Da paixão renasceram um cuzinho e uma pica

Da paixão renasceram um cuzinho e uma pica
Esta é a continuação da história do protagonista José, do conto Casa Indefesa
Os três vasos de ciclâmen no parapeito da janela da cozinha começavam lentamente a fazer emergir, em meio às folhas, as hastes onde dentro de algumas semanas brotariam as flores em tons de rosa. Eu as observava absorto em pensamentos. Na verdade, e a princípio, embora meu olhar estivesse debruçado sobre elas, não estava realmente reparando nelas. Mas, aos poucos, à medida em que me conscientizava de que elas estavam mais uma vez desabrochando para a vida, em seu ciclo anual, soube que teria que fazer o mesmo. Era preciso recomeçar, embora me faltassem estímulos e até energia, pois tudo parecia ter desaparecido junto com o Damião, sem que eu pudesse ao menos me despedir dos vestígios. O restaurante estava há meses nas mãos dos meus funcionários, verdadeiros heróis e agora, mais do que amigos, uma vez que tocaram as coisas adiante me poupando de tudo e me permitindo viver meu luto sem mais dissabores além daqueles que eu já tinha.
Escolhi, propositalmente, uma segunda-feira de final de primavera, céu límpido devido à chuva forte da noite anterior, sol brilhando e criando longas sombras dos edifícios sobre as ruas movimentadas, para reassumir minhas obrigações. Começar no início de semana era simbolicamente como recomeçar a minha vida. Meus funcionários me receberam com alegria, pareciam aliviados de uma carga para a qual não tinham sido forjados ou, talvez, pelo simples fato de eu ter saído do casulo no qual me enclausurara após a morte do Damião, o que podia ser interpretado como uma superação da minha dor. Ela continuava lá, viva e dolorosa, mas eu teria que aprender a conviver com ela e, era o que eu estava tentando fazer com aquele regresso. Ao contrário das últimas semanas, quando até as horas pareciam não passar, arrastando-se lentamente como para que eu sentisse com mais pesar a minha dor, mal me dei conta quando chegamos ao fim do dia. Ao me despedir dos funcionários naquele dia, de movimento intenso, percebi que seria aquela agitação que me tiraria do marasmo em que vivi os últimos meses. Eles viram que, por trás do meu sorriso, havia novamente um homem inteiro, embora não pudessem avaliar à custa de quantos remendos.
Por semanas tudo transcorreu normalmente. Até que um dia, pouco antes de abrirmos para o almoço, enquanto a Francisca e eu dávamos os últimos retoques na arrumação do salão, fomos surpreendidos por três sujeitos que simplesmente arrombaram a porta da frente, em plena luz do dia, e invadiram o restaurante. Um deles, armado, veio diretamente na minha direção, como se já soubesse quem eu era, enfiando o revolver na minha testa e, o que me permitindo enxergar as pontas douradas dos projéteis através do tambor, fazendo minhas pernas perderem, por uns breves segundos, a força para me sustentar em pé. Num tom agressivo e ameaçador, pediram o dinheiro, coisa que achei descabida, uma vez que até aquele momento não havia entrado um único tostão no caixa. Quando os informei disso, me arrastaram para os fundos do restaurante, invadindo a cozinha, o pequeno escritório, a despensa, o vestiário dos funcionários à procura de um cofre. Não encontrando nada além do faturamento de parte do dia anterior que ainda não havia sido depositado no banco e, que estava numa gaveta do escritório, começaram a me fazer ameaças caso eu não lhes desse mais do que aqueles trocados. Dois dos funcionários da cozinha foram agredidos gratuitamente a socos e pontapés pelos comparsas do que apontava a arma, como forma de nos intimidar. Depois de terem sido trancados no banheiro, voltaram comigo e com a Francisca para o salão, onde exigiram que eu os levasse a um caixa eletrônico no meu carro para que pudessem lucrar mais com aquele assalto. Eu tremia dos pés à cabeça quando tive a chave do carro arrancada do bolso, após ter negado que tinha um carro, o que me custou um bofetão na cara.
Foi exatamente essa cena que um cliente assíduo, sócio de uma academia a poucas quadras do restaurante, presenciou. Leandro, um fogoso e belo homem cuja idade devia emparelhar com a minha, costumava chegar cedo, muitas vezes abríamos as portas exclusivamente para ele, pois dali seguia para a academia. Eu digo fogoso porque ele parecia ter algo dentro do corpo dele que o impedia de manter todos aqueles músculos avantajados quietos ou, parados por um segundo que fosse; estava sempre agitado, movendo-se, deixando aquela energia interna extravasar como se fosse a fúria das lavas de um vulcão em erupção. Não havia como não notar a presença daquele homem. Na primeira vez que o vi entrando no restaurante, poucos dias após a inauguração, com um short de onde emergiam duas enormes, musculosas e peludas coxas que mais pareciam troncos de uma árvore e, dentro do qual se podia ver os contornos nítidos e volumosos de uma verga capaz de instigar o imaginário de qualquer um e, até levar gays como eu e mulheres a sentir calafrios só de pensar naquilo entrando entre nossas pernas. Na época eu tinha o Damião, pouco reparava em outros machos, mas ele foi uma exceção, devido a beleza estonteante. Naquele dia, porém, torci para que não chegasse à porta, quando o vi pelos imensos janelões de vidro, temendo que também o fizessem refém ou, talvez, coisa pior, diante do físico atlético e intimidador que sua figura inspirava. Ele adentrou o restaurante mesmo assim. Por seu olhar, intuitivamente, percebi que o fizera com a intenção de me ajudar. Sem perda de tempo, ele foi trazido para junto da Francisca e de mim, sob a mesma ameaça da arma apontada em nossa direção. Os bandidos ficaram ainda mais agitados depois disso, chegaram a discutir entre si, até o chefe com o revolver em punho determinar que dariam continuidade ao plano de me levar a um caixa eletrônico. O Leandro se prontificou a me acompanhar, o que foi imediatamente rejeitado, pois sabiam que aquele homenzarrão representava um perigo redobrado. Enquanto discutiam como sair dali sem despertar suspeitas, entretidos em averiguar o movimento na calçada, que aumentava com a saída das pessoas dos edifícios de escritórios em torno do restaurante, distraíram-se por uma fração de segundo, o que bastou para que o Leandro desferisse um golpe certeiro, de alguma arte marcial, na cabeça do sujeito armado, batendo com ela violentamente contra o balcão, até ele sucumbir como um saco de aniagem vazio. Apossando-se da arma, o Leandro impediu que os outros dois fugissem correndo e, com a mesma simplicidade e agilidade com a qual havia posto a nocaute o líder, imobilizou os dois contra o chão. A polícia chegou antes do chefe recobrar a consciência. Na delegacia, diante do delegado e, desperto, mas ainda confuso, ele declarou que tinha recebido as instruções para aquele assalto através do meu irmão Juvenal, a quem eu havia recusado ajuda, tempos atrás. Passaram-se poucas horas para eu estar diante do Juvenal que, a mando do delegado, foi capturado e trazido a sua presença para confirmar a história que os sujeitos contaram. Foi lavrado o flagrante e, confesso que me senti parcialmente vingado quando vi o Juvenal sendo levado para a cela onde passaria não mais do que alguns dias até ser transferido para um centro de custódia provisório onde teria que aguardar o julgamento.
- Você está bem? – perguntou-me o Leandro quando voltávamos ao restaurante.
- Sim! Acho que fazia um bom tempo que não me sentia tão bem. Ver meu irmão sendo levado para a prisão, de certa forma, lavou minha alma. – respondi, embora ele não soubesse muito bem o que isso significava.
- Vocês tiveram desavenças no passado? – inquiriu curioso.
- Mais do que isso! Fui estuprado por ele e, por outro dos meus irmãos, por quase toda a adolescência. Além de ter sido espancado por ele e pelo meu pai praticamente até a morte e deixado numa estrada à própria sorte, antes de fugir para São Paulo. – revelei, embora não quisesse, com isso, vitimizar meu passado.
- Santo Deus! Como puderam cometer esse absurdo? – espantou-se diante da revelação.
- De onde eu venho, a vida de um homossexual vale tanto quanto o esterco que sai da cloaca de uma galinha. Foi em nome de lavar sua honra, supostamente ultrajada, que meu pai, um cafajeste que abusava das próprias filhas, resolveu dar cabo de mim. E, meu irmão se empenhou em ajudá-lo nessa tarefa. – deslindei, ante o olhar perplexo dele.
- Fico feliz que não tenham conseguido! Teria sido um pecado nos privar dos teus atributos! – exclamou, ousado, ao mesmo tempo em que me dirigia um sorriso.
- Quero te agradecer pelo que fez por mim e pelos meus funcionários! Você foi meio maluco enfrentando aquele sujeito armado de mãos limpas. Mas, ainda bem que tudo deu certo. Obrigado, obrigado do fundo do coração! – agradeci.
- O infeliz não teve a menor chance! – gabou-se, com um risinho ladino.
- Não teria sido mais fácil e, sensato, ter chamado a polícia quando percebeu que estávamos em apuros? – indaguei.
- E como eu faria para virar seu herói? Os policiais ficariam com as glórias! – devolveu.
- Você é maluco! Só pode ser isso!
- Faz algum tempo. Para ser sincero, desde que te vi pela primeira vez. Pena que na época tinha alguém que não te perdia de vista e afastava qualquer um que sonhasse em se aproximar de você. – afirmou, me deixando encabulado.
- Deixe de tirar onda com a minha cara! Acabo de passar por um tremendo trauma e você tenta me passar uma cantada. – retruquei.
- Não posso perder tempo! – respondeu, com um olhar lascivo com o qual me senti como se estivesse despido diante dele.
- Maluco! – ele sorriu.
Começou ali uma amizade bastante peculiar. Em poucos meses, eu frequentava duas vezes por semana a academia dele, a fim de sair do sedentarismo dos últimos tempos. Enquanto ele, já mais íntimo e chamado apenas Leo, sob um pretexto incompreensível, frequentava minha cama com a mesma periodicidade. A companhia dele me fazia bem, levantava meu astral, provocava tesão no meu corpo, me fazia senti vivo novamente. Eu não tinha a menor pretensão e ilusão de ser o único na vida liberal que ele levava, uma vez que boa parte das frequentadoras de sua academia já havia sentido a impetuosidade de sua rola encantadora em suas bucetas. Ele mantinha aquele corpão sarado exatamente com essa intenção, satisfazer seus instintos de macho liberal com quem estivesse a fim de lhe dar, em troca, algum tipo de carinho. Foi por esse meu ponto fraco que ele me conquistou. Havia represado no meu íntimo um mar de carícias para as quais não havia nenhum homem para recebê-las, depois que o Damião se foi. Decidi que ele seria esse homem, tanto por lhe ser grato pelo que fizera comigo, como pela minha necessidade de extravasar essa fonte de afagos que estava me sufocando cada dia mais. Ambos sabíamos que aquilo não era amor, nem procurávamos por isso; contudo, não deixamos que aquela intensa atração sexual ficasse tão somente no imaginário de nossas mentes. E, sabíamos que teríamos bons momentos para compartilhar, e isso nos bastava. Eu podia estar enganado, mas algo me dizia que o Leo, um bissexual ativo cheio de testosterona, só se daria por satisfeito em relações abertas dada sua necessidade de ter mais do que um parceiro ou parceira no que tangia ao sexo. Confesso que sempre tive certo preconceito quanto a esse tipo de relacionamentos, pois para mim, ter um relacionamento assim era o mesmo que não ter nenhum. O fato de achar que o amor verdadeiro só existe em relações monogâmicas, nas quais nos é dado o direito de sermos egoístas e querermos aquele parceiro com exclusividade, me levava a acreditar que em relacionamentos abertos e liberais faltava justamente isso, amor. No entanto, o que me levou a aceitar o Leo na minha cama e no meu cuzinho, tinha mais a ver com uma amizade que não se contentava apenas com a companhia, a reciprocidade e, aquele sentimento fraternal que une dois amigos. No nosso caso, esse sentimento era mais intenso e transcendia a tudo isso, ele exigia o contato de nossos corpos, sua conjunção, para expressar tudo o que sentíamos um pelo outro.
Com o Leo minha vida parecia estar retornando aos eixos. Eu já não me sentia mais tão só, tinha razões para levantar todas as manhãs e encarar o trabalho cheio de ânimo, voltei a me interessar pelo acontecia ao meu redor e, curtia a companhia sempre protetora e segura que ele me proporcionava. Como eu sempre soube, desde quando vi o Damião pela primeira vez, eu era do tipo que precisava de um macho ao meu lado. Um macho que me fizesse sentir seguro para conduzir a minha vida, algo que normalmente nos é incutido dentro da família, de um lar onde se cresce protegido dos reveses do mundo e onde se aprende a lidar com eles no futuro. Porém, tudo isso me foi negado. Sob o teto em que nasci, faltava agregação, faltava amor um pelo outro. Lá, cada um dava vazão às suas necessidades em detrimento da dos outros. Foi com o Damião que aprendi a sentir amor verdadeiro por outra pessoa e, a me sentir seguro dentro desse relacionamento.
Eu conhecia, de vista, outro de nossos clientes habituais dos últimos tempos, tratava-se do Samuel, o dono da loja de autopeças que ficava do outro lado da avenida, com seu largo canteiro central arborizado, na qual estava localizado o restaurante. Quando comentei sobre a presença constante dele com um dos garçons, ele me disse que o Samuel passara a frequentar o restaurante mais amiúde havia alguns meses, pouco depois de eu me enclausurar no meu luto. Ele não soube explicar aquela presença constante, embora tenha dito que o Samuel parecia estar passando por algum revés na vida, pois, às vezes, ficava tão absorto olhando para o movimento da avenida após ter concluído a refeição, que demorava a perceber que estava sendo questionado se desejava mais alguma coisa ou se podiam retirar o prato. Era sempre muito gentil, dava boas gorjetas, chegara a perguntar pelo Damião, a quem conhecia por ele ter, por diversas vezes, recorrido à sua loja para comprar alguma peça para o conserto dos nossos carros, uma vez que era o Damião quem cuidava disso. O garçom também me disse que ele lamentou o destino trágico que teve seu vizinho de negócios, o que o levou a acreditar que haviam estabelecido uma relação muito amistosa e cordial. Eu estranhei de o Damião nunca ter me mencionado nada sobre esse homem, mas o fato de ele ter se mostrado sensibilizado pela morte do Damião me fez ter um olhar mais sensível para com ele. Quando vinha ao caixa pagar o almoço, me sorria de maneira parcimoniosa e algo triste. De uns tempos para cá eu passei a conseguir identificar esse sentimento nas pessoas com uma nitidez espantosa, talvez porque estivesse vendo essa expressão todos os dias quando me punha diante do espelho. Embora não pudesse fazer nada por ele, sem bisbilhotar sua vida, o que absolutamente não fazia pare da minha personalidade, eu podia retribuir o sorriso de maneira doce e emergida diretamente do meu coração. Ele pareceu gostar, pois a partir dele, erguia a cabeça e seguia para sua loja com os ombros menos acabrunhados.
De uma hora para outra, reparei que o Samuel havia desaparecido. Fazia quase uma semana que ele não aparecia para almoçar. Inicialmente, pensei que havia mudado sua rotina, que tivesse se enjoado do nosso tempero e procurado outro lugar, que passou a almoçar em casa, enfim, mil e uma conjecturas me levaram a tentar encontrar uma explicação para a ausência dele. Os garçons também estranharam de ele não aparecer e, disseram que também não o tinham visto nos últimos dias no balcão da loja, o que podia ser constatado toda vez que o trânsito abria uma brecha que permitisse ver o estabelecimento do outro lado da avenida. Talvez estivesse doente, acrescentei às minhas hipóteses. O fato, é que fiquei intrigado com aquele sumiço repentino.
Na sexta-feira, completando o quinto dia em que o Samuel não apareceu, eu resolvi agir. Mandei que preparassem uma bela e variada refeição, atravessei a avenida e fui ter na loja de autopeças.
- Não, o senhor Samuel não está. – respondeu o funcionário a quem indaguei por ele.
- Me perdoe a insistência, mas você sabe me dizer por onde ele anda? Estou estranhando de ele não vir almoçar no restaurante como de costume.
- Também estamos intrigados. O Samuel não é de faltar ao trabalho, mas não sabemos onde possa estar. Eu recebi uma ligação dele no domingo à noite, me pedindo para abrir a loja normalmente e tocar as coisas até ele voltar. – esclareceu o funcionário, em cuja expressão também notei uma preocupação com o sumiço repentino do patrão.
- Seria pedir demais para você ligar para ele? Eu estou bastante preocupado. – afirmei.
- Já tentei o celular dele por diversas vezes, mas não obtive resposta. Deixei recados, uma vez que tem um cliente para quem ele ficou de arrumar uma peça que não estava disponível no estoque e, que vem me cobrando desde então. – revelou o funcionário.
- E a casa dele, sabe onde é? – insisti.
- Sei! Já passei por lá, a empregada que me atendeu disse que o Samuel não morava mais lá desde o divórcio e, que ela não tinha notícias dele havia alguns dias. – respondeu ele.
- Deve ter acontecido alguma coisa, ninguém some assim do nada! – exclamei.
- Eu até já tentei o escritório que fica aqui na sobreloja e, onde o Samuel já chegou a pernoitar algumas vezes depois do divórcio que foi há alguns meses, mas a porta está trancada e ninguém responde. – sentenciou
- Será que podemos ir até lá? Desculpe se estou sendo invasivo, mas acho que é preciso encontra-lo ou, até chamar a polícia. – eu já me sentia um intruso naquela história, mas não conseguia parar de pensar no que podia estar acontecendo com meu cliente.
- Claro! Só adianto que não tenho as chaves para entrar lá. – esclareceu.
Havia uma nesga de luz passando por debaixo da porta, o que não sabíamos se atribuíamos à luminosidade que entrava pelos janelões que davam para a avenida ou, se havia uma luz acessa lá dentro. Encostei o ouvido na porta depois de bater insistentemente chamando pelo nome dele. Havia um rugido contínuo, baixo, porém suficiente para se saber que havia algum equipamento ligado lá dentro. Não, o funcionário não sabia dizer o que podia ser, depois de também confirmar que estava ouvindo o barulho que vinha de por detrás da porta.
-Só há uma solução antes de notificarmos a polícia, chamar um chaveiro que possa abrir a porta! – exclamei. O funcionário me encarou com desconfiança, mas topou seguir minha sugestão.
O chaveiro que um dos meus funcionários localizou nas proximidades não teve dificuldade alguma em abrir a porta. Eu quase caí para trás quando meu olhar percorreu o imenso aposento que servia de escritório e, o funcionário soltou uma expressão de completa incredulidade diante do que seus olhos viam. O corpo inconsciente do Samuel pendia pelas pernas de um sofá velho de couro sintético preto, vestido apenas numa calça de moletom surrada cujo cós estava tão baixo que permitia ver parte dos densos pelos pubianos. O tronco nu, vigoroso e peludo, estava quase tocando chão, e recebia diretamente o fluxo gelado que o aparelho de ar-condicionado ligado lançava sobre ele. Era essa a origem do rugido que ouvimos. Pelo chão e sobre os móveis se espalhavam dezenas, talvez até uma centena de latinhas de cerveja, algumas garrafas de bebidas destiladas vazias, restos de embalagens de fast-food criando uma atmosfera de total caos. O ar pesado rescendia ao fedor de bebida, de vômito e, da porta aberta de um banheiro, vinha um cheiro penetrante de amônia do vaso sanitário contendo restos de urina que também se espalhavam pelo chão molhado.
Num primeiro momento tive receio de me aproximar ou tocar naquele corpão inerte, temendo que estivesse sem vida. Contudo, logo percebi que a respiração, apesar de débil, se fazia com um rugido que vinha de dentro do peito do Samuel. Toquei-o no rosto hirsuto, cuja barba não feita espetou minha mão, estava tão quente quanto as brasas na grelha do restaurante. O homem ardia em febre, e não respondia ao meu chamado. O funcionário rapidamente tirou o celular do bolso e chamou o resgate numa atitude de puro desespero.
- Ele deve estar aqui há dias! – exclamei, enquanto aguardávamos pelo socorro.
- Jamais podíamos imaginar que ele estivesse aqui mesmo na loja! – tentou se eximir o coitado, que estava visivelmente apavorado com a situação e, com os possíveis desdobramentos que ainda podiam surgir.
- Fique tranquilo! Não havia como você ser mais proativo do que já se mostrou. – asseverei, procurando reconforta-lo.
No Pronto Socorro, ao qual segui atrás do veículo de resgate, me informaram que o Samuel havia desenvolvido uma pneumonia e que seu estado era delicado, boa parte dos dois pulmões estavam inundados de líquido oriundo do processo inflamatório. Ele teria que ser internado na UTI para receber as medicações e ventilação mecânica para melhorar a perfusão. Tentei localizar a família dele indo até o endereço que o funcionário dele tinha, mas, segundo a empregada, a ex-esposa e os filhos estavam viajando e ela não tinha como entrar em contato com eles.
- Não sei se a ex-esposa dele ia prestar algum auxílio. De acordo com o patrão, parece que a separação não foi de comum acordo! – revelou o funcionário dele.
- É que eu não gostaria de me envolver demais nesse assunto, entende? O hospital está querendo que eu preencha uns formulários e me responsabilize pela internação. Não posso me meter na vida de um homem que mal conheço! – tentei me justificar para o pobre coitado.
- Eu compreendo! O senhor até já fez muito em trazê-lo para cá. Acontece que eu também não posso assumir essa responsabilidade. – afirmou
- Sim, claro! Eu nem pensei nessa hipótese. Você não conhece alguém que pudesse fazer isso? Algum amigo dele, outro parente? – as respostas às minhas indagações foram todas negativas. E, lá estava eu, à revelia, atolado até o pescoço naquele imbróglio.
Visitava-o diariamente. Nos primeiros dias, na UTI, onde sedado, respirava ruidosamente com a ajuda de aparelhos. Não sei o que me levou a segurar sua mão grande e forte, de dedos grossos, que ao toque era quente e inspirava confiança. Fiquei com ela, inerte entre as minhas, por todo breve período em que as visitas eram permitidas, sem me preocupar com o que as enfermeiras pudessem pensar vendo aquilo. O fato é que nem me atentei a isso. Quando ele foi transferido para um quarto, desperto e inquieto, insistia que precisava sair dali, que já não aguentava mais ficar deitado naquela cama confinado entre aquelas paredes, embora fosse perceptível, por algumas crises de tosse que o acometiam, que ainda não estava completamente curado.
- Tenha mais um pouco de paciência, em breve estará curado e pode sair daqui. Quer que eu providencie alguma coisa? Que chame um de seus funcionários para que saiba como andam as coisas na loja? – perguntei, procurando tranquiliza-lo.
- Não obrigado! Eles estão dando conta, conheço-os muito bem. – respondeu.
-Então deixe essa impaciência de lado e trate de ficar bom!
- Desculpe pela trabalheira que estou lhe dando! Não precisa perder seu tempo comigo.
- Está tudo bem, não se aflija!
Alguns dias depois, ele recebeu alta. O médico entrou no quarto exatamente quando eu estava lá. O Samuel não levou cinco minutos para estar vestido e pronto para sair pela porta.
- Eu te levo para casa, me diga onde é que o deixo lá. – prontifiquei-me
- Me deixe na loja, já será o suficiente! – respondeu.
- Você ainda precisa de alguns dias de repouso e retomar suas atividades aos poucos, lembra do que disse o médico? – questionei.
- Farei isso!
- Onde?
- Na loja mesmo. Estou morando lá provisoriamente.
- Não há a menor condição de você ficar lá! Acha que vai se recuperar dormindo naquele sofá no meio de toda aquela baderna?
- É o que dá para fazer no momento!
- Você vem comigo lá para casa! Ao menos terá uma cama descente e refeições que te ajudarão a recobrar as forças! – exclamei
- Não! De jeito nenhum! Pode deixar que eu me viro. – retrucou, com a voz firme e decidida.
- Eita, sujeito teimoso! Serão apenas alguns dias, depois de recuperado você faz o que quiser. – insisti.
- O teimoso aqui é você! Você não tem obrigação alguma de me ajudar!
- Você é sempre assim? Cabeça-dura e ingrato?
- Sou! Para você ver que não é bom discutir comigo! – ou eu muito me enganava, ou ele se referia a outras coisas e outras pessoas, e não propriamente à nossa discussão.
Sem gastar mais meu vernáculo, levei-o para o meu apartamento, uma vez que era eu quem estava ao volante e ele iria para onde eu o levasse quer concordasse ou não. Ignorei seus resmungos quando chegamos ao prédio e subimos ao apartamento. Percebendo que eu não dava a mínima para seus queixumes e, ao adentrar ao apartamento arrumado, arejado e banhado pela luz do entardecer, seus protestos acabaram. Mostrei-lhe o quarto onde ia dormir e sugeri que descansasse até a hora do jantar, deixando-o a sós com sua cara contrariada.
O Samuel não estava acostumado a ser paparicado, bajulado. Deixara a faculdade nos primeiros anos assim que soube que a Beatriz estava grávida. Abandonou tudo e foi arrumar um emprego para sustentar a mulher e a criança que estava a caminho. Juntou o pouco que lhe restava depois de pagar as contas e as despesas da casa e se aventurou numa pequena loja de autopeças de uma só porta num bairro da periferia. Dois anos depois, a Beatriz esperava o segundo filho, desta vez um menino. Ele atribuiu à felicidade que estava sentindo o sucesso que se refletia na loja. O lugar acanhado já não atendia o progresso nos negócios, e ele partiu para uma aquisição ousada, uma loja num bairro melhor, ampla e num ponto estratégico. Trabalhava arduamente para manter e quitar a casa que financiara, assim como para atender às necessidades da esposa e das crianças que cresciam sem que ele conseguisse participar de sua evolução da maneira como sonhara. Na cabeça dele, se todos estavam satisfatoriamente supridos e felizes, ele também haveria de estar. Por isso, o pedido repentino de divórcio da Beatriz o deixou sem chão. Ele mal podia acreditar num pedido tão descabido, pois não conseguia compreender onde ou como tinha errado, a ponto de ela querer se separar. De nada adiantaram seus argumentos, a decisão parecia estar consolidada naquela mulher que ele agora desconhecia. Ele deixou de dividir o quarto com ela, atendendo à sua exigência, mas não saiu de casa, achando que, a qualquer momento, as coisas voltariam aos eixos e aquele episódio cairia no esquecimento. Não demorou a perceber que não seria assim, quando recebeu a papelada para comparecer diante de um juiz e formalizar a separação. Revoltado, foi a primeira vez que teve uma discussão violenta e acirrada, onde levantou a voz para aquela mulher que, em sua mente, seria sua companheira até o fim de seus dias. Fez o que pode para adiar o processo e sua conclusão, sempre achando que, a qualquer momento, ela voltaria atrás e eles se reconciliariam. Meses se passaram até que finalmente precisou fazer um acordo, e saiu de casa. Mudou-se para um flat, ainda achando que seria uma solução provisória. Os altos custos logo o fizeram perceber que não estava em condições de sustentar duas casas e a demanda da ex-esposa e dos filhos agora adolescentes. Foi quando decidiu que a sobreloja seria sua única solução para não se endividar. A precariedade das instalações não o assustaram, o luxo e conforto nunca fizeram parte de sua vida laboriosa.
Esse passado recente passava por sua mente como se estivesse assistindo a um filme, e não se recordando de fatos de sua própria vida. Que vida? Questionou-se sentado ali naquela cama confortável, cheirando a lavanda, com os lençóis impecavelmente arrumados, naquele quarto à meia luz, tão tranquilo e acolhedor como só se recordava do colo de sua mãe. Subitamente, deu-se conta de que nunca tivera uma vida, pelo menos não uma só sua. Suas vontades não eram propriamente suas, eram sempre as da Beatriz ou das crianças. O que tinha feito em benefício próprio ao longo desses anos de tanto trabalho? Nada. Sentiu uma opressão no peito, essa não advinha da pneumonia, era fruto de um desgosto profundo. Ele não se sentia arrependido por prover a família, não, não era isso. Quando soube que a Beatriz estava grávida dele, sabia que seu papel era o do provedor. Não abriria mão disso. O que lhe doía agora, era saber que talvez, afora ele, ninguém deu importância a isso. Sentiu-se derrotado ela primeira vez. Estava a depender da misericórdia de um estranho para encostar seu corpo dolorido e fatigado num lugar aconchegante.
- O jantar está pronto! Conseguiu descansar um pouco? Está faltando alguma coisa? Quer tomar um banho antes do jantar? – perguntei, ao ter com meu hóspede.
- Está tudo bem, obrigado! Não se incomode.
- Então venha jantar!
- Não, obrigado! – respondeu, embora seu estômago estivesse colado nas costas.
- Você não vai querer que eu te arraste até a cozinha, vai? É claro que você deve estar com fome, faz horas que não come nada. – retruquei exigente.
O aroma de comida invadira o quarto assim que a porta foi aberta, e ele não ia discutir com seu anfitrião, primeiro porque estava faminto, segundo, porque ele parecia ser do tipo de sujeito que não se deixava levar por alguém confuso como ele estava agora. Comeu feito um leão esfomeado. Não se lembrava de ter tido uma refeição tão simples e, ao mesmo tempo, tão bem-feita e saborosa. A Beatriz detestava cozinhar. Tinham que pedir comida caso quisessem fazer uma refeição minimamente descente.
Eu observava meu hóspede comendo em silêncio, querendo saber o que se passava em sua mente. Pelo cenho franzido parecia não ser boa coisa, preocupações talvez, aventei entre as possíveis hipóteses. No entanto, fiquei contente por vê-lo devorar minha comida com aquele apetite voraz.
- Está boa?
- Muito! Maravilhosa! Faz tempo que não como nada tão saboroso. – devolveu, amenizando a animosidade do semblante. – Obrigado!
- Não precisa agradecer! Fico feliz que goste.
Fui para cama naquela noite com o coração leve. Fazia muito tempo que não me sentia assim. Não era pelo fato de dar abrigo àquele homem, mas por sentir que estava sendo produtivo e útil outra vez. Embora o Samuel não soubesse, era eu quem precisava agradecê-lo por estar devolvendo o sentido da minha vida.
Entrar naquela cama foi para o Samuel como retornar a um útero seguro e acolhedor. Um perfume tão suave que mal se podia identificar estava impregnado nos travesseiros e nos lençóis que, ao toque com sua pele, tinham a maciez adamascada de um pêssego. Sua mente ainda estava conturbada, mas ia conseguindo se tranquilizar à medida que aquele perfume ia embriagando seus pensamentos. Deu-se conta de que também nisso a Beatriz nunca foi muito caprichosa. A cama que dividia com ela cheirava a sabão, a roupa de cama era algo áspera; às vezes, quando iam dormir à noite, ela ainda estava desfeita como fora deixada naquela manhã. Por que ele nunca reclamou? Ele não saberia responder. Tinha sido condescendente demais, foi o que concluiu. Lembrou-se também que não era apenas a cama que não estava arrumada, a casa toda sempre precisava de arrumação. A Beatriz reclamava que eram as crianças, quando não ele próprio, ao se esquecer de uma latinha de cerveja na mesa lateral do sofá depois de ter assistido a uma partida de futebol, os responsáveis pela bagunça que reinava na casa. Porém, não era. Era ela, no dia-a-dia, quem pouco se importava com essas pequenas coisas, só reclamando quando recebiam visitas ou quando a empregada faltava. Por que ele havia deixado tudo isso passar batido? A culpa era daquele corpo, daqueles seios, daquelas ancas. Seu casamento se resumia àquela buceta, constatou surpreso. Enquanto sua rola mergulhava naquela vagina parecia não haver problemas; ou ele não se apercebia deles, pois estavam lá desde o início, naquela gravidez inesperada, à qual ele já não atribuía a obra do acaso como causa. Não estava arrependido de ter os filhos, amava-os de todo o coração. Mas, podiam ter vindo quando ele estivesse preparado para isso, quando não precisasse abdicar de seus sonhos e de seu futuro por eles. Teria a Beatriz sido tão ardilosa a esse ponto, prendendo-o numa relação para sair do jugo castrador do pai? Por que só agora essa hipótese se apresentava diante dele?
O Samuel olhava o teto, estava com sono, mas não o conciliava. Ao lembrar-se da mulher, da buceta morna e úmida, do corpo que há meses não tocava, sentiu tesão. A pica endureceu e ele precisou ajeitá-la dentro da cueca. Quando a mão a tocou, sentiu que precisava se masturbar. Fazia dias que não batia uma punheta. Os colhões cheios sempre o deixavam irrequieto, talvez fosse por isso que não conseguia pegar no sono. Ele fechou a mão ao redor da jeba, retraiu lentamente a parte do prepúcio que cobria a cabeçorra. Repetiu o gesto uma, duas, três vezes, o pau ganhava consistência em sua mão, engrossava, endurecia. Dali há pouco sua mão se movimentava impulsivamente, o sacão balançava pesadamente entre as pernas que havia aberto para liberar os genitais. A musculatura de sua pelve enrijecia junto com o pinto. A fricção dos dedos enrodilhados no cacetão o enchia de prazer, ele acelerou os movimentos até sentir que os músculos que sustentavam seus testículos se contraíram e, uma deliciosa sensação de alívio se apossou dele, à medida que a porra espirrava em jatos potentes e fartos, e voavam a uma boa distância, sendo amparados na cueca que ele havia tirado especialmente para se limpar sem macular aqueles lençóis castiços. Minutos depois, estava ressonando baixinho, imerso num sono profundo e reconfortante.
Acordou na manhã seguinte se sentindo um novo homem. Demorou a se decidir por sair da cama. Ouviu sons vindos da cozinha e suas narinas foram invadidas pelo aroma de café. Não queria que seu anfitrião tivesse o trabalho de vir acordá-lo, vindo a encontrar a cueca suja largada no chão e, cobrindo apressadamente sua nudez e a habitual ereção matinal, seguiu rumo ao banheiro onde se enfiou sob o chuveiro. A água morna que descia por seu corpo terminou de despertá-lo, bem como ao desejo de repetir a sensação que tivera na noite anterior, uma vez que a pica continuava à meia-bomba mesmo após ter aliviado a bexiga. Enquanto a ensaboava, o tesão aumentava. Ele segurou a caceta firmemente na mão e começou a se masturbar. Além da satisfação de sentir a mão distendendo a jeba, seus pensamentos voltavam a se concentrar nos seios da Beatriz que por tantas vezes tivera na boca e, no clitóris dela que precisava de muito estímulo para leva-la ao clímax, aumentando o prazer que se somava ao da água tépida caindo sobre ele. Em meio à tensão atingindo o orgasmo, viu o primeiro e espesso jato de porra espirrar contra o vidro do box, exatamente no instante em que seu anfitrião entrava no banheiro com toalhas dobradas nos braços anunciando que eram para ele. Nem o constrangimento daquele olhar fixo em seu sexo rijo foi capaz de interromper as esporradas abundantes que continuavam a minar da cabeçorra. O Samuel se sentiu como um adolescente flagrado pelos pais com revistas pornográficas enquanto se masturbava. Tinha a certeza de ter trancado a porta do banheiro e, não conseguia atinar como seu anfitrião invadira o ressinto flagrando-o tão vergonhosamente. Para piorar a situação, ao voltar para o quarto, não encontrou suas roupas usadas do dia anterior, nem aquela cueca cheia de porra. Por uns instantes, ficou a meditar sobre o destino delas e, no que estaria pensando o José a respeito dele. Certamente havia concluído que ele era um pervertido, um depravado que não conseguia controlar seus instintos e vivia se masturbando pelos cantos. Ao seguir para a cozinha depois de se recompor, encontrou uma mesa posta aguardando-o. Havia dois lugares à mesa, tão cuidadosamente arrumados que pareciam ter sido montados para uma daquelas cenas de comerciais. Sobre o prato, de cima de duas panquecas entremeadas de frutas, escorriam lentamente fios de um mel transparente.
- Bom dia! Dormiu bem? A cama estava confortável?
- Sim, dormi como um anjo. Estava tudo maravilhoso!
- Que bom! Agora trate de se alimentar. Gosta de panquecas? Estou terminando uma omelete.
- Não precisa ter todo esse trabalho comigo.
- Gosta de panquecas ou não? – repeti, sem dar bola para suas palavras.
- Quero me desculpar pelo que acabou de ver agora há pouco no banheiro. – sentenciou, sem coragem de me encarar.
- Esquece! Você é um homem cheio de energia, saudável, nada mais natural do que dar vazão ao tesão cumulado. – retruquei. – Afinal, gosta de panquecas ou não? – insisti, para que aquele assunto embaraçoso não o deixasse constrangido.
- Você quando encasqueta uma coisa na cabeça não se deixa abalar, não é? – questionou ele.
- Quando os argumentos não são razoáveis, não, não deixo! – respondi. Ele sorriu. Foi quando me conscientizei de que, desde que o conheci, ele nunca tinha sorrido.
- Em outras circunstâncias eu ia brigar com você! Não costumo aceitar que me digam o que devo fazer, nem que se metam na minha vida desse jeito. – retrucou ele.
- Ainda bem! Pois eu também não aceito que cabeças-duras que tomam porres para esquecer dos problemas da vida, reclamem quando se lhes quer prestar ajuda. – ele sorriu novamente, carrancudo, mas sorriu.
- Sei cuidar muito bem de mim! – exclamou, só para ter a última palavra.
- É, eu percebi! Inconsciente, ardendo em febre, jogado num sofá bem debaixo do fluxo gelado do ar-condicionado sem camisa num dia de temperatura baixa, cercado de latas de cerveja e garrafas vazias, é uma maneira bem peculiar de saber cuidar de si. – devolvi.
- Não acha que cada um resolve seus problemas à sua maneira? – indagou petulante, e contrariado por ter sido posto contra a parede.
- Acho, claro que acho! Mas, você pelo visto não sabe como resolver seus problemas, ou escolheu a maneira errada de fazê-lo! – revidei. Vi quando ele cerrou a mão livre que não segurava o garfo que levava à boca.
- E o que você sabe sobre eles? Não conhece meus problemas para saber que estou agindo errado!
- Não sei nada! Só sei que um homem como você não precisa se deixar derrotar seja lá que dimensão tenham seus problemas. E, que pode aceitar a ajuda de quem quer te ajudar sem que se sinta menos homem por conta disso!
- Por que quer me ajudar? Mal nos conhecemos!
- Porque é o que costumo fazer quando vejo que alguém precisa de ajuda. Não preciso de motivos para isso! – exclamei resoluto.
- Depois o cabeça-dura sou eu! – exclamou e riu.
Alguns dias depois, ele estava completamente recuperado. Voltara à loja e, já começava a agradecer a acolhida daqueles dias com a intenção de partir.
- E onde você vai morar? – perguntei, sabendo que aquilo não me dizia respeito e, principalmente, que ele não gostava de ter ninguém se enfiando em sua vida. Mas, foi mais forte do que eu.
- Provisoriamente na sobreloja. Não tenho como bancar coisa melhor, por enquanto. – respondeu, um pouco seco por eu estar invadindo seu espaço.
- Aquilo não é lugar para se morar! É uma bagunça danada! Como pretende viver num lugar como aquele?
- É o que tenho!
- Por que não continua aqui? O quarto vai ficar vazio se você for embora, o que seria um desperdício diante da sua necessidade. – questionei.
- No momento não tenho como bancar um aluguel, nem que seja de um quarto. – respondeu.
- E quem falou em aluguel? Estou falando do seu conforto, em condições mínimas de um lugar onde esteja melhor instalado.
- Não vou viver às tuas custas! Nem sonhe com isso! – retrucou, convicto e algo ofendido.
- Também não falei isso! Contribua com as despesas da casa, as mesmas que teria se estivesse morando naquela po..., naquele lugar. – sugeri, me interrompendo antes de usar um adjetivo degradante para a sobreloja.
- Não seria justo!
- Arre, cara! Você é osso duro de roer! – por pouco não deixo escapar que começava a entender o porquê de a mulher ter dado o fora nele, embora não soubesse nada sobre essa história. – Não acha que eu sei o que é ou não justo? – questionei.
- Tudo bem! Vou aceitar! Até porque discutir com você não adianta. – respondeu. – Mas, eu banco as despesas da casa, ou nada feito! – exclamou, num último ímpeto de não dar o braço a torcer.
- Feito! – sorri parcimoniosamente, procurando não só esconder a alegria que aquilo inexplicavelmente me causou, como para que ele não pensasse que eu estava me gabando.
No final daquele dia, quando ambos haviam encerrado seus expedientes, ajudei-o com a mudança, que consistia basicamente em suas roupas, pois havia deixado quase tudo na casa da ex-esposa. Ele era desajeitado, por isso arrumei suas roupas no armário de modo que as encontrasse com mais facilidade.
- Nunca vi minhas roupas tão bem arrumadas! – exclamou, enquanto acompanhava minhas ações sentado na cama.
- Vejamos se vai conseguir mantê-las assim. – devolvi, com um sorrido doce que ele retribuiu timidamente.
Enquanto jantávamos naquela noite, resolvi que seria prudente abrir o jogo com ele, pois esse tipo de homem tem, sabidamente, dificuldade para lidar com certas coisas, especialmente as que envolvem homossexuais como eu.
- Quero esclarecer algumas coisas com você, agora que estamos dividindo o mesmo teto. – minhas palavras foram capazes de fazê-lo se concentrar exclusivamente em mim. Ele deve ter pensado que eu ia desfilar um rol de exigências e regras, pois já havia notado como eu era meticuloso, organizado e sistemático, pela aparência impecável do apartamento.
- Claro! Pode estipular suas regras, prometo que vou tentar me adaptar a elas e, se por acaso eu não estiver conseguindo, dou-lhe toda a liberdade de me cobrar. – devolveu ele, corroborando o que eu havia imaginado.
- Não se trata de nada disso! Quero que se sinta totalmente à vontade aqui dentro, a casa também é sua, certo? – ele apenas acenou com a cabeça, mas percebi que não estava entendendo onde eu queria chegar com aquela conversa. – Bem! Vamos lá! O Damião, meu sócio, que você chegou a conhecer, não era apenas meu sócio, ele era meu marido. Eu sou homossexual e, ele e eu, tivemos um casamento que durou anos. Assim como você também sabe como nosso relacionamento terminou de forma trágica. Mas, onde eu quero chegar, é que não quero que você venha a se sentir constrangido se vir o Leo, como posso chama-lo, meu namorado, circulando por aí de vez em quando. Ele costuma passar uma ou duas noites comigo, mas te garanto que somos muito discretos e, vamos evitar de atrapalhar sua liberdade dentro de casa, ok? Você tem algum problema em relação a isso? – questionei.
- Não, não tenho. – respondeu sem convicção, como eu já esperava. – Eu até conheço um cara gay que foi meu colega de faculdade e, há alguns meses nos reencontramos por acaso dentro de um supermercado. – era a resposta típica de um hétero que tentava se justificar diante de uma situação com a qual não sabia como lidar. – A casa é sua, sou eu quem não quer atrapalhar a sua rotina. – emendou, mas seu desconforto era visível. Mesmo assim, contei-lhe toda a minha história e como o Damião e eu chegamos a São Paulo e montamos o restaurante. De alguma forma, depois disso, ele se mostrou um pouco mais sensibilizado, embora eu não conseguisse ver até onde ainda persistiam suas reservas quanto ao fato de estar morando com um gay.
- Quer dizer que seu pai te expulsou de casa? Deve ter sido muito duro. – balbuciou, depois de me ouvir até o fim.
- Foi cruel, não duro! Ele e meu irmão mais velho quase me mataram de tanta porrada. Mas, isso é passado, não quero encher seus ouvidos com meu drama familiar. Não vale à pena! – respondi.
- Você me disse que tem filhos. Seria capaz de fazer com algum deles, se viesse a descobrir que era gay, o que meu pai fez comigo? – indaguei. Ele engoliu em seco.
- Sim, tenho dois, uma menina e um menino, são adolescentes. Nenhum deles é gay! – exclamou, com tanta ênfase que fiquei propenso a encerrar o assunto por ali.
- Mas, digamos que, hipoteticamente, um deles fosse. O que você faria, como pai? – acabei por insistir, pois na minha cabeça um pai deveria amar e proteger seus filhos acima de qualquer outra coisa.
- Nenhum deles é gay! Eu já disse, e tenho certeza disso! – retrucou exasperado. Para mim, ele havia respondido minha pergunta, sem o saber.
- Ok! Não se sinta ofendido com a minha pergunta, por favor. Eu só gostaria de saber se todos os pais agiriam com o mesmo desprezo que o meu.
- Não me ofendeu! Eu que peço desculpas! Seu pai sendo um homem do interior, de um lugar onde os homens não estão acostumados a ter suas ordens discutidas nem com as próprias esposas, deve ter tido dificuldade de lidar com a situação. – argumentou, com sua visão machista.
- Então acabar com a vida de um filho gay para salvar, supostamente, sua reputação é algo aceitável num cafundó do Judas onde os homens é quem ditam as regras? – questionei.
- Eu não disse isso! Foi condenável o que ele fez com você!
- Condenável? – questionei, diante da ironia. Naquele momento eu soube que nunca mais tocaria nesse assunto com o Samuel.
Onde fui me meter, questionou-se o Samuel, finda aquela conversa cujo objetivo ele até agora não havia compreendido. No entanto, começava a montar em sua cabeça e à sua moda, uma situação que justificasse o porquê de todas as gentilezas com as quais o José o havia cercado. Era um gay a procura de um macho, disso não lhe restava dúvida. A oferta de trazê-lo para dentro de sua casa, as refeições que lhe preparava, o cuidado em acomodá-lo confortavelmente no quarto, a cama perfumada e impecável, a preocupação em lavar suas roupas e, particularmente suas cuecas com as próprias mãos, eram sinais nítidos de um ardil no qual ele caíra feito um pato, concluiu para dar verossimilidade à sua hipótese. Só ele não tinha interpretado as intenções por trás de tudo isso. Aquela estadia precisava ser abreviada o quanto antes, foi o que decidiu. Enquanto isso, tomaria todos os cuidados para que seu anfitrião não fosse além das gentilezas, vindo talvez a cobrar-lhe sexo como pagamento por tudo aquilo. Aquela súbita invasão do banheiro ainda o perturbava. Era certo que ele fez isso para me ver nu, para ver meu cacete, seu principal interesse, conjecturou. E, a partir de então, passou a trancar a porta do quarto todas as noites como prevenção. Pois, a suposição de, mais dia menos dia, seu anfitrião se atirar com ele na cama ganhava cada vez mais consistência. Havia aquela história do namorado; contudo, até agora, duas semanas depois de haver se mudado, ainda não vira o tal homem. Tudo podia não passar de uma história para tentar demonstrar que era compromissado e não estaria interessado em sua pessoa. Para ele essa era a visão ampla que tinha sobre tudo aquilo.
Embora sua cabeça estivesse cheia de questionamentos e, tivesse redobrado seus cuidados com o José, a terceira semana naquela casa já mostrava tudo o que ele nunca tinha tido durante os anos de casado. A Beatriz nunca fora uma dona-de-casa dedicada. Não que isso devesse ser uma condição para um bom casamento. Não, não era isso, ele não achava que mulheres deviam desempenhar esse papel, não era um machista. Mas, o que o José fazia não era desempenhar a Amélia de um macho. Havia algo muito mais sublime por trás de uma simples mesa bem-posta no café da manhã, numa iguaria que ele preparava não por obrigação, mas por prazer e, para demonstrar afeto e atenção. Assim era com a arrumação do apartamento e de seu quarto, com a dedicação às suas roupas; por trás disso não estava a função de serviçal, porém algo que ele nunca tivera por parte da esposa, carinho. Como pode ser tão cego e nunca ter percebido que era sempre ele a cercar a mulher de pequenos gestos de afeição, que jamais foram retribuídos e que, agora, esse gay lhe fornecia numa torrente tamanha que lhe plantava suspeitas na mente não acostumada a essas regalias? Se ele estivesse fazendo isso sem nenhuma segunda intenção, se sentiria um crápula por interpretar erroneamente gestos de amizade e carinho. E, foi o que começou a acontecer quando numa tarde de sábado, o tal namorado se materializou em carne e osso. Uma leve suspeita de já tê-lo visto anteriormente tomou conta dele ao cumprimenta-lo.
- Samuel, este é o Leo! Leo, Samuel, meu hóspede temporário! – ouviu o José mencionar ao apresenta-los. Subitamente, a palavra ‘temporário’ lhe soou como se também seu anfitrião, estivesse com a intenção de livrar-se dele. O porquê de isso lhe causar um incômodo ele ainda não conseguia explicar. – Talvez vocês até já tenham se visto antes. O Samuel é dono da loja de autopeças do outro lado da avenida onde fica o restaurante. E, o Leo é sócio naquela academia que fica a três quadras da esquina do restaurante. – esclareceu, o que o fez ter certeza de já ter visto o sujeito antes. E ainda, o fez decidir-se por uma saída. Para onde ainda não sabia, mas ia dar umas voltas para deixar os dois à vontade para fazerem sabe-se lá o quê. Ele é que não seria testemunha do que rolava entre gays.
Samuel rodou por horas, sem rumo, deixando o tempo passar. Ligou para alguns amigos, em sua totalidade casados e, que não estavam dispostos a trocar a companhia da família pela dele. Pensou em procurar uma puta, estava a tanto tempo só se masturbando que sentia a falta do calor de um corpo roçando o seu. Porém, ele só havia se valido dos serviços de uma prostituta, uma única vez em sua juventude, quando levado por um grupo de amigos do colégio, época em que os hormônios de todos fervilhavam em suas veias. Ele penetrou uma buceta tão frouxa que demorou a gozar, apesar do tesão que sentiu por estar com uma mulher pela primeira vez. A garota era nova, impaciente, uma vez que chegou a lhe perguntar se ele ia terminar logo com aquilo ou se pretendia passar o dia com o pinto entre suas coxas, o que quase o fez brochar. Foi preciso procurar inspiração em imagens armazenadas em sua mente, pois a depender daquela buceta laceada não ia gozar nunca. Essa lembrança logo o fez demover da ideia de procurar uma puta. Ele não tinha amigas. Essa constatação o estarreceu. A Beatriz havia afugentado todas logo nos primeiros anos de casados. Cada vez que pensava em seu passado com aquela mulher, descobria que havia aberto mão de muita coisa em nome de uma fidelidade que jamais foi recíproca. Ele se sentiu um tolo. Tinha bancado o sustento e os caprichos de uma mulher que lhe dera pouco em troca, além dos filhos, é claro. Esses eram seus únicos tesouros. Ligou para ambos, estavam entretidos com outras coisas, com os amigos, com assuntos com os quais não queriam dividir com um pai que já não morava mais com eles. Ele estava só, foi o que restou do casamento fracassado. Entrou num bar disposto a encher a cara. Não ia solucionar seus problemas, mas o ajudaria a não pensar neles. De repente, lembrou-se da discussão com o José, - SÓ SEI QUE UM HOMEM COMO VOCÊ NÃO PRECISA SE DEIXAR DERROTAR SEJA LÁ QUE DIMENSÃO TENHAM SEUS PROBLEMAS – dissera ele, acusando-o de ser um fraco e não querer aceitar ajuda. Ele ia provar para aquele gay que estava errado, que ele sabia sim como lidar com seus problemas. Pediu uma água com gás ao barman de olhar estarrecido ante seu pedido, deglutiu-a em goles lentos, que desciam com dificuldade por sua garganta travada, e voltou para casa.
O apartamento estava imerso à meia-luz. Adentrar nele lhe trouxe conforto. Um som abafado vinha do quarto do José, logo identificou-o como parte de um filme que já havia assistido, algo um pouco sem sal, romântico demais para seu gosto; bem como a voz grave do Leo. Seguiu direto para seu quarto e trancou a porta. Ao terminar de fazê-lo, sentiu-se ridículo. Um homem em pleno vigor de seus trinta e seis anos temendo que um gay se interessasse por seu corpo e o molestasse. Era certo que não o tinha tão bombado quanto o do sujeito que estava com ele na cama no quarto ao lado, mas ele tinha plena ciência de que seu corpo de macho era desejável, sempre o foi. Ele estava faminto, sentia a barriga roncando. Devia ter comido alguma coisa, pois hoje certamente não contaria com alguma surpresa deliciosa em seu prato para o jantar. Era tarde demais para sair ou pedir alguma coisa. Hoje o felizardo a receber uma bela refeição tinha sido aquele sujeito que agora devia estar pagando a conta enfiando a rola naquela bunda carnuda. De repente, veio aquela vontade de mijar. Teria que passar diante da porta do quarto onde a orgia devia estar acontecendo para alcançar o banheiro. Soltou alguns palavrões em pensamento. Deixou que se passassem mais uns dez minutos, a porra daquela vontade de aliviar a bexiga se tornava urgente. Criou coragem e caminhou a passos surdos até o banheiro. Um jato grosso atingiu a água dentro da bacia tão ruidosamente que ele receou que pudesse ser ouvido pelos dois. Voltou ao quarto, aliviado, com o mesmo cuidado; nenhum som, além do da televisão ligada, saiu do quarto pelo qual passou. Eles já deviam ter trepado enquanto ele estava fora, pensou, ou talvez, ainda fossem transar após o fim do filme. Deitou-se só de cueca com ambas as mãos apoiando a cabeça e ficou mirando o teto. Havia um enorme vazio em sua alma, pela primeira vez tomava ciência disso. Adormeceu sem o notar.
O domingo amanheceu chuvoso. Samuel acordara tarde, contrariando seu costume. Ouviu que o José já estava acordado, provavelmente fazendo o café da manhã para seu homem. Sua barriga não demorou a reclamar. Teria que sair para tomar café em alguma padaria próxima, pois não ia segurar vela para os pombinhos apaixonados depois de uma noite de luxúria. Ele estava se vestindo quando o José bateu à porta de seu quarto, sobressaltando-o.
- Você está acordado, Samuel? O café está pronto! Se quiser pode vir. – ouviu com aquela voz convidativa do José.
- Bom dia! – cumprimentou, após abrir rapidamente a porta do quarto.
- Bom dia! Te acordei? Me desculpe, tenho o hábito de acordar cedo e me esqueço que nem todo mundo gosta de acordar cedo aos domingos. – mencionei, diante da cara sonolenta, inchada e de cabelos desgrenhados que me atendeu.
- Não! Eu já estava acordado, pretendo tomar meu café numa padaria ou algo assim. – afirmou ele.
- Puxa! Não pensei que fosse se enjoar da minha comida tão depressa! – exclamei.
- Não! Não é isso! Não quero atrapalhar você e o Leo. – devolveu, terminando de ajeitar a camiseta de forma a esconder a imensa ereção matinal debaixo da bermuda.
- O Leo já foi para casa faz tempo! Assistimos a alguns filmes juntos e depois ele foi para casa. – esclareci, não sei porque.
- Ele não dormiu aqui? – mal terminou a pergunta e o Samuel já se arrependeu de tê-la feito. O que ele tinha haver com se o sujeito dormia ou não com seu anfitrião?
- Dessa vez não! Ele tem um compromisso familiar hoje pela manhã.
Para o Samuel aquele café da manhã foi mais do que prazeroso, não só pelo que estava em seu prato, mas pela conversa descontraída que perdurou até o meio daquela manhã, que a garoa fina que continuava a cair lá fora, obrigava a ficar recolhido no abrigo de um lugar aconchegante, e isso aquela casa tinha de sobra. Um imenso desejo de se abrir com o José se apossou dele. Ele não saberia explicar, mas algo naquele rosto de sorriso meigo, lhe inspirava uma confiança que jamais tivera com outra pessoa. E, ele começou a relatar sua vida. Podia estar sendo inconveniente, chato até; porém, algo lhe dizia que o José o ouviria, sem julgamentos, sem críticas, sem se mostrar entediado pelo desabafo de um homem que já não tinha com quem dividir suas agruras. Ele lhe contou como a Beatriz lhe pedira, de um dia para o outro, o divórcio. Em sua cabeça, o casamento deles era como qualquer outro, não havia grandes problemas que não pudessem ser contornados. Foi só quando ela verbalizou sua intenção de se separar que ele percebeu que havia uma barreira ameaçando o futuro da família que constituíra à custa de muito sacrifício pessoal. Foi quando começou a compreender aquela falta de interesse dela pelo sexo, sempre inventando desculpas para não transarem, deixando-o com aquela sensação de insatisfação atormentando sua pica. Foi quando notou que as prioridades dela, que já nunca tinham sido muito relacionadas à casa, aos filhos e a ele passou a se concentrar com uma preocupação exagerada com a própria aparência, ao corpo, no qual ele não via defeito algum, e na amizade com algumas amigas das quais ele pessoalmente não gostava muito, por serem mulheres frívolas sem um objetivo de vida que não girasse em torno compras e viagens bancadas pelos maridos. Ele não se considerava sovina, sempre suprira todas as necessidades dela e dos filhos, mas era um homem que dependia de seu trabalho para sustentar a família. Não era do tipo que contava com grande suporte financeiro para bancar luxos e excessos, embora tivessem uma vida confortável. Até o momento, ele atribuía a crise no casamento ao tédio que a rotina impõe aos casais. Era uma questão de tempo para se reconciliarem e tudo voltaria aos eixos, pensava.
- Acredita mesmo nisso? – perguntei, ao término de seu relato.
- Com certeza! Talvez você não saiba, mas mulheres são complicadas. Nunca tente entender o que se passa na cabeça delas, pois jamais vai conseguir. – afirmou, numa ingenuidade que cheguei a achar piegas.
- Talvez para quem não as saiba ler com os olhos certos! – exclamei.
- Como assim?
- Enquanto você está indo com as espigas, elas já estão voltando com o fubá! Nada nelas é feito sem caso pensado, avaliado e concluído onde se darão melhor. Faz parte da natureza delas. Algo tão instintivo quanto escolher dentre todos os machos aquele que melhor vai lhe garantir a prole e as comodidades. Não conheço sua esposa, mas ao pedir a separação, me parece que ela já tomou uma decisão definitiva de não ficar com você. – não sei porque disse isso, não queria magoar ainda mais aquele homem cuja angustia estava estampada na cara.
- Bem se vê que você não conhece a Beatriz! Ela está em crise, só isso! – exclamou o infeliz, sonhando com uma reconciliação que eu via como impossível.
- Tomara que seja apenas isso! – devolvi.
Afinal de contas, dividir o mesmo teto com um gay não estava sendo tão ruim quanto o Samuel havia imaginado. Já não havia mais tanta precisão de se mudar logo dali. O tal namorado de corpo sarado, que ele acabou constatando não ser gay, era até simpático, tinha um bom papo e parecia ser muito atencioso com o José. Ambos eram muito discretos, e ele nunca chegou a presenciar qualquer ato libidinoso entre os dois na área comum do apartamento. Quanto ao que acontecia naquele quarto, onde jamais havia entrado, não lhe dizia respeito. Seu anfitrião também nunca extrapolou o acordo que haviam firmado, nunca deu em cima dele, ou se insinuou de alguma forma impudica. Era sim muito carinhoso, se mostrava preocupado com seu bem-estar, cuidava dele como só sua mãe havia feito, amorosa e desinteressadamente. A única coisa que o perturbou um pouco e, ele não saberia dizer porque, foi o fato de um dia ter flagrado o José debaixo do chuveiro. Foi acidental, culpa daquela fechadura que ele já decidira consertar uma hora dessas. Ele estancou assim que abriu a porta e viu o José de costas, tirando a espuma dos cabelos. A água descia pelas curvas daquele corpo perfeito carregando a espuma, fazendo-a escorrer para dentro daquele rego que separava as duas carnudas e avantajadas nádegas. O esplendor daquele corpo estava nos detalhes, tinha um misto de feminino e masculino. Havia músculos, sem nenhum exagero, definindo-o como os de um homem, apenas trazendo aquela aparência de força comum aos machos. Em uma harmonia única, havia contornos tão sensuais e desejáveis quanto os de uma mulher, tanto pela delicadeza, quanto pela exuberância de formas. A pele que o revestia, tão clara e lisinha, parecia a de um recém-nascido. Não havia pelos, exceto os discretos e amendoados pubianos, cobrindo-o. O que o tornava ambiguamente mais feminino, sem efetivamente o ser. Era nessa dubiedade que repousava toda a sensualidade dele, todo o tesão que era capaz de despertar, toda a pureza que parecia camuflar. Enfim, algo perturbadoramente difícil de compreender.
- Você gostaria de conhecer meus filhos? – perguntou-me certo dia, pouco antes de sair para o fim de semana que havia sido combinado de ele ficar com os filhos.
- Claro! Também se você quiser, podemos providenciar alguma acomodação para eles aqui em casa, para quando quiserem passar o final de semana todo com você. Não temos muito espaço sobrando, mas dá para dar um jeito com boa vontade. – ofereci.
- Enquanto não tiver meu próprio canto prefiro que não! Seria atrapalhar demais a sua comodidade, até um abuso! – exclamou. Por que não me surpreendi com sua resposta?
- Bem, se eu também não for atrapalhar seu encontro com eles, tudo bem ir conhecê-los. – devolvi.
- Será um prazer devolver um almoço para você na companhia deles. – respondeu.
Tanto a garota de treze anos, quanto o menino de doze, não se mostraram muito receptivos à minha presença, o que eu já esperava por se tratar de adolescentes, quando adentramos ao fast-food onde eles haviam sido deixados pela mãe, à espera do pai. Para mim pouco me importava, uma vez que malcriações de pirralhos nunca influenciaram meu humor. Contudo, o descaso com o pai não me passou despercebido. Entre as implicâncias próprias da idade, eles estavam mais preocupados com seus celulares do que com uma conversa com o pai que já não fazia mais parte de seu cotidiano. O Samuel precisou chamar a atenção deles por diversas vezes, enquanto trocavam mensagens com amigos do colégio, jogavam aqueles joguinhos de som irritante, que foi ensurdecido pelo uso de fones de ouvido quando o pai os advertiu. Estávamos num daqueles fast-foods de comida insossa, duvidosa e engordante por sugestão dos garotos. O que também não me incomodou, ante a pequena porção de batatas fritas e o suco que pedi. O Samuel parecia digladiar com ambos por atenção, perguntando como tinham sido os últimos dias desde que se viram pela última vez, quando o celular da garota tocou.
- É a mamãe disse ela! – começando a conversar com a mãe. O Samuel se irritou em dado momento e pediu que ela desligasse o telefone. Demorou para ser atendido.
- Desliga essa porra, Michele! – exclamou, com a voz alterada pela raiva.
A garota continuou como se a advertência não fosse com ela, até que, em certo ponto da conversa, deixou a entender que a mãe estava com um tal de Fabrício. O Samuel arrancou o celular da mão da garota e começou a berrar com a ex-esposa. Eu e os fedelhos ficamos nos encarando em silêncio. Ao desligar, o Samuel se virou para os filhos e perguntou se a mãe estava se encontrando com o sujeito. Ambos se entreolharam temerosos de confirmar as suspeitas do pai. Em poucos minutos, ficamos sabendo que o instrutor de academia, que ela passara a frequentar por influência de uma amiga, já vinha frequentando a casa da ex-esposa desde o dia em que o Samuel saiu pela porta da frente. Os garotos pareciam encarar a mudança com a maior naturalidade, o que deixou o Samuel não só perplexo, como ainda mais irritado. Eu só queria sumir dali. Aquele drama familiar não me dizia respeito, e eu queria distância de confusões matrimoniais. Com uma desculpa qualquer, levantei-me assim que o motorista do Uber que eu havia chamado, avisou que acabara de chegar ao local combinado.
Não sei por onde ele perambulou, pois voltou tarde para casa. Eu já estava na cama quando o ouvi chegar. Fiquei a refletir se seria adequado abordá-lo, ou se seria melhor deixar a poeira abaixar para conversar com ele. Fui ter com ele no quarto com um copo de leite morno nas mãos. Ele havia terminado de se despir e me mandou entrar assim mesmo quando bati à porta.
- Tudo bem? Eu não sabia se você tinha jantado, por isso trouxe esse leite para forrar o estômago. Está com fome? Posso preparar alguma coisa rapidinho. – ele ficou olhando para mim e demorou uns instantes antes de responder.
- Não, obrigado! Me perdoe pelo vexame de hoje!
- Esqueça! Não foi nada.
- Esquecer como? Me diga como é que se esquece de virar o marido traído por uma mulher pela qual você abandonou tudo, seus estudos, sua carreira, seus sonhos, só para nunca deixar que lhe faltasse, e aos filhos, nada do que precisavam? Me diga como é que se esquece que trabalhando feito um mouro você pagava um sujeito cheio de músculos para foder com a sua mulher, bem debaixo do seu nariz? Me diga como é que se esquece que essa mulher, durante anos de casados, nunca te fez um agrado, nunca cuidou de suas necessidades básicas, nunca deu valor ao que você fazia por ela? – questionou.
- O que você acaba de enumerar só vem a comprovar uma coisa, o homem excepcional e maravilhoso que você é. A grande perdedora nessa questão é ela, e não você! É nisso que você deve se apegar, e no que vai fazer com o seu futuro. – respondi.
- Eu assinei um acordo de divórcio que a favoreceu em tudo, achando que havia uma chance de voltarmos a nos entender, que tudo não passava de uma crise. No entanto, ela não perdeu um segundo para colocar o sujeito dentro da minha casa, da casa cujas contas eu custeio. Você pode acreditar que exista uma pessoa tão burra quanto eu?
- Você não é burro! Sua boa índole o impediu de enxergar o óbvio, apenas isso!
- Eu estou nessa situação, dependendo de favores alheios para ter um teto, por que fui um asno e continuo sendo ao sustentar aquela vagabunda! Eu vou foder com a vida dela! Juro, eu vou foder com ela! Tudo aquilo que ela me negou nos últimos tempos de fazer com aquela buceta eu vou fazer com a vida dela! – exclamou, furioso.
Eu me aproximei dele, coloquei a caneca de leite em suas mãos e, acariciei seus cabelos enquanto ele sorvia a goles largos o conteúdo que, aos poucos, foi restabelecendo a tranquilidade de sua respiração.
- Deite-se e procure dormir! Amanhã você vai enxergar as coisas de outra maneira. – dei-lhe um boa noite e o deixei com seus pensamentos. Não sei como foi sua noite, mas no dia seguinte ele estava cedo em pé e seguiu para o trabalho como se a véspera nunca tivesse existido.
Nas semanas seguintes percebi que ele estava tomando providências em relação ao divórcio mal resolvido. Ele se encontrou com um advogado numa das mesas mais reservadas do restaurante. Conversaram durante mais de duas horas antes de ele vir até o balcão e me contar que iria solicitar judicialmente a revisão do acordo de divórcio. E, que o advogado havia lhe dito que só lhe caberia custear a pensão dos filhos enquanto não atingissem a maioridade. Ele decidiu que seguiria as orientações do advogado, com a ressalva de também bancar os estudos dos filhos, mas que colocaria a casa onde haviam morado à venda e dar a ex-esposa a parte que lhe cabia. De resto, não lhe daria mais um único centavo, no que estaria amparado legalmente segundo o advogado.
- Fico feliz por você! Isso te devolverá o controle de sua vida, e nós vamos comemorar juntos quando tudo se resolver, combinado?
- Você é muito especial José! Muito especial mesmo! Nunca conseguirei retribuir tudo o que tem feito por mim. – afirmou, apertando minha mão entre as dele.
O Samuel estava mais solto no convívio cotidiano. Reparei que já não trancava mais as portas, tanto do banheiro quanto do quarto, quando se encontrava lá dentro. Aliás, depois de anos da fechadura do banheiro com defeito, ele se pôs a consertá-la, e ela voltou a trancar, coisa que o Damião estava para fazer antes daquela fatídica viagem.
Enquanto isso, o Samuel se questionava o que atraia tanto mulheres e gays nesses caras, ratos de academia, que desenvolviam músculos para facilitar seu acesso a bucetinhas e cuzinhos ávidos por uma bela rola. Ele nunca se sentiu à vontade na presença do Leo, algo o incomodava naquelas visitas que ele fazia ao seu anfitrião. Houve uma em particular que não lhe saia da cabeça.
Era uma quarta-feira, o movimento na loja tinha sido bem abaixo do costume durante toda aquela tarde e, ele resolveu que passaria pelo restaurante para dar uma carona ao José que sempre voltava para casa um pouco mais cedo do que ele.
- O patrão já foi, seu Samuel! – afirmou-lhe um dos garçons habituado a servi-lo.
Ao chegar no apartamento, viu a mochila e as chaves do carro do Leo num dos cantos do sofá. Reinava um silêncio entre aquelas paredes onde o anoitecer projetava sombras sobre a mobília com a entrada das luzes que iam se acendendo nas ruas lá fora. Ele vinha apertado, segurando a vontade de urinar, desde a metade do caminho, por isso foi até o banheiro. A porta do quarto do José estava ligeiramente entreaberta, e por ela saíam sussurros que seus ouvidos não estavam dispostos a ouvir. No caminho de volta para seu quarto, pode vislumbrar através da fresta da porta e, de um espelho fixado na parede oposta à cama, o reflexo de tudo o que acontecia em cima dela. José e Leo, ambos nus, trocavam um beijo acalorado e longo, abraçados um no outro. Lenta e sedutoramente, o José descia pelo tronco vigoroso do namorado, depositando beijos esparsos que seguiam direto rumo à virilha do sujeito. De repente, parecia que seus pés haviam sido fincados no chão e ele não conseguia dar mais nenhum passo em direção ao seu quarto, sem antes observar aquela cena e, as que se seguiriam, com a atenção concentrada exclusivamente nelas. Aqueles dedos delicados, longos e finos, da mão suave do José pegaram aquela pica portentosa com tanto cuidado e zelo que ele chegou a sentir uma comichão em sua própria. Acariciando-a carinhosamente por uns instantes, o José se aproximou dela e a colocou na boca. Tudo acontecia tão devotamente que parecia que o José idolatrava aquele falo como se estivesse idolatrando uma divindade. Uma ereção incontrolável começou a se formar dentro da calça do Samuel. As lambidas, beijos e afagos do José naquela rola iam seguindo em direção aos testículos do macho que se mantinha ajoelhado sobre a cama com as pernas afastadas para que o José tivesse pleno acesso ao seus genitais. Ele nunca vira alguém fazendo um boquete tão carinhoso num homem, nem naqueles filmes pornográficos que assistira nos seus anos pré-casamento. O Leo soltava o ar por entre os dentes, enquanto o José o chupava voraz e devotamente. Os minutos iam passando e o Samuel parecia ter mergulhado de corpo e alma nas cenas que presenciava. Enquanto o José trabalhava a pica de seu macho num empenho jamais sonhado por ele, o Leo ia se descontrolando, perdendo o controle sobre seu corpo levado pelo tesão que aquela boca macia e dedicada provocava no pauzão duro. Os grunhidos que saiam de sua garganta, roucos e abafados, comprovavam isso. Até que, em dado instante, quando até a expressão do rosto do Leo se contraiu, e ele agarrou a cabeça do José enfiando-a em sua virilha e, por conseguinte, a pica até a garganta dele, um rugido demonstrou que ele começara a gozar na boca de seu anfitrião. E, este, ia engolindo aquela porra toda, da qual ele conseguiu ver um jato escapando e atingindo em cheio o rosto do José, que só afastou a boca daquela jeba depois de tê-la limpado completamente com suas lambidinhas sensuais. O pau dentro de suas calças, duro como nunca, estava doendo. Seus colhões estavam tão abarrotados que pareciam querer estourar. Engolido o sumo de seu macho, José se enroscou em seu tronco, beijou-o e foi beijado longa e sensualmente. Leo apertava aquelas nádegas volumosas, vasculhava devassamente o rego estreito com uma das mãos, provavelmente procurando pelo cuzinho que devia estar tão profundamente arraigado no reguinho que praticamente toda sua mão desaparecia lá dentro. Os dois tinham o olhar preso um no outro, o do José, meigo e permissivo; o do Leo depravado e concupiscente. Beijaram-se mais uma vez como se quisessem se fundir um no outro. O instrutor de academia desceu da cama, firmou os pés ligeiramente afastados ao lado dela e girou o corpo do José de modo a abraça-lo por trás. Encaixaram-se um no outro. As mãos do macho deslizaram lentamente sobre o ventre e tronco do José, antes de agarrarem os peitinhos dele e apertarem os biquinhos dos mamilos entre os dedos vigorosos dele. José se entregava a ele, arrebitando a bunda contra a virilha e o cacete empinado, ao mesmo tempo que jogava a cabeça para trás no ombro do sujeito. Este desceu um dos braços e envolveu cintura do José prendendo-o contra seu corpo, com a outra mão, guiou o caralho para dentro do rego e, segundos depois, um ganido que exprimia simultaneamente dor e satisfação, escapou dos lábios do José, penetrado pela verga do macho. Aquele ganido deixou o Samuel alucinado de prazer. Lembrou-se de ter ouvido algo semelhante, embora ainda muito distante da lascívia envolvida no que acabara de ouvir, no dia em que desvirginou a Beatriz. De repente, percebeu que tinha gozado na calça. Temendo que notassem sua presença, ele se fechou em seu quarto. Tirou as roupas, jogou-se sobre a cama, o perfume dos lençóis invadiu suas narinas, e ele começou a manipular o cacete. Seus dedos logo estavam melados de porra, e o cheiro dela começava a impregnar o ar do quarto. Masturbou-se procurando um alívio para aquele desconforto que ainda dominava seu corpo e sua mente. A imensa quantidade de porra que saiu de sua jeba, em mais uma gozada e, que ele infelizmente não conseguiu aparar toda na cueca que usou para isso, acabou por se espalhar também sobre o lençol. Ele sucumbiu ao cansaço e adormeceu, convicto de que nunca tinha feito sexo como vira aqueles dois fazendo, tão pleno, tão intenso, tão afetuoso que chegava a envolver cada célula daqueles corpos.
Mesmo adormecido, o Samuel conseguia perceber seu sono agitado. Havia uma inquietude em seu corpo que não lhe permitia relaxar. Sonhou que estava transando. Segurava em seus braços o corpo no qual sua rola estava penetrada, um corpo delicioso, que não só se deixava penetrar por sua voracidade, mas que o recebia cheio de ternura e o aconchegava. Ele estava tão aderido a ele que podia sentir seu calor e o perfume que emanava dele, como um ópio viciante. Que perfume era esse, questionava-se no sonho. Tinha o aroma das refeições que o José lhe preparava, tinha o cheiro de lavanda dos lençóis que acolhiam todas as noites seu corpo cansado e, tinha um perfume ao qual ele não conseguia atribuir uma origem. Ao mesmo tempo em que pensava nisso, ele movia o caralhão numa cadência urgente e prazerosa para dentro e para fora daquele corpo que se tornava cada vez mais presente em seus braços. A sensação de que conhecia aquele corpo se tornava mais e mais perturbadora. Embora não houvesse um rosto, ele sabia a quem ele pertencia, mas não conseguia identifica-lo. Só podia ser o da Beatriz, dizia-lhe a razão. Mas, ele sabia que se fosse conferir o rosto não encontraria o dela. Quando o prazer o dominou por completo, junto com o orgasmo veio o susto que o fez acordar sobressaltado. O rosto que até então não conseguira identificar, era o do José e, para piorar a situação, ele estava, mais uma vez, todo esporrado. Ficou puto consigo mesmo por não ter vestido uma cueca limpa depois de ter se masturbado ao se deitar, agora sua porra se espalhava numa mancha gigantesca sobre o lençol. Determinado, sabia que a primeira coisa que teria que fazer na manhã seguinte era jogar toda aquela roupa com seu esperma impregnado nelas na máquina de lavar, antes que o José visse, novamente, como suas necessidades de macho extravasavam aparentemente sem nenhum autocontrole.
Na manhã seguinte, levantou cedo e se meteu debaixo do chuveiro. Tomaria um banho rápido e, antes do José acordar, jogaria o amontoado de roupa esporrada na máquina de lavar. Só que, ao voltar para o quarto, elas já não estavam mais lá. A cama estava arrumada e coberta com lençóis limpos e, da cozinha vinha um tilintar familiar de alguém preparando o café. Sentiu-se avexado por ter que encarar o José que, àquelas alturas, já devia ter a certeza de ele ser um tarado descontrolado.
Samuel nunca se sentiu tão confuso. Para ele, José ia de encontro a todas as ideias tradicionais que ele tanto defendia. Contudo, ele agora tinha plena ciência de que se sente atraído por ele, emotiva e sexualmente. Ainda não sabe se odeia o fato de ele ter chegado a essa conclusão, ou se odeia o fetiche que sente pelo jeito do José. Como estava descalço, José não notou sua aproximação, entretido que estava lavando, na mão, aquelas suas cuecas esporradas. Samuel encostou o ombro no umbral da porta da lavanderia e ficou observando. Não era a primeira vez que ele via o José lavando suas cuecas na mão, ao invés de lança-las junto com as outras roupas na máquina de lavar. Nunca antes alguém lavou suas cuecas. A Beatriz o obrigava a lavá-las sozinho ou, a entrega-las à empregada nos dias em que vinha fazer a faxina. Ela mesmo, nunca tocou uma vez sequer nelas. Ele não conseguiria definir o que estava sentindo ao ver o José as lavando sem nenhuma reserva, sem demonstrar qualquer repulsa por tê-las nas mãos. À medida que as esfregava nas ondulações do tanque, suas nádegas balançavam apertadas dentro do short vermelho que tinha o poder de mexer com os brios do Samuel, tal qual um fetiche, desde a primeira vez que o viu trajando a peça. Sentiu que estava tendo uma ereção. O que levava um homem a se dedicar tão carinhosamente a outro, questionou-se. Inesperadamente, constatou que nunca o vira lavando as cuecas do namorado e, nem que este as deixasse aos seus cuidados. Ele, por sua vez, nunca precisou pedir que José cuidasse das suas. Sentiu-se um privilegiado. Por que José o privilegiava, ao invés do namorado? Era mais uma dúvida que precisava anexar ao rol das muitas que já tinha em relação ao relacionamento daqueles dois. Pois, sempre se questionou o que levava o marombado da academia a permitir que o namorado trouxesse e abrigasse outro macho dentro de casa, quando ele mesmo não morava lá. De uma coisa ele tinha convicção, jamais permitiria tal situação, caso a situação fosse inversa. Podiam taxa-lo de retrógrado, de preconceituoso, de homem das cavernas, ou do que quer que fosse, mas nunca concordaria em deixar que outro macho dividisse com ele alguém com quem estivesse envolvido sentimentalmente. A cabeça do Samuel estava cheia de pensamentos que iam e vinham como as folhas esvoaçando ao vento. Apenas seu corpo estava ali, a cabeça tinha asas.
- Bom dia! Não percebi que estava aí! Está com fome? – indagava o José diante dele, com seu sorriso meigo e descontraído, fazendo sua concentração retornar rapidamente ao que estava a sua volta.
Um impulso vindo sabe-se lá de onde levou Samuel a puxar aquele torso nu contra o seu e apertá-lo com tanta força que só se apercebeu disso quando o José soltou um gemido através daqueles lábios vermelhos e úmidos que reluziam diante de seus olhos. Sem perder um segundo, juntou os seus a eles e sentiu como eram quentes, doces e macios. Meteu a língua dentro daquela boca que tentava falar ou perguntar alguma coisa, mas ele não deu chance. Vasculhou aquela boca receptiva e tratou de se apossar de cada canto dela com sua língua gananciosa. Suas mãos percorriam ávidas as costas acetinadas do José, desceram até as nádegas. O short as impedia de sentir o calor vindo diretamente da pele que cobria. Arriou-o, afoito. As nádegas eram ainda mais aveludadas, durinhas, volumosas a ponto de não caberem completamente em suas mãos. Um tesão de tão gostosas. Samuel repetiu o gesto que viria o Leo fazendo, enfiou uma das mãos no rego e tentou abri-lo. Os glúteos eram tão firmes e abundantes que alcançar o cuzinho no fundo dele não era tarefa fácil, mas ele esmiuçou até encontra-lo. Ele piscava quando seu dedo tocou as preguinhas enrugadas. A essa altura, a cabeça da sua pica já tinha saído pela lateral do seu short, descomedida pelo tesão que estava sentindo. Beijou e mordiscou, mais uma vez, os lábios daquela boca que não se afastava da dele e, que acabara de deixar escapar mais um gemidinho quando seu dedo tocou no orifício corrugado. Aguerrido, ele prensou o corpo do José contra o umbral da porta, garantindo que ele não lhe escapasse e, tirando o caralhão do short, meteu-o abruptamente no buraquinho que piscava junto à sua glande melada. O sonoro ganido que o José soltou, lastimoso e carregado de aflição, o deixou maluco, soou-lhe como um júbilo que invadiu sua alma. Quando sentiu as preguinhas se contraindo e aprisionando sua pica naquela maciez, pensou que ia ter uma síncope. Nunca tinha enfiado seu cacete dentro de algo tão apertado e hospitaleiro. Ao dar mais um impulso, gentil e cuidadoso, para meter mais fundo, perguntou-se como o José ainda podia ser tão apertado, depois de todo seu histórico de agruras, de um marido que devia ter se esbaldado naquele rabo e, desse namorado que, duas vezes por semana, plantava sua verga nas funduras daquele cuzinho. Mas agora, era ele quem metia o cacete cada vez mais para dentro daquela bunda fascinante, quem era recebido com luxuria e devoção entre gemidos baixinhos que o deixavam cada vez mais ensandecido. Os dois dedos que enfiou naquela boca úmida foram logo chupados com ardor e tesão. Depois de meses sem uma transa decente, só se masturbando, teve vontade de foder aquele cu até rasgar todas as pregas. No entanto, algo naquele corpo quente que gingava em seus braços e roçava o dele, o impediu de liberar a selvageria represada nele. Ele o deixaria marcado com sua prerrogativa de macho, mas não o laceraria além do necessário para se satisfazer, pois aquela sensação que experimentava mergulhado naquele cu precisava se repetir outra vezes. Decidira que se apossaria dele para sempre, que cuidaria dele, que o protegeria de qualquer sofrimento, pois o que ardia em seu coração era uma paixão tão intensa que já não se via ou concebia sua vida sem o José. Sua pelve se movia num embalo gostoso, num vaivém que fazia aqueles esfíncteres apertados acariciarem sua rola, causando um prazer com o qual jamais havia sonhado. Percebeu que ia gozar, e o faria socado lá no fundo daquele cuzinho. Agarrou o rosto do José, fez com que ele se virasse em sua direção e beijou aquela boca que gemia, os jatos de porra saíam livres e libertadores, num prazer único e comungado, encharcando o cuzinho que rebolava para captar cada um deles.
- O que deu em você esta manhã? – perguntei, sentindo aquela pica grossa escorregando lentamente para fora do meu cu dilacerado.
- Fome! Muita fome! – exclamou o Samuel, com um sorriso libidinoso.
- Posso saber desde quando virei fonte de alimento?
- Desde este instante! Desde que acabo de descobrir que você me ama! Desde que reconheci que o que está ardendo dentro do meu peito é uma paixão sem tamanho por você! – respondeu.
- O que te leva a crer que eu te amo? Nunca me declarei!
- Em palavras não, mas suas atitudes nunca deixaram dúvidas! Fui um tolo de só perceber isso agora, vendo você lavar minhas cuecas lambuzadas de porra. Você pode até não ter consciência disso, mas me assumiu como seu macho ainda no hospital, quando carinhosamente guardou minha mão entre as suas. – afirmou, com uma certeza tão indubitável que até eu me espantei.
Talvez fosse isso mesmo. Nunca cheguei a compreender o porquê de ter feito aquilo, de ter me preocupado tanto com a integridade e a recuperação dele depois que o encontramos inconsciente e febril naquela sobreloja. Será que ao preencher aquele quarto vazio do apartamento eu não estava preenchendo meu coração com um novo amor? Isso agora parecia mais lógico e verossímil do que nunca.
- Nunca pensei que diria isso para outro homem, mas eu te amo! – exclamou, voltando a me apertar em seus braços. Eu afaguei aquele rosto cuja barba espetava minha mão e o beijei suavemente.
Quando fui puxar o short que estava entalado nas minhas coxas, percebi que aquela umidade que escorria do meu cu não era só da imensa quantidade de porra que ele havia ejaculado em mim, havia sangue mesclado a ela. Eu não sangrava desde quando o Damião me pegava mais intempestiva e destemperadamente, uma vez que o cacete avantajado dele sempre dilacerava minhas pregas. O Samuel também notou o sangue escorrendo do reguinho, e veio me abraçar.
- Faz tempo que isso não acontece! – balbuciei tímido.
- Você vai acabar me matando de tanto tesão! – sussurrou ele no meu ouvido, enquanto me mordiscava e passava a mão na minha bunda, numa demonstração de posse.
- Não quero te perder nunca! – devolvi, antes de colar meus lábios aos dele.
Aquele foi um dia marcante. Em primeiro lugar, por termos descoberto que nos amávamos, em segundo, por termos feito amor tão repetidas vezes como nenhum dos dois havia feito antes. Todos aqueles meses de convívio, onde os mais estranhos e confusos sentimentos pareciam tecer uma teia que ia nos aproximando e nos envolvendo numa urdidura que nem um dos dois conseguia compreender direito, acabaram por fazer explodir tudo o que estava comprimido em nossos corações. Relutamos, na segunda-feira pela manhã, de abandonar aquele leito que nas últimas horas, tinha sido o palco de coitos demorados, calorosos e devassos. Ambos estávamos com os corpos exauridos e, quanto ao meu cu, eu mal conseguia dar um passo que não desencadeasse uma dor lancinante por toda a minha pelve. Apesar disso, estava sentindo uma felicidade que jamais pensei voltaria a sentir. Ao me levar no colo até o box do chuveiro, o Samuel me confessou que sentia a mesma felicidade intensa que eu. Precisei refrear os ímpetos dele debaixo da ducha, pois mais uma penetrada daquele cacetão no meu rabo me impediria de seguir para o trabalho e para as minhas obrigações.
- Está querendo me estourar todo já no primeiro dia? – questionei, quando ele roçava sua ereção matinal no meu reguinho.
- Se tudo pelo que você já passou na vida não conseguiu arregaçar esse cuzinho, o que te leva a crer que umas pegadinhas minhas vão lacear esse rabo tesudo e apertado? – indagou ele, enquanto tentava meter a cabeçorra mais uma vez no meu orifício anal cujas bordas estavam inchadas de tanto levar vara.
- Você, por acaso, já reparou na espessura da tua benga? Pois observe-a, e encontrará a resposta à sua pergunta. – devolvi. Ele abriu um sorriso de satisfação.
- Sabe que você é o primeiro a fazer um elogio ao meu dote! – exclamou, transbordando de confiança e convencimento.
A partir dali foi como se uma janela houvesse se aberto no quarto escuro em que eu vivia, e uma luz promissora passasse a iluminar minha alma. Algo parecido estava acontecendo com o Samuel, segundo alguns comentários que ele fazia. Nossos funcionários foram os primeiros a constatar essa mudança, e acabamos por virar o alvo preferido de suas piadas com a nossa cara. Eu tinha um apreço tão grande pelos meus, que sabia que aquilo fazia parte da amizade sincera e da felicidade que compartilhavam comigo. A cada novo dia, o passado doloroso e triste ia ficando para trás, confirmando a máxima de que nada como o tempo para curar as feridas.
O novo acordo de divórcio que o advogado do Samuel conseguiu, devolveu-lhe o controle de sua vida, tanto no aspecto financeiro quanto no emocional. Ele parecia ter saído mais forte e autoconfiante daquela situação. O fato de ter deixado a Beatriz sem nada, contando apenas com a pensão muito mais realística determinada pelo juiz para os filhos, lavou sua alma. Ele ainda bancava, por fora, os estudos dos filhos, além da pensão. Mas essa quantia já não permitia que ela vivesse da forma nababesca como vinha vivendo desde que o Samuel saíra de casa. Não levou mais do que alguns meses para que ele viesse a descobrir, pelos filhos, que o instrutor da academia a trocou por outra frequentadora mais generosa com as retribuições por seu desempenho sexual.
No dia seguinte ao que meteu seu cacetão no meu cuzinho, o Samuel abordou a questão do Leo. Se é que posso chamar de abordar, a frase curta e determinada que colocou um ponto final no meu envolvimento sexual com o Leo.
- A partir de agora, o único a entrar nesse buraquinho sou eu, estamos entendidos? Diga ao seu namorado que vá ciscar em outra freguesia! Você agora tem dono, e esse dono é um macho que exige exclusividade. – ele falou com a cara mais séria que eu já tinha visto naquele rosto. Precisei rir. Ele ficou carrancudo. – Onde está a graça?
- No meu leaozão ciumento! – respondi. – Mal tomou posse e já está dando ordens? Só não vá se acostumando com isso! – alertei, uma vez que sempre fui fiel ao Damião e o seria com ele também. Entretanto, como nunca deixei antes, também agora não deixaria que ninguém tomasse as rédeas da minha vida. E, isso, especialmente no caso do Samuel, precisava ficar bem claro, pois ele era o tipo de macho que precisava estar no comando de tudo, mesmo com aquela sua cabecinha pouco aberta a modismos e novidades.
- Não se preocupe, tenho meus métodos para conseguir o que eu quero! – devolveu, pousando um selinho no canto da minha boca.
Eu já havia explicado a ele os pormenores da minha amizade com o Leo, mas voltei a confirmar as peculiaridades desse relacionamento, para deixa-lo mais tranquilo quando comuniquei que havíamos encerrado no convívio sexual. Tanto o Leo quanto eu sabíamos que um dia cada um de nós provavelmente encontraria a pessoa que mudaria os rumos de nossas vidas. Nunca desacreditamos disso. O que aconteceu entre nós pela época daquele assalto articulado pelo meu irmão, foi o surgimento de uma amizade que foi tomando tamanha proporção que, acabou por despertar a necessidade não só de estarmos juntos, mas de compartilharmos sentimentos que apenas se manifestam quando há a conjunção de corpos. Ambos precisávamos dessa troca de carinho para termos a certeza de que estávamos vivos, de que éramos capazes de dar algo de puro e bom, de que a vida continuava a despeito de um passado nefasto que ambos carregávamos.
Uns meses antes de eu trazer o Samuel para dentro de casa, o Leo já havia comentado comigo que achava que havia encontrado sua alma gêmea. Tratava-se de uma médica recém-formada que havia se matriculado na academia. Ao contrário da maioria da mulherada que o fazia, apenas para tirar uma casquinha dos instrutores quando não para suprir suas carências sexuais, ela parecia ter uma aura de mistério ao seu redor. E, isso despertou a atenção dele. Por diversas vezes, depois que a conheceu, ele me perguntava se eu achava que uma garota assim ainda podia ser virgem, se ela chegaria a se interessar por ele, enfim, toda dúvida que surgia em sua mente ele transformava numa pergunta para a qual queria a minha opinião.
- Sabe por que ela está te intrigando tanto? – perguntei certo dia.
- Por que é areia demais para o meu caminhãozinho? – devolveu.
- Não! Primeiro porque você não tem um caminhãozinho, você tem um caminhaozão daqueles usados em mineração, esteja certo disso! Segundo, porque ela não foi se atirando em cima de você, desses seus músculos que deixam a gente alucinado, desse seu sorriso maroto que dá vontade de beijar sem parar. – respondi.
- Só você para fazer piada com a minha aflição. – devolveu ele.
- Não estou fazendo piada! Vai fundo! Invista nela com cuidado e de coração aberto, o que eu mais quero nesse mundo é que você seja feliz. Um cara com o seu coração merece encontrar quem o encha de afeto e carinho.
- Até hoje só você conseguiu fazer isso!
- Talvez! Mas, ambos sabemos que nosso futuro juntos não é viável, por uma série de questões que não vale a pena enumerar. O que vamos guardar para sempre são os momentos intensos e especiais que tivemos juntos e, essa amizade que persistirá enquanto vivermos, independente de com quem estivermos.
- Você sempre tem razão! Agradeço do fundo da minha alma o dia em que nossos destinos se cruzaram. Te conhecer e partilhar por quase dois anos de nossas vidas é um privilégio sem tamanho. – afirmou, me abraçando. – E esse cara que você abrigou no seu apartamento, o que rola? – indagou.
- Nada! Acho que é apenas uma das minhas recaídas. O cara só falta promulgar uma lei contra a homossexualidade, embora queira se fazer de politicamente correto. Já o questionei algumas vezes sobre o assunto, e suas respostas não podiam ser mais preconceituosas. – respondi.
- Então por que dá guarida a um sujeito desses? Não te entendo, às vezes, sabia?- questionou.
- Nem eu me entendo, portanto, não exija demais de si. E, respondendo sua pergunta, não sei. Bobeira, eu acho!
- Ou paixão à primeira vista! – exclamou. Eu ri.
- Quem me dera! Mas não, com ele não vai rolar nunca e, eu nem espero por isso. É o tempo de ele se firmar outra vez e adeus. Ele talvez saia agradecido pelo que fiz por ele, e eu feliz comigo mesmo por ter feito uma boa ação. Assim, quem sabe, acumulo alguns créditos com o Cara lá em cima. – afirmei
- Sua conta bancária lá em cima está abarrotada. Eu continuo acreditando numa reviravolta e, antes que você perceba, estarão apaixonados um pelo outro. – asseverou.
- Acreditar em milagres não é proibido! Só não vá se decepcionar! – ambos rimos abraçados e, não estivéssemos em pleno salão da academia, começaríamos a transar, o que foi protelado para aquele noite.
Portanto, a minha conversa com o Leo, sincera e aberta como sempre, não foi empecilho para paramos nossos encontros sexuais quando o Samuel se declarou para mim. Foi tão somente decorrência de um acordo tácito que já existia entre nós. Quando expusemos tudo ao Samuel, ele passou a enxergar o Leo com outro olhar, diferente daquele preconceituoso e revoltado que tinha com relação aos instrutores bombados de academia que haviam marcado seu passado tão infortunadamente.
A nossa primeira semana juntos chegava ao fim. Quando digo juntos, me refiro ao laço que se formou entre o Samuel e eu, depois daquela transa no vão da porta da lavanderia. Esse fato ficará marcado em nossas vidas por que modificou a maneira como nos relacionávamos até então. O restaurante ainda estava cheio quando ele passou por lá para me apanhar e voltarmos para casa. Não consegui persuadi-lo a ir na frente, ele insistiu que ficaria até eu conseguir me desvencilhar das minhas tarefas. Por estar ficando tarde, jantamos ali mesmo, numa das primeiras mesas que começavam a vagar com a saída dos clientes. O Samuel já estava tão enturmado com os meus funcionários, que o viam como o responsável por eu ter me transformado numa nova pessoa, muito mais alegre e descontraída, que passou a fazer parte da grande família que compúnhamos.
Eu estava exausto quando finalmente saí do banho e fui ter com ele sentado diante da televisão dividido entre o que passava na tela e os cochilos que teimavam em cerrar suas pálpebras. Ele estava largadão com as pernas abertas sobre o sofá, não percebeu quando eu entrei na sala. Fiquei a observá-lo em silêncio. Que macho lindo, pensei comigo mesmo, e ele é todinho meu. Como uma mulher pode ser tão burra a ponto de largar um homem desses, que a inseminou e lhe deu dois filhos, trocando-o por um garotão sem eira nem beira? Ele podia não ser a pessoa mais fácil de se conviver, com aquele seu jeito de não se dobrar facilmente ante às novidades ou ao que mudasse sua maneira de ver as coisas. Mas, era um homem batalhador, carinhoso, que precisava ser levado com persuasão e afeto para mudar seu jeito de pensar. O que acabava acontecendo, mesmo que demorasse um pouco e fosse sob protestos. Como não se apaixonar por esse rosto másculo e sereno que estava diante de mim? Como não se encantar com esse tronco peludinho e viril, com esse par de coxas musculosas e peludas, com esse volume taurino que estava entre suas pernas? No mesmo instante, voltei a constatar aquele ardor no cu que vinha me torturando durante toda aquela semana, como se meu cuzinho esfolado diariamente por sua jeba grossa estivesse acometido de hemorroidas inflamadas. Passava da meia-noite; porém, fiquei com dó de tirá-lo dali, para que fosse se deitar no quarto, uma vez que parecia estar sonhando com algo agradável, pelo contorno de sua boca, querendo esboçar um sorriso. Fui até a cozinha tomar um último copo d’água e desligar as luzes.
- O que foi? O que está me olhando desse jeito? – perguntei quando notei sua presença atrás de mim.
- Estou só curtindo o presentão que a vida me deu! – respondeu, com um sorriso libidinoso, vindo me apertar pela cintura e me dando umas encoxadas contra o balcão.
Tomei o último gole de água do copo e reclinei minha cabeça em seu ombro, empinando a bunda contra aquela virilha que roçava minhas nádegas. Ele me puxou e me apertou com mais intensidade de encontro ao seu corpo e colocou um beijo no meu pescoço. Meu cuzinho piscava, já sabendo que em instantes estaria engolindo, mesmo que a duras penas, aquele falo grosso e insaciável. Às vezes, eu tinha a nítida impressão de que ele tinha vontade própria, como uma entidade distinta de mim mesmo, pois desde que o Samuel o penetrou pela primeira vez, ele estava tão assanhado e feliz, por ter novamente um macho o perseguindo sem descanso, que não parava de emitir sinais de estar disponível para saciar as taras daquela pica. Ao chegarmos no quarto e eu começar a abrir a cama, aquela mão enfiada no meu short, que veio pelo caminho amassando meus glúteos, já estava com um dos dedos de movendo em círculos no meio dos esfíncteres. Fiquei frente a frente com o Samuel, fixei meu olhar no dele e deslizei meus dedos suavemente nos pelos do peito dele. Ele estava louco para meter em mim, porém, atrás daquele olhar de garanhão faminto, havia um desejo escondido que, até o momento, ele não teve coragem de expressar em palavras.
- Você é lindo! – exclamou, deslizando as costas dos dedos pelo meu rosto. Um sorriso doce se formou nos meus lábios antes de eu o fazer por vontade própria.
Aquilo fez acender uma luz em minha mente e, tão claro quanto aquela água que eu acabara de ingerir, o desejo não expresso dele veio a coincidir com um meu que até então eu não havia realizado. Sentir o sabor daquele macho. Ao mesmo tempo em que o conduzia a sentar-se na beirada da cama, fui descendo o short dele e me posicionando ajoelhado entre suas pernas. Meu rosto estava a poucos centímetros daquele cacetão pela primeira vez. Durante toda aquela semana ele mal me dera chance de pousar o olhar naquela verga, uma vez que, depois de me enlaçar, não levava mais que uns segundos para ela estar enfiada no meu rabo. Só de eu olhar, de tão próximo, para seu membro a respiração dele começou a acelerar, como se estivesse adivinhando o que ia acontecer. Um primeiro pinote de excitação daquela rola aconteceu bem diante dos meus olhos e, ela me pareceu mais linda do que tudo. Mesmo ainda flácida, sua estrutura sólida aparecia naqueles dois corpos cavernosos calibrosos e no corpo esponjoso maciço como um tronco de árvore sob a pele entremeada de veias que iam se insuflando à medida que meu olhar permanecia fixo nela. Levei minha mão até a pica e a acariciei. O Samuel gemeu, afastou ainda mais as pernas e reclinou a cabeça para trás. O calor que ela emanava se fez sentir nos meus dedos que, vagarosamente se fechavam ao redor dela para segurá-la e conduzi-la até meus lábios. Pousei-os delicadamente sobre a cabeçorra que terminei de expor com uma leve retração do prepúcio. O cheiro de macho invadiu minhas narinas, forte e almiscarado. Contornei os lábios envolvendo por completo a glande que se estufava à medida que o Samuel ia ficando cada vez mais excitado. O tesão me dominava, fazia meu cuzinho piscar alucinadamente; desta vez eu e ele estávamos querendo a mesma coisa. O pré-gozo viscoso fluiu do orifício uretral dele, levemente salgado e cheirando a tesão. Amparei-o com a língua que fiz rodopiar ao redor de onde ele fluía. O Samuel gemeu, não piscava, não tirava os olhos do que eu estava fazendo. Coloquei a cabeçorra inteira na boca e comecei a chupar, como uma criança chupa um pirulito. O pré-gozo passou praticamente a jorrar, enchendo minha boca com os sabores viris do meu macho. Eu os deglutia, erguendo o olhar em direção ao rosto resplandecente do Samuel. Segurando a pica em diversas posições, eu a lambia, chupava, mordiscava tanto por cima, quanto por baixo, da ponta da glande à junção com o sacão envolto em densos pentelhos que acentuavam sua virilidade. Minha boca imersa em seus pelos pubianos fazia o Samuel se contorcer de prazer, segurar a respiração, para depois soltá-la abruptamente num sibilo entre os dentes cerrados. Concentrei minha atenção naquele saco gigantesco que pendia pesadamente em baixo da pica que eu tinha na mão. Eu nunca tinha visto um tão grande, exceto embaixo do ventre de um touro ou de um garanhão. Meu polegar e meu indicador não conseguiam se juntar ao redor da circunferência escrotal, que tinha seguramente uns 20 centímetros, uma vez que perímetro de 16 centímetros que elas somavam ao se tocarem era insuficiente para circundar aquele sacão, o que me fez compreender de onde vinha aquela alta produtividade espermática do Samuel.
- Meu tourão! – exclamei, junto com um risinho lascivo que o deixou mais contente do que nunca.
Cada um dos imensos testículos ovalados gingava dentro do sacão enquanto eu o massageava com as pontas dos dedos. Eu estava fascinado por toda aquela virilidade, o que tornava aquele macho ainda mais especial aos meus olhos. O Samuel não cabia em si de tanta felicidade. Eu idolatrava seu caralhão ainda mais envolvido do que ele tinha presenciado naquele dia em que me viu brincando e mamando a verga do Leo. Era a jeba dele que eu estava endeusando e acariciando agora, era a prova de que eu o tinha entronado como meu macho. Segurando-me pelos cabelos, ele me fazia mamar naquela pica que engrossava dentro da minha boca à medida que eu a sugava carinhosamente. Ele se contorcia, gemia, queria minha boca toda ao redor de seu falo, mesmo que para isso precisasse força-lo para dentro da minha goela, me fazendo sufocar. Numa das vezes em que meu rosto ingurgitado e vermelho acompanhado do mais incrível olhar de submissão que ele já vira encarou o dele, o gozo explodiu na minha boca. Quase simultaneamente ele esporrava os jatos libertadores enquanto eu os engolia com uma devoção com a qual ele nunca havia sonhado. Era a primeira vez que estavam engolindo a sua porra, in natura, quente e cremosa, numa avidez sublime. Precisou um gay para satisfazer um de seus mais ansiados desejos, chupar seu gozo até a derradeira gota.
- Amo você, meu viadinho tesudo! Como eu amo você, meu amor!! – balbuciou, enquanto eu terminava de limpar seu cacete com a língua.
Pouco depois, com um temporal de verão que lançava a chuva contra as janelas do quarto, e que havia cortado a energia, deixando a alcova imersa na escuridão; eu gemia debaixo dele, com as pernas abertas circundando-o na altura do tronco, meus braços enroscados em seu pescoço e minhas mãos afagando sua nuca, enquanto ele fazia sua língua dançar dentro da minha boca e, sua pica se mover num vaivém prazeroso no meu cuzinho arreganhado que ia ficando cada vez mais sensível e esfolado.
- Eu te amo! – murmurei, tentando driblar aquela língua voraz, ao mesmo tempo em que intensificava os gemidos ante a impetuosidade crescente do Samuel com a percepção do gozo iminente.
Melado externamente na minha própria porra ejaculada enquanto cobria meu macho de carinho e, encharcado com o esperma abundante com o qual ele me inseminara, eu agradeci aos céus por essa nova chance de felicidade, por me trazer esse macho tão especial como recompensada por tudo que a vida havia me negado.
- Te encontrar fez de mim o mais feliz dos homens! – exclamou ele, sem desgrudar sua boca da minha, deixando sua rola amolecer lentamente no meu cu.
Foto 1 do Conto erotico: Da paixão renasceram um cuzinho e uma pica

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Comentários


foto perfil usuario moraesinho

moraesinho Comentou em 14/11/2020

Muito extenso, mas muito excitante. Votado.




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Ficha do conto

Foto Perfil kherr
kherr

Nome do conto:
Da paixão renasceram um cuzinho e uma pica

Codigo do conto:
167649

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
13/11/2020

Quant.de Votos:
5

Quant.de Fotos:
3