Desdita de um cuzinho Nasci quando meus pais moravam numa rua pobre da periferia de Guarulhos na Grande São Paulo. Meu pai, um descendente de italianos que se criou no bairro do Brás, conheceu minha mãe, uma nissei nascida em Bastos no interior de São Paulo quando trabalhava com um sócio numa barraca de feira. A sociedade logo se desfez, como era comum de acontecer com tudo em que meu pai estava envolvido. O casamento persistia, apesar dos pesares. Quando eu já tinha idade para entender certas coisas e perceber o que acontecia a minha volta, compreendi que minha mãe via aquela união como o maior erro de sua vida. Por alguma razão, talvez eu, ela nada fez para corrigir esse passo em falso. Desde que me conheço por gente, foi sempre ela quem sustentou a casa com a barraca de pastéis que armava em plena madrugada, de terça a domingo, nas feiras do município. Acho que também essa era a razão pela qual meu pai gesticulava, berrava e contava prosa como todo bom italiano, mas se tornava uma nulidade ante a determinação e o olhar contrariado da esposa. Uma vez que, o pouco que tínhamos, era fruto do trabalho árduo de minha mãe. Se dependêssemos dos negócios nos quais meu pai se metia estaríamos irremediavelmente perdidos. Ele tinha o dom de comer frango e arrotar peru. Seu tino para os negócios se resumia a ser passado para trás por sócios inescrupulosos e amigos que o faziam de trouxa. Na primeira infância eu o idolatrava como todo filho em relação ao pai. Mas, enquanto entrava na adolescência, fui me apercebendo de seus defeitos e, da maneira como procurava escamoteá-los para os outros. Minha mãe tornara-se indiferente a eles, talvez já tinha se estafado de tentar corrigi-lo, sem sucesso, por isso tornara-se apática e cética em relação a ele. Contudo, seu caráter firme e a independência dele, fizeram com que ele não só a respeitasse, como a temesse. Eu era o fruto único desse sincretismo em todos os aspectos. Fisicamente, tinha a compleição dos italianos, com um rosto menos anguloso e agressivo e, olhos discretamente puxados como os orientais. Desses também herdei o cabelo muito negro, liso e brilhante. Esse mimetismo fez de mim uma criança bonita e, continuava na adolescência, a moldar uma fisionomia singular e bela. Um corpo esguio, ligeiramente magro, com a pele muito branca e lisa, onde nem a puberdade conseguira adicionar mais do que um único chumaço ralo de pelos pubianos e, uma bundinha arrebitada e muito bem esculpida estavam se aprimorando dia-a-dia. A cultura nipônica também estava muito presente na minha personalidade que, na maior parte do tempo, era tímida e reservada, criando uma aréola de mistério em torno da minha pessoa. Embora eu conhecesse todas as crianças da rua onde morávamos, tinha feito apenas duas amizades. Uma foi com o Jorge, um garoto magricela que tinha a mesma idade do que eu, quarto filho de um casal de pernambucanos, cuja vinda para o sul não tinha trazido o Éden com o qual haviam sonhado e, o Gustavo, um garoto talvez uns dois anos mais velho do que eu; traquinas e ousado, cuja família vivia de um mercadinho no bairro. Frequentávamos a mesma e única escola particular das redondezas e tínhamos uma relação de amizade muito estreita. O Gustavo tinha começado a se interessar mais por mim quando entrou na adolescência e, ia percebendo as transformações pelas quais meu corpo passava, na mesma fase. Aos sábados e domingos eu ajudava minha mãe na barraca de pastéis, pois o movimento era intenso. De uns tempos para cá o Gustavo aparecia na feira de domingo, que ficava no mesmo bairro em que morávamos. Vinha com o pretexto de comer pastel, mas acabava ficando um tempão batendo papo comigo. Às vezes, minha mãe me repreendia por conta da minha desatenção em fazer o troco para os clientes. Ríamos juntos e ele parecia gostar do meu sorriso. Os pais do Jorge estavam tão envolvidos em fazer um barzinho de pinguços render, que faziam vista grossa para o caçula, que ia se transformando numa bichinha assanhada à medida que os hormônios iam dominando sua personalidade. Raramente ele era repreendido ou criticado pelos pais. Quem se encarregava de aplicar-lhe os corretivos eram os três irmãos mais velhos, a quem aquele comportamento do caçula comprometia a imagem. Mas, eu gostava dele. A capacidade de rir de qualquer coisa, de fazer piada com os reveses da vida, a expansividade de seus atos, tudo me fazia sentir mais completo na presença dele. Sobrava nele aquilo que me faltava. Outra coisa que nos unia era seu vasto conhecimento de todo tipo de sacanagem, que ele ia adquirindo com os irmãos mais velhos. Foi com ele que aprendi os primeiros palavrões, descobri como se faziam os bebes e, como era prazeroso manipular o próprio sexo, o qual eu achava, até então, só servir para mijar. Quando eu próprio tive minha circulação inundada pelos hormônios, passei a observar o Gustavo com mais interesse, o mesmo que ele tinha por mim. Eu preferia ficar olhando a molecada jogar bola na rua nos finais de tarde ou aos domingos e, foi acompanhando uma dessas peladas sentado diante do portão de casa, que eu observava como o Gustavo era ágil em driblar os outros meninos e, também, como ele era lindo. Aos dezesseis anos ele tinha pernas grossas e peludas, seu tronco era o mais largo e vigoroso de todos eles, também era o único que já tinha cabelos no peito. Eu ficava embevecido sem tirar, um segundo sequer, meus olhos daquele corpo que singrava entre os garotos correndo em direção ao gol improvisado com pedaços de madeira e, saltar no ar desferindo um soco imaginário quando conseguia fazer a bola passar pelas traves. Como ele era lindo! Eu suspirava enquanto ele se virava na minha direção e abria um largo sorriso de vitória, como que dedicando sua façanha só para mim. Pelo menos, era isso que eu imaginava. - Bicha! Você já reparou no tamanho da mala do Gustavo? Affffê!! – gania o Jorge acocorado ao meu lado observando a partida. - Credo! Você fica reparando em cada coisa! – retruquei escandalizado, como se eu mesmo não tivesse espichado meu olhar diversas vezes para aquele volume dentro de sua bermuda. - Você é ingênua, biba! Se ele desse o mesmo mole para mim que dá para você, eu já estava com o cu arrombado. – proclamou ele, entre risinhos obscenos. - Você só pensa em besteira! – exclamei - A vida é uma só. O que você não souber aproveitar os outros vão se esbaldar. – sentenciou ele. - Que filosofia de botequim! Começava a escurecer quando os garotos encerraram a partida. O Gustavo caminhou até nós todo suado e ofegante, procurando pelos elogios e pela parabenização quanto ao seu desempenho e, aos cinco dos seis gols que o time sem camisa dele tinha feito contra os adversários com camisa. Ele sorriu para mim e tentou minimizar seu feito, depois que o parabenizei. O Jorge piscou na minha direção e se divertia com meu jeito sem graça quando na presença do Gustavo. - Passa lá em casa depois, eu já baixei aquelas músicas que te falei. Vou coloca-las no seu celular, assim você pode ouvir quando quiser. – disse o Gustavo. - Acho que hoje não vai dar. Meu pai chega mais cedo em casa e tenho que estar lá, senão ele começa a me encher o saco. – respondi. - Falou! De qualquer maneira, se você puder, é só aparecer. – retrucou, acrescentando um ‘tchau’ decepcionado antes de seguir para dentro de casa. - Humm....musiquinha no celular. A coisa está mais adiantada do que eu imaginei. – divertiu-se o Jorge. - Não fala besteira! Tchau, para você também. Vou entrar. – devolvi zangado. Minha mãe estava na cozinha preparando as gavetas de madeira onde acondicionava os pasteis que levaria para a feira no dia seguinte. Ela mesma os confeccionava com a ajuda da irmã mais velha do Jorge, que também a acompanhava na feira. Meu pai estava assistindo TV na sala, de camiseta regata e short, meio cochilando e meio acompanhado o telejornal. A campainha tocou e meu pai resmungou algum impropério por ter sido acordado. Fui até o portão e dei de cara com o Gustavo. - Trouxe suas músicas, quer ouvir um pouco? – Ele tinha tomado banho, colocado um short e cheirava a loção de barba. Eu tinha me esquecido que ele também já tinha barba e, ela pinicava a mão da gente. Um dia ele tinha pego minha mão e a passado em seu rosto. Eu gostei. - Já está tarde. - Só ouvir um pouco comigo, outra hora eu coloco no seu celular. – aquela carinha de pidão era maravilhosa. - OK! – concordei, sentando-me com ele numa mureta que separava o jardim da rampa de acesso à garagem. Ele colocou um fone de ouvido em mim e o outro nele. Nosso gosto musical era muito parecido, o que eu achava engraçado, uma vez que éramos tão diferentes. Assim que ele apertou o ‘play’ do aplicativo de músicas, os acordes de Say Something Loving do The XX começou a tocar, seguiu-se Take me to Church do Hozier e, There for you com Martin Garrix e Troye Sivan. Eu tinha visto os videoclipes dessas músicas e comecei a achar que ele queria zoar comigo. Tirei os fones do ouvido e os coloquei em suas mãos. Ele me encarou espantado, como se eu tivesse cometido um sacrilégio. - Qual é a tua Gustavo? Está tirando uma com a minha cara? – perguntei zangado. - O que foi que fiz? Você não gostou das músicas, eu baixo outras, é só me falar quais você gosta? – ele me pareceu tão sincero que comecei a me sentir um idiota. Mas, continuava com o pé atrás. - Não é isso. É que essas músicas falam de ... Ah! Você sabe do que elas falam. – fiquei com medo falar bobagem. - De paixão entre dois carinhas? É isso que você não gosta? – perguntou ele. Eu corei na hora, e fiquei feliz por estarmos numa parte do jardim com pouca luz. - É! – respondi, tão baixinho que acho que ele mal me ouviu. – Não é que eu não tenha gostado das músicas... - Me dá um beijo Julinho? – pediu ele, interrompendo minha fala e meu pensamento. - O que? O que você disse? - Isso mesmo que você ouviu! Me dá um beijo? – insistiu. Eu engoli em seco quando ele se inclinou para o meu lado. Ele segurou meus ombros, deixando cair o celular que ficou preso ao fone de ouvido, tão afoitamente, que não tive tempo de reagir. Senti seus lábios úmidos e quentes procurando os meus de uma maneira toda desajeitada. O beijo começou tímido, ambos tentando encontrar o jeito certo de fazer aquilo, mas, foi se tornando ardente à medida que começamos a sentir o sabor da boca do outro. O garoto mais lindo que eu conhecia estava com sua boca colada na minha, eu nem podia acreditar que isso estava acontecendo. Não demorei a sentir a língua dele procurando a minha. Esse é o Gustavo, pensei, a sacanagem já começou. Eu estava eufórico demais para impedi-lo de seguir adiante e, deixei que ele enfiasse a língua na minha boca e a movesse libidinosamente. - Você é tão cheiroso e lisinho! – murmurou ele, no breve tempo em que desgrudou seus lábios dos meus. Eu quis dizer que também achava ele cheiroso, mesmo quando estava todo suado como esta tarde ao final da partida de futebol. Mas, a gana em chupar meus lábios o fez arremeter contra mim, antes que eu pudesse me manifestar. O calor se espalhando pelo meu corpo aumentava à medida que se intensificavam os beijos e, pelo visto, com ele estava acontecendo algo semelhante, pois comecei a sentir sua ereção tocando minhas coxas. Tudo aquilo era novo para mim. Meu corpo todo tremia como se eu estivesse acometido de uma febre e, meu coração parecia querer sair pela boca. Eu estava tão agitado que nem o percebi enfiando uma das mãos dentro do cós da minha bermuda tentando alcançar minha bunda e, nem meu pai espreitando a escuridão a minha procura. - O que você pensa que está fazendo, seu filho da puta! – a voz grossa do meu pai berrando com o Gustavo quase me matou de susto. – Suma já daqui se não quiser levar umas na cara. – o Gustavo saiu correndo desatinado. – E você! Já para dentro, seu viado degenerado. – o primeiro tapa me acertou assim que ele me encurralou contra a parede do alpendre, enquanto eu tentava desesperadamente abrir a porta para correr para dentro de casa. Ele me alcançou antes de eu chegar ao meu quarto, já com a cinta na mão. O couro estalava sobre a minha pele deixando vergões avermelhados nas pernas e braços, passava pelas roupas e ardia nas costas e nádegas. Possesso, meu pai gritava feito um louco. - Desgraçado! Se esfregando feito uma vadia com aquele moleque pervertido da vizinhança. Eu vou te ensinar a largar mão de ser viado. – quanto mais ele falava, mais forte me batia, imune às minhas súplicas. Quando minha mãe apareceu na soleira da porta, ele se virou na direção dela e eu achei, por um instante, que ela iria tomar meu partido e me defender. Mas, meu pai, gritando como um carcamano, contou o que viu no jardim. Ela me encarou rancorosa e isso estimulou meu pai a continuar me castigando. Quando ele parou, estava suado e exausto. Eu não saberia dizer que parte do meu corpo doía mais. De tanto apanhar, comecei a me sentir anestesiado. Aquela foi uma das raras vezes em que vi minha mãe apoiando meu pai. Vi como veio à tona toda uma cultura ancestral dos orientais, onde as mulheres se mostravam cordatas e submissas aos seus maridos, onde a homossexualidade ainda era um grande tabu e, onde um filho que desonrasse o nome da família merecia ser punido. Chorei a noite toda. Ao ser despertado na manhã seguinte para ir ao colégio, minha mãe agiu como se o que aconteceu na noite anterior não tivesse acontecido. Já meu pai, disse que teríamos uma conversa depois que eu voltasse das aulas. Isso foi o que mais me apavorou. Já tinha visto a filha de uma vizinha da rua ser expulsa de casa aos quinze anos depois que souberam que ela tinha engravidado do próprio primo. Não tive um minuto de paz no colégio, não me concentrava em nada, só pensando no que ia acontecer comigo e nas dores espalhadas pelo corpo que mal me deixavam apoiar a bunda na cadeira. Apesar do dia ensolarado e quente, eu escondia os vergões arroxeados debaixo de uma blusa de moleton. Contei ao Jorge tudo o que tinha acontecido na noite anterior, mas, ao que me pareceu, ele só absorveu a parte do beijo e da mão do Gustavo na minha bunda, pois começou a tagarelar feito uma Concheta de cortiço. - Você ouviu o que eu disse? Levei uma puta surra do meu pai por causa do Gustavo. – insisti, procurando um pouco de apoio para mitigar minhas dores, imaginando que ele fosse realmente meu melhor amigo. - Mona! Você está lá preocupado com besteira! Isso aí cura daqui uns dias. Não faz a Alice, viado! Atende o boy que eu tenho certeza de que ele é bafo! – exclamou exultante. - Dá para você parar usar esses termos? Não estou entendendo uma palavra do que você está dizendo. – protestei, com aquela gíria medonha que ele costuma usar. - Ah! Esqueci que você é um acuê coió! – respondeu. - Sou o que? Vá se catar, não dá para conversar com você. – retruquei irado. - Tá bom! Não precisa começar a ter faniquito. Acuê coió é viadinho novo e virgem. – sentenciou ele. - E isso são termos para usar comigo? Vá xingar o bispo! – deixei-o parado no pátio do colégio e fui para minha aula. Por uma fração de segundos consegui entender a reação do meu pai. Eu podia ter aquele rostinho angelical, um corpo escultural, uma voz que ainda ondulava, mas isso muito adolescente tem e é passageiro. No entanto, ser flagrado com outro garoto indubitavelmente másculo me beijando na boca e apalpando minha bunda, fazia de mim um viado, que logo estaria na boca do povo. Mas, o que fazer com esse calor que me tomava inteiro quando estava ao lado do Gustavo? O que fazer se aquele beijo tinha sido a coisa mais deliciosa desse mundo? O que fazer para mantê-lo longe de mim, se tudo o que eu queria era ficar pertinho dele? Essa vida é um saco, pensei comigo mesmo. - Júlio! Júlio! Você poderia me fazer o favor de aterrissar e responder a minha pergunta? – Todos os olhos da classe estavam em cima de mim, e a garotada ria sem parar. - Hein? Quer dizer, eu não entendi a pergunta, professor. – gaguejei confuso. - Em que planeta você está? Você nem ouviu a minha pergunta, quando mais entendê-la. – questionou o professor de matemática. Eu não sabia onde enfiar a cara. - Dava para repetir professor? Juro que estou prestando atenção. – ele fingiu que acreditou. - Eu quero saber se você é capaz de reavivar a memória da turma, me definindo o que é raiz quadrada? Simples, não é? Desde que você faça parte desse mundo e dessa sala. – a ironia dele fez a turma voltar a rir. - É um número único e não negativo que, quando multiplicado por si próprio, se iguala a ele mesmo. – respondi de pronto, confirmando minha fama de CDF. - Exato! Agora nos diga, para que serve a raiz quadrada em matemática, Fernando? – perguntou o professor apontando para meu colega. Assim que ele começou a explicar eu já voltava para dentro dos meus pensamentos. E, eles não tinham nada haver com matemática. Fiz as pazes com o Jorge três dias depois de ficar com a cara amarrada para o lado dele. Afinal, parecia que ele estava certo. Os vergões não eram mais do que discretos hematomas em fase final de cura. Já o que eu sentia pelo Gustavo continuava tão vivo e real como sempre. Eu tinha sido proibido pelo meu pai de continuar andando com o Jorge, por isso, nós tomávamos direções diferentes a um quarteirão de casa para não sermos vistos juntos. O Gustavo me procurou logo cedo no dia seguinte ao flagra. Fiquei ainda mais apaixonado por ele, quando percebi que sua preocupação era comigo e não com o fato de meu pai tê-lo escorraçado. Dentro da van, na volta para casa, ele pegou na minha mão e me encarou cheio de tesão. Eu puxei a mão da dele o mais rápido que pude. Não queria ter mais uma surpresa desagradável. - Você está louco? Quer que eu leve outra surra, quer? – murmurei baixinho, aflito e tentando checar se alguém tinha presenciado essa ousadia. - Sou. Sou louco por você! Depois de ontem então. Não consegui nem dormir, sabia? Sua boca é muito, muito gostosa. E a .... – sussurrou empolgado. - Fica quieto! Eu vou mudar de lugar. – ameacei. Mas, ele me reteve e prometeu se comportar. A promessa nem chegou a durar quinze minutos. Ele começou a roçar o braço dele no meu e me encarou com seu sorriso divino. O dia do aniversário do Gustavo estava se aproximando. Há duas semanas ele me fez o convite, dizendo que ia organizar uma festinha nas dependências de uma ONG, em nosso bairro, voltada ao ensino da informática para jovens carentes, e que alugava parte de suas dependências como forma de angariar fundos. Perguntei o que ele gostaria de ganhar de presente, elencando algumas opções. Em resposta ele apenas me lançou um sorriso sacana, afirmando que eu sabia muito bem qual era o presente do qual estava afim. Ultimamente ele tinha conseguido se transformar num mestre em fazer nossos encontros e conversas terminarem em discussão, não se cansando de me pedir para deixa-lo comer meu cuzinho. Minha raiva logo passava, pois a cada dia eu me sentia mais inclinado a ceder as suas investidas. Contudo, não conseguia lidar com o medo que a simples ideia de alguém entrando no meu cu me causava. Esse pavor aumentou depois do dia em que o Jorge me mostrou uns sites de cunho homossexual. É só encenação, garantia o Jorge, em menção ao fato de eu ficar horrorizado ao ver o passivo gemendo com a cara mais sofrida ao ser enrabado por cacetões imensos. - Quisera eu encontrar um bofe com uma rola dessas. – afirmava o Jorge. – Na real, os caras mal chegam a ter um pinto com a metade desse tamanho. – garantia, falando com conhecimento de causa, pois andava se esfregando com o segurança do colégio e um amigo do irmão dele. - Não consigo nem imaginar isso acontecendo comigo. Não sei como você teve coragem para fazer uma coisa dessas. – argumentei. - Bicha! Cada um brinca com os brinquedinhos que Deus lhe deu. No meu caso, e no seu também, embora você não admita, é com a toba que a gente se diverte. – riu debochado. - Absurdo! Fale por você. Não me inclua nessa! – asseverei. - Vai nessa, bicha! Pensando bem, pelo tamanho da mala do Gustavo quando bota aquele short para as peladas, você pode ter tirado a sorte grande. Vai que o boy tem uma piroca igual a essas. – provocou rindo, pois sabia que isso me deixava em pânico. - Depravado! Cara, você é a pessoa mais louca que eu conheço. – revidei, com a cara séria e carrancuda. Por conta disso, embora eu adorasse ficar horas conversando com o Gustavo, assim que ele começava a ficar assanhado por conta do acúmulo de testosterona em sua mente, devido à proximidade com meu corpo e, suas mãos impacientes tocavam minhas coxas e tronco, eu o deixava falando com as paredes. A fissura dele por mim não esmorecia em virtude disso. Eu percebia o cerco se fechando e, ao mesmo tempo em que achava tudo aquilo maravilhoso, por outro lado, morria de medo. Eu gostava de sair com o Jorge. Ele tinha um astral ótimo, a gente se divertia muito e, ele parecia fazer do mundo um lugar sem tristezas. Mas, ao mesmo tempo em que um programa na companhia dele se tornava uma distração leve, por outro lado seu comportamento chamava muito a atenção das pessoas. Não raro, éramos encarados com desprezo ou, pior, com total repúdio e ameaça. Certa feita, fomos a um festival de cinema na região da Avenida Paulista e decidimos seguir até o restaurante Viena da Alameda Santos, pois estávamos varados de fome. No caminho encontramos cinco carinhas que eu já tinha visto circulando próximos ao cinema na rua Frei Caneca. Era um bando suspeito que encarava todos na fila do cinema como que a procurar briga. O Jorge tagarelava sem parar, fazia comentários quando via um cara bonito e caminhava feito uma libélula. - Dá um tempo Jorge. Aqueles caras estão nos encarando faz tempo, desde antes da sessão. – alertei apavorado. - Hummm... nenhum se salva! Talvez, com uma luz bem fraquinha aquele de coturno dê para o gasto. – revidou ele, descontraído e zombando dos meus receios. - Fica quieto, pelo amor de Deus! Ai, eles vão atravessar a rua! Vamos nos apressar. – disse, tão aflito que estava prestes a empreender uma corrida. - Esquece esses caras! Desse jeito você acaba enfartando! Credo, que medo todo é esse? – retrucou, embora eu percebesse sua expressão se anuviando quando os caras começaram a vir em nosso encalço. - Não te implorei para não dar bandeira? Olha no que deu! - Faz de conta que não é com a gente. – argumentou ele - Mas é! Eles só estão à procura de confusão e você deu toda munição para isso. – afirmei. - Corre bicha, que fodeu! – gritou o Jorge repentinamente, quando os caras começaram a correr em nossa direção. Nunca corri tanto em minha vida. Ao ver um posto de gasolina, uns metros à frente, corri para me abrigar nele. Implorei para que o frentista nos ajudasse, alegando que queriam nos assaltar. Outros frentistas vieram ver o que estava acontecendo e ameaçaram chamar a polícia caso os carinhas resolvessem arrumar confusão por ali. Por sorte, um dos frentistas acabou se interessando pelo Jorge e permitiu que nos escondêssemos dentro do posto. Saímos de lá, direto para casa, dentro de um taxi, o que nos livrou de levar uma tremenda surra ou, quem sabe, algo pior. Relatos de casos naquela região não faltavam nos jornais e telejornais. Passava das dez quando meu pai me deixou diante do salão de festas da ONG, com mil recomendações para não voltar muito tarde, ou teria que ajustar as contas com ele. Em casa eu não tinha revelado de quem era o aniversário, limitando-me a dizer que era uma colega do colégio, pois sabia que seria proibido de ir se eles soubessem da verdade. Havia muito mais gente do que eu tinha imaginado. O Gustavo veio ao meu encontro assim que me viu apontar na porta, parecia que ele estava ansioso por minha chegada. Ele usava um jeans justo que valorizava suas coxas musculosas, e uma camisa branca com as mangas enroladas até os cotovelos e dois botões abertos por onde se viam os pelos do peito dele. Algo que ele se orgulhava de exibir, uma vez que os outros rapazes ainda não os tinham e, se tinham, não era naquela profusão. Ele estava lindo! Ele era lindo! Ao lhe entregar o presente, ele o tomou ligeiro de minhas mãos e me abraçou. Trouxe-me para tão junto dele que senti um arrepio percorrendo minha espinha. Suas mãos foram ágeis e rapidamente me percorriam cheias de tesão. Eu olhava em volta procurando ver se alguém estava presenciando aquilo. Ele fingiu dizer alguma coisa no meu ouvido, quando na realidade, me deu um beijo e chupou meu pescoço. Minhas pernas tremeram, meu cu piscava feito um alucinado. - Esse seu cheiro me deixa louco de tesão! – disse ele, abrindo um sorriso e me introduzindo na festa. Havia tantos colegas do colégio e, como é próprio da idade, os assuntos não se esgotavam. Não percebi as horas passando. Quando restavam apenas alguns retardatários amontoados em grupinhos, consultei a tela do meu celular. Duas e quarenta da madrugada. Um estado de aflição começou a se instalar em mim. Estava atrasado e temia que meu pai estivesse acordado a minha espera. Os braços do Gustavo me envolveram num apertado abraço vindo pelas minhas costas, seguido de uma fungada no meu cangote e uma encoxada. O estado aflitivo subiu para outro estágio. - Vem comigo! – sussurrou ele, ainda com os lábios perigosamente perto demais do meu rosto. - Preciso ir para casa. Não vou escapar de outra bronca, no mínimo! – exclamei. - Eu deixo você em casa, mas agora venha, quero te mostrar uma coisa. – insistiu ele, que recentemente havia tirado sua habilitação para dirigir. Deixei que ele me conduzisse pela mão, que já começava a suar de preocupação. Ele dirigiu, sem pressa, até o Parque City las Vegas, uma área de lazer não muito distante de nossas casas que, àquela hora, estava imerso no silêncio. Quando ele estacionou sob as margens de um arvoredo, pelo qual passava a luminosidade prateada de uma lua cheia, meu coração começou a palpitar. Aquele céu límpido tinha deixado o parco calor do dia se perder na atmosfera e a temperatura tinha caído bastante. Quando o Gustavo levou a mão à calça, eu, com a cabeça cheia das bobagens que o Jorge me falava, imaginei que ele fosse tirar a rola para fora. Antes que eu cometesse uma gafe, ele tirou um pequeno álbum do bolso, e o entregou para mim, pedindo que eu o abrisse. Eram fotografias onde eu aparecia sempre no primeiro plano, tiradas em ocasiões as mais diversas, no colégio, na rua de casa quando ainda brincávamos com a garotada, ou simplesmente eu andando na rua. - Nossa! De onde você tirou isso? – inquiri surpreso. - Eu não vivo te dizendo que você é lindo? Faz uns dois anos que estou te fotografando com meu celular. Mandei imprimir as que mais gostei. – respondeu ele, me encarando com desejo. - Por quê? – a pergunta foi retórica, eu sabia a resposta. - Porque sou louco por você. – respondeu ele, inclinando-se sobre mim. Quase ao mesmo tempo o encosto do banco do carro foi se reclinando e ele subindo em mim. Ergui minhas mãos com a intenção de deter seu tronco, mas, o calor que se disseminava em meu peito guiou minhas mãos ao redor dele. O beijo tinha o mesmo sabor que estava guardado na minha memória desde aquele dia em que fomos flagrados pelo meu pai. Eu deixei que sua língua mergulhasse em mim e enfiei meus dedos em suas costas. Não sei quando nem como fiquei sem as calças e a cueca. Só me lembro do toque suave de sua mão morna nas minhas nádegas. Suspirei e a saliva dele entrou na minha boca, deixando-me seu sabor. O corpo dele estava entre as minhas pernas abertas e meus pés apoiados sobre o painel do carro. A cabeçorra da rola dele percorria meu rego de cima para baixo, de baixo para cima, deixando um rastro úmido do pré-gozo que saía de sua pica excitada. As imagens dos sites da internet começaram a inundar minha mente enchendo-me de medo, no entanto, o olhar sereno daqueles olhos cor de âmbar do Gustavo, me dizia que aquilo eram fantasias. Meu cu piscava quando ele enfiou o dedo entre as minhas preguinhas. Por alguns segundos ele interrompeu o beijo e sorriu para mim. No mesmo instante em que nossos lábios voltaram a se encontrar, ele meteu o caralhão no meu cu. Meu grito foi abafado pelo beijo. Tudo em mim se contraiu, se fechou, se retesou. Meus esfíncteres haviam aprisionado a rola dura e latejante dele e, eu não sabia o que fazer com aquilo entalado em mim. Aquela dor aguda e dilacerante ainda não havia se dispersado da minha pelve, quando ele deu a segunda arremetida. Era a nossa primeira vez. Ele não sabia como controlar toda aquela gana que o instigara por anos a possuir meu cuzinho, e eu não fazia ideia de que precisava relaxar para deixar aquela rola entrar em mim. Os meus gemidos e o arfar ansioso dele só serviram para aumentar nosso tesão. Quando ele começou a mover sua pelve num vaivém frenético, estocando meu cuzinho e fazendo aquele caralhão se imiscuir numa profundidade que jamais havíamos imaginado atingir, eu gania feito uma cadela e sentia tudo se arrebentando dentro de mim. - Aaaaiii, Gustavo! Está doendo! – o que saiu da minha boca contraída era mais um grito do que um gemido de prazer. Ele não me ouviu. Aqueles instintos de macho, mais primitivos e selvagens, o dominavam totalmente. Ele queria aquele cuzinho, ele precisava daquele cuzinho, e ele se apossava dele insanamente, sentindo sua rola sendo deliciosamente afagada por aquela maciez úmida e quente. Eu cravava as pontas dos dedos nas costas dele, como se quisesse me agarrar a uma boia salva-vidas. O carro todo balançava com o movimento dos nossos corpos. De repente, o calor se tornou quase insuportável. O Gustavo suava e eu sentia minhas costas molhadas prensadas contra o banco. Meu ventre se empapava, mas isso não era suor, era minha pica gozando sem controle. O Gustavo parecia estar se transformando numa fera, tal a intensidade e a força de suas arremetidas. Ele urrava de um jeito rouco e agitado, até eu sentir um ligeiro esmorecimento das suas estocadas. Meu cuzinho se encharcou todo com os jatos de porra que ele ejaculava. Aquele líquido tépido escorria para as profundezas das minhas entranhas, espesso, viscoso e deliciosamente perfumado. Uma lágrima rolou de cada canto dos meus olhos. Eu apertei as pálpebras para me certificar de que aquilo não era um sonho. O Gustavo puxou a jeba lentamente para fora do meu cu quando nossas respirações já tinham voltado ao ritmo normal, deixando um rastro de porra e sangue no meu rego e coxas, além de um rombo entre as preguinhas que, espasmodicamente, se contraíam para fechar meu cuzinho. Havia uma expressão de conquista mesclada a mais terna satisfação em seu sorriso quando ele tirou uma embalagem de lenços umedecidos do porta-luvas e passou alguns, ligeiramente frios, no meu reguinho, secando meu cabaço e sua porra. Puxei-o novamente sobre mim e o beijei com toda minha ternura. Só então, percebi que não havia mais nenhum resquício de dor na minha pelve, apenas a mais sublime sensação de prazer. Quanto tempo ela já estava lá? Não sei dizer. Talvez desde sempre, talvez desse o dia em que o Gustavo tenha se instalado em meu coração. A partir de então, se o tesão que o Gustavo sentia por mim antes de provar do prazer que era me comer, ele passou a me cercar mais amiúde, certo de encontrar na minha bunda o deleite que apaziguava sua tara. Não disse uma palavra ao Jorge do que tinha acontecido, mas parecia que estava escrito na minha testa até que ponto o Gustavo e eu havíamos chegado. - Bicha, você liberou a toba para o boy, não foi? – questionou ele, a caminho do colégio. – Conte-me tudo. Quero saber de cada detalhe picante, nem pense em me negar qualquer informação. – acrescentou, na certeza do que tinha acontecido. - Pare de me chamar de bicha! Já te pedi um milhão de vezes para não me chamar assim. – retruquei zangado. – E, para o seu governo, não aconteceu nada. Não tenho nada para contar. – acrescentei. - Sua bicha desavergonhada! Quer dizer, ah! .... meu estimado amigo, você está mentindo. – sentenciou irônico. - Pense como quiser. Se, estou dizendo que não tenho nada para contar é por que é verdade. – revidei. - Está escrito na sua cara que o boy te enrabou. Você não está mais com aquela cara de virgem que fica sonhando com possibilidades. Sua cara é de quem já descobriu muito além de possibilidades, que já conheceu os mistérios da vida, que já comeu do fruto proibido. – afirmou debochado. - Como você fala besteira! Sua imaginação é muito fértil. – aleguei lacônico. - É a vida! Não se esqueça de que eu provo dessa fruta faz tempo. Conheço essa cara por que já a vi no espelho. – assegurou. Seria inútil tentar enganá-lo, mas no momento eu não queria falar sobre isso. Eu não tinha dúvida de que tinha sido a primeira experiência sexual do Gustavo. Tudo que lhe contavam os amigos mais experientes, tudo que tinha visto nas revistas pornográficas e nos sites da internet ele punha em prática comigo para ampliar seu traquejo no assunto. Ele analisava minhas reações, estudava meus atos, esmiuçava cada uma de suas ações que eram capazes de produzir prazer em mim. Eu fazia o mesmo. Não só estava aprendendo a conhecer meu corpo por inteiro, como estava a descobrir minha sexualidade. Não era apenas o Jorge que fazia cerco fechado sobre mim tentando obter informações. Meus pais desconfiavam de que algo estava se passando comigo, Não diziam nada, mas eu podia sentir aqueles olhares aquilinos vasculhando por fatos. O tempo foi passando e meus encontros furtivos com o Gustavo continuavam a acontecer. Mesmo por que, com a minha entrada na faculdade de arquitetura, sobravam grandes janelas entre as aulas, tempo que aproveitávamos para deixar nossa paixão e nossos desejos fluírem. Eu não era mais nenhum iludido. Sabia que a rola que eu tanto adorava chupar era uma daquelas a que o Jorge se referia como sendo o premio grande de uma loteria. À medida que o Gustavo se transformava num homem, aquela jeba só fazia crescer e encorpar. Aquele sangramento da primeira vez, brotando escarlate entre as minhas preguinhas, nunca deixou de fluir nos coitos posteriores, como o testemunho material de nossa paixão e, da exiguidade do meu cu. Eu lavava minhas cuecas manchadas com a minha virtude perdida, às escondidas, temeroso de que descobrissem minha iniquidade. Toda essa prudência se mostrou inócua, no dia em que a faxineira que ia lá em casa, duas vezes na semana, deu com a língua nos dentes. - Por que você não está colocando suas cuecas no cesto de roupas sujas? A Dora me disse que você mesmo as está lavando, que história é essa? – questionou minha mãe, certa noite durante o jantar. Eu percebi o olhar do meu pai se arregalando pela espera da resposta. Eu, infelizmente, demorei o suficiente para conseguir articular uma resposta e, ainda por cima, gaguejei ao, finalmente, encontra-la para que uma certeza se concretizasse na cabeça dele. - Você continua se encontrando com aquele depravado. Não negue que eu estou sabendo que isso vem acontecendo faz algum tempo. Você começou a queimar a rosca e está deixando aquele filho da puta te enrabar o cu, fala viado desgraçado? – exaltou-se, me encarando desafiadoramente. - Claro que não! Eu juro! – minha voz saiu tão hesitante que nem eu mesmo acreditei no que dizia. - Eu te parto ao meio de tanta porrada se souber que você anda dando o cu pela vizinhança. – ameaçou ele. A coisa só arrefeceu por que minha mãe colocou a mão sobre o braço dele. Nesse instante, me dei conta de que nunca tinha visto os dois se tocarem. Alguns dias depois, num dia em que minhas aulas na faculdade se restringiam ao período da manhã, voltei mais cedo para casa e vi o carro do meu pai na garagem. Chamei por ele, assim que destranquei a porta de entrada, mas não obtive resposta. Subitamente, me lembrei que tinha me encontrado com o Gustavo na casa dele dois dias antes e, que tinha escondido no fundo de uma gaveta do meu armário, duas cuecas manchadas de sangue que não tive como lavar sem levantar suspeitas. Um arrepio varou meu peito. Lá estava ele. Sentado na minha cama a minha espera. Meu olhar foi atraído para as cuecas brancas maculadas com meu pecado largadas sobre a colcha. Não tive coragem de encara-lo. Pensei em me ajoelhar e implorar clemência, pensei em sair correndo, pensei em evaporar no ar, mas meus pés pareciam ter criado raízes e foram incapazes de se mover. - Pederasta desgraçado! Tanto que eu falei, tanto que eu recomendei, tanto que eu proibi, e você faz o que? Sai por aí dando o cu pelas esquinas. – ele gritava tanto que eu achei que fosse ter um troço. - Eu não estou fazendo nada disso. – balbuciei apavorado. - Não minta! Está dando o cu! A prova está aqui. Aquele degenerado está te arregaçando e você está gostando, seu maricão de merda! - Eu gosto dele pai! – afirmei num rompante - Gosta tanto que deixou de ser homem para vivar uma bicha. Ele se pôs em pé e, só então, eu reparei que o cinto dele estava em suas mãos. Com a outra mão, ele começou a arrancar as minhas roupas. Como eu as segurava, elas iam se rasgando e expondo meu corpo. Me mijei de tanto medo. Embora minhas costas fossem as primeiras a ficar nuas, o foco dele estava nas minhas pernas e bunda. Assim que a pele branca e aveludada das nádegas surgiu, a primeira cintada a marcou como se eu fosse uma res sendo marcada pelo ferrete. Ele me derrubou sobre a cama. Eu engoli o ganido pungente, uma, duas, três, quatro vezes e, esperava pelas chibatadas conformado e submisso. Não me atrevi a ver o porquê da seguinte demorar a me atingir. Pensei novamente em correr dali enquanto ainda era capaz de fazê-lo. Mas, para minha surpresa, senti as mãos do meu pai me puxando pela cintura para a beirada da cama. Ele havia arriado as calças e a cueca. Cobrir aquelas nádegas roliças de vergões o excitara. A jeba descomunalmente grossa se erguia entre os pentelhos negros com a chapeleta arroxeada cintilando de tão úmida. - É de um macho engatado nesse rabo devasso que você gosta, não é desgraçado? – grunhiu ele. - Não me machuque pai! – minha súplica brotou como um gemido. A cabeçorra varou meus esfíncteres e foi se alojar nas profundezas do meu íntimo. Dessa vez deixei o ganido assomar meus lábios. Nunca tinha visto meu pai por esse ângulo primitivo e animalesco, nem reparado na força que ainda estava bem preservada naquele corpo massudo. Por prudência, não ameacei nenhuma reação. Achei que se o deixasse dar vazão a toda sua raiva, poderia sair mais ileso daquela situação. O sacão dele batia contra meu rego aberto a cada estocada. Elas ganhavam ritmo e potência à medida que ele extravasava sua ira. Eu fincava minhas unhas na colcha e gemia, nem tanto de dor, mas de prazer. Temi que ele se apercebesse disso e das consequências que poderiam advir disso. Mas, ao me virar para ver sua expressão, pude constatar que não havia nada nela de contrariedade, de raiva ou de crueldade. Ele estava sentindo prazer. Um prazer que havia se perdido lá trás no tempo, um prazer que o casamento lhe havia privado, um prazer que meu cuzinho apertado estava lhe entregando na mais íntima das relações. O vaivém daquele colosso roçando e esfolando minha mucosa anal me fez gozar. Pouco depois, reconheci imediatamente aqueles espasmos e uma breve atenuada na rigidez de sua rola que antecediam o clímax ao qual ele havia chegado. Movendo sensualmente sua virilha sobre minhas nádegas, o que fazia aquela rola enorme cutucar cada centímetro das minhas entranhas, ele começou a ejacular. O gozo veio farto e regozijante, pleno de uma sensação que ele jamais estava preparado para sentir. Deixei-o debruçar-se sobre mim, arfando como um touro, procurando talvez uma saída honrosa para o que acabara de acontecer. Acho que ele não a encontrou, pois quando o cacetão começou a ficar flácido, ele o tirou de mim lentamente, ainda pingando porra no reguinho ensanguentado. Eu fechei minhas pernas e me encolhi em posição fetal sobre a cama, ouvi quando a porta de meu quarto se fechou e seus passos se perderem no corredor. Naquela noite, à mesa do jantar, reinou um silêncio sepulcral. Muito embora, não houvesse em minha memória nenhum dia em que vi meu pai com aquela expressão de sonho realizado, como quando uma criança recebe do Papai Noel aquele presente tão desejado. Durante toda a minha curta vida, eu tive tempo de aprender a reconhecer aquelas feições orientais, por de trás das quais se escondiam os pensamentos nunca postos a revelar. Aprendera a decifrar aqueles sorrisos cheios de deferência e pouco verdadeiros. Aprendera a identificar as tempestades que estavam por trás do silêncio. Aprendera distinguir a expressão da minha mãe quando estava arquitetando um plano. O fato de meu pai ter deixado de me perseguir como um lobo a espreita da caça, de ficar com aquele olhar parado enquanto me observava calado, de repentinamente exigir minha presença quando tinha que ir a algum lugar haviam plantado nela uma suspeita dolorosa. Quanto mais dias se passavam com aquele sentimento reprimido, mais certeza eu tinha de que algo estava para estourar. Meu pai e eu nunca conversamos sobre aquele dia. Não havia o que dizer e, qualquer palavra podia quebrar aquele encanto. Um dia, notei seu olhar parado sobre mim, ele parecia estar divagando, mas sua jeba atormentada dentro do short denunciava seu sofrimento. Sem dizer uma palavra, aproximei-me dele e me ajoelhei entre suas pernas abertas. Pousei meus olhar no dele e, lentamente, abri a fenda do short. Mergulhei delicadamente os dedos na braguilha e tirei o cacetão lá de dentro. Ele não esboçou nenhuma reação, apenas continuou a me encarar. Meus dedos logo ficaram lambuzados do melzinho cheiroso que ele vertia em abundância. Toquei a ponta da língua no orifício uretral pelo qual o fluido aquoso emergia e o lambi. Aos poucos fui fechando os lábios ao redor da glande estufada, pouco mais do que ela cabiam na minha boca. Chupei a pica como quem chupa um sorvete, o tesão a eriçar minhas preguinhas anais. Meu pai enfiou os dedos nos meus cabelos e segurou minha cabeça, ergueu a pelve e meteu o cacete na minha garganta. Eu lambia e chupava aquela carne quente movendo minha cabeça para frente e para trás. Ouvi os sibilos saindo por entre seus lábios e chupei com mais empenho. Não demorei a ter minha recompensa. Os jatos de porra explodiam na minha boca, obrigando-me a engolir um após outro, enquanto meu olhar pousado no dele, agradecia por cada gota daquele néctar. Levantei-me e fui para quarto sem dizer uma palavra, crente de que tinha aplacado seu desejo. Instantes depois, a porta do quarto se abriu, ele passou por ela e girou a chave. Ele estava sem o short. Aproximou-se de mim, deslizou minha bermuda coxas abaixo e passou seus braços ao redor do meu tórax. Uma encoxada deixou sua rola à meia bomba resvalando no meu reguinho. Suas mãos apertavam meus mamilos e ele aspirou o cheiro da minha pele junto ao pescoço. Eu não me movi, deixei os minutos passando. Quando a insistência da pica completamente rija circundava minhas pregas, abri ligeiramente as pernas e empinei a bunda, franqueando-lhe o acesso tal qual uma fêmea no cio. Ele mergulhou a pica em mim e gemeu. Só me deixou depois de sentir a pressão, que ingurgitava seus culhões, ter lhe concedido o desejado alívio. Boa parte da família da minha mãe ainda residia em Bastos no interior de São Paulo. Ela pouco contato tinha com os parentes que, vim, a saber, apenas quando já tinha certa idade, haviam-na censurado quando se casou com meu pai, pois queriam que ela se casasse com alguém de origem oriental. Os pais, mais apegados às tradições, haviam-na execrado. Os irmãos, embora mais abrasileirados, também mostraram seu descontentamento. Contudo, ela ainda mantinha uma relação fria e distante com um de seus irmãos e, foi a ele que ela recorreu. Tio Hiroshi era uns dez anos mais velho do que a minha mãe. Dos quatro filhos desse tio, dois tinham ido tentar a sorte no Japão como decasséguis quando uma leva de descendentes conseguia trabalho na terra do sol nascente. A presença dele nos visitando logo me deixou em alerta. Boa coisa não estava por vir. Meus receios se concretizaram já no primeiro dia. - Seu tio Hiroshi está seguindo para o Japão dentro de duas semanas. A empresa onde seus primos trabalham está contratando mão-de-obra e ele vai passar uma temporada por lá. Como você deve se lembrar, na primeira temporada alguns anos atrás, ele conseguiu o suficiente para construir a bela casa onde mora atualmente. Desta vez você vai com ele. – expos minha mãe. - Mas eu estou no primeiro ano da faculdade, mãe. Não posso abandonar tudo e me aventurar nas incertezas. Além do que, não falo uma palavra de japonês, como vou me virar? – ponderei. - Você tranca a matrícula na faculdade por um tempo e, quando voltar continua. Ela não vai fugir. Até um trabalho está esperando por você na mesma empresa dos teus primos. Há uma porção de decasséguis que não falam japonês. E, você tem a vantagem de se comunicar muito bem em inglês, isso há de servir para alguma coisa. – o tom de sua voz não chegava a ser autoritário, mas ela já havia tomado sua decisão. - Quando estiver de volta, você terá um pé-de-meia o que vai facilitar muito a sua vida. – corroborou meu tio, num evidente conluio com minha mãe. Meu pai não se manifestou, mesmo quando meu olhar procurou apoio no dele. - Eu não quero ir. Eu não vou! – retruquei, ciente de que a decisão não seria minha. - As passagens já estão compradas. Você vai morar com seus primos e seu tio. Eu não vou mais lhe dar o dinheiro para a faculdade, portanto, se ficar, não terá como continuar os estudos de qualquer forma. - Isso é um absurdo! – protestei, ameaçando retirar-me. – Eu deveria ter sido consultado antes, para saber se queria ir para o Japão. Não estou mais em idade de fazer tudo o que você quiser. – emendei furioso, sem que isso provocasse a mínima reação da parte dela. - Enquanto eu pagar as suas contas e, você morar debaixo desse teto, você vai seguir as minhas regras. – a frieza dela me espantou, embora eu já a tivesse presenciado inúmeras vezes. A inconstância financeira do meu pai tinha-o conduzido ao mesmo labirinto no qual eu me via enredado agora. Naquele momento, muita da implicância que eu tinha com ele desapareceu. Passei as duas semanas seguintes envolvido com os preparativos para a viagem, com a burocracia na faculdade, com a participação ao Jorge do meu infortúnio e, com o que mais me doeu, a despedida do Gustavo. - Recuse-se a ir! Diga que não vai nem morto e acabou! Foge de casa. – aconselhou o Jorge. – Você não está todo enrabichado pelo boy magia? Fala para ele te assumir e vai ser feliz, bicha. – Percebi que o Jorge nunca ia crescer. Para ele tudo se resumia a dar o cu, impor sua sexualidade goela abaixo de qualquer um, e fazer da vida um eterno palco de vedetes. Agora conseguia entender o porquê de ele ter abandonado os estudos findo o colégio e não se dedicar a mais nada. Muito menos a construir um futuro. - A vida não se resume a ficar rebolando por aí a procura de um macho. Se você pensa que um dia vai encontrar um que te sustente, pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Isso é utopia. Esqueça essa viadagem e seja discreto. Consiga uma profissão. Dê rumo a sua vida. Quem sabe então não vai encontrar alguém legal com quem possa viver em harmonia com o mundo. – argumentei. - Vá se foder! Só por que você é uma bicha enrustida acha que todas vão se esconder porque a filha da putice da sociedade assim quer? Eu vou, sim, enfiar goela abaixo de qualquer um o meu jeito de ser, e eles vão ter que aceitar. – revidou irado. - Pense como quiser! Até hoje só vi você dando murro em ponta de faca. Se, acha que vale à pena ficar brigando com o mundo, vá em frente. Só não chore quando constatar que o preconceito e a opinião da sociedade são muito mais fortes do que você. - Você é um merda! Há pouco nem sabia como dar o cu. Acabou conseguindo um cara que todos desejam e vai dar um pé na bunda dele. Tomara que você se foda, só então vai dar valor ao que tem. – ele nunca tinha falado assim comigo antes. - Sei que você está sendo duro comigo por que a notícia te pegou de surpresa. Não se preocupe, eu vou continuar nossa amizade mesmo à distância. – eu sabia que boa parte da revolta dele estava em perder talvez o único ser que o compreendia e não o julgava. - Pode enfiar essa amizade falsa no cu, vai te fazer bem, agora que não vai mais ter a piroca do Gustavo para te foder. Você é um merda, um merda! – exclamou, começando a chorar. Nunca o tinha visto chorar antes. - Cuide-se! Quando eu voltar, quero te ver trampando no que gosta, ajuizado e comportado como qualquer pessoa normal, e namorando o cara mais lindo que houver nesse mundo. – desejei, abraçando-o. - E eu quero que você se foda! – revidou. - Felicidades para você também! – exclamei num sorriso. Despedir-me do Gustavo foi menos dramático, mas não menos doloroso. Ele ficou um longo tempo em silêncio depois que dei a notícia. Pensei até que ele não tinha dado muita importância ao fato de estarmos praticamente terminando nossa relação. Enquanto nos meus olhos começavam a brotar as lágrimas, ele ficou me encarando. - Você não vai falar nada? – perguntei soluçando - Há algo para falar? Você me comunica um fato consumado e quer que eu diga o que? Que me ajoelhe aos seus pés e implore para você ficar? Que me descabele e diga que a minha vida acabou? Me fala, o que você quer de mim? – foi a primeira vez que ouvi aquele tom rude em suas palavras. - Não, claro que não. Eu só achei que você diria alguma coisa para me confortar. – balbuciei. - Como eu posso te confortar se estou arrebentando por dentro? – questionou, batendo com a mão sobre o coração. - Eu te amo Gustavo! – o murmúrio brotou da minha alma. - Você nunca me disse isso antes. Não faz sentido dizer isso agora, não acha? – ele estava se distanciando de mim como que para se autopreservar. - Eu precisava dizer, só isso! Como eu podia supor que as coisas iriam tomar esse rumo? – tomei seu rosto em minhas mãos e comecei a beijá-lo. Inicialmente, tocava suavemente meus lábios em suas bochechas, depois na base da mandíbula, sobre os olhos, na testa e, por fim, sobre os lábios dele. Ele permaneceu estático. Foi como se eu estivesse beijando uma estátua. Mas, como meus lábios insistiam em se mover sensualmente sobre os dele, ele me puxou contra o peito e me beijou lasciva e ardentemente. Havia um vazio enorme em meu peito, um vazio como eu jamais poderia imaginar. O calor dos seus beijos e a rola enorme dele pulsando feito uma fera selvagem no meu cuzinho não conseguiam preencher aquele vazio. Algo me dizia que aquilo era um adeus permanente, definitivo. Mesmo quando ele me disse – nos vemos por aí – a certeza já estava implantada em mim. Minha mãe foi ao aeroporto conosco com um único propósito, o que ter a certeza de que eu estava embarcando. Agradeceu o irmão uma centena de vezes, como se ele fosse seu anjo redentor. Meu pai não disse uma palavra enquanto dirigia até Cumbica. Como sempre, tinha se deixado levar pela imposição da esposa. Mas, me surpreendeu quando chegou a hora do meu tio e eu entrarmos para a sala de embarque. Ele me abraçou, secou minhas lágrimas com o polegar e me beijou. - Vou sentir sua falta! – sussurrou em meu ouvido. - Eu também, papai! – murmurei, sem conter a emoção. A quitinete onde meus primos viviam em Nagoya na província de Aichi não podia ser chamada de apartamento. Num espaço de 35 metros quadrados se acumulavam dois beliches, um minúsculo banheiro, um móvel sobre o qual estava instalada uma pia e duas bocas de fogão, além de uma tralheira espalhada por todos os cantos. A recepção à chegada do pai e minha não passou de um estirar de lábios que eu interpretei como sendo um sorriso, pouco antes de partirem para mais uma jornada de trabalho na indústria de eletrônicos onde trabalhavam. A cultura nipônica já estava enraizada no comportamento deles, muita cerimônia e deferências em público e, a frieza no relacionamento familiar. Não que nosso relacionamento alguma vez tenha sido diferente, aliás, as poucas vezes em que os encontrei não podiam ser consideradas um relacionamento. De qualquer forma, achei aquilo chocante. No início da semana seguinte à nossa chegada ao Japão, eu estava sentado diante de uma linha de produção de circuitos para computadores, usando um gorro e luvas, para encaixar cinco componentes sobre uma placa que passava, na minha frente, a cada dois minutos e trinta e seis segundos, numa jornada de dezesseis horas diárias, sete dias por semana. Como a legislação japonesa só permite oito horas diárias e exige uma folga por semana, as empresas promovem contratos com decasséguis propondo horários maiores, pagando 25% a 35% a mais por hora excedente, dependendo do dia, se normal ou na folga. Ao final da primeira semana, achei que ia enlouquecer. Quando chegava em casa estava tão exausto que mal tinha forças para comer alguma coisa. Deitava-me no beliche e via passando diante dos meus olhos centenas de placas de computador e, quando, finalmente, essa miragem sumia, o despertador enchia a quitinete com uma musiquinha medonha anunciando que era hora de voltar para o galpão da fábrica. Pelo contrato firmado com a empresa, eu tinha dois dias por mês de folga, onde optei pelos sábados, pois era mais fácil encontrar algum comércio aberto, que não as lojas de conveniência. Embora estivesse quase sempre exausto, eu evitava permanecer naquele cubículo. A convivência com meu tio e meus primos se mostrou um fardo imenso logo de início. Tio Hiroshi mal falava comigo. Algo me dizia que minha mãe tinha contado tudo a ele quando pediu sua ajuda para me tirar de casa. Eu tinha a certeza de que ele me via como um depravado que desonrou o nome da família e, portanto, só merecia o desprezo. Hideo e Masato, meus primos, embora já estivessem no Japão há alguns anos, viviam a margem da sociedade, como cidadãos inferiores, como eram tratados os decasséguis pela população local. Quando saiam para se divertir procuravam os membros da comunidade brasileira, praticamente fechada em guetos, sem se misturar com a cultura local. Isso acontecia com a maioria dos decasséguis, fosse por não dominarem o idioma, fosse por que tinham dificuldade em assimilar a cultura nipônica. Nenhum deles namorava. Pareceu-me que tinham uma postura infantilizada frente às mulheres, embora houvesse um desejo reprimido, eles não tinham coragem de abordar uma garota. Hideo estava com 38 anos e Masato com 35, e isso me pareceu muito estranho. Meu tio devia ter contato aos filhos o motivo da minha vinda ao Japão. Depois de algumas semanas, havia no olhar deles algo de perscrutador, de provocante, como se quisessem me flagrar cometendo algum delito para terem a certeza da informação que receberam. Quando não estavam no trabalho, iam para uma academia no bairro onde praticavam judô, ou ficavam deitados, horas a fio, em suas camas que geralmente fediam a suor antes de terem os lençóis levados à lavanderia. A quitinete não permitia nenhuma privacidade. Eu procurava fazer minha toalete enquanto eles dormiam ou não estavam em casa, o que quase nunca era possível. O primeiro mês se passou e eu havia recebido meu primeiro pagamento. A soma depositada na minha conta me pareceu irrisória diante das horas que passei enfurnado naquela fábrica. Era certo que só se privando de tudo era possível guardar alguma coisa para o futuro que todos tinham vindo buscar nessa terra. Tudo era muito caro. Qualquer pequeno luxo custava os olhos da cara. E, os últimos anos tinham desestimulado muitos a virem para o Japão à procura de melhores condições. Mesmo assim, resolvi sair no meu dia de folga e dar uma espairecida, pois até então não conhecia nada em Nagoya além do trajeto de casa até a fábrica. O dia, no início de abril, estava lindo. Um sol fraco iluminava o céu muito límpido e azul. Resolvi ir até às margens do rio Yamazaki para observar o espetáculo do sakurá, a floração das cerejeiras. Ela não era tão esplendorosa como em outras partes do Japão, como exibido na TV durante aquelas semanas; mas, constituía, mesmo assim, um belo espetáculo. Ao menos, me tirava aquela sensação claustrofóbica que vivia na fábrica e na quitinete. Depois, caminhei por alguns quarteirões nos arredores a fim de comer alguma coisa antes de pegar o metrô de volta para casa. Um ar estagnado e impregnado de cheiros me recepcionou assim que abri a porta da quitinete. Hideo e Masato estavam embrulhados nos lençóis e tio Hiroshi estava no trabalho. Havia uma semana que meus primos estavam trabalhando no turno da noite, o que amenizava um pouco aquela sensação de estarmos um sobre o outro naquele cubículo. Fiquei sem saber o que fazer, pois se ligasse a TV, que só servia para eu deduzir o que se passava, uma vez que não compreendia nenhuma palavra, os acordaria. Sentei-me no parapeito da janela e fiquei olhando o movimento na rua. Lá embaixo, algumas crianças brincavam de amarelinha enquanto outras jogavam algo semelhante ao baseball numa área demarcada sobre o asfalto, a despeito do horário indicando que a noite se aproximava. O sol se punha devagar entre os edifícios mergulhando a rua na penumbra enquanto seus últimos raios iluminavam o topo dos edifícios mais altos. Meus pensamentos vagavam no Brasil nos braços do Gustavo, e precisei passar a mão sobre os olhos para enxugar as lágrimas. - Quer dizer que você queimava a rosquinha com um dos seus vizinhos lá em São Paulo? – inquiriu o Masato, notando minha presença e acordando. - Desculpe se o acordei. É tudo tão apertado que não há como evitar. – respondi, ignorando a pergunta. - Tá, tá! Mas, você não me respondeu. – insistiu. - Não sei do que você está falando. – revidei com aspereza. - Meu pai nos contou tudo. Sua mãe pediu a ajuda dele para te afastar do cara. Ela está desconfiada que você andou dando o cu pelo bairro inteiro. – disse ele, esboçando um risinho malicioso. O Hideo acordou enquanto ele falava e, esfregando os olhos, aguardou ansioso a minha réplica. - Como eu disse, não sei do que está falando. – mas eu havia corado e eles sabiam que eu estava ocultando os fatos. - Você ficou realmente muito bonito e gostoso depois que entrou na adolescência. Pensando bem, eu me lembro de que você era um garotinho bem bonito quando criança, apesar de tê-lo visto umas duas vezes naquela época. – afirmou o Hideo. - O que você fazia com o seu namoradinho? Como foi que a tia Mieko descobriu que você é viado? – perguntou o Masato, enquanto lançava um olhar de soslaio para o irmão. - Não quero falar sobre isso. – respondi. Eu queria que o chão se abrisse para eu me esconder lá dentro. - Sua carinha de anjo não diz que você é tão safadinho. Isso é que é o legal. – disse o Hideo. - Eu não sou um safado! – exclamei exasperado. - Está bom! A gente acredita, não é Masato? – a ironia do Hideo me deu nos nervos. Meus olhos se arregalaram quando o Masato tirou o lençol que o cobria e me exibiu sua ereção saindo pela cueca. Os dois esboçaram um sorriso sádico. - Você gosta de uma rola bem durinha? – perguntou o Hideo imitando o irmão. – Tem duas a sua inteira disposição, por que você não nos faz um carinho para agradecer a hospedagem. – acrescentou. - Eu estou pagando a minha parte dos custos dessa espelunca. – revidei - Mas não custa você ser generoso e quebrar nosso galho. Nem me lembro de quando foi a última vez que dei uma gozada bem dada junto com uma garota. Como vocês viados são bem mais safados do que as mulheres, você podia realizar minha fantasia chupando minha pica bem gostoso. – disse o Masato. Ambos se levantaram e vieram na minha direção, as picas emergindo pelo cós das cuecas. Meu coração palpitava como se fosse ter um ataque cardíaco. O primeiro a me tocar foi o Hideo. Foi como se eu tivesse levado um choque elétrico quando a mão dele pegou meu braço e o levou até as minhas costas. - Pare com isso! Você está machucando meu braço. – o som da minha voz quase desaparecera de tanto medo. - Não vamos te machucar. Você não é mais nenhum virgenzinho, já devem ter te machucado antes. Aposto como você já está bem acostumado com um cacete no cu. – afirmou o Masato. Eles foram me despindo lentamente, intercalando a exploração do meu corpo entre as mãos de um e de outro. Eu não me opus mais. Lembrei-me do Jorge, de quando me dizia que sonhava ser enrabado por dois caras. Que ironia, pensei comigo mesmo, tudo o que o Jorge sonhava em relação ao sexo acontecia comigo. Primeiro foi o Gustavo, ele tanto falava do tamanho da mala do Gustavo e, que queria uma dessas para ele. Quem a sentiu arregaçando as pregas fui eu. Quem sentia um tesão contido pelo pai era ele, dizendo que imaginava o pai sacudo despejando toda sua porra na boca dele. No entanto, quem efetivamente sugou e engoliu até a última gota do néctar másculo do pai fui eu. E, agora, quem estava prestes a transar com dois caras era eu. Inútil lutar contra meu destino, pensei, e deixei-me usar. Havia um olhar de cobiça na cara dos dois quando meu corpo nu recebia a derradeira luminosidade do sol entrando pela janela. Ambos palparam minhas nádegas, um de cada lado. Eles me conduziram até a única poltrona da quitinete e começaram a me explorar. Eu os encarava em silêncio e sentia meu corpo em reboliço. O Masato passou provocadoramente o dedo sobre minhas preguinhas, os movimentos circulares me fizeram soltar os primeiros gemidos, o cu piscava. O Hideo beijou e lambeu meus peitinhos, sua língua áspera e úmida fez com que os biquinhos se projetassem hirtos e consistentes. Enquanto seguravam minhas pernas abertas e me bolinavam, cada um tirou a pica para fora e a esfregou no meu rosto. A do Masato já estava lambuzada quando tocou o canto da minha boca e foi ela que abocanhei primeiro. Ele dobrou os joelhos e deu um gemido, enfiando aquilo na minha garganta. Ele fodeu minha boca enquanto o Hideo batia punheta bem rente ao meu rosto. Assim que o Masato soltou minha cabeça, o Hideo colocou a rola nos meus lábios. Eu a suguei umas três ou quatro vezes antes de sentir o pré-gozo salgado se mesclando a minha saliva. Os dedos deles se revezando na portinha do meu cu estavam me deixando alucinado. Era torturante sentir aquele tesão todo se acumulando na minha pelve e no cuzinho, só me restava gemer. O Masato se postou diante das minhas pernas abertas e pincelou a rola no meu rego. Eu chupei a pica do Hideo com mais força. O cacete do Masato entrou no meu cu sem me impingir nenhuma dor, eu o senti deslizando para as profundezas e, num reflexo involuntário, travei os esfíncteres ao redor dele. O tesão dele emergiu na forma de um urro. - O cuzinho puto dele agarrou minha rola. – disse ao irmão, soltando o ar entre os dentes cerrados. - O putinho sabe como brincar com um caralho. – retrucou o Hideo, que segurava meu rosto entre as mãos e fodia minha garganta. O gozo do Masato veio rápido. Não sei se por estar há tempos sem foder, ou se essa era sua natureza. Uma vez o Jorge tinha me dito que os orientais eram egoístas, que trepavam como os coelhos, tão rápido que já estavam gozando mal tinham enfiado o cacete numa buceta. Na época eu achei graça, especialmente, por que a afirmação veio acompanhada de uma das mil encenações que o Jorge era capaz de fazer. Agora eu constatava que havia um fundo de verdade naquilo. Meu baixo ventre ainda estava tenso e, se contraía querendo impedir que ele sacasse a pica do meu cu, enquanto meu tesão não tinha sido aplacado. Por uns segundos achei que ele não tinha gozado, pois na minha memória os únicos dois homens que gozaram no meu cuzinho tinham o deixado encharcado com seu sêmen, e eu estava quase seco. A porra do Hideo explodiu quase ao mesmo tempo em que o Masato tirava a pica do meu cu, três cusparadas de um fluido ralo que só me permitiu saber que era porra pelo cheiro almiscarado que invadiu minhas narinas. Cerca de uma hora depois eles inverteram as posições e, pelo fato do Hideo se demorar um pouco mais metendo a rola num vaivém cadenciado, eu consegui finalmente gozar. Foi um gozo fisiológico, um gozo sem prazer, um gozo sem amor, apenas um gozo que me aliviou a pressão no saco. Com o passar dos meses, percebi que a ausência do tio Hiroshi era providencial, e mais, proposital, para que os filhos me enrabassem sem o constrangimento de um eventual flagrante. Não consegui deixar de pensar na minha mãe. Quis me afastar do assédio do Gustavo que tanto me regozijava, e talvez até da concupiscência do meu pai, pois nada me tirava da cabeça que ela sabia do desejo dele por mim, para me deixar a mercê dos sobrinhos. A vida é mesmo uma grande piada. Fazia seis meses que eu estava no Japão quando o tio Hiroshi, querendo aproveitar uma de suas folgas, me convenceu a acompanha-lo até Tóquio, onde residiam alguns de seus primos, com os quais havia travado conhecimento quando da vez anterior em que estivera no Japão. O shinkansen, trem-bala, levou cerca de duas horas até entrar silenciosamente na estação central de Chiyoda. De lá, seguimos até o parque Shinjuku Gyoen, um belíssimo lugar formado por jardins e estufas onde um dos primos ficou de nos apanhar. Esses parentes nunca estiveram no Brasil, mas, foram bastante efusivos ao revê-lo, ao modo deles é claro. Contudo, não dava para negar que foi uma acolhida boa. Pela casa e pela maneira sofisticada como nos receberam percebi que tinham uma boa condição financeira. Essa era outra particularidade desse país que me chamou a atenção. Embora não faltasse trabalho para os decasséguis, eles sempre ocupavam cargos inferiores nas empresas em relação aos próprios japoneses, independente da formação que tivessem. Com os salários ocorria o mesmo, e as discrepâncias eram notórias. Eu fui praticamente ignorado pelos parentes da minha mãe, deviam estar cientes do casamento com um não nipônico e, quem sabe, até do verdadeiro motivo de eu estar no Japão. Conseguimos passar dois dias com eles, pois o dia seguinte às nossas folgas era um feriado nacional, o Keiro no hi, a terceira segunda-feira de setembro dedicada aos idosos, quando os japoneses oram pela longevidade dos mais velhos e os agradecem pelas contribuições que fizeram à sociedade. Na volta para Nagoya, fiquei um pouco constrangido pela maneira com que uma senhora me encarava. A bolsa Prada e um tailleur elegante, bem como o modo refinado como pousava as mãos sobre o colo não combinavam com o jeito curioso como ela olhava na minha direção. Até o tio Hiroshi fez um comentário quando percebeu os olhares dela. Embora estivesse sentado, pensei que talvez minha braguilha estivesse aberta, conferi e tudo estava como deveria estar. Perguntei ao meu tio se havia algo no meu rosto ou nas minhas roupas e, ele negou. Mais ou menos na metade do trajeto ela veio sentar-se numa poltrona vazia do outro lado do corredor. Dirigiu-me uma pergunta com um sorriso cordial e amistoso. Eu me virei para meu tio a fim de ele traduzir a pergunta que ela havia feito. Ela perguntara se eu não tinha interesse em fazer umas fotografias para uma campanha publicitária. Meu tio traduziu a pergunta com um discreto sorriso de desdém. Devolveu minha resposta negativa e disse que eu não falava japonês. Ela então me encarou e, num inglês carregado de sotaque, começou a tentar me convencer a fazer as fotografias. Acrescentou que pagaria pelo trabalho independentemente do resultado final e do aceite ou não do patrocinador da campanha. Ela disse que me pagaria 265.000 ienes por uma sessão de fotos com duração de umas seis horas. Isso era mais do que eu ganhava na fábrica em um mês. Como tio Hiroshi não fala inglês, perguntei o que ele achava da proposta. - Ela provavelmente percebeu que você é um devasso e está propondo algum tipo de trabalho não muito decente. Esse valor é bastante exagerado por algumas fotografias! – disse ele, ao mesmo tempo expressando, mesmo que sem perceber, o modo como me via. Voltei a conversar com ela para obter mais detalhes e, saber que tipo de fotografias seriam essas. Ao final de uma meia hora, eu estava convencido de que se tratava de um trabalho honesto, e aceitei o cartão que ela me ofereceu com todos os seus contatos. Meu tio censurou minha atitude e recusou-se a despedir-se dela quando o trem chegou a Nagoya tarde da noite. Fiquei girando o cartão que ela me deu entre os dedos, enquanto meus pensamentos vagavam e eu olhava o luar pela janela, pois havia perdido completamente o sono. A possibilidade de fazer algo diferente do que acoplar aqueles malditos componentes naquelas placas que passavam na minha frente durante horas, me encheu de esperanças. Pouco antes do horário de me dirigir à fabrica, minha decisão estava tomada. Iria ligar para o número de telefone do cartão e aceitar a proposta. Precisei esperar meu próximo dia de folga para ir a Tóquio. O arranha-céu envidraçado, no centro mais agitado de Shibuya, abrigava uma agência de publicidade onde imperava uma atmosfera silenciosa e clean. A garota sentada na recepção parecia uma boneca de louça, olhos grandes, pele muito branca e um cabelo preto e liso amarrado no alto da cabeça, deixando alguns fios cair sobre sua nuca. Ele se dirigiu a mim em japonês e eu respondi em inglês, ela sorriu e me pediu para sentar numa das poltronas da pequena sala de espera. Em menos de cinco minutos a senhora que encontrei no trem veio me recepcionar com outro sorriso. - Fico feliz que tenha aceitado minha proposta. Seu rosto é muito intrigante, tenho certeza que o cliente vai aprovar. – disse a senhora Aiko, enquanto me conduzia para dentro de um escritório amplo com uma bela vista do skyline de Tóquio na retaguarda de sua mesa. Ela e o marido eram donos da agência que também tinha filiais em Nova Iorque e Zurique. - Nunca fiz um trabalho assim, não sei se levo jeito para isso. – respondi, minhas mãos estavam suadas. - Não é algo complicado. Nosso fotógrafo vai deixa-lo muito à vontade e te ensinar o que deve fazer. – garantiu ela, enquanto o marido entrava na sala. – Este é meu esposo! – disse, me apontando o senhor de meia idade que caminhava com uma agilidade impressionante. - Você tinha razão. É um belo rosto. O corpo também é muito expressivo. Parece que encontramos alguém com muitas possibilidades. – disse ele à esposa, depois de me cumprimentar. – De onde mesmo é que você vem? Qual é a origem da sua família. – perguntou em seguida. Dei-lhe aquelas e mais uma dezena de outras respostas, até que tiveram um breve resumo da minha vida e das minhas origens. A senhora Aiko me conduziu até a sala de fotografias e me apresentou o fotógrafo, um rapaz miúdo que usava roupas muito justas e, uns óculos de armação preta que deixavam seu rosto menor do que já era. Ele começou a me fotografar mesmo tenso como eu estava, foi mudando os painéis de fundo enquanto conversava comigo. Duas horas depois, a câmera dele apontando na minha direção já não parecia mais um canhão prestes a me atingir. Eu achei graça de algumas piadas que ele contou enquanto os flashes pipocavam e fiz uma careta quando todo o edifício tremeu com mais um dos inúmeros abalos sísmicos que aquele país sofria. De certa forma, eu já havia me acostumado a sentir o chão tremendo debaixo dos meus pés, mas, no vigésimo oitavo andar daquele edifício a coisa tinha sido um pouco mais assustadora. Pouco depois de o senhor Sasuke me entregar o cheque com o valor prometido pela esposa, o fotógrafo colocou uma pasta com as fotografias sobre sua mesa. A cada fotografia que ele virava, lá estava meu rosto, tenso e contraído como o olhar de um bicho assustado, risonho e com uma mecha de cabelo escorregando sobre a testa, e a feição incrédula de quem presencia um terremoto pela primeira vez. O fotógrafo foi muito hábil em captar cada um daqueles momentos que vivi na sua sala. Nem eu acreditei no resultado, as fotografias estavam maravilhosas. - Sem dúvida, Aiko, encontramos um talento. – disse o senhor Sasuke para a esposa, que concordava com um aceno de cabeça. Pude levar algumas fotografias comigo quando voltei para Nagoya. Depois que o Hideo e o Masato viram as fotografias, me bolinaram, enfiaram suas cacetas na minha boca e no meu cu, e se satisfizeram com minha nudez até eu adormecer exausto e feliz, como há muito não me sentia. O cliente da agência aprovou meu rosto e eu fui mais duas vezes a Tóquio para completar as sessões de fotografias. A campanha publicitária fez muito mais sucesso do que o esperado e a senhora Aiko propôs que eu assinasse um contrato de exclusividade com a agência por um período de dois anos. Nem pude acreditar na reviravolta que minha vida estava sofrendo. Com o dinheiro do contrato dava para eu abandonar o trabalho na fábrica, mudar-me para Tóquio e manter-me sem precisar dividir um cubículo com outras três pessoas. À primeira campanha seguiram-se imediatamente outras, até que a filial de Zurique fosse contatada para me convocar para a temporada de moda europeia. Por um período de três meses no ano seguinte eu me mudei para Milão. Nesse período, participei dos desfiles da Fendi e Dolce&Gabana em Milão, Edward Crutchley em Londres, Hed Mayner, Louis Vuitton, Yohji Yamamoto e Thom Browne em Paris além de J.W.Anderson em Florença. Ao fim da temporada, eu colecionava uma infinidade de trabalhos, inclusive três capas de revista. Minha conta bancária estava recheada como eu jamais poderia supor. Quando a filial de Nova Iorque entrou na parada, minha carreira se consolidou de vez. Outras agências me assediaram, mas a senhora Aiko e o senhor Sasuke sempre souberam como superar esses assédios com propostas bem vantajosas. Acho que a senhora Aiko se tomou de amores por mim naquela noite dentro do trem-bala, e me tinha como um filho que nunca teve. Por outro lado, a agência deles também faturou muito com a minha imagem. Eu sabia que a carreira de modelo era tão fugaz quanto uma brisa numa tarde de verão. Com a providencial ajuda do senhor Sasuke, que me orientou nos investimentos, consegui amealhar um excelente pé-de-meia. Foram oito anos de uma parceria que modificou radicalmente a minha vida. E, um período no qual eu ajudava meus pais enviando mensalmente uma boa quantia para que eles também melhorassem de vida. Muito embora quase não me sobrasse tempo para cuidar das minhas coisas e dos contatos no Brasil, eu me ressenti quando as notícias começaram a ficar espaçadas e, mais ou menos um ano após minha chegada ao Japão, tivessem desaparecido completamente. O Jorge ficou me rogando pragas nos primeiros meses. Depois, ao saber que eu tinha começado a trabalhar como modelo, entrou numa espécie de idolatria e me pedia para contar como era a vida clamorosa que ele achava eu estava tendo. Mas, de repente, deixou de me enviar e-mails e me contar seus infortúnios. O Gustavo não me mandou mais do que meia dúzia de mensagens também logo no início. Fiquei sabendo que ele começou a namorar uma garota da faculdade por meio do Jorge e, não consegui deixar de sentir ciúmes, mesmo estando do outro lado do mundo. Foi como se uma nesga de esperança, do tamanho da chama de uma vela, que havia restado em meu peito, tivesse se apagado de vez. Minha mãe sempre foi lacônica em seus telefonemas enquanto eu morava com o tio Hiroshi. Quando soube que eu havia me mudado para Tóquio, dava um jeito de não atender as ligações ou mandava dizer que não estava em casa. Com o tempo, parei de insistir e não liguei mais, exceto para parabeniza-la em seus aniversários. Quando a secretária da senhora Aiko me entregou um envelope vindo do Brasil eu fiquei surpreso e curioso e, quando reconheci a letra do meu pai fiquei intrigado, pois ele não era dado a escrever cartas. Analisando a correspondência com mais cuidado, dei-me conta de que era bem a cara dele, avesso a tecnologia, jamais usaria a internet para falar comigo, então, valeu-se do arcaico serviço postal para me comunicar que havia se separado da minha mãe e que estava morando sozinho desde então. A princípio isso me doeu, mas alguns dias depois, eu encarei essa separação como uma libertação que meu pai devia estar procurando há tempos. Com um ano longe, as coisas no Brasil pareciam se transformar numa velocidade espantosa, enquanto eu sempre tinha achado que nada mudava na minha vida quando vivia aqui. Depois de oito anos, comecei a sentir uma necessidade crescente de voltar ao Brasil. Ficava entediado com os constantes voos de um continente a outro, da vida nômade que levava, da falta de pessoas com quem pudesse conversar sem que isso estivesse relacionado ao meu trabalho, e da falta que uma paixão e uma rola me preenchendo faziam. Não que eu tenha me tornado um celibatário nesse período todo, mas faltava sexo com amor, faltava aquilo que o Gustavo me dava em abundância. Depois que saí de Nagoya, do assédio dos meus primos, tive, muitas vezes, que me submeter a empresários, figurões e seus asseclas satisfazendo com meu corpo e meu cuzinho as mais pervertidas necessidades. Depois de mais de trinta e duas horas de voo, com uma escala em Dubai, o avião atravessou a camada de poluição que cobria a pista do aeroporto de Cumbica, num final de tarde de julho. Meu pai estava a minha espera. Ele havia engordado um pouco, mas continuava um homem muito bem apessoado. O sorriso que ele me lançou assim que me viu, era mais confiante e determinado. Abracei-o tão logo estava ao seu alcance. Não consegui segurar a emoção e deixei as lágrimas rolarem pelo rosto. Havia um brilho úmido no olhar dele também. - Você está lindo! Senti muito a sua falta. – disse ele, voltando a me apertar em seus braços. - Eu também papai! – balbuciei. Havia um quê de dèjá vu naquela cena, mas eu estava feliz demais por estar de volta para me lembrar de quando ela havia acontecido no passado. - Quer que eu o leve até a casa de sua mãe? – perguntou ele, com uma expressão que parecia implorar para eu dizer não. - Não. Quero conhecer sua casa nova. – respondi. Ele abriu um sorriso maravilhado. - Deixei um quarto reservado para você. Não sei se vai querer morar com um de nós, mas quero que saiba que ele sempre estará ali para quando você quiser. – afirmou. - Obrigado, pai! Não sei ainda o que vou fazer, mas vou adorar ficar com você. – respondi. O apartamento era muito bem localizado e ficava num condomínio cercado por uma linda área verde. Fiquei feliz por ele ter aplicado tão bem a grana que eu mandava para eles. O carro com o qual ele foi me buscar também era bem melhor do que aquele que ele tinha antes. Essa prosperidade me encheu de orgulho, cada minuto do sufoco pelo qual passei valeu a pena, pensei. No dia seguinte fui até a casa onde morávamos em Guarulhos rever a minha mãe. Levei um susto quando o taxi parou diante dela. Estava mais decrépita do que eu me lembrava. Quem veio abrir a porta foi a Gorete, a irmã do Jorge que ainda trabalhava com a minha mãe na barraca de pasteis. Ela tinha um ar de cansada, mas foi muito receptiva. Minha mãe estava na lida preparando os pasteis para o dia seguinte. - Oi mãe! Que saudades! – tive que lhe dar um abraço meio improvisado, pois ela não parou de fazer o que estava fazendo para me abraçar. - Oi! Cuidado para não se sujar nessa massa. – retribuiu, sem um sorriso sequer. - Como você está? Você gosta tanto do que faz que continua a vender pasteis na feira? – perguntei, pois a grana que eu lhe enviava dava para ela não trabalhar mais. - Você deve saber muito bem que dinheiro não cai do céu. Se quiser comer amanhã precisa trabalhar hoje, foi isso que eu tentei te ensinar. Não sei se aprendeu. – respondeu ela. Eu me perguntava de onde vinha tanta amargura. - Claro que sei, mãe! Eu trabalhei duro, por isso achei que você não precisava mais fazer todo esse esforço. Se você gosta tanto do que faz, por que não abre uma pastelaria aqui no bairro? Pelo menos não vai precisar madrugar, nem ficar a mercê das intempéries, e não vai precisar mudar de local todos os dias. – argumentei. - Eu já falei isso para ela, mas não consegui convencê-la. – disse a Gorete. - Eu faço uma ideia do quão duro você deve ter trabalhado para conseguir o dinheiro que mandou. Que esforço não deve ter feito para satisfazer as perversidades dos homens que te deram esse dinheiro. Mas, saiba de uma coisa, todo o dinheiro que você mandou está a sua disposição numa conta no banco. Eu não usei um único centavo desse dinheiro maldito. – retrucou ela. Eu chorei como poucas vezes tinha feito na vida. Fiquei ali parado, vendo a Gorete me encarar sem dizer uma palavra e minha mãe continuando calmamente a fazer seus pasteis. Nenhuma palavra tinha sido tão cruel como aquelas. - Você não pode estar falando sério. O que foi que eu fiz para você ter tanta raiva de mim, mãe? Você me mandou para o outro lado do mundo para se livrar de mim. Achou que seu irmão fosse me curar da minha homossexualidade, a grande vergonha de nossa família, não é? Sabe o que seus sobrinhos fizeram comigo? Você sabe mãe? Com a total cumplicidade do seu digníssimo e virtuoso irmão, eles me usaram como uma prostituta naquele cubículo promíscuo. Foram noites e noites servindo as taras daqueles machos se saciando nas minhas entranhas. Foi isso que você comigo! E, eu não sei se um dia vou poder te perdoar por isso. Você me afastou da única pessoa que me amou de verdade, para me transformar numa prostituta, num depravado como você se refere a mim. Foi isso que você conseguiu! – era a primeira vez que eu levantava a voz com ela. Foi quando eu decidi que nunca mais me deixaria mandar por alguém, não importando quem quer que fosse. - Venha comigo, vou fazer um café para você. Não dê importância ao que ela diz, com o tempo isso passa. – disse a Gorete, percebendo que eu havia entrado em estado de choque. - Eu nunca fiz algo do que devesse me envergonhar! Eu apenas segui minha natureza. Às vezes em que fui forçado a fazer o que não queria aconteceram em circunstâncias que fugiam ao meu controle. Esse dinheiro que enviei foi para melhorar as condições de vida dos meus pais, jamais foi um dinheiro maldito. – eu desabafava com a Gorete, enquanto ela procurava me acalmar. - Eu sei, eu sei. Mas, me conte como foi sua vida no Japão? O Jorge sempre ficava falando disso lá em casa. – disse ela, com um olhar triste no rosto. - Por que o Jorge parou de me mandar os e-mails? Sempre fomos tão amigos, ele podia não ser tão egoísta e me dar notícias. – questionei, sorvendo um gole do café fumegante que ela havia posto diante de mim. - Então você não está sabendo? – respondeu ela. - Sabendo do que? – indaguei. - Você sabe das tendências do Jorge. Ele sempre foi meio atrevido demais, o que irritava meus irmãos que, a todo custo, queriam que ele virasse homem. Bem, homem você sabe em que sentido. – eu confirmei com um acesso de cabeça. – Pois aquele jeito espalhafatoso dele custou-lhe a vida. – comunicou ela. - Como assim? Você está me dizendo que o Jorge... que o Jorge.... – eu não tinha coragem de pronunciar as palavras. - O Jorge morreu cerca de um ano após sua partida. Sabe essa comunidade que está aqui perto, na várzea, pois é, você deve se lembrar de dois negões que viviam mexendo com o Jorge. Eram dois primos que passavam pelo barzinho dos meus pais quando voltavam do serviço. Pedreiros, eu acho que eles eram pedreiros. O Jorge ficava revidando as provocações deles, com aquele jeito de vão ter que me engolir do jeito que eu sou. – eu voltei a concordar com um acesso da cabeça. Então, um dia eles o chamaram para um programa a três, ele aceitou achando que ia realizar uma de suas inúmeras fantasias. Eles o levaram até um barraco na favela e o estupraram. Mesmo experiente, ele não aguentou os dois fazendo, você sabe bem o que, na bunda dele. Quando terminaram, começou uma briga e eles o esfaquearam. Não chegou vivo ao pronto-socorro. Desde então, os dois negões estão foragidos da polícia. - Santo Deus, Gorete! Eu não consigo acreditar! – senti as lágrimas descendo pelas faces. – O Jorge não merecia isso. – emendei desolado. - É a vida! – disse ela, com aquele conformismo submisso. - E do Gustavo, aquele garoto que jogava bola aqui na rua, você tem notícias dele? – atrevi-me a perguntar, uma vez que minha condição era conhecida por ela. - Faz uns cinco anos que ele se casou com uma colega da faculdade. Ele costuma visitar os pais com a família. Tem um garotinho lindo de cabelos cacheados e uma menininha que parece uma boneca de tão linda. – disse ela. O que faltava para meu coração se despedaçar aconteceu naquele instante. - Ah! É? Que bom que arrumou uma garota que o ame. – fui tudo que consegui murmurar. - Bom mesmo! Ele merece, sempre foi um bom garoto. Acho que deve ser um pai coruja. – afirmou com um breve sorriso. - Só mais uma coisa Gorete, desculpe se a estou enchendo de perguntas. Há pouco, minha mãe disse que não usou nenhum centavo da grana que eu mandei, eu achei que meu pai tinha comprado o apartamento onde mora com essa grana. Você sabe me dizer se isso é verdade? – questionei curioso. - Que nada! Ele saiu daqui com uma mão na frente e outra atrás, como se diz. Eles tiveram uma briga feia uns meses depois que você viajou. Sua mãe o acusou de ter se deitado com você e ter contribuído para você se tornar um depravado. No dia seguinte ele saiu de casa com as roupas e o carro. Meses depois, soubemos que ele tinha aberto uma lanchonete e que estava se saindo muito bem. Não quero parecer ingrata e nem fofoqueira, mas acho que longe da sua mãe, seu pai acabou adquirindo confiança em si próprio, coisa que ela não o deixava sentir ao seu lado. E, a questão de um ano mais ou menos, eu soube pelos meus ais que ele tinha comprado um belo apartamento em Santana, eu acho. – eu recebia as informações embasbacado. Como tantas mudanças podiam acontecer nesses anos de ausência? Fiquei me questionando quando sai da casa da minha mãe. No inicio do semestre retomei a faculdade de arquitetura. Eu estava só como nunca tinha me sentido antes. Precisava encontrar uma razão para viver, precisava me sentir vivo outra vez. É isso que estou tentando fazer.
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Como sempre me surpreendeu, adorei a playlist eu tenho essas músicas,gostei de ele ter subido na vida é superando as diversidades culturais e da vida, triste pelo o amigo dele ter morrido é não ter ficado com o amor da vida dele ou não já que ele esqueceu ele é seguiu sua vida, acho que tu vai fazer uma continuação eu espero.
Parabéns pelo seu conto... Senti como um grande desabafo...confenco q em algumas partes fikei muito puto pelo q te aconteceu em questão do seus primos... Fikei feliz pela mudança na sua vida quando conheceu aquela senhora...dei muita risada pelas palavras do seu amigo Jorge (confesso q iria adora ter conhecido ele)e muito chocado pela morte dele...mas tenho certeza q VC vai se lembra dele pela alegria q ele deixou...parabéns de novo...grande abraço!!
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