Do jeito que o diabo gosta - A reconciliação

Do jeito que o diabo gosta – A reconciliação
A saúde de Madame Jeanine já não era a mesma quando entrou na casa dos sessenta. Sua voz grave e rouca, que nunca combinou com seu jeito franzino, começou a dar lugar a uma tosse seca e persistente. O diagnóstico de um câncer na laringe derrubou o astral do salão. Antes de se afastar para o tratamento ela me colocou como encarregado do negócio. A cirurgia, as torturantes e nauseantes sessões de quimioterapia que se seguiram trouxeram uma esperança que durou pouco mais de um ano. Debilitada e começando a se desapegar desse mundo, ela quis que eu ficasse com o salão. Disse que era um presente que ela deixava para o filho que nunca conseguiu ter. Despedir-me dela na beira do túmulo foi a coisa mais dolorosa que já tinha feito na vida. Jamais imaginei que um coração pudesse doer tanto. Essa mulher havia me dedicado mais carinho e, feito mais por mim do que a minha própria mãe.
No mesmo ano, numa das cartas do Edivan, fiquei sabendo que ele ia se casar. A cerimônia tinha até data marcada. Não consegui deixar de pensar a quanto tempo ele não devia estar namorando sem me dizer nada. Nenhuma atitude dele era precipitada ou afoita, não teria sido diferente nesse caso. Ele precisava de muito tempo para se resolver, portanto, esse namoro era coisa antiga. Ele queria que eu estivesse presente. Fez o pedido com aquele seu jeito cheio de rodeios, até que finalmente conseguiu formular e botar no papel a frase que encerrava o convite. Precisei rir de suas palavras, ele continuava a cuidar de mim, mesmo depois de todos esses anos. Era uma maneira peculiar de cuidar, mas era um cuidado, sem dúvida. Amei-o por isso. Confessei esse amor ao Saulo quando terminamos de ler a carta juntos. Ele fez uma careta, só para me lembrar de que era ciumento.
- Lá nessa tal de Glaucilândia não tem celular? Convenhamos que ninguém mais escreve cartas hoje em dia. Em que século seu irmão vive? – questionou o Saulo.
- Faço questão que você conheça o Edivan. Ele é único! Hoje consigo perceber como seu mundo é pequeno, mas ele é feliz dessa maneira. Eu nunca soube qual é a exata dimensão da dor que traz em seu coração, desde que perdeu a mãe prematuramente. Mesmo assim, seu coração é enorme e generoso. Eu sentia isso toda vez que nos amávamos. E, acho que, mesmo sem o saber, eu preenchia essa carência dele, de alguma forma. – respondi pensativo e saudosista.
- Tá bom! Chega de falar de Edivan. Ele que seja feliz com a futura esposa e que se esqueça de você. E, o senhor, é bom deixar esse passado enterrado lá na tal da Glaucilândia. Teu coração e essa delícia aqui são meus agora. – disse enciumado, dando um beliscão na minha bunda.
- Deixa de ser tonto! Você sabe que sou todo seu, que raio de ciúme é esse? – resmunguei. Mesmo assim, cobri sua boca com um beijo fervoroso. Isso tinha o poder de desanuviar seus pensamentos.
O Juvenal e a Lucinda foram conosco ao casamento do Edivan. A noiva era uma moça de fora da região, nunca a tinha visto. Ela era graciosa e delicada. Perguntei-me se teria o furor necessário nas entranhas para dar ao Edivan tudo o que ele merecia. Eu estava com ciúmes.
Meu pai me ignorou nos três dias que passamos na cidade. Ao ver-me com o Saulo resmungou que não ousasse pisar em sua casa. Minha mãe condescendeu. O abraço que quis dar nela foi recusado em troca de um simples aperto de mãos. Meus olhos marejados não conseguiram perfurar a blindagem que ela havia imposto ao seu coração. O Saulo acabou simpatizando com o Edivan, enchi-me alegria quando os vi conversando como se fossem velhos amigos. Eram os dois únicos homens que eu amava na vida.
Antes do final daquele ano recebi uma ligação no celular, uma novidade que surgiu depois do casamento, era o Edivan comunicando que nosso pai estava nas últimas. O Saulo ofereceu-se para me acompanhar, mas eu não quis ir. Nunca tivemos muito a conversar e, não seria agora que isso ia mudar. A hipocrisia nunca fez parte da minha personalidade. Ao me expulsar de casa meu pai tinha deixado clara sua opinião, um filho não vale mais do que aquilo que os outros vão pensar de sua honra. A partida física dele desse mundo era uma mera formalidade, para mim ele morreu no dia em que tive que deixar tudo para trás, aos dezoito anos e, com o coração despedaçado, enfrentar um mundo desconhecido que me apavorava. Encolhi-me nos braços do Saulo, ele me apertou contra o peito e ficou mergulhado comigo no silêncio. Naquela noite fizemos amor tão demorada e carinhosamente, até meu cuzinho arder como se lhe tivessem enfiado uma brasa. Ouvir a respiração profunda e tranquila do Saulo aconchegado às minhas costas e abraçando meu tronco, enquanto sua jeba amolecida ainda estava dentro de mim, era a prova de que eu tinha trilhado o caminho certo. Amar e ser amado por um homem era a minha essência, um destino que não escolhi por opção, algo que me foi dado por concessão divina, eu só precisava saber conviver com essa natureza.
O salão estava a exigir de mim mais do que minha capacidade podia dar. A clientela aumentava mês a mês, precisei contratar mais um cabelereiro e duas manicures, mas o que me incomodava era um sentimento de caos reinante. Faltava-me capacidade para gerir o negócio em expansão. Conversei com o Saulo a respeito das minhas inquietações, porém ele tinha uma espécie de aversão a tudo que se referia ao salão. Eu sabia que isso vinha de suas convicções machistas, pois o que ele queria era que eu parasse de trabalhar. Ele sempre argumentava que estava ganhando bem na sociedade com o Juvenal e não via motivo para eu também trabalhar. No fundo ele queria o que todo macho quer, alguém submisso e dependente. Isso, eu tinha deixado claro, ele não teria comigo. Quando fui prestar vestibular para ingressar numa faculdade de administração, ele torceu o nariz, alegando que era um desperdício de energias e, que eu não lhe daria toda a atenção de que precisava.
- Que carência toda é essa, assim tão de repente? – questionei, ao expor meus planos.
- Você vai estar tão ocupado que eu vou ficar esquecido. – resmungou num muxoxo.
- Seja sincero. Está te faltando carinho, amor, atenção? Alguma vez eu te deixei na mão quando esse pirocão, que sempre está cheio de tesão, me procura como se fosse leão faminto atrás da caça? – perguntei, enquanto brincava com os pelos do peito dele entre meus dedos.
- Não! Mas você sabe que eu não gosto quando você fica circulando por aí sem mim. – rosnou, ciente de que estava se comportando como uma criança birrenta que, no entanto, estava cercada de um amor verdadeiro e infinito.
- Eu te amo, seu bobão! Não há nada que eu mais adore do que chegar em casa no final de um dia de trabalho e preparar nossa janta; mesmo quando você fica zanzando a minha volta como um zangão se esfregando em mim com essa pica gulosa, para depois ficarmos abraçadinhos no sofá assistindo qualquer bobagem na televisão ou, agarradinhos na cama jogando conversa fora antes de fazermos amor. – declarei. Ele riu e foi empurrando lentamente minha mão do peito para a ereção que se formou dentro da calça. Era um safado, cuja maior certeza de sua vida era minha paixão incondicional a ele.
Os sábados eram os dias mais agitados no salão. Eu sempre chegava tarde em casa e estava exausto. Com as aulas na faculdade, parecia que meu dia não tinha 24 horas, sempre faltavam horas para todas as tarefas. Mesmo assim, não descuidei do Saulo. Ele sempre foi minha prioridade vital e absoluta. Contudo, comecei a reparar numa mudança em seu comportamento. Um sexto sentido me dizia que por aquela cabeça estavam passando pensamentos pouco ortodoxos. Talvez ele não estivesse fazendo nada de censurável, porém, a semente de uma transgressão estava lá, pronta para germinar.
Fazia tempo que eu precisava comprar algumas peças de roupa, vinha adiando por falta de tempo para correr atrás. Eu estava tão enfadado com o salão que, em pleno sábado à tarde, resolvi deixar tudo nas mãos do pessoal e dar uma escapulida até um shopping a caminho de casa. Tinha planejado surpreender o Saulo com minha chegada antecipada e dedicar toda a noite a cobri-lo de carícias. Aproveitei para comprar uma camisa para ele e, chegar com o presente para iniciar uma noitada voluptuosa. No entanto, o surpreendido fui eu. Num corredor menos movimentado do shopping, vi o Saulo trocando selinhos com uma garota enfiada num jeans justíssimo marcado pelas costuras da calcinha que estava por debaixo. Por uns instantes, tudo ficou escuro diante dos meus olhos, o chão parecia mover-se como se fosse uma borracha mole, eu não conseguia respirar. Trombei com um casal que vinha em sentido contrário e o ombro do homem com o qual me choquei quase me levou ao chão. Ele se desculpou e procurou me amparar antes que a queda fosse inevitável. Eu apenas balbuciei algo confuso em resposta, antes de ouvir a pergunta da mulher querendo saber se eu estava me sentindo bem. Nem sei o que respondi. Meu olhar estava voltado para o fim do corredor onde agora o Saulo e a garota trocavam um beijo vulgar. Não me lembro de como cheguei em casa, só que chorava de soluçar enquanto dirigia.
Esperei por horas até o Saulo entrar na garagem. Havia uma dor generalizada espalhada pelo meu corpo, porém, uma infinitamente maior estava oprimindo meu peito. Ele ficou surpreso ao ver-me largado sobre o sofá, cercado de pacotes.
- Já em casa? Que surpresa boa é essa? O que são todos esses pacotes? – ele estava tão descontraído que mal deu importância ao meu semblante carregado quando deu um beijo no meu rosto. Um perfume doce e enjoativo estava impregnado nele.
- Resolvi sair mais cedo e fazer umas compras no shopping, até trouxe isso para você. – exclamei, procurando engolir o nó que subia pela minha garganta e ser o mais impassível possível.
- Ah! Em que shopping você foi? – rugas de preocupação se formaram em sua testa, enquanto ele desembrulhava o pacote que lhe estendi. Ele não conseguiu me encarar.
- No mesmo onde você estava há algumas horas atrás se beijando com uma vadia! – exclamei. Minhas palavras soaram claras por toda a sala, contundentes como a ação de um punhal.
- Não tire conclusões precipitadas! – ele gaguejou e quis me tocar, eu empurrei suas mãos com força. – É só uma amiga. – mentiu, sem convicção.
- Não seja ridículo, Saulo! Vocês sempre querem ser os machões, os que determinam, os que mandam, fazem e acontecem, mas quando são flagrados se comportam como crianças que negam as evidências. Poupe-me de mentiras. Eu vi e sei muito bem o que vi. – retruquei. Por incrível que pudesse parecer, eu repentinamente estava muito calmo.
- Ela é só uma distração. Quero dizer, foi uma distração. Eu juro, nunca mais vou encontra-la, prometo. – gaguejou, mais perturbado a cada minuto.
- É engraçado! Qualquer coisinha você expõem seu ciúmes. Fica me aporrinhando assim que outro homem se aproxima de mim. Para onde foi esse ciúme todo? No seu pensamento todos são tão sacanas quanto você, por isso o ciúme! No entanto, quem é o malandro que sai por aí comendo a primeira vaca que lhe oferece a buceta? Que cuidado todo é esse que você diz ter comigo se, na primeira oportunidade, você enfia esse pinto em qualquer bueiro e, depois, vem me penetrar sem o menor cuidado? O que você quer com isso, que eu pegue uma doença que essas vadias carregam nas xanas? Eu te odeio, Saulo! – o nó na garganta explodiu num choro convulsivo. Ele não sabia o que fazer, quis me tocar, mas segurou o impulso, sabia que seria rechaçado.
- Não sei que bobeira que me deu! Eu sei que fiz cagada. Não fique assim. Me perdoe? Eu juro que não vai acontecer nunca mais. – a voz dele nunca esteve tão insegura e débil.
- Você tem razão, não vai acontecer mais mesmo. – respondi, engolindo o choro e voltando a mostrar uma firmeza inquebrantável. Caminhei em direção ao quarto e tranquei a porta. Ele a esmurrou algumas vezes querendo conversar. Desistiu quando percebeu que eu estava irredutível.
Saí do quarto com umas malas e juntei uma ou outra coisa pelo resto da casa. Ele quis me impedir, mas temeu piorar o que já estava ruim. Ele veio até a garagem e, com as mãos cruzadas sobre a cabeça, me viu partir.
Meu único refúgio era a casa do Juvenal e da Lucinda. Eles deduziram tudo quando me viram chegar pouco antes da meia-noite com o porta-malas do carro abarrotado, e os olhos inchados de tanto chorar. Enquanto narrava os fatos, percebi pelas feições do Juvenal que ele tinha conhecimento da perversão do Saulo. Os dois me acolheram mais uma vez com todo carinho e afeição. Disseram para eu ficar com eles até tudo se arranjar.
- Nada vai se arranjar, Juvenal! O Saulo não podia ter feito o que fez comigo. Eu nunca deixei de amá-lo um segundo sequer depois que nos conhecemos. Vocês dois são prova disso. – sentenciei.
- Ele também te ama. O diabo são as tentações. Macho não é feito mulher que resiste bravamente. Nem macho e nem os gays. Você me desculpe o que vou dizer, ainda mais nessa hora que você está tão perturbado, mas veado também não prima pela fidelidade. Basta encontrar um caralho maior que já senta o cu em cima. – afirmou, tentando justificar a atitude do Saulo.
- De onde vem essa convicção toda? – questionou a Lucinda, encarando o Juvenal com a pulga atrás da orelha. – O que você sabe sobre como os gays se comportam? Homem, você que não me venha com esquisitices! – ameaçou.
- É a vida. Não preciso ter vivido nada disso, mas sei como são as coisas. – retrucou o Juvenal
- Pode até ser, Juvenal. Mas, eu nunca fui assim e o Saulo sabe disso. Eu vivo só para ele! Eu não mereço o que ele fez. – balbuciei. Eu estava arrasado.
- Deixe a raiva passar, depois vocês conversam. – disse o Juvenal.
- Não fique pondo panos quentes, Juvenal. O que o Saulo fez não tem perdão! Deixe que o Luis Paulo decida por conta própria o que fazer. – censurou a Lucinda.
Não conversei com o Saulo quando ele apareceu no dia seguinte com a maior cara de bunda. Fiz o mesmo quando foi ao salão e mais uma dúzia de vezes. Apenas mergulhei no trabalho, na conclusão do curso de administração e, numa solidão imensa. De uma hora para a outra, tudo tinha voltado ao tempo em que eu havia recém chegado a São Paulo. Eu estava morando com o Juvenal e a Lucinda, que venderam a casinha em Itaquera e foram morar na zona sul da cidade numa casa maior. O Saulo aparecia nos finais de semana, ficava conversando com o Juvenal enquanto tomavam umas cervejas, ficava para um churrasco, trocava algumas palavras comigo e, ia embora, no final da noite, tão desesperançado quanto estava ao chegar, na tentativa de uma reconciliação que não acontecia como ele havia planejado.
- Vou esperar uma eternidade se for preciso, mas preciso do seu perdão. Preciso de você de volta na nossa casa, preciso de você na minha vida. – disse ele na frente dos dois, cerca de três anos depois, ao despedir-se de mim, após ter passado o domingo todo conosco. Ele tinha superado todos seus pudores, tinha chorado diante deles sem se importar com o vexame, tinha implorado para que o ajudassem a me reconquistar.
- Você nunca mais foi o mesmo depois de deixar o Saulo. Ele está arrependido, o Juvenal garante que ele mudou, diz que está mais celibatário que um padre. Porque você não tenta dar uma chance para ele? – perguntou a Lucinda, depois que o Saulo partiu.
- Quem me garante que não vai acontecer de novo? O Juvenal não afirmou que macho não resiste a tentações? O que eu vou fazer quando vier a próxima tentação? O que eu vou fazer se pegar uma doença que ele enfiou em mim por conta de meter aquele troço em qualquer buraco? A raiva já passou, eu continuo amando o Saulo, mas eu não confio mais nele. Que tipo de vida a gente consegue levar assim? – questionei.
- Nós não vivemos de certezas, meu querido! Talvez sejam as incertezas que tornam essa vida interessante. Não deixe de viver esse amor lindo que vocês sentem um pelo outro. É tão raro um caso como o de vocês dar certo. Não desperdice a chance de ser feliz. – argumentou ela.
- Você disse bem, o nosso caso também não deu certo. – retruquei.
- Deu sim! Vocês dois se amam e sempre vão se amar, mesmo que vivam como estão vivendo agora. Para que deixar a vida passar sem ficarem juntos? – ela estava se mostrando um cupido determinado.
- Eu não duvido do amor do Saulo, acontece que ele sempre esteve em cima do muro quanto a encarar uma relação comigo. Tudo seria mais fácil se eu fosse mulher. Mas, não sou e, aí está o grande entrave. O Saulo é um cara que sempre vai ser atraído por mulheres. É da natureza dele. – afirmei.
- Você está se subestimando! Ele é homem, sempre espichar o olho atrás de um rabo de saia, mas amor sincero e verdadeiro ele aprendeu a sentir por você. Pode ter sido a duras penas, porém ele já se deu conta disso faz tempo. – assegurou.
A chuva caia forte desde o meio da tarde, tinha se intensificado quando saí do salão pouco depois das sete da noite. Havia pontos de alagamento nas marginais do rio Pinheiros, o que formava engarrafamentos seguidos no trânsito daquela noite de março. Eu dirigia com a atenção redobrada, mal enxergando o que vinha pela frente, uma vez que os limpadores do parabrisa não davam conta de remover a água que se acumulava sobre ele, jogada pelo vento. De repente, o baque surdo empurrou o carro parado contra a traseira do da frente. Uma carreta estava entrando pelo vidro traseiro quando olhei no retrovisor. Eu vi a cabine se encolhendo como se fosse uma sanfona. O airbag estourou na minha cara e não vi mais nada. Quando voltei a abrir os olhos, os pingos da chuva atingiam meu rosto. O teto de carro não existia mais. Vozes alteradas se agitavam à minha volta. Ele está consciente, ele está consciente, disse alguém bem junto a mim. Tentei me mover, mas por alguma razão não havia espaço. Alguém segurou meus braços tentando me conter. Precisei fechar os olhos por que uma luz intensa ofuscou minha visão. Uma máquina foi acionada, talvez uma serra, o barulho era ensurdecedor e estava colado a mim. Meu pescoço não se movia, estava preso a alguma coisa, por isso não consegui confirmar se era mesmo uma serra que estava fazendo aquele barulho do meu lado. As vozes ficaram mais alteradas, pareciam gritos. Meu corpo começou a se mover como um todo, não era eu quem estava fazendo os movimentos. Comecei a sentir que estavam me içando. Uma pontada nas ancas me fez gritar. A impressão que eu tinha era a de que meu corpo estava dividido em duas partes, o tronco e da cintura para baixo. Quando notei que estava na posição horizontal, minha boca foi aberta à força, um tubo penetrou minha garganta e tudo voltou a ficar escuro.
Abri meus olhos numa penumbra tranquila e quentinha. À exceção de uns bipes tudo estava mergulhado no silêncio. Eu quis mover o dedão do pé direito, parecia que alguma coisa estava preso nele. A dor foi insuportável, soltei um gemido que ecoou pelo ar, ela subiu até os meus quadris, rápida como um raio. Só então, percebi que alguém estava próximo a mim. Aos poucos, a imagem borrada foi tomando forma. Era o Saulo. A barba estava crescida, os cabelos desgrenhados e o olhar cercado por olheiras, mas havia um sorriso débil em seu rosto.
- Oi amor! Não, não tente se mexer. – sua voz soava em meus ouvidos como se fosse canalizada dentro de um tubo e ecoasse durante o percurso. Movi os lábios, porém as palavras não saíram. – Você precisou fazer uma cirurgia de emergência três dias atrás. Ainda está muito fraco e não deve se agitar. – emendou preocupado, antes de estender o braço em direção a um painel e comprimir um botão que acrescentou mais um bipe aos que já havia.
Uma enfermeira se aproximou e me encarou, depois mexeu no meu braço esquerdo por um tempo. Em seguida, senti uma onda morna subindo pelas veias do braço, a imagem do Saulo e dela foram se diluindo até tudo voltar à escuridão. Quando a mesma cena se repetiu novamente, pensei que estava sonhando, mas desta vez era um homem que estava ao lado do Saulo. Ele sorriu e eu tentei retribuir. Não sei se consegui, pois minha boca estava dura.
- Como está se sentindo Luis Paulo? – perguntou o homem. Era um médico, agora que identifiquei que usava um jaleco branco.
- Sinto muita dor nos quadris. – balbuciei. O esforço para articular essas poucas palavras precisou ser imenso.
- Você fraturou a bacia em três pontos distintos no acidente. Precisamos fazer uma cirurgia, mas em alguns dias você vai se sentir melhor. – sua voz firme e tranquila me reconfortou. Que acidente? Perguntei a mim mesmo. Aquilo não era a casa do Juvenal e da Lucinda, era um hospital.
- Quando o senhor acha que ele vai poder ficar sentado ou, começar a andar? – perguntou a voz indefectível do Saulo.
- Talvez daqui a dois ou três dias. Ele é jovem, a recuperação será rápida. – garantiu o médico, que segurava minha mão e sorria na minha direção.
Fui despertando aos poucos, depois da visita do médico. Tudo começava a tomar forma ao meu redor. Eu já ouvia as vozes sem nenhum eco, sonoras e claras. Meus olhos habituaram-se à luz, ela vinha de uma janela, onde o céu azul e algumas nuvens se movendo lentamente pareciam estar emoldurados. O Saulo sentou-se na beira da cama e pegou minha mão. Fixou seus olhos castanhos nos meus e chorou. Chorou sem proferir uma única palavra, apenas chorou.
- Você está horrível! – exclamei com a voz tênue.
- Eu sei. Eu sou horrível! – disse ele, tentando parar de chorar.
- Você é o homem horrível mais lindo que eu conheço! – balbuciei, escalando minha mão naquele braço musculoso. Ele riu no meio do choro.
- Quando cheguei ao local do acidente e vi seu carro, pensei que nunca mais ia ter você em meus braços. – disse soluçando.
- Eu não ia entregar você assim de bandeja para a mulherada. – afirmei. Ele riu de novo.
- Eu amo você mais do que tudo nessa vida! Não sei viver sem você. – garantiu. – Eu morreria sem você! Prometa que nunca vai me abandonar.
- Nem que eu o quisesse! Você é tão parte de mim quanto esse braço. – respondi. Ele se inclinou sobre mim e me beijou. Um beijo trêmulo, pois ele recomeçou a chorar. Mas, o beijo mais doce e carinhoso que eu já havia recebido.
Foram dois longos e tenebrosos meses até eu conseguir andar normalmente outra vez, sem o auxílio das muletas. As sessões de fisioterapia tornaram-se um tédio. Minhas pernas tinham se atrofiado e logo se cansavam de carregar o restante do corpo. Eu não via a hora de poder voltar às minhas atividades. O Saulo contestava o médico, achava minha liberação precipitada, tinha dúvidas se não haveria problemas.
- Doutor, dar alta para ele é o mesmo que dizer que ele está liberado para escalar o Everest. Não há quem o segure. Não seria melhor mantê-lo por mais umas semanas em casa? – dizia o Saulo afobado.
- Não vejo motivo para isso. É claro que não deve haver abusos, mas, aos poucos, pode ir retomando sua rotina. – assegurou o médico, na última consulta de controle pós-operatório em seu consultório.
- Está vendo? Eu disse que estou me sentindo recuperado e, ansioso para voltar ao trabalho. – afirmei, dirigindo-me ao Saulo. Ele me encarou contrariado.
Do jeito que as coisas estavam ele se sentia dono da situação. Por dois meses ele determinava tudo, até o melhor lugar para eu ficar sentado. Carregava-me no colo de um cômodo para outro da casa e, me mantinha tão dependente dele quanto possível. Apesar de saber que eu estava padecendo com aquela recuperação, ele estava feliz como nunca, pois eu estava em casa novamente. Deitado todas as noites ao seu lado, onde bastava ele esticar o braço e sentir meu corpo. Foi um custo convencê-lo a me deixar dirigir até o trabalho. Um novo negócio o impediu de me levar todos os dias. Deu-me mais recomendações do que uma mãe daria a um filho pequeno se ausentando de casa pela primeira vez, explicando detalhadamente cada pormenor do novo carro que havia comprado enquanto eu me recuperava, pois o antigo tinha virado sucata.
- Graças a Deus, amanhã tenho a última fisioterapia. Estou louco para me livrar desse compromisso. – comentei com o Saulo, enquanto trocava de roupa para dormir. Ele já estava recostado na cabeceira da cama com aquela mão enfiada na cueca de seda mexendo na rola, um hábito que se repetia enquanto assistia a uma partida de futebol, quando via um programa sem interesse ou, quando estava louco para transar.
- Nem esses dois meses praticamente acamado diminuíram essa bundinha carnuda. As coxas ficaram mais finas, mas a bunda continua do jeito que o diabo gosta! – exclamou, com uma cara safada que não perdia um único movimento meu.
- Nem vem com esse olho de peixe morto por cima de mim. Estou convalescendo! – afirmei, embora meu cuzinho estivesse afoito e atiçado há semanas, querendo sentir seu macho dentro dele.
- O médico foi claro, você pode voltar a sua rotina normal. Lembra disso? – questionou malicioso.
- A rotina a que ele se referiu não mencionava sacanagens. – retruquei, procurando imprimir seriedade às minhas palavras.
- Engano seu. Lembra-se de que fui conversar com ele, enquanto você se vestia após o exame? Adivinhe o que foi que eu perguntei a ele? – um olhar aquilino e descarado iluminava seu rosto.
- Você só pode estar brincando. Não acredito que você teve a coragem de fazer uma pergunta dessas. – respondi, sem nenhuma certeza de que ele estava falando a verdade.
- Ele me garantiu que eu podia mandar ver! – afirmou rindo.
Desisti de vestir o pijama, ele não ia ficar sobre o meu corpo por muito tempo mesmo. O Saulo me puxou para dentro da cama antes mesmo de eu me aproximar dele. Rolou para cima de mim e começou a me beijar. Eu sentia tanta falta daquela língua sem-vergonha procurando pela minha, daquelas mãos ásperas percorrendo minhas coxas e minhas nádegas, daquele homem cheio de tesão querendo me enrabar que, passei meus braços ao redor do tronco dele e comecei a acariciar suas costas, subindo e descendo, deslizando meus dedos entre a nuca e cóccix dele, excitando-o com minha respiração arfante. Ele arrancou minha cueca, agarrou minha bunda e a apertou até me ouvir gemer. Eu me contorci e ele abocanhou meu mamilo. Lambeu-o, chupou-o e mordeu-o até que o biquinho estivesse inchado e dolorido. Eu enfiava meus dedos em sua cabeleira e gemia. Senti seus beijos descendo pelo meu ventre. Ele girou meu corpo, viu a cicatriz avermelhada se estendendo da lateral da coxa até a parte posterior da região glútea, contrastando com a pele branquinha. Deslizou dois dedos ao longo dela, num toque suave e carinhoso. Beijou minha nádega. Depois, com o tesão desenfreado, cravou os dentes na carne rija. Meus glúteos se contraíram, o tesão se instalou entre eles. Os beijos sobre as nádegas começaram a rumar em direção ao meu rego. O queixo dele se insinuava e ia afundando nele. A língua tocou minhas preguinhas. Eu gemi. O Saulo lambeu e quis morder meu cu numa avidez desesperada. No cuzinho piscando de desejo, ele enfiou o polegar. Eu gani. Há quantos anos mesmo, nada entrava naquele buraquinho? Como consegui ser tão duro com aquele homem que tinha a capacidade de me levar às nuvens com um único dedo libidinoso? O Saulo tirou a cueca e se posicionou ao lado da cama, em pé, segurando o caralhão numa das mãos e puxando minha cabeça para junto dele. Ele esfregava a pica no meu rosto, contornando minha boca, me encarando suplicante. Meus lábios deslizaram sobre a cabeçorra úmida procurando engolir a jeba. Imediatamente senti o fluido pré-ejaculatório enchendo minha boca de sabores e aromas, o cheiro conhecido e delicioso do meu macho. Chupei e sorvi o néctar que fluía. Ele meteu o pirocão na minha garganta, fodeu-me. Eu massageava as bolonas ingurgitadas dentro do sacão peludo. Ele se contorcia e gemia. Ele puxou minhas pernas para fora da cama, bem na cantoneira, cada uma delas pendia pesada e aberta numa das laterais da cama. Eu ergui as ancas, o reguinho se abriu e exibiu o cuzinho rosado. Ele pincelou a rola sobre a portinha e a meteu em mim. Meu gemido esganiçado ecoou pelo quarto. Minha pelve se contraiu e travou o cu ao redor da pica dele. Ele arfou excitado. Estocadas cautelosas, lentas e vigorosas foram enfiando aquele mastro rijo dentro de mim. Era possível sentir felicidade maior do que aquela? Projetei minha bunda contra a virilha dele, o sacão se alojou no meu rego, ele estava completamente atolado em mim. Gani durante todo o vaivém que se seguiu e, ouvia-o arfando e gemendo, enquanto sua cabeça pendia para trás e seus olhos se reviravam no prazer daquele ato. Esporrei na toalha que havia deixado cair sobre a cama, antes de me vestir. Era um gozo doce, com sabor de reconciliação. Eu continuei gemendo, meu cu ardia. Entre os gemidos ouvia-se o platsch, platsch das coxas dele batendo na minha bunda a cada estocada.
- Caralho! Como é maravilhoso foder esse cuzinho! – rosnou ele, antes de começar a se retesar todo.
A porra morna foi entrando em mim em jatos sucessivos e fartos. O Saulo apenas grunhia, o som rouco e grave saía por entre os dentes cerrados. A última estocada tinha enterrado o cacetão nas profundezas da minha ampola retal, macia e quente. Ele o deixou ali aninhado recebendo os afagos que minha musculatura anal fazia, se contraindo e relaxando cadenciadamente.
- Amo você! – disse ele, tomando-me nos braços e entrando de joelhos na cama.
- Amo você! – respondi, tocando seu rosto e beijando aqueles lábios sedosos e quentes.
Ao se deitar, ele colocou minha cabeça em seu ombro, enroscou a perna peluda entre as minhas e me apertou em seu peito. Eu não conhecia nenhum lugar melhor do que aquele para embalar o meu sono. Adormeci empapado pela virilidade do meu macho.
Foto 1 do Conto erotico: Do jeito que o diabo gosta - A reconciliação


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Comentários


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lordricharlen Comentou em 10/03/2018

Nem fudendo eu voltava com ele, só por causa do acidente, só transava se fosse de camisinha




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Do jeito que o diabo gosta - A reconciliação

Codigo do conto:
114211

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
09/03/2018

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