Capítulo 9 – Uma noite das meninas diferente
Conforme a noite avançava, a atmosfera na sala ficou cada vez mais relaxada. O som de risadas preenchia o espaço, e eu me sentia surpreendentemente tranquila, apesar de tudo. As meninas tinham trazido uma variedade de petiscos deliciosos: queijos, torradas, patês e saladas frescas. O vinho branco que Carla abrira circulava livremente entre nós, tornando a conversa ainda mais solta e descontraída.
"Esse patê de azeitona está incrível!" — comentei, mordendo uma torrada com entusiasmo. — "Quem trouxe?"
"Foi a Renata," respondeu Natália. "Ela tem um bom gosto impecável para essas coisas."
Renata, modesta como sempre, deu um sorriso tímido. "Ah, é simples. Comprei em uma delicatessen perto de casa."
Enquanto comíamos e bebíamos, o foco da conversa começou a mudar. De campanhas publicitárias e prazos apertados, passamos a falar sobre temas mais pessoais, leves. Era como se o ambiente estivesse pedindo isso. Não demorou muito para que Carla, sempre direta e sem papas na língua, fizesse a pergunta que, aparentemente, estava rondando a mente de todas.
“Suzan, preciso perguntar uma coisa...” — começou Carla, dando um gole em seu vinho antes de continuar. — “Você é uma mulher incrível, linda, bem-sucedida... Mas a gente nunca ouviu você falar sobre sua vida amorosa ou... sexual. Você não acha que está na hora de compartilhar um pouco mais com a gente?”
O comentário fez com que todas na sala parassem por um momento, olhando para mim com curiosidade. O clima ficou ligeiramente mais íntimo, e eu senti um leve calor subir pelas minhas bochechas.
"Ah, Carla, você e sua curiosidade!" — tentei brincar, rindo um pouco nervosamente. — "Bom... não é que eu não tenha nada para compartilhar. É que, na verdade, nunca me senti à vontade para falar muito sobre isso."
Bárbara, sentada ao meu lado, inclinou-se para frente, visivelmente interessada. “Você está em um ambiente seguro, Suzan. Entre amigas. Pode falar.”
Eu respirei fundo, sentindo o peso da atenção concentrada em mim. "Bom... se vocês querem saber, eu só tive dois namorados."
O silêncio que se seguiu foi inesperado. Todas me olharam, piscando de surpresa. Era como se elas estivessem processando a informação. Foi Natália quem quebrou o silêncio primeiro.
"Dois? Como assim, só dois?" — ela perguntou, genuinamente surpresa.
Carla balançou a cabeça, perplexa. “Suzan, você é simplesmente deslumbrante! Sério, eu imaginava que você já tinha deixado vários corações pelo caminho.”
Renata, sempre mais contida, sorriu e acrescentou: "Não é que precise ter muitos namorados para ser feliz, claro, mas... é mesmo surpreendente. Quer dizer, olhe para você. Cabelo ruivo, pele perfeita, olhos azuis... você tem uma beleza natural que chama atenção a quilômetros de distância."
Eu me senti corar ainda mais. As palavras delas eram um misto de surpresa e admiração, mas também me deixavam um pouco desconfortável. Não estava acostumada a esse tipo de elogio, principalmente quando o foco estava tanto na minha aparência.
Bárbara, que sempre tinha uma visão mais analítica das coisas, sorriu de forma amigável e acrescentou: “Eu sempre achei que você fosse uma daquelas pessoas que só precisava piscar para conquistar alguém. O jeito que você se porta no trabalho, tão confiante, tão centrada... Eu meio que presumi que sua vida amorosa fosse tão intensa quanto sua vida profissional.”
“Eu me concentrei tanto nos estudos e no trabalho que... meio que deixei esse lado da vida em segundo plano.” — admiti, dando um leve sorriso enquanto passava os dedos pelo cabelo, nervosa. — “Claro, tive meus momentos, mas... nunca foi algo que priorizei.”
Carla, sempre a mais expansiva, fez um gesto exagerado com as mãos. “Ah, pelo amor de Deus, Suzan! Você é linda, poderosa, e com esse corpo incrível... Olha só, você está aqui sentada, nua, e ainda assim parece que foi esculpida por um artista! Se eu tivesse seu físico, acho que não ia querer usar roupas nunca mais.”
Eu ri, tentando aliviar o clima. "Não é bem assim, Carla. Eu também tenho minhas inseguranças, como todo mundo."
Natália assentiu, ainda com uma expressão de leve incredulidade. “Eu entendo que o trabalho e os estudos podem nos consumir, mas sério... dois namorados? Com esse corpo, esse rosto... Suzan, você é tipo a definição de perfeição!”
Os elogios continuaram, e apesar de me sentir lisonjeada, também me deixavam um pouco sem graça. Não era comum eu ser o centro das atenções dessa maneira, especialmente quando se tratava da minha vida pessoal e, particularmente, da minha aparência física. Claro, eu sabia que sempre recebi olhares por aí, mas sempre preferi me concentrar em outras coisas. Estar agora, nua, em frente às minhas colegas de trabalho, e ser o objeto de tantos elogios, era ao mesmo tempo embaraçoso e, de certa forma, revelador.
Renata, a mais ponderada do grupo, olhou para mim com um sorriso compreensivo. "Sabe, Suzan, não importa quantos relacionamentos você teve. O que importa é que você está vivendo sua vida da maneira que faz sentido para você. Mas, se um dia quiser explorar mais esse lado... bem, você tem todo o direito de fazer isso também."
O ambiente ficou mais leve novamente, e todas riram juntas. Eu me sentia um pouco mais confortável, embora ainda houvesse uma parte de mim que se sentia exposta, não apenas fisicamente, mas emocionalmente também. Estávamos quebrando barreiras naquela noite, não só no sentido de conversa, mas também em termos de vulnerabilidade.
"Obrigada, meninas. Eu sei que talvez não tenha a experiência que vocês esperavam, mas... estou feliz com quem sou. E quem sabe o que o futuro reserva, né?" — disse, piscando, tentando manter o tom leve.
A conversa seguiu para outros tópicos, mas eu ainda podia sentir a curiosidade delas sobre mim, como se estivessem tentando entender como alguém que elas viam como tão atraente e segura pudesse ter uma vida pessoal tão simples. Aos poucos, voltei a relaxar, sentindo-me grata por ter amigas que, mesmo com suas surpresas, me apoiavam.
Conforme a noite avançava, o vinho e as risadas fluíam, e eu me permiti aproveitar aquele momento, mesmo ainda nua, me sentindo mais aceita e confortável com quem eu era.
Enquanto as risadas continuavam a fluir e o vinho parecia relaxar cada vez mais o clima entre nós, eu me peguei refletindo sobre a conversa que acabara de acontecer. As meninas estavam ali, abertas, se divertindo, e, de repente, senti que havia algo mais que eu deveria compartilhar. Algo que eu sempre guardei para mim, até mesmo por vergonha ou por achar que não fazia parte de quem eu era no mundo profissional. Mas agora, com todas elas me olhando com tanta curiosidade e, ao mesmo tempo, me aceitando, senti que era o momento.
Eu dei um gole longo no meu vinho, como se precisasse daquele impulso para falar. Deixei o copo sobre a mesa e respirei fundo, sentindo o peso do que estava prestes a dizer.
“Bom, já que estamos falando de vida pessoal… acho que há algo que nunca contei a ninguém,” comecei, um pouco hesitante. Todas as quatro pararam de falar, suas atenções voltadas totalmente para mim. Era um daqueles momentos onde parecia que até o tempo parava.
“Vocês sabem que eu tive dois namorados, e a gente estava conversando sobre isso. Mas a verdade é que… mesmo com eles, a minha vida sexual foi quase inexistente.”
O silêncio que se seguiu foi palpável. As meninas se entreolharam, como se tentassem processar o que eu acabara de confessar. Eu podia ver a surpresa em seus rostos, e logo em seguida, Carla, como sempre, foi a primeira a quebrar o silêncio.
“Como assim, Suzan? Inexistente? Isso... quer dizer, como foi isso?” — Ela parecia genuinamente surpresa, quase chocada.
“É, Carla. Eu... não sei bem como explicar, mas eu nunca me senti à vontade para explorar essa parte da minha vida. Com meus dois namorados, a gente... bem, nós fizemos sexo pouquíssimas vezes.”
"Pouquíssimas?" — repetiu Bárbara, os olhos arregalados. — "Tipo, quantas vezes estamos falando?"
Eu sorri nervosamente, sentindo meu rosto corar de novo. “Com o primeiro namorado, acho que foram umas... três vezes? E com o segundo, não mais que cinco.”
A expressão de surpresa aumentou visivelmente. Renata, sempre mais contida, olhava para mim como se tentasse compreender o que estava por trás daquilo. Já Natália, que tinha uma abordagem mais direta, parecia realmente confusa.
“Espera aí...” — disse Natália, balançando a cabeça em descrença. — “Você está dizendo que em todos esses anos, durante dois relacionamentos, vocês transaram... oito vezes no total? Como isso é possível? Quero dizer, olha para você! Suzan, você é linda, inteligente, confiante... Eu... realmente não entendo.”
Carla riu, mas não de um jeito maldoso. Era mais uma risada de surpresa, talvez até de incredulidade. “E eu aqui achando que você tinha uma fila de caras batendo na sua porta e... você praticamente não tinha vida sexual! Isso é... inesperado, pra dizer o mínimo.”
Eu suspirei e dei um leve sorriso, tentando aliviar um pouco a tensão. “Eu sei que parece estranho. Mas é verdade. Eu sempre me foquei tanto nos meus estudos e na minha carreira que... acho que nunca dei muita atenção a isso. E quando tentei... bem, a verdade é que não me senti conectada o suficiente com eles para realmente... me soltar.”
Renata, sempre a mais compreensiva, assentiu. “Eu acho que entendo, Suzan. Às vezes, se você não está realmente conectada com alguém ou se sente que há algo faltando, pode ser difícil se entregar completamente. Talvez seja isso que aconteceu.”
“Sim, talvez seja isso,” concordei. “Eu me sentia próxima deles em outros aspectos, mas a parte sexual... parecia que eu nunca conseguia relaxar o suficiente. Acho que, de certa forma, eu sempre mantive essa parte de mim guardada, como se não fosse prioridade. Eu estava sempre mais focada em outras coisas.”
Carla balançou a cabeça, ainda chocada. “Uau, Suzan. Não é só porque você é bonita, mas eu jamais imaginei que você tivesse... como posso dizer? Uma vida sexual tão... controlada. Eu achava que você era super resolvida nesse quesito, sabe?”
Eu ri, finalmente me sentindo um pouco mais à vontade para falar sobre isso. “É engraçado, porque todo mundo sempre presume que só porque você tem uma boa aparência, isso automaticamente quer dizer que você tem uma vida sexual ativa e incrível. Mas não foi o meu caso. Eu estava tão focada em me provar no trabalho, em me destacar, que isso sempre foi secundário para mim.”
Natália, que parecia ainda perplexa, inclinou-se para frente. “Mas você... nunca quis mais? Quero dizer, você nunca sentiu que faltava algo? Ou... que queria explorar mais essa parte de você?”
Eu pensei por um momento, escolhendo minhas palavras com cuidado. “Eu acho que sim, Natália. Quer dizer, agora que estou mais estabelecida na minha carreira e minha vida está um pouco mais estável, talvez eu comece a pensar nisso. Mas, na época, eu não sentia falta. Acho que sempre coloquei tanta pressão em mim mesma para ser bem-sucedida que não dei espaço para explorar isso.”
Renata sorriu gentilmente. “Talvez seja a hora, então. Você trabalhou tanto para chegar onde está... pode ser que agora seja o momento de você se dar permissão para experimentar mais coisas, tanto na vida pessoal quanto na profissional.”
Eu sorri, grata pela compreensão delas. “Pode ser que sim. Quem sabe? Talvez seja a hora de eu explorar mais essa parte da minha vida.”
“Eu acho que você deveria,” disse Bárbara, piscando. “Você é linda, Suzan. E se eu fosse você, ia aproveitar isso. O mundo está cheio de possibilidades!”
A conversa continuou por mais algum tempo, e apesar da surpresa inicial das meninas, eu me sentia mais leve por finalmente ter compartilhado algo que sempre mantive guardado. Não era fácil falar sobre isso, mas ao mesmo tempo, era libertador. Eu sabia que tinha amigas que me aceitavam e me entendiam, e isso, de alguma forma, me fazia sentir mais confiante sobre o que o futuro poderia trazer.
E, quem sabe, talvez essa fosse mesmo a hora de eu começar a explorar mais o lado da vida que eu sempre deixei de lado.