Um homem para chamar de meu - Final
No domingo pela manhã, bastante cedo, saímos de Buenos Aires para enfrentar os quase 1.200 quilômetros até Mendoza. No sábado à noite, quando fomos comer uma pizza no La Mezzetta, ele tentou mais uma vez ver se conseguia passar a noite comigo, dando como justificativa a necessidade de sairmos cedo no dia seguinte. Eu lhe devolvi um sorriso amarelo sem inventar mais nenhuma desculpa, dizendo apenas que gostaria de ter uma noite tranquila antes da viagem.
- Você é o cara mais complicado que eu já conheci! – grunhiu ele. Eu percebi que ele havia abaixado diversas vezes a mão esquerda para debaixo da mesa e, não tive dúvida de que ele estava ajeitando uma ereção incontrolável dentro das calças.
- Foram muitos? – perguntei, com um sorriso pérfido.
- O que?
- Os caras. Foram muitos?
- Alguns.
- E eu estou sendo o mais complicado?
- Disso você pode ter certeza! – exclamou.
- Será que isso não é um bom sinal?
- Não vejo como.
- O que é feito dos outros agora? – questionei, encarando-o mais seriamente.
- Não sei. Nunca mais os vi. – respondeu, compreendendo imediatamente onde eu queria chegar com aquela pergunta. Que importância que tiveram em sua vida jamais saberei, mas se não estavam mais com ele é por que as coisas não correram tão bem como deveriam. – Você é foda! – rosnou, antes de dar um gole em sua cerveja. Eu sorri, ele voltou a mexer na pica embaixo da mesa.
Fez muito frio durante toda a viagem. Em alguns trechos pegamos uma chuva fina, em outros, um sol cálido que mal dava para se manter aquecido. Não fosse a calefação do carro, teríamos virado picolés. Já estava bem escuro quando chegamos a uma suntuosa residência bem defronte de uma enorme praça no bairro Huerto del Sol, incrustada num amplo e bem cuidado jardim, mesmo para aquela época seca e gelada, que costumava deixar a vegetação rala e ressequida. A mãe do Miguel veio nos receber na garagem. Era uma mulher vistosa, de uma simplicidade elegante e um sorriso fácil. Simpatizei com ela no mesmo instante. O Miguel me encarou satisfeito quando notou que eu havia gostado dela. O pai e outros dois irmãos dele chegaram cerca de uma hora depois, tinham vindo da vinícola da família. O irmão mais velho me encarou de um jeito tão acintoso que eu me senti nu diante dele. Ele devia ter uns trinta anos e era o tipo de homem que deixava qualquer vagina molhada com um simples olhar ou, um cuzinho piscando com um mero sorriso. O Miguel sabia desse potencial do irmão e procurou ver em meu semblante qualquer sinal de sujeição àquela virilidade. O irmão do meio era igualmente bonito, mas era mais convencido disso, o que tirava boa parte do encanto inicial que provocava nas pessoas. Ambos escrutinavam cada centímetro do meu rosto e corpo, o que me induziu a concluir que já tiveram alguma experiência com outro homem, embora ambos estivessem namorando duas garotas que também viriam jantar conosco naquela noite. O pai cumprimentou o Miguel um pouco friamente, embora o tivesse abraçado e beijado com entusiasmo. Percebia-se, no entanto, que aquilo era um pouco forçado, talvez pela minha presença. A mim ele recebeu sem reservas, num abraço efusivo e, logo me fez uma porção de perguntas sobre a minha família e nossa vida no Brasil.
O jantar, além de delicioso foi muito agradável. Os irmãos dele eram bastante divertidos e, as namoradas não ficavam atrás. As horas passaram voando antes da namorada do mais velho começar a se despedir, enquanto o do meio se preparava para levar a dele para casa. Após a partida das garotas, a mãe dele me perguntou sobre a minha origem germânica, pois ela também descendia de alemães por parte de pai e falava um pouco de alemão que, segundo ela, estava enferrujado por falta de prática.
- Por que não foi assim comigo quando te dei carona naquele dia? – perguntou o Miguel, quando me deixou diante da porta do quarto de hóspedes.
- Assim como? – questionei.
- Estão todos se derretendo por você no primeiro encontro. Comigo você brigou logo de cara! – devolveu.
- Eu apenas retribuí a gentileza com que estão me tratando. Você se comportou como naquele dia? Tente se lembrar! – respondi.
- Você sempre tem uma resposta na ponta da língua, não é?
- Talvez! Boa noite! Obrigado pelo convite e obrigado pela viagem, estou muito feliz por estar aqui com você. – afirmei com um sorriso satisfeito. Ele tentou me beijar ali no corredor, não escondeu a imensa ereção que se desenhava entre suas coxas e, eu entrei no quarto o mais rápido que pude, fechando a porta atrás de mim. Parecia haver uma escola de samba no meu peito.
Prometi a mim mesmo que não sucumbiria às suas investidas enquanto estivéssemos na casa dos pais dele.
Após o café da manhã do dia seguinte o Miguel me levou até a vinícola da família na região de Luján de Cuyo a cerca de uma hora da casa dele. Assim que a avistei, lembrei-me de ter estado ali com meus pais há cinco anos, numa viagem que fizemos pela Argentina naquele ano. Mencionei o fato ao Miguel e senti que ele se orgulhou, pois a vinícola é uma das maiores e mais conceituadas da Argentina, exportando seus produtos para vários países. Passamos o dia todo caminhando entre os vinhedos, visitando a produção e passeando pelo campo. O dia estava lindo e ensolarado, poucas nuvens brancas passavam ligeiras elo céu e, ao longe se avistava o topo das montanhas cobertas de neve. O Miguel estava carinhoso, risonho e gentil como eu nunca o tinha visto antes.
- Estou gostando de você mais do que nunca! É esse lado da sua personalidade que você devia mostrar para as pessoas sempre. – afirmei, deixando-o sem graça.
- Só você consegue fazer eu me sentir assim! Mas, também consegue me deixar puto muitas vezes! – exclamou, depois pegou minha mão e a apertou entre a dele, enquanto caminhávamos entre o vinhedo.
Nos dias subsequentes ele me levou a todos os lugares que eu tinha mencionado querer conhecer quando conversamos pela primeira vez durante aquela carona que acabou sendo também nossa primeira discussão. Ele havia guardado meu desejo de conhecer esses lugares por todo esse tempo. A cada lugar que íamos, ele me encarava de forma interrogativa e, eu sabia o porquê de ele estar fazendo isso. Em nenhuma dessas ocasiões eu fiz qualquer menção a respeito dessa gentileza de se lembrar do meu desejo, mas no meu íntimo eu estava imensamente feliz e, minha vontade era de abraça-lo e cobri-lo de beijos. No entanto, era prematuro eu me mostrar tão entusiasmado com a atitude dele. Isso podia ser interpretado como uma disponibilidade para ele tomar maiores liberdades comigo. Até a afeição que eu sentia por ele tentava camuflar para não dar margem para ele sair da linha. Enfim, eu ainda não estava plenamente certo se podia confiar realmente nele ou, se como os outros, após comer meu cuzinho, ele não me deixaria a ver navios. As semanas passaram tão rápido entre Los Penitentes, o lago Potrerillos, as termas de Cacheuta, vale Hermoso, Parque Tupungato e San Rafael que eu já me ressentia pelo fim das férias. Nosso último destino, completando o circuito, foi a charmosa vila de Potrerillos a 60 quilômetros de Mendoza. Inicialmente pensamos passar apenas o dia por lá, mas depois de havermos feito diversas atividades e já ter escurecido, decidimos ficar hospedados pelo resto do final de semana na Cabanas las Margaritas, uma pousada onde os chalés ficam distribuídos numa área com vistas espetaculares das montanhas nevadas. Lembro-me que na primeira noite havia uma lua cheia maravilhosa emergindo no céu límpido entre duas montanhas, sua luminosidade dava aos picos cobertos de neve um tom prateado. Após o jantar, o Miguel e eu ficamos admirando aquela lua subindo no céu, enquanto conversávamos tão descontraída e intimamente que parecia que nos conhecíamos desde há muito. Foi então que resolvi agradecê-lo por todos aqueles dias maravilhosos que ele havia me proporcionado. Vi que ele ficou muito feliz por eu ter reconhecido sua lembrança dos meus desejos.
- Eu não imaginava que você ia se lembrar da minha vontade de conhecer esses lugares. Pensei que naquele dia você queria apenas brigar comigo. – revelei.
- Apesar de você me irritar muito naquele dia, eu me lembro de cada um dos assuntos que conversamos. – retrucou ele.
- Eu te irritar? Nunca tive a intenção de te irritar e, nunca o fiz, na realidade! Se você se irritou, foi por vontade própria. – devolvi.
- É que eu achei que aquela carona fosse terminar de um jeito diferente. Perdi o controle quando as coisas tomaram outro rumo. – confessou.
- Sei! Posso até imaginar como você desejava que ela fosse terminar. – afirmei.
- Mas, não fez nada para facilitar as coisas. Aliás, você nunca facilita as coisas! – exclamou.
- Devo encarar isso como uma censura ou como um elogio? – questionei.
- Elogio?
- Sim, elogio. Elogio por reconhecer que eu não estou disponível para o primeiro que me passa uma cantada. Diga-se de passagem, que nem uma cantada você tentou me passar. – comentei.
- Já percebi que você é diferente. Às vezes, fico meio perdido por causa disso. Parece que tudo que eu falo ou faço te ofende. Aí acabamos brigando. – mencionou.
- Não brigamos nenhum dia desde que viemos para cá. Você só me deu alegrias, me fez muito feliz e se mostrou um cara maravilhoso. – afirmei.
- Mesmo assim não consegui o que queria! – exclamou, fazendo uma careta de frustração. Eu ri.
- Se te serve de consolo, posso dizer que agindo assim você está no caminho certo para conseguir o que quer. – precisei segurar minha vontade de rir mais intensamente, pois a carinha de moleque contrariado que estava estampada em seu semblante era hilária para um homem como aquele.
- E quando vou conseguir o que quero? Você está rindo da minha cara seu ... seu, arre que você me deixa maluco! – grunhiu ele.
- Não estou rindo da sua cara. Ou melhor, estou sim. Você está parecendo um menininho emburrado!
- Ah é? Espera só para eu te mostrar o menininho emburrado! – rosnou. Eu peguei seu rosto entre as mãos, encarei-o por alguns segundos e colei meus lábios nos dele, num toque tão suave que foi como se um beija-flor pousasse em sua boca.
- Será que isso me redime? – questionei, quando afastei minha boca da dele.
Sem me responder, ele me puxou com força contra o peito e me apertou em seus braços. Beijou-me com tanta volúpia e desejo, enfiando sua língua na minha boca e me devassando como se quisesse entrar em mim. Depois disso, não foi nada fácil convencê-lo de que, por hora, aquele seria o limite. Nem o descaramento de uma ereção, que ele não tentou disfarçar, me demoveu da minha convicção.
- Está vendo por que eu digo que você é complicado! Esse fogo crepitando na lareira, essa lua cheia, esse céu coalhado de estrelas, meu pau tão duro que mal consigo mantê-lo dentro das calças e você não abre uma brecha. É foda! – esbravejou. Mas, quando sorri para ele, puxou-me novamente para junto daquele torso quente e contentou-se com meus beijos carinhosos e úmidos.
- Eu não quero apenas uma foda e, depois, ter que amargar sozinho as consequências dela. Já passei por isso e não pretendo repetir a experiência. Eu quero me entregar a um homem que possa chamar de meu, entende? Um homem que queira dividir sua vida comigo. – esclareci.
- E, você acha que eu não sou esse homem! Que eu não sirvo para você. Que não sou capaz de assumir responsabilidades. É assim que você me enxerga, não é? – retrucou ele.
- Eu não disse isso!
- Nem precisava, está estampado na sua cara! – exclamou zangado.
- Até agora você não se esforçou nem um pouco em demonstrar o contrário, admita!
- Quer saber do que mais? Vá se foder! Você é um saco, e eu estou cheio! – explodiu, deixando-me sozinho na varanda e indo se deitar.
Afora alguns rosnados, não conversamos durante a viagem de regresso à Mendoza, embora eu tivesse tentado desfazer aquele clima hostil que se instalara entre a gente. Ele não cedeu. Desde que chegamos a casa dele até a hora do almoço, fiquei em meu quarto. Ao me juntar a eles para o almoço, percebi que o Miguel estava ainda mais furioso do que antes. O clima durante a refeição estava péssimo, pois o pai dele também não parecia estar em seus melhores dias. Antes de terminarmos de comer, o Miguel saiu da mesa sem dizer uma palavra e, instantes depois, o ouvimos deixando a garagem em seu carro. Fui esperar por ele em seu quarto. Era tarde da noite quando ele chegou e, notei que havia bebido.
- O que faz aqui? Vá para o seu quarto! Não estou a fim de papo! – resmungou ele, fazendo um esforço para tirar as roupas.
- Venha, eu te ajudo. Você está precisando de uma ducha fria para desanuviar. Eu estava preocupado com seu sumiço. – respondi.
- Estava mesmo? Não me parece que você está preocupado comigo. É só mais um para encher o meu saco! – balbuciou, embolando as palavras.
- Nesse estado não dá para conversar com você. Você não deveria dirigir com toda essa bebida na cabeça, é uma tremenda irresponsabilidade. Aliás, não gosto quando você bebe, achando que com isso vai resolver seus problemas. – censurei.
- Saia daqui e me deixe em paz! Estou farto de sermões!
- Não vou a lugar algum! Não antes de ter certeza de que você está bem.
Enfiei-o na ducha fria e ele soltou um bordão de palavrões. Mas, estava mais manso depois que abri a água quente e seu corpo começou a relaxar. Ele vestiu alguma coisa de qualquer jeito e me encarou desafiador.
- O que faz aqui ainda? Eu já não te mandei sair daqui? – disse enfezado.
- Se não quisesse que eu o visse nesse estado não deveria ter feito mais uma das suas molecagens! Está com fome? Vamos descer, você me diz onde encontro as coisas e eu preparo alguma coisa para você comer antes de se deitar. – respondi.
- Não me trate como se eu fosse uma criança! Estou doido para dar umas porradas na cara de alguém, portanto, não me provoque! – ameaçou.
Na cozinha ele foi me indicando onde ficavam as coisas e eu preparei uma daquelas omeletes que ele tinha elogiado quando passou a noite no meu apartamento, também depois de uma bebedeira. Ele a devorou em minutos. Eu tentei extrair dele a razão por estar tão transtornado, mas ele tinha dificuldade de expor seus problemas e ressentimentos.
- Você pode me levar até o aeroporto amanhã pela manhã? – perguntei, enquanto terminava de lavar a louça que havíamos sujado. Ele me encarou espantado.
- Não!
- Ok! Vou chamar um taxi então. Não faz sentido eu continuar aqui entre sua família sem a sua presença. – eu ia deixa-lo e ir para o quarto quando ele voltou a falar.
- Meu pai quer que eu vá para Buenos Aires com ele, por dois dias, para tratar de uns assuntos de exportação com alguns interessados em nossos vinhos. – disse ele, antes de eu sair da cozinha. – Ele sabe que eu não estou nem um pouco interessado nos negócios dele e, muito menos de me envolver neles. Um dos meus irmãos pode ir com ele. Não precisava me aporrinhar durante esses poucos dias com coisas que ele sabe que eu detesto. Ele faz de propósito. – acrescentou.
- Você me mostrou a vinícola com tanta empolgação, não acredito que não goste e, não se orgulhe do que seu pai construiu. – afirmei.
- Ele me acusa de ser um irresponsável, um preguiçoso que só se move quando obrigado. Forçou-me a estudar direito pensando em como eu serei útil para os interesses dele. Não quero ser manipulado. Estou de saco cheio das cobranças dele.
- Faça um exame de consciência e você vai ver o quanto gosta da vinícola. Há tanto que você pode fazer como advogado para os interesses comerciais da empresa e, não para o seu pai. O que custa você acompanha-lo? Dois dias não são nada, e você pode se interessar por alguma coisa, acho que é isso que ele está te oferecendo, uma chance de ver no que você se interessa. – ponderei.
- Eu não sirvo para você por que me acha um moleque irresponsável, não é? É por isso que não deixa eu comer o seu cuzinho, estou certo, não estou? Você é igual a todos eles. – sentenciou.
- Não volte a mencionar que não serve para mim! Eu nunca disse isso para você! – respondi exaltado.
- Mas pensa isso de mim.
- Você não tem a menor ideia do que penso a seu respeito! – eu não podia lhe dizer o quanto estava apaixonado por ele, pois não queria ser fodido e depois largado sem nem um pouco de remorso. – Se você acha que os outros te julgam um irresponsável, faça por merecer e mude sua postura. – afirmei.
- O que você quer? Que eu fique igualzinho aquele velho com quem você sai e, para quem certamente dá o cu por ele ser responsável, maduro e digno do seu rabo? – questionou, referindo-se a um amigo da minha família que tinha me ajudado bastante durante a minha mudança e instalação em Buenos Aires, inclusive me ajudando a encontrar meu apartamento.
- Ele não é nenhum velho, como você diz, ele tem trinta e seis anos e, é um amigo da minha família. Você está me ofendendo ao afirmar, sem nenhuma base, que ele e eu tenhamos qualquer envolvimento que não seja uma amizade. – afirmei.
- Eu posso imaginar que tipo de amizade vocês têm!
- Chega Miguel! Seu pai pode estar coberto de razão! Deixe de ser moleque! Aqueles seus colegas de republica são o protótipo de caras com os quais você se entende bem. Um bando de irresponsáveis que não quer nada com nada. Você quer isso para a sua vida, então vá adiante!
- Vá à merda!
- Eu vou, não se preocupe! Amanhã pela manhã, se você me permitir, pois acho que há essa hora não encontro mais voos para Buenos Aires. – revidei, deixando-o resmungando com as paredes e subindo para o meu quarto.
- Espere! Desculpa! Você me irrita e depois foge. – disse, vindo ao meu encalço.
- Amanhã conversamos! Acho que por hoje já nos ofendemos o suficiente. – retruquei.
- Amanhã, não! Você não vai a lugar algum sem mim, está entendendo? Você só volta para Buenos Aires quando eu voltar, estamos conversados? – impôs, me prensando contra a parede do corredor próximo à porta do meu quarto.
Desci cedo na manhã seguinte e fui encontrar a mãe dele e uma empregada preparando o café. Eu ia dizer a ela que tinha decidido regressar a Buenos Aires naquela manhã, quando ela me disse que o Miguel tinha ido viajar com o pai e, tirando uma folha de papel dobrada do bolso do vestido, a estendeu na minha direção.
- É para você! O Miguel pediu que a entregasse e, te dissesse que se você não estiver aqui quando ele voltar, você vai ter muito que se haver com ele.
- Obrigado! Então ele decidiu acompanhar o pai? – questionei.
- Sim! Não sei o que deu nele, até o pai dele se espantou quando ele entrou no nosso quarto esta noite dizendo que ia acompanha-lo.
- Que bom! Ele parecia contrariado ontem. – comentei.
- Ele e o pai tiveram mais uma de suas discussões. Esses dois vivem se estranhando. Mas, pelo que entendi nesse bilhete, você e o Miguel também tiveram um desentendimento. – disse ela.
- Digamos que tivemos apenas opiniões diferentes sobre um mesmo assunto. – respondi, não querendo entrar em detalhes.
- Você pensava em partir antes do fim das férias? Eu ficaria muito triste se você fizesse isso. Todos gostamos muito de você, aqui em casa, lamentaríamos vê-lo partir de nossa casa contrariado. – argumentou ela.
- Vocês são pessoas adoráveis! Jamais sairia contrariado daqui. Fiquei aborrecido com algumas coisas que o Miguel me disse, só isso. – revelei.
- Ele é um bocado turrão, não leve tudo ao pé da letra. Tenho certeza de que ele gosta muito de você. Uma prova é ele ter trazido você para cá. Ele nunca trouxe um colega de escola ou amigo para nossa casa, é a primeira vez. E, isso já diz tudo. Você é especial para ele. – as palavras dela me tranquilizaram e me demoveram do meu intento de partir.
Dois dias depois, o irmão mais novo do Miguel e eu aguardávamos no saguão do aeroporto El Plumerillo por ele e pelo pai. Percebi pelo sorriso que abriu, a me ver ali, que se sentia aliviado por eu ter desistido de partir. Quando eles se aproximaram de nós, ele soltou a bagagem no chão e me abraçou com força, sem se importar com o olhar do irmão e do pai para aquela cena cheia de intimidade. Eu corei na hora. Não tive coragem de encará-los, pois sabia que já desconfiavam do que estava acontecendo entre o Miguel e eu.
Meu embaraço ficou evidente alguns dias mais tarde quando o pai do Miguel só esperou ficarmos a sós para ter uma conversa comigo. Ele certamente vai me questionar sobre o tipo de amizade que eu estava tendo com seu filho, pensei comigo mesmo e, apavorado, já procurava por uma resposta que não me comprometesse. No entanto, ele foi muito mais direto do que imaginava.
- Ouvi a sua conversa com meu filho naquela noite na cozinha quando ele chegou bem tarde e embriagado. – começou ele, impedindo-me de expressar a frase que eu já tinha na ponta da língua.
- Ele só exagerou um pouquinho. – disse eu, tentando amenizar a barra do Miguel.
- Não precisa defendê-lo! Sei como ele costuma resolver os problemas quando não sabe lidar com eles. Isso não é nenhuma novidade nesta casa. – sentenciou ele.
- Eu só quis dizer que ele não estava embriagado. – balbuciei, pois sabia que não o convenceria com um argumento tão fraco.
- A irresponsabilidade dele chega ao ponto de ele colocar a própria vida em risco, dirigindo naquele estado. Bem, mas não é com isso que quero encher a sua cabeça. – afirmou. Eu voltei a sentir as pernas bambas.
- Ah, não?
- Não! Você não deveria se deixar cegar pelo que sente por ele. Isso não é bom nem para você e nem para ele. Está mais do que na hora de ele encarar a realidade e as consequências de seus atos. – prosseguiu. – Ele fez acusações sérias e te ofendeu, sem o menor escrúpulo. Mas, você ainda o defende. Posso te perguntar, sinceramente, o que você sente por ele, para aceitar isso? – inquiriu.
- Ele não estava falando sério, foram apenas os goles que tomou a mais que o fizeram dizer o que não queria.
- Você ainda não me respondeu o que sente por ele.
- Eu gosto muito do Miguel. É um bom amigo, mesmo sendo complicado lidar com ele às vezes. – devolvi.
- Você está apaixonado por ele! Não precisa ser nenhum adivinho para perceber seus sentimentos. – ele me encarou de tal maneira que precisei desviar o olhar e, mesmo assim, fiquei vermelho feito um pimentão.
- Eu quero que o senhor saiba que não quero desrespeitar a sua casa e sua família. – deixei escapar como justificativa pelo que sentia pelo Miguel, antes de ele me jogar na cara que aquilo era uma pouca vergonha, como haviam feito meus pais.
- Que conversa é essa? De onde você tirou isso? Você é uma pessoa muito agradável e educada. Contudo, sei que não foi isso que virou a cabeça do Miguel e, sim, seus outros atributos que, convenhamos, você têm de sobra. – ele riu ao dizer essas palavras e lançou um olhar atrevido para a minha bunda.
Eu fiquei tão inibido que não consegui responder. Ele continuou. Eu agora estava tão perdido que não conseguia imaginar onde aquela conversa nos levaria.
- Ele está tão ou mais apaixonado por você do que você por ele. Sei que foi aquela conversa que tiveram que o fez mudar de ideia e ir comigo para Buenos Aires. Pela primeira vez ele está vendo que sua infantilidade o está impedindo de conseguir o que deseja. E, isso é muito bom. Não ceder ao capricho dele de fazer sexo com você, está fazendo-o refletir. – eu continuava mudo e perplexo. – Você acertou em cheio quando disse que aqueles amigos com os quais ele vive são uma péssima influência. É do comportamento deles que ele tira coragem para nos desafiar, para ter um péssimo desempenho na faculdade e, para desperdiçar todas as chances que estamos dando a ele. – continuou.
- Preciso concordar com o senhor nesse aspecto. Não gosto daqueles sujeitos!
- O importante é que você gosta do Miguel! Se você o ama como eu e a mãe dele supomos, creio que em breve ele vai deixar aquele lugar. Eu já propus que ele se mudasse de lá inúmeras vezes, mas ele não cedeu até o momento.
- Vou tentar convencê-lo! – prometi.
- Sei que vai. Posso te pedir mais um favor? – questionou ele.
- Claro! Se estiver ao meu alcance. – respondi.
- Com certeza está! Dê-me um abraço. – disse, tomando-me em seus braços e me puxando para junto do corpo vigoroso e másculo, apesar de ligeiramente acima do peso. – Jamais revele à minha esposa o que vou te dizer agora, senão teremos uma catástrofe nessa casa. Desde a sua chegada você conseguiu deixar a todos nós de pau duro. Tenho orgulho dos meus varões, nenhum deles resistiu aos encantos dessa bundinha roliça e arrebitada. Você precisa nos perdoar pela sinceridade, mas não há como ser indiferente aos seus atrativos. Eu me senti uma ovelha num covil de lobos famintos e, estremeci quando ele apalpou descaradamente a minha nádega.
- O que está rolando aqui? Um complô contra mim? – questionou o Miguel, que acabava de entrar no ambiente, e não viu quando o pai tirava apressada e disfarçadamente a mão da minha bunda.
- Estou tentando convencer seu amigo a vir trabalhar conosco quando terminar a faculdade. – disse ele, soltando-me.
- Um arquiteto? Trabalhando na vinícola? Só se for para ele projetar a disposição dos vinhedos! – exclamou o Miguel, rindo.
- Alguém interessado é tudo de que precisamos por aqui! – sentenciou o pai, numa indireta que o atingiu em cheio.
Nossas férias terminaram e a mãe do Miguel fez um super jantar caprichado para toda a família, onde as namoradas dos irmãos dele também estavam presentes. Diante de todos tive que prometer que voltaria nas férias de verão. Segundo a mãe dele eu estava definitivamente incorporado à família, se bem que eu não sabia muito bem o que isso significava, mesmo notando que as piscadelas que os irmãos do Miguel trocaram com ele tinham algo de gozador. Na manhã seguinte, entre os efusivos abraços de despedida, os dois também aproveitaram para agarrar minha bunda e, fizeram questão que o Miguel visse sua libertinagem.
- Folgados esses seus irmãos, hein? Fiquei sem-graça com a sacanagem deles! – afirmei, quando começamos a pegar a estrada.
- Estavam tirando uma com a minha cara, para variar! – exclamou ele, aparentemente sem se importar com o fato. – Ao contrário do meu pai, que te deu um amasso só para vir me dizer que eu tenho um bom faro de macho. – emendou.
- Não acredito que vocês sejam tão sem-vergonhas!
- O que é belo e gostoso deve ser aproveitado, não acha? – perguntou, com um sorriso ladino.
- Não! Não acho! Pode ser apreciado, mas não aproveitado! Que desplante! – protestei. Ele riu e eu dei um tabefe de leve na cabeça dele; uma vez que estava com as duas mãos no volante e não podia reagir.
Chegamos à noite em Buenos Aires. Ele me deixou diante da portaria do meu prédio e não fez nenhuma menção de querer subir. Eu estranhei, pois durante toda a viagem fiquei imaginando o momento em que ele ia subir fingindo me ajudar com a bagagem ou inventando algum pretexto, só para ir ficando por lá e se enfiar mais uma vez comigo na cama e, talvez, desta vez logrando êxito no seu intento de me comer. Mas, sua atitude me deixou desconcertado. Eu bem que queria que ele usasse suas artimanhas para subir. Ele, apesar de cansado por ter dirigido quase todo o trajeto de volta, estava muito gostoso dentro de um jeans meio surrado, uma camiseta grossa bem justa ao redor do tronco musculoso e, uma jaqueta de couro que deixava seus ombros ainda mais largos e viris. E, eu já me imaginava vendo ele se despir no meu quarto para tomar uma ducha e me presentar com a visão de seu corpo sensual e potente. Até fantasiei entrar no chuveiro com ele e começarmos a transar ali mesmo, antes de continuarmos nos amando sobre a cama.
- Então até amanhã. Vemo-nos na universidade! – disse ele, após me dar um beijo na bochecha e esperar eu descer do carro.
- Boa noite, então! Obrigado por esses dias! Foram férias maravilhosas! Nem em sonho eu podia imaginar dias tão agradáveis e felizes como os que passei com você. – Tirei minhas coisas do porta-malas sem nenhuma pressa, tentando prolongar aquele instante para ver se ele não mudava de ideia e pedisse para subir.
- Valeu! Também curti cada dia.
- Você não quer subir? – eu não aguentei, tinha que fazer alguma coisa para ter aquele rosto com a barba por fazer entre as minhas mãos e cobri-lo de beijos.
- Estou exausto! Boa noite!
- Boa noite! Você deve estar com fome, pelo menos eu estou faminto. Quer comer alguma coisa? – não custava tentar.
- Até para isso estou cansado. Fica para outra vez.
- Ok! Até amanhã, então! – fazer cara de decepcionado podia ajudar, então eu a fiz antes de ir até a janela dele e dar mais um beijo que, infelizmente, não acertou a boca dele, apenas um canto da bochecha.
Peguei o elevador e, antes das portas se abrirem no meu andar, uma lágrima desceu pelo meu rosto. Fui tão rígido com ele que acabou desistindo, pensei. Ele vai manter algum contato por um tempinho e depois não vamos mais nos ver. Vai me dispensar e procurar alguém menos complicado. Eu não conseguia enfiar a droga da chave na fechadura, pois meus olhos estavam encharcados de lágrimas. Que idiota eu fui! Pensar que um cara gostoso como ele ia dar-se ao trabalho de ficar me conquistando. Você não aprendeu com os outros dois? É trepar gostoso enquanto tudo está bem, sem muita frescura e exigências. Quando as coisas começam a complicar é só dar o fora, simples assim. Por que o Miguel seria diferente? É só ele acenar para que um bando de caras ou garotas se prontifiquem a abrir as pernas e deixar aquele gostoso enfiar aquela jeba descomunal onde melhor lhe aprouver. O único babaca é você, que achou que ele está tão apaixonado por você quanto você está de quatro por ele. Mas, não foi exatamente isso que o pai dele te falou? Então, por que duvidar? Ele é pai, deve conhecer o filho melhor do que você. Desta vez ele se enganou, só pode ser isso. Todos esses pensamentos passavam pela minha cabeça enquanto tomava uma ducha, depois quando preparava um lanche com o que encontrei na geladeira e, quando olhei desanimado para a quantidade de bagagens que estavam espalhadas pelo apartamento e, que eu teria que por em ordem nos dias seguintes. O interfone tocou uns quarenta e cinco minutos depois de eu ter chegado, tirando-me daquele marasmo e me obrigando a secar os olhos úmidos.
- Oi, sou eu! Posso subir? – meu coração deu um pulo em meu peito maior do que o que eu tinha dado para atender o interfone. Era ele.
- O que aconteceu? Está precisando de alguma coisa? Você está de carro? Quer coloca-lo na garagem? – a euforia na minha voz era evidente.
- Explico quando chegar aí. Não. Estou. Quero.
Eu estava no hall diante do elevador que parecia não chegar nunca ao meu andar. O que poderia estar acontecendo para ele ter voltado? Esqueci alguma coisa no carro? Para que dar-se ao trabalho de trazê-la a esta hora da noite? Droga! Essa porra não chega nunca! A mochila principal dele estava em seus ombros, a jaqueta estava aberta e o peito largo dele era tudo que eu via, além daquele sorriso doce em seu rosto. Atirei-me em seus braços e o apertei com toda a força entre os meus. Só então senti aquele frio estranho nas pernas, eu estava de cueca com apenas um blusão de moletom em pelo hall do elevador.
- Isso tudo é saudade? – questionou ele, aproveitando para enfiar a mão dentro da cueca até conseguir apertar minha nádega. Eu não protestei como ele esperava, o que o surpreendeu.
- Que bom que você está aqui! – exclamei e, antes de ele poder dizer qualquer coisa, colei minha boca na dele, onde o safado não perdeu tempo de enfiar também a língua.
- O que foi que eu fiz para merecer tudo isso? – inquiriu, com um sorriso desconfiado.
- Você existe! É isso, só isso! – sussurrei, antes de ele voltar a morder meus lábios com sua boca ávida e quente.
Ele estava cansado, queria dormir. Ele queria um banho. Ele estava com fome. Ele queria meter em mim. Ri quando ele expos suas necessidades. Elas pareciam vir de encontro a tudo que eu estava disposto a fazer por ele. Só ele ainda não sabia que as teria todas atendidas. Quando restavam apenas tomar uma ducha, me comer e dormir, seu semblante já tinha aquela expressão sacana que me deixava todo trêmulo e excitado. Deslizei uma das mãos sobre os pelos do abdômen que desciam numa trilha sensual até sua virilha quando ele estava debaixo do chuveiro com os cabelos todos ensaboados. Sua reação ao meu toque foi imediata. Seus músculos se retesaram, uma expiração que vinha do fundo de seus pulmões deixou o ar escapar num sibilo rouco, as mãos que se moviam entre seus cabelos pararam de se mexer por alguns segundos, refazendo-se da surpresa daquele toque e, seus lábios esboçaram um sorriso de satisfação.
- O que deu em você? Não estou entendendo o que se passa. Você está todo esquisito. – murmurou ele.
- E você, ainda não me respondeu por que voltou para cá. – afirmei, cessando por um momento o movimento da minha mão sem, no entanto, tirá-la de sua barriga.
- Voltei porque achei seu comportamento ao nos despedirmos, muito estranho. – afirmou ele. – eu estava adorando essa mão boba. – acrescentou.
- Quer dizer que estou esquisito? – indaguei rindo.
- Deliciosamente esquisito! – exclamou, puxando-me para debaixo da água.
Eu guiei minha mão para dentro de sua virilha pentelhuda e peguei naquela rola imensa e pesada. Ele soltou um suspiro. O caralhão começou imediatamente a ganhar consistência e endurecia entre os meus dedos. Ele tornou a enfiar a mão dentro da minha cueca, que era a única peça de vestuário que eu usava.
- Sou tarado por essa bunda, sabia? – rosnou ele, enquanto me beijava.
- Já deu para perceber! – respondi.
- Quero ser o dono dela e, de todo o resto. – afirmou.
- A ideia me agrada bastante. – retruquei.
- Sério? Há alguns dias, lá na cabana em Potrerillos, você não demonstrou isso. – argumentou.
- É que desde lá descobri um outro Miguel, capaz de me surpreender e me fazer sentir orgulho dele. – respondi.
- Será que tenho dubla personalidade? Pois este aqui é tão tarado por você quanto aquele lá. – caçoou.
Eu apertei o pau dele na minha mão. Ele afastou o corpo e protestou.
- Ai! Isso aí é bem sensível, viu? É bom cuidar muito bem dele se estiver com segundas intenções. – afirmou, voltando a enfiar o cacetão já duro na mão que o circundava.
- Como essas aqui? – questionei, antes de me ajoelhar diante dele e colocar a pica na boca. Na maior pressa ele enxaguou os cabelos e abriu os olhos, voltando seu olhar admirado para a minha boca, onde os lábios chupavam delicadamente sua glande estufada.
- Afffff! Você vai me matar de tesão desse jeito!– suspirou ele.
Eu já não o ouvia. Estava com tanto tesão sentindo aquele caralho crescendo na minha boca que só me concentrei em lambê-lo, chupá-lo, degustar cada milímetro da carne quente que pulsava entre os meus lábios. O Miguel desligou a ducha, começou a se enxugar, mas mantinha as pernas ligeiramente abertas e, enquanto secava meus cabelos, aproveitava para segurar minha cabeça e estocar do pau na minha garganta. Eu precisava me segurar em suas coxas peludas para conseguir forças para não sufocar com aquela tora entalada na minha boca. O sacão balançava pesado e libidinoso bem diante do meu rosto e, quando consegui tirar a rola da minha boca por um momento, comecei a mordiscar e chupar suas bolas. Ele grunhia e murmurava alguma coisa que eu não conseguia distinguir, embora desconfiasse que fossem sacanagens, pois o jeito com que ele as pronunciava, só fazia aumentar o meu tesão. E, suponho eu, o dele também. Não demorou a pegar na pica e a enfiar novamente na minha boca. Desta vez suas estocadas foram mais violentas e selvagens. Eu continuava a apertar os lábios ao redor do cacetão e, com a língua, massageava sua glande. Um fluído salgado se mesclou à minha saliva. Eu o encarei. Ele me encarava e sua pelve começou a se retesar. Agarrando mais uma vez minha cabeça, ele enfiou meu rosto na sua virilha, o primeiro jato de porra encheu minha boca. Eu soltei um gemido sufocado. Ele urrou e meteu a pica mais fundo, outro jato de porra desceu diretamente pela minha goela. Achei que fosse me afogar naquilo tudo. Um a um, fui engolindo o sêmen espesso e viscoso, que ele despejava em jatos fartos na minha boca. Não me lembro da porra do José Carlos e do Ricardo serem tão saborosas quanto à do Miguel. O que talvez tenha conferido a ela esse sabor tão divino era o fato de eu sentir pelo Miguel algo que nunca tinha sentido pelos dois e, nem por ninguém.
- Você não imagina quantas vezes eu sonhei com isso. – disse o Miguel; quando já estávamos na cama, nus e enroscados um no outro, nos acariciando mutuamente.
- Pelo menos valeu à pena esperar? – perguntei num sussurro, enquanto beijava seu queixo.
- Cada um dos torturantes segundos que você me fez esperar! – exclamou. – Mas, eu devia te punir por todas as vezes que me deixou de pau duro e me deixou na mão. – acrescentou, apertando minha bunda.
- Prometo te recompensar se você se comportar! – devolvi, começando a brincar com seu cacete, ainda flácido, largado pesadamente sobre sua coxa.
Ele me apertou contra o corpo e começou a me beijar, logo enfiando a língua na minha boca. Era incrível essa gana que ele tinha de entrar em mim. Bastava uma brecha e lá estava ele se imiscuindo em meus orifícios. Enquanto eu retribuía seu beijo, ele enfiou um dedo no meu cu. Meus esfíncteres travaram ao redor daquele dedo pecaminoso, retendo-o e devorando-o com um tesão tresloucado. Pela cabeça do Miguel só passava a imagem daquele cuzinho engolindo seu caralho com a mesma ganância e sofreguidão. Ele veio para cima de mim, abriu ligeiramente minhas pernas e, gingando a pelve, fazia o cacetão roçar meu rego devassado. Eu gemia de ansiedade e desejo. Embora soubesse das consequências, tudo o que eu queria naquele momento era sentir o Miguel dentro de mim.
- Ai Miguel! – suspirei afoito. Ele soube interpretar essa expressão agoniada.
- O que foi Phillip? Está com tesão no cuzinho? O que é que posso fazer para te ajudar? – perguntou com um sorriso lascivo nos lábios.
- Entra em mim! – balbuciei, lambendo meus lábios o que o deixou maluco.
Com o peso todo apoiado sobre o meu corpo, ele me encurralou entre suas coxas potentes, prendendo minha bunda em sua virilha, me dominando para eu não lhe escapar quando fosse meter a pica no meu cu. Ele se esfregava em mim e fazia o pau deslizar dentro do meu rego. O fluído pré-ejaculatório me deixou todo molhadinho. Guiando o cacete com uma das mãos, ele apertou a cabeçorra contra meu buraquinho rosado que se contraia em espasmos involuntários. Forçando a penetração, ele conseguiu fazer a cabeçorra passar na terceira tentativa, dilacerando minhas pregas e me obrigando a soltar um grito agoniado. Ele era muito maior do que eu imaginava e que pude constatar quando vi o caralhão solto entre suas pernas. Agora, cheio de tesão e duro como uma barra de ferro, o tamanho descomunal de seu membro me infligia uma dor tão pungente que pensei não suportar.
- Relaxa! Senão vou te machucar. Não era isso que você queria, minha pica nesse cuzinho delicioso? – grunhiu ele, mordiscando minha orelha.
- Não vou aguentar Miguel! – gemi, agarrando os lençóis até as pontas dos meus dedos ficarem isquêmicas.
- Você só precisa relaxar! Abre o cuzinho para mim, abre! – ronronou ele. Eu só queria saber como se fazia isso com algo tão grande entalado no cu e toda aquela dor se espalhando pelo baixo ventre.
Ele esperou alguns instantes, deixando-me respirar e me acostumar àquilo no cu, antes de continuar a meter a jeba em mim. Enquanto eu gania, ele se excitava e me devorava as entranhas. Apesar do tempo de latência desde seu gozo na minha boca, ele levou mais de quinze torturantes minutos para despejar mais um bocado de porra no meu cu. Eu já tinha gozado na toalha de banho que ficara debaixo do meu corpo e que, agora, também se manchava com o sangue que vertia das minhas pregas rasgadas. Eu tive mais um orgasmo e voltei a gozar mais um pouco, quando ele ainda estava completamente dentro de mim e seu pau pulsava preso pela minha mucosa úmida e quente. Como eu queria perpetuar aquele momento por toda a eternidade. A felicidade que estava sentindo não se comparava a nada do que eu já tinha sentido.
- Eu amo você, Miguel! – exclamei, entre algo que se parecia com um gemido e um sussurro.
- E eu amo você, Phillip! – grunhiu ele, arfando como um touro na minha nuca.
Ele ainda levou outro quarto de hora antes de tirar seu membro, que insistia em não amolecer, de dentro de mim. Atirou-se sobre o colchão ao meu lado e apoiou a cabeça sobre as mãos cruzadas no travesseiro. Havia um sorriso de prazer e satisfação em seu rosto plácido. Eu me apoiei nos cotovelos e aproximei meu rosto do dele. Meu sorriso tinha a mesma expressão do dele. Beijei sua boca. Ele me retribuiu o beijo e puxou minha cabeça com uma das mãos para junto dele. Continuei a beijá-lo, na testa, na orelha, nas bochechas, na ponta do nariz, no bordo da mandíbula e no pescoço, ele apenas me franqueava as superfícies, desejoso daquele carinho que nada mais era do que a minha devoção por seu desempenho másculo e viril. Eu não tinha mais nenhuma dúvida de que o amava tanto quanto é permitido a um ser amar o outro. Bem como, não tinha mais dúvidas de que ele era aquele homem por quem tanto procurei e, que ia chamar de meu até o último dos meus dias.
- Você faz ideia do quanto eu te amo? – perguntei, quando ele ficou me encarando tão de perto que eu podia sentir o ar que ele expirava roçando minha pele.
- Faço, pelo que você fez a pouco, se entregando para mim como ninguém jamais havia feito. – respondeu ele. – Você é o cara mais complicado que eu já conheci, mas é o único capaz de criar um reboliço no meu peito que sempre me deixa confuso. – acrescentou.
- E, isso é bom ou ruim?
- É bom, porque nunca gozei tanto e tão prazerosamente como há pouco. É ruim, porque sei que você mexe tanto comigo que nunca sei se sou eu que domino você ou se é você que me faz de gato e sapato. – retrucou.
- Por que você quer dominar?
- Porque sou um macho criado para fazer isso! E, ter você à minha mercê, debaixo de mim, gemendo sob meu jugo é a sensação mais gostosa que pode haver. – afirmou.
- Que cruel!
- Não é assim que a natureza funciona? O macho alfa dita as regras para os outros machos que não são tão machos quanto ele.
- Isso pode ser válido no mundo animal, mas não entre pessoas.
- Somos animais dotados de razão. Mas, continuamos animais com desejos tão primitivos quanto qualquer outro.
- Que pensamento maluco! Viu por que é difícil lidar com você? Nunca sei se você quer me fazer de capacho ou se simplesmente está querendo meu carinho. – afirmei.
- Quero os dois! – exclamou convicto.
- Arre! Você podia ser mais sutil!
- É por isso que te amo tanto! Você me compreende e aceita meus defeitos, embora esteja o tempo todo querendo me corrigir.
- Quem sabe se não sou eu que estou no comando e você nem desconfia disso? – inquiri, com um risinho malicioso.
- Toda vez que eu tiver essa dúvida, sei como deixar as coisas às claras! – retrucou. No mesmo instante, ele voltou a se atirar sobre o meu corpo, abriu minhas pernas e meteu o cacetão no meu cuzinho esfolado. Eu gani quando meus esfíncteres se contraíram ao redor daquela jeba grossa. – Agora me responde, quem é que está no comando aqui? – desafiou, me encarando. Eu o puxei para mim e colei minha boca na dele. Todo o furor com o qual tinha me agarrado se transformou em puro carinho e cuidado.
Umas seis semanas depois, o Miguel se mudou de vez para o meu apartamento. Já havia tantas coisas dele espalhadas pelos ambientes que sua presença, mesmo quando não estava fisicamente em casa, me era totalmente familiar. Tão logo o pai dele soube da novidade, me enviou um e-mail expressando sua felicidade por eu estar fazendo de seu filho o homem responsável que ele sempre desejou. O Miguel se transformava a cada dia. Começou a ter um desempenho excepcional na faculdade, largou aqueles colegas que só pensavam em zoar, fazia planos para o futuro e, até começou a verbalizar que, talvez, pudesse vir a trabalhar nos negócios da família.
- Quero casar com você! – disse ele, numa tarde chuvosa quando olhávamos a chuva sendo fustigada contra as vidraças do quarto, num domingo preguiçoso e, eu e ele estávamos enrodilhados um no outro, nus, após uma transa maravilhosa.
- Tudo ao seu tempo! – retruquei.
- Ok, tudo há seu tempo! Ou você não quer casar comigo? – questionou.
- É o que mais quero nessa vida. Embora, já me sinta casado com você. – respondi.
- Quero ter um papel que oficialize que você é meu! Só para ter certeza, sabe, uma garantia! – exclamou, rindo.
- Sei! Uma garantia? Só você e suas ideias!
- Penso como um causídico! Tudo preto no branco!
Embora minha família já soubesse do meu envolvimento com o Miguel, eu nunca o havia levado até a casa dos meus pais. A reação deles frente ao que tinha acontecido com o José Carlos e o Ricardo tinha me desestimulado a apresenta-lo a eles. Mas, por insistência da minha mãe e, também do Miguel, acabei cedendo e, quando cursava o último ano do meu curso na faculdade que era mais longo que o dele e, quando o Miguel já estava formado e trabalhando num escritório de advocacia, fomos passar duas semanas em São Paulo, durante as minhas férias.
Houve muitos momentos de constrangimento nos primeiros dias. Longos silêncios que falavam mais do que palavras. Uma censura velada parecia pairar no ar. Eu quis abreviar nossa estadia, mas o Miguel insistia em ficar. Até que um dia, quando estávamos na casa de praia, o Miguel disse que queria se casar comigo. Ele expressou sua intenção sem meias palavras ou rodeios. Sua intenção foi a de chocar meus pais e irmãos e, conseguiu.
- Eu só queria que vocês soubessem. Sei que não querem ficar expostos a comentários de amigos, conhecidos e parentes, por isso não vamos conviver com vocês. Não terão que sentir vergonha do amor que seu filho sente por mim e, eu por ele. Não vamos impingir nossa presença a vocês. Eu apenas queria que vocês respeitassem o desejo de seu filho, aceitando ou não nossa união que, aliás, é um fato consumado em todos os sentidos. Eu sei o quanto o Phillip ama vocês e o quanto sofre por ser rejeitado. Eu sou tremendamente grato aos meus pais por tentarem dar a ele todo o afeto que vocês lhe negaram. E, lamento que a vida não possa ser diferente. – sentenciou, enquanto um silêncio sepulcral pairava no ar.
Meu pai tinha no rosto uma expressão pesada. Pela primeira vez, eu não soube interpretar se aquilo era raiva, medo ou preocupação. Minha mãe enxugava as lágrimas que lhe foram aflorando aos olhos enquanto o Miguel discursava. Meus irmãos tinham um olhar perplexo, muito menos crítico do que aquele com o qual sempre me encaravam. Eu tentei articular alguma coisa para reverter aquele clima pesado, mas não encontrava nada sensato para dizer. Foi meu pai, pegando na mão da minha mãe que estava ao seu lado, que quebrou o silêncio.
- Você é bem ousado, meu jovem! Não sei se aprovo, ou não, esse comportamento, mas isso não vem ao caso. Talvez a sua coragem e, a do Phillip, ao levar sua vida afastado de nós, depois do que houve por aqui, me fez repensar minha atitude. Hoje não me orgulho nem um pouco dela. É certo que o mundo mudou, demorei a perceber isso. – suas palavras ecoavam em meus ouvidos e eu temia pelo desfecho daquela conversa. – Foi muito mais difícil para sua mãe e eu vivermos todos esses anos longe de você. E, se você um dia puder nos perdoar pelo que lhe fizemos, nos consideraremos abençoados pelos filhos que tivemos, não é querida? Cada um de vocês é único e, nós amamos essas diferenças. – afirmou, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas.
- Eu amo vocês! – balbuciei, procurando não prolongar aquela situação.
- E nós a você! – respondeu minha mãe, vindo me abraçar.
Eu nunca podia imaginar que aquilo fosse acontecer algum dia. Depois de receber um abraço de cada um da minha família, fui me abrigar no peito largo e protetor do Miguel. Parecia que um peso enorme havia saído dos meus ombros, como se eu me culpasse por ter nascido homossexual.
Depois de dois anos trabalhando num escritório de arquitetura em Buenos Aires, recebi um convite para passar mais dois anos num conceituado escritório de arquitetura em Amsterdã. O Miguel me acompanhou e fez um curso de relações internacionais, visando se inteirar da legislação de comércio, importação e exportação internacionais. Ao término dessa experiência, fomos morar em Mendoza. O Miguel começou a por em prática seu aprendizado incrementando os negócios da vinícola. Eu abri meu próprio escritório de arquitetura, valendo-me dos prêmios que conquistei com dois de meus projetos premiados enquanto trabalhava na parceria em Amsterdã. Ficamos morando na casa dos pais dele enquanto construíamos a nossa.
Era um projeto discreto de pouco mais de 300 metros quadrados, implantado num bairro tranquilo que ficava no que os argentinos chamam de Piedemonte, uma encosta junto a um morro, ao qual eu dedicara horas de ensaios e um carinho todo especial por ser o nosso futuro lar. O Miguel adorava todo o esboço que eu lhe apresentava, não importando o quão diferente um fosse do outro.
- Desse jeito você não me ajuda em nada! Tudo sempre está bom para você. – exclamei, mais uma vez frustrado por ele não firmar uma opinião.
- Amo tudo que você faz! Que culpa eu tenho? – dizia, fazendo uma carinha de desamparo.
Nem acreditei quando passamos a nossa primeira noite na casa recém-construída. Eu não cabia em mim de tanta felicidade. Não me cansava de olhar para cada objeto e relembrar a história de como ele veio compor nossa casa. Para marcar a data, preparei um jantar eu mesmo, quis impressionar o Miguel quando ele chegasse da vinícola. Ele me entregou uma caixa enorme, que mal dava para segurar, junto com seu beijo ao entrar em casa. Nela havia um filhote de pointer inglês, que me encarou curioso com seus olhos castanho-claros e, emitiu uns ganidos de alegria, assim que retirei a tampa.
- Amo você! – sussurrei, quase chorando, pois sabia que ele era o homem com o qual sempre sonhei. E, ele era todinho meu.
- Tenho certeza de que vou ser muito feliz com vocês dois nessa casa. – disse ele, tomando-me em seus braços e me beijando numa volúpia desenfreada com eu já sabia como seria amenizada.