Na recepção, fiquei olhando, por um rápido instante, a porta do elevador se abrir e duas senhoras entrarem. Fiquei me sentindo um covarde... um medroso... mas preferi subir, correndo, de três em três degraus, até o meu destino. Cheguei, enfim... suado, a língua seca, a respiração ofegante.
Uma das senhoras que eu tinha visto entrar no elevador estava dentro da sala com as provas na mão e dava orientações aos que estavam sentados. Eram, como eu, candidatos a uma das duas vagas disponíveis para segurança interno do shopping. Ela virou-se para a porta, olhou para mim, olhou para seu relógio no pulso e sorriu dizendo:
_ Só passaram dois minutos... pode entrar.
Respirei aliviado aos olhares de todos que estavam ali. Havia algumas mulheres. Ela começou a entregar a folha em branco e explicou:
_ Gente, nesta folha vocês vão escrever sobre a infância de vocês até a juventude. Gostaria que fossem o mais verdadeiros que pudessem. Não se preocupem que o conteúdo não será avaliado e muito menos exposto para quem quer que seja. Serão arquivos meus. Não importa se passaram por momentos bons ou ruins, se fizeram coisas certas ou erradas. Não importa... O que avaliarei é como você organiza as idéias, se fazem os devidos “ganchos” entre as partes, se o todo é coerente... etc. Tudo bem? Vamos começar...? Vocês têm três horas para fazer a redação. Se precisar de mais folhas é só pedir...
Pensei um pouco, e fiquei receoso de pôr no texto alguns fatos que, com toda certeza, causaria espanto ou, talvez, até indignação a quem lesse. Essas são as reações comuns naqueles que apenas sabem, têm conhecimento... mas não sentiram, não viveram o que vivi. São espectadores, e, mesmo nessa condição, se julgam capazes de julgar e, não raro, condenar os atos que jamais experienciaram. Decidi que contaria a verdade mesmo. Se não conseguisse a vaga, pelo menos terei feito o que sempre desejei, que era falar sobre o que vivi, e que foi decisivo para formar o ser humano que sou hoje.
A lembrança mais distante que tenho de minha vida começa quando eu tinha por volta de oito ou nove anos, mas sei – pela boca dos outros – que aquela vida era a mesma desde que vim ao mundo. Nada tinha mudado. E minha chegada ao mundo coincidiu com a saída de minha mãe deste mesmo mundo. Ela só conseguiu beijar meu rosto e imediatamente fechou os olhos. Daí em diante éramos só eu e painho.
Ele era pescador, mas por ter de tomar conta de mim, não entrava mar adentro para passar muitos dias, como os demais. No máximo virava a noite. Quando chegava era só alegria comigo. A melhor lembrança era de quando ele me levava para dar uma volta de barco. Lá, ele sempre dizia:
_ Essa vida, fio... é bonita quando olhada de fora... mas pra quem vive, não é não! Quando chega ônibus na praia, cheinho de gente pra conhecer a vila e aproveitar o mar, a paisagem... vem uns com a máquina de fotografia pra bater foto com a gente, às vezes quando o barco ta chegando do mar... Os pescadores já que não se aguentam de cansaço e enfado... mas abrem o sorriso... Oxe... Para aquela gringalhada, nossa vida é um paraíso! Sombra dos coqueiros e água-de-côco! ... ê... ê! Mal sabem eles!
Eu ficava olhando painho falar aquilo tudo. Mas sabia que não era em tom de revolta... era mais para me mostrar que eu não deveria me acostumar e me conformar com aquela vida... ali, não havia outra escolha!
_ Por isso, fio que sempre te alerto... Você tem que estudar para não ser que nem seu painho! Tudo o que sei é sobre mar e peixe... Mas o mundo, depois dessas dunas, é muito mais que isso. Tem muita coisa pra aprender e pra ensinar. A gente, que não sabe quase nada, é que nem um prisioneiro. Quanto mais a gente aprende, mais livre fica! E tem que começar a ganhar essa liberdade na escola! Tenho fé de ver você um doutor, fio!
Eu admirava muito meu painho... queria muito ser como ele... não no trabalho... mas no corpo, no jeito. Eu achava meu painho um exemplo, tanto em responsabilidade quanto em simpatia. Todo mundo gostava dele! Eu tinha veneração pela imagem de painho: seu corpo sempre bronzeado e brilhante, seus olhos esverdeados, suas pernas fortes, sua altura, seus braços cheios de músculos... tudo nele eu achava bonito. Apenas uma coisa eu não suportava e me dava muita angustia: o seu choro!
Eu já tinha uns onze anos, quando reparei um costume de painho. Nossa casa era no meio das dunas e não tinha luz elétrica, só lamparina. Dormíamos de rede. Eu num vão da casa e ele noutro. Ao deitar, ele ficava se balançando e fazia aquele ruído das cordas roçando nos caibros. Ficava assim até adormecer. Eu sempre dormia antes, mas de vez em quando ele dizia:
_ Nilsin... dormiu?
Eu respondia que não... até adormecer. Um dia, eu não respondi. Ele repetiu e eu fiquei calado. A rede dele parou. Então escutei um som e uma trepidação na meia-parede que dividia os vão e onde eram penduradas as redes. Ele fazia algo na rede que provocava aquilo. Nossa casa não era de alvenaria, mas de taipo e barro, portanto, tratava-se de uma estrutura bem mais frágil. Tive até medo da parede arriar sobre mim. Mas fiquei quieto. Os movimentos cessaram. Fez-se um silêncio... Depois ele desabou a chorar... até dormir.
Depois desse dia, fiquei cabreiro com aquilo e fiquei outras noites acordado. Por várias vezes percebi esse mesmo comportamento dele. Eu tinha vontade de perguntar o que era aquilo, mas tinha medo... sei lá!
Um dia, durante o movimento, levantei bem devagar e fiquei espiando por cima da parede que dividia os dois vãos e meu pai estava com a pica dura e segurava no couro dela movimentando pra cima e pra baixo... muito rápido, até soltar uma gosma, que ele deixava cair no chão e passava o pé para espalhar – talvez para que eu não visse. Depois se cobria e começava a chorar. Aquilo eu vi umas três vezes. Um dia, estávamos em alto mar, pescando. Ele levantou, tirou a pica para fora e começou a mijar. Eu olhei para a pica dele, mas estava mole. Ele não me viu olhar. Balançou e guardou. Fiquei com uma vontade grande de perguntar... fiquei com o pensamento nas nuvens. Ele percebeu:
_ Que foi, Nilsin? Tá pensando na morte da bezerra?
_ Oi?
_ Não... é só jeito de falar, quando alguém ta pensando longe...
_ Tô só pensando, painho...
_ No que... me diga!
_ Não. Acho que o senhor vai se aborrecer...
_ Fio, no mundo somos só eu e tu. Não podemos ter segredos e nem medo de falar nada. Você já tá um rapaz... pra que esse medo?
_ Deixa pra lá... é só curiosidade besta...
_ Fala, homem!
_ Em casa eu falo, antes de dormir...
Chegamos na praia e quando fui descer do barco, tropecei numa corda e cai sentado, mas dei um jeito na coluna. Pinho me levantou, perguntou se estava tudo bem e eu disse que sim. Em casa jantamos e eu reclamei que as costas doíam um pouco. Na hora de dormir, ele abriu uma esteira no chão e me mandou deitar de barriga para baixo, e massageou minha coluna.
A dor já nem existia mais, porém as mão de painho passando por minhas costas me faziam endurecer o pau e fiquei com vergonha de sair. E então ia mostrando outros lugares para ele massagear. Certa hora, apontei o finalzinho da coluna, bem perto da bunda. Ele puxou meu calção até as coxas, e passou sua perna sobre as minhas, quase sentado na parte traseira das minhas pernas. Nessa hora eu comecei a sentir uns calafrios, uns arrepios,,, uma coisa muito boa e, automaticamente, lembrei da sua pomba dura. Senti vontade de sentir suas mãos em cada pedaço de mim...
_ Um pouco mais em baixo, painho!
Senti as mãos dele tremerem, ele afastou um pouco mais meu calção e senti o vento bater em minha bunda. Ele respirava como se estivesse correndo... começou a suar e uma gota de suor caiu bem no meu reguinho. Ele viu e passou o dedo como que para enxugar aquela gota que já estava bem na entradinho do meu cuzinho. Ao sentir a gotinha ali e em seguida seu dedo, suspirei... e perguntei:
_ Painho, porque o senhor só faz aquilo quando eu durmo?
Ele parou... ficou calado e com a voz trêmula perguntou:
_ Aquilo o quê?
_ Ficar com a pomba dura e movimentar até sair aquela coisa. O meu também fica duro, mas não sai nada! Agora mesmo minha piroca ta dura! Desde que o senhor começou a me alisar... Ops! ... a me massagear...
Ele me virou assustado e viu meu pau duro.
_ Mas o do senhor é muito maior! Deixa eu ver?
Ele olhava para mim com os olhos arregalados...
_ Tá grandão, daquele jeito, painho? Deixa eu ver de perto... só vi no escuro... Deixa?
Ele só balançou a cabeça afirmativamente, e eu levei minha mão até seu pau, e apertei a cabeça da sua rola... Ele estava de joelhos sobre mim...
_ Fio...
_ Tira, painho... faz aquilo, faz!
Ele sem tirar os olhos dos meus, baixou o calção e saltou a pica fora, já babando.
_ Segura ela, Nilsin...
Me sentei, ele permaneceu de joelhos...
_ É assim que se faz, painho?
Comecei a movimentar a pele do pau dele, como eu via ele fazer. Ele fechou os olhos e gemeu.
_ Faz aquilo sair, painho!
Ele sentou e começou a fazer aqueles movimentos nele mesmo.
_ Vem cá, fio... Chupa aqui igual como se fosse uma manga...
_ Chupar?
_ É... Você não quer ver aquilo sair? Aquilo é leite. Leite de homem...
_ E pode beber?
_ Pode. Vem... chupa. Quando for sair eu te aviso...
Quando cheguei perto, ele puxou uma caixa de madeira e sentou com as pernas abertas. Sua pica apontava para cima e dava uns impulsos. Era muito maior que a minha. Seu saco ficava caído sobre o caixote. Me ajoelhei entre suas pernas, segurei sua pica e comecei a chupar. No começo eu fiquei meio sem jeito, mas ele foi me ensinando e fiz como deveria ser. Não conseguia engolir nem a metade, mas ele não forçava. Eu estava adorando. Peguei o saco dele e fui mexendo enquanto chupava.
Ele levantou de uma vez na minha frente:
_ O leite vai sair, Nilsin... Abre a boca...
Abri a boca e um jato forte bateu em minha garganta. Quase vomitei...
Ele apertou a cabeça da rola...
_ Abre, fio...
E minha boca ficou cheia de leite. Logo de primeira, adorei o gosto. Fiquei viciado... Todo dia ele me dava pra eu beber.
Depois de um tempo, perguntei sobre o choro na rede, e ele disse que era por sentir vontade de fazer aquilo comigo, mas não tinha coragem de ir até a mim. Por isso sofria. Fazia sozinho na rede, pensando em mim, e, ao terminar, arrependido por me desejar, chorava.
Ao completar 16 anos tive a melhor experiência com painho que passarei a contar a seguir.