Chegou a segunda-feira. Como eu sempre fazia, acordei antes de Regina, fiz café, deixei a mesa pronta para ela, depois coloquei cueca, meias , calça, camisa, jaqueta, peguei as chaves de casa e do carro, o controle do portão, e fui para o trabalho. Meia hora no trânsito, alguns trechos com engarrafamento, depois estacionar o carro, sair, bater o ponto ( na verdade, colocar o dedo no sensor digital), subir as escadas, sentar na minha estação de trabalho, cumprimentar os colegas, que não faziam ideia do que passamos. Para eles, foram apenas dois dias.
E como Regina iria explicar o seu cabelo mais longo em apenas dois dias? Talvez ninguém reparasse...
Trabalhei normalmente. No meu intervalo, fui dar uma olhada nas notícias, não deveria haver nada de novo, afinal havia sido apenas um final de semana...
Mas não. Uma notícia ao pé de uma página de economia me chamou a atenção, e ligou o alerta vermelho.
A empresa onde Regina trabalhava iria ser comprada, a oferta havia sido feita naquela manhã.
Não seria nada de mais, se a corporação que havia feito a oferta irrecusável não fosse a “ Meister Ltda.”!!!
Meister – só podia ser ele – iria comprar a empresa onde minha esposa trabalhava, ela seria empregada dele. Com o cargo dela, talvez até fosse obrigada a trabalhar diretamente com ele... e isso seria um problema enorme.
Na Agência, nossos salários eram excelentes, e todas as nossas despesas eram bancadas por eles. E aqui, dependíamos de nossos empregos para pagar as contas. Mas , se Regina tivesse que sair, daríamos um jeito.
Liguei para ele, ela não sabia de nada ainda.
“- Como você soube disso?” Ela me perguntou.
“- Li uma notícia durante o intervalo...”
“- Ai amor, isso não é bom... mas vou ter que conferir.”
Continuei trabalhando. Regina não me ligou, talvez fosse uma notícia falsa, ou talvez ela tivesse muito trabalho e fosse verificar depois.
Qual não foi a minha surpresa, quando um colega de trabalho me manda uma mensagem dizendo:
- Olha a mulher belíssima que está na nossa porta!
Eles ainda não conheciam minha esposa. Levantei e fui correndo até ela, era Regina!! Todos ficaram espantados, em pessoa ela era mais linda do que nas fotos.
“- Querida, o que aconteceu? Você nunca vem no meu trabalho...”
Ela me abraçou e me beijou. Até ouvi um “ooh” dos meus colegas.
“- Você estava certo, Meister comprou a empresa... e o diretor me disse que ele exigia uma reunião comigo, em particular.”
“- Que sacana!!”
“- Eu disse que, já que a empresa estava sendo vendida, eu teria que conversar com você primeiro, e provavelmente eu não continuaria lá...”
“- Fez bem. A gente se vira, cortamos algumas despesas ...”
“- Você pode ir comigo até lá? Preciso pegar minhas coisas, depois passar no Departamento de Recursos Humanos...”
“- Vamos juntos sim!” Conversei com meus colegas de trabalho, disse que era urgente e que depois reporia as horas. Não houve problema.
Fomos até a empresa onde Regina trabalhava, ficava em um bairro nobre da cidade. Entramos, e já fomos indo para a sala dela. O Diretor estava lá, aguardando.
“- O Sr.Meister não aceita que você vá embora sem a reunião. A proposta dele é muito boa.”
“- Desculpe, Sr. Diretor, mas não estou interessada. Se a empresa foi vendida, não quero continuar. “
“- Por que? Você nem conhece o Sr. Meister”
Eu resolvi intervir:
“- Eu conheço. Pesquisei sobre ele e seus métodos de gestão... conversei com Regina, e consideramos que são práticas anti-éticas.”
“- Infelizmente, a oferta que ele nos fez é irrecusável.”
“- E minha decisão de sair é irrevogável.” Regina pegou algumas coisas, e fomos saindo. Quando estávamos no elevador, vimos Meister ao longe. Inconfundível, e a expressão dele não era nada agradável.
Pegamos o carro, e fomos em direção À nossa casa.
“- E agora, amor? Se ele continuar nos perseguindo... pior, se ele prejudicar você no seu trabalho?”
“- Aí, mudamos de cidade, de Estado, de país...”
“- Mas estamos no passado. No futuro de onde viemos, Meister estava incapacitado...”
“- Talvez. Mas lá, ainda tem o Nguvu. E Meister pode ter se recuperado.”
“- Só que lá nós temos...sabe...” ela desenhou um círculo com o dedo.
“- Sei... não deveríamos ter saído de lá...foi um erro, e a culpa é minha” eu falei.
“- Ai amor, sei que você não estava gostando...”
“- Não é isso, é que naquele momento, Crowley estava exagerando...”
Notei que havia um carro nos seguindo. Quando chegamos perto de um semáforo , ele foi se aproximando, acelerando. Achei que queria nos empurrar quando chegasse no vermelho. Arranquei no sinal amarelo, o carro veio atrás. A sorte é que eu conhecia muito bem aquele bairro. Virei rápido em uma rua estreita, entrei em um estacionamento que tinha duas entradas, saí pelo outro lado, e virei em uma outra rua. Dali, corri até quando achei seguro.
“- Amor...e se estiverem nos esperando perto de casa?”
“- Vamos ter que arriscar. “
Nisso, o carro que nos seguia apareceu novamente. Parecia que sabia nossa localização.
“- O desgraçado deve ter subornado a seguradora para localizar o GPS!”
Pensei em arrancar de novo, mas fiquei ali mesmo.
“- O que foi, amor?”
“- Estou fazendo errado, eu devia ter pensado nisso antes...”
Olhei bem para o motorista do carro que nos seguia e entrei na mente dele. Fiz com que ele deixasse o carro atravessado na rua , e depois batesse várias vezes nos automóveis estacionados dos dois lados da rua. As pessoas começaram a sair e a ir em direção ao veículo. Então, fiz com que ele jogasse a chave do carro longe, voltando ao meu corpo.
“- Se eu tivesse pensado antes nisso...”
Chegamos em casa, liguei para a empresa de segurança para avisar a polícia em caso de algum carro suspeito chegar, também liguei os alarmes.
Subimos ao andar de cima, onde eu tinha um estúdio. Afastei o sofá e uma cama que tínhamos ali, costumávamos transar ali às vezes, e também tirar fotos.
“- Mas e agora, amor?”
“- Agora, podemos tentar voltar...”
“- Tem certeza? “
“- Acho que, depois de tudo o que passamos, estaremos melhor lá do que aqui...”
“- Pelo menos até eu achar um jeito de acabar de vez com Meister.” Ela falou.
Desenhei um círculo duplo no chão, com a ajuda de um prego e um barbante. Ao centro, os signos que Regina ia dizendo. Ela tirou as roupas rapidamente, eu também.
“- Agora deita no chão!” Ela falou.
Eu estava tenso, ela precisou chupar meu cacete para endurecer.
Uma vez duro, ela montou em cima , encaixando em sua bucetinha. Ela ergueu as mãos, e olhou para cima.
Lá fora, um carro freou bruscamente, guinchando os pneus. Ouvi barulho no portão. Tentei manter a calma, acariciando Regina, apertando as nádegas dela e movimentando meus quadris. Ela começou a estremecer de leve. A névoa rosada apareceu no estúdio, com seu perfume.
Regina estava prestes a gozar.
Mas a porta do estúdio abriu com um estrondo. Dois brutamontes apareceram , armados. Atrás deles, Meister. Regina tremia. Entrei na mente de um deles , e fiz com que acertasse na mão do outro, desarmando-o. O revólver caiu pela escada. Depois , fiz com que atirasse em Meister,mas ele se desviou e deu um soco no capanga. Ele veio em direção a Regina.
Quando ela o viu, a névoa escura o envolveu rapidamente, ele começou a sufocar. O capanga foi ajudá-lo, começou a sufocar também.
Os dois rolaram pela escada, derrubando o terceiro que estava com a mão ferida. A névoa escura encheu a escada.
Eu ia perguntar a Regina se ela iria deixá-los sufocar, mas ela estava em transe, os olhos revirando.
Eu, sinceramente, não sabia o que fazer, eu não tinha ideia de como ela conseguiu viajar no tempo, e chegar exatamente nesste momento. Se eu entrasse na mente dela, poseríamos parar em qualquer lugar.
Resolvi continuar a acariciá-la, apertando seus mamilos, as nádegas, ela estremecia, mas não chegava no orgasmo. E nada acontecia!
A situação estava complicada. Resolvi abraçar minha esposa com força, segurando-a bem junto de mim, para que se sentisse segura. Os ruídos na escada cessaram. Eles estavam desmaiados ou mortos.
Regina agora estava como que desmaiada, estremecendo levemente.
Resolvi deixá-la deitada no círculo, mas tomei o cuidado de apagar uma borda. Ela poderia, inconscientemente, se transportar para algum lugar e eu talvez não a encontrasse mais.
Ao lado do estúdio, havia um depósito, onde guardávamos ferramentas, material de jardinagem, produtos de limpeza... e eu tinha essas braçadeiras de plástico bem fortes. Peguei algumas e desci as escadas. Não me preocupei em ver pulso de nenhum deles, fui primeiro amarrando bem os filhos da puta. Primeiro Meister, depois os outros dois. A mão de um deles sangrava, rasguei a camisa dele e enfaixei.
Em seguida, liguei para a empresa de segurança e pedi que chamasse a polícia, disse que tentaram assaltar nossa casa, mas que eu tinha um extintor de automóvel no depósito e soltei neles, que caíram pela escada, acidentalmente se atingindo.
Tomei o cuidado de pegar o extintor do meu carro na garagem, e soltei uns jatos, para dar mais credibilidade à história. Eu tinha um parente que era coronel da PM. Liguei para ele, e pedi que conversasse com os policiais, pedindo que viessem logo.
Em seguida, tirei Regina do chão e a deitei no sofá, cobrindo-a com uma colcha. Ela continuava desmaiada.
Os policiais chegaram, e, pelo portão forçado e as armas, deduziram que era assalto mesmo, eles disseram que tivemos muita sorte de estarmos no alto da escada e eles caírem, também que havia sido uma boa ideia usar o extintor... eles recolheram os bandidos, falaram que estavam vivos,mas que se tivessem morrido seria legítima defesa. Eu me comprometi a ir fazer o boletim de ocorrência tão logo fosse possível, porque minha esposa havia desmaiado e talvez eu tivesse que levá-la ao hospital, mas que eles não chegaram a encostar nela.
Assim que eles foram embora, verifiquei o portão, eles haviam apenas tirado do trilho, consegui colocar no lugar com a ajuda do segurança. Depois, corri para o estúdio.
Regina parecia dormir. Eu não sabia se deixava ela assim, ou se tentava acordá-la.
Descer a escada com ela não dava, poderíamos cair. Resolvi pegar um pouco de água gelada no frigobar, umedecer uma toalha e passar no rosto dela.
“- Oi amor... Regina...”
Ela demorou um pouco, e abriu os olhos.
“- Meister... ele...”
“- Ele esteve aqui, mas você o derrubou com a névoa escura.”
“- Mas eu ouvi tiros... você não...”
“- Ah, eu dei uma ajudazinha, fiz um atirar no outro.”
“- Como no Castelo”
“- É, como no Castelo...”
“- Acho que agora não vamos conseguir voltar “
“- Ai amor... eu devia ter voltado antes, muito antes. “
“- Como assim?”
“- Antes de eu conhecer o Walter. Vocês eram amigos, mas você só me apresentou ele muito depois...”
“- É...se você não encontrasse com ele, ele nunca falaria com o Meister.”
“- Só que agora, tudo aquilo já aconteceu, e faz parte de uma entre várias realidades. E Meister, como Mago Negro, pode ter explorado isso.”
“- Regina querida, acho que só temos um jeito...tentar voltar ao Castelo, bem onde estávamos , no tempo e no espaço, e contar com a ajuda do...da...” Ela novamente fez o gesto de silêncio.
“- Entendi. Mas vamos descer e tomar alguma coisa, aqui está meio enfumaçado. Névoa rosada, névoa escura, fumaça do extintor...”
Descemos e tomamos uma cerveja, depois fomos para o quarto.
“- Será que vamos ter tranquilidade para fazer o Ritual corretamente?” Perguntei.
“- Será que eu vou ter energia para conseguir fazer a gente voltar para lá? Eu não esperava que precisássemos ir tão cedo.”
“- Hoje é segunda, não tem nenhum clube de swing aberto, se não poderíamos tentar a energia deles...”
“- Ah, mas andei lendo que há muitas larvas astrais nesses lugares, vai que gruda uma na gente...”
“- E com o Walter não dá para arriscar, ele tem alguma coisa , talvez esteja devendo dinheiro para o Meister.”
“- O negócio é descansar e tentar mais à noite, nós dois mesmos”
“- Eu devia ter atirado nele, tentado até matar Meister, quem sabe isso acabasse.”
“- Acho que não ia acabar. Talvez tenhamos que passar pela tal profecia. E você... nossa!!!”
“- O que?”
“- Você tem a missão que a Deusa te deu...”
“- Eu sou um idiota! Só posso cumprir a Missão se estiver na Agência...”
“- Amor... acho que nós dois nos precipitamos. E isso já nos colocou em confusão antes. Vamos fazer o Ritual com calma.”
Isso me fez pensar um pouco.
“- Você falou em calma... isso me deu uma ideia...lembra aquela vez, na sala, onde você fez a Dança dos Sete Véus...”
“- Para você e o Negão...Hmmmpf...o safado!”
“- Mas, tirando ele, lembra... tudo bem lento, bem demorado, bem calmo... a energia foi enorme.”
“- Boa ideia...pode dar certo...”
Então, descansamos um pouco, tomamos um banho.
E começamos o Ritual.
CONTINUA