudo uma grande festa. Mesmo quando é briga, é tudo mais emocionante.
Eu ri de novo, já imaginando as cenas que ele estava descrevendo, mas também curioso.
— Você acha mesmo que eu vou gostar?
— Ah, tenho certeza! — ele disse, agora com um tom mais confiante. — Você vai ver. Vai ter festa, comício, churrasco... todo mundo conhece todo mundo. A política aqui movimenta as pessoas, mexe com os sentimentos, cria paixões e inimizades. É uma montanha-russa. E eu sei que você gosta dessas aventuras, não adianta negar.
Caio piscou pra mim, e eu sorri, me sentindo mais leve, mesmo com tudo o que estava acontecendo. Estar com ele, ouvir essa animação toda, de certa forma, me fazia esquecer os problemas, pelo menos por um tempo.
Trocamos alguns beijos, e falei para o Caio que precisava ir, ele me disse para ficar bem e qualquer coisa podia colar na casa, agradeci e puxei para o um beijo rápido de despedida.
Entrei no carro e, com o coração acelerado, decidi que não podia mais adiar a situação com o Bernardo. Precisava resolver isso de uma vez. Peguei o celular e comecei a digitar, querendo ser sincero, mas sem parecer que eu estava tirando toda a culpa de mim. Respirei fundo e enviei a mensagem:
"Boa noite, Bernardo.
Eu queria, mais uma vez, pedir desculpas pelo que aconteceu naquela noite. Eu não sei até quando você vai ficar em silêncio, mas queria que soubesse que, de verdade, eu não tive culpa. Se alguém teve, foi o Luís Ricardo. Ele que me puxou para aquele beijo, e eu fiquei sem entender nada.
Sei que isso não apaga o que aconteceu, e nem estou querendo fugir da responsabilidade, mas só queria que você soubesse disso. Eu gosto muito de você, e sempre gostei, só que, até agora, a gente nunca teve nada oficial, né? A gente estava junto, sim, e de certa forma, eu sabia que deveria ficar só com você.
Eu não tô jogando a culpa em você, longe disso, mas é inevitável me perguntar se, durante todo esse tempo que eu tava no Alto e você na capital, você nunca ficou com mais ninguém. Não tô dizendo que isso justifica o que aconteceu, mas... enfim, é algo que ficou na minha cabeça.
De qualquer forma, o que eu realmente quero é colocar uma pedra em tudo isso. Se você quiser, a gente pode começar do zero, como namorados, algo real e oficial. Sem mais desculpas, sem mais dúvidas.
Eu gosto muito de você, Bernardo. De verdade. E espero que você possa me responder. Mesmo que seja pra dizer que acabou, só preciso que a gente converse."
Enviei a mensagem e fiquei ali, no carro, com o coração na mão. Sabia que, de algum jeito, eu estava sendo meio embuste. Mas ao mesmo tempo, era o que eu sentia. Tudo estava confuso, e eu não sabia mais como resolver as coisas sem ser honesto, por mais que a verdade fosse dura. Agora, só restava esperar.
Fui em direção à fazenda, com a mente a mil, pensando em tudo que tinha acontecido. Quando cheguei, Alysson me aguardava na sala, sério, mas com um leve sorriso que não sabia como interpretar. Entrei e dei um oi tímido, observando como ele estava com uma expressão um tanto intrigada.
— Então, quer dizer que o senhor é meu tio? — perguntei, tentando quebrar o gelo. Sorri, na esperança de que ele também fizesse o mesmo.
Ele sorriu de volta, mas a seriedade ainda pairava no ar.
— Sim, posso te explicar tudo, mas isso pode levar um tempo — ele começou, mas eu o interrompi.
— Não, não… — disse, balançando a cabeça. — Neste momento, não quero saber de detalhes. Só tenho uma dúvida.
Alysson arqueou a sobrancelha, intrigado.
— Qual é a dúvida? — indagou, olhando nos meus olhos.
Respirei fundo e, com um tom provocativo, lancei a pergunta.
— No dia em que a gente transou, você sabia que eu era seu sobrinho?
Ele me encarou com um olhar que misturava surpresa e malícia.
— Sabia, sim — respondeu, um sorriso sacana se formando em seus lábios.
Um sorriso travesso surgiu no meu rosto, e decidi aproveitar a situação.
— Ah, então eu teria amado saber que estava prestes a transar com um tio meu... — disse, lançando um olhar desafiador.
O sorriso dele se ampliou, e ele deu um passo à frente, encurtando a distância entre nós. A tensão entre nós era palpável, e eu sentia meu coração acelerar.
— Você sente mais tesão em saber que vai transar com um tio? — perguntou ele, com a voz baixa e provocante.
— Sim, confesso que isso me excita muito. — provoquei, mordendo o lábio, me deixando levar pela adrenalina do momento.
Ele se aproximou mais, suas mãos deslizando para a minha cintura, e eu sentia a eletricidade no ar.
— Você é um sobrinho muito pervertido — respondeu, olhando fixamente nos meus olhos, quase como se estivesse me desnudando com o olhar.
— Sério? — perguntei, desafiador. — Porque você me acha um pervertido? .
Alysson deu um leve sorriso, inclinando-se mais perto.
— Quem sabe a gente não descobre juntos? — sussurrou, antes de me puxar para um beijo. O mundo ao nosso redor desapareceu, e a única coisa que importava era aquele momento entre nós.
Que delicia e surpresa. Então ele aprova o namoro com o primo? Quero continuação