Enigmas do amor - Final

Enigmas do amor – Final
Quando chegou a hora do Mathias e a Luiza dizerem o ‘sim’ no altar, diante do padre, senti os dedos do Rogério procurando discretamente a minha mão. Ele a tomou na sua e a apertou. Ela estava quente e úmida. Eu olhei para ele e recebi um sorriso cúmplice em retribuição. Era como se, naquele momento, nós também estivéssemos fazendo os mesmos votos. Já não precisávamos mais de palavras para saber o que se passava na mente do outro. Eu pisquei os olhos, queria que aquele olhar embaçado e marejado saísse da minha visão, e retribuí o sorriso. Eu podia apostar que o coração dele batia tão agitado quanto o meu.
- Parabéns, meu querido! Você sabe o quanto eu desejo que você tenha uma vida feliz. A Luiza vai te ajudar a consegui-la, tenho certeza. – parabenizei-o num abraço apertado e fraterno.
- Vocês também! – exclamou ele, puxando o Rogério para junto de nós e nos abraçando. Ele não cabia em si de contente.
- Minhas previsões estavam certas. Lembra-se de quando eu disse que vocês iam se casar assim que terminássemos a faculdade? – rememorei.
- Estou aprendendo a dar crédito às suas previsões! – exclamou o Mathias. Os outros convidados já estavam ficando impacientes com a nossa demora com aqueles cumprimentos.
- Por falar em dar crédito às suas previsões, não sei se você viu esta semana no telejornal, que o Miguel, o João e Fabrício foram condenados a vinte anos de prisão na Turquia. De nada adiantaram as apelações do Itamaraty. – afirmou o Rogério, a caminho do bufê onde seria realizada a festa do Mathias e da Luiza.
- Vi sim. Não consigo deixar de sentir um aperto no peito. Quando forem libertados estarão perto dos cinquenta anos. Vão perder os melhores anos de suas vidas naquele inferno. – respondi desolado.
- Sem dúvida, é triste! – ele já não expressava mais seu desdém ou sua indiferença às mazelas dos outros. Segundo o Mathias, era a minha docilidade que estava deixando o Rogério menos truculento. Enigmas do amor, meus caros. Enigmas do amor, dizia ele quando nos flagrava trocando olhares significativos.
O Mathias e eu estávamos formados há três anos, o Rogério quatro. Na mesma empresa em que tínhamos sido trainees, o Mathias e eu fomos efetivados. Segundo o Rogério, com uma pontinha de ciúmes na voz, ele e eu estávamos fadados a ter uma vida em comum. Vocês não desgrudam um do outro, dizia ele, ao que a Luiza também fazia coro. Mas, foi com você que aprendi como duas pessoas se tornam uma só nos braços uma da outra, eu costumava sussurrar em seus ouvidos nessas ocasiões. Ele estufava o peito e dava aquele sorriso maravilhoso que significava – é, seu macho sou eu.
O Rogério, em sociedade com o irmão, tinha criado uma empresa especializada na fabricação de parafusos especiais para diversos tipos de indústria. Para um começo, estavam indo muito bem. O crescimento nos lucros aumentava a cada ano.
Desde aquele fim de semana na casa de praia do Mathias em Ilhabela, podia-se dizer que o Rogério e eu estávamos namorando. Havíamos declarado nosso amor um pelo outro diversas vezes depois daquilo e, vivíamos como um casal apaixonado, embora ainda morássemos com os pais. Eu tinha descoberto a mim mesmo. Na minha cabeça ficava cada vez mais claro quem eu era. A crise existencial deixou de existir. Sem dúvida, eu era um homossexual. Um homossexual 100% passivo que concebia o sexo como romântico-dependente, ou seja, precisava haver uma ligação afetiva para que o ato sexual acontecesse em sua plenitude. Quando dividi com o Rogério minhas descobertas ele sorriu, como se eu fosse o último a ficar sabendo disso. Senti-me um pouco ingênuo ao comentário dele. Quis saber como ele se via enquanto pessoa. Sem titubear, ele me assegurou que era um bissexual exclusivamente ativo e, dando um daqueles seus sorrisos safados, disse que o sexo para ele não dependia de romance, mas do tesão que ele sentia pela pessoa, homem ou mulher. Se viesse acompanhado de romance tanto melhor. E, dando um tapa na minha bunda, acrescentou que se viesse com uma bunda como a minha, ele tinha ganhado na loteria.
Também era comum frequentarmos a casa um do outro e, não faltavam pretextos para muitas vezes passarmos a noite juntos. Ultimamente, eu vinha notando uma transformação na maneira como a mãe do Rogério me tratava. Inicialmente, ela sempre fora muito cordial e amorosa. Fazia gosto na minha amizade com o filho e, também tinha percebido que o filho se tornara menos agressivo e arredio. De uns tempos para cá, ela mudou seu comportamento, parecia que minha presença constante ao lado do filho a incomodava. Achei que fosse uma fase pela qual estivesse passando, e não atribuí muita importância ao fato. Até o dia em que ela e o marido estavam festejando o aniversário de casamento com um churrasco no sítio deles num município vizinho a São Paulo.
- Sabe, Dudu, nós todos adoramos você aqui em casa. Não me canso de elogiar como você transformou o Rogério numa pessoa melhor. Mas, você não acha que está na hora de você dar um pouco mais de espaço para ele? Ele está com vinte e seis anos, e nunca mais trouxe uma namoradinha aqui em casa. Não o estou empurrando para um casamento, de forma alguma, entenda isso, no entanto, estamos achando que ele deveria começar a conhecer algumas garotas para não acabar se casando com a primeira que aparecer quando ele já tiver mais idade. Você não acha?
- Nem sei o que dizer. Creio que sim. – balbuciei, procurando segurar aquele nó que teimava em querer subir pela minha garganta.
- Para isso o Rogério precisa de espaço. Não dá para ele abrir a cabeça para outras coisas enquanto vocês estiverem sempre juntos e tão cheios de programações que não deixam o caminho livre para outras coisas. – continuou ela, nem se dando conta de que estava estraçalhando meu coração. – Amamos você. Ajude-nos a fazer do Rogério um homem feliz. – concluiu. Meus lábios esboçaram um sorriso incrédulo, pois tudo o que eu fazia era para que o Rogério fosse o homem mais feliz desse mundo.
- Claro! Claro, dona Eleonora. – se eu dissesse mais alguma coisa começaria a chorar diante dela.
- O que foi? Você está bem? Que cara é essa? – perguntou o Rogério, assim que me encontrou caminhando feito um errante entre os convidados.
- Não é nada. Está tudo bem. – menti
- Suas mãos estão geladas! Você vai me dizer agora mesmo o que está acontecendo, ou acha que não te conheço? – eu tinha me acostumado aquele jeito de ele determinar o que eu devia fazer. Isso o fazia pensar que estava dando as ordens quando, na verdade, bastava que eu o encarasse cheio de brandura ou o tocasse nos lugares certos, para ele ceder aos meus caprichos.
Depois da festa, quando todos os convidados tinham ido embora, e os pais dele permaneceram no sítio, o Rogério e eu voltamos para São Paulo. Dormi no quarto dele como em tantas outras ocasiões. Aquelas paredes já tinham testemunhado todo tipo de fantasia sexual que colocamos em prática. Não foi diferente naquela noite.
- Você está tenso. Não estou reclamando, mas esse cuzinho não relaxou um segundo sequer enquanto minha pica estava aí dentro. Você sabe que eu adoro quando ele está todo contraído e ainda mais apertadinho, mas eu sei que meu cacete te machuca um bocado quando isso acontece. Você vai ou não vai me contar o que foi que aconteceu lá no sítio? Vou me zangar com você se não me contar. – exigiu, enquanto eu fazia massagem naqueles culhões enormes, o que, segundo ele, ajudava a diminuir a pressão na sua virilha depois do sexo e, a apressar a produção de mais bocado do leitinho que eu tanto gostava.
- Não vamos falar sobre isso hoje, por favor. Eu só quero ficar aqui com você, abraçados e sentindo o seu cheiro. – a pele dele tinha cheiro de creme de barbear e mel, e se tornara meu cheiro favorito.
- Humm! O que isso quer dizer? Que o rapazinho acordando aí embaixo, na sua mão, vai poder se esconder na grutinha preferida dele até o amanhecer? – era inacreditável como ele só pensava nisso quando estava perto de mim.
- Ahã! – Eu acariciei seu rosto com a ponta dos dedos, fazendo o contorno ao redor de sua boca, onde aquele sorriso libidinoso deixava ver seus dentes alinhados e brancos. – Eu te amo! Não sei mais viver sem você. – confessei, deixando meu olhar se perder naquele rosto másculo.
- Eu te amo mais ainda! Você nunca vai viver sem mim. Quando me conquistou arranjou um trambolho para carregar pelo resto da vida! – exclamou ele.
- Eu é que te amo mais. Você não é um trambolho. É o que tenho de mais valioso nessa vida. – devolvi, sentindo meus olhos marejarem.
- Meu menino chorão. – disse ele, pegando meu rosto entre as mãos e inclinando seu corpo sobre o meu. Um demorado beijo evitou que eu começasse a soluçar.
Enquanto ele me segurava entre seus braços, e eu fazia cafuné na nuca dele, comecei a abrir as pernas e erguer meus joelhos até quase tocar em seus ombros. Ele interrompeu o beijo, abriu um sorriso de satisfação, e voltou a me beijar. Desta vez a boca entreaberta se colou à minha com a língua já de fora, pronta para mergulhar em mim. Não era só a língua que estava a postos para me invadir. O caralhão imensamente rijo e babando, umedecia minhas preguinhas, pronto para se meter no meu cuzinho. Levantei meus quadris com uma rebolada sensual, e ele enfiou a rola no meu cu. Gemi de dor e prazer. Um gemido longo e pungente, ao mesmo tempo sonoro e, completamente tomado pelo deleite que aquele falo pulsante provocava dentro de mim. Gozei farta e plenamente logo nas primeiras bombadas dele. Minha mucosa anal estava tão ávida e suscetibilizada que o mais leve roçar daquela rola grossa já me transportava para o Éden. Por ter gozado pela última vez há pouco mais de hora e meia, ele meteu e sacou a jeba no meu cu durante mais de trinta minutos seguidos, ora lenta e delicadamente, ora numa cadência atroz. Enquanto eu gemia ou gania conforme esse revezamento, ele arfava deixando o ar escapar entre os dentes num sibilo rouco. Ao ouvir seus urros ressoando pelo quarto, me preparei para ser inundado por seus jatos de porra fartos e que abrandavam nossos espíritos. Quando acabamos de fazer amor, ele se reclinou nos travesseiros e colocou minha cabeça em seu peito. Fiquei brincando com os pelos do peito dele, entre os mamilos, onde eles faziam um redemoinho.
- Prometo que vou te abraçar nas noites difíceis e serei sua âncora! E, quando amanhecer, todos os problemas terão desaparecido. Prometo! – balbuciou ele, com a respiração ainda acelerada devido ao esforço. Parecia que ele conseguia ler meus pensamentos, como que adivinhando o que se passava no meu íntimo. Enquanto isso, a mão dele acariciava minhas nádegas em movimentos circulares, e eu me derretia cada vez que um círculo se completava.
- Nunca vou deixar de te amar, juro! – a lágrima que pingou do meu olho caiu no peito dele, e eu a sequei com a ponta do dedo.
Fiquei contente por ele não continuar insistindo em descobrir o que eu estava escondendo dele. Embora não tivesse nenhuma dúvida de que ele não tinha esquecido o episódio e, muito menos, que deixaria o fato passar incólume. Ele sabia cultivar aquela paciência que o levaria a seus propósitos, mais cedo ou mais tarde. Tomei o cuidado de não aparecer na casa dos pais dele com tanta frequência, sem levantar suspeitas desse comportamento. Contudo, ele não demorou a protestar por nossos encontros, especialmente os de cunho voluptuoso, terem rareado um pouco. Convenci-o a pernoitar mais vezes na minha casa, embora meus pais tivessem uma vida social muito mais agitada que os dele, o que fazia nossa casa sempre estar com alguma visita até tarde da noite. Fora isso, meu irmão trazia para o seu quarto as inúmeras e variadas ficantes, nas poucas vezes em que meus pais se ausentavam.
Meus pais tinham, finalmente, se decidido a fazer um rápido cruzeiro até Salvador com alguns casais amigos. Meu irmão estava num campeonato de motocross a, pelo menos, 300 quilômetros de casa. Precisei rir do Rogério quando dei a noticia a ele. Ele esfregou as mãos e com aquele sorrisão guloso, veio para cima de mim movendo a pelve como se estivesse trepando. A cena aconteceu dentro de uma loja no shopping onde eu provava uma calça que, apesar de ser a minha numeração, teimava em não passar pela minha bunda. O garotão bronzeado e descolado que nos atendia, apenas se limitou a um risinho maldoso quando flagrou o Rogério me encoxando próximo aos provadores, enquanto eu tentava fazer a bunda passar pelo cós apertado da calça.
- É sempre assim. Não é moleza guardar isso tudo nessas calças apertadas! – sentenciou o Rogério, dando um tapa na minha nádega. O garotão riu com mais entusiasmo, para pouco depois dar, disfarçadamente, uma ajeitada na rola.
O sábado estava sendo ótimo. Além de comprar algumas coisas de que estava precisando, o Rogério e eu ficamos um bom tempo rindo da cara do garotão da loja. Ele não quis comer nada no shopping, não porque estivesse sem fome, mas porque a disputa por uma mesa não compensava a espera. Ele adorava quando eu cozinhava para ele. Elem encarava isso como uma maneira que eu tinha de cuidar dele. Costumava abrir uma garrafa de vinho, ia bebericando devagar, me observando fazer o prato. Sempre que eu me virava na direção dele, ele sorria. Eu já tinha desistido de pedir a ajuda dele. Por mais simples que fosse, ele conseguia derrubar alguma coisa, cortar o próprio dedo ao picar algum legume ou deixar o que estivesse no fogo queimar. De um jeito desengonçado, ele se desculpava, dizia que aquilo era complicado demais. Se eu ralhasse com ele por conta de alguma dessas cagadas, ele fazia um biquinho com os lábios, e vinha me abraçar, ou para me dar um chupão no pescoço, ou para me encoxar contra a bancada. Tínhamos terminado de arrumar o grosso da bagunça na cozinha e fomos ao meu quarto procurar algum seriado na Netflix. Depois de uns dois episódios, um pouco monótonos demais, ele começou a mudar o foco de sua atenção. Ele me cutucava, me provocava com cócegas na planta dos pés, onde eu era especialmente suscetível e, começou a me exibir a cabeçorra da pica pela ampla abertura do short que estava usando. Fingi não estar interessado, muito embora, aquela chapeleta arroxeada, se projetando sobre suas coxas peludas, estivesse me dando um calor que se distribuía pelo meu corpo, enquanto o cuzinho sedento já piscava de tesão. Ele sabia que eu não era imune a tal visão, e se divertia com meu fingimento.
- Ele está suculento do jeitinho que você gosta! – sussurrou no meu cangote, enquanto chupava e mordiscava minha pele.
Não havia como não capitular. Enfiei lentamente a mão dentro da perna do short e comecei a acariciar a cabeçorra úmida. Ele me agarrou puxando-me para junto dele, e me beijou, o tesão à flor da pele. Enfiou as mãos por baixo da minha camiseta e a tirou pela cabeça. Meus mamilos estavam com os biquinhos enrijecidos. Ele os apertou entre o polegar e o indicador até ouvir meu gemido. Depois, deu um beijinho em cada um e, concentrando-se num deles, começou a mordê-lo e chupa-lo com tara. Eu arfava e gemia, abraçado ao pescoço dele e beijando-o por todo o rosto. Minha bermuda e cueca foram sendo puxadas em direção aos meus pés e, ao livrar-me delas, senti a voracidade de sua mão entre as minhas nádegas. Soltei um suspiro quando senti o polegar dele entrando no meu cu. Ele me virou de bruços e apartando bem as nádegas, começou a lamber minhas preguinhas. Eu gania de desejo. Ele se demorava propositalmente, mordiscando, lambendo as nádegas, enfiando o dedo no meu cu e fazendo movimentos circulares dentro dele. Até eu pedir ardentemente para ele entrar em mim. Há tempos que a rola dele estava gotejando o pré-gozo viscoso e perfumado que se espalhava pelo quarto, enchendo o ar de luxúria. Ele me puxou até a beirada da cama e enfiou o caralhão no meu rabo. As estocadas rápidas e profundas me faziam gemer alucinadamente. Eu estava virando o rosto na direção dele para implorar que fosse mais contido, quando vi meu irmão parado junto à fresta entreaberta da porta do meu quarto. Deixei escapar um grito e tentei me colocar em pé, ele achou que eu estivesse pedindo mais e terminou de atolar a jeba no meu cu num só golpe, fazendo o sacão bater contra o meu rego desabrochado. Só então, ele percebeu que estávamos sendo observados. O caralhão amoleceu no mesmo instante e, quando ele o retirou apressadamente do meu cu, os jatos de porra melaram minhas coxas. Quando coloquei minhas roupas e desci correndo a escada atrás do meu irmão, ele ganhava a rua montado em sua motocicleta. Meu corpo tremia tanto que achei que fosse ter uma convulsão. O Rogério correu atrás de mim e, ao ver minha aflição, me apertou em seus braços.
- Acalme-se! Seu irmão não é nem um pouco careta e, muito menos santo. Já deve ter comido um bocado de garotas no quarto dele. Não há porque você ficar tão desesperado. Qualquer problema, vamos enfrentar juntos. – assegurou ele, enquanto eu me abrigava naquele torso nu.
- Você disse bem, garotas. Você nem de longe se parece com uma. O que vamos fazer? – minha voz tremia tanto quanto eu. Eu estava apavorado com as consequências que poderiam advir.
Minha mãe não parava de falar. Estava tão alucinada que não media as palavras e, cada uma delas, me atingia como um punhal. Eu olhava para o meu pai e via como as palavras dela o estavam influenciando. Naquele momento, percebi que fora sempre ela a induzir as raras vezes em que meu pai e eu discutimos. Por trás de cada surra que eu tinha levado, havia o dedo da minha mãe metido na história. Meu irmão não conseguia me encarar. Ele não havia imaginado o quão destrutiva seria sua delação. Minha mãe foi dramática, como sempre, e eu já podia antever a reação do meu pai, influenciado por aquela encenação.
- Fizemos tudo por você. Pagamos bons colégios, proporcionamos conforto e sempre te demos tudo e mais além do que você pedia. E, como você nos agradece? Abrindo as pernas para um degenerado como você. Debaixo do nosso teto, no lar que te proporcionou tudo o que você é e tem. – meu pai quase nunca gritava, mas agora o fazia com o rosto encolerizado.
- Pai, eu nunca quis fazer nada que o magoasse, acredite em mim. – me doía vê-lo tão atormentado.
- Mas fez!
- Eu me apaixonei pelo Rogério, pai. Não sei dizer como foi que isso aconteceu, mas um dia percebi que o amava.
- Não seja ridículo! Dois homens não se apaixonam! Isso é viadagem! – bradou, com o punho fechado diante do meu rosto. Quando olhei para minha mãe, podia jurar que ela estava desejando que ele me desferisse aquele punho na cara.
- Então eu sou um viado! Por que eu amo o Rogério! Isso eu não tenho como omitir ou fingir que não seja verdade. – revidei. A mão dele acertou minha boca e eu caí desequilibrado contra a estante da sala.
- Nunca mais repita isso na minha presença! – apesar da raiva, quando levei a mão à boca para segurar o sangue que pingava do meu lábio, ele me encarou como se estivesse sentindo uma dor profunda.
Peguei as chaves do carro, meu celular e saí sem rumo. Pensei em ligar para o Rogério. Mas, o que diria a ele? Que estava prestes a ser expulso de casa? Ia contar o que a mãe dele havia me dito, que não me queria mais na casa dele? De repente, meu mundo estava ruindo. Enquanto alguém contava uma piada ou fazia gozações com uma bicha, todos se divertiam. Enquanto um pai descobria que o filho era viado e o espancasse ou até matasse, o assunto era tratado como uma mera notícia de tabloides. No entanto, quando isso acontecia com as pessoas dentro de suas casas, a coisa mudava de figura, a bicha deixava de ser engraçada, o filho viado tinha que ser execrado. Vencia a hipocrisia da sociedade, com sua moral sendo moldada conforme os ditames do momento. Ela era tão flexível a ponto de passar de um tornozelo à mostra, num século, como uma imoralidade sem tamanho, a um fio dental enfiado no rego em plena praia se tornar algo sexy, no século seguinte. Como a sociedade podia julgar, execrar e punir alguém sob a ótica de uma moral tão volúvel? Isso não entrava na minha cabeça. Meu celular tocou e me tirou desse devaneio. Era o Rogério. Com aquelas lágrimas caindo pelo rosto não seria prudente atender, ele iria querer saber o que estava acontecendo. Estava tão absorto em meus pensamentos que me descuidei e peguei a alça de acesso a uma rodovia, não deu para desviar sem provocar um acidente. Fui obrigado a seguir pela rodovia. A estrada estava tão vazia a minha frente, havia tanto espaço, tanta liberdade, eu podia enxergar ao longe. O escalonamento das marchas do carro subia com um click discreto, bem como o ponteiro do velocímetro. Na rodovia de múltiplas pistas, os poucos carros que eu encontrava ficavam rapidamente para trás. O caminho estava livre na minha frente, livre como eu gostaria de ser. Apesar da angulação ampla, os pneus chiaram e meu corpo se inclinou no banco em direção à tangente da curva. Não havia nada na reta que veio a seguir diante dos meus olhos. O zunido do motor entrava em meus ouvidos e reverberava na minha cabeça. O ponteiro do velocímetro atingia pela primeira vez aquela marca. A curva a minha frente se aproximava incrivelmente rápida. Ao iniciar o seu contorno, o carro colocou em funcionamento toda a parafernália dos seus mecanismos eletrônicos para completa-la. Mas, eles não foram suficientes e, eu via, pelo para-brisas, tudo rodopiando à minha volta, igual aos pensamentos que rodopiavam na minha cabeça. O carro parou. Eu continuava atrelado ao banco, mas meu corpo estava inclinado para o lado. O sol batia no meu rosto e trazia um calor benfazejo. Alguém bateu no vidro ao meu lado. Bateu de novo. Bateu insistentemente. Virei o rosto na direção das batidas, mas não vi ninguém. Espere. Há um vulto lá fora. Minha mão tateou sobre algumas teclas no console e, quando condicionadamente reconheceu a correta a apertou. Ouvi o barulho das portas destravando, a minha se abriu e o vulto me perguntou alguma coisa. Eu não saberia dizer o que ele me perguntou. Braços musculosos me puxaram para fora do carro. Eu me atirei neles e ouvi ao longe o som da minha própria voz – Rogério.
- Você está bem? Consegue me ouvir? – a voz era grave e firme. Minha cabeça estava apoiada no ombro largo, mas ele não cheirava a creme de barbear e mel. Estranhamente, minhas pernas não estavam conseguindo sustentar meu corpo. – Não me parece que esteja drogado. Deve ter tido um mal súbito. – disse a voz. Havia outras, todas sem nenhuma pessoa a quem atribuí-las.
Aquele tórax não tinha meu cheiro favorito, mas eu continuava abraçado a ele. Eu tinha a impressão de que se o soltasse, minha vida se esvairia. Não sei quanto tempo se passou até que identifiquei uma farda, depois outra, mais aquela que eu abraçava.
- Tudo bem com você? Está sentindo alguma coisa? – era a mesma voz.
- Eu ..., onde estou? Quem é ... – nunca senti tanta dificuldade para articular as palavras.
- Você quase se matou! – disse a voz
- Não, não. Foi meu colega conversando com o rapaz. Como? Eduardo. Ele se chama Eduardo. – era outra voz, estava falando com alguém no meu celular. – Ele está bem, aparentemente. Só parece estar um pouco confuso. Ele usa algum medicamento? Sabe se pode ter ingerido alguma droga? – a voz continuava cada vez mais sonora e clara.
- Fique calmo! Meu colega está conversando com alguém da sua família. – disse a voz que tinha o tronco quente, mas não meu cheiro favorito. Era só o que faltava! Já estava antevendo a cara do meu pai ao vir me resgatar, mais uma vez, outra vez, tudo por que eu estava metido em nova confusão.
- Estão vindo te buscar. Conversei com Rogério. Ele me disse que estava ligando para você há muito tempo e ninguém atendia. É seu pai, irmão ou algum parente? – perguntou a voz que acabara de me devolver o celular.
- Não! Ele é meu .... – tanto amor envolvido, tanta paixão vivida e, eu não era capaz de pronunciar uma simples palavra, namorado. Baixei a cabeça, estava corado.
- Pode nos contar agora o que aconteceu? – era a voz em cujos ombros me abriguei.
- Não sei dizer. Eu discuti com minha família. Eu levei um soco, eu .... – precisei parar para não chorar diante dos patrulheiros no posto da polícia rodoviária.
- Está tudo bem agora. Vai ficar tudo bem, não se preocupe. – eu queria acreditar naquelas palavras, mas a realidade era muito diferente disso. – O carro rodopiou na curva. Estávamos ao seu encalço quando passou por nós muito acima do limite de velocidade da rodovia. Percebemos que algo estava errado quando você não nos viu sinalizando para encostar. Você parecia uma estátua ao volante.
- Obrigado! Muito obrigado! – balbuciei num sussurro, tomando entre as minhas a mão que estava no meu joelho. Era uma mão grande e quente. Eu sorri para o dono dela. Ele devolveu o sorriso, um pouco constrangido.
- Estamos aqui para isso! – algo naquele olhar me dizia que, se estivéssemos a sós, ele voltaria a me apertar contra seu peito. Eu tinha aprendido a reconhecer um olhar de cobiça.
Procurei controlar o choro quando o Rogério chegou todo afobado e, com a cara mais desolada que eu já tinha visto. Ele passou a mão no meu rosto, como se estivesse conferindo se eu estava inteiro. Tocou de leve no lábio inchado onde um hematoma já era bem visível. Beijou minha testa e depois a bochecha. Segurou-me em seus braços como se eu fosse fugir dele. O policial rodoviário de cuja mão eu havia soltado há pouco, franziu o cenho, um tanto quanto decepcionado. Precisei garantir uma centena de vezes ao Rogério e aos policiais que estava bem e, em condições de dirigir antes de sairmos de lá. Ante meu questionamento se não ia ser multado por trafegar em excesso de velocidade, os policiais esboçaram um discreto sorriso e me pediram para, numa próxima eventualidade, não o fazer na jurisdição deles. Prometi que sim, com um sorriso tímido.
- Eu estava a sua procura feito um desesperado! Quando seu pai ligou lá para casa, furioso e descontrolado, eu entrei em pânico, imaginando o que podia ter te acontecido. Por que você não atendeu minhas ligações? – quando ele me pediu para segui-lo, não sabia para onde estávamos indo. Só sabia que não estávamos voltando para São Paulo. Reconheci a porteira do sítio dos pais dele quando ele parou para abri-la. Estávamos na varanda da casa quando ele começou a falar comigo.
- Não sei! Eu não queria jogar meus problemas em cima de você. – murmurei.
- E, por que não me contou sobre a conversa que minha mãe teve com você aqui mesmo, no dia da festa de aniversário de casamento deles? Você tinha que ter me contado! – fazia tempo que ele não usava aquele tom de voz áspero comigo.
- O que você queria que eu fizesse, que o colocasse contra a sua família? Você viu o que aconteceu comigo, assim que eles descobriram tudo. Nunca vão aceitar o que está acontecendo entre a gente! Você sabe disso tanto quanto eu. – respondi.
- Eles vão ter que entender! Eu não vou abrir mão de você, nunca! – exclamou ele.
- Nunca vamos ter paz. Ninguém vai aceitar nossa condição. – revidei.
- Veja como você está falando, o que está acontecendo entre nós, aceitar a nossa condição. Não são essas as palavras que você deve usar. Você deve dizer de cabeça erguida, em alto e bom som, nosso amor, nosso namoro, pois é isso que estamos vivendo. – parecia fácil quando ele falava, mas só por que ele estava ali ao meu lado.
Voltei ao meu estado normal depois de fazermos amor. Aquele sêmen morno entre as minhas coxas e a respiração pesada do Rogério cochilando no meu colo, enquanto eu passava meus dedos entre seus cabelos, me faziam refletir melhor. Não importava quando, nem o porquê, nem como ele aconteceu ou nem mesmo quantos momentos tivemos juntos para construir aquele amor. Ou ainda, se era certo ou errado. O amor não vinha com explicações. Ele fluía das pessoas apenas com a esperança. Não havia uma lista de regras a serem seguidas para mantê-lo vivo. Ele simplesmente aparecia em nossas vidas de modo sereno e cabia a nós não deixa-lo escapulir por entre os dedos. Também estava claro para mim que, a pessoa que te ensina a amar nem sempre é a pessoa que acaba vivendo uma vida ao seu lado, e isso me assustou. Eu só não tinha me preparado para descobrir que o amor nem sempre era o suficiente, que amar alguém significava estar vulnerável à ideia de que um dia a pessoa podia não estar mais do seu lado, e tudo o que eu queria era ter o Rogério comigo para sempre.
No dia seguinte, entrei em casa de mãos dadas com o Rogério. Cruzei com meu irmão na escada quando subia para o meu quarto. Ele não me encarou.
- Por que você fez isso comigo? – desafiei-o mesmo assim.
- O que você queria que eu fizesse? Encontrei o cara enfiando o caralho no seu cu e você ganindo feito uma cadela no cio. Uma putaria aqui dentro de casa. – respondeu ele, sem se atrever a me encarar.
- Você podia ter conversado comigo. Podia ter simplesmente ignorado o que viu. Podia, pelo menos uma vez na vida, ser meu irmão. – retruquei.
- Ignorado? Ninguém ignora quando vê o irmão mais novo fodendo feito uma puta. – sentenciou.
- E, o que foi que eu fiz esses anos todos? Eu corri para o papai e contei o que eu ouvia ao passar diante da porta do seu quarto? Eu contei que você trazia nem sei quantas ficantes, se trancava com elas no quarto enquanto elas ganiam, gemiam e davam gritinhos histéricos pronunciando seu nome, enquanto você as enrabava sem dó nem piedade? Eu contei que a casa mais parecia um puteiro quando a mamãe e o papai não estavam? Nunca! Eu simplesmente deixei você levar a sua vida como bem entendia. Para mim, bastava vê-lo feliz! – argumentei.
- É diferente! Eu estava trepando com mulheres. Você se transformou num ... num viado, numa puta macho! – retorquiu.
- Ao contrário de você, eu estava trepando com a pessoa que eu amo. Aconteceu de essa pessoa ser um homem, o único homem que tocou em mim. Enquanto você estava pegando toda e qualquer putinha que estava a fim do seu pau. No dia em que você descobrir o que é amar de verdade, você vai deixar de trazer essas putinhas. Você vai se sentir a pessoa mais feliz do mundo por poder entrar na mulher que significa tudo na sua vida. E, eu acredito que então você vai compreender o que viu naquele dia no meu quarto. – sua expressão foi se desarmando enquanto eu falava e, por um instante, eu pude ver no dono daquele olhar o mesmo menino que costumava zoar comigo quando éramos crianças, mas que estava sempre ali para dar uns sopapos em qualquer um que mexesse comigo.
Ouvi vozes altercadas na sala enquanto trocava de roupa no meu quarto. Desci o mais rápido que pude. Meus pais estavam com o Rogério na sala e o clima estava tenebroso.
- Não estávamos fazendo nada além do que duas pessoas que se gostam, gostam não, se amam fazem na intimidade – dizia o Rogério, encarando os dois.
- O que quer que tenha acontecido naquele quarto entre vocês dois e, eu não quero saber o que foi, não vai mais se repetir. Você está me entendendo? Sei que vocês passaram por muita coisa juntos lá na Turquia, que você gosta do meu filho e, que aquelas dificuldades os aproximaram. Mas, o que vocês estavam fazendo sob o teto da minha casa é imoral, é descabido, é nojento. – afirmou meu pai, elevando a voz à medida que ia ouvindo suas próprias palavras.
- Estou chocado ao ouvir seus argumentos. O senhor está falando como se seu filho fosse uma aberração, um pervertido. – retrucou o Rogério, não se intimidando.
- Você o transformou nisso, no momento em que desrespeitou esta casa, tirando isso de dentro das calças e enfiando .... – berrou meu pai colérico, apontando para o meio das pernas do Rogério e, nem conseguindo pronunciar as palavras para concluir seu pensamento.
- Ouça o absurdo que o senhor está falando! – devolveu o Rogério, também elevando o tom da voz. – Eu amo o Dudu! Eu amo o seu filho desde a faculdade! Não será por que o Roberto lhe contou o que aconteceu naquele quarto com as palavras e a visão distorcida dele, que o Dudu e eu vamos deixar de nos amar. Nossa relação não se resume a sexo, mas a paixão, afeto e respeito! – emendou.
- Dois homens não se amam! Se, fazem o que vocês estavam fazendo, eles fornicam, nada mais que isso. – afirmou meu pai. – Eu não quero mais ver o Dudu na sua companhia. Eu não o quero mais nesta casa, a partir de hoje você não é mais benvindo aqui. – encerrou meu pai.
- Seu filho tem idade suficiente para tomar as próprias decisões. E, são essas que eu vou respeitar, apenas essas, por que eu amo o Dudu acima de qualquer outra coisa ou pessoa. – concluiu o Rogério.
Dias depois, eu me enchi de coragem diante do olhar expressivo do Rogério. Ele acabava de me propor vivermos juntos. Eu estava com vinte e cinco anos, havia chegado o momento de romper o cordão umbilical. Eu tinha uma profissão, tinha um emprego e, tinha o homem que eu amo, por que não me jogar de cabeça? A decisão causou mais polêmica dentro de casa. Não foi diferente na casa do Rogério. Entre acusações e a nomeação de culpados pelo esfacelamento da família, ficou o mesmo clima de rompimento e inconformidade em ambas as famílias. Não demoramos a encontrar um ninho que abrigasse nosso amor e fosse nosso porto seguro. O tempo se encarregaria de juntar os cacos. Provavelmente os remendos ficariam aparentes para sempre, mas, tal qual um vaso que se espatifou e foi colado, o todo continuaria a existir.
- Serei sua âncora e você minha enseada de águas calmas. – afirmou o Rogério, na nossa primeira noite em nosso novo apartamento, nosso lar, como ele fazia questão de frisar, fitando-me com um brilho no olhar, ao mesmo tempo em que suas mãos foram até as minhas coxas e as abriram devagar. Ele se tocou com uma das mãos. Com a outra, enfiou dois dedos em mim, me fazendo enterrar as unhas no lençol. Quando ele os retirou, deslizou o caralhão para dentro de mim. Senti o corpo relaxar a cada arremetida, a cada gemido. Trocamos um beijo suave. Ele mergulhou ainda mais em mim, rápido e vigoroso, lento e profundo. Cada estocada dele era uma promessa silenciosa de que me amava tanto quanto eu a ele.


Foto 1 do Conto erotico: Enigmas do amor - Final

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Comentários


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lordricharlen Comentou em 04/12/2017

Parabéns achei que fosse mata o protagonista naquele acidente como tu fez no dois outros contos que tu escreveu, mas um tu deu um novo amor no outro não. Gostei muito. Até a próxima.




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Ficha do conto

Foto Perfil kherr
kherr

Nome do conto:
Enigmas do amor - Final

Codigo do conto:
109880

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
03/12/2017

Quant.de Votos:
5

Quant.de Fotos:
4