Romance georgiano - Parte I Cheguei a Dinsley Park numa tarde fria de janeiro de 1801, vindo do internato em B_, numa viagem de dois dias. Assim que o cocheiro saiu da estrada e entrou na aleia que levava a mansão, senti um palpitar estranho. Quanto mais nos aproximávamos dela, austera e cinza, com seu conjunto de seis janelas distribuído por três andares ladeando simetricamente o imenso pórtico, mais inquieto eu ficava. A Sra. Patow também passava por algum tipo de desconforto, pois seu semblante havia se contraído deixando-a com um aspecto ainda mais carrancudo. Ao que tudo indicava, já esperavam por mim, uma vez que bastou o cocheiro estacionar a carruagem diante do pórtico, para que a imensa porta de carvalho tivesse uma de suas folhas aberta, e quatro criados viessem ao nosso encontro. Os três que se aproximaram da carruagem, um rapaz jovem e duas senhoras, fizeram uma mesura discreta diante de mim, antes de começarem a retirar as minhas bagagens e as da Sra. Patow. O quarto criado, um senhor de meia idade e um pouco barrigudo, ficou junto à porta, e só me cumprimentou quando cheguei ao patamar no final da escada de oito degraus. - Boa tarde, Sr. Carlton! É um imenso prazer tê-lo conosco. – afirmou, numa voz de barítono. - Agradecido! Meus tios encontram-se em casa? - Lord Crowbourgh está caçando raposas com uns amigos, e deve regressar em breve. Lady Anne está na sala de música com as filhas, e pediu que o senhor as encontre lá para o chá. – explicou solícito, ordenando que os outros apressassem aquele descarregamento. – Boa tarde senhora! – emendou, dirigindo-se à Sra. Patow que, aparentemente, não gostou de quase ser esquecida. – John, mostre a Sra. Patow os seus aposentos! – exclamou afinal, para o rapaz arfante ao terminar de retirar todas as bagagens da carruagem que viera seguindo a que eu e a Sra. Patow ocupávamos. As outras criadas e mordomo me levaram ao andar superior e me alojaram nos meus aposentos, um quarto imenso da ala leste da mansão, cujas janelas davam para a frente da mansão e do lago diante dela, com outro anexo como quarto de vestir, uma saleta onde crepitava uma lareira e o banheiro. Comparado aos meus aposentos no internato, o espaço me pareceu desproporcional às minhas necessidades. Assim que as criadas começaram a retirar as minhas roupas dos baús para organizá-las nos armários do quarto de vestir, eu me desvencilhei do pesado casaco que chegava quase até o chão e me sentei diante da lareira, foram os primeiros minutos depois de dois dias que não senti o frio congelando meus ossos. - Lady Anne pede que o senhor desça, pois já vai servir o chá! Está tudo de seu gosto? Precisa de alguma coisa? O camareiro contratado para servi-lo só chega amanhã a Dinsley, mas eu posso ajudá-lo a se vestir se precisar. – esclareceu o mordomo. - Não obrigado! Como se chama? - Arthur, senhor! - Obrigado, Arthur! Diga a minha tia que já estou descendo, assim que terminar a minha toalete. Eu não me lembrava de tia Anne, a irmã mais velha e única de minha mãe. A última vez que estiveram juntas foi há sete anos, em nossa casa em Faringdon, e eu não passava de um garotinho de quatro anos. Uma era o oposto da outra. Enquanto minha mãe era mais aberta às pessoas e às situações, minha tia Anne se refugiava nas tradições, nos ritos sociais e, na classificação das pessoas segundo seus títulos nobiliárquicos e suas fortunas. Foi isso que a levou a se casar com Lord Crownbourgh, um homem catorze anos mais velho do que ela, que já havia desperdiçado mais de três quatros da fortuna que o pai lhe deixara e, que viu nela a oportunidade de ver seu patrimônio acrescido do seu dote em troca de um título que já não valia muito diante da coroa em Londres. Porém, para tia Anne e as pessoas em Chapmansdale, o título ainda era motivo de respeito e devoção; mais bajulação na verdade do que propriamente devoção. Mas, isso parecia bastar para tia Anne. Eu só fiquei ciente disso no último Natal, quando, por acaso, Lord Crownbourgh e tia Anne foram assunto de uma conversa entre os meus pais e, minha compreensão das coisas já não se limitava aos meus brinquedos. O real motivo de eu ter sido tirado do internato e ter vindo parar em Dinsley Park continuava desconhecido para mim; embora eu desconfiasse que tinha haver com a notícia que recebi, poucos meses atrás, de que meus pais haviam desaparecido na Índia britânica, onde meu pai, amigo pessoal de Lord Wellesley, nomeado governador-geral pelo rei expandia os domínios da coroa britânica naquele território. Meu pai, segundo eu soube anos mais tarde, era um empreendedor e, tinha acompanhado as expedições de Lord Wellesley com o intuito de adquirir terras na colônia. Muito embora já fosse um homem rico e herdado não apenas o título de duque de Connaught como toda a fortuna de meu avô, incluindo o castelo de Faringdon. - Lady Anne! – cumprimentei ao ser introduzido por Arthur na sala de música. Ela imediatamente se levantou do piano onde tamborilava uma cançoneta que não consegui identificar, e veio na minha direção. Minhas primas Eliza, Mary e Annabela estavam próximas à janela e entretidas com seus bordados. A primeira imagem que compilei ao entrar no aposento me lembrou o de uma cadela cercada por suas crias. Tão logo esse pensamento tomou forma em minha mente, eu me penitenciei por ter tido um julgamento tão vulgar e pouco cristão. Os anos naquela casa acabaram por provar que eu não estivera tão enganado assim. - Ora, ora, vejam só como cresceu o jovem Sr. Carlton! – exclamou, colocando um sorriso no rosto esquálido. – Fez boa viagem? Lamento não ter ido recebê-lo à porta, mas esses dias frios e enevoados têm me deixado com o corpo dolorido. Venha, vou lhe apresentar suas primas. Você não deve se lembrar delas, pois era muito pequeno quando as viu pela última vez. Esta é Eliza, Mary e Annabela. – disse, colocando-me frente a frente com as três moças, que fizeram uma discreta mesura com a cabeça e também colocaram um sorriso na cara. - O prazer de estar aqui é todo meu! Eliza, Mary, Annabela, encantado! – retribuí. Naquele dia eu não sabia que me arrependeria amargamente de ter pronunciado a primeira dessas frases. Ouvi o tagarelar de minha tia por mais de duas horas, parecia que estava a fim de me relatar todos aqueles últimos sete anos naquela tarde. Raras vezes ela se dirigiu às filhas que, no entanto, não perdiam o foco daquela conversa enfadonha e da minha pessoa. No internato eu não convivia com meninas, por isso a presença delas me deixava inquieto. Tudo que enfiavam na minha mente juvenil era que se devia ter uma deferência e solicitude quase servil diante das mulheres, o que as tornava, para mim, seres de outro universo que, preferencialmente, deviam ser evitados. Lord Crownbourgh voltara da caçada com uns amigos que também estavam hospedados em Dinsley. Tão logo se juntaram a nós, ainda em trajes de caça, fez questão de me apresentar aos companheiros, citando expressamente – este é o jovem Sr. Carlton, filho do duque de Connaught, a partir de agora meu hóspede e tutelado, até atingir a maioridade – não foi o tom áspero de sua voz que me fez sentir um calafrio, mas as palavras tutelado e maioridade. Para ele mencioná-las, algo de terrível deveria ter acontecido aos meus pais, e eu não podia esperar mais nenhum segundo para fazer a pergunta que o tagarelar da minha tia não me havia permitido fazer. - O que aconteceu aos meus pais? – eu ignorei por completo a etiqueta, deixando de cumprimentar aqueles senhores, e passando a querer ouvir aquilo que realmente me interessava. - Pobre rapaz! Ainda não lhe deram a notícia? O duque e Lady Sibyll infelizmente foram encontrados sem vida, depois de uma emboscada em suas terras na Índia. Coube a mim assumir a sua tutela e a administração de Faringdon, mas o farei com toda indulgência e o transformarei num homem culto e digno. – disse ele, mais para deixar claro aos companheiros que seu poder havia aumentado às custas dessa fatalidade. Os clérigos do internato haviam me ensinado que um verdadeiro cavalheiro jamais expõe suas fraquezas diante de estranhos. No entanto, eu não era um cavalheiro, mas um menino de onze anos que mal havia convivido com os pais e que, contudo, sabia que estava abandonado no mundo sem a presença deles, mesmo que distantes. Meu primeiro impulso foi querer sair daquela sala, chorar e tentar entender o que tinha se abatido sobre mim. Porém, eu engoli o choro, como já fizera tantas outras vezes, e mantive a compostura que se esperava do filho de um duque, e não de um menininho mimado; embora a dor que se instalara em meu peito, depois da revelação de meu tio, nunca tivesse tido paralelo. Agora ciente do motivo pelo qual haviam me trazido para Chapmansdale, tratei de fazer o que me mandavam. Nos três anos seguintes, a Sra. Patow me ensinou não só literatura, ciências, matemática, filosofia, história e tudo mais que pudesse contribuir para eu me transformar num homem culto, como também me ensinou os rituais compostos por regras de etiqueta que marcavam a diferenciação social e, me foram apresentadas como um conhecimento detido pelos nobres, não possibilitado a burgueses, camponeses e servos, para que eu tivesse a exata dimensão do patamar que ocupava. Tia Anne muito colaborou e se estressou no empenho em me transformar num futuro duque. Embora eu não me sentasse à mesa quando havia convidados em Dinsley Park, o que era frequente, ela me vigiava como uma ave de rapina quando apenas a família estava reunida e, minha presença era permitida. Confesso que apreciava mais quando havia convidados do que quando não; pois, de certa forma, acabavam por se esquecer da minha existência. Tia Anne se sentia a mais nobre e influente dama de Chapmansdale. Ela tinha aversão às demais famílias com alguma influência do local, mas, mesmo assim, promovia festas e jantares para a sociedade rural. Dois grandes prazeres advinham desses encontros, o primeiro, mostrar aos locais as últimas tendências em trajes e costumes, que suas temporadas em Londres abasteciam de novidades; o segundo, poder, no dia seguinte, criticar o comportamento e as ideias de seus convidados. Foi através dessas festas que acabei por conhecer boa parte das famílias que, valiam à pena um pequeno sacrifício, como dizia minha tia ao referir-se a elas. Faziam parte desse grupo os Wildson, a viúva Charlotte, seus dois filhos Gilbert e Amadeus e, suas duas filhas Kathlen e Edith. Gilbert, o filho mais velho, tomava conta da propriedade rural da família, dos trabalhadores e das finanças que advinham da propriedade. A maior preocupação de Lady Charlotte eram suas filhas, nenhuma delas com grandes atrativos e, sem um dote respeitável que lhes permitisse fazer grandes escolhas em relação ao casamento. O pároco, Sr. Albridge e sua esposa Cora, também faziam parte dos privilegiados que frequentavam regularmente Dinsley Park. O Sr. Albridge, talvez devido a sua posição, sempre precisava ter a última palavra e, estava convencido de que sempre tinha razão em tudo, mesmo quando não. Ninguém o contestava muito, pois sua língua ferina não costumava poupar ninguém e, cair em desgraça com o vigário naquelas paragens não era um bom negócio. Cora Albridge era a grande disseminadora de notícias em Chapmansdale. Tudo que lhe caia nos ouvidos era logo retransmitido com conversas ao pé do ouvido, como se estivesse a revelar um segredo exclusivamente para seu interlocutor momentâneo. Kevin Bond era dono de Manor, a mansão mais próxima de Dinsley Park e, das terras que a circundavam. Aos quarenta anos e solteiro, tinha fama de pedante e libertino, pois suas temporadas em Londres eram regadas a esbórnia e depravação. Kathlen Wildson não podia ficar no mesmo ambiente que ele sem sentir calores se espalhando por todo seu corpo, embora a mãe a proibisse veementemente de alimentar qualquer ilusão em relação ao ignóbil Sr. Bond. Ele, por seu lado, não nutria nenhuma afeição pela moça, mas sua virgindade lhe era particularmente atraente. Lord Spratt, sua esposa Susan e, os dois filhos Mathew e Jeremy eram outros assíduos de Chapmansdale. Lord Spratt era outro falido, sem nenhuma inclinação para as demandas no campo e, suas terras arrendadas a inquilinos eram a única fonte de renda da família. Por essa razão, tentavam a todo custo empurrar os dois filhos, ambos tão imprestáveis quanto o pai, para as minhas primas, na esperança de fazerem parte do clã de Lord Crownbourgh. Havia ainda os Flantshire, ele um primo distante de Lord Crownbourgh, casara-se por interesse com Lady Joanne Copley, de cujo dote viviam em Grove, com o filho Charles e as filhas Evelyn e Christine. Assim que a Sra. Patow foi demitida, pois segundo meu tio, ela já dera tudo de si na minha criação, um novo preceptor foi contratado. Tratava-se do Sr. Bathurst. A ele foi dada a incumbência de transformar um rapaz de quatorze anos num verdadeiro cavalheiro, podando toda e qualquer fraqueza que ainda restasse no meu caráter. Ele também deveria continuar minha educação formal, por isso foi tirado de suas funções numa renomada universidade e, à custa de um excelente salário, trazido para Dinsley Park. Ele era um homem de poucas palavras, parecia economizá-las com aquelas pessoas, cujas mentes, segundo ele, não estavam à sua altura. Da mesma maneira como a Sra. Patow, não tive nenhum problema de relacionamento com o Sr. Bathurst, ambos fizeram por mim mais do que era esperado para um preceptor, tinham sido minha mãe e meu pai, durante os longos períodos em que ficava isolado em Dinsley Park. Esses períodos eram particularmente longos no verão, quando tia Anne ficava quase histérica para seguir a Londres; onde a proximidade com a corte lhe permitia viver todo seu esplendor, pois ela detestava a vida no campo, o isolamento, a falta de uma sociedade verdadeiramente importante e o ostracismo que Dinsley Park lhe impunha. Até a minha maioridade, tinha acompanhado a família apenas uma única vez nessas temporadas, e nunca senti tanta saudade de Chapmansdale quanto naqueles dias que passei em Londres, em meio aquele mundo de frivolidades. Tio Grayson também costumava se ausentar muito de Dinsley Park, deixando a esposa e as filhas para se divertir com aquilo que lhe dava prazer, a caça, os clubes privativos para homens em Londres, e a sensação de liberdade de uma vida de solteiro. O casamento o entediava. Tia Anne e sua personalidade maçante acabavam com seu bom humor e, como já não restava mais nada daquele arranjo matrimonial, há tempos eles não compartilhavam o leito conjugal. Esse, creio eu, era o principal motivo para o histerismo de tia Anne. - Já não me bastava o sofrimento que Deus me impôs para encaminhar minhas três filhas, ainda me vejo obrigada a levar nas costas a criação do filho de minha irmã ingrata e relapsa. Estou sempre com a saúde abalada e, os nervos em frangalhos, devido às atribulações pelas quais passo. Oh, senhor, quando terei finalmente paz nessa vida? – queixava-se quando ficava a tagarelar com as outras mulheres naqueles encontros sociais, onde gostava de se fazer de vítima e deixar bem claro o quanto sua bondade para comigo era vital para o meu bom encaminhamento na vida. No entanto, bastava chegar o verão e as temporadas em Londres, para que todos os seus males se curassem como por milagre. Charles Flantshire foi a primeira amizade que fiz em Chapmansdale. Ele era apenas alguns meses mais velho do que eu, era tímido e reservado; embora, quando diante de poucas pessoas se tornava um pouco mais falante e liberado. Nos encontrávamos com mais frequência depois das missas dominicais, quando ambos eram arrastados por nossas famílias para os serviços eclesiásticos como forma de nos incutir a palavra do Senhor. Aliás, a presença nos serviços religiosos era quase uma obrigação. O Sr. Albridge controlava ferrenhamente a ausência de qualquer membro de seu rebanho nas missas e, não tardava em visitá-los com o pretexto de repreendê-los e trazê-los de volta ao bom caminho das sagradas escrituras. Havia outra coisa que me fazia ver em Charles Flantshire uma espécie de espelho de mim mesmo, ambos tínhamos uma aversão inata às mulheres. Eu mais discretamente, mas nele essa característica de sua personalidade ficava mais evidente. Era a voz fina que não sofrera influência dos hormônios da adolescência e, alguns trejeitos que o denunciavam. Eu gostava dele de qualquer forma, pois era o único com o qual podia conversar durante horas sem me sentir aborrecido ou enfadado. À medida que os anos passavam, nossa amizade ganhava solidez. Quando já não éramos mais tão dependentes da criadagem e dos membros de nossas famílias, costumávamos fazer longos passeios pelos campos, ora cavalgando, ora caminhando com nossos cães, um gosto que ambos tinham em comum. Como ele era alguns meses mais velho do que eu, precisou se sujeitar às demandas sociais antes de mim. O que se esperava dele é que cortejasse as moças disponíveis em Chapmansdale, embora ele fosse alguns anos mais novo do que as mais indicadas para serem cortejadas. Ocorre que logo ficou evidente tanto a aversão que ele tinha por elas, quanto a que elas tinham por ele e suas afetações. Cada evento social para o qual o arrastavam, parecia um fórum da santa inquisição, ele suava, tinha vertigens, acabava por se esquecer da etiqueta e, não levou muito tempo para cair na boca das mulheres encruadas. Ele me contava, durante um passeio numa tarde ensolarada da primavera, embora fria, como tinha sido o jantar da noite anterior na casa dos Wildson, onde a viúva Charlotte não parou de empurrar a caçula Edith para cima dele, desfiando o rol de qualidades da filha. Edith tremia só de pensar em se ver unida ao delicado Charles, cuja saúde frágil e aquela palidez quase cadavérica eram um prenúncio de uma viuvez precoce. - Você pode me imaginar no meio das pernas daquela moça? Eu nem saberia o que fazer, isso se não desmaiasse antes, diante de algo tão primitivo e grotesco. – afirmou, ainda abalado com a hipótese de um casamento. - Não seja tolo! Ao contrário das mulheres, você não será obrigado a se casar se não quiser. – afiancei. - Mas o que vão pensar de mim, não, de nós, se não nos casarmos conforme manda a lei divina. Sede fecundos, crescei e multiplicai-vos e enchei a terra, não é isso que esperam de nós homens? Como posso me sujeitar a isso se, apenas em pensamento, uma relação íntima com uma mulher já me causa enjoos. – devolveu ele. - Então seja como uma árvore que não dá frutos, apenas sombra para os viajantes sob sua copa. Não somos todos iguais, portanto, não precisamos agir como todos agem. – retruquei. - Você diz isso por que ainda não precisou enfrentar a sociedade. Espere e, daqui a alguns meses, voltamos a conversar sobre esse assunto, e você me dirá se sua opinião ainda continua a mesma. – respondeu desolado. Estávamos entretidos nessa conversa, percorrendo as colinas cobertas de relva alta e do esplendor da brotação das flores do campo tremulando com a brisa, quando fomos surpreendidos pelo caminhar apressado de William Albridge, o filho do pároco. Ele era talvez uns três ou quatro anos mais velho do que nós, e um notório encrenqueiro que gostava de arrumar confusão. Eu abominava seus modos, a maneira como distribuía seu sorriso cínico, o modo como gostava de oprimir os rapazes da paróquia do pai, ao menos aqueles cujo temperamento ou a tenra idade lhe permitiam caçoar deles, assim como as brincadeiras grosseiras que fazia com quem não tinha como se defender. A antipatia parecia ser recíproca. Ele, desde a primeira vez em que colocou os olhos em mim, parecia ter encontrado uma nova vítima para suas chacotas. Nunca tentara nada diante de outros, especialmente quando eu estava com tio Grayson ou tia Anne, mas se atrevia quando me encontrava por alguns momentos só, ou apenas com um criado. Eu o temia e, acho que isso transparecia fazendo-o regozijar-se ao notar minha perturbação. Meu temor vinha do receio de ser agredido por ele, coisa que já havia presenciado acontecer com outros, devido ao seu porte físico avantajado e sua tendência a se meter em embates corporais com outros rapazes. Para meu azar, Charles parecia ter mais medo do filho do pároco do que eu. - Vamos correr! – disse ele, apavorado como se tivesse visto o próprio capeta. - Não seja ridículo! Não fizemos nada de errado, por que haveríamos de fugir? – questionei, muito embora acreditasse que minha expressão não lhe inspirasse nenhuma segurança. - William nunca precisou de um motivo para arrumar uma briga, basta ele estar de veneta! – retrucou Charles. - Ademais, estamos em dois, e ele só! – revidei. - Então haveremos de apanhar em dupla! – exclamou, já tarde para intentar uma fuga. - Olá, donzelas! O que fazem perdidas por aqui? Vieram pegar flores? Tomem cuidado, há muitos lobos maus circulando por aí. – debochou, ao se aproximar. - Boa tarde para você também, William! Como estão o Sr. e a Sra. Albridge? – devolvi. - Deixe de rapapés! Tenha atitudes másculas e não fricotes de pederasta! Dizem que os iguais se repelem, mas pelo visto isso não se aplica a vocês dois. Você há de ficar mal falado andando com esta libélula! – provocou. - Não vejo onde isso seja do seu interesse! A menos que esteja disposto a passear conosco. – devolvi. - Está me tomando por homossexual como vocês? Você deveria ter informado seu amiguinho, Charles, como eu costumo tratar quem se mete comigo. – Charles estava lívido como uma vela, e não ousou abrir a boca. - Bem, William, foi um prazer reencontrá-lo! Temo que não esteja propenso a ouvir seus disparates. Venha Charles, não vamos perder nosso tempo com um galinho de briga empedernido! – retruquei, começando a descer a colina em direção à estrada. - Onde pensa que vai? Eu ainda não terminei. Voltem já aqui. – berrou, feito um alucinado. Charles saiu em disparada me deixando ali plantado. - Você pode não ter terminado, mas eu terminei! Adeus! – antes que eu pudesse dar o primeiro passo, ele torceu meu braço atrás das costas e me atirou no chão, sentando-se sobre a minha bunda para que eu não pudesse me defender. Foi a minha vez de gritar. Arrependido de sua covardia, Charles começou a retornar, mas não se aproximou muito. Por uma fração de segundo, William se distraiu com a sombra que se aproximou às suas costas; isso me permitiu girar o corpo e derrubá-lo de cima de mim. Mas, nem cheguei a me levantar. Antes disso, já estava novamente engalfinhado com aquele maluco. Levei duas bofetadas estupendas no rosto, junto com a ordem de parar de agredi-lo. Não obedeci. - Se não se render agora mesmo, vai se arrepender, duquezinho! – ameaçou. A cara dele estava tão próxima e, minha mão direita tão livre, que não resisti ao impulso de devolver-lhe uma bofetada certeira. - Valha me Deus, Carlton, ele vai te matar! – berrou Charles. De soslaio, vi que estava com as calças completamente mijadas. - Faça alguma coisa! Pegue algum pedaço de pau ou uma pedra e desça-a sobre a cabeça desse imbecil! – berrei. - Ele não é nem louco de tentar uma coisa dessas! Sabe que vou lhe arrancar o couro na primeira oportunidade. E você, está na hora de tomar uma lição. – vociferou, tentando se esquivar dos meus chutes e braços rebeldes. William arrancou minhas calças e minhas ceroulas, expondo minha bunda roliça. Fui novamente imobilizado de bruços e, minha cara afundada na relva. Ele se movimentava, mas eu não recebia nenhum soco ou outro tipo de agressão, fiquei conjecturando o que ele podia estar fazendo, pois nem sua voz se ouvia mais. Ao me virar, vi que ele havia tirado seu imenso membro de dentro das calças, e se preparava para enfiar aquela cabeçorra vermelha e lustrosa no meu cuzinho. - Charles, por tudo que é mais sagrado, não deixe ele me violentar! – gritei apavorado. Só que a expressão atônita do Charles me mostrou que ele estava num transe do qual não se recobraria tão cedo. Gritei e soquei o solo enquanto William colocava seu caralhão no meu cu. Minha carne se rasgava à medida em que ele empurrava aquele mastro rígido para dentro de mim. Quanto mais eu me agitava sob seu peso, mais tesão ele sentia. Os olhos arregalados do Charles não se desviavam aquele cacetão que ia sumindo para dentro das minhas nádegas brancas, à medida que William movia sua pelve feito um animal selvagem cobrindo uma fêmea. Completamente rendido, eu fiquei ali deitado esperando que ele terminasse de se satisfazer no meu rabo. Não chorei, embora fosse essa a minha vontade. Mas, de nada me valeria o choro àquela hora, a não ser demonstrar a superioridade do William. Ouvi-o soltar um urro, ao mesmo tempo em que sentia duas estocadas profundas. De repente, ele parou de se mover; arfava feito um touro deitado sobre meu corpo, e algo úmido começou a escorrer para dentro das minhas entranhas, morno e pegajoso. O caralhão imenso ainda não estava completamente flácido quando ele o tirou de dentro de mim, um último jato de esperma escapou da cabeçorra vermelha quando ele se pôs em pé. Só então um grito desesperado do Charles ecoou pela encosta, seu olhar continuava fixo naquele sexo gigantesco, tão descaradamente viril com aquela profusão de pelos de onde ele emergia. Para intimidá-lo, William bateu um pé com força no chão e, Charles correu colina abaixo berrando como uma ovelha desgarrada, supondo que seria o próximo a ter seu ânus dilacerado por aquele selvagem. Uma gargalhada que vinha das profundezas da garganta do William, foi tudo o que se ouvia. Eu me levantei aos poucos, meus membros pareciam desconjuntados, puxei as ceroulas e as calças para a cintura e tentei parecer indiferente ao que havia acontecido. - Aprendeu a não me desafiar? - Cretino! - Está querendo apanhar mais? - Covarde! Se eu estivesse em pé de igualdade com você, sei que jamais arriscaria seu pescoço numa briga. - Não vou negar que você foi o primeiro a não se borrar todo! Assim como sei que não vai se esquecer da minha lição, ao menos nos próximos dias. – tripudiou. - Não pense que tenho medo de você William Albridge! Ainda hei de lhe devolver esse desaforo. – sentenciei, fervendo de ódio. - Diga-me uma coisa, duquezinho! Você está sentindo minha porra te umedecendo, pois eu te inseminei como se insemina uma égua. – gabou-se. Nem sei como consegui chegar a Dinsley Park. Não passou ninguém na estrada enquanto eu caminhava à margem dela. Os passos inseguros e trôpegos mal me faziam sair do lugar, pois eram acompanhados de uma dor que adentrava meu abdômen; sem, contudo, impedir que eu sentisse o esperma do William se espalhando lá dentro. Justifiquei minha ausência no jantar com uma dor de cabeça insuportável, talvez até uma febre estivesse me deixando indisposto. Dispensei o camareiro, pois não queria que ele me visse quando fosse tomar banho. Minhas ceroulas estavam sujas de sangue, meu sangue, sangue anal. Contive à força a lágrima que escorreu pelo meu rosto. Se alguém soubesse do acontecido, além do Charles, é obvio, a quem eu precisava urgentemente exigir que jurasse segredo, eu estaria desonrado. Eu sabia que William jamais revelaria seu ato abjeto, pois isso custaria o posto de seu pai, não só em Chapmansdale, mas em toda a Inglaterra. Inesperadamente, tio Grayson entrou nos meus aposentos após o jantar, enquanto tia Anne e as filhas tomavam café na biblioteca. Eu havia me deitado, mas não conseguia dormir. Ele me questionou quanto ao que eu estava sentindo, se não seria melhor chamar um médico, se já tinha tomado chás que me aliviassem os sintomas. Minha voz trêmula parecia não convencê-lo das minhas respostas. Num relance, ele viu as minhas roupas no chão, e então desconfiou que eu escondia mais do que estava revelando. - Por que você dispensou o criado e estas roupas estão jogadas ali no canto? - O movimento dele pelo quarto estava fazendo minha cabeça latejar. – inventei. - O que significa esse sangue todo nas tuas ceroulas? – questionou, ao levantar a ceroula até próximo aos olhos devido à pouca luz que a única vela sobre a mesinha de cabeceira fornecia. - Feri-me numa cerca de arame farpado encoberta por touceiras de urzes. – menti novamente. Ele sabia que eu estava mentindo. - Vire-se! – ordenou. Eu relutei, mas seu segundo comando me persuadiu a obedecer. Ao abaixar minhas roupas, ele facilmente constatou o que havia sucedido. Não me perguntou quem fora o responsável por aquilo, apenas introduziu lentamente o dedo médio no montículo lanhado e edemaciado que se projetava do meu cuzinho. Ele me encarava enquanto deslizava vagarosamente o dedo depravado para dentro. Eu segurei seu braço com ambas as mãos, mas não ousei impedi-lo ou forçá-lo a tirar seu dedo de mim. Soltei um gemido envergonhado. Meu segredo começava a criar asas. Ele ficou alguns minutos movimentando o dedo em mim, antes de parar de me bolinar. - Procure descansar! Não hesite em me chamar se precisar de alguma coisa. – disse, com um sorriso cúmplice estampado no semblante radiante pela descoberta. Eu sabia que doravante estava mais nas mãos daquele homem, sem que pudesse, no curto prazo, mudar o rumo de nossas relações. Na manhã seguinte, acordei com o cuzinho sensível e sentindo a umidade do William na ampola retal. Bela maneira de chegar aos dezoito anos, pensei. Deveria ser um dia alegre, mas eu não conseguia enxergá-lo dessa maneira. Tia Anne se aproveitou da data para promover mais uma de suas festas, não falara em outra coisa há quase duas semanas. Ontem tinha colocado os criados em polvorosa, tido pelo menos dois ataques de nervos, corrido pela casa como se fosse uma louca, e me atormentado com inúmeras recomendações para com o significado e a importância daquela data, pois seria oficialmente introduzido na sociedade. - Não era bem assim que eu havia imaginado essa comemoração. Deveríamos ter ido à Londres, lá sim seria a maneira certa de apresentá-lo à sociedade em função da sua posição social, e não neste fim de mundo com essas poucas e inexpressivas pessoas. Só Deus sabe como eu sofro neste lugar, e deve me castigar por ser tão negligente com o filho de minha irmã. Ela deve estar se contorcendo no tumulo diante de tal sacrilégio! – exagerou exaltada. - Não se aflija tanto, tia Anne! Não me importo de comemorar ou não este aniversário. – afirmei. - Como pode afirmar uma insanidade dessas? Você não é mais um rapazinho, de agora em diante precisa se comportar como o duque de Connaught. Não posso permitir que depois de todo esse sacrifício que fiz para te criar, você negligencie suas obrigações na sociedade. – foi irônico pensar que ela tenha feito o mais ínfimo dos sacrifícios por mim, pois sempre me deixou aos cuidados dos preceptores e dos criados. Nem quando ardia em febre por alguma doença, ela dispensou um único minuto de sua atenção para me visitar em meu quarto. No meio da manhã Charles e suas irmãs chegaram a Dinsley Park. Ele as trouxe para justificar sua visita. Tia Anne os recebeu contrafeita, pois em meio aos preparativos do baile daquela noite, não podia perder seu tempo recebendo visitas. Por isso, incumbiu as filhas de recebê-los na sala de música. Logo Charles e eu deixamos as moças envolvidas com a conversa excitada sobre o baile e saímos para uma caminhada pelos jardins para desfrutar daquele dia ensolarado. - Como você está? – perguntou ele, assim que saímos da casa. - Nem saberia definir. Humilhado, talvez seja a melhor explicação para o que estou sentindo. – respondi. - E fisicamente? Ele bateu tanto em você que pensei que ia matá-lo. - Tenho alguns hematomas nas costas e nas coxas, mas o pior foi que ele me rasgou todo. Cada passo repercute nas minhas entranhas como uma punhalada. - Não sei como você aguentou uma coisa daquelas! Quase desmaiei quando vi o tamanho daquilo que ele tinha enfiado em você. Nunca pensei que os homens pudessem ter algo parecido com aquilo. Parecia o pinto de um cavalo. – expressou, ainda traumatizado com o que tinha presenciado. - Nem eu pensei que algo assim pudesse estar no meio das pernas de um homem. - Isso é porque ele é um bárbaro! Praticamente um selvagem! Você precisava ter visto a expressão dele quando estava copulando com você, era um animal. - Eu odiei a maneira como ele me pegou, mas confesso que agora, vendo as coisas de uma maneira mais fria, lembro que em meio a toda aquela dor, houve momentos em que pude sentir nitidamente a energia e a virilidade dele se impregnando sob a minha pele. É loucura, eu sei. No entanto, ele despertou em mim um desejo carnal por homens como ele, destemidos, másculos, potentes. – revelei. - Você só pode estar maluco! Isso afetou seu juízo! Você podia ter morrido nas mãos daquele animal. - exagerou - Não exagere! Como eu disse, não gostei da violência que ele empregou para me dominar, mas houve momentos em que senti toda a masculinidade dele entranhada em mim e, essa sensação não foi de todo ruim. - Gosto de ver nossos empregados trabalhando no campo sem camisa, na verdade, fico excitado com a ideia de tocar um torso musculoso daqueles. Porém, o que o William fez com você me deixou apavorado. - Lembre-se que ele não me pegou com o meu consentimento, mas à força. Quando um homem nos aborda de forma galanteadora, demonstrando seu desejo, tendo algum tipo de sentimento, a coisa certamente é uma fonte de prazer. A troca consentida de carícias dá outro sentido à conjunção carnal. – afirmei. - Pode ser! Por hora, contudo, prefiro ficar longe dessa experiência. E o que você pretende fazer em relação ao William? - Pretendo esquecê-lo! - Mas isso será impossível. Vai encontrá-lo constantemente por aí, nas missas, nos eventos sociais. Ele deve te difamar e contar vantagem por aí. Talvez até hoje ele venha com os Albridge para o seu baile. O que pretende fazer diante disso? - Ele não abrirá a boca, tenho certeza. Sem o desejar ele colocou um trunfo em minhas mãos. - Como assim? - Se o que ele fez vier à tona, o pai dele não terá como se manter na paróquia. Terão que fugir de Chapmansdale. E, não se esqueça que eles vivem disso. Ele não poderá negar se eu o desmascarar, pois você foi testemunha ocular do que ele fez comigo. Ele pensa que levou a melhor por ter violado minha inocência, mas o tempo lhe mostrará quão frágil está perante mim e, que seu futuro pode se transformar numa catástrofe se eu resolver expor sua atitude abjeta. – ponderei. - Eu não havia pensado sob esse ponto de vista. Você tem razão. Acabe com ele e sua prepotência de uma vez. Seu tio pode arruinar a vida daquela família com um simples estalar de dedos. – sugeriu. - Não! Não farei nada por enquanto. Quero primeiro que ele se conscientize de quão vulnerável está em minhas mãos e, de como posso tripudiar dele. - Você me assusta! Como pode ser tão frio, depois do que te aconteceu? - Porque nunca me permitiram expressar minhas dores. O tempo vai nos deixando menos propensos a sentimentos sem importância. – afirmei. A notícia da festa em Dinsley Park circulou por todas aquelas colinas e vales ao redor de Chapmansdale. Não se falava noutra coisa. As mulheres estavam a semanas tratando de seus vestidos e sua toalete, excitadas pelo evento que lhes permitiria brilhar por algumas horas. Os homens queriam demonstrar que não eram tão afetados pelo acontecimento; mas, no íntimo, a oficialização de que um duque passava a fazer parte de seu rol de amizades não deixava de ter sua importância. Ainda indisposto, não me furtei a receber os convidados de minha tia, nas salas amplamente iluminadas por castiçais que faziam reluzir a rica mobília, e dava esplendor às joias das senhoras e senhoritas. O vigário sabia que só estava ali por seu posto na paróquia e, pela religiosidade fanática de minha tia, pois a depender do ceticismo de meu tio quanto à religião e, à insignificância de sua pessoa ele e sua família não fariam parte daquele grupo de convidados. Isso não o impediu de se comportar com a altivez de sempre, dando palpites que ele acreditava todos deveriam seguir, como o fazia em seus sermões no púlpito de sua igreja. Estremeci quando William entrou atrás de suas irmãs, pois havia poucas horas que eu perdera seu esperma alojado no meu cuzinho. Cumprimentei-o secamente. Ele já havia se conscientizado da cagada que havia feito e, enxergado a extensão do dano que eu poderia causar em sua vida e no de sua família, isso estava estampado em seu rosto. Meu sorriso cínico deixou-o perceber quão frágil era sua posição, e ele não conseguiu me encarar, baixando o olhar como o mais servil e humilde dos servos. O sarcasmo passava a fazer parte da minha personalidade, e eu não o pouparia diante daquele sujeito asqueroso. - Boa noite, Wiliam! Como está? Não é uma noite maravilhosa essa? Espero que consiga se divertir bastante, pois eu estou muito feliz pela data e, pelos acontecimentos das últimas horas. – tripudiei. Ele se encolheu como um caracol. Havia tempos que Chapmansdale não via uma festa como aquela. Além das famílias mais prestigiadas da região, alguns convidados vindos de Londres, que minha tia fez questão de incluir para que sua festa tivesse mais glamour, fizeram do evento algo que rendeu longas conversas por algumas semanas. Eu me comportei conforme esperavam de mim. Fui um anfitrião exemplar, distribuindo sorrisos e gentilezas entre as damas, posicionamentos políticos moderados, mas firmes, e amabilidades entre os cavalheiros o que me rendeu o reconhecimento de ser mais um deles, apesar da tenra idade. Porém, o custo emocional para minha personalidade tímida e reservada só eu tive condições de avaliar. - Ah querido, Carlton! Como você foi brilhante, um Lord, um verdadeiro e genuíno Lord como seu pai, que Deus o tenha. Sua mãe, seja lá onde estiver, deve estar orgulhosa do trabalho que fiz com você. – exclamou minha tia, durante o desjejum da manhã seguinte, ainda exultante e afogueada com a noitada que promovera. - Não era exatamente isso que a senhora esperava de mim? – questionei, sem me esforçar para parecer gentil. - Claro, querido! E você se comportou muito bem, muito bem! As pessoas só teciam elogios quanto à sua conduta e à sua beleza. Tenho certeza que em breve não faltarão moças sonhando em ser cortejadas por você. Ainda haveremos de festejar um casamento digno dos próprios príncipes. – matraqueava ela, aumentando minha dor de cabeça. - Não tenho nenhum interesse em me casar tão cedo! Que isso fique bem claro! – revidei, encarando-a com certa rispidez, o que a fez se dobrar à minha opinião pela primeira vez. - Evidentemente, querido! Não temos e não precisamos apressar nada. Afinal, encontrar uma pretendente à sua altura não será tarefa fácil. – ponderou, mais contida. - E essa tarefa, como a senhora diz, será exclusivamente minha. Não vou me juntar a ninguém por conveniência de quem quer que seja. Quando for me unir a alguém, será por amor, apenas por amor. – ela me encarou espantada. Sua festa pareceu ter mudado completamente a minha personalidade submissa e obediente, para alguém que já não se calava aceitando o que lhe impunham e, ela soube que teria que agir muito mais diplomaticamente a partir dali, se não quisesse se indispor comigo. Alguns dos convidados que vieram de Londres ainda permaneceriam em Dinsley Park por mais algumas semanas, aproveitando a vida no campo para caçadas e longas diversões ao ar livre. Entre eles estavam o marquês de Ailesbury, sua esposa e o primogênito Lord Richard. Lord Richard era um dos solteiros mais cobiçados da corte. Devia ser, no máximo, cinco anos mais velho do que eu; porém, sua aparência máscula distribuída num enorme corpo atlético e musculoso, fazia com que parecesse mais maduro. Tinha sido o mais requisitado durante o baile, com as senhoritas, escolhidas por ele para uma contradança, terem suspirado o tempo todo em que permaneceram junto dele. Apesar de já ter tido a oportunidade de estar com o marquês e sua esposa, era a primeira vez que eu o via. Na noite anterior, durante uma conversa de um grupo exaltado de cavalheiros que versou sobre a vitória do exército da Sétima Coligação comandado pelo duque de Wellington em Waterloo há poucos meses, eu afirmara que a gloria da vitória não cabia exclusivamente ao duque, mas a um erro estratégico fatal do marechal Michel Ney que achou que as tropas britânicas estavam recuando e mandou sua cavalaria atacar, quando na verdade, elas estavam ganhando posições. Lord Richard foi o único a concordar com a minha afirmação, enquanto os demais viram na minha opinião, apenas um despreparo juvenil das questões políticas que afetavam o reino. Eu estava enfastiado demais para ficar rebatendo as afirmações daquele grupo e, tão logo me foi possível encontrar uma desculpa, deixei-os debatendo o resultado daquela batalha e, procurei por conversas mais amenas. Meu tio resolvera organizar duplas para a caçada aos cervos naquela manhã fresca e de céu límpido após a chuva da noite anterior. Eu detestava participar dessas caçadas. Era um péssimo atirador, pois tinha compaixão pelos animais que ficavam sob a mira da minha arma. Mas, meu tio insistia em me levar consigo desde que completei dezesseis anos e, desde então, eu o seguia por mera obediência, e não porque tivesse qualquer prazer naquele esporte. Na divisão de duplas fiquei com Lord Richard. Ao invés de nos embrenharmos no bosque como tinham feito as demais duplas, ficamos restritos a uma beirada no topo de uma colina onde as árvores já eram mais espaçadas e os raios do sol conseguiam atravessar as copas das árvores. Ele e eu trocamos apenas algumas frases sobre generalidades enquanto caminhávamos sem um destino certo, até nos depararmos com uma imponente fêmea e seu filhote, que não contava mais do que alguns meses de vida. Eles comiam as folhas tenras dos galhos superiores de alguns arbustos e não perceberam nossa aproximação. Os raios de sol que se infiltravam no bosque atingiam o dorso de ambos animais, o que fazia o colorido avermelhado de suas pelagens ganhar tonalidades vibrantes. Meu coração disparou quando Richard os colocou sob a mira de seu rifle. Meu primeiro impulso foi pisar sobre a folhagem ressequida para que seu estalar assustasse os cervos, mas um impulso maior me fez pousar a mão sobre o braço musculoso dele que empunhava a arma. Ele baixou o rifle e estava se virando na minha direção, um pouco perplexo e, talvez, até irritado, com a minha intromissão num momento tão crucial. No entanto, uma ridícula e emotiva lágrima, que não consegui segurar, descia pelo meu rosto quando ele me encarou. - Perdão, deixe-o viver! – balbuciei constrangido. A atitude dele me deixou surpreso. Levando o polegar até o canto do meu olho, ele secou a lágrima que se formara e estava prestes a acompanhar a outra. Um sorriso cativante e um olhar penetrante me fizeram estremecer, especialmente porque ele não disse uma única palavra, apenas me encarava como nunca haviam me encarado. Tenho a certeza de que ele descobriu a minha fraqueza naquele instante, e isso me deixou mais vulnerável do que jamais me senti adiante de outra pessoa. Uma raposa passou correndo por uma trilha e acabou por espantar os cervos que se embrenharam no bosque. Lord Richard e eu começamos a caminhar pelas cristas das colinas, em silêncio, a princípio, mas não tomamos o rumo para Dinsley Park. - Desculpe por tê-lo feito perder a disputa! – exclamei, quando afinal chegamos aos jardins da mansão onde os outros caçadores também amargavam não ter abatido nada, enquanto tentavam imputar a culpa pelo fracasso da caçada à sua dupla, às armas, ou a falta de sorte mesmo. - Creio que me saí vencedor de algo muito mais importante do que teria obtido com aqueles cervos. – afirmou ele, me fazendo corar. – Até porque, também não sou um aficionado pela morte insensata de animais inocentes. – emendou, sem tirar seus olhos do meu rosto encabulado. Desde então, ele me acompanhou em todos os passeios, fosse nas cavalgadas até a aldeia, fosse nas caminhadas vespertinas pelas plantações e campos. Charles havia vindo por duas vezes a Dinsley Park, numa só e, na outra, acompanhado da mãe e das irmãs. Em nenhuma delas nos encontramos. Tia Anne acabou por lhe prometer que me faria fazer uma visita e, que teria muito gosto em me acompanhar retribuindo a amabilidade de sua mãe. Apesar disso, só fomos cumprir o prometido quase três semanas depois, quando todos os hóspedes já haviam deixado Dinsley Park. Ele não tinha nada de urgente, mas queria saber como eu estava, depois de me ver representando o papel de anfitrião com todo um talento artístico. - Fiquei pasmo pela maneira com que atuou diante dos convidados, ninguém poderia supor que menos de dois antes você tivesse sido estuprado por aquele bárbaro. – começou, quando fomos até o jardim entre as aleias das sebes. - Por favor, tenha cuidado ao falar sobre o assunto. Não consigo nem imaginar o que seria de mim se alguém soubesse da história. – solicitei, cauteloso. - Estamos apenas nós dois aqui! Não se aflija tanto! – retrucou. – No entanto, o que me deixou mais perplexo, foi aquele sujeito ter a coragem de vir ao baile. – acrescentou. - Certamente veio tripudiar de mim. Mas, acredito que minha postura o fez recuar, e até temer que o caso venha à baila. Para ele apenas você conhece o fato e, não duvido, que a qualquer momento, quando tiver a oportunidade, vai te colocar contra a parede e exigir seu silêncio. – minhas palavras deixaram o Charles apavorado. - Não me diga uma coisa dessas! Temo só de pensar em ficar frente a frente com aquele monstro. – asseverou. – Por que você disse que para ele apenas eu conheço a história? Quem mais sabe do que aconteceu? – inquiriu curioso. - Lord Crownbourgh. - Santo Deus! Como ele soube? Você contou, para que ele tomasse providências? - De forma alguma! Você acredita que naquele dia meu tio entrou no meu quarto? Ele jamais tinha feito uma coisas dessas e, justamente naquela noite entrou e viu minhas roupas íntimas com sangue. Deduziu tudo sem que eu precisasse abrir a boca. – revelei - Se você não disse nada, como ele soube que foi o William? - Aí é que está, ele não sabe quem foi. Mesmo assim, isso não o impediu de examinar meu cuzinho, constatar que havia sido recentemente usufruído por um macho; e sente-se, pois, conhecendo seus chiliques, sei que vai cair de costas e, por favor, não grite. Ele me bolinou com um dedo depravado entrando em mim. – como eu previ, ele soltou um suspiro tão acalorado que mais se assemelhou a um grito, ficou pálido e procurou pelo primeiro assento para se sentar. - Meu Deus! De monótona sua vida não tem nada! Você não reagiu? Como poderia, pobre coitado, vivendo sob o mesmo teto e tutela de seu tio. Ele te forçou a mais alguma coisa? Deve ter sido tão animalesco quanto o William. O que você pretende fazer agora? Vai certamente abandonar Dinsley Park. – ele fazia as perguntas e as respondia ele próprio, de tão abalado que ficou com a notícia. - Acalme-se, vai acabar tendo uma síncope! Não reagi, fiquei perplexo. Lord Crownbourgh foi cauteloso e delicado. Não pretendo deixar a mansão até que consiga minha autonomia para administrar minha herança após os vinte e um anos. – respondi. - E o que vai fazer se ele insistir e tentar novamente? Esse é um risco que você corre continuando a viver aqui. – ponderou - Certamente! Mas, terei que lidar com a situação se ela aparecer. - Eu não teria nervos para tanto! Acredita que ainda tenho pesadelos com aquela carne gigantesca que pendia entre as pernas do William? Acordo empapado de suor como se estivesse a arder de febre. – afirmou. - Talvez seja o desejo de senti-la entrando em você! – gracejei. - Carlton! Seu verme insensível! Como pode dizer uma coisa dessas? Pensei que fossemos amigos. – exasperou-se - É justamente por ser amigo que lhe afirmo isso. Sei tanto quanto você próprio que sente atração por homens e, que nenhuma moça desperta qualquer tipo de interesse de sua parte. A cena que você presenciou apenas te abriu mais uma janela de oportunidades, que vão de encontro aos seus desejos carnais mais secretos. – ele me ouvia, tremendo e corado. - De fato! Já me convenci que sou homossexual. Não fosse isso apenas um pecado terrível contra as leis divinas, você bem sabe que alguém nessas condições pode ser apedrejado até a morte. – falou assustado. - Foi o que essa educação rígida incutiu em nós. Mas, eu me pergunto se isso é realmente verdade. Se não somos únicos, como você mesmo pode comprovar ao saber que também sou homossexual, quantos mais existirão nessa vastidão de mundo? Como vivem e o que fazem para se manter vivos? Não seria o caso de lutarmos por nossos direitos? – questionei. - Você é mesmo um maluco! Que direitos acha que vão nos conceder? - Não terão que conceder nada! Direitos não se concedem como se fossem um presente. Direitos são direitos, qualquer ser vivente deve ter os seus respeitados e garantidos. – afirmei. - Você é um subversivo! Quem foi que lhe enfiou essas ideias estapafúrdias na cabeça? Seu tio há de pedir a cabeça do Sr. Bathurst quando souber o que andou ensinando ao sobrinho. - Não foi o Sr. Bathurst nem a Sra. Patow que me enfiaram nada na cabeça. Eles apenas despertaram em mim a curiosidade pelo conhecimento, o resto, veio com o tempo e com o meu amadurecimento. Um homem livre deve se guiar pelo conhecimento adquirido, e não pelo que os outros querem lhe imputar. – retruquei. - Você tem noção do que está falando? Em que século você vive? Saia por aí propalando suas ideias libertinas e há de ver como lhe cortam a cabeça em dois tempos. – ele se resignava a tudo, e não se sentia capaz de pensar por si próprio. - Às vezes tenho pena de você, Charles! Hão de te forçar a ter uma vida que não deseja, infeliz e opressora, e você vai aceitá-la, por pura preguiça de lutar. – afiancei. - Você está sendo cruel! - Eu não, meu amigo. Você vai saber o que é crueldade quando te forçarem a ser e a fazer aquilo que você não deseja e, te deixar a sofrer as consequências. – ele atribuiu o rancor das minhas palavras ao que tinha me acontecido, e não ao conselho que tentei lhe dar em nome de nossa amizade. Havia uma semana que tio Grayson perambulava pela casa aborrecido e inquieto, desde que os hóspedes se foram. Fazia igualmente uma semana que chovia diariamente, deixando as estradas enlodaçadas, os campos encharcados e o jardim cheio de poças d’água que não tinham tempo de serem sugadas pela terra, pois antes disso voltava a chover intensamente. Ficar em casa com a mulher e as filhas o deixava irritado, a conversa delas o entediava, vê-las ocupadas com um livro nas mãos ou com seus trabalhos de bordado o fazia sentir-se um inútil e; o fato de eu me juntar a elas muitas vezes na sala de música, onde me distraía tocando piano ou entretido com um livro, o deixava revoltado, pois era o único a não conseguir se distrair com alguma coisa. Esse tédio costumava ser o gatilho que disparava as discussões entre ele e tia Anne, deixando o clima ainda mais tenso e pesado. Também sofriam os criados, vítima de seus queixumes infundados. Esse estado de ânimo é que me fazia recolher cedo ao meu quarto após o jantar. Quando muito, eu me detinha até tia Anne ou uma das meninas servir o café na biblioteca ou ao pé da lareira na sala de estar, ou para responder a algumas cartas e colocar a correspondência em dia. Desde o dia em que Lord Crownbourgh entrara em meu quarto sem se fazer anunciar, eu passei a trancar a porta quando meu valete Jack dava por terminado o seu serviço. Por isso, me assustei quando ele apareceu de camisola, já relativamente tarde da noite, quase aos pés da cama quando notei sua presença. Ele havia entrado com uma chave reserva, ou requisitado a do meu valete. -Como entrou aqui? – perguntei irritado. - Dinsley Park me pertence, assim como tudo o que está aqui dentro ou debaixo do meu teto. – respondeu petulante. - O que deseja? É tarde, gostaria de dormir. – retruquei. Mas, seu olhar tinha o mesmo brilho que naquele dia em que seu dedo entrou em mim. - Saber se você já se recuperou! – exclamou, numa evidente alusão ao que tinha flagrado. - Sim, obrigado! - Ótimo! Ótimo! Isso significa que não se encontrou mais com o macho que fez aquilo. Sabe, fiquei pensando em quem poderia ter sido. Devido a intempestividade e ao estrago que te causou, eu acredito que tenha sido um dos filhos dos fazendeiros, talvez até um criado, alguém grotesco que precisou correr contra o tempo para consumar o coito sem ser descoberto em pleno ato. Digo isso, por que sei que não poderia ter sido aquele filho afetado do primo Flantshire, com quem você costuma andar por aí durante horas. Mesmo porque, acredito que ele nem deve saber que outra serventia tem, além de urinar, aquilo que carrega entre as pernas. - Pois o senhor está enganado, meu tio. Nenhuma das suas suspeitas está relacionada com o que aconteceu. - Sei que não vai me dizer quem foi, pois acredito que não foi consensual. Quem te fodeu o fez sem sua aprovação, caso contrário, você não teria ficado tão enfurecido por tantos dias. - Bem! Se era isso o que tinha para me dizer, eu gostaria de me deitar agora. - Eu posso ser muito mais gentil do que o sujeito que te pegou à força. E, como eu disse, tudo o que está sob o meu teto me pertence; portanto, não estaria cometendo nenhum sacrilégio. - Mas estaria cometendo um pecado diante dos olhos de Deus e de seus mandamentos! – exclamei, começando a sentir os tremores se apossando do meu corpo, à medida em que ele se aproximava de mim. - Você já deveria saber o que eu penso dos sermões do Sr. Albridge, de sua igreja, e dos mandamentos divinos. Se não se coadunarem com a minha opinião, nem os levo em consideração. Eu sabia que quanto mais eu me opusesse a sua investida, mais incisivo e obstinado ele ficaria, nem que para isso tivesse que se valer de meios escusos. E, por incrível que pareça, eu ainda acordava algumas noites, agitado e excitado, com a lembrança daquela sensação úmida que o William havia deixado em mim. - Vai abusar de mim? – perguntei, quando ele enfiava a mão por debaixo da minha camisola e acariciava as minhas coxas. - Não será um abuso se você aceitar o que tenho a lhe oferecer. Embora não fosse nenhum atleta e, já contasse com pouco mais de cinquenta anos, tio Grayson tinha uma mão grande, com dedos grossos e, uma pegada forte. Foi o que me fez estremecer quando chegou às minhas nádegas. Experiente, ele sentiu minha excitação, sorriu de modo devasso e me tomou em seus braços. Um beijo suave e até carinhoso, selou sua boca à minha. Minha respiração exaltada lhe indicava que eu me sentia perturbado com sua libertinagem. Um sinal de que podia continuar avançando, que não haveria o risco de eu fazer um escândalo, de gritar, ou de empreender uma fuga. Ele me despiu, puxando a camisola pela cabeça. O corpo languido, imaculadamente branco como a primeira neve do inverno, os contornos bem definidos de uma musculatura rija, porém discreta, aquela bunda carnuda que já se tornara minha marca registrada e, meu sexo pequeno o deixaram alucinado. Seu polegar circundou meu mamilo, fazendo com que um biquinho rosado começasse a desabrochar como um botão de rosa, intumescido e durinho. Ele o lambeu com sua língua úmida e predadora. Eu gemi, uma vez que meu corpo parecia uma caldeira prestes a entrar em ebulição. Ao mesmo tempo em que lambia meu mamilo, ele dava algumas mordidinhas, cravando seus dentes ora delicadamente na carne tenra, ora brutalmente estirando-o entre os dentes cerrados. Não tive como não pousar minhas mãos em seus ombros, o que o encorajou a prosseguir. Quando ambos os mamilos já estavam inchados de tanto ele os mastigar e, sua mão já ter tateado por toda a minha bunda, ele se despiu. Como mencionei, ele não era atlético, mas tinha um corpo sólido, ossatura larga, e pelos distribuídos de uma maneira bem máscula. Os primeiros que chamaram a minha atenção foram os da virilha, densos e negros como um bosque no inverno. E, de lá, também emergia seu sexo. Não era grande, porém bem grosso, que começava com uma cabeça mais pontiaguda, totalmente exposta, ia encorpando à medida que chegava nos pelos pubianos e, imediatamente após desaparecer dentro deles, surgia um imenso saco esférico que parecia pesado pois estirava ligeiramente a pele que o envolvia fazendo-o parecer um pêndulo solto entre as coxas peludas. Mesmo não tendo passado de uma fração de segundos, eu ainda me lembrava do caralhão do William. Tinha o dobro do comprimento do meu tio, não era tão grosso, e nem tão peludo; só tinha me feito sentir muita dor. Contudo, a sensação dele abalando as minhas entranhas parecia estar se renovando diante do que meus olhos estavam vendo. Lord Crownbourgh passou o dedo sobre a glande vermelha e brilhante, colheu um pouco do sumo viscoso que emanava dela e passou o dedo molhado nos meus lábios. O aroma intenso e alcalino, me fez abrir os lábios e lamber aquele sumo de seu dedo. Ele repetiu o processo umas três ou quatro vezes, sorrindo na minha direção, satisfeito com a minha subordinação. Encorajado por essa docilidade, ele levou o cacetão até a minha boca, pincelou-o nos meus lábios até eu os circundar ao redor da cabeçorra. Ela agora vertia fartamente aquele sumo saboroso, e eu o sorvia sem pressa, ao mesmo tempo em que minha língua acariciava a glande estufada. Lord Crownbourgh soltou um gemido rouco, deixou-se chupar, abrindo as pernas e franqueando seu sexo à minha curiosidade. Não havia como resistir à tentação de tocar aquilo tudo com as pontas dos dedos, deslizá-los sobre a intrincada ramificação de veias saltadas, afundá-los no chumaço de pentelhos, guiá-los sobre o sacão consistente até que seu conteúdo estivesse devidamente decifrado. Enquanto meu corpo sentia os espasmos como se fossem açoites, como se eu estivesse correndo enorme perigo; meu tio rugia, agarrando-me pelos cabelos e fixando minha cabeça de modo que as estocadas que imprimia fizessem a pica chegar à minha garganta. Ele só parava quando eu me debatia, socando suas coxas, sufocado com aquela jeba atolada na goela. Eu sabia que estava adentrando em terreno desconhecido e, mesmo assim, não queria mais recuar. Fossem quais fossem as consequências, eu precisava descobrir de uma vez por todas, até as últimas nuances daquilo que todos escondiam, do mistério da vida, dos segredos de alcova e, do que estava fazendo meu corpo ter aquelas sensações inusitadas. Tio Grayson partiu para cima de mim, com a mesma gana que William havia feito. Lançou-me de bruços e abriu minhas nádegas, grunhiu quando o polegar passou sobre as minhas preguinhas, o que me fez gemer novamente. Mordidas na pele alva o levaram lenta e progressivamente para dentro do meu rego. A língua morna e úmida me lambeu, eu soltei um ganido, meu corpo tremia como se uma febre o tivesse acometido. Quando o peso do corpo de Lord Crownbourgh foi se intensificando sobre o meu, seus braços me enlaçando e fixando meu tronco junto ao dele, os pelos de seu peito roçando minhas costas, seu hálito rescindindo ao cachimbo que fumara após o jantar junto à minha nuca, eu instintivamente empinei a bunda contra sua virilha. A cabeçorra em forma de dardo facilitou a penetração depois de ter rondado e lambuzado minha rosca anal. Eu soltei um grito quando senti aquela mesma dor dilacerante que o Wiliam me impingiu naquela tarde, mas os dedos lambuzados de sumo do meu tio entrando na minha boca me fizeram chupá-los, abafando o grito. Enquanto isso, o cacetão deslizava para dentro da minha carne, tornando a dor quase insuportável à medida que o calibre da jeba aumentava e me rasgava todo. - Ai, Lord Crownbourgh! – gani, quando senti que ele estava completamente dentro de mim. Isso o ensandeceu, chamado de forma tão formal, era como se eu me rendesse ao seu poderio, aos seus caprichos e vontades. - Você é uma delícia, meu sobrinho! Não tenha receios de se entregar, não vou machucá-lo como fez aquele ignóbil. – sussurrou no meu ouvido. Eu acreditei nele e deixei-o estocar sua carne rija no meu cuzinho, até a dor se transformar num prazer inenarrável, ímpar, regozijante. Eu não nutria nenhum sentimento em relação ao tio Grayson, mas estar atado a ele daquela maneira me despertou um desejo de acariciá-lo, de compreender suas necessidades, de atender aos anseios do meu corpo e, muito provavelmente, do dele também. Isso fez com que tivéssemos um intercurso demorado e compartilhado, estabelecendo entre nós uma relação nova. Também foi a primeira vez que senti prazer no meu pinto sem ter que me masturbar. O gozo que lambuzou os lençóis foi espontâneo e aliviador. Meu tio ainda fodia cadenciadamente meu cuzinho quando esporrei. Eu gemia, de tanto prazer que aquela pica me proporcionava deslizando na minha mucosa anal. - Como é gostoso foder esse rabinho apertado! Havia anos que não me satisfazia tanto! – exclamou, grunhindo junto à minha orelha. Pouco depois, ele acelerou as estocadas, me obrigando a ganir, socou-as tão profundamente quanto lhe permitia o caralho curto e, começou a gozar, me esporrando o cu com seus jatos espessos de porra quente. Permaneci sob seu peso até o pau amolecer completamente. Ele o tirou do meu rabo ainda pingando. Não deixava de ser uma cena excitante ver aquele homem gotejando esperma de tanto que se fartara nas minhas entranhas. Mas eu estava sangrando, não tanto quanto quando o William me descabaçou, mas o suficiente para sentir o líquido pegajoso dentro do rego. A princípio, pensei que fosse o sêmen do meu tio, mas uma toalhinha umedecida que ele passou delicadamente no meu rego comprovou que algumas pregas haviam se rompido. - Dói? – perguntou, sendo gentil como nunca antes. - Um pouco, só ao toque. – respondi. Ele me puxou para junto dele e colou sua boca à minha. Eu esqueci a dor. Ele estava renovado na manhã seguinte durante o café. Continuava chovendo lá fora, comprometendo o dia, mas parece que isso não o afetou. Até o tagarelar de tia Anne não o irritou. Todos se perguntaram o que teria acontecido com aquele homem ranzinza e, geralmente, carrancudo. Só eu tinha a resposta; e ainda sentia entre as pernas aquela umidade que também estava me fazendo tanto bem. Lord Crownbourgh não era um homem de constâncias. Como uma criança que tem de tudo, sem muito esforço, em poucos meses ele já havia se enjoado do meu cuzinho, especialmente, porque não precisava me subjugar nem se valer de sua superioridade para conseguir o que queria. Eu era receptivo e colaborador, aceitando facilmente suas propostas cada vez mais indecorosas e pervertidas. Foi a forma que encontrei de aprender tudo sobre aquele universo carnal que, até então, tinha sido um grande mistério para mim. Cinco meses depois de estar me fodendo quase diariamente ele, enfastiado, anunciou que tinha negócios a resolver em Londres. Minha tia e as meninas logo se prontificaram a acompanhá-lo, insistiram, encheram-no de argumentos, no entanto, ele disse que não teria tempo para pajeá-las, que se sentiram abandonadas e, que melhor seria se ficassem em Dinsley Park. Evidentemente, era outra de suas desculpas para se ver livre daquele bando de mulheres que o entediava. Assim, três dias depois, ele partiu sem uma data para voltar. Para mim foi um grande alívio, tê-lo seguidamente na cama e espanando meu cu, mal deixava cicatrizar as preguinhas que seu cacetão grosso rompia. Na mesma semana em que tio Grayson partiu, recebi uma carta do marquês Ailesbury me convidando a passar uma temporada em Tottenham House em Wiltshire. Certamente a ideia do convite não partiu do marquês, mas de Lord Richard. A carta dizia apenas que eles ficariam honrados se eu fizesse a gentileza de visitá-los para conhecer os outros dois filhos que eu ainda não conhecia uma vez que tinham mais ou menos a mesma idade do que eu e, o estreitamento de uma amizade entre mim e seus filhos seria uma grande satisfação para ele e a esposa. De tão excitado que fiquei com a carta e, a possibilidade de me reencontrar com Lord Richard, acabei respondendo no mesmo dia, sem ter feito uma reflexão mais ponderada. Felizmente, respondi que, no momento, estava impedido de visitá-los, pois não queria deixar Lady Anne e minhas primas sozinhas enquanto Lord Crownbourgh estivesse em Londres. Na semana seguinte, outra carta estendia o convite à Lady Anne e às meninas, com o argumento de que Lady Ailesbury ficaria encantada com a presença de minha tia. Isso me deu ainda mais certeza de que Lord Richard estava por trás dessa insistência. De qualquer maneira, não quis deixar transparecer minha ansiedade e, só alguns dias depois, contei a tia Anne sobre o convite. Um histerismo coletivo tomou conta daquelas saias, até eu confirmar que enviaria uma resposta dizendo que nos sentíamos honrados em visitá-los. A intenção de minha tia e das meninas era óbvia, os três machos solteiros que viviam em Tottenham House. Eu passeava com Annabela pelos arredores de Dinsley Park, chegando até os campos onde se colhia o feno para o inverno, numa manhã de cerração baixa, ainda um pouco fria apesar do adiantado da hora. Ela era a única que tinha alguma simpatia por mim, ao contrário das mais velhas que pensavam pela cabeça da mãe e, me viam como um estorvo a ser tolerado. Embora vivesse sob forte influência da mãe, ela mostrava traços de não querer aceitar pacificamente um pretendente que não fosse de seu agrado. Esse posicionamento rebelde surgiu depois que sua melhor amiga, Edith Wildson, foi obrigada a se casar com Lord Hattenshaw, quase vinte anos mais velho do que ela e, um dos sujeitos mais pedantes e asquerosos que já conheci. A moça aceitou seu destino com resignação, pois a fortuna de Lord Hattenshaw lhe garantiria um futuro seguro e livre de penúrias, assim como uma boa ajuda à velhice dos Wildson. Ocorre que Lord Hattenshaw era um libertino sem nenhum escrúpulo, conhecido em Londres como o mais depravado dos homens, sem nenhum caráter. Iludida pelo discurso das boas intenções e do amor que jurava sentir por ela, já no primeiro ano de casamento viu tudo ruir por terra. Vivendo praticamente isolada e abandonada com um filho pequeno, enquanto o marido justificava meses de ausência em Londres ou no continente envolvido com negócios, ela descobriu como era a vida de uma mulher naquela época. Sua única distração, afora a educação do filho, eram as longas cartas que trocava com Annabela. Contudo, ela nunca revelava detalhes de sua vida infeliz ao lado do marido pervertido, mas a sensibilidade de Annabela conseguia ver nas entrelinhas, que a amiga sofria uma infelicidade sem remédio. Quando ficava abalada demais com o conteúdo das cartas, chegava a me mostrar algumas, sob a condição de eu jurar que manteria segredo sobre o que tinha lido. Foi daí que começamos a nos tornar mais amigos e, eu até seu confidente. Falávamos sobre uma dessas cartas recentemente recebida e, Annabela me expunha seu medo de ter que casar como um homem como Lord Hattenshaw. Chegou a asseverar que preferiria a morte do que um homem pelo qual sentisse aversão. Ela também mencionou o quanto eu me transformei depois de ter chegado a Dinsley Park como um patinho assustado. Disse que gostava mais de mim agora, do que naquela época, pois achava que eu me transformaria em mais um daqueles homens fracotes. - Aconteceu exatamente o contrário. Você tem ideias próprias, as defende sem receio do que vão pensar sobre a sua opinião. Mamãe o teme, desde que você a situou em seu devido lugar. Papai também mudou muito em relação a você. Sinto que ele o respeita mais, que é cuidadoso ao lidar com situações delicadas que te envolvam. – revelou ela. - Tive que aprender a me defender! E sua mãe é uma manipuladora sem nenhuma consideração pelos outros. Eu não podia deixar que regesse a minha vida conforme sua vontade. – retruquei. - Eu queria ser assim! Mas, como mulher, jamais poderia ir tão longe. – afirmou resignada. - Você pode ir aonde quiser, chegar a fazer o que quiser, basta se libertar desses aguilhões dessa sociedade doentia e opressora para as mulheres. – afirmei. - Quando leio um dos teus livros, que leio às escondidas de meus pais, fico com coragem de dar rumo a minha vida segundo meus desejos. Porém, quando estou diante deles e de suas ordens, temo só de pensar em desobedecer. Se eu fosse um homem, como você, não teria tanto receio. - Enquanto as mulheres aceitarem o destino que outros lhe traçaram caladas, nunca saberão o que é a liberdade. É você quem tem que construir a sua. Nem sempre é fácil, há muito sofrimento, isso eu garanto, mas ao final das contas vale à pena. – afiancei. Nisso fomos alcançados pelo William, num galope que se fez ouvir cada vez mais próximo. - Bom dia, Lady Annabela! Bom dia, Lord Carlton! – cumprimentou, apeando do cavalo e caminhando ao nosso lado. Annabela respondeu ao cumprimento, eu não. A presença dele não me fazia mais tremer como antes. Nem meu espírito se abalava com sua petulância. Para mim, ele não passava de um ser desprezível. Mas, Annabela ficou afogueada depois da chegada dele. Corava constantemente quando ele lhe fazia um elogio, ou quando lançava um daqueles seus olhares concupiscentes. Uma encarada minha, de cenho franzido, desestimulou que continuasse. - Como está seu pai, Sr. Albridge? Aos poucos a idade deve estar lhe pesando com toda a demanda da paróquia. Talvez ele devesse começar a pensar em se afastar e tratar da saúde. – mencionei, o que ele logo compreendeu ser uma ameaça velada que podia ser facilmente posta em prática caso Lord Crownbourgh ou, eu mesmo, nos dispuséssemos a isso. - Ele nem aventa essa hipótese! Mas, será inevitável um dia qualquer. – retrucou. - Torçamos para que esse dia não esteja tão próximo, não é? – devolvi. O que o fez perder a empáfia e cercar-se de receios. - Bem! Não vou aborrecê-los mais com a minha intromissão. Um bom dia e bom passeio! – exclamou, montando no cavalo e partindo à nossa frente pela estrada. - Sujeito interessante o Sr. William Albridge! – exclamou Annabela, visivelmente encantada pelo físico e pelos atributos másculos do filho do pároco. - É um ser abjeto, Annabela! Mantenha-se longe desse crápula, para seu próprio bem! Se Lord Crownbourgh tiver a menor desconfiança de que você está se engraçando por ele, ou ele por você, seus dias serão amargos, posso lhe garantir. – asseverei, deixando-a perplexa e assustada. - Você o odeia? Não sabia que o conhecia tão bem. - Conheço o suficiente para saber que não vale um mísero Shilling! – exclamei resoluto. – E digo mais, se eu souber que ele tentou se aproximar de você, ou você colocar mais uma vez esse sorrisinho idiota na cara ao se deparar com ele, juro que vou tomar providências drásticas que não serão do seu agrado. – ameacei. - Está bem! Não precisa ficar tão irritado! Fiz apenas um comentário inocente. – devolveu ela. Eu continuava a ver em sua expressão um interesse inconfessável por aquele macho, tão mais viril do que os homens com os quais ela era obrigada a conviver. Estava tudo certo para nossa viagem até Tottenham House. Por precaução, tia Anne tinha escrito ao marido contanto do convite, receando que ele fosse se opor à saída dela enquanto estava fora. Para deixá-la irritada, algo que vinha me dando muito prazer ultimamente, desde que Lord Crownbourgh estava mais interessado no meu cuzinho do que na buceta da esposa, eu afirmei durante um jantar que ele ficaria ainda mais feliz sabendo que não precisava apressar seu regresso, e continuar a aproveitar da liberdade que o continente lhe proporcionava. Vi, pelo olhar que me lançou, que ela tinha uma resposta sarcástica ao meu comentário, mas calou-se, temendo que isso me fizesse devolver a agressividade com um impulso que não conseguiria suportar. Na véspera da partida, Charles veio ter comigo. Ele estava particularmente apavorado, pois tinha tido um encontro a sós com William, que voltou a ameaçá-lo caso abrisse a boca para contar o que viu. Além de tê-lo encurralado numa das dependências da igreja no último domingo, após a missa, havia tirado o cacetão das calças e jurado que espanaria seu cu até ele perder as entranhas pelo rombo que ia deixar. Foi por isso que o encontraram desmaiado quando deram por sua falta e, foi preciso alegar que tivera uma indisposição súbita, o que obrigou que chamassem o doutor Lancelot para ver do que se tratava. Tinha passado dois dias de cama, mais para justificar o faniquito do que propriamente por não estar se sentindo em condições de encarar as pessoas. Precisava falar comigo antes de eu partir, para que lhe orientasse se ausentar-se por um tempo, acalmaria os ímpetos vingativos do William. - E então, o que me sugere? Devo ir até a casa dos meus tios e passar uma temporada por lá? – indagou. - Definitivamente, não! Não se acovarde diante desse imbecil! Ele só está te pressionando porque eu o ameacei. – revelei. - Você só pode estar doido! Acredita mesmo que ele vai se intimidar com suas ameaças? - Não só vai como já está intimidado! Sugeri que meu tio ou eu poderíamos apressar a aposentadoria do Sr. Albridge, encerrando sua carreira e, portanto, sua vida confortável em Chapmansdale. – revelei. - Então foi por isso que ele veio se vingar em mim. O que será de mim agora? Sou o alvo dele agora. – queixou-se - Deixe de ser frouxo! Do que você tem medo? O que aquele imbecil poderia fazer com você? - O mesmo que fez com você naquela tarde! - Então é disso que tem medo, de levar aquela pica no cu? - Não foi o suficiente para te deixar arregaçado? - Eu até tenho que ser grato a ele por ter feito aquilo. Acabei por descobrir que se pode tirar muito prazer num coito com outro homem. Talvez eu nunca tivesse descoberto isso se não fosse ele. – argumentei. - Eu já lhe disse que isso é pecado! Como pode desejar que um homem entre em você com tudo aquilo? - Da mesma forma como você o deseja! Se não fosse essa sua hipocrisia, já teria experimentado! É isso que te falta para deixar de desmaiar cada vez que um macho te dá uma prensa. Tire proveito deles, ao invés de se mostrar indignado e agredido. Há de descobrir que seu corpo é capaz de lhe proporcionar prazeres jamais sonhados. - Você se perdeu completamente o juízo! Está a um passo do fogo do inferno, se não se arrepender desses pensamentos impuros. – afirmou - Não são apenas pensamentos! - O que quer dizer com isso? Não me diga que já teve outros intercursos depois daquilo? – eu consegui despertar sua curiosidade e, estava a fim de escandalizá-lo. - Inúmeros! - Valha-me Deus! Com quem, se posso ser tão invasivo? - Com Lord Crownbourgh! Ele vinha ao meu quarto depois de todos se recolherem e me mostrou tudo o que um macho gosta de sentir e fazer entre quatro paredes. Não só fui um bom aluno, como tirei proveito de cada safadeza que aquele homem fez comigo. E, posso lhe garantir, nada se equipara a fazer um macho verter seu esperma e você se lambuzar até a alma com esse néctar dos deuses. – ele me encarava como se estivesse hipnotizado pelo horror. - E você quer que eu me perca nesse mundo de devassidões? - Quero que deixe sua essência homossexual viver tudo o que tem direito! Não precisa ser como foi comigo, o primeiro por violência, o segundo por oportunismo. Você pode descobrir alguém que te mostre tudo isso com um sentimento puro por trás de todos os atos. Isso te levará à felicidade, e nenhuma outra bobagem que estão lhe enfiando na cabeça. – sua luta interna era muito maior do que eu podia imaginar. Mesmo assim, eu pressentia que ele nunca seria feliz, o que me deixava profundamente entristecido. Os dias em Tottenham House não poderiam ser mais esplendidos. Aquele foi um verão prolongado, com dias ensolarados e quentes, e noites estreladas com temperaturas amenas que facilitavam o sono. Já nos primeiros dias tive a confirmação de que a ideia do convite partira de Lord Richard. Ele não conseguia esconder a satisfação que sentia ao poder estar ao meu lado novamente. Costumava estar acordado logo cedo à minha espera na sala de refeições, tinha sempre algo divertido para dizer, um sorriso largo e envolvente, e um roteiro já traçado previamente de tudo que faríamos naquele dia. Eu ainda me perguntava o que ele tinha visto em mim para ter o interesse despertado daquela maneira pouco cautelosa, quase óbvia; pois, não se podia dizer que eu fosse a mais simpática das pessoas. Os anos de repressão em Dinsley Park tiraram qualquer traço de espontaneidade que havia na minha personalidade, e me tornado um ser desconfiado e pouco sociável. Com ele, em particular, eu era menos retraído e, não sei dizer porque, sentia confiança nele. Os planos de tia Anne de sair de Tottenham House com ao menos uma das filhas comprometidas, se frustravam dia-a-dia. Os filhos de Lord Ailesbury não demonstraram nenhum interesse naquelas moças frívolas, à exceção do filho do meio, que levou um tempo para distinguir algumas qualidades em Annabela. O problema era que ela não se dispunha a olhar para o rapaz com olhos que não fossem os de fastio e tédio por sua pouca habilidade em cortejar uma dama. Fariam um par perfeito, na minha opinião, mas Annabela não queria nem ouvir meus argumentos para dar uma chance ao rapaz. Obviamente, Lord Richard também não estava disponível para se interessar por uma de suas filhas como pensava tia Anne. Ele as ignorava completamente, dedicando apenas a mim, seu tempo e sua atenção. - Não adianta você vir com seus sermões para cima de mim. Não gosto dele e pronto! – exclamou Annabela irritada, enquanto estávamos apenas ela e eu na estufa em meio ao jardim, tomando um refresco. - Por que não gosta dele? É um belo rapaz, interessante, culto, atencioso. Tudo o que se pode esperar de um bom partido. – ponderei. - Então fique com ele! - Não seja grosseira Annabela! - Por que não me deixa em paz? Sabe que eu não pretendo me casar com quem não desejo. – devolveu ela, arrependida de me ofender, sabendo que eu só queria seu bem. - Não estou dizendo que tenha que se casar com ele. Apenas, dê-se uma oportunidade de conhecê-lo melhor. Pode ser que mude de opinião depois disso. - Ele é polido e educado demais para o meu gosto! Não é nem um pouco ousado e, se retrai assim que recebe o primeiro não. – argumentou ela. - Eu sei com quem você o está comparando. E, volto a te advertir, se continuar com aquele William nos pensamentos, vou falar com Lord Crownbourgh o quanto antes. Aquilo não é homem para você, eu torno a afirmar. - Não sei porque você o odeia tanto? Só por ele ser destemido e correr atrás daquilo que lhe interessa? - Eu o odeio por que ele é um cafajeste! Ouça o que eu digo Annabela, jamais vou permitir que ele se aproxime de você. Sei que vai magoá-la e, muito certamente, acabar com o seu futuro. - Como pode ter tanta certeza disso? - Tenho meus motivos e, conheço a crueldade de que ele é capaz. - Está bem! Só para que você não fique mais me ameaçando, vou deixar que Lord Henry se aproxime. Mas, já vou lhe garantindo que não passara disso. – eu tinha certeza de que se ela abrisse um pouco a guarda, Lord Henry entraria naquele coração inquieto.
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