Um amor para a eternidade

Um amor para a eternidade
Tudo estava acontecendo como eu sempre havia sonhado. Meu coração pulsava no peito cheio de amor para dar. Ele era como eu via nos meus sonhos, bonito, musculoso, intrépido, seduzido pelos meus encantos, aqueles que eu certamente tinha, mas não sabia exatamente quais eram; o rosto harmonioso de sorriso fácil, o corpo esguio e sedutoramente definido, o olhar meigo que brotava do fundo do par de olhos tão intensamente verdes quanto uma esmeralda ou, talvez a bunda, que envergonhadamente eu tinha ciência de ser muito mais rechonchuda e empinada do que o discretamente recomendável. Era entre as nádegas rijas e lisas dela que ele estava agora, mais precisamente dentro do meu cuzinho que doía bastante com aquela rola grossa dentro dele, uma sensação que nunca estivera presente nos meus sonhos que, contudo, a realidade estava me mostrando ser muito pungente. Eu procurava ignora-la a bem do prazer que sua pica impulsiva latejando dentro de mim produzia. Porém, não era tão simples quanto acionar um interruptor na parede para apagar a luz, por isso eu gemia na mesma cadência das estocadas firmes dele. O que mais importava era ele estar comigo, me abraçando e sussurrando sacanagens no meu ouvido, era ele estar aqui dentro onde eu podia aconchega-lo como em nenhum outro lugar.
Ele era Daniel, o veterano do segundo ano que, com outros colegas de turma, há quase um ano me fez pagar mico, pedindo uns trocados para os carros que paravam num semáforo movimentado com a cara toda pichada com palavras degradantes, um POLI em tinta azul que ocupava toda a minha testa e, o que restou dos meus cabelos castanho-mel, ouvindo gracejos e sacanagens dos motoristas que se divertiam com a minha condição. Semanas depois, meu coração entrava em taquicardia toda vez que o via na faculdade, enquanto ele me encarava da maneira mais gananciosa que eu já vira. Ele foi se aproximando com uns papos meio sem nexo, piadas das quais só eu achava graça e, elogios que me desconcertavam. No dia em que ele me disse que estava a fim de mim, entrei num estado de graça que só fazia eu enxerga-lo como um deus a ser idolatrado. Pouco mais de um mês depois, eu estava num local ermo do campus dentro do carro dele, chupando sua rola e abrindo minhas pernas apoiadas sobre os bancos da frente enquanto ele fodia meu cu no banco traseiro. Estávamos oficialmente tendo um caso, eu o chamava de namoro, ele de pegação. Não me importava o adjetivo, eu estava nas nuvens com meu macho tão sonhado.
A rave contratada por alguns centros acadêmicos da USP com uma empresa especializada aconteceria num enorme espaço descampado nos arredores da cidade de Itú, no interior paulista. A má fama desse tipo de festa tinha feito com que meu pai me proibisse de ir, mas àquela altura eu dava mais ouvidos ao Daniel do que à opinião careta e desfocada dos velhos. Por sorte, o sábado da festa coincidiria com uma viagem dos meus pais aos Estados Unidos. Não seria necessário me estressar tentando convencê-los a me deixar participar, bastava ir e não abrir a minha boca, nem para meu irmão nem para os empregados da casa. No meio da tarde do sábado, com o céu carregado de nuvens acinzentadas e um mormaço sufocante pairando no ar, o Daniel apareceu em sua Kawasaki Z1000 de carenagem laranja-acobreada. Ele acelerava propositalmente a motocicleta na rampa que conduzia do portão de casa até em frente ao pátio das garagens, onde o Jairo, aproveitando a ausência do meu pai, terminava de fazer uma limpeza mais apurada na sua Mercedes classe S. Das outras vezes em que o Daniel apareceu em casa eu já havia reparado na maneira enviesada com que nosso motorista o encarava, especialmente quando ficávamos longas horas trancafiados no meu quarto estudando ou ouvindo música e o Daniel saía de lá com uma cara de quem acabara de se fartar num banquete. Daniel também não gostava do Jairo, sempre fazendo algum comentário para denegri-lo ou, olhando-o com um ar superior de desdém.
- Ele é um cara maneiro! Todos aqui em casa gostam dele. Você é que implica com ele. Meu irmão e eu crescemos brincando com ele, improvisando umas peladas na quadra de tênis ou desafiando-o nos joguinhos do computador, ele sempre dava uma lavada na gente. – revelei, quando o Daniel se indignou por mantermos um sujeito como aquele como motorista.
- Para mim ele tem cara de bandido, fica me encarando e se achando gente! Pé-rapado, favelado, filho da puta! – retrucou.
- Nossa! Que grosseria! Você não sabe do que está falando. Se meus pais te ouvem falando uma coisa dessas, você não pisa mais aqui dentro. – devolvi, chateado por ele tratar daquela forma uma pessoa de quem eu gostava muito.
- Seus pais são muito tolerantes com essa gente! Lá em casa não damos moleza para essa cambada, deu mole está na rua! – revidou ele.
O Daniel era tão lindo, tão gostoso na cama, tão tesudo que algumas de suas opiniões, embora me chocassem, não me impediam de querer estar com ele. Eu estava sob o efeito daquele tipo de ignorância que era uma benção.
- Para onde você está indo, Enzo? – perguntou o Jairo, quando me ajeitei na garupa da moto e ajustava o capacete.
- Aonde seus patrões vão não é da sua conta! Vá cuidar do seu serviço! – respondeu o Daniel, acionando a manopla do acelerador e fazendo a moto roncar alto.
- Estou indo a uma festa da turma da faculdade. Não se preocupe, Jairo! – respondi, dando um safanão nas costas do Daniel por ter sido tão rude.
- Não é aquela rave que seu pai te proibiu de ir, não é? Você está com o seu celular? Me liga se precisar de alguma coisa. – questionou o Jairo.
- Claro que não! É outra festa. Valeu, tchau! – respondi.
- Você é muito sem noção, cara! Fica na sua que ele não vai precisar dos seus serviços! – exclamou Daniel, desafiador.
Embora o ronco da moto começando a descer a rampa em direção ao portão estivesse alto, eu pude ouvir o – filho da puta – que o Jairo deixou escapar com aquela sua voz firme e grave. Assim que saímos do primeiro pedágio na rodovia dos Bandeirantes, o Daniel deu uma olhada para trás e me mandou segurar firme em sua cintura. Minutos depois, a Kawasaki driblava os automóveis na pista a 224 Km/h. Chegamos ao local da rave cerca de 140 quilômetros da minha casa, em cravados 50 minutos, com o Daniel estacionando a moto ao lado de outras máquinas da mesma categoria e preço, gabando-se do feito para uns carinhas que também fizeram o trajeto na mesma imprudência. O som da música eletrônica já rolava alto, quase ensurdecedor, obrigando-nos a gritar para sermos ouvidos. A complexidade das baterias primárias nas músicas em nove ou dez camadas simultâneas, se repetindo como num ritmo xamânico, promovia uma alteração clara entre as músicas e a consciência emotiva da galera, libertando-a de paradigmas e repressões da sociedade, levando a um transe hipnótico e distorcendo o sentido do tempo. Algumas pessoas já circulavam entre a multidão completamente embriagadas e sob efeito de drogas, que eram reabastecidas regularmente por traficantes que circulavam com um olho na polícia e outro nos consumidores. Eu detestei o gosto enjoativamente doce e perfumado da bebida que o Daniel comprou num quiosque com os cem Reais que me pediu emprestado, despejando-a no chão de terra batida empoeirada, após um único gole. Fiz o mesmo com a latinha de cerveja amarga que ele me ofereceu em seguida. Enquanto nos movíamos entre um palco e outro, notei três carinhas que pareciam estar em todos os lugares aonde íamos.
- Você reparou naqueles carinhas? Parece que estão em todos os lugares com a gente. – comentei com o Daniel.
- Nessa multidão, você vai reparar nas pessoas? Aqui todos têm a mesma cara. Desencana! – revidou. A verdade era que eu estava com medo. Estava desobedecendo meus pais, tinha feito uma viagem alucinada na garupa de uma motocicleta, estava num lugar onde todos pareciam querer cometer um crime e, de repente, tive vontade de sumir dali. Mas, o Daniel parecia se divertir e eu não queria que ele se zangasse comigo, com meu jeito bom-moço de ser.
No auge da baderna, pouco depois da meia-noite, com todos os palcos tocando desenfreadamente diversos ritmos que levavam a galera ao delírio, os três carinhas se aproximaram mais uma vez de nós.
- Seguinte mano! Quero as chaves da Kawasaki, celulares e a grana que está nos bolsos dos dois. – disse um deles, exibindo uma faca de cabo preto emborrachado que reluzia debaixo da jaqueta de couro que ele abriu ligeiramente para que víssemos a arma. Os outros dois também abriram as jaquetas e exibiram os socos-ingleses enfiados nos cintos cheios de tachas metálicas que brilhavam conforme os holofotes de laser varriam o campo da festa.
- Que Kawasaki, cara? Não sei do que você está falando. – devolveu o Daniel, gaguejando e tremendo quando passou a carteira para a mão do sujeito.
- Não dá uma de esperto para cima de mim, seu babaca! – revidou o sujeito, fechando a mão ao redor do cabo da faca. – E você, seu boiolinha, cadê o celular e a grana? Ficou me paquerando por que esse panaca não está dando conta do recado, foi? Pega na minha pica do mesmo jeito que você se agarrou na cintura desse trouxa, pega! – revidou o sujeito, começando a ficar irritado com a demora em obedecermos a sua ordem.
- O filhinho-de-papai até que tem uma toba bem gostosinha! Deve ter um cuzinho chegado numa rola. – gracejou outro, encarando-me como se eu tivesse uma aparência convidativa, como se o volume dos meus quadris não pudesse ser contido, ao que os outros dois concordaram com um risinho sarcástico.
- Anda seu porra! Não tenho o dia todo para esperar! – rosnou o da faca.
- Seguinte! Vamos chegar numa boa. Meu colega aí tem uma grana, a gente entrega tudo e os celulares, mas a moto não! – barganhou Daniel.
- Tá me achando com cara de palhaço, mano? – questionou o da faca, dando uma prensa no Daniel.
Nisso, os outros dois arrancaram o celular da minha mão e enfiando a mão no meu bolso tiraram a carteira. Nela havia uns mil Reais, um cartão e a foto do Daniel. Depois fizeram o mesmo com ele além de lhe arrancarem a chave da moto, presa ao cinto com um cordão trançado.
- Saca a quantidade de azuizinhas na carteira do boiolinha! – exclamou maravilhado o que se apoderara da minha carteira.
- Você é michê desse filhinho-de-papai? – questionou o da faca encarando o Daniel. Ele não respondeu, apenas olhou na minha direção com uma expressão vazia. – Vamos ver o que dá para garimpar com esse cartão. – emendou, dirigindo-se aos comparsas.
- Eu não vou a lugar algum! Vocês já têm o que queriam, deixem-nos em paz! – exclamei, apavorado com a ideia de ser sequestrado.
- Você vai fazer o que a gente está mandando, ou te furo aqui mesmo, viado! – ameaçou o da faca.
- Vai com eles, Enzo, é melhor! – balbuciou Daniel, sem coragem para olhar nos meus olhos.
- Como assim, Daniel? Você não vai me deixar sozinho com esses caras, por favor! – revidei, quase chorando, pois me vi totalmente desamparado.
Caminhamos com eles na nossa cola, mal havia cinquenta centímetros entre eles e nós, quando fomos em direção ao estacionamento. Um deles pegou a Kawasaki e os outros dois nos colocaram num Fiesta branco, provavelmente roubado, pois o que dirigia, não estava se entendendo com a transmissão automática. Chegados ao perímetro urbano de Itú eles procuraram um caixa eletrônico onde pudessem usar meu cartão, sacaram os cinco mil Reais do limite diário do cartão, com um sorriso que ia de orelha a orelha. Pensei que fossem nos deixar nas proximidades, mas enveredaram por uma estrada de terra fora da cidade entre sítios e chácaras de final-de-semana. O que mais me angustiava era a insistência do Daniel negociando sua moto.
- Pensem bem! Vocês vão ser pegos na primeira esquina com essa motocicleta chamativa. Vão ver que não vale a pena se arriscar. Nossa grana vocês já têm, os celulares também. Muita ganância pode acabar virando merda. – argumentava Daniel. O líder pesou suas palavras e já esboçava uma cara de aquiescência.
- Vamos dar um rolê com a Kawasaki primeiro, brow! Manda esse filho da puta calar a boca. – sugeriu o que pilotara a motocicleta.
- Pode dar merda mesmo! – respondeu o da faca.
- Então vamos zoar o cuzinho do namorado do filho da puta! – sugeriu outro. Eu entrei em pânico e tentei me abrigar no físico avantajado do Daniel. Ele deu uns passos para trás como me entregando aos meliantes.
Numa curva com matagal alto dos dois lados da vicinal de terra eles estacionaram o Fiesta. O que havia sugerido o estupro me debruçou sobre o capô quente do carro e arrancou minhas calças. Minutos depois senti a verga dele me rasgando as pregas. Gritei desesperado e levei um bofetão vindo por trás que atingiu meu rosto com força.
- Cala boca, viado! – berrou o que me fodia. Sob o olhar complacente do Daniel eles se revezaram no meu cuzinho.
- Corno filho da puta! Está gostando de ver sua bichinha sendo enrabada por um bando de machos? – questionou o líder que tinha ficado por último, pois os outros dois alegaram que se ele me enrabasse primeiro me deixaria arregaçado tirando o gostinho deles de sentir meu cuzinho apertado.
Cada tentativa minha de me desvencilhar deles me custou um bofetão na cara, um soco na boca do estômago ou uma rasteira que me levou ao chão empoeirado. Daniel não fez um único gesto em meu auxílio, temendo que parte daquela violência sobrasse para ele. Eu mal podia olhar para a cara resignada dele, pois isso aumentava a dor que os vândalos imprimiam ao meu corpo. Fomos abandonados naquela curva da estrada perdida no nada. Eu ergui minha cueca e minha calça vendo um filete de sangue escorrendo na minha coxa. Quando teve a certeza de que os caras tinham ido embora, o Daniel se aproximou de mim.
- Você acha que consegue andar até conseguirmos ajuda? – perguntou. Eu não respondi, apenas comecei a caminhar no sentido inverso daquele pelo qual tínhamos vindo. As lágrimas rolavam pelo meu rosto, e eu sentia seu gosto salgado nos lábios ressecados de tanto gemer e gritar por minha integridade física.
Estava quase amanhecendo quando chegamos ao primeiro sítio mergulhado no silêncio e na neblina baixa do alvorecer. Demorou até um homem e dois pastores-alemães chegarem ao terraço diante da porta principal e berrar em nossa direção perguntando o que desejávamos. Daniel explicou resumidamente o ocorrido, deixando de mencionar que estávamos numa rave e que eu havia sido estuprado, mencionando apenas os furtos. Relutante o homem lhe entregou um celular que pediu para trazerem até o terraço para que pudéssemos acionar a polícia, sob o olhar vigilante dos cães e apostos para fazer uso da arma que estava escondida sob sua camiseta encaixada na cintura.
- Você não parece nada bem! – exclamou, me encarando.
- Ele tomou uma surra dos caras! – apressou-se a responder Daniel.
- E você não defendeu seu amigo? Não tem nenhum sinal de ter sido agredido. – questionou o homem.
- Fiquei sob a mira dos revólveres deles! – respondeu Daniel, com a maior cara de pau.
- Não querendo abusar da sua generosidade, será que eu posso fazer mais uma ligação? – pedi, mal conseguindo ficar em pé. O homem acenou com a cabeça.
Liguei para casa e quem atendeu foi o Jairo. Não sei por que, mas ao ouvir sua voz comecei a chorar feito um garotinho. Ele pediu que eu me acalmasse e contasse o que estava acontecendo. Atropelando as frases fui relatando os detalhes, deixando para o fim a questão do estupro, que contei longe do homem e do Daniel para que não me ouvissem.
- Onde fica esse sítio onde você está? – perguntou o Jairo. Como respondi que não sabia exatamente, ele me pediu para passar o telefone para outra pessoa. O homem deu-lhe a orientação necessária.
A polícia chegou ao sítio quase uma hora depois, ouviu o relato do Daniel e disse que teríamos que acompanha-los até uma delegacia. Pedi que esperassem até o Jairo chegar, mas eles alegaram que eu poderia fazer novo contato a partir da delegacia. Enquanto esperávamos um delegado vir conversar conosco, sentados num banco ripado de madeira que beliscava minha bunda assim que eu tentava me ajeitar para aliviar aquela dor no cu, o Daniel sugeriu que eu o deixasse relatar a história ao delegado. Eu me recusei, pois não confiava mais nele. Pedi para usar o telefone mais uma vez, depois de já tê-lo feito para avisar ao Jairo do meu novo paradeiro. Sem muita disposição, um escrivão me deixou ter acesso ao aparelho que estava em sua mesa.
- Que tanto você precisa telefonar agora? Vamos dar o fora daqui o mais breve possível. – disse Daniel, segurando meu braço.
- Preciso bloquear meu cartão e quero saber se o Jairo já está chegando. – respondi, desvencilhando-me dele.
Quando o Jairo chegou à delegacia estávamos prestando o depoimento e ele foi impedido de acompanhar, uma vez que não era parente e nem advogado de nenhum dos dois. Quando terminei meu relato, sem ter mencionado o estupro, o delegado me perguntou se havia mais alguma coisa a declarar. Eu corei e tive vergonha de dizer que estava com o cu arregaçado e sangrando. Respondi que não, observando a cara de alívio que o Daniel fez ao ouvir isso. O delegado me examinava com seu olhar sagaz, concluindo para si mesmo que fora o ar de sofisticação, a beleza clássica, aquela irradiação de riqueza e superioridade e, um senso de privilégio que parecia inato que me fez virar vítima dos bandidos. Ao sair da sala do delegado vi a expressão tensa e preocupada do Jairo que caminhava de um lado para o outro. Ele veio em minha direção e me abraçou com força, meu choro recomeçou apesar de eu tentar disfarça-lo.
- E a minha motocicleta? O Senhor acha que pode ser recuperada? – perguntou Daniel ao delegado, que respondeu com certa ironia.
- Vamos sair daqui, Jairo, por favor! – pedi, sem reparar como ele olhava para o Daniel.
Tão logo alcançamos a rua e chegamos até o SUV da minha mãe, com o qual o Jairo veio me resgatar e, vendo que o Daniel pretendia se instalar no banco traseiro ao meu lado, o Jairo o agarrou pelo colarinho e enfurecido o pressionou contra o carro.
- Aonde você pensa que vai, seu filho da puta? Meu assunto com você vai ficar para depois, mas eu te garanto que vamos nos ver em breve. Se você fosse macho não teria deixado isso acontecer com ele. Um macho de verdade não é aquele que só come, mas aquele que também cuida do que é dele. Você não passa de um corno arrogante e covarde! – rosnou, dando um soco no abdômen do Daniel que o fez dobra-se sobre si mesmo e ficar sem respirar.
No caminho para casa contei mais calmamente tudo o que aconteceu. Também pedi para ele parar o carro para que pudesse me sentar no banco da frente ao lado dele. Sem encará-lo, enquanto ele pagava o último pedágio, eu revelei que haviam me fodido. Ele se surpreendeu pelo delegado não ter me mandado fazer um exame de corpo de delito. Eu disse que não tinha falado nada para o delegado.
- Tive vergonha, Jairo! O que vai ser de mim agora? Está doendo muito e eu estou sangrando. – afirmei choroso.
- Temos que passar por um hospital para que te examinem. Você vai precisar tomar um coquetel contra doenças sexualmente transmissíveis, nunca se sabe que tipo de doenças esses desgraçados têm. – retrucou, prático e sensato.
- Se meu pai souber o que aconteceu, eu não sei o que vai ser de mim, Jairo! – exclamei, pensando nas consequências de tudo que me aguardava.
- Não é hora de encher sua cabeça com isso! Precisamos cuidar de você primeiro. – afirmou ele, aparentemente inabalado e centrado no que precisava ser feito.
Vendo-o dirigir com habilidade e cuidado, lembrei-me de quando meu irmão e eu éramos pequenos e ele nos levava e buscava no colégio, quando brigávamos e eu quase sempre levava a pior e ele nos separava sempre dando uma atenção extra ao meu sofrimento, quando entediados pelas ausências constantes dos nossos pais, ele nos levava ao zoológico, a parques, a shoppings ou onde sugeríssemos, sempre disposto e zeloso. Ele havia sido contratado quando eu tinha oito anos, era um cara bem apessoado, vigoroso, com vinte e cinco anos, que havia deixado a então Vila de Trabiju, pertencente à Boa Esperança do sul, antes de se tornar um município emancipado, onde havia nascido no interior paulista, à procura de melhores condições. Ele ocupava um quarto isolado acima da garagem na ala dos empregados e, meu irmão e eu, gostávamos de ir lá bater papo quando ele não estava de serviço. Quase sempre éramos repreendidos pela minha mãe que não gostava que fôssemos incomodá-lo em seu descanso. Mas, ele não se importava com nossa tagarelice, o que nos deixava realizados. Ele pouco havia mudado nesses onze anos que estava conosco, especialmente em sua aparência que ele, com certa vaidade, cultivava frequentando uma academia nas suas folgas. Quando meu irmão foi fazer faculdade nos Estados Unidos, eu me apeguei mais ao Jairo, tentando substitui-lo como uma referência mais velha.
Fiquei constrangido quando o médico do pronto-socorro enfiou um espéculo reluzente e frio no meu cuzinho dilacerado, diante do olhar apreensivo do Jairo. Tentei virar o rosto para o outro lado e disfarçar as lágrimas que embaçavam minha visão. Ele segurou a minha mão e a apertou na dele, quente e protetora, durante todo o procedimento, invasivo e doloroso.
- O sangramento vem de umas lacerações mais profundas, teremos que fazer umas suturas antes de te liberar. – afirmou o médico, que olhava para o corpo musculoso do Jairo cheio de suspeitas de ele ser o causador daquela barbárie.
- Eu fui assaltado, roubado e estuprado por três caras esta madrugada quando estava numa rave perto de São Paulo. – esclareci, pois não queria que o médico tivesse dúvidas quanto à dignidade do Jairo. Ele me encarou sem compreender por que eu estava sendo tão honesto e direto agora, quando me mostrei tão acanhado e relutante dentro do carro.
Ao chegar em casa tranquei-me no meu quarto e vi meu mundo desabando diante dos meus olhos. O primeiro macho para quem me entreguei cheio de amor e esperanças, praticamente me negociou para não perder sua motocicleta. Não fosse o Daniel se mostrar um frouxo, talvez os caras não tivessem tido a ideia de me enrabar. Meu comportamento e minha postura não lhes teria feito adivinhar que eu era homossexual, isso estava ficando cada vez mais claro. Foram os sinais de posse e dominância do Daniel que os levou a saberem o que rolava entre nós. A facilidade com que ele expos o que eu levava na carteira já não deveria estar me espantando tanto, afinal, era eu quem pagava muitas vezes as nossas saídas, pois ele evitava gastar a polpuda mesada que os pais lhe davam. Eu me sentia cada vez mais trouxa por só agora estar enxergando o que estava diante da minha cara o tempo todo.
Fiquei trancafiado no meu quarto por dois dias, mal podendo caminhar ou sentar com aquele cu arreganhado. Recusei quase todas as refeições que a cozinheira preparou atendendo a recomendação do Jairo para fazer meus pratos prediletos, que ele próprio se encarregava de me levar, apenas para saber como eu estava. Só no terceiro dia, depois de constatar que a cueca não tinha mais nenhuma mancha de sangue, quando fui tomar banho, é que desci. Fui direto procurar o Jairo em seu quarto quando não o vi lidando com os carros. Ele não estava. Perguntei à governanta sobre o paradeiro dele, pois queria agradecê-lo e pedir sua discrição quando meus pais regressassem.
- Elisabete, você sabe do Jairo?
- Ele disse que precisava resolver uma questão particular, pegou a motocicleta dele e saiu não faz nem uma hora. Você está precisando de alguma coisa? – respondeu ela.
Imediatamente me lembrei da ameaça que ele havia feito ao Daniel ao deixarmos a delegacia. Que outro assunto particular ele teria para resolver, quando não era seu costume sair, fora das suas folgas? Liguei para o celular dele, mas ele não atendeu e deixou a ligação cair na caixa postal, outro comportamento que fugia do padrão dele. Comecei a me preocupar com a ideia de ele estar fazendo alguma besteira com o Daniel, e acabar sendo preso por agredi-lo. Esperei-o por mais de quatro horas sentado numa poltrona do escritório do meu pai, de onde se tinha uma visão do pátio diante da garagem. Havia me esquecido de acender as luzes quando começou a anoitecer e, nem me dei conta de que estava sentado na penumbra perdido nos meus pensamentos. O farol da motocicleta iluminou a rampa já escura quando ele atravessou o portão. Ele apeou e tirou o capacete, enquanto um dos portões automáticos da garagem se abria lentamente. Saí correndo na direção dele.
- Onde você esteve? – perguntei, sem nenhuma sutileza.
- Fui resolver um assunto particular! – respondeu ele. Faltavam os dois primeiros botões de sua camisa quando ele tirou a jaqueta de couro que eu lhe presentei no último Natal.
- O que você fez com o Daniel? – perguntei objetivo.
- Nada! Não me diga que você já está pensando naquele sujeito outra vez? – além da censura em sua voz, havia um tom com o qual ele nunca havia me tratado antes.
- Não estou pensando nele! Não quero que você se meta em encrencas por minha causa, só isso! – exclamei brando.
- Não se preocupe comigo, sei cuidar de mim mesmo. – devolveu ele, ainda com alguma censura na voz.
- Ao contrário de mim, não é? – questionei envergonhado.
- Não foi isso que eu quis dizer! Você só não precisa se preocupar comigo. – respondeu ele, já sem aquela agressividade.
- Mas eu me preocupo! Gosto de você e não quero vê-lo em apuros. – afirmei, esboçando um sorriso cauteloso. – Vim te agradecer pelo que fez comigo. Não sei o que seria de mim se você não viesse me acudir. Obrigado, Jairo, muito obrigado, de verdade! – emendei, dando os passos que me separavam dele e abraçando-o.
- Você sabe que eu faria qualquer coisa por você! – respondeu ele, me apertando em seus braços de um jeito como nunca tinha feito antes. – Você está bem?
- Estou! – respondi, corando levemente, pois sabia ao que ele se referia.
Cabulei as aulas na faculdade durante toda aquela semana, esperando meu cu cicatrizar, e eu criar coragem para encarar as pessoas que já deviam estar sabendo do que aconteceu. Não que eu estivesse interessado, mas o Daniel não me ligou nenhuma vez sequer. Senti-me mais vez um completo idiota por ter um dia suspirado e nutrido os mais puros sentimentos em relação a ele. Quando regressei as aulas quase ninguém sabia do ocorrido, tinham circulado boatos, mas nada foi confirmado.
- Estão dizendo que você e o Daniel foram assaltados na rave, verdade? – questionou-me um colega de classe.
- Foi. – respondi lacônico, pois não sabia até onde os boatos haviam chegado.
- Teve uma galera de outras turmas e faculdades que também foi assaltada. Prenderam mais de doze com celulares roubados, mas dizem que três camaradas invadiram a festa e fizeram um rapa no pessoal usando muita violência, teve gente que foi tentar identificar os caras na delegacia, um já tinha passagem por associação ao tráfico e roubo a mão armada, os outros não foram reconhecidos. – revelou o colega.
- Eu fui embora logo depois do assalto. – afirmei, mentindo para não especularem mais sobre o que havia me acontecido.
- Você soube do que aconteceu com o Daniel? – meu coração gelou quando ele fez a pergunta.
- Não. Faz uns dias que não converso com ele. – devolvi apreensivo.
- Parece que os caras que roubaram a Kawasaki dele encontraram o endereço dele na documentação e foram tentar assalta-lo ou sei lá o que, mais uma vez. Como não conseguiram, deram o maior pau nele. Ele está todo quebrado hospitalizado desde quarta-feira, segundo aquela loira gostosona da classe dele.
Quarta-feira foi o dia em que o Jairo desapareceu por algumas horas. Eu estava certo de que ele tinha dado aquela surra no Daniel, por uns instantes tive medo daquele seu jeito aparentemente calmo e controlado que, no entanto, eu já tinha visto explodir durante uma luta de artes marciais que presenciei no dia em que ele me levou até a academia onde se exercitava. Fiquei dias sem tocar no assunto com ele.
- Você já pensou no que pode te acontecer quando o Daniel tiver alta e sair daquele hospital? A polícia vai vir atrás de você, a família dele não vai deixar barato. – questionei, numa tarde em que regressei da faculdade e ele estava descarregando o carro com o qual tinha levado a governanta até as compras.
- Não sei do que você está falando! – respondeu ele, com a cara fechada.
- Vou falar com o meu pai e contar tudo o que aconteceu, e que você só fez isso para me ajudar. – afirmei.
- Você não vai falar nada para ninguém! Não foi esse o nosso trato? – retrucou.
- Mas, e se fizerem alguma coisa contra você? Eu vou me sentir culpado, não posso deixar você levar a culpa. – argumentei.
- Olhe bem para mim! Eu já disse que sei cuidar de mim. Não quero mais ouvir você falando nesse assunto, estamos entendidos? Ou não vai mais cumprir o nosso acordo? – revidou ele, me segurando pelos ombros.
- Vou, claro que vou! – devolvi, sem firmeza.
Passei dias preocupado com as consequências da atitude do Jairo, ao mesmo tempo em que me perguntava o porquê de ele ter feito aquilo. Certamente ele sempre fora um funcionário devotado exercendo suas funções com tanta presteza que meus pais logo reconheceram seu valor e o gratificavam por isso. Mas, expor-se daquela maneira, arriscando-se a ser preso por ter agredido o filho de uma família com posses, não só não fazia parte de suas atribuições, como era incoerente com o seu comportamento. Então, o que o levou a agir assim? De repente, naquele turbilhão de hipóteses que vieram à minha cabeça, lembrei-me das palavras dele antes de desferir o soco no abdômen do Daniel praticamente em frente à delegacia - Um macho de verdade não é aquele que só come, mas aquele que também cuida do que é dele – então o Jairo estava cuidando de mim como macho, concluí. Isso também explicava a implicância dele para com o Daniel logo nas primeiras vezes em que ele começou a frequentar minha casa. Explicava aquela cara sisuda com a qual ele ficava por uns dias logo depois do Daniel e eu transarmos e eu ficar nas nuvens e, provavelmente, deixando estampada na testa a alegria de ter sido enrabado. Puxando pela memória, também explicava alguns olhares que o Jairo me lançava quando eu estava na piscina de sunga, e o jeitão esquisito que ele ficava ao me aproximar dele com tão pouca roupa cobrindo meu corpo. As coisas se encaixavam com a mesma precisão das peças de um quebra-cabeça. Ele se sentia atraído por mim, esse foi o motivo que o levou a dar uma lição no Daniel. Esbocei um sorriso de contentamento com essa conclusão, ao mesmo tempo em que meu peito se aquecia com um sentimento inusitado.
- Dá para explicar o porquê desse sorriso? – perguntou meu pai, quando notei que todos na mesa do jantar me encaravam com um misto de espanto e indagação, pois ele repetira a pergunta três vezes antes de eu me dar conta de que ele estava se dirigindo a mim.
- Hã? O que? Que sorriso?
- Esse que faz mais de dez minutos que não sai da sua cara! – devolveu ele, esperando uma resposta.
- É que me lembrei de uma coisa engraçada da faculdade. – respondi ligeiro, pois meus pais estavam com visitas e eu não queria esticar aquele assunto.
Dei uma desculpa para não ficar na sala após o jantar e fui até o quintal brincar com meu Rottweiler Thor e minha Mastiff Atena que me cercaram tão logo eu saí pela porta da cozinha e fui me sentar num banco do pátio perto da garagem. A luz no quarto do Jairo estava apagada, mas havia reflexos azulados se movendo através das persianas abertas e deduzi que ele estava vendo TV. Começaram a surgir imagens dele na minha mente. Ele sem camisa metido numa bermuda lavando os carros com a máquina de alta-pressão. Ele tirando caixas pesadas do porta-malas do carro que faziam seus bíceps quase rasgarem as mangas da camisa. Ele voltando da academia trajando uma camiseta colada ao tronco vigoroso e um short de onde emergia um par de coxas musculosas e peludas. Ele rindo de alguma coisa engraçada ou de uma piada cabeluda que eu acabava de contar, com aquele rosto viril contornado por uma barba cerrada. Ele, um macho do qual eu já tinha visto inúmeras facetas ao longo de todos esses anos, mas que subitamente estava me deixando louco de tesão. Contrariando pela milésima vez a recomendação da minha mãe de não importuná-lo em sua folga, me dirigi ao quarto dele. No topo da escada ouvi o som da televisão ligada, a porta do quarto estava ligeiramente entreaberta, pensei em bater antes de entrar ou, talvez chamar por ele antes de enfiar a cara porta adentro. Mas, se ele estivesse com pouca roupa, como costumava ficar quando estava em seu quarto, eu seria privado da visão privilegiada de seus atributos e, eu estava tremendamente necessitado de vê-los naquele momento.
- Oi! Atrapalho? – questionei, abrindo a porta e entrando no quarto sem pedir licença. Ele se levantou da cama num pulo e alcançou rapidamente o jeans que estava no espaldar de uma cadeira, pois estava só de cueca.
- Você não aprendeu a bater na porta antes de entrar no quarto dos outros, não? – questionou, ao constatar que era eu, me dando uma bronca por entrar daquela maneira em seu quarto, e quis enfiar as pernas no jeans.
- Desculpe! Não pensei que você fosse ficar tão zangado! Depois, que mal tem? – respondi.
- Você podia me pegar desprevenido! E, não estou zangado, mas quero que bata na porta da próxima vez. O que você quer? – disse, abrandando a voz.
- Desprevenido quer dizer pelado? – provoquei.
- É, quer dizer pelado! Diga logo o que quer. – retrucou.
- Nada. Só ver se você não quer conversar comigo. – eu sabia que usar da tática de me mostrar desamparado sempre funcionava.
- Por que não está lá conversando com as visitas? É lá que você devia estar. – devolveu ele.
- Prefiro ficar com você! – isso também o impactava, dar-lhe a entender que gostava de sua companhia.
- Mas não é o certo! – resmungou, porém contente com o que acabara de ouvir.
- Por que não é certo gostar de você?
- Não foi isso que eu quis dizer, você entendeu muito bem, não se faça de engraçadinho. – advertiu.
- Ainda mais depois do que você fez por mim. – retruquei.
- Já falei para você não tocar mais nesse assunto.
- Mas eu não consigo esquecer. E, nem quero! – exclamei.
Fez-se um silêncio demorado. Tanto eu quanto ele olhávamos para a tela da TV desinteressados do que se passava nela. Eu me sentei ao lado dele na cama, novamente sem pedir licença, ciente de estar invadindo seu espaço, mas não resistindo às coxas peludas e ao torso nu que estavam diante dos meus olhos. Ele se afastou discretamente, também perturbado com a proximidade do meu corpo. Engraçado que essa reação eu também já havia notado outras vezes. Não era uma repulsa, mas um afastamento estratégico para que seus instintos não lhe pregassem uma peça.
- Você sente algo por mim, não sente? – perguntei ousado, deixando-o embaraçado e fazendo-o finalmente se levantar e vestir o jeans.
- Claro! Sempre gostei muito de você e do seu irmão, de todos. – respondeu ele, fugindo do ponto.
- Não é a isso que me refiro! Você sabe do que estou falando. – insisti.
- Não, não sei não! Acho que está na hora de você ir para o seu quarto. Você não precisa estar na faculdade logo cedo, amanhã é quarta-feira, aula às sete, não lembra? – revidou ele, tentando atabalhoadamente me tirar dali antes que a conversa enveredasse por um caminho constrangedor.
- Está bem, eu vou, já que está me expulsando daqui. Mas eu sei que você gostaria que eu entrasse nessa cama e passasse a noite com você. – afirmei, olhando bem dentro dos olhos dele.
- Dá o fora! E, vai falar bobagens noutro lugar! – exclamou exasperado e, confuso por ter seu pensamento verbalizado tão abertamente.
- Só para você saber, eu também gostaria! – ousei, quando ele atirou uma revista na minha direção antes de eu sair pela porta.
Demorei apegar no sono, aquela conversa tinha me deixado elétrico. Fiquei imaginando no que o Jairo devia estar pensando depois de eu abrir meus sentimentos daquele jeito. Eu queria ser uma mosquinha para ver o que se passava com ele naquele quarto. Provavelmente, o viria acordado, de braços cruzados atrás da nuca, encarando pensativo o teto, refletindo sobre o que eu acabara de confessar ou, quem sabe, manipulando sua rola enquanto seus pensamentos pairavam sobre o meu corpo. Adormeci imaginando aquele macho que desejando da maneira mais primitiva, carnal e libidinosa possível.
Passamos semanas fazendo um jogo de palavras, trocando frases lacônicas, fugindo do tesão que, para ambos, estava mais do que evidente. A casa da praia estava sendo pintada antes do verão e, uma nova necessidade de viajar impediu meus pais de fazerem o acerto e verificar com os pintores como estava o serviço. Assim que fui incumbido da tarefa, decidi que levaria o Jairo comigo, talvez afastado de tudo ele me abordasse como eu desejava.
- Para que essa necessidade de eu dirigir para você? Você nunca gostou disso depois que passou a dirigir por si próprio. – questionou ele, temendo não conseguir se controlar no despojamento daquele ambiente praiano.
- E você decidiu me questionar só por que quero que me leve até lá. – devolvi.
- Não, claro que não! É para isso que seu pai me paga. – retrucou.
- Não quero o Jairo motorista, quero o Jairo amigo para me acompanhar. É pedir muito? – questionei.
- É que você anda muito saliente ultimamente.
- Você devia aproveitar para tomar uma atitude. Faz semanas que estou esperando por isso. – afirmei. Ele se calou.
A pintura estava concluída antes do prazo quando chegamos ao litoral num sábado pela manhã. Fiz o pagamento e dispensei o empreiteiro. Não havia sol, apenas um mormaço e previsão de chuva para o final-de-semana. Assim que o empreiteiro partiu, sugeri ao Jairo que fossemos caminhar com os cães pela praia antes da chuva cair. Escolhi propositalmente a menor sunga que encontrei no armário e, que remontava há alguns anos quando meu corpo ainda não tinha chegado ao estágio atual. Fiquei contente quando o Jairo reparou nela e adivinhou minha intenção com aquilo, ficando ligeiramente incomodado com tanta pele da minha bunda exposta.
- Se é só para uma caminhada por que não colocou simplesmente uma bermuda, em vez dessa pouca vergonha? – questionou.
- Com uma bermuda eu me privaria de ver essa sua reação! E você, se privaria de ver do que está afim! – exclamei, acompanhado de um risinho provocador.
- Não brinca com essas coisas! Brincar com fogo pode acabar em queimadura! – grunhiu, tentado disfarçar um sorriso.
- Não pode ser pior do que o que está queimando aqui dentro! – devolvi, pegando na mão dele e colocando-a sobre o meu coração.
- Não diga bobagens! – advertiu, mas manteve sua mão sobre o meu peito abaixo da minha e me encarou explodindo de tesão.
- Você sabe que não é bobagem! Por que não me quer? – questionei.
- Por que não devo! Por que não é certo! Por que estaria quebrando a confiança do seu pai. – enumerou ele.
- Desculpas sem sentido. Ninguém tem nada haver com sua vida privada, com quem você gosta ou deixa de gostar, com o que você deseja ou deixa de desejar. E eu descobri que você me deseja, assim como eu desejo você. – retruquei.
Ali mesmo, no meio da praia praticamente deserta, com nossos pés sendo atingidos pela espuma de uma onda que acabara de se diluir na areia, ele me puxou para junto dele e me beijou com ímpeto e luxúria, sem se importar com mais nada, nem o possível olhar indiscreto das pessoas ao longe, nem as condições do nosso relacionamento e, nem os freios que até então o impediram de se deixar usufruir do que sentia por mim. Eu o abracei e acariciei sua nuca, entreguei meus lábios às mordidinhas que ele dava neles e, abri minha boca para que ele me vasculhasse por dentro e me deixasse sentir seu sabor. Thor e Atena rodopiavam a nossa volta latindo em protesto por termos interrompido a caminhada. Quando nossas bocas se separaram, um sorriso se iluminou em nossas faces. A barreira havia caído.
Sem demora caminhamos apressadamente para casa, havia uma urgência clamando em nossos corpos. Os cães nos seguiram relutantes e contrariados por terem a sua brincadeira, de correr atrás das cristas espumosas das ondas, interrompida tão precocemente. Eu mal tinha atravessado a soleira da porta quando senti os braços do Jairo cingindo minha cintura e me trazendo para junto dele para outro fervoroso e sensual beijo. Cheguei ao quarto já nu com a mão dele apertando minhas nádegas com volúpia. Voltei a abraçar seu pescoço e acariciar sua nuca, contemplando, a curta distância, seu rosto másculo e descontraído. Ele fazia o mesmo com o meu.
- Você é lindo, sabia? – sussurrou, entre um beijo e outro.
- Por que nunca me disse isso antes? Eu teria ficado tão feliz como estou agora. – respondi.
- Pensei que você se ofenderia ou, me interpretaria da forma errada. – retrucou.
- Eu teria me entregue a você virgem, como você merece! – devolvi. Ele voltou a sorrir e me agarrou impetuosamente.
Enquanto chupava a língua que ele não parava de movimentar dentro da minha boca, eu sentia sua mão deslizando e explorando minhas coxas e minhas nádegas. Nunca senti tanto tesão. Na sua bermuda se destacava uma ereção descomunal, que eu sentia roçar em mim, toda desejosa. Deslizei minha mão pelo peito dele, resvalando seu abdômen definido e alojando-a sobre sua ereção consistente. Ele abriu o botão da bermuda e se despiu, exibindo-me seu falo pródigo. Aquele sim era um caralho, enorme, acintoso, o maior que eu já tinha visto; coexistentemente bruto e arrojado, gracioso e frágil. O Jairo pegou a mesma mão com a qual eu o acabara de tocar e a levou até a pica. Acariciei-a com suavidade e leveza, enquanto ela pulsava excitada na palma da minha mão. Ajoelhei-me a seus pés, segurei uma de suas coxas peludas com uma das mãos e com a outra coloquei a cabeçorra da jeba na boca. Ele deu um grunhido rouco, soltando o ar entre os dentes cerrados num sibilo de prazer. O pré-gozo espesso e translúcido não demorou a se fazer sentir na minha boca. Eu o sorvi, enquanto lambia e chupava a glande gigantesca que preenchia completamente minha boca. O Jairo deslizou seus dedos entre os meus cabelos que, lisos e macios, lhe escapavam quando fechou as mãos para trazer minha cabeça para junto da sua virilha. Os pentelhos grossos e densos dele roçavam meu rosto, me permitindo sentir o aroma almiscarado de seu sexo. Eu estava tão empenhado em chupar aquela rola e o sacão globoso que balançava ostensivamente diante do meu olhar de admiração que não senti os minutos passando. Por duas vezes ele tirou apressadamente a pica da minha boca, pressentindo que mais um único e derradeiro sugar dos meus lábios macios seria o suficiente para ele gozar na minha boca. Mas, eu logo pegava o cacetão pesado e o recolocava na boca, só para amenizar um pouco aquele tesão que me consumia. Quando ele me colocou sobre a cama, abriu minhas pernas e entrou com sua mão predadora no meu rego, para permitir que sua língua tivesse livre acesso ao meu cuzinho, eu quase convulsionei de tanto tesão. Gemendo e repetindo o nome dele num êxtase crescente, ele me lambia as pregas, libertina e depravadamente, consumindo-me com a mesma gana de um famélico. Eu conseguia sentir na pele a cobiça de macho dele. Suas mãos apertavam meus mamilos e, presos entre o polegar e o indicador dele, ele torcia meus biquinhos enrijecidos pelo êxtase. Aquela boca me mordendo ao redor das pregas e a língua molhando a portinha do meu cu mais pareciam um macho se certificando do estro de uma fêmea, tão animalesca e primitivamente ele agia. Como não sentir um tesão desmedido e querer se entregar a um homem com essa natureza selvagem? Engatinhei em direção à cabeceira da cama e, com o braço esticado alcancei a gaveta da mesinha de onde tirei uma embalagem de lubrificante. Ele riu quando a entreguei a ele.
- Seu diabinho assanhado e tarado. Quer dizer que você planejou cada detalhe dessa armadilha para me capturar, não foi? – questionou.
- Você não gostou? Foi o único jeito que encontrei para te dizer o quanto eu te quero. – devolvi, enquanto cobria seu rosto de beijos.
- Gostei! Gostei muito! E, sei que vou gostar ainda mais! – exclamou, com a tara brilhando em seus olhos castanhos e penetrantes.
Depois de umedecer meu rego e meu cuzinho, espalhando o lubrificante gelado com um dedo que sondou minha aberturinha rosada, ele besuntou a rola. Apontou-a na entrada do cuzinho que se contraia em espasmos de ansiedade e forçou a penetração. Eu estava tão tenso com a repentina lembrança da última vez em que enfiaram uma pica no meu cu, que travei os esfíncteres de tal maneira que mal um fio de cabelo seria capaz de passar por ali. Ronronando e chupando minha nuca, enquanto dizia o quanto queria entrar no meu rabinho, eu fui não apenas relaxando, mas me abrindo como as pétalas de uma flor. Quando a penetração logrou sucesso foi que eu pude perceber a enormidade daquele cacetão. Eu gritei sentindo ele me rasgando, apavorado com a possibilidade de ter que enfrentar mais uma vez alguém suturando meu rabo.
- Relaxa para eu não te machucar muito! ... Se estiver doendo muito me avisa que eu tiro. ... Vamos no seu tempo e no seu ritmo, não tenha medo. – ele grunhia isso no meu ouvido controlando o tesão que queria mergulhar sedentamente naquele cuzinho quente que apertava pouco mais do que sua cabeçorra no meio das pregas exíguas.
- Eu só quero você, Jairo! – gemi lastimoso.
- É? Então me mostra o quanto você me quer. – sussurrou. Imediatamente a musculatura anal se descontraiu e ele meteu o caralhão todo dentro de mim, só se controlando quando o sacão já batia de encontro ao meu rego arreganhado de tanta volúpia.
Pela primeira vez eu senti o que é um macho não apenas se satisfazendo, mas procurando satisfazer zelosa e ternamente aquele com quem está saciando suas necessidades. Eu amei o Jairo por isso. Sublimei a dor que estava sentindo para agasalhar seu falo da maneira mais carinhosa e amorosa possível, para me dar ao luxo de desfrutar do imenso prazer que sua enormidade latejando entre as minhas carnes me acarretava. Durante os primeiros movimentos dele bombando meu cu, quando o entorno anal estava sendo puxado para fora firmemente agarrado à rola dele, eu senti uma contração na pelve e comecei a gozar de tanta ansiedade e prazer. Ele me fodeu de bruços, me fodeu de lado erguendo uma das minhas pernas e segurando-a no ar, enquanto sua boca mordia meu peitinho deixando a marca de seus dentes cravados na pele ao redor dele, ele me fodeu de frango-assado quando enlacei sua cintura com as minhas pernas e ele se inclinava sobre o meu corpo não parando de me beijar nem para pegarmos fôlego.
- Ah, Enzo você me deixa louco de tanto tesão. Você não faz ideia do quanto eu desejo essa bundinha, seus beijos e agora, esse seu jeitinho carinhoso de me aconchegar nesse cuzinho apertado. – rosnava ele, estocando meu rabo numa cadência crescente e intensa.
- Adoro você! Promete para mim que nunca vai deixar de ser o meu macho. – balbuciei todo afetuoso.
- Você quer que eu seja seu macho? – questionou, começando a sentir uma comichão se formando entre a virilha.
- Você sabe que sim! Ou quer que eu sussurre na sua orelha pedindo para você ser meu macho? – perguntei, mordiscando a orelha dele. No mesmo instante senti os jatos de porra inundando meu cu, escorrendo lentos e pegajosos por toda minha mucosa anal, me presenteando magnanimamente com sua virilidade.
- Machuquei você! Esse cuzinho delicado não foi feito para picas abrutalhadas como a minha. Viu por que eu disse para você não me atentar? – disse ele, amparando o estreito filete de sangue que tingia meu rego de escarlate e tinha deixado uma mancha no lençol onde eu estava deitado.
- Foi exatamente para o homem maravilhoso que você é que meu cu foi feito! Apenas me perdoe por não tê-lo entregado virgem a você. Se eu pudesse voltar no tempo, jamais teria deixado outro cara me tocar. – respondi.
- A única coisa que me importa é que você está aqui comigo, que é todinho meu, agora que sou seu macho! – exclamou, delineando um delicioso sorriso cheio de safadeza.
- Meu macho, verdade? – balbuciei, devolvendo o sorriso.
- Não era isso que você queria?
- É. É tão maravilhoso que acho que estou sonhando. – ronronei junto ao peito dele, quando comecei a distribuir beijos úmidos sobre aqueles pelos que formavam um redemoinho entre os mamilos dele. – Você gostou de ficar comigo? – arrisquei, pois o Jairo não era o tipo de homem que se satisfazia com qualquer coisa em termos de sexo. Precisava ser muito bom para ele se sentir verdadeiramente saciado.
- Foi incrível, sensacional! Maravilhoso, como você acabou de mencionar, ou a gala que está no meio das tuas pernas ainda não te convenceu disso? – respondeu, afagando meus cabelos enquanto eu continuava a beijá-lo por todo o tórax.
- Não precisa exagerar! Eu sei que não sou nenhum expert do sexo, aliás, até agora só me meti onde não devia. – exclamei.
- Se você não acredita em mim, o que é que posso fazer? – retrucou, indiferente ao que eu havia respondido.
Aquilo aconteceu num dia em que o calendário dizia ser doze de maio. Durante todo o fim de semana não houve um só instante em que me senti seco entre as coxas. A umidade máscula e seu cheiro característico estavam impregnados em mim, lembrando-me do nosso destempero, da nossa paixão, da nossa libertinagem repleta de amor.
- Do que você está rindo? – perguntou-me quando subíamos a serra pela rodovia dos Imigrantes.
- Da felicidade que é carregar seu gozo nas minhas entranhas! – exclamei, franca e abertamente.
- Quer me deixar maluco falando isso assim, sem rodeios, sem pudor algum? – questionou.
- Eu te deixo maluco?
- Muito! Fiquei viciado nesse cuzinho e, você me falando uma sacanagem dessas, só piora as coisas. Sente o que está acontecendo aqui! – afirmou, levando minha mão para o meio de suas pernas, onde uma ereção começava a fazer emergir a cabeçorra roxa pela abertura do short.
- Vou cuidar disso com todo carinho quando chegarmos em casa, prometo! – verbalizei num cicio provocante. Ele levou minha mão aos lábios e a beijou, eu rodopiei os dedos na implantação dos cabelos da nuca dele, enquanto a voz rouca de Khalid se espalhava na cabine cantando - You keep my hand around your neck, we connect, are you feeling it now? – um verso da canção Better.
Foi um custo convencê-lo a dormir no meu quarto naquela noite.
- É arriscado demais! Eu circulando pelos quartos da casa vai levantar suspeitas, vão começar os mexericos, as especulações, não vai ser nada bom. Melhor você lá e eu cá. – argumentou.
- Ninguém tem nada haver com isso! Quem eu levo para o meu quarto é problema meu! – exclamei, justificando.
- Não é bem assim! Pense nas consequências se descobrirem o que eu faço lá dentro. Ademais, você não tem que estar na faculdade logo pela manhã?
- Então eu vou para o seu quarto! Quero acordar com você do meu lado, para te beijar assim que você abrir os olhos.
- Mas tu é teimoso! Dá até vontade de dar uns petelecos nessa bundinha para acabar com essa teimosia. – revidou, dando um tapa na minha bunda. – O que a Elisabete e a Jussara vão pensar vendo você passar a noite no meu quarto? Aí sim é que teremos problemas!
Por fim ele cedeu. Não sei se pelos meus argumentos ou pelo tesão de me possuir mais uma vez. Mamei o cacetão dele até sobrepujar sua resistência e ele gozar na minha boca. Sob o olhar incrédulo e exultante dele me observando engolir cada um dos jatos cremosos que ejaculava, ele se deu conta do quanto eu o venerava. Depois de lamber sua rola limpando até a última gota de sêmen, ele a introduziu no meu ânus e adormecemos engatados um no outro. Quando o despertador tocou na manhã seguinte ele não estava mais ao meu lado. Chamei por ele, pensando que talvez estivesse no banheiro, mas ele havia desaparecido, evitando assim que alguém nos visse juntos tão cedo.
A partir de então começou a melhor parte de minha vida. Sempre que possível transávamos em casa, ou íamos passar finais de semana e feriadões na casa de praia se meus pais estivessem na fazenda, ou íamos para a fazenda quando eles iam para a praia. Um dia pedi para ele me levar a um motel, onde nunca estive antes. Ele riu do meu desejo, relutou e acabou fazendo a minha vontade, mais uma vez. Não fossem algumas ocasiões em que ele voltava a insistir na mesma tecla, afirmando que não era certo o que estávamos fazendo, que ele não era a pessoa certa para mim, que vínhamos de mundos muito diferentes e que um relacionamento nunca daria certo, aqueles foram os dias mais felizes da minha vida. E, assim, os anos de faculdade passaram com nós dois cada vez mais unidos. Apoiei-o a retomar os estudos quando ele demonstrou vontade de fazer uma faculdade de educação física. Isso nos fazia passar horas juntos, entre fórmulas matemáticas e físicas, regras gramaticais de português e inglês, períodos históricos e comportamento de compostos químicos que eu lhe ensinava, aproveitávamos para namorar, trocar carícias, beijos tão molhados e ardentes que acabavam por nos excitar e procurar o conforto em coitos demorados e prazerosos. Eu nunca cheguei a ter certeza do que ele sentia por mim, mas eu estava tão apaixonado por ele que sonhava envelhecer ao lado dele, acariciando-o, afagando-o, amando-o, realizando todos os seus desejos e satisfazendo suas necessidades. Por isso, quando chegou o momento de eu fazer a pós-graduação, que já estava toda engatilhada para acontecer no Massachussetts Institut of Technology em Cambridge nos Estados Unidos, começaram os meus questionamentos do por que eu ter que me mudar para fora do país, da real necessidade de fazer uma pós-graduação tão cedo e, de inúmeras outras desculpas que inventei para não me afastar do Jairo. Meus pais rebatiam cada uma delas com argumentos incontestáveis. Valiam-se do sucesso do meu irmão por ter ido estudar fora, para me convencer e, quando eu ainda apresentava empecilhos, apelaram para a velha e eficaz pressão que os pais sabem exercer como ninguém sobre os filhos para conseguirem o que querem.
- Promete que vai me esperar? – era o que eu sempre perguntava ao Jairo, quando ele mesmo começou a fazer pressão para eu ir.
- Três anos é muito tempo. Você vai conhecer alguém legal por lá e nem vai mais pensar em voltar. – devolvia ele.
- Não vou! Eu juro! Você diz isso só por que sabe que vai se enrabichar por um rabo de saia ou um cu disponível, e vai me esquecer. – retrucava lastimoso.
Parti com o coração aos pedaços, decidido a fazer aqueles três anos renderem e passarem voando. Os primeiros seis meses foram os piores. Não raro eu me via chorando em plena aula, tinha dificuldade para conciliar o sono pensando no Jairo em seu leito tão vazio quanto o meu, não me contentava com as conversas por vídeo-chamada no Whatsapp e, me desesperava só de imaginar que ele conhecesse alguém e me esquecesse. Aquele era o efeito devastador do meu primeiro amor, da minha inexperiência em lidar com esse sentimento pela primeira vez. Por fim, fui me acostumando a tê-lo por poucos momentos na tela do celular, tão doce e carinhoso como sempre foi.
- O Jairo te mandou isso. – disse meu irmão, ao vir me visitar em Cambridge logo após o Ano Novo e ter regressado do Brasil onde tinha ido passar uma semana antes do Natal, e me entregar uma caixinha na qual havia uma embalagem que se parecia com uma mini-amostra de um frasco de perfume.
- O Jairo? – perguntei espantado, o que fez meu irmão desencanar com aquele pedido insólito.
Assim que me encontrei sozinho, e terminei de desembrulhar o pacote, abri a embalagem e aspirei o conteúdo do frasco. O aroma de nozes mesclado a vapores de água sanitária e cheiro de Jairo invadiu minhas narinas, esperma, sem nenhuma dúvida, esperma do Jairo, Eu não só reconheceria aquele cheiro entre outros milhões como seu sabor denso mesmo de olhos vendados. As horas entre a ejaculação, o voo do meu irmão para os Estados Unidos e o momento em que o recebi já haviam separado o conteúdo do vidro num líquido mais translúcido e ligeiramente amarelado e grumos esbranquiçados mais consistentes. Era assim que muitas vezes o sêmen dele saia do meu cuzinho horas ou até um dia depois de transarmos. Eu contemplava atônito a porra do meu macho, com o peito comprimido pela saudade e a felicidade de ter aquele tesouro nas mãos. Imediatamente, sem me importar com o fuso horário fiz uma vídeo-chamada para o celular dele. Assim que o rosto sorridente dele apareceu na tela eu disse que o amava e, sem pestanejar, sorvi o conteúdo do frasco diante do olhar radiante dele.
- Achei mesmo que você estava com saudades. – disse ele, sem conseguir segurar a alegria de me ver engolindo sua virilidade. – A maneira como você faz isso é única, é de deixar qualquer homem de cabeça virada, por que não é vulgar como se poderia supor, vendo um cara lindo como você engolindo a porra da gente. É algo que vai muito além do prazer de saber que a minha porra não é desperdiçada, é constatar em pleno regozijo quão forte é o nosso vínculo quanta confiança e reciprocidade existe nele, é indescritivelmente fantástico. – emendou.
- Amo você! – balbuciei.
- Pela quantidade você pode imaginar a falta que está me fazendo! – exclamou indecoroso. – Também amo você! – emendou. Só depois de colocarmos o papo em dia e desligar o celular é que me dei conta de ter ouvido essa frase sair da boca dele pela primeira vez. Foi o suficiente para me deixar semanas flutuando nas nuvens.
O tempo é um parâmetro estranho. Há situações nas quais um segundo pode parecer um século, noutras uma década parece ter passado voando. Tudo depende de nossas expectativas, de nossas realizações ou, daquilo que não podemos controlar. Aqueles três anos afastado do Jairo foram uma eternidade para mim. Porém, como tudo na vida, eles passaram no ritmo deles sem se importarem com meus sentimentos e meus desejos. Às vésperas do meu retorno entrei num estado de ansiedade que mal me permitia tomar as providências mais simples, entre elas, me alimentar corretamente. Todas as noites antes de tentar dormir, o que quase nunca acontecia, eu ficava conversando com o Jairo pelo Whatsapp, pondo-o a par de tudo que estava fazendo para o meu regresso. Despedíamo-nos com um beijo e a esperança do breve reencontro.
Quem veio me pegar no aeroporto foi meu irmão e a namorada, que me foi apresentada ali mesmo no saguão tumultuado do desembarque. Ele havia regressado, em definitivo, há poucos meses, e passara a trabalhar na empresa do meu pai. Confesso que fiquei um pouco decepcionado, pois esperava encontrar o Jairo assim que atravessasse os portões da aduana. Eu havia me desacostumado com aquele cenário deprimente, caótico e horripilante que era sair de Cumbica e adentrar à Marginal Tietê em meio aqueles galpões hediondos, favelas, terrenos baldios cheios de lixo industrial e restos de construções decadentes, mas esse é o cenário de boas-vindas dado a quem chega a São Paulo por essa via. A mesma sensação já tinha me impactado outras vezes, mas desta eu me conscientizei de que o Brasil jamais será uma nação de primeiro mundo. Algo difícil de um jovem como eu aceitar depois de todo esforço que fez investindo em seu futuro. Por um momento pensei em perguntar para o meu irmão por que o Jairo não tinha vindo me buscar, mas achei que ele fosse se sentir melindrado por não reconhecer sua boa vontade. E, também, por que a namorada dele era uma garota muito legal e conversava comigo como se fossemos amigos de infância.
Quando meu irmão estacionou o carro diante dos portões da garagem, nova decepção. O Jairo também não estava lá. Meus pais como sempre, fizeram aquela festa ao me abraçarem, depois de todos esses anos, como disse minha mãe, embora eles estivessem comigo nos Estados Unidos há pouco mais de três meses. Contudo, isso vindo da minha mãe não era nenhuma surpresa, dado que ela era chegada a um drama, especialmente quando isso envolvia os filhos. A Elisabete e a Jussara deixaram de lado por uns instantes aquele distanciamento respeitoso e, quando vieram me abraçar, cobri-as de beijos deixando-as encabuladas. Passei quase duas horas respondendo a centenas de perguntas que cada um tinha armazenado para me inquirir, até não aguentar mais de ansiedade e, a pretexto de matar as saudades do Thor e da Atena, fui correndo até o quarto do Jairo. A porta estava entreaberta e as persianas fechadas deixando o quarto no escuro. Para meu desespero, ao abrir a porta e acender a luz, vi que o quarto estava completamente vazio. O armário estava aberto e vazio, a cama estava sem as roupas, os objetos do Jairo haviam desaparecido. Sem conseguir me controlar, agarrei-me ao batente da porta e comecei a chorar. Embora quisesse voltar para dentro de casa e perguntar por ele, não encontrei forças para isso, além de temer ouvir o que não queria. Foi a Jussara que me encontrou parado ali e me tirou daquele transe. Enxuguei rapidamente os olhos e o rosto cobertos de lágrimas, tentando disfarçar meu sofrimento.
- Onde está o Jairo? – perguntei, sem olhar para ela, com a voz embargada.
- Ele pediu demissão há três dias! Pegou todos de surpresa. Seu pai ficou abismado e tentou mantê-lo no emprego questionando, inclusive, se ele tinha recebido uma oferta melhor e, que estava disposto a cobri-la, se fosse o caso. Mas, o Jairo não aceitou.
- Por que ninguém me avisou? – perguntei, completamente atordoado, deixando a Jussara sem saber o que responder.
A Elisabete me entregou um envelope que o Jairo havia deixado para mim. Ao conversar com meu pai entendi que ele havia feito todo o possível para manter o Jairo conosco, pois meu pai o admirava muito, mas que a decisão dele não dependia da vontade do meu pai. Fiquei tão arrasado que não consegui fazer outra coisa a não ser me trancar no quarto e chorar como nunca havia chorado na vida. Aquela sensação de abandono, de traição, de ter perdido o amor da minha vida sem nenhuma explicação não me abandonava. Tudo o que eu queria entender era o porquê de ele ter feito isso comigo. Comecei a ler a carta que ele deixara no envelope, enquanto o papel tremia nas minhas mãos.
“Amado Enzo, Talvez a princípio você não compreenda as razões da minha atitude e, conhecendo-o como o conheço, sei que vai se revoltar contra ela. No entanto, eu quero que você saiba que fiz isso para o seu próprio bem. Por que eu te amo demais para não querer a sua felicidade. Aos poucos você está ficando mais maduro e vai conseguir enxergar o que nunca quis até o momento. Há um enorme abismo entre nós dois. Eu nunca vou poder te proporcionar uma vida com a qual você está habituado. As diferenças entre nós não são apenas de ordem financeira ou de idade, como você bem sabe. Não foi por eu ter conseguido um diploma universitário que barreiras culturais tenham desaparecido. Você é intelectualmente, muito mais capacitado. Afora isso, a educação refinada que seus pais lhe deram e que te permite circular por ambientes de classe esbanjando sofisticação, não se constrói de uma hora para a outra, ela vem de berço. Você vai encontrar quem te mereça, quem te ame, cuide de você com todo carinho e seja do seu nível. Nem que eu viva uma eternidade vou esquecer o que há entre nós. Você foi o que de melhor aconteceu na minha vida. Isso começou lá atrás, quando você era apenas um garotinho, mas vinha dividir comigo uma caixa de bombons que havia ganho, me pedir para consertar algum brinquedo seu que se quebrou, vir me perguntar se eu precisava de alguma coisa enquanto esperava do lado de fora de alguma visita ou evento para o qual eu os tinha levado, enfim, foram várias as circunstâncias nas quais você demonstrou o afeto que sentia por mim. Tudo isso, sem mencionar esses últimos tempos, nos quais você me fez sentir o homem, o macho mais completo e realizado do mundo. Não me odeie pelo que fiz, pelo sofrimento involuntário que sei estar lhe causando e, encare-o como uma maneira de ser feliz mais adiante. Com o mais imenso amor que já senti por alguém, seu eterno Jairo”.
Inconformado e, disposto a lutar até onde minhas forças permitissem por aquele amor, eu fui até a pequena Trabiju, na casa dos pais dele, tentar descobrir seu paradeiro. Não sei se eles haviam sido instruídos por ele a não dar nenhuma informação ou, se realmente não sabiam onde ele se encontrava, uma vez que fazia pouco tempo que deixara nossa casa. Eu nunca os tinha visto antes, a não ser por algumas fotografias que o Jairo havia me mostrado, pois ele os visitava por ao menos uma semana todas as vezes que estava de férias. A irmã casada dele morava a quatro quadras da casa dos pais e eles fizeram questão de me apresentar a ela. Eram, sem dúvida, pessoas maravilhosas, não admira o filho que criaram. Naquela intimidade simplista eu quase disse que estava ali por que estava apaixonado pelo filho deles e não sabia por que ele me abandonou de forma tão abrupta. Contudo, percebi que revelar uma coisa dessas poderia abalar toda a estrutura daquela família, e me calei. Pouco antes de partir, ao me despedir deles, entreguei nas mãos do pai dele um pequeno baú que havia comprado numa lojinha nos Estados Unidos, de não mais do que um palmo de comprimento por dez ou doze centímetros de altura, imitando um daqueles baús de pirata, todo feito de chapa metálica com um fecho com segredo numérico, do tipo usado em malas de viagem. Dentro dele, eu havia colocado um estojo forrado de veludo com duas alianças entrelaçadas dentro de uma cavidade no formato de coração. Numa estava gravado – Jairo amor eterno – e, na outra, - Enzo, amor eterno – junto ao estojo deixei um bilhete – Vou esperar você vir ao meu encontro e colocar uma delas no meu dedo. Amor. Enzo – pedi encarecidamente que o entregassem ao Jairo na primeira oportunidade, que ele saberia como abrir o baú e, que pedissem para ele entrar em contato comigo.
Passaram-se cinco anos. Para alegria do Erick, eu finalmente aceitei, pela primeira vez, o convite que ele fazia quase um ano vinha reiterando com uma insistência cada vez mais argumentativa. Eu conheci o Erick depois de me juntar a meu irmão na administração da empresa que nosso pai havia nos deixado quando resolveu se aposentar e mudar definitivamente para a fazenda e se empenhar do negócio de produção de queijos artesanais. Ele trabalhava com o pai na empresa da família, que era uma das nossas fornecedoras.
- Desisto de negociar com esse cara! Só conseguimos chegar a um bom acordo quando é você que negocia com ele. Estou abrindo mão, o pepino fica nas tuas mãos! – disse meu irmão, numa ocasião onde mais uma vez não tinham chegado a um bom termo.
Bastaram alguns argumentos, até a inclusão de uma nova demanda e, eu e o Erick fechamos um contrato de fornecimento bastante interessante para ambas as partes. Meu irmão ficou inconformado quando lhe apresentei o resultado da negociação. Durante a vigência daquele contrato, estavam previstas algumas inspeções na produção dos equipamentos que eles nos forneciam e, meu irmão também deixou isso nas minhas costas. Foi aí que o Erick e eu passamos a ter mais contato. Não demorei a perceber o interesse dele por mim, mas o Jairo ainda ocupava todo e qualquer sentimento que restara no meu coração devastado. Foram as dispensadas que atiçaram a persistência do Erick, enquanto eu esperava por aquela aliança que nunca veio.
- Você está falando sério? Vai mesmo aceitar meu convite? A que devo a queda dessa resistência? Meus belos olhos, meu charme irresistível, minha pinta de galã hollywoodiano? – caçoou o Erick quando eu disse sim.
- Não! A tua chatice mesmo! – respondi, com um sorriso que pela primeira vez depois de anos não tinha aquela tristeza de fundo.
Um ano depois, começamos a viver juntos. Como se meu futuro estivesse predeterminado, e eu não resistisse a ele, apenas me deixasse levar por caminhos traçados no meu destino. Meu irmão havia se casado e ficou morando com a esposa em nossa casa. Eu me mudei para um apartamento por alguns meses, onde o Thor e a Atena se sentiram prisioneiros, antes de ir viver com o Erick, o que talvez tenha apressado a minha decisão. Sem nunca ter deixado meu sentimento pelo Jairo cair no esquecimento, eu vivi anos muito felizes ao lado do Erick. Nosso amor era verdadeiro, sincero, generoso. Éramos, acima de tudo, grandes e bons amigos, cúmplices num amor exposto para poucos. Vivemos uma vida plena com momentos de intimidade tão intensos e profundos que nos completavam enquanto almas apaixonadas. O Erick entrava em mim e deixava sua virilidade nas minhas entranhas em troca de todo afeto e carinho que eu lhe dava. Eu me sentia acolhido e amado em seus braços musculosos e, encontrava tanto o tesão quanto a paz em seu peito largo e másculo. Ambos pressentíamos que nosso futuro seria aquele paraíso de amor que havíamos construído. Agora, no presente, era nessa felicidade que eu vivia. Eu nunca imaginei o que viria a acontecer lá adiante.
Seria no meio de uma manhã de sábado, logo após o fim do verão, decorridos quarenta anos do dia em que o Jairo me deixou. O Erick e eu estaríamos lendo sob o gazebo envidraçado implantado no grande jardim de nossa suntuosa casa. Haveríamos de estar aposentados e usufruindo dos anos de trabalho árduo nos quais tínhamos construído nosso polpudo patrimônio. Um empregado viria nos avisar que um senhor estava no portão perguntado por mim. Eu não me recordaria do nome, mas iria ver do que se tratava, mandando que entrasse. Eu o receberia no terraço da casa. O cumprimentaria e, ao garotinho, de aproximadamente sete ou oito anos, que o acompanhava, com um sorriso despojado. Por alguns instantes, ficaria perdido imaginando onde teria visto um olhar tão penetrante antes, ao me concentrar no rosto infantil que olhava ao seu redor admirado com aquele luxo. Porém, pouco depois, quase teria uma síncope ao sentir o coração que fazia uns anos dependia de betabloqueadores para exercer sua função corretamente, reparando que o homem tinha nas mãos o bauzinho de pirata metálico que eu havia deixado com os pais do Jairo. O homem me encararia sem entender porque subitamente meus olhos haviam se marejado.
- Me chamo Enzo. Há poucos dias, antes de ser levado a um hospital e vir a falecer, meu pai me entregou isso. Pediu-me para procura-lo por todos os meios e ao encontra-lo, devolver-lhe este bauzinho. Ele me disse que o senhor saberia do que se trata, bem como fazer para abri-lo. Não foi difícil localizá-lo, pois um funcionário de sua empresa me forneceu o endereço, uma vez que meu pai me pediu para lhe entrar em mãos. Peço desculpas por incomodá-lo na intimidade de sua casa e em seu descanso, mas o pedido do meu pai deu a entender que havia certa urgência nisso. – era incrível que ao ouvir aquele timbre de voz, exatamente igual ao do Jairo, que eu me sentiria décadas no passado, como se estivesse ouvindo o próprio Jairo.
- Não há problema! Eu só tenho a lhe agradecer pelo que está fazendo. – eu diria balbuciando, com a voz um tanto embargada, deixando o garotinho ainda mais curioso com aquele homem que parecia estar chorando por dentro e tentando manter uma postura controlada.
- Bem! Acho que minha missão está cumprida! – diria o homem, fazendo menção de se despedir.
- O senhor se importaria de me falar um pouco sobre o seu pai? Sei que seu luto é recente, e quero lhe expressar meus mais profundos sentimentos pela perda do seu pai. E, compreenderia se não estiver disposto a falar sobre isso. – eu então já não conseguiria conter algumas lágrimas que rolavam pelo rosto e as enxugaria com as costas da mão.
- Ao que me parece o senhor conhecia meu pai muito bem. Não, não me importo de falar sobre ele. Sempre tive muito orgulho da pessoa maravilhosa que ele foi. Posso lhe perguntar de onde o senhor o conhecia? – diria o homem, estranhando a comoção que tomara conta de mim com a notícia que ele acabara de me dar.
- Seu pai foi motorista da minha família por muitos anos e, meu grande am..., meu grande amigo. Nós o tínhamos em alta conta e gostávamos muito dele. – eu responderia, procurando me recompor e deixando o clima menos tenso, enquanto solicitaria ao empregado que trouxesse um suco ou algo refrescante para as visitas.
- Ah! Recordando-me de algumas conversas com ele, estou me lembrando de ele mencionar seu nome, coincidentemente igual ao meu. Bem! Não sei bem o que o senhor gostaria de saber, mas meu pai conheceu minha mãe há trinta e oito anos em Curitiba. Ela trabalhava numa loja ao lado da academia onde ele dava aulas como professor de educação física. Eles se casaram e eu nasci um ano depois. Sempre vivemos no bairro Portão lá em Curitiba. Ele sempre insistiu para que eu escolhesse uma boa profissão e me proporcionou o melhor que pode para que eu tivesse bons colégios. Hoje sou advogado e tenho meu próprio escritório em sociedade com dois colegas dos tempos da faculdade. – revelaria o homem, pouco antes de se despedir, alegando que gostaria de levar o filho ainda naquele dia a um giro por São Paulo.
- Muito agradecido, por ter se disposto a vir me entregar isto aqui. É certamente o que de mais significativo tenho na vida. – eu diria, deixando-o sem compreender o exato significado dessas palavras.
Eu mesmo os acompanharia até o portão onde, agradecendo e despedindo-me mais uma vez, tocaria minha mão trêmula e envelhecida no rosto do garotinho, apenas para estar pela última vez perto daquele olhar penetrante que tantas emoções sempre fora capaz de me fazer sentir. Eu voltaria para junto do Erick, soluçando feito uma criança desamparada, que me perguntaria quem eram aquelas pessoas. Eu daria de ombros e, tomando o baú, giraria o segredo até que os números 1205 se emparelhassem e o fecho se destravaria. Eu abriria o bauzinho com as mãos tão tremulas que mal conseguiria fazê-lo parar obrigando-me a coloca-lo sobre o colo. Lá dentro, o estojo revestido de veludo ainda conteria as duas alianças entrelaçadas e, um papel dobrado no qual eu leria – Como você me pediu, elas voltaram aos seus dedos tão entrelaçadas como sempre estiveram nossas almas e nossos corações. Assim será para todo o sempre, meu amor. Seu eterno Jairo. – No mesmo instante eu desabaria precisando que os braços fortes do Erick me amparassem e acolhessem meu choro incontrolado. Em meio ao pranto, eu o faria jurar que, no dia da minha morte, ele se incumbiria de colocar aquele bauzinho ao lado do meu corpo no esquife, garantindo que seríamos sepultados juntos.
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Comentários


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kzdopass48es Comentou em 30/03/2019

O amor é livre! Se voltar, era amor de verdade! É longo, mas tem enredo, tem conteúdo! Bom conto! Votei! Leia meus contos, são fatos reais com as fotos dos fatos. Comente! E se te der tesão, vote! Betto o admirador do que é belo

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lordricharlen Comentou em 24/03/2019

Vamos lá me casou revolta no começo da história aquilo que ele sentia era amor de pica, já segunda parte não sei se sinto tristeza por ele não ter ficado com ele, ou revolta por ele ter se casado, muita emoção sentimento de ódio e indignação por ele ter abandonado Enzo, tô com raiva acho eu tô assim por tá passando por uma questão parecida

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spnnuchcye2018 Comentou em 22/03/2019

Chorei kkkkk amei tudo, só não a morte óbvio kkkkkk




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Ficha do conto

Foto Perfil kherr
kherr

Nome do conto:
Um amor para a eternidade

Codigo do conto:
135287

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
20/03/2019

Quant.de Votos:
9

Quant.de Fotos:
3