De ninfeto sexy a espião uma jornada libertina 5

Eu tinha certeza que ele viria e quando entrou no Clube, fui pessoalmente recebê-lo, me derretendo em gentilezas. Sentamo-nos a uma mesa discreta, ele pediu as bebidas e propôs um brinde que retribuí com um sorriso libertino. Ele foi direto, em menos de cinco minutos, estava pegando na minha coxa por baixo da mesa, deixei-o explorar o tesão que o consumia. Estava disposto a levá-lo ao escritório e acariciar aquela rola ou me deixar enrabar caso o convite para passar alguns dias em sua companhia não viesse logo. Não foi preciso, depois do terceiro drinque, ele tirou do bolso uma passagem de trem para Braga em Portugal, onde estaria me esperando dentro de uma semana para me levar à casa de praia em Esposende.
- Passo lá algumas semanas por ano, desfrutando do sol ameno do Atlântico! – disse ele, entrando com a mão sorrateira entre as minhas coxas. – Levo a família, que faço questão que conheça! Não serão um empecilho para os momentos que quero passar em sua companhia! – acrescentou libidinoso.
- É muito gentil, Sr. Alvarez! – Fico lisonjeado com tanta gentileza! – o velho me comia com os olhos entorpecidos pela bebida.
Foi uma viagem cansativa, as paradas, as trocas de composição, o calor que aumentava à medida que o trem se aproximava do litoral. Um motorista me aguardava na estação, tal como o patrão, era espanhol, devia ter uns 35 anos e abriu um sorriso amistoso quando me identificou. Aproveitei a trajeto final até a casa de praia para fazer algumas perguntas sobre o patrão, que ele respondeu pronta e eloquentemente, me dando mais informações do que eu havia solicitado. O Sr. Alvarez me aguardava ao lado da esposa na varanda da casa, voltada para o mar de onde soprava uma brisa morna. Ele vestia nada mais que um calção, parecia ainda menor dentro dele. Sem uma camisa o pescoço parecia estar enterrado nos ombros, o corpo era muito peludo, pelos negros e grossos cresciam por todo lado. Era um galego horripilante e tosco que nem mesmo a fortuna acumulada conseguia esconder. Ali, em seu habitat natural, cuidava menos dos modos do que propunha a boa educação. Apresentou-me a esposa, uma mulher submissa que a todo momento era interrompida pela fala do marido e se recolhia em sua insignificância. Era uma mulher feia, de ancas largas, andar cambaleante, seios grandes e caídos, cabelos amarrados num coque junto a nuca, dois dentes de ouro na arcada superior que reluziam quando sorria, disputando com o buço denso de pelos escuros a atenção de quem a observava. Trajava um vestido ultrapassado que não escondia os pelos dos braços e pernas que eram quase tão abundantes quanto os do marido. Não à toa o galego se dava ao desfrute de perseguir mulheres jovens e bonitas, ou garotões imberbes e sensuais como eu. O que conseguiu fazer na mulher, mais de uma década antes, foram duas meninas sem nenhum atrativo, que traziam o mesmo penteado repartido ao meio no alto da cabeça com as madeixas laterais amarradas pela mesma fita em laços junto a cabeça. Eram duas adolescentes espevitadas que corriam soltas pela propriedade como cabritas, e que provocavam os funcionários homens erguendo as saias rodeadas de debruns. Em poucos anos seriam putas, a despeito de toda riqueza do pai.
Fui instalado num quarto amplo e ensolarado com uma varanda privativa e vista para o mar, distante dos demais quartos ocupados pela esposa e pelas filhas. Era ali que o Sr. Alvarez pretendia passar as noites da minha estadia com o pauzão enfiado no meu cu. E assim foi. Ele entrava sorrateiro após todos terem se recolhido, despia-se e vinha me agarrar sob os lençóis, arrancava minha cueca e arfando feito um touro que precisou perseguir uma vaca no cio, metia o pauzão grosso no meu cuzinho sem se importar de me machucar, sem se importar de me fazer sentir prazer, só o dele prevalecia, fodendo sem parar até se despejar todo em mim. Por sorte a benga dele não era grande, pouco menor que a média dos homens, apenas ligeiramente grossa na base afilando à medida que chegava à glande. Por isso, minhas pregas apenas se ressentiam e eu me via obrigado a gemer mais contundente quando ele a atolava até as bolas no meu cuzinho. Porém, isso durava pouco, pois o gozo vinha rápido, muito embora fosse abundante e me deixasse com as entranhas molhadas, fruto das duas imensas bolas alojadas no sacão que pendia qual um pêndulo entre as coxas peludas. Era fácil saciá-lo, alguns toques nos lugares certos, uns gemidos sensuais fingindo dor e prazer e seus músculos perineais se contraíam expelindo os jatos de porra. Em três ou quatro ocasiões viu-se constrangido com ejaculações precoces, que amenizei acariciando seus colhões enquanto lhe assegurava que era por ele ter sentido muito tesão. Ele fingia acreditar, talvez até acreditasse que eu era tão despreparado que não sabia o que tinha acontecido.
A esposa se mostrava resignada, não demorou a constatar que o marido a estava chifrando comigo, e passou a me tratar friamente. A mim não me importavam os dramas familiares deles, estava ali por uma única razão, descobrir o aquele homem tramava com os alemães, qual era a dimensão daqueles contratos de aquisição de volfrâmio. Na segunda semana eu já estava cansado daquilo tudo, nem os banhos de mar estavam conseguindo me relaxar. A importunação de ter que dormir todas as noites com aquele sujeito insosso agarrado ao meu corpo começava a mexer com o meu humor. Foi então que um de seus empregados do escritório de Bilbao veio ter com ele. Trancaram-se no escritório da casa por horas, eu rondava o corredor procurando ouvir o que conversavam, e descobri que alguns generais alemães e um representante enviado pelo próprio Hitler viria a ter com ele em alguns dias. A partir dali fiquei irrequieto, meus ouvidos não perdiam nada, meus olhos estavam atentos a tudo.
Eles chegaram em quatro, dois deles eu já tinha visto na Embaixada de Madri, o civil e o outro general, um homem obeso que mal cabia nos assentos das cadeiras liderava o grupo. Almoçaram conosco sob um pergolado e falaram sobre amenidades em alemão, supondo que nem a esposa, nem as filhas e nem eu estivéssemos entendendo o que discutiam. Após a siesta e, com o retorno do mesmo funcionário que veio dias antes acompanhado de outro empresário espanhol e dois portugueses, trancaram-se novamente no escritório. Dessa vez fizeram as tratativas em inglês, eu estava com os ouvidos colados atrás da porta e não perdia nenhum lance. Voltaram a mencionar as minas de Cerva e Ribeira da Pena em Portugal e Castilla e Léon na Espanha, pertencentes ao Sr. Alvarez e, pelo que entendi, o maior dos fornecedores, também dos comboios e portos, mas houve uma novidade, citaram à meia voz alguns lugares da Alemanha onde o minério deveria chegar e onde ficavam as instalações que produziam os armamentos a partir das ligas metálicas reforçadas com tungstênio. Quase pulei de alegria e acabei me denunciando, pois chegaram a interromper a conversa e o funcionário do Sr. Alvarez abriu a porta do escritório sondando se havia alguém no corredor, segundos antes de eu conseguir escapar. Um detalhe não me escapou, a menção de um microfilme que foi deixado aos cuidados do Sr. Alvarez, onde constavam nomes de generais, assessores diretos do Führer envolvidos na negociata, instalações secretas de produção de armamentos em território alemão. Eu precisava me apossar dele, a qualquer custo.
Revirei a casa de ponta cabeça à procura do microfilme, nos lugares mais óbvios, o escritório e o quarto que dividia com a esposa não encontrei nada e quando fui flagrado por uma empregada dentro do aposento tive que fingir um desmaio que gerou um tumulto em toda casa para me acudirem.
Ele estava ao meu lado sentado na beira da cama quando fingi despertar, me bolinava a despeito do suposto mal-estar. Agarrei a mão dele, a apertei entre as minhas e a beijei com devoção.
- O que aconteceu, por que estou aqui a essa hora do dia? – perguntei, encarando-o
- Não sabemos ainda, já mandei chamar um médico, você foi encontrado vagando perdido no quarto da minha esposa. – respondeu ele, comovido.
- Como assim? Estou zonzo, minha cabeça está girando. Não solte da minha mão Miguel, por favor. – supliquei
- Não vou soltar, fique tranquilo, já vai passar, eu vou cuidar de você! – retrucou solícito, vendo ali mais uma chance de abusar do frescor e higidez da minha pele alva e desprovida de pelos.
- Você é um anjo! Estou tão feliz de estar aqui com você, de poder te acariciar e sentir o homem maravilhoso que você é vibrando dentro de mim. – o idiota nem disfarçou a ereção que se formava, crente de que eu estava encantado com sua masculinidade.
O médico obviamente não constatou nada. Fadiga talvez, uma súbita queda de pressão devido ao calor, uma provável anemia que só um exame poderia confirmar, foram suas suposições, antes de prescrever repouso e uma alimentação mais reforçada.
- Esse homem come feito um passarinho, não à toa mais parece um esqueleto ambulante! – exclamou a mulher do Miguel, inconformada do marido preferir meu corpo esguio ao invés do dela.
- Ora cale-se mulher! Vá providenciar que lhe preparem um caldo com substância que é disso que ele precisa! – ordenou grosseiro, tocando a mulher para fora do quarto.
- O que ele está precisando é de uma boa surra para virar homem, e não do seu pinto metido todas as noites no cu dele! – devolveu a mulher, antes de sair, a um triz de não ser atingida por um soco do esposo desmascarado.
- Não quero lhe trazer problemas, Miguel! Me perdoe, meu querido! – exclamei, agarrando-me ao tronco dele como se fosse o único abrigo que me protegeria. Ele foi às nuvens.
- Tudo vai ficar bem, eu garanto! Agora descanse! – retrucou
- Você volta para dormir comigo? – perguntei, passando a mão sobre sua ereção.
Em que merda de lugar esse homem enfiou o microfilme? Fiquei a me questionar. Será que o funcionário o levou consigo para o escritório de Bilbao? O general tinha dito expressamente que ele se tornava oficialmente o guardião do microfilme e que responderia por uma eventual negligência. Não, o microfilme estava na casa, eu precisava continuar procurando. O Miguel me fodeu a noite toda, instigado pela nossa conversa depois que o médico se foi. Tinha a certeza de que eu estava caído de amores por ele, e que me sujeitaria a ser seu amante fiel, carinhoso e submisso. No dia seguinte, flagrei-o olhando diversas vezes para uma estatueta de bronze sobre a cornija da lareira da sala de visitas. Encontrei, pensei com meus botões. Esperei pelo entardecer, a mulher e as filhas faziam um passeio pela praia todas as tardes, o Miguel recebia um ou outro funcionário de suas propriedades e continuava tratando dos negócios mesmo estando de folga. Tirei o pequeno estojo plástico de um oco na base da estatueta e o apertei com força na palma da mão. Consegui, balbuciei eufórico. Corri para o quarto e o costurei no meio do forro de um sobretudo com o qual voltaria para a Espanha dali a dois dias. Na noite da véspera da minha partida, depois de dar instruções ao motorista para me levar até a estação ferroviária de Braga, o Miguel se trancou comigo no quarto. Tinha passado a tarde irritado, não se juntou a nós durante o jantar, deu inúmeros telefonemas do escritório, estava muito esquisito. Ele deu pela falta do microfilme, estou fodido, sou obviamente o único suspeito, o único estranho na casa. Procurei me acalmar, se fosse verdade ele não teria hesitado em me arrancar a confissão à força e me matado em seguida.
- Está tudo bem, querido! – perguntei, enfatizando a palavra querido que o deixava desarmado. – Parece tenso! Venha cá, vou te fazer uma massagem e te cobrir de carícias! – emendei, puxando-o para a cama.
Arriei o calção dele e fui direto afagar o pinto flácido que logo respondeu aos toques dando pinotes até ficar ereto e babando. Coloquei-o na boca e mamei com afinco, gemendo como se aquele visgo pegajoso fosse uma iguaria sem igual. Ele grunhia e se deixava mamar, em êxtase.
- Você gosta da minha porra, não é veadinho? – perguntou, ao agarrar a minha cabeça entre as mãos truculentas. – Vou te fazer mamar muito leitinho, para te fortalecer, putinho do caralho! – acrescentou, sogando a pica na minha garganta até me sufocar.
Comecei a ficar apreensivo com seu linguajar e a truculência, mas continuei fingindo estar adorando ficar com ele. Em dado momento, ele me puxou para um dos cantos da cama, posicionando minhas pernas abertas para cada um dos lados e, em pé atrás de mim, meteu com uma estocada bruta o cacete no meu cuzinho. Ao mesmo tempo, puxou meu quadril contra a virilha e encaixou minha bunda dentro dela, se estremecendo todo. Eu ia ganir, simulando uma dor que não veio e, nisso, senti os jatos de esperma sendo galados no meu cu. Ele gozou antes mesmo de começar a bombar meu rabo. Ficou me segurando engatado em seu falo por um tempo. Eu rebolei e mastiguei, com os meus músculos anais, o pinto que começava a perder a rigidez. Ele o puxou para fora ainda pingando, inspirou fundo e ruidosamente, antes de me soltar. Engatinhei em direção à cabeceira da cama, e fiquei deitado com a bunda para cima. Ele continuava me encarando parado ao pé da cama, como se não soubesse o que fazer.
- Venha se deitar comigo! – instiguei provocante
Ele se aproximou, amassou ambas as nádegas, abriu o rego que estava todo esporrado e ficou olhando para a rosquinha rosada piscando de excitação, de um tesão não consumado. Enfiou o polegar dentro dela e a devassou, meteu um segundo dedo, depois um terceiro, eu comecei a me agitar, sentia ele distendendo as pregas sem dizer uma palavra. A mão se fechou, ele a apertava com força com o punho totalmente cerrado e forçou com ele a minha fenda molhada. Com um golpe abrupto, ele meteu o punho do meu cuzinho, eu gritei e quis fugir, mas ele me conteve e o que não tinha conseguido fazer com o pinto, fez com punho, bombou com força arrebentando meu ânus. A dor era tamanha que os espasmos faziam meu corpo todo convulsionar, eu implorava por clemência, até sentir as paredes do quarto girando e eu desmaiar.
Não sei por quanto tempo perdi os sentidos, quando despertei estava só no quarto e havia sangue, muito sangue entre as minhas coxas e os lençóis. Tentei me levantar, mas uma cólica forte parecia estar retorcendo minhas vísceras. O desgraçado tinha me arregaçado as entranhas e eu mal tinha forças para me mexer, quanto mais caminhar até o banheiro para me limpar. Ele só voltou ao quarto para me chamar para o desjejum e avisar que o motorista ia me levar a estação ferroviária.
- Está tudo bem? – perguntou com um cinismo aterrador.
- O que você fez comigo, Miguel? – perguntei inconformado
- Fodi você, o que mais seria! Você é um pederasta promíscuo, eu um macho, é assim que as coisas acontecem entre nós. – afirmou, sem uma ponta de remorso. – Ou você pensou que também ia entrar para a família? – emendou sarcástico.
- Não, claro que não! – respondi. – Deixe-me sozinho, preciso me aprontar para a viagem. – pedi, cambaleando à caminho do banheiro.
Ninguém veio se despedir. Entrei no carro e o motorista partiu ligeiro para Braga, palpei o sobretudo, o estojo do microfilme continuava lá, eu sorri débil, aquilo custou muito caro.
O trem partiu um pouco atrasado, por algum motivo eu continuava tenso, como quando um garoto apronta uma arte e teme ser pego pelos pais. Na primeira parada em Guimarães, mais pessoas desceram do trem do que embarcaram. Na segunda, em Vila Nova de Famalicão, ocorreu o contrário. Entre os passageiros que embarcaram estavam dois homens que deveriam parecer distintos em seus ternos baratos, mas que tinham mais cara de bandidos do que de cidadãos honestos. São homens do Sr. Alvarez, deduzi de imediato. Vieram atrás de mim, o sumiço do microfilme foi descoberto. Entrei em pânico. O que fazer? Estou muito distante do meu destino final, vão me pegar antes mesmo de chegarmos à próxima estação.
A terceira parada, Maia, alguns quilômetros antes do Porto, não chegava nunca. Era lá que eu pretendia abandonar o trem e tentar a fuga. O trem se pôs em movimento, não dava mais para saltar, o que seria uma temeridade, pois teria certamente me arrebentado todo ao cair nos trilhos. Será que seriam tão ousados a ponto de me dar um tiro diante de todos esses passageiros? Não duvido, pensei com meus botões. De repente, eles entraram no vagão no qual eu estava sentado, procuraram com os olhos atentos me identificar entre os passageiros. O que me viu, cutucou o parceiro apontando na minha direção com um movimento de cabeça. É agora, pensei, para mim a viagem termina aqui. Após examinarem todo o vagão concluíram que não seria viável dar cabo de mim ali no meio de tanta gente e, sentaram-se nos únicos assentos ainda livres a uma boa distância de onde eu estava; porém, não tiraram os olhos de cima de mim. Eu suava em bicas apesar do dia chuvoso e frio.
Da janela já avistei a estação se aproximando, o que gerou um burburinho entre os passageiros que iam saltar, em pé, eles se movimentavam agitados recolhendo suas bagagens, controlando as crianças rebeldes, despedindo-se dos que ficaram e com os quais entabularam alguma conversa descompromissada. Ao se abrirem as portas, o tumulto aumentou, com os passageiros afoitos que queriam embarcar com suas tralhas. Os dois sujeitos não conseguiam mais me ver, esticavam os pescoços por cima dos passageiros aos quais me misturei disparando porta afora na extremidade oposta em que se encontravam. Um homem que queria descer começou a me empurrar, pois eu estava atravancando a passagem esperando o momento certo para saltar para a plataforma pouco antes do trem voltar a se pôr em movimento. Ele se irritou comigo e me xingou, mas isso não importava, meu português era insuficiente para entender do que ele me xingou. O apito soou, as portas começaram a fechar, eu saltei para a plataforma e o trem começou a rolar pelos trilhos, o homem que bloqueei não conseguiu saltar e gesticulava furioso na minha direção. Os dois sujeitos me avistaram pela janela, parado na plataforma quando já era impossível fazer qualquer coisa. Corri para a rua à procura de um táxi que pudesse me levar até o Porto, lá eu teria como me esconder por alguns dias se fosse necessário.
- Leve-me para o hotel, por favor. – pedi ao motorista, que mal compreendeu o que falei
- Que hotel, senhor?
- Qualquer um! Rápido, se possível! – respondi. Eu não conhecia nada na cidade, por isso tanto fazia onde ele ia me deixar.
Ele me deixou no hotel mais luxuoso da cidade, já pensando numa eventual próxima corrida lucrativa e com direito a uma boa gorjeta. No quarto, comecei a andar de um lado para o outro. As cólicas que agitavam minhas entranhas, depois que o Miguel enfiou o punho no meu cu fazendo sabe-se lá o que com elas enquanto permaneci desmaiado, se intensificaram apesar da medicação que fui obrigado a tomar. Eu precisava ligar para Sir Drynsdale, ele era o único que podia me ajudar a sair daquela enrascada, mas havia as tais das regras e, segundo elas, essa não era uma opção caso eu estivesse em apuros. Eu estava por conta própria, teria que me safar por mim mesmo, sem nenhuma ajuda. Tomei uma ducha e me atirei sobre a cama sem vestir nada. Porém, não consegui dormir de tão agitado e por conta das cólicas que não davam trégua, e nem da cratera que parecia haver no meu cu depois que aquele desgraçado tentou arrancar as minhas vísceras pelo ânus.
Pela manhã, na mesa do desjejum, tive náuseas e não consegui me alimentar. Voltei para a estação ferroviária para conseguir um trem para Madri. O primeiro a partir tinha previsão de deixar o Porto no meio daquela tarde, faltavam horas para a partida. Pensei em caminhar pelos arredores para ajudar a passar o tempo, mas as dores no meu ventre não paravam de aumentar e essa seria uma opção inviável. Acomodei-me numa mesa de canto no café da estação a fim de me manter fora da circulação das pessoas, embora todos os pedidos que fiz à moça que veio me atender começassem a se acumular sobre a mesa tão intactos quanto ela os havia servido.
- Há algo errado com os cafés que lhe servi, senhor? – perguntou ela quando colocou a quarta xicara na minha frente.
- Não senhorita, está tudo certo, obrigado! – respondi. Ela me encarou como se estivesse encarando um paciente de hospício. Eu lhe sorri, ela voltou ao trabalho.
Minha santinha dos cuzinhos arrombados e perdidos, é o maldito Alvarez, ele me encontrou. Quase caí da cadeira quando o avistei, acompanhado dos dois sujeitos que estavam me seguindo no trem. Paguei a conta do café e corri em direção aos banheiros, entrando na primeira cabine vaga, desabando sobre o vaso apesar de não precisar aliviar nenhuma necessidade fisiológica. Eles vasculharam a estação como cães perdigueiros, inclusive os banheiros, mas passaram batidos por mim. O último aviso para embarque no expresso para Madri foi anunciado, faltavam cinco minutos para a partida. Saí correndo do banheiro direto para o vagão da primeira classe parado na plataforma. Um dos homens do Alvarez me viu e quase me alcançou antes das portas se fecharem, o funcionário da estação o reteve exigindo o bilhete de embarque. Por mais algumas horas eu estaria salvo, depois, quem sabe.
Havia anoitecido, chovia forte quando o trem parou numa estação quase sem movimento. Avistei os capangas do Alvarez na plataforma, dessa vez eles entraram no vagão, apesar dos protestos do chefe da estação, que se silenciou assim que um deles lhe enfiou o revólver na cara. Eles me arrastaram para fora do trem e me enfiaram dentro de um carro que saiu em disparada por uma estrada erma em meio a área rural de algum vilarejo perdido no nada. Rodamos alguns quilômetros entre fazendolas e quintas, até eles perceberem que estávamos sendo seguidos por outro veículo. No desespero da fuga, acabaram perdendo o controle da direção e saíram da estrada, foi o que bastou para sermos abordados.
- Ramiro? Drew? Como vieram parar aqui? - perguntei incrédulo. Os capangas do Alvarez ergueram os braços diante da arma que o Drew lhes apontava.
- Entre no carro, rápido! – ordenou o Drew, enquanto jogava as armas dos capangas num matagal na beira da estrada.
Sob uma chuva inclemente, continuamos rodando pela estrada, nenhum de nós sabia exatamente onde estávamos. Cerca de uma hora depois, o carro parou por algum defeito mecânico.
- Temos que continuar a pé daqui em diante! – avisou o Drew.
- Deve amanhecer em breve, será mais fácil nos deslocarmos sob a luz do dia. – ponderou o Ramiro. O que foi acertado, pois a chuva diminuiu e após uns quilômetros de caminhada encontramos um campesino transportando produtos de sua fazendola. Ele nos deu uma carona na carroça puxada a cavalos.
- Podem se abrigar aqui por enquanto, até amanhecer e podermos procurar por um mecânico. – disse ele, nos deixando em sua casa.
- Está se sentindo bem, moço? – perguntou o senhor quando me acomodei numa das cadeiras da cozinha onde ele se dispôs a nos fazer um café.
- Sim, está tudo bem, obrigado! – respondi, com os braços cruzados sobre o ventre dobrado.
- Você está pálido, o que aconteceu? – perguntou o Ramiro, preocupado com minha aparência deplorável.
- Podem me explicar o que vocês dois estão fazendo aqui? Como me acharam? – perguntei, encarando-os.
- Foi ele quem me disse que você precisou fazer uma viagem de última hora para Portugal, e que um empresário tinha te oferecido hospedagem na casa de veraneio. – respondeu o Drew, bastante perturbado com a minha pergunta.
- Sim, mas isso não explica como souberam do meu paradeiro. – insisti
- Bem, e isso importa? Estamos aqui e te livramos daqueles sujeitos, devia nos agradecer. – retrucou ele, evasivo.
- E pode-se saber por que você está com esse olho roxo e o Ramiro com o lábio superior todo inchado? – perguntei; pois, a cara dos dois parecia ter levado alguns sopapos.
- Quando voltei de viagem encontrei-o no seu apartamento, foi inclusive ele quem me disse que você havia viajado também. – respondeu o Drew.
- É, ele voltou dizendo que era seu hóspede temporário e tivemos uma conversa. – acrescentou o Ramiro.
- Isso não explica essas caras amassadas! – exclamei, já deduzindo o que poderia ter acontecido quando os dois se encontraram.
- Vamos ficar falando sobre isso, ou como vamos sair daqui? – questionou o Drew.
- Vamos falar exatamente sobre isso! – exigi
- Eu perguntei a ele porque estava enfurnado na sua casa, ele me questionou sobre quem eu era para exigir esse tipo de explicações. – disse o Ramiro
- E então, resolveram se engalfinhar feito dois galos de briga! – exclamei, concluindo o que havia acontecido.
- Ele me disse que vocês transaram, o que você omitiu! – exclamou o Ramiro.
- E ele me disse que você o tirou da prisão e que estavam juntos! – exclamou o Drew. Cada um defendo seu ponto de vista.
- O importante é que estamos aqui agora, com você, salvando sua pele! – afirmou o Ramiro. – Assim que voltarmos para Madri você vai me explicar direitinho quem é realmente esse sujeito, por onde andou e o que aprontou para estar sendo perseguido por aqueles dois. – acrescentou exigente.
- Eu devia me livrar de vocês dois também, isso sim! – devolvi.
Apesar das circunstâncias, e daquelas caras estropiadas, eu estava feliz de eles estarem comigo. O Drew seguiu com o campesino até o vilarejo procurar um mecânico. O Ramiro ficou comigo, querendo saber porque eu me dobrava sobre o ventre e porque estava tão pálido. Se lhe dissesse a verdade, que um homem havia enfiado o punho no meu cuzinho, ele certamente ia surtar. Eu sentia tanta dor que mal conseguia me mexer. As horas iam passando e o Drew e o campesino não voltavam. Comecei a suspeitar que algo de errado estava acontecendo e compartilhei minha suspeita com o Ramiro. O sol se pôs e voltou a chover quando ouvimos um carro estacionar na frente da casa. Era o Sr. Alvarez com os dois capangas. O Ramiro e eu tentamos fugir pelos fundos, mas não chegamos muito além de um galpão próximo, eu estava tão fraco que não conseguia mais correr.
- Creio que você está com uma coisa que me pertence, não é, seu pederasta miserável? – declarou o Miguel, sem o Ramiro soubesse do que se tratava.
- Não tenho nada que seja seu! – respondi atrevido, o que me custou um bofetão estalado na cara.
- Controlem esse imbecil, ou deem cabo dele de uma vez! – ordenou o Miguel, quando o Ramiro quis me defender. – É esse veadinho que me interessa! Você roubou o microfilme, me devolva e talvez eu os deixe sair vivos daqui.
- Já disse, não tenho nada comigo. Não sei do que está falando! – respondi
- Não se faça de imbecil, sei que roubou o microfilme. E você vai me devolver ou te mato agora mesmo! – repetiu impaciente
- Do que ele está falando, Juan? Devolva seja lá o que ele está pedindo! – interveio o Ramiro
- Seja sensato, ouça o sujeito! Quem é ele, mais um dos machos que você engana para obter informações e repassá-las aos britânicos? – questionou o Alvarez. – Você sabia que esse veadinho aqui seduz e leva os machos para cama para lhes roubar informações? – indagou, dirigindo-se ao Ramiro, que me encarou acusador.
- Não dê ouvidos a esse homem, amor! Juro que não sei do que ele está falando.
- Conte a ele, seu putinho! Conte a ele como enfiei meu pau e meu punho no seu cuzinho, conte! – eu não conseguia encarar a Ramiro. – Revistem-no! Arranquem as roupas e revistem-no, o que preciso deve estar com ele. – ordenou o Alvarez aos capangas, enquanto ele mantinha a arma apontada em nossa direção.
Eu estava nu quando levei outra bofetada no rosto por não terem encontrado nada comigo e nem nas minhas roupas. O Alvarez cuspia fogo pelas ventas, pois assim que os alemães descobrissem que o microfilme sob sua guarda tinha desaparecido, sua vida não valeria mais nada. Ele precisava salvar a própria pele e não mediria esforços para isso.
Um disparo ecoou reverberando no galpão, um dos capangas caiu inerte. O outro, ainda perdido, disparou em direção ao clarão que havia se formado com o disparo, enquanto procurava se abrigar. O Alvarez disparava a esmo acertando o campesino que tentou escapar do galpão. Eu não havia percebido que eles tinham regressado quando avistaram o carro do Alvarez entrando na propriedade. O Drew acertou o outro capanga, cujo corpo caiu próximo de onde eu estava. No mesmo instante, o Alvarez me deu uma chave de pescoço e me arrastou para o centro do galpão.
- Jogue sua arma ou mato o veadinho! – ordenou, quando o Drew, saiu de trás de um pilar de madeira que sustentava o mezanino do galpão.
- Jogue você a sua! – ordenou o Kurt, que inesperadamente entrou em cena, mas que desistiu assim que ouviu a arma do Alvarez engatilhar para o próximo disparo.
- Eu quero o microfilme, agora! - berrou o Alvarez
- Então solte-o! O que você quer está comigo! – disse o Drew, tirando do bolso um rolo de fotografias inutilizado por ter sido exposto a luz.
- Jogue isso para cá! – ordenou o Alvarez
- Primeiro, solte-o! – insistiu o Drew
- Porra, desgraçado! Mandei jogar para cá! – repetiu possesso o Miguel, me dando um empurrão e me fazendo cair no chão. – E você, quem é? Solte sua arma e vá para junto do outro. – ordenou o Miguel, surpreendido tanto quanto todos nós com a súbita aparição do Kurt.
No mesmo instante, ele disparou em direção ao meu corpo caído. O Ramiro se lançou sobre mim e o tiro o atingiu. O Drew pegou sua arma caída no chão e fez dois disparos fatais em direção ao Alvarez, que tombou com um urro esganiçado.
- R A M I R O! – gritei desesperado quando senti seu corpo pesando sobre o meu.
Tomei-o no colo e segurei sua cabeça, eu gritava por socorro, gritava para os céus, gritava para aqueles olhos que iam perdendo paulatinamente o brilho.
- Fica comigo, amor! Fica comigo, vamos sair daqui e tudo vai ficar bem! – falei por impulso, sem mesmo saber o que estava dizendo.
- Eu te amo, Juan! Te amei desde o primeiro dia! – balbuciou o Ramiro, tentando com a mão trêmula afagar o meu rosto.
- Eu nunca deixei de te amar, Ramiro, nunca! Você sempre foi o único, o único amor da minha vida. Por favor, eu te imploro, fica comigo! – devolvi com as lágrimas gotejando sobre o rosto dele, enquanto seu olhar perdia a vida e se imobilizava para sempre. – RAMIRO! RAMIRO! – gritei angustiado, mas ele não me ouvia mais. Sacudi seu corpo tentando trazê-lo de volta, mas ele pesava cada vez mais em meus braços.
- Adnan! Adnan! – Não adianta, ele se foi! – disse o Kurt, tentando me fazer soltar o Ramiro. – Precisamos sair daqui o quanto antes, não podemos ser pegos pela polícia. Venha, Adnan! Solte-o!
- Eu não posso, eu não posso! Ele é tudo o que eu tenho na vida, você não entende.
Fui arrastado pelo Kurt até um carro estacionado sob um arvoredo próximo à casa, o Drew nos seguia, ainda com a arma em punho, vigiando os arredores. Eu chorava copiosamente, as cenas, os disparos voltavam a se repetir em minha mente, e meu corpo queria morrer e ficar junto ao do Ramiro.
- De onde surgiu você? – perguntei, enquanto o Kurt dirigia em direção à fronteira da Espanha. – Como sabia onde eu estava?
- Mais tarde esclarecemos tudo isso, agora o mais importante é voltarmos para Madri. – respondeu ele, pois não queria que a identidade dele fosse revelada ao Drew que, por sua vez, parecia querer o mesmo.
Quando entrei no apartamento só pensava em morrer. Para que fiz tudo aquilo? Por que me deixei arrastar para esse mar de intrigas e conflitos que nada tinham a ver comigo? Até agora eu era o único a estar pagando por tudo.
O Kurt quis me levar para a casa dele, para que não me sentisse só, segundo suas palavras. Enquanto o Drew lhe assegurava que não me deixaria só por um momento sequer. Ficaram os dois naquele impasse por um tempo, disputando para ver quem ficava comigo, até eu perder a paciência e mandar que me deixassem em paz. O Kurt se foi, mas o Drew, dizendo que não tinha para onde ir, acabou ficando. Havia um arzinho triunfal em seu rosto quando fechou a porta depois do Kurt sair. Mesmo abalado pela morte do Ramiro, eu sabia que nenhum dos dois estava ali exclusivamente por minha causa, mas pelo que eu havia escondido no meu cuzinho arrombado, o estojo do microfilme.
A ideia surgiu durante o tempo que fiquei esperando para embarcar na estação ferroviária do Porto. Fui ao banheiro do café, retirei o estojo do forro do sobretudo e o coloquei num saco plástico que enfiei no rabo que o Miguel havia distendido com seu punho devasso. Foi por isso que passei pela revista dos capangas do Alvarez ileso.
Ainda naquele mesmo dia, o Drew me perguntou pelo microfilme. Questionei-o quanto a ele estar sabendo da existência dele, e sua resposta não me convenceu.
- Não consegui pegá-lo, acho que estava trancado no cofre do escritório do Alvarez. – respondi, ocultando a verdade.
- Então por que o galego estava tão certo de que tinha sido você a roubá-lo, a ponto de mandar te perseguir?
- Ora, como vou saber! O microfilme desapareceu e como eu era o único estranho em sua casa, deve ter suspeitado de mim! – respondi.
- Acredita que pode ter sido o alemão?
- Quem, o Kurt? Qual seria o interesse dele nesse microfilme? O Alvarez estava negociando com os alemães, foram eles que lhe entregaram o microfilme, por que haveriam de querê-lo de volta? Não faz sentido algum. – respondi.
- É, tem razão! Todos são suspeitos! – exclamou
- Inclusive você! São vocês britânicos que mais perdem com o sumiço do microfilme. São os maiores interessados em saber onde ficam localizadas as fábricas de armamentos e congêneres feitos a partir das ligas de tungstênio. – afirmei, encarando-o. – E você soube exatamente onde me encontrar, não é suspeito?
- Eu te encontrei por que o Ramiro havia me dito que você foi a Portugal com o galego, e não foi tão fácil te localizar. – justificou-se
- Você trabalha para os britânicos, está sempre no meu encalço, você é um espião, não é, Drew? Fale a verdade pelo menos uma vez na vida! Até agora só mentiu para mim. Mentiu sobre sua real identidade, mentiu para conseguir se hospedar na minha casa, mentiu para meter esse pauzão no meu cuzinho, você mente o tempo todo. – despejei.
- Eu salvei a sua vida!
- Não! Você só estava querendo salvar o microfilme que pensou estar comigo. – retruquei exasperado. – Eu perdi o homem que amo, você entende qual é a diferença entre nós dois? – desabei a chorar, o Ramiro não saía dos meus pensamentos e estava tão profundamente arraigado no meu coração que nada mais importava.
- Eu sei que está sentindo muita dor pela perda do Ramiro. Mas, quero que saiba que nunca fui leviano quando te levei para cama. Eu gosto de você, Adnan! Gosto muito! Jamais permitiria que lhe fizessem mal.
- Só me deixe, Drew! Me deixe com a minha dor. – exclamei, quando ele quis me abraçar.
O Kurt não deixou de aparecer nenhum dia no meu apartamento depois daquilo. Ele vinha vigiar o Drew, a quem acusou de ser um agente da inteligência britânica, o que esclareceu muitas das minhas dúvidas. Eu também tinha coisas a acertar com ele, queria saber como foi parar em Portugal e como me encontrou. Tal qual o Drew, nenhuma de suas respostas me satisfez, e acabamos brigando, e eu o expulsando do meu apartamento e da minha vida.
Nos primeiros meses de 1941 com as ações do Afrika Korps, as tropas comandadas pelo marechal Rommel, a Raposa do Deserto, se alastrando pelo norte da África, e o alto comando em Berlim já estar começando a encarar o governo ditador franquista e a Espanha mais como um fardo do que ex-aliados úteis, a situação no Protetorado ficava cada dia mais tensa e insegura. Os militares alemães passaram a tratar os cidadãos espanhóis como tratavam qualquer outro inimigo sem a menor comiseração. Sob a mais ínfima suspeita, casas eram invadidas, pessoas levadas à prisão sem um embasamento convincente, assassinatos cometidos à luz do dia com a maior frieza por qualquer altercação com um militar alemão fardado. Essa insegurança, levou meu cunhado a fechar o Club Adouss e a regressar à Argentina com minha irmã e minha mãe, onde adquiriu terras, plantou vinhedos e abriu uma vinícola.
Haviam se passado três meses aproximadamente e Sir Drynsdale ainda se mostrava inconformado de eu não ter conseguido me apossar do microfilme. Sugeriu que eu voltasse a procurar pelas informações que poderiam estar contidas nele no escritório do general Krause na Embaixada ou em sua residência. Eu estava disposto a nunca entregar o microfilme nas mãos dele, tinha tomado essa decisão enquanto via a vida do Ramiro se esvaindo em meus braços sem que eu pudesse fazer nada para salvá-lo.
Recebi um bilhete do general Krause através das mãos do tenente Georg, que foi ao Clube entregá-lo pessoalmente; ocasião em que aproveitou para me perguntar se eu estava bem, por que do meu abatimento, e se podia fazer alguma coisa por mim. Eu lhe sorri desanimado e prometi que aceitaria o convite para passar o final de semana na casa do general, conforme dizia o bilhete.
Um carro da Chancelaria me aguardava no sábado pela manhã para me levar à casa dele nos arredores de Madri. O Drew virou o apartamento de ponta cabeça procurando pelo microfilme antes de se encontrar com Sir Drynsdale no escritório de advocacia do Sr. Urtiza, avisando que eu estava na casa do general. Eu ignorava esse fato, bem como que os dois vinham trabalhando juntos desde que a Molly me pediu para hospedar o Drew na minha casa. O Kurt não havia mentido, o Drew era um agente do serviço secreto de inteligência do governo britânico.
O general fez de tudo para levantar o meu astral, foi carinhoso, solidário com a minha perda, falou de um chalé que estava em sua família há muitos anos nos arredores do vilarejo de Tegernsee, às margens do lago de mesmo nome na rota da AlpenStrasse nos Alpes Bávaros, para onde gostaria de me levar quando a guerra acabasse.
- Sei que nossa diferença de idade é muito grande, mas se você sente só um tantinho assim do amor que eu sinto por você e estiver disposto a viver ao meu lado nesses anos que me restam, eu juro que vou fazer de um tudo para te deixar feliz. Eu me apaixonei por você, te amo! Pode parecer ridículo um velho como eu que tem idade para ser seu pai te fazer uma proposta dessas, mas eu precisava tentar. – confessou ele, depois de tirar o caralhão melado de porra do meu cuzinho, quando eu o cobria de beijos e carícias, respirando acelerado após o coito.
- Não sei se um dia vou conseguir amar alguém outra vez! O Ramiro era tudo o que eu tinha, era tudo com o que eu sempre sonhei. Ele foi meu primeiro homem, e acho que foi o único. – retruquei. – Você é um homem maravilhoso, Willy (era assim, pelo apelido de Wilhelm que ele queria que eu o tratasse quando na intimidade), e chegou o momento de eu te contar toda a verdade sobre mim. Vai me odiar depois disso, talvez mande me matar, mas isso já não faz mais diferença, estarei mais próximo Ramiro se estiver morto. – a decisão aconteceu enquanto o cacetão dele me movia dentro de mim e fazia meu corpo todo ser invadido por um prazer acalentador. Eu não ia mais continuar aquele jogo, precisava pular fora.
- Não diga bobagens! Acabei de te afirmar que te amo, jamais faria qualquer mal a você, Adnan! – devolveu ele, me envolvendo em seus braços e me aconchegando em seu peito maciço.
- Ouça o que tenho a lhe confessar, mudará de ideia depois disso, tenho certeza! – devolvi. – Não me chamo Adnan Tremblay Al-Kudsi, nunca fui cidadão marroquino. Sou nascido em Madri, meu pai ocupava um alto cargo no Ministério de Relações Exteriores do governo republicano antes do general Franco se tornar um ditador. Meu verdadeiro nome é Juan Abascal Archambeau de Villalba Tejerina, o sobrenome francês herdei de minha mãe. Há uns poucos anos fui arregimentado pelos britânicos para umas missões das quais nunca me orgulhei, servindo como espião e passando informações sigilosas. Foi assim que cheguei até você para conseguir sua amizade. Contudo, aqui preciso abrir um parêntese, apesar do motivo espúrio para me aproximar de você, eu verdadeiramente passei a admirá-lo e gostar de você quando nos tornamos íntimos e em nenhum momento em que tivemos relações sexuais eu o fiz sob esse pretexto. Eu gosto de fazer sexo com você, gosto quando está dentro de mim, gosto quando deixa sua virilidade úmida no meu cuzinho. Acredite, pode tudo soar falso agora, mas é a mais pura verdade. E o pior vem agora. – confessei, esticando o braço até onde tinha deixado a calça e tirando de um de seus bolsos o estojo com o microfilme. – Eu roubei isso de Miguel Alvarez quando ele me levou até sua casa de veraneio, também seduzido por mim com essa finalidade. Nunca o entreguei a mais ninguém, tenho negado que o possuo, mas estou lhe devolvendo agora para fazer uso dele como for melhor. – despejei, tirando um enorme peso dos meus ombros, embora talvez agora fosse tarde para pedir perdão, pois minha sentença de morte já devia estar decretada.
O general fixou o olhar em mim, continuou comigo em seus braços, levou uma das mãos ao meu rosto e o acariciou.
- Eu já sabia de quase tudo, exceto que o microfilme ainda estava com você! Agradeço por devolvê-lo, embora não venha a fazer nenhum uso dele. Há muito que não compactuou com o que vem de Berlim, com o que aquele débil mental vem fazendo com a Alemanha sob o pretexto de torná-la a melhor nação do mundo, de fazer de seu povo a raça mais pura. Na verdade, nunca senti nenhuma afinidade com as ideias que ele proclama e que os generais diretamente ligados a ele impõem às outras nações. Portanto, nada do que você acabou de me contar vai mudar a minha rotina ou vai abalar o que sinto por você. – revelou ele, me deixando boquiaberto.
- Então você sabia que eu estava mentindo esse tempo todo?
- Sim! Mandei investigá-lo assim que começou a participar das festas na Embaixada e levantei todos os seus dados, os verdadeiros, não os que os britânicos falsificaram. Também sei que foi você quem roubou uma lista com nomes de pessoas que trabalhavam a serviço do governo britânico no Protetorado do Marrocos, e o dossiê de Sir Drynsdale da gaveta do meu escritório aqui em Madri. Tudo que fiz foi procurar neutralizar essas informações para que não prejudicassem os nossos interesses favorecendo os ingleses. E, muito menos delatar sua identidade para meus compatriotas generais, pois isso teria custado a sua vida. – confessou. Eu ainda estava sob o choque dessa revelação.
- Foi o tenente Georg? – perguntei timidamente. Ele riu
- Não, não foi ele! Também disso fiquei sabendo, que ele enfiou aquela pica indomável dele no seu cuzinho em cima da minha mesa de trabalho. Não o culpo, na idade dele e com a testosterona que corre em suas veias também teria feito o mesmo.
- Quem foi então? Posso saber?
- Kurt von Saegebarth! Ele é um agente da Gestapo, estava encarregado de vigiar cada um dos seus passos e impedir que as informações que obtivesse caíssem nas mãos dos britânicos. – revelou
- Por que disse – estava encarregado – não está mais, foi destituído do cargo por eu ter conseguido passar algumas informações? – perguntei. – A Gestapo não é a polícia secreta nazista? Por que ele não me eliminou quando descobriram o que eu fazia?
- Porque ele, tanto quanto eu, não tem o mínimo interesse em ajudar os nazistas. Não é o fato de sermos cidadãos alemães que nos torna automaticamente nazistas, compactuando com os ideais do partido, disseminando o ódio e matando quem não se alinha a esse pensamento. Faço parte de um grupo de generais que está mobilizando secretamente pessoas motivadas a assassinar o Führer para ver se conseguimos parar com esse genocídio sem sentido. – revelou.
- É por isso que continuo vivo? – perguntei, encarando seu olhar complacente
- É porque eu te amo, garotão tesudo! Porque desde que comecei a fazer sexo com você me sinto renovado, que sonho com um futuro, algo que havia perdido quando minha esposa morreu. Você entrou na minha vida e começou a dar sentido a ela, cada sorriso seu, cada carícia sua, cada um dos teus beijos me trouxe à vida novamente. E, o fato de você me contar tudo o que acabou de contar, só me deu mais certeza de que você é uma criatura doce, verdadeira, amorosa, se arriscando até a perder a vida, mas não deixando de me revelar a verdade. – devolveu ele. Abracei-o com força.
Após o jantar daquela noite, deixei-o me conduzir até o quarto sabendo de suas intenções. Despi-me sob o olhar atento e excitado dele, engatinhei até o meio das pernas musculosas e peludas dele, peguei o caralhão pesado, punhetei-o algumas vezes, intercalando chupadas suaves na cabeçorra até ele ficar completamente duro. Sentei-me lentamente sobre ele até o atolar inteiro no meu cuzinho, sempre acariciando os pelos do tronco largo do Willy, e lhe pousando uns beijos carinhosos e devassos na boca, que chupava e mastigava vorazmente meus mamilos, inchando os biquinhos sensíveis. Cavalguei sobre o colo dele com cacetão metido até as bolas no meu rabo, gemendo e ganindo em meio a dor e ao prazer. Ele me segurava pela cintura e me estocava fundo cada vez que deixava meu peso cair sobre seu colo. O Krause arfava, o tesão o consumia, ele me sussurrava propostas indecentes e me beijava alucinado. Em dado momento, lançou-me de lado e montou em mim. Eu fechei minhas pernas ao redor da cintura dele e sentia suas estocadas vigorosas entrando fundo em mim. Agarrei-me nele, enfiei os dedos em suas costas musculosas, gemia o nome dele perdido no tesão e no prazer. Senti o gozo vindo, ergui a pelve me entregando com o cuzinho exposto e a musculatura anal a mastigar a verga grossa dele. Comecei a esporrar, puxei o rosto dele para junto do meu e cobri sua boca de beijos libertinos e agradecidos. Ele bufava, grunhia, tinha acelerado a cadência os impulsos que faziam a rola deslizar apertada sobre a minha mucosa anal quente e molhada. Anunciou o gozo, urrou e se despejou todo em mim, soltando descontroladamente a porra densa que entrava aos jatos no meu cuzinho arreganhado. Adormeci entrelaçado em conchinha com ele beijando e chupando a pele da minha nuca. Fazia tempo que eu não me sentia tão seguro, tão acalentado, e o sono arrebatador e tranquilo se apossou de mim.
- Herr Generalmajor! Herr Generalmajor! – berrava agoniada a empregada da casa batendo na porta do quarto nos acordando quando os ponteiros do relógio da cabeceira marcavam uns poucos minutos depois das cinco da madrugada.
- Ja Frau Annelise! (Sim, Sra. Annelise) – respondeu o Willy, tirando a perna pesada e peluda do meio das minhas.
- Schnell Herr Generalmajor, schnell! (Rápido Sr. General, rápido!) Das Haus sei von bewaffneter Militär umstellt! (A casa está sendo cercada por militares armados!) – avisou ela, desesperada.
- Verdammte Scheisse! (Puta merda!) Was wollen diese Arschlöcher um diese Zeit? (O que esses desgraçados querem a essa hora?) – resmungou, saindo da cama coçando as bolas debaixo da ereção matinal e começando a se vestir.
- Komm schon! Komm schon! (Já vou! Já vou!) – berrou o Willy, enquanto eu também me levantava e vestia.
Do lado de fora, nos jardins, ouviam-se motores de carros, ordens sendo dadas aos gritos e um corre-corre de pessoas apressadas. Fui até a janela do quarto e através de uma estreita abertura entre as cortinas vi a movimentação incomum de uns 20 subalternos e três generais saltando dos veículos. Um deles eu conhecia bem, o general Richter. Um calafrio percorreu minha coluna, aquilo não era nenhuma visita cordial.
O Krause desceu e abriu a porta. Eu o segui até a escada me escondendo num canto de forma que não pudesse ser visto, os três generais entraram pisando firme e intimidando o Willy que reagiu exigindo explicações. Eles o ignoraram, passando por ele e continuando a invasão.
- Herr Generalmajor! Sie sind von nun an verhaftet und werden des Hochverrats gegen die Ideale des Führers beschuldigt! (General-major, o senhor está preso a partir de agora acusado de alta traição aos ideais do Führer!) – sentenciou o general Richter com um tom de voz emproado.
- Scheiss Verdammte! Seid Ihr verrückt? (Maldição! Vocês estão loucos?) – devolveu o Krause irritado, sem se deixar intimidar.
Conduziram-no ao escritório e fecharam a porta. Desci as escadas pé ante pé e, do corredor, me pus a ouvir a gritaria que acontecia lá dentro. Meu nome, o verdadeiro e o falso, foram mencionados umas quatro ou cinco vezes, bem como o do Sir Drynsdale, do Alvarez e até do Drew. Tinham descoberto que o Krause não tomou as providências quando ficou sabendo que eu estava levando informações para os britânicos, e era o provável responsável pelo sumiço do microfilme com todos os dados de onde se localizavam as fábricas de armamentos na Alemanha. Em outros termos, que não tinha mandado me executar, nem aos quais eu havia levado as informações.
Eu entrei em pânico, preocupado com o que fariam com ele. Me senti impotente para tirá-lo daquela situação, embora soubesse que na gaveta da mesa de cabeceira da cama estava a Luger do Krause. Cheguei a cogitar em buscar a arma, invadir o escritório e simplesmente atirar em cada um deles antes que pudessem saber o que estava acontecendo, mas eu não tinha habilidade alguma com armas, nunca tinha sequer imaginado matar uma pessoa, uma tentativa desesperada como essa só podia dar errado, e desisti da ideia. Ademais, mesmo que conseguisse matar os generais, o que faria depois com todos aqueles soldados cercando a casa? Estava tão entretido em ouvir a conversa e seus desdobramentos que, de repente, fui surpreendido por uma mão grande apertando a minha boca para que não pudesse gritar e começando a ser arrastado por dois braços musculosos para longe dali. Me debati tentando escapar, mas o sujeito parrudo que me carregava como se eu fosse um boneco de pano, tinha muita força e estava determinado a me tirar dali.
- Schsssss! Quieto! Quieto! – ordenou imperativo. – Pare de se debater e fique de boca fechada! – emendou, esmagando meus lábios contra os dentes.
Eu grunhia para que me soltasse, mas ele não estava nem aí para o que queria.
- Ai caralho! Puta merda, quer me aleijar? – gritou baixo o sujeito quando dei um chute para trás entre as pernas dele e acertei em cheio os genitais, o que o fez afrouxar a pegada por uns segundos suficientes para eu conseguir escapar de seus braços. Só então, ao me virar na direção dele, vi que era o Kurt, gemendo com as mãos comprimindo o cacete e as bolas.
- O que faz aqui, seu maluco? Veio para me matar? – perguntei, enquanto ele se contorcia em dor
- Qual é a sua obsessão em achar que vou te matar toda vez que nos encontramos? Temos que sair daqui agora! – exclamou com uma voz fina que quase me fez rir.
- Não vou a lugar algum! Preciso encontrar um meio de ajudar o Krause. – afirmei
- Moleque teimoso da porra! Você vem comigo nem que eu precise te pôr inconsciente e te carregar nos ombros. Não teime comigo! Faça o que estou mandando, antes que seja tarde demais. – ordenou, ainda apertando os genitais que deviam estar latejando com o golpe que levaram.
- Me parece que você não está lá em condições de ficar dando ordens! - exclamei jocoso. – Depois ainda me pergunta se tenho uma obsessão em ser morto você. Motivos não me faltam para pensar assim!
- Quer experimentar o que essa mão ainda é capaz de fazer? – indagou belicoso, esticando o punho cerrado na minha direção.
- Eu só quero entender como é que você sempre aparece nessas horas, de onde você surge? Até parece um fantasma que está sempre no meu encalço. – retruquei
- Não tenho tempo para essas bobagens agora! Vamos tratar de sair daqui, ou quer que eu te arraste? – sem esperar por qualquer resposta, ele agarrou meu braço e foi me empurrando na direção da cozinha da casa.
Passamos pela Sra. Annelise que estava tão ou mais apavorada do que nós com todo aquele tumulto. O Kurt fez sinal para ela se manter calada, o que me pareceu desnecessário, já que a coitada estava prestes a desmaiar de medo. Ele enfiou a cabeça porta afora e constatou que a fuga por ali seria impossível. Foi me empurrando para outra saída lateral da casa que ficava parcialmente escondida por um gazebo coberto de trepadeiras. Saímos por ali e corremos em direção aos arbustos que formavam uma cerca viva ao redor de toda a propriedade, driblando alguns soldados que iam se posicionando estrategicamente. Ele aumentou o espaço entre as fieiras de arame farpado para que eu pudesse passar engatinhando, mesmo assim, senti uma farpa rasgando a pele do meu braço esquerdo próximo ao cotovelo; mas não tive tempo de me preocupar com esse detalhe, pois um estampido seco vindo da casa me deu a exata dimensão da tragédia que acabara de acontecer. Deram um tiro na cabeça do Krause, a pouca distância, frio e calculado, uma execução sumária com poucas testemunhas que já deveriam ter uma estória combinada para explicar a morte de um oficial de tão alta patente. Por pouco não solto um grito, engoli-o na última hora quando estava prestes a aflorar. Também me enrosquei mais nos arames tentando dar meia volta, mas o Kurt me impediu. Novamente impotente, comecei a chorar.
- Moleque doido, o que está querendo fazer? Anda, temos que correr! – ordenou o Kurt irritado.
Já não se tratava mais só de ouvir conversas nos bastidores, entrar em escritórios e gabinetes para vasculhar por informações, seduzir homens que também gostavam de ninfetos bonitos dispostos a satisfazer suas taras ou, fingir ser quem não se é, escondendo-se sob documentos falsificados, agora pessoas estavam morrendo, sendo assassinadas, todas de alguma forma ligadas a mim. Fui tomado por um sentimento de culpa. A grande paixão da minha vida, Ramiro, foi morto tentando me proteger; o velho galego, apesar de não valer nada, estava morto; o general Krause, um homem íntegro que aprendi a gostar a despeito de todas as nossas diferenças e que fazia sexo comigo de uma maneira protetora e prazerosa, acabara de ser friamente assassinado. Onde isso tudo ia parar? Eu já não me importava mais, estava cansado de tudo aquilo.
- Ainda vou te dar umas porradas se não começar a correr agora mesmo! Não há mais nada a fazer! Você não pode mais ajudá-lo, veadinho sentimentalóide! – esbravejava o Kurt, enquanto corríamos pela estradinha de terra em direção a um carro estacionado numa reentrância da cerca viva. – Sabe dirigir? – perguntou quando chegamos ao carro
- Um pouco! Aprendi, mas dirigi poucas vezes! – respondi
- Pois vai precisar dirigir agora, e rápido! Depois do chute que deu no meu saco mal consigo manter as pernas abertas! Quase me matou, sabia, seu maluco! – continuou esbravejando e cuidando daquela preciosidade.
Pus o carro em movimento e acelerei levantando uma nuvem de poeira atrás de nós, a estradinha além de estreita era bem sinuosa e por algumas vezes quase perdi o controle da direção indo contra os troncos grossos das árvores que a ladeavam, por não estar habituado a dirigir naquela velocidade. O Kurt ia apontando o caminho a seguir, eu apenas obedecia.
- Se sua intenção é morrer, podia ter ficado na casa! – reclamou quando passei a menos de um palmo de um tronco. – Vamos para o meu apartamento. – avisou.
- Não! Eu quero ir parta a minha casa, estou farto de tudo isso! – revidei.
- Ai, que eu ainda perco a cabeça com esse moleque da porra!
- Se me chamar de moleque mais uma vez, dou-lhe outro chute nesse troço enorme e ele não vai te servir para mais nada! – devolvi furioso. Ele riu, ainda sentindo dor, mas riu.
O Drew não gostou nem um pouco ao me ver entrando em casa na companhia do Kurt, e nem se deu ao trabalho de cumprimentá-lo. Ficou ainda mais irritado quando fui à cozinha e improvisei um saco de gelo para colocar sobre os testículos dele.
- Você precisa sair daqui o mais rápido possível! – exclamei
- Por quê? E o que pensa que está fazendo no meio das pernas desse sujeito bem na minha cara? Vai colocar esse sujeito aqui dentro? Ele é um membro da Gestapo se te interessa saber, e seu único objetivo é dar cabo de você. – retrucou ele
- É, eu sei! Mas, se quiser continuar vivo, precisa sair daqui. – reiterei. – Dei um chute nas bolas dele e estou tentando amenizar o sofrimento dele. – esclareci.
- Pelo visto não foi forte o suficiente, por que elas ainda continuam aí! Por todos os demônios irlandeses, tem mesmo que colocar as suas mãos nessas coisas nojentas? – indagou, enciumado de eu estar ajeitando o saco de gelo sobre as bolas do rival. – E você, pode nos poupar de ter que olhar para esse troço enfiando-o na calça? – questionou, enquanto o Kurt afastava as pernas para eu ter acesso ao seus genitais. – Só se vier comigo! Não vou te deixar nas mãos desse ... desse ... bem, desse nazista tarado pela sua bunda! – devolveu ele, empertigando-se na direção do Kurt como um leão desafiando um rival.
- Nazista é o caralho, seu espiãozinho miserável! Ou você acha que não sei que é um agente do serviço secreto do governo britânico tramando contra o governo do general Franco? Você e um bando de britânicos esnobes liderados pelo Drynsdale. – devolveu o Kurt, caminhando de punhos fechados na direção do Drew. – Não se ache o dono da bunda do Adnan só porque andou se esbaldando dentro dela. – emendou belicoso.
- Parem com isso, vocês dois idiotas! O que pensam que estão fazendo, me disputando? Cretinos! Se querem saber, não me interessam nenhum dos dois! – interrompi, o que os fez baixar a guarda. – Agora volte a se sentar aí para que eu possa continuar aplicando gelo nessas bolas inchadas! – impus ao Kurt.
- O Adnan está certo, você precisa sair daqui o quanto antes. – sentenciou o Kurt, depois de se acalmar um pouco, e se deixar manipular nos testículos com o saco de gelo.
- Para você ficar com ele! Pode esquecer! Não saio daqui; a menos que seja levando ele comigo. – reafirmou o Drew. – Vai mesmo continuar cuidando desse troço indecente, Adnan? Dá até vontade de vomitar só de ver você mexendo nisso!
- Ele está assim por minha culpa, não sabia que era o saco dele que estava chutando! Não posso deixa-lo sofrer! – respondi. – Eu já mandei vocês parem com isso, droga! – berrei. – Acabaram de assassinar o general Krause. Os alemães já sabem que eu estava passando informações para os britânicos. O nome de Sir Dryunsdale, o seu e até o da Molly foram citados e há um dossiê de todas as atividades do Drynsdale nas mãos deles. Você precisa deixar a Espanha o mais rápido possível, Drew, é para a sua segurança. – revelei, tomando as mãos dele entre as minhas.
- E você? Não vou te deixar para trás, eles vão te matar! Esse sujeito é o encarregado disso, faz um tempo que descobri. – disse o Drew
- Eu não vou fazer nada com o Adnan! Aliás, Juan! Esse é o verdadeiro nome dele, antes de vocês o forçarem a adotar outra identidade. – acusou o Kurt.
- E quem é tolo o bastante para acreditar nas palavras de um alemão que não pensa noutra coisa que não favorecer seus compatriotas? – questionou o Drew.
- Ele é uma boa pessoa, Drew! O Krause também era, e está morto por conta disso. Eu vou ficar bem! Você precisa ir, tem como partir essa noite? – indaguei, preocupado com o destino dele.
- E nós, como ficamos? Não vou te abandonar! – devolveu ele, também preocupado com a minha segurança, que agora podia não estar valendo mais nada.
- Eu vou cuidar dele! – exclamou o Kurt
- Sim, eu sei como você vai cuidar dele! Metendo a pica no cuzinho dele até obter todas as informações de que precisa, depois não é muito difícil de adivinhar o que fará. – sentenciou o Drew.
- Eu não acredito que vocês dois continuam a falar todas essas besteiras quando a situação de todos é crítica. Crítica não, catastrófica! – intervi, pois os dois já estavam se estranhando outra vez.
No final daquela tarde, como de costume e para não levantar nenhuma suspeita, me dirigi ao Clube, os dois vieram pouco depois como clientes normais, com um pequeno intervalo entre eles. Um mensageiro me entregou um envelope, insistiu que fosse pessoalmente, por isso desci do escritório para o salão que começava a receber os primeiros clientes para uns drinques ao cair da tarde no pátio aberto. Ao abrir o envelope precisei me apoiar numa mesa próxima e sentar, numa fotografia Sir Drynsdale estava sentado à mesa do escritório Arián Urtiza & Abogados Asociados onde costumava me encontrar, com a cabeça pendendo para frente e um furo no meio da testa que vertia um filete de sangue que lhe chegava até o queixo e gotejava sobre a gravata, a estante atrás dele estava respingada com fragmentos ósseos e pedaços de massa encefálica. Haviam-no assassinado no início daquela tarde e a polícia ainda bloqueava parte da rua e interrogava todas as pessoas que estavam no edifício, enquanto jornalistas se acumulavam na entrada para obter material para as matérias de seus jornais.
Fui até onde o Drew estava sentado e lhe mostrei a fotografia, seus olhos se arregalaram diante da imagem.
- Por favor, Drew, eu te suplico, você precisa deixar Madri, a Espanha! Sua vida corre risco e eu não suportaria saber que fizeram algo de ruim com você. Já estou me remoendo de remorsos por todas essas mortes ligadas a mim. Você precisa partir! – ele sabia que eu tinha razão, mas relutava em partir sozinho.
- Não quero te deixar nas mãos desse alemão, Juan! Venha comigo!
- Eu vou ficar bem, garanto! Ele não vai fazer nada comigo. E só terei um pouco de paz sabendo que você está são e salvo fora da Espanha. – devolvi, embora não houvesse nenhuma garantia de que eu seria o próximo a ser executado.
- Você não está a salvo, não se iluda! Eles vêm atrás de você, mais cedo ou mais tarde! Você também precisa fugir, e comigo poderei te proteger. – ele agarrava a minha mão com força e a apertava sob a sua.
- O que está havendo aqui? – perguntou o Kurt, se aproximando. Mostrei-lhe a fotografia e uma expressão de horror se formou em seu semblante. – Preciso te levar para um lugar seguro. Você não pode mais ficar aqui no Clube nem em seu apartamento. – afirmou.
- É por isso que ele vem comigo! – exclamou o Drew.
- Para que ambos sejam pegos? – questionou o Kurt.
- Ele está mais seguro comigo do que com você! – afirmou o Drew.
- É sério, é isso que vão ficar discutindo? Eu não vou a lugar algum, com nenhum dos dois! Tenho como sumir por uns tempos sem que ninguém saiba onde estou. – avisei, pensando que a Pilar, ou algum outro amigo dos tempos da Academia de Belas Artes pudesse me dar abrigo até as coisas se acalmarem.
Algo inexplicável me fez sentir muito a partida do Drew, e não era apenas o jeito cuidadoso e gentil, mas também voluntarioso e possessivo, como metia aquele cacetão no meu cuzinho. Entre nós, desde que passei a conhecê-lo melhor, havia se formado algo mais profundo que nenhum dos dois chegou a expressar em palavras; as atitudes, os gestos falavam por si sós. Devido a isso, passei algumas semanas imerso numa melancolia que se juntou ao desfecho trágico da vida do general Krause. Passei dois meses como hóspede na casa da Pilar e do marido, o que fortaleceu nossa amizade, administrando o Clube através de ligações telefônicas e mensagens para não correr o risco de terminar como o general e Sir Drynsdale.
Depois, mudei-me para o apartamento de um ex-colega da Academia, Diego Gatell, que havia perdido a esposa durante a Sublevácion. A insistência para que fosse passar uma temporada em seu apartamento partiu dele, após alguns outros companheiros daquela época ficarem sabendo que eu precisava despistar perseguidores tanto do governo franquista quanto dos aliados alemães. Na Academia havia rolado um clima entre nós e, depois de uns amassos, por pouco não foi ele a me tirar a castidade. Recordo-me de ele ter ficado melindrado quando, quase chegando aos finalmente, achei que ainda não estava preparado para aquilo, e me recusei a levar sua verga prodigiosa no cuzinho virgem. Afastamo-nos um pouco depois disso, ele magoado por não ter conseguido me descabaçar, e eu receoso do que aquela rola podia fazer com as minhas pregas anais inexperientes. Nunca deixamos aquela amizade arrefecer, até pouco antes de eu me ver obrigado a mudar para o Marrocos. Com ele, passei os longos três meses do inverno, saindo raras vezes à rua e, apenas à noite para passeios curtos em companhia dele. A falta da esposa o levou a se assanhar novamente por mim, não podia me ver em trajes íntimos sem que uma ereção o acometesse. Ele não as escondia, exibia-as malicioso e safado, procurando despertar em mim o mesmo tesão que estava sentindo. Em algumas semanas capitulei, não fugindo de seu assédio quando se meteu comigo na cama enquanto eu lia um dos livros de sua estante, simplesmente abri as pernas e o acolhi no meio delas até ficar com rabo todo encharcado de esperma. Por vezes, ficava triste findo o coito, não pelo desempenho dele que sempre foi espetacular, mas por me lembrar dos que tive com o Ramiro que ainda parecia estar em meu coração ocupando cada espaço dele e não dando chance a que outro viesse se alojar ali.
Através dos funcionários do Clube soube que o Kurt andava à minha caça. Quando saí da casa da Pilar, não o comuniquei do meu paradeiro, pois precisava de um tempo longe de tudo que me lembrasse que fui um espião e que pessoas pagaram com a própria vida pelo que descobri e repassei. As últimas palavras que o Drew me dirigiu antes de sua partida ainda ecoavam nos meus ouvidos e mente – Você ainda vai se arrepender de ter optado pelo lado errado – referindo-se ao fato de eu ter ficado com o Kurt ao invés dele, quando para ele, isso significava ter optado entre os britânicos e os alemães naquela guerra estúpida que não parava de ceifar vidas por toda Europa. De nada adiantou eu ter dito – Não optei por lado algum, por ideologia alguma, optei por pessoas – o que ele não quis entender.
Ele acabou me encontrando; como, até hoje não sei, mas que era um eficiente agente da Gestapo, não restava dúvida. Estranhamente não me censurou como era seu costume, mostrou-se gentil e visivelmente feliz por me reencontrar, embora não tivesse deixado passar nem dez minutos depois que começamos a conversar para me perguntar com quem eu estava, se estava envolvido com esse homem na casa de quem estava hospedado e, deixando toda indiscrição de lado, se estava dando o cu para o sujeito.
- Quem te disse que estou com um homem? E o que te dá o direito de me fazer uma pergunta tão descabida e invasiva? Não é da sua conta com quem eu transo ou deixo de transar. – questionei.
- Está bem, me desculpe! Não quero começar uma briga logo depois de nos reencontramos. Sei que só pode ser um homem porque eles dão em cima de você como moscas sobre o mel. Contudo, você não pode ignorar o que sinto por você, e que não suporto nem imaginar você transando com outro homem. Eu gosto de você, caralho! Não entendeu isso ainda?
- Gosta como, me perseguindo para cumprir sua missão que é dar cabo da minha vida?
- Porra, Juan! Isso de novo, caralho! Quando é que vai parar com essa obsessão de achar que vou te matar? Se o quisesse, já o teria feito, não acha? Oportunidades não faltaram! – afirmou destemperado.
- Não sei de nada! Sei que sempre dá um jeito de aparecer do nada e me assustar quando estou no meio de uma enrascada. – devolvi.
- Então deve se lembrar que em todas essas vezes eu ajudei a se safar delas! Admita! Admita e me agradeça! – revidou.
- Se espera que eu me ajoelhe a seus pés e diga – Muito obrigado, meu magnânimo salvador, sou-lhe imensamente grato e um servo seu! – esqueça.
- Alguns afagos nas minhas bolas e uma chupadinha no meu cacete já seria uma boa maneira de me agradecer! – retrucou o abusado. – Aliás, você me deve umas boas massagens no saco para compensar aquele chute que praticamente me esterilizou. – acrescentou petulante.
- Depravado!
- Gosto quando se zanga comigo! Me dá vontade de amassar essa carinha linda quando está zangado. – devolveu. Eu não conseguia sentir raiva dele. A propósito, não sabia que nome dar ao que sentia por ele, e isso me deixava confuso.
Ele achou que não havia mais necessidade de eu me esconder, que com a debandada de muitos britânicos e o assassinato dos cabeças do serviço secreto de inteligência britânica, os interesses da Chancelaria alemã em Madri estavam concentrados em outras frentes e questões. Eu não pensava assim, ainda estava apavorado, não iam deixar passar batido os problemas que lhes causei e que, porventura, ainda podia causar caso continuasse envolvido no serviço de espionagem. Me eliminar era a solução mais simples e eficaz, e isso me assustava, pois com a morte do general Krause e, de certa forma, de Sir Drynsdale, não contava mais com nenhuma proteção.
- Eu continuo aqui! Vou te proteger! – exclamou o Kurt quando lhe expus meus receios.
- Você? Só pode estar brincando! – ironizei
- Por que está sempre duvidando das minhas intenções? Já te tirei de algumas enrascadas, devia confiar mais em mim! – retrucou contrariado
- Confiar em você? Acho que é o mesmo que pedir a uma raposa para cuidar de um galinheiro. – afirmei
- Você me trata como se eu fosse um Zé Ninguém, um pau mandado da Gestapo, alguém que não é capaz de decidir por si próprio que posição tomar nesse conflito. É decepcionante! Não sou um pé-rapado, nasci numa família abastada, o – von – do meu nome está aí para provar, e fui obrigado a me alistar nas forças armadas como outros tantos jovens da minha geração, não porque queríamos ou compactuamos com as ideias nazistas, mas porque fugir disso traria consequências nefastas. Ao contrário do que diz seu amiguinho Drew, não sou nazista, nunca fui e detesto os que são. Porém, preciso parecer engajado, lutar abertamente contra é assinar a própria sentença de morte. O Krause e eu acabamos nos tornando muito amigos por defendermos a destituição ou o desaparecimento sumário de Hitler. Eu podia ter te levado para a prisão, podia. Eu podia meter uma bala na sua cabeça na primeira chance, podia, era o que esperavam de mim. No entanto, assim como o Krause, decidimos apenas neutralizar as informações que você obtinha. E, por ironia do destino, ambos caímos de amores por você. Até nisso éramos parecidos, dois machos que subitamente se descobriram bissexuais quando você entrou em nossas vidas. Ou você acha que eu já tinha saído por aí atrás de ninfetos tesudos e lindos como você? E, para minha desgraça, você me odeia, não confia em mim, e quer me ver longe de sua vida. – desabafou. Subitamente me vi uma criatura injusta, tomado de culpa e que não sei porque cargas d’água gostava daquele troglodita safado.
- Nunca pautei as escolhas das minhas amizades ou de qualquer outro tipo de relacionamento no status das pessoas. Nunca fomos ricos, tínhamos uma vida confortável é bem verdade, acima da média devido ao cargo que meu pai ocupava no ministério de relações exteriores do governo, o que garantiu a mim e a minha irmã uma educação primorosa, mas foi tão somente isso. Aprendi que se deve valorizar o caráter das pessoas e não sua fortuna. Portanto, não é o fato de você vir de uma família abonada ou de uma operária que me levaria a segregá-lo. Porém, você há de convir comigo, que quando se ouve a palavra Gestapo e alguém ligado a ela, é difícil dissociar as barbaridades que ouve cometerem. Ainda não sei se o que sinto em relação a você é medo ou paixão! – exclamei
- Eu gostei dessa segunda parte, deveria optar por ela! – devolveu sorrindo, e me puxando para junto dele em plena rua sob a iluminação precária das luzes e um nevoeiro que baixava sobre a cidade. Beijou-me com volúpia, ardente e determinado, enfiando a língua na minha boca e amassando minhas nádegas. Minhas pernas bambearam, meu cuzinho piscava num frenesi descontrolado quando envolvi seu torso em meus braços.
Começamos a passar horas juntos, a companhia dele era agradável, sempre tínhamos assunto para longas conversas. As horas passaram a ser dias, depois semanas inteiras caminhando pela cidade depois de um almoço ou jantar num restaurante ou no próprio Clube, em curtas viagens até o litoral Mediterrâneo e, noites acaloradas de sexo em meu apartamento ou no dele. Nesse campo estávamos definitivamente afinados, nossos corpos pareciam saber quais as necessidades do outro e acabavam comungando prazeres infinitos durante as conjunções carnais prolongadas em que ficavam engatados como se formassem apenas um único ser. Então por que eu não conseguia confiar plenamente nele? O que me levava a não perder aquele medo que ele me inspirava, se nunca fez nada para eu me sentir assim?
Ele percebia meus receios e sentia que talvez nunca fosse me apaixonar por ele por conta desses medos infundados. No entanto, também não conseguia se desvincular de mim. Todas as vezes que tentou, um afastamento de algumas semanas já o fazia voltar atrás e continuar aquele relacionamento morno, mas que era tudo que tínhamos.
- Estive pensando! – disse certa manhã quando acordamos num hotelzinho familiar de uma praia do Mediterrâneo.
- Huumm! Lá vem coisa! – exclamei, pois ao mesmo tempo em que falou estava com a mão dentro da cueca manipulando o cacetão à meia-bomba, que era seu estado natural ao despertar.
- Duas coisas! – continuou. – Na verdade, duas perguntas! Primeira, será que um dia vai conseguir me amar, e com a mesma intensidade em que amou o Ramiro? – como ele me encarou esperando a resposta, eu a dei.
- Que pergunta descabida! São situações e pessoas diferentes. Por que está comparando o que sinto por você com o que sentia pelo Ramiro?
- Porque acho que você não me ama, em primeiro lugar e, que o que sente por mim está longe de ser o que sentia pelo Ramiro. Ele nunca vai deixar de ser a sua grande paixão, não é? – indagou, como se estivesse a ponto de desistir de nós.
- Eu amei muito o Ramiro, foi a minha primeira paixão, foi meu primeiro homem, foi quem me desvirginou, tudo isso tem um peso. Porém, e infelizmente, o Ramiro se foi, não vai voltar, não há como eu não pensar nele apenas como uma lembrança. Quanto a eu não te amar, você não pode ter certeza disso, pois nem eu tenho. Talvez seja por isso que você sinta que o que eu tinha com o Ramiro não se compara com o que tenho com você, mas isso não é verdade. Você está aqui ao meu lado, estamos sempre juntos.
- Bem! Então lá vai a segunda!
- Segunda, o quê?
- Segunda pergunta, eu disse que eram duas! – exclamou. – Por que não vamos visitar a sua irmã e sua mãe? Você não as vê faz muito tempo, não sente saudades? – emendou
- Claro que sinto! Mas você se esquece que elas estão na Argentina, do outro lado do Atlântico, a dias de distância? – indaguei.
- O que importa?
- Importa que você tem o seu trabalho e eu tenho o meu. Não posso simplesmente abandonar o Clube de uma hora para a outra, eu vivo disso! – respondi.
- Seus funcionários já estão tão tarimbados com as suas ausências quando bisbilhotava e xeretava onde não devia, que são capazes de tocar o Clube sem você. – afirmou
- Não é bem assim! E está querendo me dizer que sou dispensável?
- Não foi isso que eu disse! Eu disse que eles são perfeitamente capazes de tocar o Clube por um tempo mesmo você não estando lá. E não faça essa cara de zangado como se quisesse voar no meu pescoço. Eu não te chamei de inútil!
- Por que pensou nisso, nessa viagem?
- Porque estou farto daqui, estou farto do meu trabalho, nunca gostei dele, mas ultimamente me sinto incomodado cada vez que recebo uma ordem de Berlim.
- Você é um militar, não pode simplesmente virar as costas e sair mundo afora quando bem entender. Isso se chama deserção! Não sei como vocês alemães lidam com isso, mas na maioria das forças armadas isso é um crime, e tem consequências. Graves e severas consequências! – ponderei.
- Nisso você tem um pouco de razão. Contudo, eu não nasci militar, fui obrigado a isso. Além do que, um dia essa guerra vai terminar, bem ou mal não se sabe, mas vai terminar. Então haverá outro regime de governo na Alemanha e ninguém mais vai se importar se um militar desertou sob o antigo regime quando se achava longe e fora do país. Eu vou desertar! Está decidido! – afirmou determinado.
- E quer fugir para a Argentina? Quantos anos pretende ficar por lá? – perguntei, estranhando aquela disposição repentina dele.
- Não vou fugir! Vamos passar dois ou três meses por lá, depois voltamos. Um dia penso em deixar a Europa, mas isso não é para agora. Você topa ou não? – indagou me pressionando
- Pode ser uma boa ideia espairecer um pouco, fugir de todos esses conflitos, dessa guerra estúpida, dessas tramoias governamentais onde nunca se visa o bem da população, mas o ganho de poder de uns poucos. – argumentei
- Viu, você já está concordando comigo! O que é raro, diga-se de passagem!
- Ao contrário, eu quase nunca discordo de você! O manda-chuva da relação é você, quem decide tudo é você e, quando tento me opor você vira uma fera, um troglodita, para ser mais exato. – retruquei, fazendo-o rir.
- É porque você é um veadinho muito do folgado, se eu não te trouxer na rédea curta a coisa descamba. Preciso me precaver e tomar as atitudes necessárias. – devolveu zombando.
- Troglodita machão!
- No fundo você gosta, que eu sei! Bem lá no fundo! E é onde estou morrendo de vontade de meter a minha rola agora. – sentenciou devasso, deitando-se em cima de mim e esfregando sua ereção nas minhas nádegas. Junto com o beijo molhado e excitado veio a penetração, que fez deslizar lenta e progressivamente aquele caralhão grosso para o fundo do meu cuzinho.
Um mês depois, zarpamos do porto de Málaga num navio mercante espanhol, rumo à Buenos Aires. O Atlântico Norte não era nem um pouco seguro naqueles anos e, a navegação mercante sofria reveses constantes, tanto que ao adquirirmos as passagens, havia uma cláusula eximindo a companhia de navegação de qualquer eventual fatalidade que pudesse ocorrer durante a viagem. Somavam-se a isso rumores de que pelo Atlântico Sul foram avistados submarinos e couraçados alemães que já haviam chegado até o Estuário do Prata, tendo inclusive disparado seus canhões e torpedos contra navios suspeitos. O Kurt nunca havia estado num navio e, antes mesmo do primeiro anoitecer a bordo, ele já sofria com o mal-estar dos novatos nesse meio de transporte.
- Caralho! Se esse chão não parar de se mexer estarei morto em menos de dois dias. – exclamou, agachado ao lado do vaso sanitário onde já havia expelido tudo e mais um tanto do que tinha no estômago. – resmungou, sem forças. Eu contive o riso, ele era capaz de me esganar se me visse zombando da fraqueza dele. – Quantos dias faltam mesmo para chegarmos a Argentina? – perguntou. - Estou tão mareado e entorpecido que duvido sobreviver às próximas 24 horas.
- Falta pouco, querido! Só uns 23 dias! – respondi.
- Veadinho safado, está tirando uma com a minha cara, não é? – questionou zangado. – Você terá que apresentar o meu cadáver à sua família, porque eu já não estarei mais vivo! Vinte e três dias, é isso, será que não dá para a gente falar com o comandante e ele colocar a porra desses motores para funcionarem a todo vapor, será que essa banheira não tem um acelerador? Vou morrer, tenho certeza! Só me prometa uma coisa, não deixem que lancem meu corpo ao mar, não quero morrer afogado! – ele não falava coisa com coisa e, ao mesmo tempo, não deixava de ser a criatura mais hilária que eu já tinha visto.
- Não estou rindo de você, mas da situação! – procurei amenizar. – Já que vai estar morto, não vai fazer diferença se jogarem seu corpo ao mar, não dá para morrer duas vezes.
- E qual a diferença, seu veadinho insensível! Como consegue estar aí tudo lépido e faceiro com essa banheira sacolejando para todos os lados? – a cada final de frase se debruçava sobre o vaso e expelia mais um tanto de bile, pois já não lhe restava outra coisa nas tripas.
- Eu já pedi para chamarem o médico, ele vai te prescrever alguma coisa e logo você estará bem.
- Só vou ficar bem quando voltar a pisar em algo firme que não fique se mexendo, se é que isso vai acontecer antes de eu estar morto.
- Então anime-se, daqui a três dias aportaremos na única escala da viagem, Santa Cruz de Tenerife, depois disso, 20 dias navegando, só o céu e o oceano como companheiros. – comuniquei.
- Maldita hora que fui ter essa ideia! Jamais vou conhecer seus familiares! Mande rezar uma missa por mim em Santa Cruz de Tenerife, é lá que devem me enterrar. – resmungava o coitado. – Não caçoe, seu putinho! Não tem nem um pouco de pena de mim?
- Claro que tenho, meu amor! Claro que tenho!
- Tem nada! Aposto que antes mesmo de chegar em Buenos Aires já vai estar nos braços de outro homem, um desses marinheiros assanhados, ou um desses tarados a bordo. – sentenciou
- O único tarado a bordo é você e, para sorte sua, também é o único tarado nos braços de quem quero estar! Machão ciumento! Está botando as tripas para fora, mas não deixa de ser ciumento! Bobão!
- É que estou momentaneamente fraco e não tenho como afastar os rivais. Sou um leão ferido! – resmungou
- Que rivais, bestalhão? Você sempre será meu leãozinho manhoso, não tem rival algum!
- Leãozinho, o caralho! Não tem nada de “zinhos”, “inhos” comigo, você sabe muito bem disso. Já sentiu nesse cuzinho guloso que nada é “inho” “zinho”, ou vai negar?
- Tem sim, um bobinho! – devolvi, ele me fuzilou com o olhar. – Deve ser o médico, você está salvo! – acrescentei, ao ouvir batidas na porta da cabine.
O Kurt continuou manhoso até Santa Cruz de Tenerife, quando começou a melhorar e pequenas porções de refeições leves começaram a parar em seu estômago. No entanto, não queria que eu o deixasse sozinho na cabine, queria ficar o tempo todo com a cabeça no meu colo; e foi assim que me pus a ler, com a cabeça dele no meu colo, enquanto fazia carícias em seus cabelos. Ele chegava a cochilar, resmungava alguma coisa quando despertava e voltava a cair no sono. Era como estar ninando um bebê, um bebê com mais de 1,90m de altura, cento e tantos quilos de músculos num corpão másculo e viril. Se bem que essa última característica estava um tanto quanto adormecida.
Deixamos o porto de Santa Cruz de Tenerife à noite, após o jantar, no qual o apetite leonino dele já havia voltado. Aparentemente, tinha voltado ao seu estado normal, pois assim que entramos na cama, começou a se esfregar em mim.
- Quero meter em você! – sussurrou libidinoso, ao beijar meu ombro nu
- Você está doente, esqueceu?
- Acho que já estou curado! Mas só vou ter certeza se meter no seu cuzinho! – exclamou, pincelando a jeba melada dentro do meu reguinho apertado.
- Pois eu acho que moribundos não conseguem fazer sexo! – devolvi sarcástico.
- Putinho! Não estou moribundo!
- Não foi o que você me disse nesses últimos dias! Até depois de morto não queria que eu deixasse seu corpo ser jogado no mar para não morrer afogado. – tripudiei
- Vai tirando o sarro da minha cara, vai, seu veadinho tesudo! Eu vou meter minha pica nesse cu até você pedir arrego, seu putinho safado! – gani enquanto ele terminava a frase, pois com uma estocada potente ele enfiou o cacetão na minha fenda anal, distendendo as preguinhas que iam se rasgando à medida que a tora grossa deslizava para dentro.
Era a primeira vez que eu ficava tantas horas e dias seguidos ao lado de um homem num espaço restrito como um navio onde estávamos nos esbarrando praticamente a todo momento. Isso me permitiu enxergar aspectos da personalidade do Kurt que até então eu não havia notado. A imagem que eu fazia daquele homem parrudo, de poucas palavras, algumas vezes truculento e bruto, foi se esvanecendo com o passar dos dias. Tê-lo visto fragilizado nos primeiros dias a bordo, mareado requisitando meus cuidados e colo quando suas colocações nem sempre foram dóceis, me mostrou um lado dele que ele escondia, principalmente de mim por ser gay e, em sua opinião, uma frutinha frágil e sensível. Ali ele percebeu que eu não era tão frágil assim, que sabia tomar atitudes sensatas, que não me deixava abater por mesquinharias e que também podia cuidar e protegê-lo das mazelas cotidianas.
Fazia uma tarde amena, o sol ainda brilhava e boa parte dos passageiros ocupava as espreguiçadeiras do deque do convés, ou apenas caminhava ao longo das amuradas detendo-se para apreciar o rastro em leque que o navio deixava na popa sobre as águas calmas e azuis do mar, ou entabular uma conversa com outros passageiros. O Kurt e eu estivemos lendo quase a maior parte do tempo e, quando pusemos os livros de lado, peguei discretamente na mão dele, o que fez sua atenção se voltar para mim. Só pela expressão libidinosa em seu rosto pude imaginar o que se passou em sua mente – ele quer voltar para a cabine e transar comigo – tanto que levou a mão livre até a virilha para ajeitar o colosso que já se animava com essa possibilidade.
- Por que está sorrindo? – perguntou
- Porque estou feliz de estar aqui com você! – respondi, tão displicente e sincero que ele estranhou
- É a primeira vez que me diz que gosta da minha companhia. – constatou contente
- Para você ver, sempre há uma primeira vez!
- O que deu em você? Está com tesão e quer voltar para a cabine para continuarmos as nossas brincadeiras?
- Acha que só gosto da sua companhia quando dos nossos joguinhos sexuais? Não, não é nada disso! Só estou feliz de estar aqui com você, de poder olhar para você, de ficar assim de mãos dadas sentindo como a sua é quente e acolhedora. – ele me encarava cada vez mais inquisitivo.
- Sabe que podem nos jogar ao mar se nos flagrarem de mãos dadas e nesse clima de romance proibido, e concluírem que somos homossexuais. Isso ainda é mal visto pela sociedade! – alertou
- Infelizmente! Mas não é nisso que quero pensar agora, e sim em você!
- Estou me apaixonando cada vez mais por você, continue falando, diga que me ama, diga que me quer, diga para voltarmos para a cabine que quer se atirar nos meus braços! – retrucou excitando-se.
- Aquieta o facho, seu tarado! Passaram-se apenas algumas horas desde a última vez que enfiou esse bagulhão em mim, ainda estou todo úmido. – devolvi
- Sou louco por você!
- Eu diria que você é louco no geral! – exclamei, fazendo-o rir.
Foram 23 dias únicos em companhia dele, quando naquela manhã ensolarada o navio adentrou ao estuário do Rio da Prata que se estreitava à medida que o navio se aproximava do porto. A bordo, a agitação era geral, os passageiros se preparavam para o desembarque e corriam de um lado para o outro resolvendo questões com a bagagem, despedindo-se das novas amizades que fizeram e seguindo as recomendações da tripulação para um desembarque menos tumultuado.
O Kurt e eu havíamos deixado a cabine há pouco e seguido para o convés de desembarque. Antes, até para conferir se não estávamos esquecendo nada, ele deu uma olhada para a cama soltando essa – seja discreta, não vá espalhar o que meu veadinho e eu fizemos aí em cima – dando um tapa bem estalado sobre a minha bunda. Precisei rir do bom humor dele.
Seguimos direto do porto para o hotel no bairro da Recoleta, pois só dali a dois dias seguiríamos viagem rumo ao nosso destino final, Maipú na província de Mendoza, onde meu cunhado havia comprado as terras para cultivar os vinhedos.
Ao chegarmos, uma grata e feliz surpresa, minha irmã havia me dado um sobrinho há cerca de quatro meses, um garotão rechonchudo e forte cujos traços lembravam os do meu pai. Ela e o marido Hector estavam radiantes com a nossa chegada e, assim que peguei meu sobrinho no colo, eles me perguntaram se eu e o Kurt aceitaríamos ser os padrinhos dele. Minha irmã e eu sempre tivemos uma ligação muito forte desde criança, e não foi surpresa alguma ela me fazer esse convite que prontamente aceitamos.
Minha mãe ainda se mostrava ressentida comigo, foi fria ao me cumprimentar e mal se deu ao trabalho de cumprimentar o Kurt, só o fazendo por pura formalidade. Ela nunca aceitou a minha ida ao Marrocos com o Alejandro, deixando-as sozinhas em Madri. Também não gostou de ver a vida que eu levava ao lado dele quando consegui levá-las para o Marrocos, enquanto o caos da guerra civil imperava na Espanha e, muito menos, com aquela atividade secreta e escusa que eu passei a exercer depois do assassinato do Alejandro, me envolvendo com militares alemães e civis britânicos que não disfarçavam a cobiça que sentiam pelo meu corpo de mancebo.
- Como se atreve a trazer esse homem para conhecer a sua família? Eu nunca pensei que você fosse capaz de jogar o bom nome do seu pai nesse mar de lama e depravação. Primeiro se envolveu com aquele velho que tinha idade para ser seu pai, fugindo com ele para Tânger para levarem uma vida desregrada e pérfida. Depois passou a seduzir todo tipo de homem, até os alemães. E, por fim, aparece acompanhado desse sujeito, visivelmente mais másculo do que você e que também não esconde a tara que sente por você. Onde foi que aprendeu a se desvirtuar tanto, Juan? – despejou sobre mim, tão logo nos vimos a sós.
- Lamento se não sou o filho e o homem com quem sonhou, mas eu nunca me desvirtuei, tudo o que fiz foi pensando em assegurar o seu futuro e o da minha irmã, garantindo que sempre estivessem seguras e não precisassem passar por todas aquelas necessidades que a maioria do povo espanhol passou e ainda passa. Fui forçado a fazer muitas coisas das quais não me orgulho, mas que foram necessárias para hoje estarmos aqui, juntos e bem. Quanto a esse sujeito, que tem nome e se chama Kurt von Saegebarth e, que exijo que o chame pelo nome, ele me tirou de muitas enrascadas em que me vi metido. Se hoje ainda estou aqui, vivo, é porque ele me salvou a vida; portanto, agradeça-o por ainda ter um filho, mesmo que o abomine. Também precisa saber que estou apaixonado por esse homem, que ele me faz feliz e que pretendo viver ao lado dele. Aceite você, ou não, é da minha natureza gostar de homens. E do Kurt eu gosto muito, mais do que um dia já sonhei. – devolvi deixando claro como me sentia e quem eu era.
- Por sorte seu pai não está mais vivo! Ele teria morrido de desgosto por ver o único filho homem se transformar num pederasta libertino! – retrucou ela.
- Meu pai era muito mais compreensivo e sensível do que você jamais foi. Ele nunca me rejeitou quando começou a notar minha inclinação homossexual na puberdade. Chegamos a conversar sobre isso e ele me tomou nos braços e jurou que seu amor por mim não mudava em nada pelo fato de eu ser homossexual. Já naquela época ele sabia que você me rejeitaria, e me pediu para ser tolerante com seus preconceitos. Irônico não é mãe? – ela se calou e me deixou falando sozinho, talvez nunca voltaríamos a ter uma relação saudável, o que me entristecia.
O Kurt e meu cunhado Hector logo se entrosaram, após algumas semanas pareciam dois irmãos, tinham longas conversas ao pé da lareira após o jantar, saíam diariamente para inspecionar os vinhedos, voltavam alegres e com ideias para novos projetos criando um vínculo independente de todas as indiretas maledicentes que minha mãe levantava. Minha irmã também a censurou diversas vezes, dizendo que o Kurt me fazia bem, que ela não tinha dúvida de que ele estava apaixonado por mim, como mostravam todos os sinais, mas ela continuava irredutível presa a suas crenças e preconceitos.
Após uma estadia de quatro meses na Argentina, havia chegado a hora de voltar à Espanha. O Kurt estava visivelmente contrariado com esse retorno, e eu já não sabia mais se queria continuar vivendo num país que continuava a chafurdar na lama regido por um ditador repressor, e numa Europa devastada pela guerra. Não fossem as minhas responsabilidades com o Clube, nada mais me atraía naquela Espanha desvirtuada.
A volta também foi marcada por um incidente que refletia o estado belicoso em que o mundo se encontrava. Dois dias antes havíamos cruzado com um couraçado alemão que, soubemos depois, atacou um navio mercante britânico causando muitos estragos e algumas vítimas fatais que estavam a bordo.
Optamos por nos mudar, ambos deixaram seus apartamentos e nos mudamos para outro, pois nem o Kurt e nem eu, nos sentíamos mais seguros onde morávamos. Ele por ter sido seguido nas ruas algumas vezes, e eu por notar entre os clientes do Clube algumas caras novas que tanto podiam ser de agentes do serviço de inteligência secreto do governo britânico como de membros civis do partido nazista.
- Não dá para continuar vivendo assim, temos que sair daqui! – afirmou ele, numa tarde em entrou em casa agitado por ter sido seguido por um sujeito na rua que ele tinha certeza ser membro da Gestapo.
- Estamos tensos, estamos vendo fantasmas por todos os lados. Não acha que pode ser apenas paranoia nossa?
- Não, não é! Estamos correndo risco permanecendo aqui, vão nos pegar a qualquer momento. – ele falava com tanta convicção que eu vivia cada vez mais apavorado.
- Quero que venha comigo para os Estados Unidos da América, vamos começar uma nova vida por lá, ou ao menos esperar uns anos até essa guerra acabar e a Europa voltar a ser um continente habitável e seguro. – disse ele
- Estados Unidos? O que vamos fazer por lá? Meu sustento é o Clube! Do que vou viver num país que não conhecemos? – conjecturei
- Eu tenho o suficiente para investir em vinhedos como fez o Hector, você não precisaria trabalhar, sei que posso te dar uma vida confortável sem sobressaltos. Venda o Clube para os funcionários ou para algum empresário interessado, sei que já recebeu propostas nesse sentido. – ele já havia pensado em tudo, tinha respostas e soluções para todas as minhas dúvidas.
Minha experiência dependendo de outro homem para me sustentar não tinha sido das melhores; com o Alejandro decidindo cada passo da minha vida e me deixando refém de seus desmandos. Tinha jurado a mim mesmo jamais me colocar novamente nessa situação, e era exatamente isso que protelava a minha decisão e a resposta que o Kurt tanto queria ouvir.
- Não confia em mim, não é? – perguntou-me, passados dias de sua última tentativa em me convencer.
- Não é isso! Meus receios são outros. – respondi
- Quais, me diga? Não sou o homem com quem quer viver, é isso? Não gosta de mim o bastante para me ter como parceiro? Eu sei que posso te fazer feliz, Juan! Acredite! – era justamente o contrário, eu já não tinha mais nenhuma dúvida da paixão que sentia por ele, eu o amava, o amava tanto quanto era possível alguém amar, e nisso talvez residisse a minha fraqueza, a minha incapacidade de enxergar as coisas por um prisma lógico e racional.
- E se não der certo, o que faremos?
- O que não der certo, os negócios ou eu e você? Eu juro que vou fazer ambos darem certo, Juan, confie em mim, confie no amor que sinto por você!
Deixamos a Espanha alguns meses depois. Os funcionários resolveram ficar com o Clube e me pagariam com os lucros, que nunca foram poucos. Em sociedade, adquirimos umas glebas de terra no Vale Medoncino na Califórnia, onde alguns vinhedos já se encontravam constituídos por um imigrante italiano que acabou desistindo do negócio alguns anos depois. Os vinhedos estavam praticamente abandonados quando começamos a restaurá-los e a plantar novos cultivares. Ao final de cada dia entrávamos exaustos em casa e só pensávamos numa ducha e numa boa noite de sono para encarar o dia seguinte. Quando eu olhava para o torso musculoso e nu do Kurt suado e brilhando sob o sol no meio dos parreirais, eu sabia que tinha tomado a decisão certa. O amor por ele ia preenchendo cada canto do meu coração e o sexo apaixonado e tórrido confirmava isso.
Eu tinha a impressão de que quanto mais cansados estávamos, mais tesão sentíamos um pelo outro. Entrávamos na cama arrancando as roupas numa urgência quase insana de nossos corpos se tocarem, de se fundirem até o prazer sobrevir. Assim que a excitação levava o cacetão dele a soltar o pré-gozo viscoso e perfumado eu o tomava nas mãos, acariciava-o sob o olhar devasso do Kurt, levando-o à boca e sugando seu néctar amendoado. Ficava a brincar um tempo com o pauzão pesado e cabeçudo, lambendo toda sua extensão, chupando a cabeçorra estufada, mordiscando a pele rumo ao sacão peludo, até colocar uma das bolas na boca e massageá-la com movimentos sensuais da língua. Ele grunhia e arfava, se contorcendo todo, gemendo meu nome e me agarrando pelos cabelos. Às vezes, não se continha e gozava urrando e liberando os jatos de sêmen denso e leitoso que eu ia engolindo sem desperdiçar uma gota sequer.
- Tesão da porra, você mama feito um bezerrinho, meu veadinho tesudo. – sentenciava ele em êxtase.
Outras vezes era ele quem me lançava na cama, depois de suas mãos terem bolinado cada centímetro do meu corpo nu com uma ereção cavalar emergindo do meio de suas coxas musculosas e peludas. Abria as minhas pernas, apartava as nádegas e metia seu rosto barbudo e áspero no meu rego, lambendo e mordiscando ao redor da portinha do meu cu. Eu ia às nuvens, gemia lascivo e me contorcia com os espasmos que tomavam meu corpo incendiando-o de luxúria. Ele metia um dedo no meu introito anal, geralmente o polegar, o que fazia soltar um gritinho sedutor e devasso que soava aos ouvidos dele como um chamado para me possuir. Trocava-o depois pelo caralhão melado que fazia deslizar ao longo do rego até sentir a rodela plissada piscando, onde o forçava entre as preguinhas sensíveis, metendo-o em seguida com uma estocada potente para dentro do meu ânus. Era impossível não ganir a cada penetração, pois o pauzão grosso estirava as pregas além de sua elasticidade e as dilacerava ao deslizar cu adentro. Ele esperava alguns segundos, os esfíncteres se acostumarem ao volume que os atravessaria em seguida, mastigando a jeba em contrações ora voluntárias, ora instintivas, até ela deslizar fundo nas minhas entranhas. Eu gemia sem parar, me agarrava aos bíceps, às costas, ou onde fosse possível dependendo da posição em que ele me fodia e me entregava por inteiro, beijando-o e afagando-o num tesão sem fim. Estabelecera-se uma sincronia tão perfeita que geralmente gozávamos ao mesmo tempo, ele despejando sua gala viril e pegajosa no meu cuzinho e eu sentindo os jatos libertadores eclodirem do meu pinto.
O sol estava se pondo naquele setembro de 1942, mergulhando lentamente nas águas do Pacífico, em tons amarelados, alaranjados e dourados, não iguais, mas muito semelhantes aos daquela tarde, cinco anos antes, em que o Valência estava sendo rebocado para dentro do porto com as colinas de Tânger fulgurando sob seus raios. Estávamos sentados sob um rochedo pedregoso alto que emergia do meio dos vinhedos e que permitia avistar quase toda a propriedade com suas colinas suaves seguindo em direção ao mar ao fundo, que não passava de um traço azul ligeiramente embaçado. Tinha sido mais um dia de trabalho duro supervisionando os empregados na colheita dos cachos de uva que iam sendo recolhidos e levados por um trator até o galpão de processamento. Ele inspirou fundo e soltou o ar, pegando minha mão entre as dele, calejadas agora, mas ainda quentes e firmes.
- A resposta é, sim! – exclamei, encostando minha cabeça no ombro largo dele
- O quê?
- A resposta! É sim! – repeti, sem ele conseguir atinar com seu significado. – Um dia você me perguntou se eu seria capaz de te amar com a mesma intensidade que amei o Ramiro, a resposta é, sim! – esclareci.
- Essa é a primeira vez que você diz que me ama, sabia? – indagou surpreso
- Faz tempo que tenho essa certeza, desde aquele dia em que me tirou da casa do general Krause, arriscando a sua própria vida. Desde então meu amor por você só cresce e hoje eu sei que você é o homem com quem sempre sonhei passar todos os dias da minha vida. Eu te amo, Kurt von Saegebarth! – asseverei, tocando seu rosto suado e cobrindo sua boca com um beijo carinhoso.
- Caralho! Aconteceu, finalmente aconteceu! Meu veadinho tesudo confessando que me ama! Cacete, que dia, que felicidade! – exclamou ele, que puxando para junto de seu peito e metendo vorazmente a língua na minha boca num beijo que não carecia mais de nenhuma explicação.

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Ficha do conto

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Nome do conto:
De ninfeto sexy a espião uma jornada libertina 5

Codigo do conto:
222125

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
02/11/2024

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