Bernardo é um menino de 15, tímido e inteligente, que leva uma vida feliz na pequena cidade onde vive. Alto, magro, tem cabelos castanhos, lisos, curtos e bem penteados, combinando com olhos igualmente castanhos de um brilho diferente dos restantes das pessoas. Bernardo é uma daquelas pessoas às quais se olha e se percebe que ela nasceu para fazer a diferença. Mas isso vocês vão descobrindo ao longo da história.
Ah, e o porquê do título? Vocês descobrirão com o tempo...
A cidade de Morro Velho, no sul de Minas Gerais, estava sitiada.
Como toda cidade do interior, seus habitantes eram católicos fervorosos e acreditavam que o mundo iria acabar no ano 2000.
Eu me divertia com aquela bagunça. Meus pais já haviam me dito que isso era bobeira, o mundo não iria acabar no ano 2000, que sempre procuravam por novas datas para o fim do mundo.
Eu e o Vítor ríamos dos rostos aterrorizados das velhas beatas, da “última” cachacinha dos mais velhos e das brincadeiras das crianças, que corriam atrás da “última” briga ou do “último” beijo.
Vítor tinha a mesma idade que eu, 15.
Ele era mais forte, um pouco mais alto e sua pele era mais morena; fruto das vezes que brincávamos sob o Sol na sua fazenda. Seus cabelos eram claros e seus olhos eram verdes.
Sua família era descendente de imigrantes alemães que vieram para as fazendas de café de São Paulo após a Primeira Guerra Mundial.
Ele sempre foi meu melhor amigo. Nossas personalidades, apesar de contrastantes, combinavam muito bem.
Sua família era simples no comportamento, mas tinha bastante dinheiro. Sua fazenda, a do Cercadinho, era enorme e alimentava o comércio de alimentos das cidades próximas.
Minha família, ao contrário, era urbana. Meu pai era o maior comerciante da cidade e minha mãe era professora de música no colégio dos padres onde eu e Vítor estudávamos.
Ambos eram pessoas inteligentes, esclarecidas e não ignorantes como a maior parte da população de Morro Velho.
Mas isso prometia mudar desde que uma grande mineradora tinha se instalado na cidade no ano passado, trazendo consigo engenheiros e empresários.
A cidade começava a respirar progresso para desagrado de alguns, principalmente padre Antônio, o pilar da moral de Morro Velho.
Era ele que estava na nossa frente:
- O que vocês dois estão fazendo aqui enquanto deveriam estar com seus entes queridos?
- Ah, padre eles liberaram pra gente correr por aqui.
- Eu vou ter uma conversa com seus pais, senhor Bernardo. E quando a você senhor Vítor?
- Eu?
- Tem outro por aqui?
- Uai, não sei; me diga o senhor que é o dono da verdade...
- Eu vou ter uma conversa séria com a sua mãe sobre a educação que ela está te dando, ouviu? - respondeu o padre puxando-o pela orelha. - Agora vão pra casa os dois!
À revelia, fomos pra minha casa. De lá sairíamos todos para passar a virada do ano na fazenda do Cercadinho.
- Você é louco de enfrentar o padre Antônio daquela maneira?
- Ah, não estávamos fazendo nada de mais, só rindo e ele veio nos chamar a atenção. Ele não tem mais do que cuidar não?
- Não. Acho que é a falta de mulher...
Caímos na risada enquanto entrávamos em casa.
Minha mãe preparava doces para levar pra fazenda mais tarde. Ela era uma mulher muito bonita, jovem ainda porque tinha casado cedo. Tinha longos cabelos ondulados que lhe desciam até o meio das costas.
- Boa tarde dona Luiza.
- Boa tarde meninos. Onde estavam?
- Lá na praça rindo do povo achando que o mundo acaba hoje.
- Bernardo, já falei pra você não rir da crença das pessoas. Cada um tem o direito de ser e acreditar no que quiser.
- Ah mãe, mesmo assim é engraçado.
- Hum. Vão descansar um pouco senão vocês não vão aguentar ficar acordados à noite.
- Ok.
Subimos pro meu quarto e fomos jogar videogame. Era nosso passatempo favorito: passávamos horas deitados na cama jogando clássicos do PlayStation. Eu senti que havia alguma coisa que incomodava o Vítor. Ele não parava quieto, ficava se mexendo muito. Decidi perguntar o problema:
- O que está acontecendo?
- Como assim?
- Eu estou vendo você se mexendo toda hora, alguma coisa está te incomodando. O que é?
- Ah... – ele parecia um pouco envergonhado.
- Pode falar, se for alguma coisa que eu possa te ajudar...
- Não, é que... - ele parecia não querer falar - e se o fim do mundo for mesmo hoje?
- Hahahahahahahaha!
- Eu sabia que não podia te falar essas coisas. - ele ficou bravo e se levantou.
- Desculpa. - falei segurando o riso - Por que isso agora?
- Sei lá! Tem tantas coisas que nunca fiz: dirigir, viajar para o exterior, beber até cair com os amigos, transar... E se não der tempo de fazer isso?
- Ah, calma... Deixa de ser bobo; o mundo não vai acabar hoje. É uma lenda absurda. Como meus pais falaram, de tempos em tempos as pessoas criam datas para o fim do mundo.
- Eu sei, mas ainda assim eu tenho medo de não dar tempo de fazer tudo isso... - ele me olhou fundo nos olhos. - Se eu te contar uma coisa você promete segredo?
Eu me assustei um pouco com seu tom sério, mas respondi que sim, enquanto ele se sentava ao meu lado.
- Eu nunca beijei ninguém. - Agora ele parecia bastante envergonhado.
- Como assim? E a Mariana? Vocês não namoram?
- Nós nunca nos beijamos; é só andar de mãozinha dada; até me enjoa um pouco. Nunca passamos disso. E se eu morrer e eu nunca ter sentido a boca de outra pessoa junto com a minha?
Fiquei pensativo durante um tempo. Decidi cortar a tensão fazendo uma brincadeira. Como ainda estávamos deitados lado a lado na cama, de repente me virei e subi em cima dele. Segurei seus braços acima da cabeça e pressionei minhas pernas contra as dele.
Ele me olhou assustado sem entender o que eu estava fazendo.
Eu aproximei meu rosto do dele, ficamos a apenas alguns poucos centímetros de distância.
Com uma voz fingidamente sexy falei:
- É um beijo que você quer gostosão? Tenho muitos pra te dar!
- Sai pra lá!
Ele me empurrou e eu caí no mesmo lugar que estava antes.
Eu ria sem conseguir parar. Aquela cena tinha sido absurdamente cômica.
Ele ficou me olhando por um tempo e depois começou a rir também. Parecíamos dois idiotas rolando na cama e rindo sem motivo aparente.
- Você é um idiota!
- Eu sei, mas a cara que você fez foi impagável!
Continuamos a rir por mais um tempo antes de voltarmos nossa atenção para o videogame.
Depois fomos tomar banho. Eu tomei primeiro e pus minha melhor roupa, afinal era uma ocasião especial: a virada do milênio!
Depois foi a vez dele ir pro banho.
Ele saiu de lá ainda enrolado na toalha. Foi em direção à mochila que ele tinha trazido e deixou a toalha cair no chão.
Eu o observava pelo espelho enquanto fingia acabar de me arrumar. Sua bunda era branquinha e lisa. Parecia uma escultura renascentista tamanha a perfeição. Suas pernas eram grossas e totalmente lisinhas. Quando ele colocou sua cueca branca, despertei do meu transe.
O que diabos estava acontecendo comigo?
Eu agora me sentia atraído pelo corpo do meu melhor amigo?
Não, não. Era só o reflexo da brincadeira que tinha feito com ele mais cedo. Parei de preocupar com aquilo.
Ele terminou de se arrumar. Usava uma calça jeans desbotada que deixava suas coxas bem salientes e uma camisa branca discreta.
Ele não era o tipo de pessoa que gostava de aparecer muito.
- Pronto?
- Prontinho.
Descemos e ficamos esperando pelos meus pais.
Eles logo vieram descendo as escadas juntos. Formavam um bonito casal. Mesmo não se cobrindo de beijos e abraços a todo o momento, se via que os dois eram apaixonados.
Meu pai já era um senhor de 40 anos. Seu cabelo preto e farto já começava a se desbotar em tons de cinza. Seu rosto forte e quadrado exibia suas primeiras rugas.
- Já estão prontos, garotos?
- Já pai, o Vítor que demorou muito no banho.
- Mentira dele, seu André.
- Vítor e Bernardo, vão na cozinha e peguem os doces para levarmos.
- Ok.
Entramos na caminhonete do meu pai e em poucos minutos chegamos na fazenda do Cercadinho.
Era um lugar enorme devido à criação de gado.
No meio da propriedade ficava o casarão: uma edificação muito antiga que servia de sede da fazenda. Era muito grande, com seis quartos, quatro banheiros e uma cozinha antiga, sem contar os cômodos comuns da casa.
Descemos do carro e o Vítor já foi entrando, afinal era a casa dele.
Entramos atrás e algumas pessoas já haviam chegado, inclusive a Mariana, a namorada do Vítor.
Ela tinha nossa idade, era ruiva, branquinha e com algumas sardas no rosto que lhe davam um certo charme. Era meio patricinha, tinha vindo de Belo Horizonte junto com seu pai, que era engenheiro da mineradora.
Não sabia bem o motivo, mas eu me senti incomodado quando Vítor correu pra lhe dar um beijo na bochecha.
Meus pais e eu fomos cumprimentar os pais do Vítor. Alfredo e Rosa eram ótimas pessoas, mesmo depois de enriquecerem com a fazenda eles continuaram sendo pessoas bem simples.
Alfredo já era um pouco gordo, devia ser só um pouco mais velho que meu pai, mas já tinha o cabelo completamente grisalho. Rosa era loira e usava os cabelos sempre presos em um coque. Sempre foi muito simpática comigo.
Depois eu vi a Joana. Ela era uma “viúva alegre” e tinha dois filhos, nunca gostei de nenhum deles. Ela trabalhava com meu pai e vivia dando em cima dele o que gerou sempre muito ciúme na minha mãe.
Ela veio nos cumprimentar com sua falsa simpatia, que mamãe rebatia do mesmo jeito. Mas eu nem prestava muita atenção na conversa deles, meus olhos estavam fixos em Vítor e Mariana que conversam num canto da sala.
A proximidade dos dois me incomodava, o que nunca tinha acontecido antes e eu nem mesmo sabia o motivo.
- Bernardo, vem cá!
Era o Senhor Alfredo me chamando na sala principal da casa. Ele estava com seu famoso violão no colo.
- Sim?
- Vamos cantar alguma coisa pro povo!
- Certo, o que você sugere?
Minha mãe me treinava com aulas de canto desde que eu era criança. Ela sempre me dizia que eu tinha uma voz maravilhosa, mas elogio de mãe não conta.
Eu normalmente era uma pessoa muito tímida, mas me soltava quando cantava. Eu não entendia o porquê, mas minha mãe dizia que era minha maneira de extravasar minhas emoções.
- Em homenagem à nossa cidadezinha, que tal “Morro Velho”?
- Por mim tudo bem.
Ele começou com os acordes inicias enquanto a plateia se ajeitava para ouvir. Bem na minha frente estavam Vítor e Mariana, abraçados. Tentei ignorá-los e comecei a cantar:
No sertão da minha terra
Fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força
Parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro
E ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada
Eu imprimia na música a mesma tristeza que eu estava sentindo no momento.
Filho de branco e do preto
Correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação a dentro
Crescendo os dois meninos sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho
De água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta estórias pra moçada
Eu fechei os olhos e pude ver minha infância com Vítor ao meu lado. Nossas brincadeiras pela fazenda e pela cidade.
Filho do senhor vai embora
Tempo de estudos na cidade grande
Parte; tem os olhos tristes
Deixando o companheiro na estação distante
Não me esqueça, amigo, eu vou voltar
Some longe o trenzinho ao Deus dará
Será que nosso destino era esse? A vida começava a nos afastar à medida que crescíamos? Cada um viveria longe do outro agora?
Quando volta já é outro
Trouxe até sinhá mocinha para apresentar
Linda como a luz da lua
Que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor
E agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada
Já não brinca mais, trabalha...
(Morro Velho – Milton Nascimento)
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Abri meus olhos lentamente e fitei as pessoas que me ouviam. Elas me aplaudiam, e muitas com lágrimas nos olhos. Me assustei um pouco pela emoção que pude causar neles.
Vítor me sorriu enquanto aplaudia, ainda abraçado com Mariana.
Sorri tímido e abaixei a cabeça.
- Minha gente, já é quase meia noite, vamos lá fora ver os fogos!
Era a Dona Rosa nos chamando. Todo ano o Senhor Alfredo promovia uma pequena queima de fogos.
Todos foram se dirigindo para o exterior do casarão.
Todos menos Vítor e a namorada. Eles estavam subindo as escadas tentando não chamar a atenção.
Eu sabia o que os dois tinham ido fazer.
Aquilo começou a me doer fisicamente, mas mesmo assim eu os segui por impulso e subi as escadas também.
Vi quando entraram no quarto e encostaram a porta. Eu os observei pela fresta da porta entreaberta. Lá fora já se ouvia a contagem regressivaPor que você me chamou aqui, Vítor?Porque eu tive medo que o mundo acabasse sem que eu fizesse issoIsso o quê?Meu coração se apertou enquanto os rostos deles se aproximavam lentamente. Eu sabia o que viria em seguidaSeus lábios se encontraram.
- FELIZ ANO NOVO! - todos gritaram no andar de baixo.
Os dois se beijavam apaixonadamente.
Desencostei-me da porta e entrei no banheiro mais próximo. Liguei a luz e me olhei no espelho. Meus olhos estavam vermelhos e as lágrimas desciam pelas minhas bochechas. A dor era enorme e eu começava a entender o motivo...
Uma das piores tristezas que podemos sentir é quando não vemos nossa dedicação a algo ou alguém ser recompensada.
Era assim que eu me sentia em relação à minha amizade com Vítor.
Não que ele tenha deixado nossa amizade de lado pra priorizar seu namoro com Mariana, mas era assim que eu me sentia: que eu havia sido trocado por ela.
O que eu estava sentindo era ciúme.
Aos poucos eu fui entendendo que eu estava começando a amar o Vítor.
Eu não queria amá-lo. Era errado, pecaminoso, imoral... Era feio.
Mas como pode aquilo que eu sentia... Aquele amor tão puro ser feio? Afinal de contas amar não era uma coisa divina e sagrada?
Isso foi criando um nó na minha cabeça. O que mais me fazia sofrer não era a ideia pecaminosa de que eu era gay, mas a perspectiva de que eu poderia perder a amizade do Vítor quando ele descobrisse.
Decidi que o melhor a fazer era suprimir esse sentimento.
Ele acabaria sumindo se não houvessem estímulos. Tudo o que eu precisava fazer era não ver o Vítor.
Só a intenção de por isso em prática me fazia sofrer, mas era um mal necessário. Eu tinha certeza que em um futuro próximo essa se mostraria a minha melhor opçãoLogo após a festa da virada do ano eu pus meu plano em prática e viajei para passar um tempo com meus avós numa fazenda próxima dali.
Não despedi de nenhum dos meus amigos, muito menos do Vítor.
Era um lugar calmo e ermo. Eu teria paz para pensar num jeito de sair daquele turbilhão de emoções que eu me encontrava.
Meu pai me levou. Não estranhou meu comportamento, pois eu sempre fui um garoto mais reservado, não demonstrava sentimentos facilmente.
Minha mãe pareceu desconfiar da saudade repentina que senti dos meus avós, mas não disse nada, apenas me desejou boa viagem.
Dona Maria e Senhor Leopoldo, meus amados avó e avô, foram nos receber.
Depois de instalado no quarto que sempre me era destinado naquele casarão barroco, fui me servir dos doces e salgados que minha avó fez para me receber.
- Esta broa de fubá está maravilhosa, vó!
- Tudo para agradar meu convidado especial...
- Assim eu fico mal acostumado.
- Ótimo, desse jeito você volta mais vezes.
Rimos um pouco enquanto conversávamos sobre o réveillon. Obviamente eu escondi alguns detalhes. Depois do papo resolvi sair um pouco para andar a cavalo.
- Volte cedo para não perder o almoço, viu?
- Pode deixar, vó, só vou matar as saudades da fazenda.
- Certo, peça um cavalo para o Zeca. Ele é o nosso empregado temporário.
Fui caminhando em direção ao estábulo que ficava um pouco afastado da sede da fazenda.
Quando cheguei me deparei com um rapaz jovem, porém com um jeito de homem. Ele tinha a pele morena por causa do sol e uma vasta cabeleira negra que chegava até aos seus ombros.
Quando me viu ele abriu um grande sorriso branco e perfeito. Fiquei um pouco desconcertado com sua beleza rústica e pelo comichão que senti ao vê-lo, mas me recompus e ofereci a mão em um cumprimento.
- Você deve ser o Zeca, eu sou o Bernardo.
- Ah claro, o neto do seu Leopoldo. Prazer. - falou apertando firme minha mão e não deixando o sorriso se perder no rosto.
- Prazer. Vim pedir um cavalo pra andar pela fazenda.
- Tá certo, vamos lá dentro que a gente pega um.
Ele foi andando na minha frente.
Tudo que eu conseguia prestar atenção no momento era no balanço da sua bunda dentro da calça jeans justa ao andar. Despertei do transe rapidamente. Foco! Não podia esquecer que meu objetivo naquela viagem era justamente esquecer essa perversão.
- Pronto, leva a Glória. Ela é bem mansa, não corre muito, é ótima pra um passeio.
- Ok, obrigado, daqui a pouco eu te devolvo ela.
- Sem pressa. Deixa que eu te ajudo a subir.
Não entendi se ele realmente achou que eu nunca havia montado num cavalo ou se aproveitou do momento para me segurar bem firme pela cintura e me colocar em cima da égua.
- Obrigado. - disse tentando me recompor.
- De nada.
Ele continuou sorrindo enquanto eu saía com Glória.
O meu plano não estava dando certo.
Eu estava naquela fazenda a menos de quatro horas e a única coisa que eu consegui foi achar outro objeto de desejo.
Andei com Glória por toda a propriedade. Foi impossível não relembrar os momentos felizes que passei com Vítor naquele lugar quando éramos crianças.
Brincávamos correndo pelos campos ou nadando na cachoeira ali perto... Tudo tão inocente...
Não consegui segurar as lágrimas. Era um passado recente demais, maravilhoso demais, contrastante demais com o momento atual.
Eu desci da égua para poder respirar um pouco enquanto me apoiava numa árvore. Eu estava tão imerso na minha própria tristeza que não vi quando alguém se aproximou por trás de mim.
- Está chorando por quê?
Pulei longe com o susto. Era o Zeca. Ele parecia intrigado e preocupado com meu estado. Também pudera...
- Desculpa, não queria te assustar.
- Não, tudo bem.
- Por que você está assim? Se machucou?
- Não, deixa pra lá. Não é nada.
- Como não é nada? Você está chorando. Sua vó mandou vir te buscar...
- Esquece, você não viu nada.
- Se não quer contar tudo bem. Eu te levo de volta para o casarão.
- Não precisa, eu sei o caminho.
Subi rapidamente na égua e saí dali.
Fui um pouco grosso com ele, mas não me preocupei com aquilo no momento. Depois eu me desculpava com ele. Ele não tinha culpa da péssima fase pela qual eu estava passando.
Disfarcei as minhas lágrimas para não ter que me explicar para a minha avó.
Almocei com ela e meu avô a famosa e deliciosa comida mineira.
Subi para meu quarto e rapidamente adormeci. Como lá sempre dormíamos cedo, só desci mais tarde para jantar. Tudo o que eu queria era dormir e esquecer os meus problemas.
Acordei mais tarde do que previa no dia seguinte. Desci a escada e encontrei minha avó na cozinha.
- Eita! Até que enfim você acordou!
- Acho que era sono acumulado.
- Deve ser. Já vou começar a fazer o almoço, mas guardei uma rosquinha pra você.
- Obrigado vó, vou comer no caminho. Vou até a cachoeira nadar um pouco.
- Tudo bem, mas não se atrase para o almoço.
- Pode deixar.
Fui ao estábulo pegar a Glória e me desculpar com Zeca pela grosseria do dia anterior, mas ele não estava lá. Apenas peguei a égua e segui para a cachoeira que ficava um pouco afastada do casarão.
Quando fui me aproximando ouvi o barulho da água caindo. Aquilo já ativava minha memória, mas segurei o choro. Já havia chorado demais. Amarrei Glória numa árvore próxima e fui para a cachoeira. Ouvi um barulho incomum na água, como se alguém estivesse nadando lá.
Me aproximei e vi roupas masculinas na beira da água. Me escondi atrás da mata e observei; tinha medo que fosse algum estranho.
Era o Zeca. E estava nu.
Meu pau quase pulou para fora da cueca quando constatei que era Zeca que estava nadando nu ali.
Fiquei assistindo aquilo tudo de longe. Seu corpo era musculoso, mas nada exagerado. Era lindo, a visão do paraíso. Seu peito era bem definido, sem pelos, com grandes mamilos rosados. Nas pernas haviam uns poucos pelos que subiam até a base da bunda. Sua bunda era grande e redonda, como a calça jeans justa já havia denunciado. Seu pinto era grande, mais escuro com sua pele, e tinha uma virilha com pelos que subiam ralos até o umbigo.
Era bem diferente de mim que não tinha nenhum pelo no meu corpo. Eu era totalmente liso.
Eu estava tão excitado que me desequilibrei e caí fazendo barulho, denunciando meu esconderijo.
- Quem está aí?
Mas que pessoas sensíveis!
Esse foi um dos melhores que eu li. Acompanhei no outro site ao qual foi postado e chorei HORRORES!! Super recomendo! Leiam e depois comentem aí!!!