Voltando às origens – Capítulo 11

   Alguns minutos depois pensei que se eu passasse a noite em um hotel seria melhor do que amolar qualquer outra pessoa. Mas a ideia não era tão agradável assim.
   Um pouco relutante decidi ligar para o professor Gabriel. Chamou várias vezes até cair na caixa postal. Fiquei aliviado por ele não ter atendido. Seria muito estranho pedir para passar a noite na casa dele, principalmente por ele ter confirmado que estava divorciando...
Concluí que não havia um parente sequer em Goiânia a quem eu pudesse recorrer. Nem mesmo meu tio Matheus, pois, provavelmente àquela altura, já sabia do que rolara na casa dos meus pais. E, com certeza, não me receberia na casa dele.
Estava realmente abandonado à própria sorte. O único que poderia me ajudar dentre meus parentes seria meu avô paterno, mas ele estava fora do país há meses.
   Depois de quebrar a cabeça pensando e pensando, e de quase decidido definitivamente pedir para mudar o curso para um hotel da cidade, resolvi ligar para Ramón. Era minha última opção. Se ele dissesse não, eu iria para um hotel.
Ele me atendeu no quarto toque.
   – Oi, quem fala?
   – Olá Ramón. Sou eu, Ricardo.
   – E aí cara. O que você manda?
   – Ramón... – eu ia chorar e segurei.
   – Ricardo? Tudo bem com você?
   – Não sei... Eu não sei.
   – O que aconteceu?
   – Ramón eu vou fazer uma pergunta direta, se sua resposta for não, tudo bem.
   – Pergunte cara.
   – Posso passar a noite na sua casa hoje?
   – Sim – ele respondeu sem titubear. – Mas, o que houve?
   Eu não queria falar nada por telefone, mas ele era minha última opção, decidi não ficar fazendo cerimônia e respondi:
   – Meu pai me expulsou de casa – e vi pelo canto do olho o taxista olhar para mim assustado. Mesmo assim, prossegui:
   – Eu liguei para várias pessoas que poderiam me acolher, e não tive sucesso. Alguns estão viajando, outros passando a noite com namorado, namorada...
   – Te expulsou de casa?
   – Pois é. Eu não ia te pedir isso. Nós mal conversamos no colégio. Aí pensei que talvez você poderia me ajudar hoje. Amanhã eu dou um jeito na minha vida e vejo o que faço... Nossa! Lembrei agora que você está em uma festa...
   – Relaxa Ricardo – disse me cortando. – Eu vou quebrar esse galho para você. A festa aqui nem está tão legal assim. Não consegui azarar nenhuma gatinha. Melhor eu ir embora mesmo antes que eu perca minha autoestima. Onde você está?
   – Dentro de um táxi.
   – Vai lá para casa. Anota o endereço aí que vou te passar e nos encontramos lá, tudo bem?
   – Tudo.
   Anotei o endereço e antes de encerrar a ligação agradeci.


   Minutos depois o taxista chegou ao destino. Pedi para ele aguardar até Ramón chegar. Quando vi o carro dele aparecer, paguei o valor total apresentado no taxímetro em dinheiro, peguei minha mala, meu skate e saí do táxi.
   Em seguida entrei no carro de Ramón com as minhas coisas, ele acionou o portão para abrir e entramos.
   Lá dentro, depois que saímos do carro e ele pode ver melhor o meu rosto com a claridade da garagem, exclamou:
   – Puta merda! Sua cara está inchada Ricardo. Que porrada feia você levou.
   Peguei meu celular, coloquei no modo câmera frontal para ver meu rosto e realmente era de se espantar. Havia um roxeado enorme no rumo em que levara o murro do meu pai. Para acompanhar, um corte no meu lábio inferior como consequência do murro.
   – Vem comigo para a cozinha que eu preparo uma compressa fria para aliviar isso aí.
   Eu ia dar um de orgulhoso e pedir para ele deixar para lá. Só que não era momento para manter meu orgulho. Então, aceitei a ajuda.
   Uma vez na cozinha, ele tirou cubos de gelo do freezer, enrolou em um pano de prato limpo, amarrou as pontas e trouxe até mim. Pediu para que eu sentasse em uma das cadeiras, puxou uma outra para si e sentou–se à minha frente.
   Com bastante cuidado ele aproximou a compressa ao meu rosto e pressionou levemente no local do inchaço. No início senti dor, mas foi aliviando com o passar dos segundos. Voltei meu olhar para baixo um pouco envergonhado por estar naquela situação com Ramón.
   – Não precisa ficar com vergonha de mim, Ricardo.
   – Desculpa, Ramón. Eu...
   – Xiiii. Fica quietinho que é melhor.
   Eu obedeci e soltei o ar, relaxando o corpo.
   Nesse momento senti outra vez vontade de chorar. Não queria chorar na frente de Ramón. Já bastava estar sendo cuidado daquela forma por ele. Chorar seria completar a sessão: vexame total.
   Ele tirou a compressa e disse:
   – Aguarda uns dois minutos mais ou menos e depois coloca outra vez. Eu vou pegar suas coisas e colocar para dentro.
   Tomei a compressa da mão dele, e falei:
   – Obrigado, Ramón.
   – Não por isso cara.
   Assim que ele se afastou senti meu celular vibrar. Tirei do bolso para ver o que era. Vi que recebi um torpedo. Acessei o ícone de mensagens e vi que era da parte do meu tio. Abri e comecei a ler:

“Oi Ricardo. Nunca tive a intenção de te machucar. Mas, precisei. Não espero que você me perdoe por ter contribuído para que aquele vídeo vazasse. Porém, sinto na obrigação de te falar que foi armado por sua mãe e seu irmão. Estava precisando de dinheiro, e eles me ofereceram um ótimo valor, e eu aceitei. Foi isso que aconteceu. Até algum dia.”

   Quando terminei de ler senti minhas lágrimas rolando pelo meu rosto. Eu não esperava nada daquilo da parte do meu tio. Fiquei completamente em choque, paralisado após ler toda a mensagem. Tão assombrado com aquela revelação que nem percebi Ramón voltar e se aproximar de mim e me perguntar:
   – O que aconteceu cara?
   – Eu... eu... – não conseguia responder à pergunta. Minha mente estava uma bagunça. Tudo o que eu mais queria era desaparecer.
   Levantei da cadeira e senti tontura. Parecia que eu ia desmaiar.
   Apoiei a mão livre na mesa e quando pensei que ia mesmo perder o equilíbrio e cair, Ramón foi mais rápido e me segurou.
   – Você não está bem Ricardo. Comeu alguma coisa depois que saiu daqui de casa mais cedo?
   – Não.
   Ele me colocou de volta na cadeira. Pegou um copo com água, adicionou açúcar, me entregou e disse:
   – Toma um pouco.
   Tomei.
   Em seguida ele me ofereceu um pedaço de bolo.
   – Coma. Eu vou ajeitar algo mais decente para jantarmos.
   – Não precisa Ramón, estou sem fome.
   – Sem essa Ricardo. Se você não comer eu vou te levar ao hospital.
   Peguei o pedaço de bolo e mordi um pedaço. Coloquei a compressa de volta na bochecha e tentei afastar da minha mente a mensagem que meu tio enviara.


   Alguns minutos depois, com as panelas no fogo e um cheiro delicioso dominando o ambiente, Ramón vira para mim e diz:
   – Vem comigo que vou te mostrar o banheiro para você tomar um banho enquanto eu termino o jantar.
   Levantei da cadeira e já estava me sentindo um pouco melhor, sem a sensação de tontura.
   O acompanhei até um cômodo da casa que parecia um quarto de hóspedes.
   – Você pode ficar por aqui. Tem um banheiro ali ao lado do guarda–roupa. Suas malas e o skate estão ali ao lado da cama.
   Eu virei para agradece–lo, mas ele havia voltado para a cozinha.
   Instantes depois, debaixo do chuveiro, eu chorei outra vez ao relembrar a mensagem que Manoel me enviara. Fui enganado e iludido por ele. Minha família toda estava contra mim, não me restara ninguém da parte deles para me consolar naquele momento. Até meu pai fora sugado por este vórtice que meu irmão criara.
   Reconhecia meu erro em ter ido para cama com meu próprio tio, contudo, a expulsão de casa da parte do meu pai, na minha opinião, foi exagerada. Ele podia no lugar ter me aplicado algum tipo de castigo menos severo do que uma expulsão.
   Eu não sabia exatamente o que fazer com tudo ruindo a minha volta. Entretanto, sabia que não poderia abusar da boa vontade de Ramón. E, que teria que dar um jeito de no dia seguinte me virar sozinho em outro lugar.
   – O jantar está pronto Ricardo – disse Ramón aparecendo a porta do quarto em que eu estava.
   – Já estou indo, obrigado – respondi enquanto terminava de me vestir.
   – Eu fiz uma macarronada com carne moída. Era o prato mais rápido, e também, o meu preferido – falou Ramón empolgado.
   – Eu gosto de macarrão – comentei, contente.
   – Ótimo.
   Enquanto jantávamos, mantive o silêncio, o único barulho era dos nossos talheres sobre os pratos.
   – Desculpa a curiosidade. O que aconteceu de fato com você para seu pai te expulsar de casa? – Ramón perguntou quebrando o silêncio.
   Pousei meu garfo no prato, e olhando para ele, respondi:
   – Vou ser sincero com você. Meu irmão mostrou um vídeo para os meus pais. Eu e um cara transando no meu quarto.
   – Por isso ele te expulsou de casa?
   Eu esperei que ele ficasse surpreso pela revelação a respeito da minha sexualidade, mas não.
   – Foi um pouco mais bizarro – falei.
   – Como assim?
   – Eu estava com um parente no meu quarto. Um parente por parte da minha mãe.
   Ramón fez uma cara de quem tinha entendido, e falou:
   – Imagino que sua mãe ficou chocada e alterada. Virou um alvoroço e no meio disso você levou esse soco na cara do seu pai ao tentar se justificar. Isso?
   – Sim, foi por aí – confirmei aliviado por não ter que revelar que fora com meu tio.
   Terminamos de jantar e Ramón não disse mais nada. Parecia refletir a respeito do que eu compartilhara.
   Ele fez questão de lavar os pratos sozinho e disse para eu ficar de boa.
   Peguei uma outra compressa de gelo que ele preparou para mim e coloquei no rosto por um instante. Ao tirar a compressa do rosto, Ramón me disse:
   – Você acha que seus pais vão te aceitar de volta?
   – Não tão cedo. Mas, pode ficar tranquilo. Eu vou dar um jeito. Amanhã vou para um hotel e na segunda vou procurar um lugar para morar de aluguel...
   – Não precisa Ricardo. Eu estou me imaginando no seu lugar e deve ser terrível. Se quiser, pode ficar por alguns dias aqui. Meus pais estão viajando mesmo. Sei que não nos conhecemos direito como você falou para mim na ligação. Porém, na situação em que você se encontra, não sendo prepotente nem nada, acredito que minha oferta é a melhor opção para você no momento.
   Eu não sabia onde enfiava minha cara. Da pessoa que eu menos esperava qualquer coisa, veio toda aquela preocupação. Em seguida, me lembrei da minha queda por ele e fiquei envergonhado novamente.
   – Eu não sei o que te dizer, Ramón.
   – Não precisa dizer nada. Pensa a respeito e amanhã você me diz alguma coisa. Se você aceitar, acredito que vai ser bacana para você e para mim. Iria gostar de ter uma companhia aqui esses dias.
   – Obrigado mesmo.
   – Meus pais não são muito presentes sabe? Eles trabalham bastante e eu acabo ficando mais tempo sozinho por aqui. Acho que entendo um pouco do que você está passando agora. Se aceitar ficar, vai ser legal. Só não vale dar em cima de mim – e riu.
   Olhei para ele e ri sentindo meu rosto corar outra vez.
   – Eu sei que você tem uma queda por mim, Ricardo.
   Ele havia notado então, ou estava lendo meus pensamentos.
   – Sou bastante observador. Andei percebendo algumas olhadas suas para mim no colégio e, quando você esteve aqui em casa mais cedo fazendo o trabalho de matemática. Diferente de outros caras por aí que curtem homens, você teve a educação e a decência de não dar em cima de mim durante todo esse tempo.
   – Juro que eu não esperava que você percebesse algum dia.
   – Pois é. Posso parecer bobo, mas não sou. Acho legal você ter esse respeito. Por isso acredito que não teremos problemas se você aceitar ficar por aqui alguns dias.
   Ia dizer obrigado outra vez, mas não consegui. Fiquei emocionado por ele não me rejeitar, e comecei a chorar. Ele enxugou as mãos em um pano de prato, se aproximou de mim, e me abraçou. Me assustei de início com o abraço, porém retribui. Senti que poderia estabelecer uma relação de amizade sadia com ele.
   Deixei minhas lágrimas rolarem livremente, e o poder daquele abraço me acalmar um pouco.
   – Se precisar de mim, estarei em meu quarto – disse Ramón após o abraço.
   – Valeu.


   Alguns minutos após Ramón se retirar da cozinha, eu fui para o quarto que ele me arrumara, tentar dormir. Virava para um lado e para o outro tentando afastar as memórias do que acontecera na casa dos meus pais. Mas, em vão. A cena se repetia várias vezes e me atormentava mais e mais.
   O pior era juntar as partes dos acontecimentos do antes e perceber o quanto fui idiota.
   O que eu estava fazendo de fato? Será que surtei depois de tudo e para fugir do surto me permiti ter relações sexuais com meu próprio tio? – Me questionei.
   Em algum momento da madrugada eu dormi, e acordei por volta das nove da manhã com meu celular tocando.
   – Oi – atendi com voz de sono.
   – Bom dia. Te acordei?
   – Sim. Quem está falando?
   – Aqui é o professor Gabriel.
   – Ah sim. Tudo bem?
   – Tudo. Você me ligou ontem. Eu dormi mais cedo, não vi sua chamada. O que você precisa?
   – Era uma dúvida sobre o Renascimento que vai cair na prova, mas já consegui resolver – menti.
   – Entendi. Bom se precisar de mim para qualquer outra coisa, só ligar.
   Qualquer coisa? Onde Gabriel queria chegar com aquela fala?
   – Obrigado professor. Até amanhã.
   – Até.
   Levantei da cama, deixei ela arrumada. Depois fui ao banheiro, fiz toda a higiene. Saí e fui até a cozinha.
   Pensei em acordar Ramón, mas não sabia se ele iria gostar disso. Então, comecei a preparar o café.
   Meu pai me havia ensinado quando eu tinha 14 anos. Eu não era exatamente um cozinheiro, mas sabia fazer algumas coisas que aprendi com meus pais.
   – Hmmm que cheiro bom! – Disse Ramón aparecendo na cozinha sem camisa e de bermuda. – Não precisava se incomodar em preparar café, Ricardo – e se aproximou de mim para examinar meu rosto.
   – É o mínimo que posso fazer em retribuição ao favor de me deixar passar a noite aqui – disse enquanto ele olhava atentamente meu rosto.
   – Pensou a respeito da proposta que lhe fiz?
   – Pensei sim. E, praticamente eu estou sem alternativas a não ser procurar um lugar para alugar. Acredito que não vou conseguir em menos de um dia.
   – Também acredito que não – comentou enquanto preparava uma nova compressa.
   – Só preciso saber com quanto preciso contribuir aqui se eu precisar ficar até seus pais voltarem ou antes disso. Não quero causar problemas.
   – Relaxa cara.
   – Mas, eu vou causar gastos com alimentação principalmente.
   – Já te disse ontem que aqui tem comida para passar o mês sozinho. Se eu precisar de alguma coisa eu te aviso – e me estendeu a compressa.
   – Tudo bem. Obrigado outra vez.
   – Não precisa agradecer. Agora deixa eu provar um pouco desse café para saber se você pode casar ou não – e deu um murro em meu ombro antes de pegar uma xícara no armário.
Sorri.


   Mais tarde naquele mesmo dia ajudei Ramón a preparar o almoço para nós dois, ficou uma delícia. Fizemos lasanha de frango e comemos com batata palha e suco de laranja.
   Uma hora mais ou menos depois que havíamos terminado de almoçar, resolvi pegar o skate para andar com a galera. Precisava desanuviar minha mente, esquecer um pouco os problemas.
   – Ei, Ricardo. Posso ir também? – Pediu Ramón assim que me viu prestes a sair.
   – Uai, pode. Você anda de skate?
   – Não tenho muito costume, mas acho que ainda lembro como se anda em um – e sorriu.
   – Bora então.
   – Vou pegar o meu lá no meu quarto e vamos.
   Minutos depois, Ramón e eu chegamos de carro no local. Descemos nossos skates e nos aproximamos do pessoal. Bruno assim que me viu, veio ao meu encontro.
   – E aí mano, na paz?
   – Sim. E você?
   – Também. Você parecia triste ontem ao telefone – disse me puxando para um canto mais afastado.
   – Nada demais. Problemas com a família.
   – Sei. Fiquei preocupado com você.
   – Pode ficar de boa Bruno.
   – Olha, independente da Andressa ter voltado, quero que saiba que minha consideração por você não mudou – e me encarou.
   – Eu agradeço por isso.
   – Ei, e esse olho? Quem te bateu?
   – Uma longa história. Depois te conto, pode ser?
   – Tudo bem. Vem cá mano – e me abraçou ali mesmo. – Me fala aí. Quem é aquele mano ruivo que veio com você hoje?
   – Um colega de sala do colégio.
   – Bacana. Vamos para a pista então?
   – Bora.
   Ficamos por ali umas três horas mais ou menos e Ramón enturmou–se rapidamente com a galera.
   Depois de um tempo o pessoal foi indo embora aos poucos, e assim que Bruno resolveu ir embora, Ramón e eu também decidimos ir.
   – Cara valeu por ter me feito conhecer a turma. Gostei – me disse Ramón.
   – Que bom. Eu curto me reunir com eles.
   – Estou com fome. Acho que queimei uma porrada de calorias.
   – E o que você está pensando em comer? – Perguntei.
   – Eu não sei. O que você sugere?
   – X-tudo com direito a refri.
   – Delícia. Quero dois para mim.
   – Dois?
   – Claro. Estou com muita fome mesmo.
   Passamos em uma lanchonete, pedimos para levar e fomos comer na casa dele.
   – Nada melhor do que comer no sossego de uma casa – pronunciou Ramón assim que sentamos na sala com nossos sandubas em um prato. – Vamos ver algum filme.
   – Vamos.
   Ele colocou um de terror muito bom. Fazia tempo que não via um bom filme de terror de dar sustos.
   – Adorei o filme – comentou Ramón após o filme.
   – Também gostei – falei.
   – Alguma notícia da sua família?
   – Nada. Ninguém entrou em contato comigo. Nem se importam se estou na rua ou na casa de alguém. Ou até mesmo morto – e omiti a mensagem que recebi da parte do meu tio.
   – Pisada cara.
   – Eu vou superar tudo isso.
   – Vai sim. E, o que precisar da minha parte, pode contar comigo.
   – Valeu.
   – Que isso cara. Éh nóis. Agora, o que acha de fazermos aquela revisão para as duas provas de amanhã?
   – Ótima ideia.
   Enquanto estudávamos, em momento e outro, eu me detinha a observar algum detalhe em Ramón. Aquele cabelo de fogo, as sardas, os olhos, os lábios, suas mãos...
   – Cara, cansei. Acho que vou dormir. Estou com muito sono – disse Ramón.
   – Vai lá. Até amanhã.
   – Até Ricardo – e passou a mão em meu cabelo bagunçando-o antes de ir para seu quarto.


   Naquela madrugada eu sonhei com Ramón. Sonhei que entrava no quarto dele e deitava ao seu lado. Ele despertava e sorria para mim com aquela cara mais lerda. Em seguida ele vinha para cima de mim e me beijava na boca, depois descia pelo meu pescoço, e com a língua ia até meu pau. Me chupava bastante até quase eu gozar. Depois voltava e chegando ao meu ouvido me pedia para come–lo. Eu ia dizer sim, mas despertei com um barulho.
   – Acorda Ricardo para não chegarmos atrasado – Era Ramón batendo a porta do quarto.
   Eu olhei para minha cueca e lá estava o meu pau duraço pelo efeito daquele sonho erótico. Tentei afastar o sonho da minha cabeça porque não podia ficar pensando daquele jeito em relação a Ramón. De certa forma estávamos estabelecendo uma relação de amizade, e seria bom se eu não contaminasse essa relação com pensamentos sexuais.
   Levantei, tomei um banho rápido, me arrumei e saí do quarto.
   – Obrigado por ter me acordado – disse assim que vi Ramón na cozinha. – Esqueci de colocar o celular para despertar.
   – De nada. Foi até legal te acordar. É bom ter companhia.
   – Concordo.
   – Tome um reforçado café da manhã para tirarmos boas notas nas provas.
   – Combinado – e sorri.
   – As provas poderiam ser as duas primeiras e não as duas últimas – comentou Ramón.
   – Pensei a mesma coisa.
   Enquanto bebericava meu café, fiquei pensando em meu pai. Por um lado, ele reagiu a armadilha imposta pelo meu irmão. Por outro, será que ele se arrependeu ou vai se arrepender em algum momento de ter me expulsado de casa?
   E o meu tio, eu confiei tanto nele e por causa de dinheiro ele traiu minha confiança. Isso tudo ainda me doía bastante.
   – Ei cara vai chorar mesmo?
   – Desculpa, Ramón. Estava pensando no meu pai – e enxuguei uma lágrima que estava escorrendo pelo meu rosto.
   – Torço para que ele volte atrás e se arrependa do que fez.
   – Tomara.
   – Vamos?
   – Sim.
   Entramos no carro e fomos para o colégio.

   – A viagem foi um arraso – disse Miranda no horário do intervalo entre as aulas daquela segunda–feira. – Mas aí, o que você queria falar comigo na noite de sábado?
   Eu refleti bastante entre contar e não contar a ela. Mas, Miranda era minha única amiga com quem eu realmente podia contar, e contar tudo. E foi o que fiz.
   – Estou sem palavras – foi a reação dela, após me ouvir.
   – Eu não escolhi isso. Eu sei que eu poderia não ter feito.
   – Seu próprio tio. Tudo bem que ele aparentemente é um gostosão. Mas Ricardo, seu tio!
   – Você está me julgando Miranda?
   – Talvez. Acho que você foi tão sujo quanto seu irmão.
   Aquelas palavras me deixaram em choque. Minha melhor amiga me apontando o dedo daquele jeito e ainda me comparando com meu irmão.
   Eu pensei em dizer alguma coisa de volta. Mas, não faria sentido. Esperei por alguns segundos que ela pedisse desculpas pelo que havia acabado de dizer, mas não o fez. Decidi que não ia chorar na frente dela. Então, levantei da cadeira da lanchonete em que eu estava e voltei para a sala arrasado.


   Fiz a prova de inglês e depois a de Matemática o mais rápido que pude e saí da sala. Fui caminhando rumo a quadra de esportes que estava vazia aquela manhã quando o professor Gabriel me interceptou.
   – Bom dia Ricardo.
   – Bom dia.
   – Posso falar com você um instante?
   – Agora?
   – Se puder.
   – Pode ser.
   – Preciso falar com você pessoalmente para não precisar ir para a diretoria.
   Meu estômago gelou.
   Temia que alguém da minha família tivesse falado algo ao meu respeito para algum professor ou qualquer outro funcionário do colégio.
   – Sobre o quê? – Perguntei receoso.
   – Sobre a queda do seu desempenho escolar. Estava preocupado que fosse apenas nas minhas aulas. Porém, os demais professores tocaram no seu nome em nossa última reunião.
   – Isso quer dizer que vão notificar meus pais?
   – Provavelmente sim.
   Eu abaixei a cabeça preocupado. Queria me desligar de todos aqueles problemas, que nem um corte de sinal definitivo em uma rede. No entanto, era nítido que teria que enfrentar consequência por consequência, até corrigir o curso dos meus atos.
   – Obrigado por avisar.
   – Eu não vim apenas avisar. Realmente estou preocupado com você. Pode parecer besteira, todavia acredito que sua ligação para mim no último sábado não foi para tirar dúvida sobre a matéria da prova.
   – Com que base está deduzindo isso professor?
   – No seu comportamento no colégio e em sala de aula. Algo aconteceu e tirou você do seu eixo. Posso não ter filhos e tudo mais, porém consigo perceber essas mudanças em adolescentes.
   – É a fase da adolescência. Normal.
   – Você ligou para mim Ricardo. Não é apenas uma fase. Está obvio na sua cara que não é isso. Pode parecer estranho, contudo, gostaria de poder ser útil.
   – Tem vários outros alunos aqui no colégio com problemas piores do que os meus. Não faz sentido você se preocupar justamente comigo. Eu não preciso da sua ajuda, posso me virar sozinho.
   Eu não queria ter dito aquelas palavras a ele daquele jeito, mas estava magoado com Miranda e a insistência dele já estava me irritando. Poderia ter simplesmente pedido para me deixar sozinho.
   Gabriel me lançou um olhar de reprovação e me deu as costas.
   Mais rápido do que eu podia, entrei para a quadra e fui para um canto escondido chorar.
--------------------------------------------------
Olá pessoal!
Obrigado por acompanharem essa história. Cada comentário e voto que deixam me deixa mais animado em continuar.
Continuem deixando seus comentários, eu leio todos e respondo na medida do possível.
Abraço a todos!!!


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Comentários


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anjogabriel Comentou em 29/07/2018

nossa nesse relato chorei

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carlosevero Comentou em 23/02/2018

Boa Tarde. Está cada dia melhor o desenrolar do conto. Continue . Atenciosamente Carlos .

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euron Comentou em 22/02/2018

continua , adorando

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fielleitor Comentou em 22/02/2018

mae*

foto perfil usuario fielleitor

fielleitor Comentou em 22/02/2018

Nossa que mal vagabunda, e irmao pior assim, nem precisa de inimigos.... To viciado, pelo amor de DEUS nao demora pra postar mais !




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Ficha do conto

Foto Perfil betoson
betoson

Nome do conto:
Voltando às origens – Capítulo 11

Codigo do conto:
113536

Categoria:
Incesto

Data da Publicação:
22/02/2018

Quant.de Votos:
4

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