Pigmaleão, a lenda grega ressuscitada Perdi meus pais muito cedo, quem me criou até os 15 anos foi minha avó paterna, viúva, quando veio a falecer. Fui então sendo jogado de um lado para o outro, ora na casa de um tio aqui, ora na casa de outro acolá, sempre me sentindo um peso morto, um gerador de despesas e incômodos. Mesmo assim, procurei manter o otimismo, ser o mais prestativo possível por todos os lares por onde passei e, focar no futuro, pois sabia que dependia exclusivamente de mim o quão feliz ele seria. Aos 18 anos, consegui uma vaga numa universidade pública para cursar administração de empresas. Apesar do pouco tempo livre que me sobrava, fui procurar um emprego para custear parte das minhas despesas e, assim, desonerar um tio paterno e outro materno que se cotizavam para bancar meu custeio. Acabei conseguindo uma vaga de auxiliar administrativo num conglomerado de empresas familiares geridas por seu proprietário e maior acionista. O salário era baixo, visto que eu não tinha nenhum tipo de experiência, mas dava conta de ajudar meus tios. Embora fosse preciso faltar a algumas aulas para manter o emprego de meio expediente, eu me virava contando com a boa vontade de colegas que me passavam a matéria que eu perdia. No setor da empresa onde fui alocado, não tinha nenhum contato com a cúpula de diretores. Alguns eu conheci de vista, por que outros funcionários me disseram quem eram e, outros não cheguei a ver nos primeiros seis meses de empresa. As secretárias da diretoria e do presidente, eram verdadeiras beldades, sempre bem vestidas, maquiagem suave, modos contidos e uma gentileza que não era apenas requisito profissional, mas que fazia parte de suas personalidades. Foi uma delas que notou a minha presença numa ocasião em que tinham me mandado ir até a diretoria para retirar uma impressora que estava com defeito. - Oi! Você é novo na empresa? Nunca o vi por aqui. – disse a Beatriz, secretária do presidente e, chefe das demais. - Sim, faz pouco mais de seis meses que comecei. É essa a impressora que preciso levar para a informática? - Sim, é essa! Você está trabalhando na informática? - Não! Estou no setor de contas a pagar, mas me mandaram fazer esse serviço porque o pessoal da informática está ocupado. – esclareci. - Nossa! No contas a pagar? É o porão da empresa! Como tiveram coragem de colocar um garotão tão bonito naqueles corredores sombrios? Maldade! – afirmou ela, com um sorriso amistoso. - É meu primeiro emprego, não dá para exigir nada. Fiquei feliz por ter conseguido a vaga, já me quebra um galho danado. – devolvi. - Será que vão nos deixar sem uma impressora de reserva? Não podemos ficar sem ela, temos muitas coisas para imprimir e, os mandachuvas aqui querem tudo para ontem. – disse ela. - Nós temos três no setor e, na verdade, usamos pouco. Uma delas fica o tempo todo encostada. Posso ver se meu chefe libera uma delas, e eu trago para cá para quebrar o galho por enquanto. – prontifiquei-me. - Fantástico! Eu havia solicitado uma para a informática, mas eles me disseram que não tinham nenhuma disponível. Depois de levar a impressora com defeito para o conserto, consegui que meu chefe liberasse a que estava ociosa no setor, e a instalei na sala delas. - Como é seu nome mesmo? Eu esqueci, desculpe! – perguntou a Beatriz quando eu estava saindo. - Lucas! Não esqueceu, não. Eu não tinha falado meu nome. – respondi. - Valeu, Lucas! Você não faz ideia do favorzão que fez para todas nós. – agradeceu, amável. - Quando precisar, estou às ordens! Vou ver se consigo apressar o conserto da de vocês, pois tenho um colega na informática e vou levar um papo com ele. - Você é um anjo que caiu do céu! Obrigada! Segundo o colega com quem eu percorria parte do caminho de ônibus no final do expediente o conserto da impressora era fácil e ele o passaria na frente de outros, sem que o chefe soubesse. Pouco antes do final da tarde do dia seguinte, eu levei a impressora consertada de volta à sala das secretárias. Foi quase uma comemoração. A Beatriz me apresentou às outras e só faltou me concederem o prêmio de funcionário do mês pelo problema resolvido. - Dona Beatriz, este envelope precisa chegar ainda hoje nas mãos do Sr. Everaldo, peça ao motorista que vá pessoalmente ao escritório dele. – ordenou o presidente. - Dr. Jamil, o senhor mandou o motorista levar sua esposa para o aeroporto e ele ainda não voltou e, pelo horário do embarque dela, não deve voltar antes do início da noite. – respondeu ela. - Quem é esse rapaz? – perguntou o presidente, apontando para mim. -É o Lucas, senhor! Ele nos fez um imenso favor apressando o conserto daquela impressora que vive dando problema e deixando uma provisoriamente conosco. E, olha que ele é do contas a pagar, nem do setor de informática é. – explicou a secretária. - Ligue para o Fernando, quero falar com ele. – pediu o presidente. Fernando era meu chefe. - Sim, senhor! - Fernando, estou com um garoto seu aqui e preciso enviar um envelope urgente para o escritório de advocacia. Meu motorista não está e estou te avisando que o garoto vai levar o envelope para mim. – a Beatriz me deu uma piscadela quando o presidente terminou a ligação. - Devo mandar o Lucas, então? – questionou ela. - Sim! Dê o endereço a ele, libere um veículo na garagem para que ele chegue lá o mais brevemente possível. – ordenou e, virando-se para mim. – Você sabe dirigir, não sabe, meu jovem? - Na verdade não, não senhor, não sei. Mas, posso pegar um táxi aqui em frente, vou e volto num instante. – garanti. - Está bem! Providencie o dinheiro do táxi, dona Beatriz. Para meu azar, a chuva que começou a cair no meio da tarde deixou o trânsito todo travado e, a poucas quadras do escritório do advogado, parou de vez. Acabei saltando e correndo na chuva para chegar antes que ele encerrasse o expediente. - Tenho uma correspondência para o Sr. Everaldo de parte do Dr. Jamil. – disse, ensopado até a cueca, quando cheguei ao escritório do advogado. - Obrigado, rapaz! Nessa pasta estão alguns papeis para o Dr. Jamil assinar, diga-lhe que passo amanhã pela manhã para apanhá-los e levá-los ao Fórum. – disse o advogado. Só consegui voltar a empresa depois do final do expediente. Quando cheguei à sala das secretárias já não havia mais ninguém. Pensei em deixar um bilhete com a pasta na mesa da Beatriz, replicando as instruções do advogado. Mas, enquanto escrevia o bilhete, a porta da sala da presidência se abriu e o Dr. Jamil me pegou escrevendo o bilhete. - Lamento, só consegui voltar agora. Estava deixando um bilhete para a Sra. Beatriz, pois o Sr. Everaldo me pediu para entregar esta pasta com papéis a serem assinados até amanhã pela manhã. – expliquei, constrangido por ainda estar molhado feito um pinto desgarrado. - Traga a pasta até aqui! – ordenou o Dr. Jamil, voltando a sua sala. - Aqui também está o troco do táxi! – afirmei, colocando o dinheiro junto com a pasta sobre a imensa mesa de mogno atrás da qual ele se sentou. - Pode ficar com o troco, Lucas! E, muito obrigado! – devolveu ele. Fiquei surpreso por ele se lembrar do meu nome, afinal a Beatriz só o mencionara uma única vez. - Não é necessário, doutor! - Deixe de bobagem! O troco é seu e ponto final! – exclamou, começando a verificar a papelada que havia na pasta que lhe entreguei. - Sim, senhor! Muito agradecido! – fiquei constrangido, pois havia sobrado muito mais do que haviam custado os dois táxis. - Tarde terrível lá fora, não é? – disse ele, quando eu já estava prestes a alcançar a porta. - Um pouco, senhor! – respondi, tímido. A suntuosidade daquela sala me inibia. - Trate de trocar logo essas roupas molhadas, ou amanhã estará resfriado! – exclamou, desviando ligeiramente o olhar da papelada e me examinando de cima abaixo. - Farei isso, senhor, assim que chegar em casa. - Você mora longe? – eu me admirei com a pergunta, e com seu repentino interesse. - Um pouco, senhor! Moro na Chácara Santo Antonio em Santo Amaro. – respondi. Depois me dei conta de que ele nem deveria fazer ideia de onde ficava isso. - Ah, sei! – minha suspeita se confirmara com aquela resposta. – Como vai para casa? – indagou. - De ônibus, senhor! – respondi. Eu comecei a torcer para ele não ter mais perguntas, pois estava tremendo de frio naquelas roupas encharcadas e coladas ao corpo. - Quanto tempo leva para chegar em casa? – os papéis estavam esquecidos à sua frente, ele continuava a me examinar e a me deixar vexado. - Nesse horário, cerca de uma hora e meia, doutor! Talvez hoje um pouco mais por conta da chuva. – esclareci. Era estranha a maneira como ele olhava para mim. Nunca alguém havia me examinado daquele jeito. Tal como fizera a Beatriz, algumas pessoas já haviam me dito que me achavam bonito, mas no contexto em que me disseram isso, sempre interpretei como uma forma de se fazerem simpáticos, mais do que por me achar realmente bonito. - Se você ficar o tempo todo revezando em me chamar de senhor e doutor, numa poderemos estabelecer uma conversa que não fique restrita às formalidades. Me tratar por Jamil já é o suficiente! – sentenciou ele, depois de um breve silêncio que, no entanto, me pareceu infindável, parado ali naquela sala todo molhado. - Sim, senhor! Digo, doutor! Sim, está bem. – só me faltava essa, começar a demonstrar o quão desconfortável eu estava na presença dele. Ele apenas esboçou um sorriso e voltou aos papeis. Esquecera-se de me dispensar, e eu avaliava se deveria tomar a iniciativa, pois estava louco para sair correndo dali. – O senhor precisa de mais alguma coisa? – acabei indagando. - Ah! Claro! Não, não. Vá para casa, vá! Já está tarde. - Boa noite, senhor! - Boa noite, Lucas! É Jamil, tente não esquecer! – disse, antes de eu fechar a porta. - Não, senhor, não vou esquecer. – mal as palavras saíram da minha boca, percebi que tinha dado mais uma bola fora. No dia seguinte, fiquei preso na faculdade por conta de uma pesquisa na biblioteca e acabei chegando tarde ao serviço. Meu chefe estava numa reunião de gerentes e havia deixado um recado para que o procurasse assim que chegasse. É a terceira vez em duas semanas que me atraso, é hoje que vou dançar, pensei comigo, ao ir de encontro ao Fernando, com as mãos trêmulas e suadas. Eu até já tinha ensaiado uma desculpa, uma cara desamparada e, um – PELO AMOR DE DEUS – caso ele se mostrasse irredutível ao me despedir. - Ah, Lucas! A partir de hoje você não é mais meu funcionário, passe no RH e depois, suba até a diretoria. – disse o Fernando, interrompendo brevemente a reunião para me dispensar. - Me desculpe, Sr. Fernando, eu prometo que não me atraso mais. Sei que foi um abuso, mas juro que não vai acontecer de novo. – comecei, me preparando para implorar pelo emprego. - Do que é que você está falando? Que atraso, que abuso? Estou ocupado agora, trate de fazer o que te pedi. – disse ele, voltando para junto dos outros gerentes. Pensei em voltar ao setor e ficar à espera dele, para continuar a implorar para não ser demitido. Mas, concluí que isso talvez o deixasse mais furioso, e fui até o RH, tentando segurar o choro, pois aquela grana ia me fazer muita falta. - Lucas! Eu estava mesmo a sua espera, entre. – disse o gerente do RH. - Boa tarde, Sr. Moacyr! Será que eu poderia esperar o Sr. Fernando terminar a reunião para tentar convencê-lo a não me despedir, eu estou precisando muito do emprego, e lamento muito ter me atrasado na semana passada e hoje. – fui logo despejando, de tão nervoso e abalado que estava. - Que demissão, Lucas! O Fernando falou que vai te demitir? Que conversa é essa? – ele me encarava como se não estivesse entendendo nada. - É que ele me disse que eu a partir de hoje não sou mais funcionário dele, e como cheguei atrasado, não tive como esclarecer as coisas com ele. – respondi. - É isso mesmo, você não é mais funcionário dele, você foi transferido para a diretoria. Até já providenciamos uma mesa na sala das secretárias, a Sra. Beatriz é sua nova chefe. Pelo menos eu penso que sim, pois foi o próprio Dr. Jamil que mandou transferi-lo para lá. – revelou ele. Agora era eu quem não estava entendendo mais nada. - Sim, senhor! – balbuciei confuso. - Traga sua carteira profissional amanhã para que possamos fazer as anotações, ok? E, por mim, está dispensado, pode assumir seu novo posto. – avisou. – Ah!, mais uma coisa, seu salário foi reajustado, a Sra. Beatriz lhe dará o novo valor. – emendou, antes de eu me despedir. A caminho dos elevadores tive vontade de dar uns pulos de alegria. Precisava agradecer a Beatriz, pois isso só podia ser coisa dela, pelo pequeno favor que lhe prestei. - Não é a mim que você tem que agradecer, não tive nada a ver com isso. Foi o Dr. Jamil quem quis que você viesse trabalhar conosco. Eu, de minha parte, só posso lhe desejar as boas-vindas, será um prazer ter você conosco. – revelou ela quando lhe sapequei um beijo nas bochechas numa ousadia que não faria se não estivesse tão feliz. - Devo entrar na sala dele e dizer que já estou aqui e agradecer? – questionei. - No momento não, ele está numa ligação. Mas tenho ordens de deixá-lo entrar logo em seguida. – respondeu a Beatriz. Sentei-me à mesa que haviam colocado junto à janela bem entre a da Beatriz e da Ana Paula, a secretária do vice-presidente. Sobre ela havia um terminal de computador com teclado e um telefone de design futurista no qual pequenos leds iam se acendendo à medida que os ramais e as linhas eram usadas. Abri as gavetas completamente vazias, só para que o tempo transcorresse mais depressa e eu me acalmasse antes de enfrentar o Dr. Jamil mais uma vez. As secretárias corriam de um lado para o outro, o trabalho frenético mal lhes dava tempo para respirar, eu me sentia um peixe fora d’água sentado ali sem ter o que fazer e os minutos passando como se fossem horas. Eu estava tão absorto que levei um susto quando telefone na minha mesa tocou. - Alô! Alô! – repeti, pois atrapalhado não encontrava a tecla certa para apertar. – Sim, senhor Dr. Jamil, já estou indo. – tive tanto tempo sentado aqui e justo agora preciso mijar, protestei com meu pinto, quando ele me chamou. - Boa tarde, Dr. Jamil! - Boa tarde, Lucas! Chegou bem em casa? - Sim, senhor, cheguei, obrigado! - Gostou da sua mesa no lugar onde a mandei colocar? Se preferir outro lugar fique à vontade para mudar. – ele estava olhando para mim do mesmo jeito da noite anterior, de repente, isso me causava arrepios, ou seria a maldita vontade de ir ao banheiro? - Está ótima, senhor, muito obrigado! - A princípio a Sra. Beatriz vai lhe dar as devidas orientações, mas com o tempo quero que passe a me assessorar diretamente, está me entendendo? - Sim, senhor! Preciso alertá-lo que este é meu primeiro emprego, não tenho nenhuma experiência, a não ser o pouco que o Sr. Fernando estava me ensinando. Não sei se estou à altura de assessorá-lo. – confessei. - Você tem ambições na vida, ou tem? - Tenho, sim, senhor! - Pois bem, então nós nos daremos muito bem. No devido tempo você saberá tudo o que espero de você e, tenho certeza, de que está à altura de tudo que preciso. – afirmou ele. Naquele momento eu soube o que é ficar verdadeiramente apavorado. Eu não era nenhum imbecil, ao menos achava que não era, sabia muito bem quais eram as minhas limitações com aquela tenra idade e nenhuma capacitação profissional e um mero certificado de conclusão do ensino médio. Aquele conglomerado de empresas empregava mais de 10.000 funcionários, faturava centenas de milhões de dólares como apontavam os balancetes anuais; se distribuía em diversos ramos de negócio, suas ações tinham um peso expressivo na Bolsa de Valores. No que um reles auxiliar administrativo mal saído dos cueiros poderia assessorar o presidente da holding? Essa era questão que eu não conseguia responder. - Sra. Beatriz! Venha a minha sala, por favor. – disse ele ao telefone, interrompendo minhas divagações. – O Lucas passará a me assessorar pessoalmente, tanto nas questões da empresa quanto nos meus assuntos particulares. Suas funções continuam exatamente as mesmas. Apenas e, pelo tempo que for necessário, para que ele se inteire de tudo, peço que se dedique a prepará-lo para a função. Seu salário contará com um extra por essa missão. – afirmou, deixando a Beatriz contente, pelo que demonstrou no discreto sorriso que seus lábios esboçaram. – Ah! Mais uma coisa, transfira suas tarefas de hoje e amanhã para outra pessoa e acompanhe o Lucas. Quero que lhe compre roupas adequadas para o ambiente da diretoria, e também, para que possa me acompanhar em eventos fora da empresa. - Sim, senhor! Mais alguma coisa? - Não, senhora! Agora tratem de se mexer. - Obrigado, muito obrigado pela oportunidade, Dr. Jamil! – agradeci. - Tem certeza que você não teve nada a ver com isso, Beatriz? – indaguei quando voltamos às nossas mesas. - Juro que não! Mas, vá se acostumando, ele tem esses rompantes. De uma hora para outra decide uma coisa e põe todo mundo para correr. Agora vamos tratar de cumprir as ordens dele. Meninas, aguardem o retorno desse moço, vou vesti-lo da cabeça aos pés e transformá-lo num galã! – exclamou, tirando risadas das outras secretárias. - Para isso é só deixar ele pelado! Affff!!! Dá até calor só de imaginar! – exclamou uma delas, antes de todas voltarem a rir. Naquela tarde e, por todo o dia seguinte, a Beatriz me levou a shoppings e até ao alfaiate particular do Dr. Jamil. Ela era uma senhora que se viu obrigada a trabalhar depois dos filhos quase criados, ao enviuvar. Ela deve ter sido criada numa família de classe média alta, pois seus modos e seu gosto refinado não vieram pelo acaso, faziam parte de sua formação de berço. A doçura e a gentileza que tinha no olhar era típico de uma mãe coruja e, cumprir as ordens do padrão para comigo estava sendo mais um prazer do que uma obrigação. Bem! Acho que minha missão está cumprida! Agora só depende de você combinar essas peças de modo harmônico como lhe sugeri, e você será o mais charmoso executivo da empresa. – disse ela ao terminarmos as compras e eu estar cercado de tantas sacolas que nem fazia ideia de onde guardar todas aquelas roupas, pois o armário que eu dividia com um dos meus primos era minúsculo, embora tenha servido para o pouco que tinha a guardar. - Que exagero, Sra. Beatriz! Eu lhe sou muito grato por tudo que tem feito por mim. Sempre estarei numa dívida eterna consigo. – respondi. - Não fiz nada além de cumprir as ordens do nosso chefe! E, de uma vez por todas, para de me chamar de ‘dona’, ‘senhora’ e etc., Beatriz é mais que o suficiente, e eu prefiro porque não fico parecendo uma velha. Além do que, algo me diz que você caiu nas graças do Dr. Jamil, e que tem um futuro brilhante pela frente. Aproveite-o com sabedoria, essas oportunidades são únicas. – retrucou. - Viu como estou certo! É isso que faz por mim mesmo sem o admitir. Apenas uma pessoa com a sua bondade é capaz de dar conselhos tão bons. Obrigado! – devolvi. Ela me sorriu, tomou meu rosto entre as mãos e beijou minha testa, como faria uma mãe amorosa. No dia seguinte, fui trabalhar com as roupas novas. Desde o pessoal da portaria até quem eu encontrava pelo caminho e nos elevadores, culminando com as secretárias quando adentrei à sala, elogiavam e faziam comentários sobre meu novo visual. - Ah, como eu queria ter 20 anos outra vez, fisgava esse peixão nem que fosse no anzol! – brincou a secretária do vice-presidente, que já tinha feito o comentário sobre sentir calores ao me imaginar pelado. As outras concordaram e me obrigaram a dar uma volta para que pudessem apreciar o ‘material’ como me qualificaram. - Vocês são mestras em deixar a gente encabulado! Que sacanagem! – exclamei, com as faces coradas. - Os tímidos são os mais atraentes e sedutores, até a gente botar fogo neles, aí ninguém segura! – exclamou outra, ao constatar meu constrangimento. - Bem, meninas! A nossa opinião pouco importa. Quero saber se o Dr. Jamil vai aprovar minhas escolhas, é isso que importa. – sentenciou a Beatriz. O presidente chegou ao trabalho pouco depois, seguiu direto da garagem até sua sala no elevador privativo. A Beatriz costumava deixar a porta do escritório dele ligeiramente entreaberta para que pudesse ver quando ele chegava. - Bom dia, Dr. Jamil! - Bom dia, Sra. Beatriz! - Posso pedir ao Lucas que entre? Espero que aprove minhas sugestões, mas o rapaz já tem um gosto apurado mesmo sem as minhas escolhas. – afirmou ela, em mais um elogio que fazia sobre a minha pessoa. - Sim, sim, mande-o entrar! A senhora se afeiçoou a ele, pelo que percebo. – observou o chefe. - Sem dúvida! É um rapaz de ouro! O senhor tem um olho clínico e, tenho certeza de que também já chegou a essa conclusão. – o chefe a encarou sem dizer nada; a ela, devido aos longos anos de convívio e dedicação, era permitido fazer alguns comentários mais pessoais. Ao entrar no escritório dele naquela manhã, eu estava mais nervoso do que de costume. Não sei se por saber que ele me examinaria mais a fundo, ou se pelo fato de ter constatado, através daquelas compras dos dias anteriores, cujo valor estratosférico estava muito além daquilo que eu imaginava alguém conseguir gastar com roupas; que o abismo social entre nós era abissal. - Bom dia, Dr. Jamil! - Bom dia, Lucas! Belo trabalho, Sra. Beatriz, magnífico trabalho! Pode nos deixar, Sra. Beatriz e, por favor, feche a porta. - Sim, senhor! Obrigada! – agradeceu o elogio e me deixou ali sozinho, diante de um olhar perscrutador que me fez sentir como se estive nu. - Muito bom, Lucas! Muito bom! Era exatamente assim que eu o queria ver. Muito bom! – exclamou. Meu rosto estava em brasa. Aprendi rápido o que ele queria de mim. As dicas da Beatriz e das outras secretárias foram valiosos auxílios para conquistar a confiança do Dr. Jamil. Em poucos meses eu era a própria sombra dele, pois o acompanhava a praticamente todos os lugares. Era ele quem procurava quebrar o gelo e o distanciamento respeitoso que eu tinha para com ele, me enchendo de perguntas sobre a minha vida particular, sobre a minha história e, sobre cada detalhe que surgia, enquanto trabalhávamos lado a lado. Foi assim que ele descobriu que eu faltava a algumas aulas na faculdade para poder cumprir o expediente, e determinou que eu assistisse todas as aulas e só viesse quando liberado da faculdade. Também foi assim que descobriu o sobrado geminado simples onde eu morava com meus tios, numa ocasião em que fez o José Carlos, seu motorista, desviar a rota depois de um compromisso que avançara noite adentro, para me deixar em casa. Poucos dias depois disso, ele desceu comigo até a garagem do edifício da empresa e, tirando uma chave do bolso diante de carro compacto zero quilômetro, me disse que era meu novo meio de transporte. - Não posso aceitar um presente desses, Dr. Jamil! Não tem cabimento o senhor me dar um carro! – exclamei, desconcertado com o mimo. - Mal começamos a trabalhar juntos e já me censurando! Creio que sou eu quem define o que tem ou não cabimento, não acha? – retrucou ele, embora seu tom de voz não fosse punitivo. - Me desculpe, não foi isso que eu quis dizer! É claro que é o senhor quem dita as regras, perdão! – respondi, humildemente. - Então trate de colocar um sorriso nessa cara apavorada e veja se o presente lhe agrada! – exclamou, emaranhando meus cabelos. - É lindo! Jamais sonhei com algo assim! Muito, muito obrigado! – devolvi comovido. Eu podia jurar que por trás do sorriso dele havia tanta ou mais felicidade do que a que eu estava sentindo. - Então trate de aproveitar muito bem esse carro! - Tão logo eu obtenha a carteira de habilitação, o senhor quer dizer. – devolvi. - Você não sabe dirigir? Que maçada! Eu nem havia me atentado para esse detalhe. – retrucou desconcertado. – Vamos providenciar isso o quanto antes. – emendou. E, lá estava eu matriculado numa autoescola naquela mesma tarde. O Dr. Jamil havia promovido alguns jantares em sua casa para outros empresários e convidados estrangeiros que mantinham negócios com suas empresas. Foi assim que fui pela primeira vez a sua casa, na condição de secretário particular e assessor. Depois de alguns desses eventos, constatei que seu casamento não passava de fachada para a sociedade. A esposa, Amirah, uma filha de sírios como o Dr. Jamil, era uma mulher de semblante grotesco, que a maquiagem pesada, usada mesmo durante o dia, acabava por acentuar. Enquanto o nariz adunco e proeminente se projetava empertigado, os olhos longos e estreitos, de íris negra, a cada instante expressavam algo diferente, mas sempre algo de uma malícia profunda, quase diabólica, ou um desprezo enojado por quase tudo e todos que a cercavam. Sua origem provavelmente era pobre, pois seu gosto exagerado por ostentar joias imensas e caras, desproporcionais à sua compleição física, beirava o ridículo. Somava-se a isso, o cabelo extremamente negro, trazido num penteado que mais parecia um capacete e, o hábito de fumar cigarros mentolados envoltos num papel marrom tornara sua voz rouca e desagradável. Mulher perdulária, passou essa herança às filhas. Ela concebera duas que, quando as conheci, tinham 30 e 26 anos. A mais velha, Aisha, era mais introvertida, tinha feito um casamento por conveniência com um primo distante uns bons anos mais velho do que ela e, do qual, sofria profunda rejeição e, pelo que algumas ausências em eventos familiares deixavam evidente, assim como alguns hematomas disfarçados com maquiagem, costumava apanhar de vez em quando. Não sei se a família fazia vista cega para o fato, ou se cada um vivia sua vida sem se importar com as mazelas alheias. Desde a primeira vez que a vi, tive pena dela, de seu olhar cabisbaixo, de seu retraimento protetivo, mas era exatamente contra esse tipo de sentimento que ela se revoltava, tornando-se inimiga ferrenha daqueles que a viam por esse olhar. A mais nova, Soraia, era uma versão mais jovial da mãe. Não tinha grandes atrativos, o corpo largo e roliço era ainda menos bem feito que o da mãe. O pai a via com a mesma reserva com a qual via a esposa, não confiava nela. Os demais que a cercavam, ou a ignoravam, ou a negligenciavam. Alguns anos após eu passar a frequentar a casa do Dr. Jamil, ela se casou com um tipo muito bonito, um sujeito de boa índole que foi enredado em suas tramas com a ajuda da mãe e, do qual logo passou a ter o mesmo desprezo que a mãe tinha do pai. O sujeito, Eduardo era seu nome, passou a trabalhar nas empresas do sogro como um executivo de segunda classe, embora seus méritos e dedicação estivessem muito acima de outros executivos muito mais bem posicionados. Havia sido uma exigência e um capricho da própria Soraia, que seu marido fosse mantido como um cão obediente sem muita chance de se manifestar. Foi sua maneira de castigá-lo depois de descobrir que não era ele o responsável por não terem filhos, como o acusara depois de inúmeras tentativas; mas, que era seu útero seco que não podia gerar descendentes. Eu estranhei a primeira vez em que o Dr. Jamil me chamou para acompanhá-lo à casa de praia em Angra dos Reis. Passávamos por um período assoberbado na empresa e, como ele costumava levar trabalho para casa aos finais de semana, imputei a isso aquela ordem dada numa sexta-feira à tarde. Ele havia determinado que eu fosse para casa pegar o precisaria para o fim de semana e voltar a empresa até o final do expediente. Consultei a Beatriz quanto ao que levar, pois esse seria um compromisso inédito, para o qual eu não estava preparado. - Não precisa levar nada sofisticado, escolha dentre aquilo que compramos o que for mais confortável, afinal trata-se de uma casa de praia e todos vão estar muito à vontade. – aconselhou ela. – Ah!, e não se esqueça de uma sunga. Não compramos nenhuma, mas tenho a certeza que você deve ter alguma. – emendou. - Você pirou? Imagina se eu vou andar de sunga na frente daquela gente! Eu conheço o meu lugar, não vou misturar trabalho com lazer. – respondi. - Siga o meu conselho! Vai ficar muito mais embaraçoso se tiver que emprestar uma de alguém, ou se o levarem a algum lugar para comprar uma. Vai por mim. – revidou ela. Por via das dúvidas, e não negligenciando suas orientações sempre sábias, acabei enfiando duas dentro da valise; um pouco apertadas e curtas constatei ao experimentá-las em casa, pois havia alguns anos que não vestia nenhuma delas, mas estavam boas e eram de uma cor sóbria. Voltei ao escritório, me muni de notebook e agendas que achei poderiam me ser úteis e esperei o término do expediente. Cerca de meia hora depois de todos saírem, o Dr. Jamil foi avisado que o helicóptero nos aguardava no heliponto do edifício. Eu encarei o Bell 429 de duas turbinas com a hélice espalhando um turbilhão de ar ao seu redor como um monstro prestes a me devorar. O piloto praticamente me arrastou até ele, pois minhas pernas relutavam em se aproximar daquela geringonça assustadora, quanto mais a entrar na cabine e sentir que não estávamos mais em contato com algo firme em nossa base. Eu ainda mantinha os olhos apertados quando senti uma mão quente e imensa pegando na minha. Como não podia ser a do piloto que estava no comando fazendo a aeronave inclinar ligeiramente para o lado e partir ligeira com um balanço semelhante a um pêndulo, só podia ser a mão do Dr. Jamil. Abri imediatamente os olhos, constrangido e apavorado, até me deparar com um sorriso em seu rosto e, pelas vidraças, um mar de luzes da cidade abaixo de nós, num espetáculo sem precedentes. Não sei se foi a visão magnífica de uma São Paulo que eu desconhecia, ou se foi aquela mão firme que foram devolvendo progressivamente o meu ritmo cardíaco. Ao contrário do que eu havia imaginado, não havia ninguém da família do Dr. Jamil na casa quando chegamos. Um casal de caseiros pegou nossas bagagens e, com a mesma discrição que nos cumprimentaram, desapareceram até a hora do jantar. A mesa posta para dois, não podia ter me deixado mais apreensivo. Jantamos enquanto eu passava por outro daqueles inquéritos do meu patrão, aos quais até já havia me acostumado. Minhas respostas eram curtas, quase monossilábicas, algo de que eu sabia ele não gostava, pois já havia me prevenido disso; mas que, no momento, de tão nervoso, não consegui evitar. Foi um verdadeiro lenitivo quando ele me desejou uma boa noite, ao lhe pedir, já tarde da noite, permissão para me recolher. Acordei cedo, tomei uma ducha e me vesti para descer. A casa continuava tão silenciosa quanto quando chegamos. Perambulei pelos cômodos até encontrar a cozinha, onde o casal de caseiros tomava café e, o interrompeu, levantando-se para me cumprimentar. - Bom dia! Desculpem! Por favor, não se levantem! Lamento estar incomodando. – acabei de levantar e já estou dando mancada, pensei comigo mesmo. - Bom dia, senhor! Não, não incomoda. Já vou começar a preparar o café para o senhor e para o Dr. Jamil. – disse a caseira, apressando-se para concluir sua refeição. - Não há necessidade! Posso esperar pelo Dr. Jamil. Se me derem licença vou fazer uma caminhada pelo jardim. – eu não sabia como lidar com a criadagem, isso já tinha ficado evidente numa ocasião em que eu quis ajudar uma das empregadas, às voltas com uma bandeja que lhe escapou das mãos, enquanto começava a recolher os pratos durante um jantar na casa da cidade. A Amirah teria me fuzilado se pudesse quando me viu todo solícito propondo ajuda a pobre mulher. Depois, puxado a um canto por ela, levei um sermão por ter me metido naquilo que não me dizia respeito. Desconfiei que se ela tivesse me flagrado naquela cozinha, teria levado outro esbregue. Os três níveis da casa desciam por uma encosta, cercada por uma mata nativa que persistia naquele trecho do litoral. Jardins extensos e bem cuidados pareciam fazer parte natural da paisagem e desciam até um trapiche de madeira que avançava mar adentro. Ao longe, avistava-se outras mansões igualmente camufladas pela vegetação exuberante. Sobre um mar com diversos tons de verde e azul, onde o sol esparramava um brilho reluzente, começavam a deslizar veleiros brancos que, aos poucos, iam abrindo os intrincados velames, parecendo cisnes altivos que deixavam um rastro de espuma branca atrás de si. Sentei-me na beirada do trapiche e deixei as pernas pendendo sobre a água. Tive vontade de colocar uma daquelas sungas e dar um mergulho naquelas águas cor de esmeralda; porém, lembrei-me que estava ali a trabalho e não em férias. - Senhor Lucas, o Dr. Jamil já acordou e o aguarda para o café. – disse o caseiro, me tirando dos meus pensamentos. - Obrigado! Posso lhe perguntar seu nome e o de sua esposa? – longe de quem pudesse me censurar, arrisquei a pergunta, para não ficar sem saber como tratar aqueles funcionários que eram tão empregados quanto eu. - Otávio e Zulmira, senhor Lucas! - Então Otávio, se não for pedir demais, me chame apenas de Lucas. Sou um funcionário do Dr. Jamil como você. – solicitei. - Ok, Lucas, faremos isso. Mas, já lhe adianto, que o faremos apenas quando não houver nenhum dos patrões presente. É uma exigência da Sra. Amirah. – afirmou ele. Não sei porque não me espantei com a sua resposta. - Bom dia, Dr. Jamil! Estou pronto para começarmos quando o senhor quiser. – disse ao me juntar a ele para o café. - Bom dia, Lucas! Dormiu bem? Ou teve pesadelos com o helicóptero? – questionou, com um bom humor espantoso. – Em primeiro lugar, sente-se e tome seu café. Deixe as questões de trabalho para quando eu lhe solicitar, estamos entendidos? – emendou. - Sim, senhor, dormi! Devo ter parecido um bicho do mato quanto o helicóptero alçou voo, não foi? Contudo, confesso que adorei a viagem, depois que o medo passou. – respondi. Ele riu. - Você acaba se acostumando! Espero que minha mão tenha lhe inspirado confiança. – teria sido menos constrangedor se ele não tivesse se lembrado desse detalhe. Eu apenas corei. Estava me tornando especialista nisso. Como eu comecei a desconfiar pouco depois do café, não haveria mais ninguém na casa além de nós dois e, aquele também não seria um final de semana de trabalho. Depois de ele me ordenar, num tom enfático, que me pusesse mais confortável e me juntasse a ele na beira da piscina, fiquei me questionando se esse homem se sentia tão solitário a ponto de passar um final de semana com um funcionário, ao invés da família e amigos. Se vergonha pagasse pedágio eu estava ferrado. Só me dei conta que as sungas que havia trazido eram realmente pequenas demais quando vi minha imagem refletida, à luz do dia, no espelho da suíte que ocupava. Para completar o quadro de horrores, eu estava mais branco do que uma vela. Havia anos que não ia a uma praia, ou me expunha ao sol. Cheguei à piscina sem saber como encarar o Dr. Jamil naquele traje sumário. Ele baixou os óculos de sol quando ocupei a espreguiçadeira ao lado da dele, como para me examinar melhor. O silêncio que se formou foi aterrador. - Você não pratica esportes, Lucas? – indagou finalmente. - Não, senhor! Sempre me sobrou pouco tempo para isso. – respondi. - É uma pena! Você tem um corpo maravilhoso, um tom levemente bronzeado nessa sua pele lisinha lhe cairia muito bem! – afirmou. Por uns instantes, pensei em pular na água e sumir, não na da piscina, mas na do mar. Meu patrão me examinava com tanta intimidade e fazia comentários como se fossemos pai e filho. Por um longo tempo depois disso, em novo silêncio, eu reparei nele pela primeira vez. Ele devia ter pouco mais de sessenta anos. Apesar da idade era um homem robusto, não atlético, pois uma discreta barriga típica da idade se fazia presente. Era um pouco mais alto que os homens de sua etnia, do Oriente Médio, o que lhe conferia aquela aparência maçuda. Também lhe era típico daqueles homens, a fartura de pelos distribuídos pelo corpo, desde o rosto barbudo e o bigode largo até as sobrancelhas grossas que encimavam seus olhos castanho-escuros, passando pelo peito largo no qual se mesclavam alguns fios grisalhos, que desciam pelo abdômen e voltavam a abundar abaixo do umbigo, pelos braços grossos nos quais os pelos se encaracolavam ligeiramente e, nas pernas vigorosas onde eles também o revestiam como se fosse um tapete, negros e encrespados. Não se podia dizer que era um homem bonito, talvez nem charmoso, pois trazia o semblante quase sempre carregado. Contudo, ele não passava despercebido onde quer que adentrasse; era esse seu maior atrativo, algo que exalava poder, difícil de explicar. Eu nunca o tinha visto só de short, pareceu-me intimidador nos primeiros instantes, especialmente porque havia um volume imenso entre suas pernas. - Não quer mergulhar um pouco na água? Deve estar bem refrescante. – indagou, afugentando meus pensamentos. - Se o senhor não se incomodar, eu gostaria sim! – respondi. - Preste atenção numa coisa, Lucas. Eu o trouxe aqui para que relaxe e se divirta. Faça tudo o que faria em sua casa, sem cerimônia. Não há ninguém aqui além de mim e, eu gostaria que você me chamasse apenas de Jamil quando estivermos assim como agora. Será que consegue esquecer um pouco o trabalho, a relação patrão empregado e, se mostrar meu amigo? – questionou. - Sim, senhor! Quer dizer, Jamil! Vou tentar. – lá estava eu novamente, gaguejando de tão nervoso. - Então ande, quero ver esse corpo deslizando pela água! Como eu previ, em nenhum momento tratamos de trabalho. Passamos o dia refestelados ao sol, caminhando pelos jardins, saímos num passeio de lancha que o caseiro tirou de uma garagem tão bem camuflada entre a vegetação que mal se notava sua existência e, terminamos o dia comendo caranguejos e tomando vinho numa mesa montada sobre o trapiche, com direito a uma toalha branca e velas que tremulavam com a brisa do anoitecer. Ao apontarem as primeiras estrelas no céu, ele pegou na minha mão em cima da mesa e me encarou. - Gosto muito de você, Lucas! Gosto desde o primeiro dia em que te vi. Não sei se você se recorda, mas aquelas roupas molhadas aderidas ao seu corpo, especialmente a camisa branca que usava na ocasião, transparente e sedutoramente colada ao seu tronco, me deixaram maluco. Desde então venho tomando coragem para me abrir com você. E, acho que esse é o momento. – eu não conseguia engolir o vinho que estava na minha boca. Pasmo e assustado com o que poderia sair daquela boca, eu só pensava em evaporar no ar. - Também gosto muito do senhor, Dr. Jamil.... – ele não me deixou continuar, apertou minha mão e voltou a falar. - Espere, não me interrompa! Ouça o que tenho a dizer e não volte a me chamar de senhor, doutor. É Jamil, porra! – sentenciou. Eu acenei com a cabeça. – Como eu dizia, eu gosto muito de você, gosto dos seus modos contidos, gosto da sua timidez, gosto desse seu corpo escultural porque sinto tesão quando você está perto de mim e, se você me permitir, eu gostaria de estreitar ainda mais os laços que nos unem. – revelou. - Eu não sei o que dizer! Eu ... - Diga apenas que sim! Diga se me acha velho demais para fazer propostas desse tipo, diga que não sente nada por mim, mas diga alguma coisa. - O senhor não é velho! Isto é, você não é velho Jamil. Eu tenho um profundo respeito por você, uma admiração que jamais tive por outra pessoa. – esclareci. - Eu gostaria que fosse além da admiração e do respeito, muito além. Eu gostaria que você estivesse disposto a partilhar sua vida comigo. – afirmou. - Somos de mundos tão diferentes! O senhor, quer dizer, você nem imagina.... - Imagino e sei disso! Não sou um jovem inexperiente. Conheço a vida e seus percalços. Mas, estou disposto a arriscar tudo para ter você ao meu lado. – afiançou - E como pretende fazer isso? Você é casado, tem uma família! – lembrei - Não toco na minha mulher há décadas, mal nos suportamos durante ocasiões formais. Minhas filhas têm suas vidas e eu não faço parte delas, a menos que a questão envolva dinheiro. Portanto, me considero tão livre e desimpedido quanto você. E, para começar, pretendo isso... – naquele momento ele interrompeu seu discurso, levantou-se, puxou-me pela mão até junto dele e colou sua boca na minha. Era a primeira vez que um homem me beijava, e minha cabeça estava à mil. Caminhamos de mãos dadas até o quarto dele. Seus dedos grossos se atrapalharam ao desabotoar minha camisa, porém foram certeiros sobre meus mamilos, acariciando-os e apertando meus biquinhos enrijecidos. Sua boca voltou a me beijar, o bigode roçando meu nariz me fez sentir cócegas. Suas mãos deslizaram pelos meus ombros e tiraram a camisa. Ele ficou me olhando, sorriu, e beijou vorazmente um dos meus mamilos. Comecei a sentir uma excitação que arrepiou minha pele, acelerou meu coração e provocou uma ereção. O Jamil gostou de vê-la crescendo dentro meu short. E eu não pude deixar de reparar que dentro do dele também estava havendo uma silenciosa, mas contumaz revolução. Aos poucos, suas mãos foram se aproximando das minhas nádegas. Primeiramente, deslizaram por sobre o short. Depois, imergiram nele pelo cós, arriando-o e acariciando suavemente meus glúteos rijos. Ele me fez deitar na cama, beijou minhas omoplatas, desceu pela minha coluna, lambendo todo o trajeto com sua língua úmida e inquieta. Apartou minhas nádegas com as duas mãos, lambeu meu reguinho me fazendo soltar um gemido por que o tesão me consumia. Mordeu um glúteo, mordeu o outro, seu polegar começou a brincar com meu buraquinho, movendo-se ao redor dele sobre as preguinhas rosadas antes de penetrar no meu cu. Eu gemia tão lasciva e permissivamente que me sentia um boneco em suas mãos. - Já esteve com um homem antes? – questionou, rodopiando aquele polegar grosso na portinha do meu cu. - Não! – gemi com a voz trêmula. Ele terminou de tirar meu short e fez o mesmo com o dele. Uma benga gigantesca e grossa saltou para fora, e eu temi pela minha integridade. Ele me cobriu com seu corpo pesado, os pelos do peito roçavam minhas costas, suas pernas peludas se enroscavam nas minhas, sua virilha se esfregava na minha bunda. Mordiscadas na minha orelha e, seu hálito quente na minha nuca faziam meu corpo todo tremer. O cacetão reto e duro resvalava para cima e para baixo dentro do meu rego, molhando-o com o fluido viscoso e abundante que escapulia de sua uretra. O Jamil pegou um frasco de lubrificante na gaveta da mesa de cabeceira, lambuzou seu membro e a minha rosquinha rosada; passou um braço ao redor do meu tronco, guiou a pica de encontro ao meu cuzinho e me penetrou num golpe tosco e vigoroso. Senti muita dor, mas não tive coragem de tirar o rabo da reta. Eu quis gritar, mas mordi os dentes, gani alto e, o mais rápido que consegui, mordi o travesseiro que estava diante de mim. Ele começou a me possuir mais intensa e brutalmente do que eu supus. Sucumbi me entregando à sua lascívia predadora. Ele continuou a me penetrar, aos poucos, ao mesmo tempo em que relaxava os músculos anais, minha dor foi se transformando em prazer, um prazer que me fez gostar daquilo, um prazer que me fazia gemer de tanto tesão que eu mal me continha. Comecei a rebolar e a travar os esfíncteres mordendo naquele cacetão que se movia num vaivém contínuo dentro do meu cuzinho. Senti que ia gozar, meus gemidos se intensificaram com as estocadas profundas que atingiam minha próstata. Os jatos começaram a sair sem que eu pudesse fazer mais nada, lambuzando o lençol com a minha porra. O Jamil sorriu ao me ver gozando, era a confirmação de que eu estava gostando de seu desempenho. Um urro potente dele ecoou pelo quarto no mesmo instante em que eu senti seu leite espesso e morno escorrendo dentro de mim. Todo o peso de seu corpo ficou por cima de mim, o caralhão amolecia lentamente no meu cuzinho e começava a deslizar para fora; travou na saliência da chapeleta e ficou engatado na minha portinha. O Jamil já não arfava tão intensamente quanto antes, suas mãos me acariciavam, eu deslizava as minhas sobre seus braços peludos. Recuperado, ele foi se erguendo aos poucos, sacou o caralhão do meu cuzinho numa única puxada, eu soltei um gemido ao sentir a dor da distensão. - Acabei te machucando! Perdão, não foi minha intensão. – disse, ao pegar uns lenços umedecidos da gaveta aberta e delicadamente comprimi-los na fenda do meu rego. - Não tem importância, não há de ser nada sério. – devolvi resignado, embora a dor mal me permitisse mover as pernas. - Seu cuzinho é delicioso, Lucas! Você deve ter notado como fiquei satisfeito. Nem me lembro de quando gozei tanto como agora. – sussurrou ele, puxando-me sobre seu peito onde apoiei minha cabeça e comecei a acariciar seus pelos com as pontas dos dedos impacientes. - Fico feliz que tenha gostado. Eu também gostei muito de sentir você dentro de mim. – confessei sincero. Até então, eu nunca tinha me ligado muito nessa questão. No fundo, não sabia se eram mulheres ou homens que me atraiam. Não tinha inclinação para Don Juan, nem tão pouco para gay. Era algo não resolvido em mim. O fato de ter passado por tantos tutores durante meu crescimento, me tornara uma pessoa introvertida e tímida, para não dizer insegura e pouco questionadora. Essas características levei para o campo sexual, omitindo ou não me permitindo nenhuma incursão nessa área. Sempre pensei em mim com um ser assexual, daí não me empolgar com as garotas que me assediavam, nem com os rapazes cujos físicos atléticos às vezes me chamavam a atenção. Porém, nada além disso. Sentir o Jamil dentro de mim, com aquele mastro gigantesco, numa sanha carnal e devassa acabou por me excitar e fazer gostar verdadeiramente do que ele estava fazendo comigo. Quem gosta de rola no cu é bicha. Portanto, sou gay concluí. Por um tempo fiquei indeciso se deveria voltar para ao meu quarto, ou permanecer ali deitado ao lado do Jamil. O objetivo dele era me enrabar, conseguiu. Eu, como seu funcionário, tinha prestado o serviço e agora era hora de voltar ao meu lugar. Foi assim que pensei. Também pensei em perguntar se ele precisava de mais alguma coisa, como fazia no escritório depois de ter concluído uma tarefa. No entanto, achei que soaria ofensivo se eu o questionasse dessa maneira. Então, resolvi apenas me levantar e sair do quarto para deixá-lo livre. - Aonde vai? – indagou, quando viu que eu seguia rumo à porta. - Vou deixá-lo descansar, passa da meia-noite! – respondi. - Está farto de mim? - Não, claro que não! - Pois parece! - Desculpe, não foi essa a minha intenção. - Então volte para cá, enrosque esse corpo lindo em mim e continue a me fazer os afagos que estava fazendo, seu moleque desnaturado! – ele sorria quando me disse isso. Eu voltei e continuei a acariciá-lo. Quando o ouvi ressonando mais forte, notei que havia adormecido com as carícias em sua pica, para onde tinha levado a minha mão. Esta também se tornava cada vez mais pesada e, não sei quando, eu também adormeci. Na noite anterior não havíamos fechado as persianas e, o sol imponente do domingo varou as portas que davam para a pequena varanda do quarto, batendo diretamente sobre nós. O Jamil despertou antes de mim. Ao esfregar os olhos para saber onde estava, ele me encarava em silêncio. - Bom dia! - Bom dia, se...! – interrompi o cumprimento antes de levar outra bronca. - Dormiu bem? - Sim! Lamento não ter acordado mais cedo e tê-lo feito esperar. – balbuciei sonolento. - Não estou esperando há muito tempo. E, para ser sincero, esperaria uma eternidade só para continuar admirando seu sono e essa sua bunda que me deu tanto prazer. – retrucou ele. - Estou aqui disponível, posso lhe proporcionar esse prazer novamente se quiser. – propositalmente, entonei a voz um tom abaixo do meu normal, para que a gravidade fizesse a frase soar mais sensual. - O convite é irresistível, mas eu te machuquei ontem e não quero piorar as coisas. – razão ele tinha, meu cuzinho ainda doía quando eu me mexia. Tomamos uma ducha juntos, e ele acariciou meu corpo o tempo todo. Chupou meus mamilos, mordiscou meus ombros, abusou da minha bunda. Sem tirar os olhos de mim, levou minha mão até seu membro. Eu o ensaboei sensualmente, deixando-o crescer livremente sob meus afagos. Ele era troncudo como o Jamil, pesado, grosso, carnudo e, quando rijo, praticamente impossível de movimentar. Eu nunca tinha pego o cacete de outro macho na mão, e acariciar aquele estava sendo uma experiência maravilhosa. Levei minha mão bem para dentro de suas pernas, a fim de também tocar naquele sacão que pendia abaixo dele. A consistência macia do conjunto contrastava com a borrachóide dos dois imensos testículos alojados nele. O Jamil sabia que eu explorava uma pica de macho pela primeira vez e, o fato de ser a dele lhe causou imenso prazer. - Gosta? – sussurrou, quando suas mãos apertavam minhas nádegas - Gosto muito! – respondi. E era a mais pura verdade. - É todo seu! Na hora e da forma como quiser. Espero que encontre muita alegria nele. – disse, da forma mais safada que um homem podia falar. - Como a que tive na noite passada? – parecia que era tudo que ele queria ouvir. - Exatamente como ontem e, ainda muito mais! – respondeu. O falo já não se movia mais na minha mão, a despeito da pressão que eu empregava para movê-lo. – Tome o tempo que precisar para descobrir todo o potencial que ele tem para te oferecer. – emendou. Eu passei meus braços ao redor do pescoço troncudo dele e fui tocando suavemente meus lábios nos dele. O beijo foi longo, devasso, e sua língua na minha boca me encheu de sabores viris. Fizemos outro passeio de lancha pela manhã, circundando as diversas ilhas de Angra. Ele usou o pretexto de me ensinar a pilotar só para que minhas mãos ficassem ocupadas no volante do leme e não o impedissem de arriar minha sunga e ficar me encoxando, lambuzando todo meu reguinho com seu pré-gozo. Almoçamos num restaurante cujo acesso se dava apenas pelo mar e, cuja vista a partir de uma minúscula praia deserta, não podia ser mais romântica. Quase ao final do entardecer tomamos o rumo de volta. O dourado do sol refletido na superfície da água ganhava tons alaranjados à medida que ele ia se pondo no horizonte. Eu sabia que o Jamil esperava mais daquele fim de semana do que apenas uma única trepada. Assim, ao terminar de arrumar minhas coisas para partirmos, eu fui ter com ele em seu quarto, onde ele fazia o mesmo. - Já está com tudo pronto? Preciso de mais uns dez minutos, já me encontro com você na varanda. – disse ao me ver entrar. Eu fechei a porta do quarto, fui até ele e o beijei. Como estava próximo à cama, ele se sentou comigo no colo. Desabotoei minha camisa e, segurando seu rosto entre as mãos, trouxe-o para meus mamilos. Ele os chupou, depois mordeu um deles com força e me fez gemer. Ele ainda não havia vestido a camisa, afaguei seu torso peludo e nu. Ele sorriu e me deixou continuar. Sua ereção já se fazia sentir na minha bunda, por isso eu a esfreguei em suas coxas. Lentamente fui abrindo sua calça, desci o zíper, tirei o caralhão molhado. Ajoelhei-me entre suas pernas e o coloquei na boca, ele soltou um gemido gutural. Chupei-o e lambi seu sumo até ele ficar novamente tão duro que não se movia. Tirei minha calça e minha cueca e, abrindo as pernas, fui sentando lentamente sobre aquele mastro roliço. Ele me guiava com as mãos na minha cintura, mal acreditando na minha iniciativa. Gani quando a cabeçorra atravessou minha rosquinha machucada, me esforçando para suportar toda aquela dor. Aos poucos, fui soltando meu peso em seu colo. A verga mergulhava em mim e eu me segurava em seus bíceps para encontrar forças. Ele encarava minha expressão contraída de padecimento me sustentando em suas mãos para que a caceta não me machucasse muito mais. Ao sentir que estava com todo ele dentro de mim, beijei-o carinhosa e demoradamente. Travei algumas vezes o esfíncter ao redor do caralho, gemendo com a língua dele dentro da minha boca. O Jamil despejou seu leite espesso e pegajoso em mim, liberando sua boca da minha para soltar um urro. Duas lágrimas rolaram pelo meu rosto, eu tinha aguentado aquela dor até o final, tendo gozado sobre a barriga dele sem perceber. Meu cuzinho estava tão rasgado que foi difícil ficar em pé. - Ah Lucas! Por que você fez uma loucura dessas? Foi maravilhoso, mas você não devia. – sussurrou ele, me apertando carinhosamente em seus braços. - Obrigado, por tudo, Jamil! – balbuciei choroso. - Vem cá meu anjo, vem! Isso foi uma imprudência, você ainda não estava cicatrizado de ontem. – afirmou ele. - Eu precisava encontrar uma maneira de te fazer feliz. Foi só nisso que lembrei. – afiancei. - E conseguiu! Conseguiu, meu anjo, conseguiu! – pela força com que ele me apertava de encontro ao seu corpo, eu soube que sim. O helicóptero pousou pouco depois no heliponto do jardim. Trançando as pernas para que o esperma do Jamil não vazasse do meu cuzinho, fui me despedir do Otávio e Zulmira. Ambos demonstraram uma gentileza sincera ao me desejarem uma boa semana e um breve regresso. Assim que a aeronave alçou voo, um restinho da bola vermelho-alaranjada desaparecia na linha do horizonte. Peguei na mão do Jamil e sorri para ele. Desta vez ele sabia que não fora o medo do helicóptero que me fizera procurar abrigo em sua mão. Ele levou a minha até os lábios e a beijou delicadamente.
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O título do conto e o nome do autor me chamaram muito atenção. Mas jamais imaginei encontrar um texto de tanta qualidade assim. Preciso urgente continuar lendo seus textos para chegar a uma conclusão. Fiquei intrigado. Parabéns!!! Votado.