Corações refugiados - Parte I

Corações refugiados - ?????? ???????? = Serdtsa bezhentsev
Voyshelk, Yagor e eu, Patrey nascemos com diferença de alguns meses do mesmo ano, no início da década de 1990, nos blocos de edifícios 62 da vulica Kamiennahorskaja, em Kammenaya Gorka, um bairro a noroeste de Minsk, capital de Belarus, onde os habitantes de diversas profissões, receberam primordialmente residências subsidiadas por um motivo ou outro. Crescemos jogando bola nas praças e nos terrenos baldios do entorno pisoteando a grama que o curto verão tentava fazer brotar ou, montando esculturas com a neve do inverno, que depois desmanchávamos para atirá-la uns nos outros, com os demais garotos da vizinhança. Frequentamos a mesma escola dos arredores, num país que ainda guardava muito do regime socialista soviético, apesar de haver recentemente declarado sua independência logo após o fim da União Soviética, tanto em suas construções, como em muitas de suas políticas daquele regime, especialmente no controle estatal da economia e, no oficialmente não admitido regime ditatorial que, Lukashenko, eleito presidente da república no mesmo ano em que nascemos, começava a implementar. Belarus continuava sendo o último país do mundo onde a URSS parecia nunca ter caído. Ruas mantém os nomes de antigos heróis soviéticos ou homenageiam acontecimentos relevantes do período comunista. O idioma russo continua sendo ensinado nas escolas como segunda língua, e estátuas de Lenin e Stalin sobre pedestais de mármore ornam praças por todo o país. Numa rua próxima à Praça da Independência no centro da capital, o edifício neoclássico e estalinista, continua mantendo seu nome e as funções secretas do Comitê de Segurança do Estado, a KGB, com a mesma estrutura organizacional que tinha quando a nação era uma república soviética. E, desde os dias de nossa infância, ainda exerce atividades de espionagem e de polícia repressora. Para um segmento da população bielorrussa, o passado soviético não é visto como um período de estagnação econômica nem de repressão, uma vez que em Belarus a experiência comunista foi muito melhor do que em outras repúblicas soviéticas. Por conta disso, alguns símbolos soviéticos e a própria KGB não são vistos como ilegítimos, embora haja um crescimento dos que não concordam com essa legitimidade que, continua associada à repressão, à dissidência política e, às prisões de opositores dos governantes.
Naquela época, minha amizade com Voyshelk e Yagor estava imune às questões estatais, éramos apenas garotos nos divertindo sem preocupações outras que não ir bem nos estudos, comportar-se como exigiam nossos pais, e estabelecer relacionamentos cujo futuro nos era totalmente incerto.
Voyshelk era o primogênito na casa do major Alexander Khodkevich, um ex-agente da antiga KGB que tinha em suas funções burocráticas dentro do Comitê a nulidade de uma mesa num gabinete decorado ao estilo estalinista e, nos círculos sociais do terceiro escalão, uma importância e deferência que se resumia a sua patente. Em casa, junto a esposa e filhos, era um déspota que regia suas atitudes pela frustração e pelo álcool. Na infância, Voyashelk imitava orgulhoso a glória que julgava haver em seu pai, impondo-se sobre os garotos com a mesma determinação que o pai lhe impunha os castigos. Com isso, envolvia-se constantemente em brigas, desafiando opositores até mais velhos do que ele e, contando sempre com seu físico musculoso e privilegiado para subjugar os inimigos que ia angariando. Ele e eu nos dávamos relativamente bem, nossas discordâncias nunca chegaram às vias de fato, nem tanto por eu não me atrever a entrar numa contenda corporal com ele, onde certamente levaria a pior, mas pelo meu poder de persuasão, com o qual ele não se atrevia a competir. No fundo, um admirava o outro pelo que lhe faltava na personalidade e, um gostava do outro justamente por esse equilíbrio de forças. Dentro de casa, ele só contava com a companhia de duas irmãs que absolutamente não lhe inspiravam desafios que seu gênio irrequieto exigia. Isso ele compartilhava comigo e com o Yagor.
Yagor Mokhovich era o caçula de um casal de professores universitários, o pai lecionava na faculdade de Direito e a mãe na de Ciências Sociais da Universidade Estatal de Belarus. Desde cedo notava-se seu tino para seguir a profissão do pai, era ele quem assumia a liderança nas discussões entre a garotada, apontando, sem medo de criar inimigos, quem tinha invadido ou transgredido o direito do outro. Na maioria das vezes, conseguia que seus argumentos levassem a uma reconciliação, ou ao menos a um entendimento entre as partes. Minha amizade com ele se estabeleceu pela proximidade de nossos apartamentos, éramos vizinhos de corredor do mesmo bloco da vulica Kamiennahorskaja, e nossos pais também eram amigos. Com o Yagor nunca cheguei a ter uma discussão, por mais boba que fosse. Até nossos brinquedos costumávamos compartilhar e, por eu ser filho único, ele assumiu o papel de irmão que eu não tinha. Os adultos se espantavam como havíamos chegado a essa intimidade que não encontrava obstáculos muitas vezes enfrentados por irmãos legítimos. O que nos diferenciava, era que o Yagor sempre se mostrou mais destemido e ousado do que eu, a quem ele achava que precisava incitar para que as coisas acontecessem. Ele era um garoto grande, espadaúdo, atlético, trazia em sua genética uma mistura de eslavos ocidentais e orientais, o pai polonês e a mãe bielorrussa. Era através de seu porte físico que ele intimidava os garotos que mexiam comigo, e com o qual ele também queria que me sujeitasse as suas vontades. Na maioria das vezes funcionava, ele e eu tínhamos uma maneira muito semelhante de pensar, mas quando discordávamos eu tinha que enfrentar sua presunção fingindo concordar com ele.
Tanto o Voyshelk quanto o Yagor tinham em mim um elo em comum. Talvez, se não fosse eu, eles jamais teriam se tornado amigos. Ambos achavam que, por eu ser filho único e carecer de companhia devido a profissão dos meus pais, dois médicos que quase nunca estavam em casa, cabia a eles me vigiar e controlar meus passos, como se eu fosse uma criança que precisava de uma mão para ser guiada pelo caminho. Como para mim, de fato, era mais importante não me sentir solitário, eu aceitava a interferência deles sem muitos questionamentos. Com o passar dos anos, nós saindo da infância e entrando na adolescência, notei que se criava uma certa competição entre eles para estabelecer quem tinha mais direito a se intrometer nos meus assuntos. Essa competição era fruto dos hormônios que iam dia-a-dia determinando mais as suas atitudes, me transformando numa espécie de vítima de seus ímpetos.
Nos primeiros anos de nossa infância, além das brincadeiras, o que firmou e consolidou nossa amizade foi a dificuldade de aprendizagem que o Voyshelk começou a apresentar na escola. A molecada gozava dele toda vez que a professora pedia para ele ler algo em voz alta ou quando o mandava ao quadro-negro para completar algumas palavras inserindo as sílabas faltantes. Era algo tão simples e banal, mas ele se via diante de um enorme desafio que acabava deixando-o nervoso e errar o exercício. Diante da professora ele se retraía, mas quando a gozação acontecia sem a presença dela, ele partia para cima dos garotos a socos e pontapés, o que lhe rendia uma ida à sala do diretor e um castigo certeiro. Eu nunca ria dele, pelo contrário, ajudava-o a se vingar dos moleques movido pela solidariedade e pelo carinho que tinha para com ele, o que em algumas ocasiões também me levou à sala do diretor, e a carregar por alguns dias alguns hematomas e escoriações pelo corpo, deixados pelos socos que levava. O Yagor só intervinha quando me via envolvido na briga, pois tomava mais as minhas dores do que as do Voyshelk, embora não o admitisse.
Eu era, senão o melhor, um dos primeiros da classe. As letras e palavras, juntamente com os números e contas, eram mais uma distração prazerosa para mim do que uma dificuldade a ser vencida. O Yagor não ficava atrás, seu desempenho sempre alcançava boas notas. Quem ia se distanciando era o Voyshelk, o que muitas vezes, fazia com que se zangasse conosco, como se tivéssemos uma parcela de culpa por suas notas ruins. Convenci o Yagor a me ajudar a melhorar o desempenho escolar do Voyshelk, fazendo as tarefas de casa juntos. A princípio ele relutou um pouco, pois já naquela época percebi que ele tinha ciúmes da minha afinidade com o Voyshelk, que ele sempre afirmava ser maior do que aquela que eu tinha com ele. Porém, ele acabou se dispondo a ajudar, o que levou nós três a passarmos ainda mais tempo juntos. Como os meus pais eram os mais ausentes, costumávamos passar as tardes estudando na minha casa. O Yagor e eu tínhamos dificuldade de entender porque o Voyshelk não conseguia fazer coisas tão simples como somar 5+3 ou trocar as sílabas de palavras de uso cotidiano quando precisava escrevê-las ou lê-las. Quem acabou desvendando o mistério foi minha mãe, nos vendo fazer as tarefas de casa sentados ao redor da mesa da cozinha enquanto ela preparava antecipadamente o jantar antes de seguir para seu plantão no hospital. Ela pediu que o Voyshelk escrevesse umas palavras, que ditou, numa folha de papel que arrancou do meu caderno. Pipoca virou popica e futebol virou tefubol. Em seguida, pediu que ele escrevesse duas frases que estivessem em sua mente – o memino vai coretar o cadelo agora e eu caudo sosse grade cero ser pocilial – foi o que curiosos o Yagor e eu lemos no pedaço de papel.
- Não é assim que se escreve! – exclamou de imediato o Yagor, querendo se exibir mostrando a forma correta de escrever o que o Voyshelk tinha errado.
- Vou quebrar a sua cara, seu bosta! – revidou o Voyshelk, empurrando a caneta e a folha de papel para longe.
- Calma meninos! Não quero brigas aqui dentro da minha casa. – exclamou minha mãe com severidade. – Essa confusão que você faz com as sílabas quando lê e escreve tem nome, sabia? Chama-se dislexia. – esclareceu minha mãe.
- O que é dis... dis... – perguntamos eu e o Voyshelk simultaneamente.
- É um distúrbio de aprendizagem, uma condição que faz você se confundir quando precisa ler ou escrever alguma coisa. A professora de vocês nunca disse nada para você ou aos seus pais, Voy? – questionou ela. Chamar o Voyshelk de Voy tinha sido invenção minha, que ele não gostava de ouvir saindo da boca da molecada, mas que o fazia esboçar um discreto sorriso quando eu o chamava assim.
- Não, senhora Sokolov! Ela nunca disse nada.
- É verdade mãe, não disse não! – confirmei em apoio ao meu amigo, mesmo não tendo certeza disso.
- Vou passar na sua casa antes de ir para o hospital e conversar com sua mãe. Você vai precisar da ajuda de um especialista para compreender e corrigir esses enganos que comete. Não é nada que não se possa consertar, e também não significa que você não seja tão inteligente quanto todos os outros garotos da escola, ok Voy? – como pediatra minha mãe sabia como lidar com crianças, e naquela tarde tive a certeza de que ela passou a ser a segunda pessoa que podia chamá-lo de Voy sem revoltá-lo.
- Quer dizer que ele é doente, senhora Sokolov? – questionou o Yagor.
- Doente é você seu bobão! – explodi em defesa do Voy.
- Vamos controlar esses ânimos e essa boca, meu rapaz? – advertiu minha mãe, recriminando minha atitude.
- Não, Yagor, ele não tem nenhuma doença. Como eu disse, ele é tão inteligente quanto você e o Patrey. – reafirmou minha mãe. Mesmo assim, fiz uma careta na direção do Yagor.
Depois de sugerir aos pais do Voyshelk uma consulta com o neurologista e o psiquiatra do hospital para alguns exames, ela lhes indicou um serviço especializado e multidisciplinar para o tratamento. A dislexia do Voy era de grau leve e, em poucos meses, vimos a progressão de seu desempenho escolar melhorando sensivelmente. Ele nunca chegou a ser um aluno brilhante nem no ensino fundamental nem no secundário, mas o apoio que eu e o Yagor lhe dávamos continuando a fazer as tarefas escolares juntos, permitia que ele avançasse de uma série para a outra.
Nosso trio sofreu um abalo com a chegada de uma família a um dos blocos de apartamentos da vulica Kamiennahorskaja. Entre as duas filhas do casal, Olesya Sackovsckaya, a mais velha, tinha a nossa idade, quinze anos. O Voyshelk e o Yagor a consideravam a mais linda das meninas tanto do condomínio, quanto do colégio e, como todo moleque movido a testosterona naquela idade, pareciam dois idiotas quando na presença dela. Junto com outra galera, eles faziam de tudo para impressioná-la, como pavõezinhos enfunados agitados pela dança do acasalamento.
- Não sei o que vocês veem nessa garota! É bonitinha, eu concordo, mas nada além disso! – respondia eu, quando os dois perguntavam minha opinião.
- Nada além disso? Você deve ser cego, ela é muito da gostosa! – retrucavam eles.
- Ou não gosta de garotas! – aventou o Yagor, com um risinho malicioso. Parti para cima da cara dele como um leão enfurecido. Depois de lhe acertar alguns socos, nenhum na cara como eu queria, pois sua força física e sua agilidade eram superiores a minha, levei uma porrada que fez meu nariz sangrar. Tão logo viu o que tinha feito, aproximou-se de mim querendo me amparar.
- Precisava fazer isso, seu idiota! Olha o que você fez! – berrou o Voy enfurecido, assim que me viu amparando as gotas de sangue que pingavam do meu nariz com a mão toda trêmula.
- Desculpa, Patrey! Não quis te machucar, juro! – exclamou o Yagor.
- Mas machucou, seu imbecil! – e sem esperar por alguma resposta, o Voyshelk o jogou no chão e os dois rolaram trocando socos e pontapés.
- Parem! Vocês dois se transformaram em dois idiotas depois que essa garota chegou aqui. – berrei ensandecido, mais pelo ciúmes que sentia dos dois do que pelo nariz machucado.
Só que a coisa não parou por aí. Olesya tinha o dom de seduzir os moleques, e não foram apenas o Yagor e o Voyshelk que tiveram o gostinho de entrar na bucetinha dela. Em menos de meio ano após sua chegada, uma boa leva dos garotos mais assanhados do condomínio já tinha enfiado suas rolas entre as pernas da garota. Isso não impediu que sua obstinação se voltasse para mim, considerado pelas adolescentes do colégio e do bloco em que morávamos, o garoto mais tesudo. Acabei, sem querer, despertando a inveja da molecada, que me incitava a pegá-la num cantinho escondido qualquer. Acontece que eu não tinha vontade nenhuma de desvendar os mistérios que se escondiam entre as pernas dela, e começava a achar que havia algo de errado comigo, uma vez que era o único a desperdiçar uma chance dessas.
Enquanto isso, crescia a animosidade entre o Voyshelk e o Yagor. Outrora podia-se dizer que eram bons amigos apesar de algumas rusgas e, subitamente, estavam se transformando em dois inimigos depois que ambos descobriram que estavam fodendo a mesma garota e, que cada um achava, estava apaixonada só por sua pessoa. De nada valeu a minha intromissão tentando convencê-los que não eram os únicos a quem a Olesya fica dando bola, e tentando remendar uma amizade que caminhava para o fim. Não demorou muito e nosso trio se separou. Se eu estava em companhia do Voy, o Yagor não se aproximava, se estava com o Yagor, o Voy agia da mesma forma. Os dois unidos no mesmo time fazendo gols contra o time oposto de garotos ficou sendo coisa do passado. Eu fui o que mais sofreu com essa separação. De uma hora para a outra, a estabilidade que eu sentia cercado pelos dois havia desaparecido.
Cerca de dois anos depois, com o advento de uns pelos esparsos crescendo na cara e no peito, juntamente com a exacerbação dos que cresciam desde alguns anos ao redor do pinto, a rebeldia do Voyselk o levou a ter problemas com o pai, que se via diante de um galinho empertigado querendo ciscar em seu terreno. O major Khodkevich não era muito bem quisto entre os vizinhos por sua inclinação fácil à bebida e às suas atitudes intimidadoras que julgava lhe serem de direito por conta da farda e do posto que ocupava no Comitê de Segurança do Estado. Ver seu filho questionando sua autoridade debaixo do mesmo teto, ao deixar seu comportamento de adolescente rebelde sem freios fazer com que o Voyshelk agisse como bem quisesse, foi criando um clima tenso no outrora lar submisso dos Khodkevich.
Eu estava lá naquela tarde fria de janeiro. Enquanto a neve caía abundante diante das janelas da sala, aumentando os quarenta centímetros que cobriam tudo lá fora, o major, o Voy e eu estávamos acomodados diante da televisão para assistir ao jogo da final entre o FC Dinamo Minsk, nosso favorito, e o FC Bate da Vysshaya Liga. As tardes ociosas de domingo eram o pretexto para o major abusar do álcool. Ele já estava alto, rindo à toa ou berrando palavrões sem se importar com as duas filhas menores. O Voy tinha insistido muito comigo para assistirmos ao jogo na casa dele, um lugar que eu não gostava de frequentar por nunca ter me sentido confortável no clima daquela casa. Ao final do primeiro tempo, a mesinha da sala contava com uma garrafa de vodca Syabrovka quase pela metade, além de meia dúzia de latinhas prateadas de 500 mililitros de cerveja Krynitsa já completamente vazias, duas das quais, haviam sido consumidas pelo Voyshelk, enquanto eu continuava me esquivando da permanente oferta do major para que experimentasse ao menos um copo de vodka. Aproveitando o intervalo, o Voy foi em direção ao banheiro para mijar, não sem antes esbarrar na mesinha bamba e derrubar a garrafa de vodka espalhando cacos de vidro e o precioso e fétido líquido pelo chão. A cara do major Khodkevich, já normalmente corada, ganhou um rubor efervescente e uma profusão de impropérios começou a sair de sua boca espumando uma ira incontrolável. Eu cheguei a tremer na poltrona onde estava sentado, não acostumado a presenciar esses ataques de fúria. O – Vá se foder! – exclamado pelo Voyshelk fez o major se erguer do sofá e desferir uma sequência de socos no filho, enquanto de sua boca continuavam espumando insultos que se podia ouvir reverberando por todo edifício. O Voy começou a revidar os socos, e eu, paralisado, não sabia se devia ou não me meter naquela briga entre pai e filho. O quebra-pau assumiu tal proporção, que a mãe do Voy veio tentar conter os ânimos, sem sucesso. Desesperada, ela tentou segurar o marido, em notória vantagem devido ao seu corpanzil contido em um metro e noventa de músculos trabalhados nos exercícios militares, o que o deixou ainda mais furioso. O Voy apanhava, mas uma ira que parecia ter sido cultivada ao longo do tempo, fazia-o acertar o pai com a potência de uma musculatura que também vinha se desenvolvendo a olhos vistos.
- Por favor, parem! Para Voyshelk, para! Berrei apavorado com o desfecho daquilo.
Por alguns segundos, ambos me encararam e suspenderam a contenda. Fiquei momentaneamente aliviado. Mas, assim que o major se aprumou, começou a ofender a esposa e, com a mesma fúria que socava o filho, começou a agredi-la. No primeiro soco que a acertou, ela foi parar no chão, sobre os cacos de vidro da garrafa de vodka, contorcendo-se com a dor dos estilhaços entrando em sua pele. Eu jamais voltei a ver um brilho como aquele que se formou no olhar do Voyshelk, ódio, sede por morte, desejo de tortura, estavam sendo emitidos daquele olhar. Ele voltou a atacar o major, desta vez com a ira redobrada. As meninas surgiram nem sei de onde, choravam e gritavam, a mãe continuava se contorcendo no chão, onde tentei ajudá-la a se levantar e gritava para que os dois parassem. O major estava com o joelho sobre o peito do Voy e desferia socos na cabeça que ele tentava proteger com os braços, ia matá-lo. No meio do caos de objetos que haviam caído no chão e móveis que se moveram do lugar, eu vislumbrei sobre um aparador, um coldre com a Makarov 9mm do major. Nem sei como minhas pernas me levaram até o aparador, minhas mãos tremiam tanto que quase não consegui abrir o botão de pressão que fechava o coldre quando tirei a pistola lá de dentro. O rosto do Voy estava empapado de sangue, a sala começou a girar ao meu redor, meus braços se ergueram como se estivessem sendo guiados por um cérebro alheio ao meu, o estampido seco ecoou para além da sala e arrancou um pedaço de gesso do teto que se espalhou em migalhas sobre o chão. A briga cessou. Todos olhavam na minha direção com os olhares arregalados, eu tremia.
- Basta! – berrei, mesmo não havendo mais gritos a serem superados.
- Solte essa arma, moleque! – gritou enfurecido o major, vindo arrancá-la das minhas mãos.
- Não dê mais um passo ou eu atiro outra vez! – ameacei, embora duvidasse que pudesse apertar novamente o gatilho com os meus dedos moles como estavam.
Quando o major se deteve na expressão do meu rosto, decidiu que era mais prudente ficar onde estava. Em minutos, a polícia dava murros na porta e exigia que ela fosse aberta. O policial corpulento e jovem que se aproximou cautelosamente de mim, foi abrindo meus dedos e tirando a pistola das minhas mãos. Outro se aproximou vendo que o perigo havia acabado e me amparou quando meu corpo começou a inclinar para o lado prestes a desabar no chão. Tudo ao meu redor rodopiava feito um pião, mas eu me recusei a desmaiar, lutava comigo mesmo para permanecer consciente. Fomos levados à chefatura da polícia para dar explicações daquele pandemônio causado no bloco de apartamentos. Enquanto menor de idade, meu pai foi chamado no hospital. Desabei num choro arrependido quando ele me tomou em seus braços, garantindo que tudo sairia bem. Devido a sua patente, um superior foi requisitado do Comitê de Segurança do Estado para acompanhar o depoimento do major que, com aquele ato, estava pondo fim a sua obscura carreira sem o saber.
Havia algum tempo que a postura do major de ressaca vinha desagradando seus superiores dentro do Comitê. Ele ainda representava a velha forma de atuação herdada da KGB, e os novos ares que precisavam ser postos em prática devido às pressões de órgãos estatais e ONGs estrangeiras, além da imprensa internacional, não combinavam com seu modo de agir. A corregedoria do Comitê resolveu, num primeiro tempo, recolhê-lo a um quartel ao qual evitavam chamar de prisão, embora o fosse e, num segundo tempo, afastá-lo definitivamente da sede do Comitê, designando-o a um cargo figurativo num escritório diplomático em Baku no Azerbaijão, até sua aposentadoria. A família não o seguiu, permanecendo no apartamento da vulica Kamiennahorskaja.
Meu pai relutou em permitir que o Voyshelk dormisse em casa naquela noite, disse que eu já havia me metido em confusão demais por aquele dia, mas acabou permitindo por eu ter, ao final de tudo, saído da chefatura de polícia quase como um herói, por ter impedido com minha atitude impensada que uma desgraça maior acontecesse. Eu havia insistido porque seria a única maneira de eu mostrar minha solidariedade com o Voy que, àquela altura, já tinha um olho roxo, o lábio inferior cortado e inchado e a expressão mais sofrida que já tinha visto na cara de alguém. Até perto da meia-noite o Yagor estava conosco. Ele resolvera fazer uma trégua em suas desavenças com o Voyshelk, e levar um pouco de apoio ao amigo de infância. Quando ele se foi, me senti um pouco constrangido de ficar sozinho com o Voy no meu quarto, um lugar tão íntimo onde raramente fiz algum amigo entrar. Eu me despi para vestir o pijama, o Voy também, embora não tivesse trazido um de casa e nem pedido algum emprestado.
- O que está olhando com essa cara apalermada? Você por acaso é viado, nunca viu um pinto? – questionou carrancudo, quando meu olhar se fixou na pesada e peluda rola que pendia entre suas coxas. Eu ia soltar um palavrão, mas acabei concluindo que ele já havia sido xingado e humilhado demais num só dia.
- Não sei! – balbuciei, sem deixar de continuar admirando seu dote.
Ele veio até mim antes de eu vestir qualquer peça do pijama, tocou meu rosto e fixou o olhar no meu. Eu estremeci. Sem desviar o olhar, suas mãos começaram a descer em paralelo dos meus ombros, deslizando sobre meu tórax, alcançando meu ventre, contornando minhas ancas e rumando em direção as minhas nádegas protuberantes, que todos achavam volumosas e sensuais demais para um rapaz. O silêncio dele me assustava. Tinha-o visto fazer coisas inimagináveis naquele dia, e aquele silêncio parecia estar escondendo outras tantas disposições passando por sua mente que estava pretendendo executar, as quais não me atrevi a tentar desvendar. Num puxão, com suas mãos apertando meus glúteos, ele fez meu tronco colar no dele. Nossos rostos estavam tão próximos que eu sentia o ar que ele expelia roçar minha pele. Com um esforço hercúleo semelhante ao que precisei usar para erguer aquela pistola, levei minhas mãos aos ombros dele. Só então reparei como eram largos, fortes e másculos. Ele tocou meus lábios com os seus, quando se lembrou que estavam inchados e doloridos. Soltou um ‘ai’, antes de voltar a me beijar. Eu não sabia o que fazer com as minhas mãos, nem com os meus lábios, nem com o que estava ocasionando uma pirotecnia dentro do meu peito. O Voyshelk moveu sua boca sobre a minha, apesar da dor que aquilo lhe causava. Eu abri a minha e, suavemente, movi meus lábios sobre os dele. Senti como ele aumentou a potência de sua pegada e, lentamente, foi introduzindo a língua quente e molhada na minha boca. Um bailado movia nossas línguas, que se entrelaçavam, se bolinavam lascivamente, enquanto nossos corpos tentavam fazer o mesmo, se roçando em plena nudez alvissareira. A ereção do Voyshelk estava enorme, tocando minhas coxas. Desviei meu olhar para ela. O prepúcio havia desencapado totalmente a glande lustrosa cor de ameixa, deixando-a bem mais saliente do que a grossura do restante da pica. Esta, pomposa e içada feito o braço rijo de uma grua, formava um ângulo de aproximadamente trinta graus com o ventre musculoso dele, emergindo de um grande tufo de pentelhos pretos, entre os quais se camuflava um gigantesco saco contendo seus colhões abarrotados. Seus genitais impressionavam pela harmoniosa beleza e pelas fantasias que inspiravam. Ele viu como eu estava impressionado com eles.
- Você é viado? – perguntou, desta vez sem aquele tom rude na voz.
- Não sei! – respondi novamente, pois naquele instante, eu mal saberia afirmar quem eu era.
Ele tornou a me beijar, um beijo demorado, sensual e abrasador. Deitou-me de bruços na cama, deixando parte das minhas pernas penderem para fora, colocou alguns beijos molhados nas minhas nádegas antes de apartá-las abrindo meu reguinho, e expondo minha rosca anal rosada. A suave aragem que senti soprar sobre as minhas pregas me fez gemer. Nunca havia estado tão vulnerável, era excitante e assustador. Seus beijos entremeados com algumas mordidas sobre a minha pele lisa iam se afunilando em direção ao meu cuzinho, desencadeando espasmos que se intensificavam e fugiam ao meu controle. A avidez com que ele queria chegar até meu orifício anal o fez soltar outro ‘ai’ por ter esquecido que sua boca estava estropiada. Ele projetou a língua sobre a rosquinha para poupar o lábio ferido, movendo-a em círculos sobre as vilosidades macias que se contorciam a cada toque dele. O meu ‘ai’ diferiu do dele por não ser pungente, mas libidinoso. Nunca o toque de alguém havia causado tamanho reboliço no meu corpo como a língua o Voyshelk lambendo meu ânus. Os ‘ais’ pipocavam ora nos meus ora nos lábios dele, expressando tesão no meu caso e dor no dele. Ele se posicionou, guiou a rola em pinceladas ao longo do meu rego e, quando se deteve sobre as pregas, lambuzou-as com o melzinho aquoso que minava de sua uretra. Um impulso vigoroso enfiou a cabeçorra através dos meus esfíncteres, estirando-os e rasgando minhas pregas. Um ‘ai’ desta vez não seria suficiente para se contrapor aquela dor lancinante, como se o gume de uma faca estivesse me cortando a carne, e eu soltei um ganido angustiado.
- O que fazem acordados até tão tarde, já passa de uma da madrugada! Façam silêncio, amanhã terão que ir cedo para o colégio! – reclamou minha mãe do quarto oposto do corredor, nos fazendo lembrar que o mundo não havia parado, nem era só nosso como aquela conjunção fazia crer.
As coxas peludas do Voyshelk também tremiam, ansiosas para consumar a penetração de sua pica sedenta na maciez acolhedora do meu cuzinho apertado. Ele fazia um esforço gigantesco para se controlar, para ir metendo seu cacete aos poucos e gentilmente na minha bunda sem me fazer gritar de dor, e procurando me machucar o mínimo possível, quando seu corpo todo e sua gana irrefreada exigiam que ele fodesse meu buraquinho com a completude do tesão que estava sentindo.
- Patrey, Patrey! Que tesão de cuzinho é esse Patrey? – gemeu ele.
Estocada após estocada o membro dele se avolumava nas minhas entranhas, me preenchendo com a mais maravilhosa sensação que já havia experimentado. Ele estava tão dominado pelo prazer de sentir sua rola agasalhada que continuou estocando, mesmo quando o sacão já batia contra meu reguinho arregaçado. Eu continuava soltando uns ‘ais’ achando que aquela verga nunca ia chegar ao fim, quando ele deixou o peso do corpo dele cair sobre as minhas costas. Senti seus beijos nas minhas omoplatas, no meu cangote, na minha orelha, junto com fungadas e outros sons impudicos que ele deixava escapulir da boca.
- Ai, Voy! – gemi, completamente entregue aos seus caprichos.
Depois de um curto vaivém, ele tirou a rola do meu cuzinho, me arrastou até quase a cabeceira da cama, manteve minhas costas apoiadas e abriu minhas pernas colocando-as sobre seus ombros. Dedou aviltante e dominadoramente meu cuzinho, fixando seu olhar ganancioso na brandura do meu. Pegou novamente a caceta e a meteu em mim, observando detalhadamente minhas expressões faciais se contorcendo de dor e se regozijando de prazer.
- Meu doce e suave Patrey! – sussurrou ele, afundando todo o caralho no meu rabo.
Eu envolvi seu rosto inchado, beijei-o onde estava menos danificado, deslizei meus dedos sobre seu lábio sadio e abracei seu tronco largo e pesado. Ele mergulhava em mim como se estivesse mergulhando numa piscina aquecida num dia de inverno, movendo sensualmente seus quadris e dando ao vaivém uma cadência potente, mas carinhosa. Aquele estado no qual eu estava imerso ia muito além do deslumbramento, era a felicidade pura em seu estado mais impoluto e, o que estava vindo acompanhando o retesar do meu corpo, era o orgasmo, o auge do mais verdadeiro sentimento que já tive pelo Voyshelk. Gozei melando todo meu ventre.
- Fiz você gozar, Patrey? – questionou ele, um pouco empertigado. Respondi com um sorriso e um aceno de cabeça.
O entra e sai da pica dele no meu cu continuava, ora selvagem, ora carinhoso. Ao perceber que ia gozar, ele voltou a fixar o olhar em mim, queria acompanhar minha reação quando sentisse sua porra me umedecendo todo. Talvez também uma forma de me mostrar que era o macho, especialmente pelo que me falou depois, quando terminou de ejacular e tirou a caceta do meu cuzinho.
- Desde quando você é viado? – perguntou, com a cabeça apoiada no meu ombro, onde eu a afagava.
- Desde há pouco quando esse seu caralho enorme pulsava dentro de mim. – respondi. Achei que os minutos de silêncio que se seguiram haviam encerrado suas dúvidas.
- Eu sou macho! – asseverou.
- Eu sei! Acabei de confirmar isso, e ainda estou sentindo o macho maravilhoso que você é, escorrendo pelas minhas vísceras.
- É só para você não ficar imaginando coisas! – completou.
- Não estou imaginando nada. – retruquei.
- É bom mesmo!
Ele não se mudou para a cama ao lado que havíamos improvisado para ele passar a noite. Abraçou-se ao meu corpo e adormeceu.
As semanas seguintes foram um tanto quanto esquisitas, ele e eu parecíamos dois estranhos. Carecíamos de assunto em nossas conversas quase monossilábicas, o que jamais havia faltado até então. Acho que ambos não queriam falar sobre aquela noite, sobre o que sentimos, sobre algo que não estávamos compreendendo direito. O Yagor chegou a pensar que havíamos tido uma discussão. Com ambos negando enfaticamente, ele começou a desconfiar daquele silêncio sem causa.
- Se não brigaram, por que estão tão esquisitos um com o outro? – quis saber.
- Isso não é da sua conta, nem da de ninguém! – respondeu o Voyshelk
- Vocês transaram! – persistiu o Yagor.
- Vou quebrar a sua cara se tornar a repetir uma coisa dessas! – ameaçou o Voyshelk, agarrando o pescoço do Yagor.
- Vocês dois querem parar com essa violência! Seus idiotas! Basta uma simples palavrinha para um ameaçar de quebrar a cara do outro, coisa ridícula! – exclamei intervindo.
- Então manda seu amiguinho calar essa boca! – explodiu o Voy.
- Está me parecendo que você é o amiguinho do Patrey, e não eu! – revidou o Yagor.
- Parem! Que saco! – berrei. O Voyshelk saiu pisando firme para não partir para as vias de fato. – Contente agora? – questionei, ao que Yagor deu de ombros.
- Vocês dormiram juntos naquele dia da confusão, não foi? – perguntou, como se só lhe faltasse uma palavra para confirmar suas suspeitas.
- Não! – respondi. Ele não acreditou.
O Voyshelk e eu retomamos nossas conversas aos poucos, assim como alguns encontros clandestinos. Ele me chamava para caminhadas que iam dar nas margens da represa de Dradzy a pouco mais de sete quilômetros de casa, onde transávamos sob as copas de abetos; a uma ruina de uma velha fábrica abandonada, onde me enrabava entre as janelas em arco, sem vidros, no chão de basalto frio; ou sob os vãos das arquibancadas de concreto da quadra poliesportiva do colégio, quando ninguém mais circulava por lá, ele podia instalar sua jeba no fundo da minha rosquinha, enquanto se deixava acariciar como um cãozinho dengoso.
- Você vai se apaixonar por mim algum dia? – perguntei certa ocasião, com ele dentro de mim.
- Já estou apaixonado por você. – respondeu
- Se eu te pedir, vai ficar comigo?
- Não tenho uma resposta para essa pergunta. – respondeu. Para compensar meu olhar perdido, ele me beijou. E, me fez outra, minutos depois.
- Você já se deitou com o Yagor?
- Por que está me perguntando isso agora?
- Responda! Deixou ele te enrabar?
- Não tenho uma resposta para essa pergunta. – toda a caminhada até em casa aconteceu sem trocarmos uma palavra sequer.
Voyshelk estava com dezoito anos, idade em que éramos recrutados compulsoriamente para o serviço militar, e ele havia decidido que seguiria essa carreira quando findasse o período compulsório, além de começar a fumar e me apresentar uma garota chamada Nastya como sua namorada.
- Por que quer que eu saiba dessas suas decisões ridículas? – perguntei.
- Somos amigos, queria dividir as novidades com você.
- Mentira! Quer ficar longe de mim porque tem medo de ficar ao lado de um gay, me afasta com esse maldito cheiro de cigarro porque sabe que eu detesto, e essa pobre infeliz, sabe que está sendo usada para me fazer ciúmes? – devolvi. Eu senti que o estava perdendo e, por mais confuso e dividido que eu estivesse com relação ao que sentia por ele e pelo Yagor, achei que ele estava sendo injusto comigo.
- Agora o ridículo é você! – revidou. Não nos falamos por algumas semanas.
Ao contrário do Voyshelk, que nunca tinha expressado ou deixado transparecer o que sentia por mim, o Yagor sempre se posicionou como um irmão. Não sei se por sermos vizinhos de porta desde o nascimento, termos frequentado a casa um do outro desde que nos firmamos sobre nossas próprias pernas, termos muitas e muitas vezes dormido ora no meu quarto ora no dele, termos compartilhado nossos brinquedos como nunca fizemos com outras crianças e, crescido conhecendo todos os fatos e detalhes da vida um do outro, a questão era que parecia não haver espaço para outros naquele nosso mundo. Mesmo a participação do Voyshelk nesse relacionamento pareceu ser um empecilho na cumplicidade que tínhamos. Havia sim, uma certa competição entre os dois, quando crianças, pela minha atenção, mas nada que gerasse tensão ou desentendimentos. Após a puberdade, as coisas foram mudando sutilmente, a ponto de serem quase imperceptíveis até para nós mesmos. Os poucos meses que nos distanciavam em idade não conseguiam explicar o porquê de eu aos quatorze anos ainda não ter chegado nela, enquanto o Voyshelk e o Yagor vivenciavam a mudança do tom de voz, viam suas virilhas sendo povoadas por pentelhos cada vez mais densos, terem a musculatura de seus corpos se tornando vigorosa e, se confrontarem com suas picas experimentando vexatórias ereções em público e acordarem no meio da noite liberando poluções cada vez mais volumosas. Com as diferenças físicas entre nós três se tornando cada vez mais nítidas, eu, mesmo envergonhado, enchia meus pais de perguntas, uma vez que a temática predileta da garotada no colégio versava sobre sexo e seus mistérios. As respostas às minhas perguntas eram quase sempre as mesmas, me asseguravam que não havia nada de anormal comigo, que meninos em climas frios entravam na puberdade mais tardiamente, que eu não precisava ficar tão ansioso com isso que tudo vinha em seu devido tempo, e daí por diante. Embora eu acreditasse neles, afinal eram meus pais e ainda por cima médicos, não me conformava de ainda parecer um menininho enquanto todos pareciam estar se transformando em homens.
Não me bastassem esses questionamentos, o Yagor e seus hormônios circulando por aquele corpão cada dia mais sensual, deu para reparar na textura e no cheiro da minha pele, na bundinha roliça que sempre esteve ali deixando as calças apertadas naquela região que, até então nunca lhe tinha despertado a curiosidade, sem contar os traços suaves do meu rosto, a forma das minhas coxas, a inocência dos pequenos mamilos, tudo de repente, virou alvo de suas observações e comentários. Só comecei a me incomodar quando percebi que aqueles esbarrões e toques frequentes que ele me dava não tinham nada de fortuitos, mas eram fruto do tesão que sentia pelo meu corpo, e os responsáveis pelas ereções que aconteciam nessas ocasiões. Numa tarde em que fui fazer as tarefas escolares na casa dele, cheguei a flagrá-lo se masturbando no banheiro depois de ficar me abraçando e apertando numas brincadeiras que dera para fazer comigo. Tudo não passava disso até a chegada da Osleya, quando ele e o Voyshelk tiveram suas primeiras experiências sexuais, e acirraram aquela competição antiga que havia entre eles.
O Yagor pareceu ter adivinhado o que houve entre o Voyshelk e eu, tanto que nos lançou isso na cara, esperando uma confirmação que não veio de nenhuma das partes. Ele havia encasquetado com isso e ficava me questionando porque eu não deixava ele me tocar sabendo do tesão que sentia por mim, enquanto deixava o Voyshelk me foder como bem entendesse.
- Está maluco! De onde você tirou esse absurdo de que eu deixo o Voy me foder? Não fique achando que todo mundo é tarado como você, que fica passando a mão na gente e depois corre para o banheiro para bater punheta. – afirmei, durante mais uma discussão sobre aquela noite que passei com o Voyshelk.
- Não adianta vocês negarem! Eu sei que rolou sacanagem entre vocês, e continua rolando! – asseverou.
- Sacanagem é o que tem nessa sua mente pervertida!
- Então me prova que ele nunca fez nada com você!
- Como é que se prova uma coisa que nunca aconteceu? Pirou?
- Eu também quero transar com você! O Vitan enrabou o Bogdan, aquele bundudinho com furo no queixo da secunda série, durante aquela excursão do colégio até o complexo de castelos de Mir e Niazviz, e disse que um cuzinho é bem mais apertado que uma buceta. Se você deu para Voy nada mais justo que dê para mim também, quero saber como é. – disparou suas sandices.
- Você é doente Yagor! Vá se tratar! Quando você começou a andar com esse Vitan se transformou num tarado. Detesto esse sujeito, não fala de outra coisa que não sexo. E, você está ficando igualzinho a ele. Vocês querem transar com as garotas e os carinhas gays só para depois ficarem se gabando e contando para todos no colégio quem comeu quem. – revidei. – Não fique achando que vou cair na boca do povo, só porque você quer enfiar essa geringonça em tudo que é buraco. – emendei.
- Se você deixar eu fazer em você, juro que não conto para ninguém. - asseverou
- Vou deixar de ser seu amigo se você voltar a tocar nesse assunto, isso eu estou jurando! Entendeu? – devolvi zangado.
- Você sempre gostou mais do Voy do que de mim, mas sempre fui eu quem mais ficou do seu lado quando invocavam com você, não se esqueça disso! – exclamou.
- E por isso você acha que pode ficar me cobrando sexo em troca do que fez por mim? Eu nunca gostei mais do Voy do que de você, gosto dos dois do mesmo jeito.
- Se gosta de mim como diz, que custa deixar eu fazer em você? – insistiu.
- Nunca vou deixar você fazer nada comigo! – retruquei. Eu tinha dezessete anos então, mas já devia saber que – nunca – é uma palavra que se deve usar com parcimônia e sabedoria, não foi o que fiz naquela época.
O Voyshelk e eu andávamos meio estremecidos depois que ele veio com aquele monte de novidades para cima de mim. Haviam se passado alguns meses e chegado a véspera de sua partida para o serviço militar, e o fim do nosso último ano letivo do ensino secundário. Tive medo de que ele partisse sem me dizer um até breve, mas não o procurei, pois tinha tentado a algumas semanas indo à casa dele, mas a mãe me disse que ele tinha saído com a Nastya. Vai ver estão mesmo namorando sério, pensei comigo, enciumado. Ele indo servir o exército em Hrodna a quase trezentos quilômetros de casa, somado a sua determinação de continuar seguindo a carreira militar, faria com que não nos víssemos mais ou, quando muito, se ele viesse visitar a mãe e as irmãs em suas folgas por alguns poucos minutos, uma vez que dedicaria o restante para ficar na companhia da Nastya.
- Pode vir aqui em casa esta tarde? – perguntou, ao me ligar no dia anterior a sua partida.
- Claro! Não sei se sua mãe te falou, mas eu estive aí umas semanas atrás.
- Falou sim! Às 19:00 horas está bom para você?
- Está!
- Então te espero!
- Ok!
Ele sabia que o procurei e não me procurou, custava ter ligado, pensei comigo. Marcando hora como se fosse uma consulta médica ou algo parecido, entre amigos existe essa pontualidade, questionei meus botões. Tanto tempo sem nos vermos e ele mal usa uma dúzia de palavras para falar comigo, isso depois de eu ter me entregado a ele não tanto quanto desejava, mas o bastante para não nos tratarmos como estranhos. Fui para o encontro desesperançoso.
Ele estava sozinho em casa, as irmãs e mãe tinham ido visitar uma tia por parte do major. A neve tardia de abril, suja e acinzentada, ainda cobria as calçadas, mesmo assim ele estava sem camisa, enfiado num moletom surrado amarrado com um nó frouxo na cintura, o que permitia ver as duas depressões que partiam da parte baixa de seu abdômen em direção à virilha. A calefação ligada me obrigou a tirar o casaco leve que trazia por baixo da jaqueta impermeável. Da cozinha vinha um cheiro apetitoso, de algo provavelmente assado. Foi para lá que ele me conduziu depois que me livrei dos casacos pesados.
- Hummm, que cheiro delicioso! Você não disse que sua mãe não está em casa? – perguntei
- E não está! Acha que sou incapaz de preparar um jantar?
- Não, não é isso, só fiquei surpreso. – ele me parecia amistoso, alguém que oferece um jantar para um amigo íntimo antes de se ausentar por muito tempo. – É amanhã que você parte?
- Sim, no trem do meio da tarde. – respondeu.
- Serão dezoito meses. Volte depois disso, não insista em fazer a carreira militar, há tantas opções melhores.
- Melhores para quem? Esqueceu que sou disléxico, que a faculdade está longe de ser uma opção no meu caso? – questionou.
- Melhor para você, para o seu futuro! A sua dislexia praticamente desapareceu com o tratamento, e nunca te impediu de acompanhar os outros estudantes. Por que seria diferente na faculdade?
- Já tomei minha decisão!
- Não sei como vou me virar sem você! – já não havia necessidade de esconder meus sentimentos, confusos e divididos que fossem.
- Você tem o Yagor! Trate de se virar com ele.
- Não faz isso com a gente, por favor? – enxuguei os olhos, para não parecer um frouxo.
- Eu te chamei aqui para uma confraternização de despedida, não para você ficar me enchendo o saco. – o tom rude que emprestou à voz nada mais era que a dor que aquela separação estava lhe causando.
- Está bem, não vou ficar te enchendo.
A mesa num canto da cozinha, junto a uma janela que dava vista para o recém-renomeado parque Hugo Cháveza estava caprichosamente posta, com um pequeno arranjo das primeiras flores da primavera e duas velas grossas sobre suportes de vidro. Eu não havia reparado nela até o Voyshelk tirar do forno duas costeletas douradas cercadas de algumas batatas coradas e legumes assados numa travessa refratária que encaixou no centro da mesa. Ele me sorriu quando a deixou ali e sugeriu que eu abrisse a garrafa de vinho que estava próxima à pia.
- Obrigado! – balbuciei, não queria chorar, mas aquilo tudo preparado para mim tornava difícil resistir.
- Pelo quê?
- Por isso tudo, por você. – respondi.
Falamos pouco durante o jantar, outra vez parecia que estávamos sem assunto, quando havia tanto a ser dito. De quando em quando, olhávamos calados pela janela, sem o mencionar, ambos se recordavam das inúmeras vezes em que brincamos naquele parque quando não havia problemas como os de agora. Ajudei-o com a louça ao final do jantar. Ele ia ensaboando e lavando enquanto eu as secava. Suas costas largas e musculosas estavam voltadas para mim, eu as queria em meus braços. Larguei a toalha num canto e me aproximei dele. Toquei seus ombros e os beijei, deixando as mãos deslizar suavemente sobre seu tronco viril. Ele continuava lavando a louça como se não estivesse sentindo minhas mãos ardendo contra a pele dele. Eu não sabia o que dizer, pedir que me beijasse, pedir que me fodesse, confessar que o amava sem saber se isso era realmente verdade, tudo parecia sem sentido, e expressar isso em palavras me faria parecer um tolo imaturo. Era melhor deixar minhas mãos falando por mim, ao menos seria recompensado por aquela sensação maravilhosa de poder acaricia-lo. Porém, subitamente, ele largou tudo que tinha nas mãos dentro da pia, virou-se na minha direção, me agarrou com as mãos molhadas e me beijou com fúria e paixão, inclinando-me sobre o balcão da pia e arrancando minhas roupas numa sanha desesperada. Tomou-me em seus braços quando eu já estava nu e comprimiu minhas costas contra a parede, mordeu meus mamilos com força e os tracionou até eu gemer de dor. Eu me agarrava ao seu pescoço e firmava minhas pernas ao redor da cintura dele, como se estivesse montado num cavalo. Uma de minhas mãos entrou com os dedos abertos em sua cabeleira sedosa e trazia sua boca para meus peitinhos como se eu estivesse dando de mamar a um bebê. Comecei a gemer. O Voyshelk enfiou um dedo no meu cuzinho e eu gani. Com passos firmes ele me levou ao seu quarto, deslizei pelo corpo sarado até o chão diante dele. Puxei a calça de moletom para baixo, ele estava sem cueca e o caralhão duro que saltou para fora despencou no meu rosto. Segurei-o com delicadeza e coloquei a cabeçorra na boca. Encarei-o com um olhar que misturava o tesão que estava sentindo por ter aquela rola na boca e a súplica para que nunca me abandonasse. Trabalhei devota e demoradamente aquele pinto e o sacão, lambendo, mamando e mordiscando a pele quente e excitada dele. O Voyshelk grunhia, segurava a respiração para adiar o gozo, agarrava minha cabeça e a enfiava na virilha, metendo o cacetão no fundo da minha garganta. Repentinamente a porra veio, o primeiro jato espesso se esparramou pelo meu rosto; do segundo em diante, minha boca amparou todos e eu os engoli como se disso dependesse minha vida. Não era o suficiente, nem para ele nem para mim. Despi-me às pressas, simplesmente atirando as peças ao chão, eu queria que ele me visse completamente nu, que me desejasse como eu o desejava. Lancei-me em seus braços e ele acariciou meu corpo com um sentimento de posse. Puxei-o para cima de mim ao me sentar na cama, beijando-o e acariciando-o. Ele se deixou cair sobre mim, e eu fui abrindo as pernas, erguendo-as no ar, para que ele soubesse o caminho que eu queria que ele trilhasse. Ele apertava meu tronco contra o dele, esfregava o cacete entre as bandas da minha bunda, atiçando meu tesão já incendiado. Eu arfava, minha pele em contato com a dele parecia estar em brasa. Ele deu uma estocada bruta e meteu o caralho no meu cuzinho, eu gani e ele gemeu. Pensei que fosse me foder com a mesma brutalidade que me penetrou, mas, bastou a pica estar toda entalada em mim, para que ele acariciasse meu rosto e, lentamente, começasse a friccionar sua carne intumescida e dura através do meu anelzinho apertado. Eu me abria como o desabrochar de uma flor contribuindo para que o vaivém do cacete varando meus esfíncteres constritos aguçasse o tesão dele. O Voyshelk me enrabava com cuidado, sem aquele furor que usou na penetração, eu quase não precisava gemer, basta respirar na mesma cadência e intensidade com que a pica se movia no meu cu. O tesão e o prazer eram tão intensos, que minhas mãos se fechavam em seus flancos cravando os dedos nos músculos rijos. Achei que não poderia haver prazer mais completo, mas meu gozo fluindo livremente do meu pinto, me mostrou que não. Ver o sorriso discreto no semblante do Voyshelk se formando quando me viu gozando coroou meu prazer. Ele ejaculou minutos depois, tanta porra espessa e morna, que nem parecia fazer menos de meia hora que ele despejara igual volume na minha boca.
Não o deixei sair de cima de mim, fiquei abraçado ao seu tronco e acariciando sua nuca com as pontas dos dedos, ele se deixou entregue aos meus afagos, permanecendo com a cabeça apoiada no meu ombro e o corpão se encaixando em cada uma das curvas do meu. Tudo mergulhou em silêncio. Ouvia-se lá fora, ao longe, um ou outro carro passando, uma porta batendo no apartamento ao lado, vozes abafadas, uma televisão ligada, tudo chegando a nós como se fossem sons vindos de outra galáxia. De real, só havia o ruído cicioso das nossas respirações, e o tum-tum rítmico dos nossos corações.
- Você usa camisinha quando transa com a Nastya? – questionei.
- Sim!
- Sempre?
- Sim!
- Você nunca usou camisinha comigo. – afirmei
- Por que, gostaria que eu tivesse usado? – indagou, sua voz rouca me indicou que estava quase cochilando nos meus braços.
- Não! Gosto do seu sêmen! - respondi
- Patrey, Ah! Patrey! – os olhos dele estavam úmidos quando ergueu por um momento a cabeça e me encarou.
Acordamos no meio da manhã, fizera frio durante a noite e nossos corpos permaneceram enrodilhados, quando abri os olhos, o braço do Voyshelk me mantinha junto dele, e o movimento sutil das minhas pernas me indicou que a cabeçorra da rola dele estava dentro do meu cu.
- Vista-se e vá para casa! – ordenou ele, rude, como se a noite anterior não tivesse existido.
- Quero te acompanhar até a estação.
- Não! Vá embora! – obedeci. Não quis que uma discussão fosse a lembrança que ele levaria de mim.
Ao chegar em casa, o Yagor veio ter comigo. Ele havia deixado a porta do apartamento deles entreaberta, só para me interceptar quando passasse por ela.
- Onde foi que você se meteu? – eu estava triste demais para iniciar uma briga.
- Fui me despedir do Voyshelk! – confessei, embora ele já suspeitasse disso.
- Desde o início da noite de ontem? Despedida longa, não acha?
- Eu teria ficado mais tempo tentando convencê-lo a não ir, se ele não tivesse me escorraçado. – respondi.
- Ao menos juízo ele tem! – retrucou ele.
- Você não vai se despedir dele? – inquiri
- Vou! Combinamos que eu o acompanharia até a estação ferroviária esta tarde. – revelou.
- Vou com você! – exclamei animado.
- Não, não vai! Já basta o que fizeram para se despedir. Ademais, ele me recomendou que não o levasse comigo. – afirmou.
- Isso é invenção sua, o Voy jamais teria dito algo assim. – certeza do que estava afirmando eu não tinha, nos últimos tempos eu já não conhecia mais o Voy como antigamente.
- Pode estar certo disso!
- Então fale com ele, peça para não ir. – pedi
- Ele precisa ir, ele foi convocado a servir o exército, não foi um convite do qual se pode declinar se lhe der na telha. – retrucou.
- Eu sei! Mas quando terminarem os 18 meses compulsórios, peça para ele não se engajar no exército, peça para ele voltar. Peça não, insista, intime! – supliquei.
- Não! Ele precisa seguir o caminho dele. – devolveu o Yagor.
- Você está feliz com isso, não está? Era tudo o que você sempre quis, tirar ele do seu caminho! – acusei.
- Ele nunca esteve no meu caminho, você bem sabe disso! – exclamou confiante. A segurança com a qual ele fez essa afirmação me espantou.
- O que vai ser de nós sem ele? – subitamente um flash do rosto do Voyshlek com os olhos marejados quando confessei que gostava do esperma dele me veio à mente. Não consegui mais segurar aquele nó que veio apertando minha garganta desde que deixei a casa do Voyshelk.
- Você vai se acostumar! – respondeu, como se isso realmente pudesse acontecer.
O Yagor me abraçou tão apertado que mal conseguia respirar. O peito largo dele era, sem dúvida, um abrigo seguro onde eu não precisava fingir, onde não precisava mostrar que era forte, onde eu me sentia amado. Ele me deixou chorar ali mesmo no corredor, afagando meu rosto e secando minhas lágrimas.
- Vem comigo! Vou fazer com você o mesmo que o Voy fez a noite toda, e você vai ver que não está sozinho. – eu não consegui acreditar no que estava ouvindo.
- Eu odeio você, Yagor! Odeio! – exclamei furioso, livrando-me de seus braços e socando seu tórax, antes de correr em direção à porta de casa.
- Não odeia, não! Você me ama! – ouvi-o afirmando enquanto destrancava a porta.
Fiquei semanas sentindo a dor e o vazio da partida do Voyshelk. Pensei que ele fosse me ligar ou me mandar um e-mail contando como era a vida no quartel, como eu havia pedido, mas ele não o fez. E, eu sabia, não o faria nem com o passar dos meses.
No final daquele verão, o Yagor e eu entramos na faculdade, ele em direito e eu em publicidade e jornalismo na Universidade Estatal de Belarus. Nossas vidas pareciam ter ganho novo impulso, a adolescência com suas conturbações e incertezas havia ficado no passado, assim como uma miríade de recordações.
Fui para a cama com o Yagor na madrugada de Ano Novo daquele ano. Tínhamos nos juntado aos milhares de pessoas que ocuparam a Praça da Independência para assistir ao espetáculo de fogos de artifício e brindar a chegada do novo ano. Estávamos cercados de outros amigos, mas à meia-noite, quando se abraçavam e pulavam, o Yagor me apertou contra seu peito e colou sua boca à minha, lascivo e sem pudores. Entre risos e comemorações, todos acharam que aquilo não passava de um arroubo provocado pela vodka e pelo champanhe. Ele e eu sabíamos que não. Assim como eu sabia que aquele brilho em seu olhar, enquanto caminhávamos para casa sob os flocos de neve caindo junto com um vento de regelar a alma, também não podia ser imputado ao álcool. Fomos diretamente para a cama após uma ducha rápida sem nos preocuparmos em cobrir nossos corpos com alguma vestimenta. Veio o primeiro beijo, depois o segundo, outros e outros, tórridos, lascivos, com nossas línguas enlaçadas numa dança impudica e úmida. As mãos potentes do Yagor se apossavam do meu corpo que eu lhe oferecia voluntária e sensualmente, vendo crescer seu tesão por mim e aquele caralhão grosso que estava entre suas coxas musculosas. Ele afastava o corpo um pouco do meu para que eu visse seu gigantesco estado priápico e me animasse a satisfazer seu apetite. Quando coloquei aquela verga pesada toda melada na boca, sabia que já devia ter feito isso muito antes. Me empenhei como nunca em recompensar o tempo perdido, fazendo um boquete demorado naquela pica suculenta, cujo prepúcio cobria dois terços da imensa cabeçorra arroxeada. Ao fechar a mão para segurá-la, senti as rugosidades que as veias saltadas formavam sobre a pele que eu retraia com delicadeza, transportando o sangue que irrigava e enrijecia aquela tora latejante. Ele se deixava manipular, chupar, lamber, mordiscar, gemendo e bufando feito touro, por minha boca aveludada e macia que mal conseguia engolir a ponta daquela jeba. O saco que há pouco, quando ele se despiu, tinha o formato e o tamanho de uma bola de tênis, com o calor das minhas mãos o acariciando, relaxou e desceu, formando um imenso pêndulo onde os dois testículos cavalares pendiam em alturas diferentes. Coloquei cada um deles na boca, e os massageei com a impetuosidade e o tesão da minha língua. Meu troféu pelo desempenho libidinoso, foi uma farta e deliciosa esporrada que injetou o esperma esbranquiçado e espesso dele diretamente na minha garganta. As coxas dele, nas quais eu apoiava minhas mãos, estremeceram quando o primeiro jato jorrou da uretra, e ele soltou um urro, encarando satisfeito como eu engolia seu néctar viril.
- Patrey, meu tesão! Eu sempre soube que no dia em que isso fosse acontecer, você saborearia o leite do teu macho, como um bezerro faminto. – murmurou ele.
O Yagor passou um bom tempo bolinando minha bunda, apertando meus glúteos, abrindo as bandas, mordendo as nádegas, lambendo a rosquinha rosada que se escondia bem lá fundo do rego estreito e carnudo, enfiando e girando o dedo devasso na portinha do meu cu. Deitado de bruços, meu corpo se contorcia de tanto tesão, me fazendo mover sensualmente as pernas, empinar a bunda e oferecer meu cuzinho feito uma cadela no cio. A cabeça melada do cacetão estava apontada diretamente sobre minha fendinha anal corrugada e, num impulso abrupto, o Yagor a meteu em mim. Gani mordendo o travesseiro e, enquanto rebolava feito uma gazela, ele foi atolando seu membro poderoso nas minhas entranhas. Quanto mais ele me preenchia, mais eu gania, e ele me cobria como todo bom macho reprodutor faz. Antes mesmo de ele terminar de meter a rola toda no meu cu, eu gozei em meio àquela dor lancinante e o prazer de estar unido ao corpo do meu macho. Ele parecia saber do prazer que estava me proporcionando, algo que há muito ele queria fazer, pois sabia do poder que aquilo tinha para nos unir. Deixei que ele liberasse todo o tesão que sentia por mim, deixei que me arregaçasse, que me deixasse marcado como se fosse uma rês cuja posse lhe pertencia.
- Você é meu, Patrey! É só meu, sou seu macho! Vou inseminar esse teu cuzinho delicioso como você nunca foi inseminado. – grunhia ele, estocando meu rabo e socando minha próstata até eu gemer de dor. Ele estava me provando que mesmo com o Voyshelk distante e desaparecido, a competição pelo meu cu continuava.
- Você nunca precisou duvidar disso, nunca! Você sempre foi meu macho, e mais, sempre foi o amor da minha vida. – confessei, pela primeira vez.
- Eu não duvidava! Mas o tesão que sinto por você me obriga a deixar isso expresso não apenas em palavras, mas no que sinto por você, e na chancela da minha porra. – devolveu ele, liberando o jorro potente de esperma em jatos mornos sobre minha mucosa anal esfolada, juntamente com um som rouco que emergia de sua garganta.
O Yagor e eu assumimos nossa relação que, contudo, permaneceu escondida à exceção de algumas poucas pessoas, entre elas nossos pais. Em Belarus a atividade homossexual é legalizada, embora continue altamente estigmatizada, e vista por grande parte da população como uma doença psiquiátrica. Os direitos LGBT continuam severamente limitados, discriminação, violência e abuso, fazem parte do cotidiano e não são punidos, o que leva muitos gays a esconderem sua condição, como meio de se protegerem. Foi pelo que o Yagor e eu optamos, embora ele não se mostrasse tão omisso nesse assunto quanto o Voyshelk. Sei que boa parte dessa postura vem do ciúme que sente de mim, da necessidade que tem de deixar claro que não há espaço para outro macho em se tratando de mim. Muitas vezes me vejo na necessidade de conter sua exaltação, quando, como um galo empertigado, ouriça a crista e estufa o peito ante um incauto que me passe uma cantada.
Eu sonhava com nossa união, achava que ela seria naturalmente efetivada quando estivéssemos formados e engajados em nossas profissões. Todas as transas que vinham acontecendo entre nós teriam um objetivo maior, assim pensava eu. Porém, pouco depois de obtermos nossos diplomas, vi que isso não ia acontecer tão naturalmente quanto eu desejava, que teríamos que construir um caminho para isso acontecer. Quis o destino que não apenas uma bifurcação se apresentasse como única opção do caminho a seguir, mas várias.
Meus pais estavam descontentes com suas carreiras, a economia estatizada do país, os remunerava com salários não condizentes com suas capacidades e formações e nas longas e exaustivas jornadas de trabalho. Não teriam mais muitas décadas pela frente para conseguirem uma estabilidade garantida na velhice. Decidiram deixar o país e se mudar para a Alemanha, onde salários muitos superiores e jornadas menos estafantes já tinham levado alguns de seus colegas. Nunca me separei deles, e não estava disposto a fazê-lo agora, especialmente, por que o Yagor havia se engajado numa organização internacional de direitos humanos com sede na França e tentava, há semanas, me convencer a acompanhá-lo. Eu havia recentemente conseguido meu primeiro emprego num complexo de mídias canadense, que englobava televisão, imprensa escrita e mídias digitais, como correspondente internacional de assuntos ligados aos países do leste europeu. Tanto o domínio do idioma russo quanto a facilidade de circulação pelas ex-repúblicas soviéticas, me abriu as portas para esse emprego. No entanto, o que me fez tomar uma decisão frente a tantos caminhos, foi o fato de eu sentir que o Yagor andava muito mais empolgado com suas causas políticas do que com o nosso amor. Tentei até compreender seu ponto de vista, era a primeira vez que ele tinha a oportunidade de defender seus pontos de vista e os direitos alheios como sempre fez durante todo o tempo em que eu o conhecia. Mas, sentir que isso aparentemente estava acima do que sentíamos um pelo outro, doeu e me levou a me mudar com meus pais para a Alemanha. Ele garantiu que, mesmo assim, estaríamos próximos um do outro, que nem a distância nem suas atividades o afastariam de mim, que uma vez estabilizado, ele e eu teríamos toda uma vida pela frente para vivermos nosso amor num pais mais livre e tolerante. As minhas certezas não eram tão concretas quanto as dele, mas eu precisava seguir em frente. Ficar em Belarus já não fazia mais nenhum sentido para mim, tudo que me ligava àquele lugar já não existia mais.
Como eu havia suspeitado, aos poucos o Yagor e eu fomos nos afastando, envolvidos com nossas ocupações e pela falta de conjunção dos nossos corpos que ia, pouco a pouco, esfacelando nossa união. Conheci outros homens, mais presentes, mais interessados no meu carinho, mais dispostos a me mostrar o quanto seu sexo podia fazer por mim e pelos meus desejos. O estranho é que não conseguia me fixar em nenhum deles. Vivia sempre procurando algo que eles não tinham, ou não sabiam como dar. Poucos desses relacionamentos duraram mais do que um ou dois anos, e eu me tornei um errante à procura de algo que nem mesmo eu sabia bem o que era.
O Yagor passava pelo mesmo dilema, embora nunca me deixasse saber de seus relacionamentos que, inclusive, jurava não existirem. Conhecendo-o como eu o conhecia, nunca acreditei nele. Uma de suas maiores dificuldades, desde a puberdade, era manter aquele cacetão dentro da calça e longe de uma fenda acolhedora. Afora todas essas intromissões em nossas vidas, continuávamos a manter contato, em trocas de e-mail esporádicas, em datas comemorativas, em ocasiões de extrema carência que nos levavam a percorrer quilômetros para viabilizar uma foda que depois de consumada, se juntava às outras recordações do passado. Em outras ocasiões, nossos caminhos se cruzavam por conta de nossas profissões, tendo eu algumas vezes entrevistado o Yagor como líder oposicionista de alguma política opressora nos países do leste europeu, ou dado visibilidade aos assuntos que defendia em meus artigos jornalísticos. Com isso, o elo entre nós nunca se quebrou, apesar de não ser o que ambos almejavam.
Eu vinha fazendo uma série de reportagens, até com entradas ao vivo nos telejornais, e escrevendo artigos dando um panorama da instabilidade política pela qual Belarus vinha passando desde que Sviatlana Tsikhanouskaya iniciou a unificação da oposição ao presidente, exigindo sua saída do poder que foi conquistando com sucessivos aumentos de mandato e eleições fraudulentas perpetuando-o no cargo há 26 anos, e dando ao governo ares de ditadura. Marchas e protestos traziam milhares de pessoas às ruas, exigindo democracia, e eram duramente reprimidas por tropas militares em diversos pontos do país. Essa inquietação social me levava a fazer três, até quatro voos mensais até Minsk, para acompanhar, registrar e dar visibilidade aos protestos.
O Yagor também voltara a Minsk, mas para fomentar os rebeldes, espalhar as falcatruas e corrupções no governo, além tomar pessoalmente parte da organização dos protestos de rua. Ele me enviara um e-mail pouco antes do seu voo de Paris para Minsk, me pedindo para cobrir os protestos e torná-los visíveis à comunidade internacional. Com o aval dos meus empregadores que disputavam com outras mídias o ineditismo e a exclusividade das informações, parti para mais uma jornada de coberturas. À medida que obtinha entrevistas exclusivas com os líderes opositores, conversava com a população para obter sua opinião e acompanhava e registrava a ação truculenta da polícia e do exército, enviando o farto material para além fronteiras, vinha percebendo que meus passos estavam sendo monitorados por agentes do Comitê de Segurança do Estado. Encontrei-me com o Yagor num dos QGs da oposição onde fui abastecido de mais informações e no qual, apesar do constante entra e sai de militantes ele encontrou um canto e um tempo para foder meu cuzinho. A agitação não nos concedia muito tempo, mas ele me fez sentir como estava saudoso do meu corpo. Não chegamos a ter meia hora, mas ao deixar o QG minhas pregas estavam rasgadas, ardendo, e meu baixo ventre encharcado do sêmen pegajoso dele. Sentei-me num café numa rua menos agitada do centro da cidade e, numa velocidade urgente, digitei dois artigos que ilustrei com fotografias feitas com a câmera do meu celular durante os protestos daquela manhã na Praça da Independência e as enviei ao meu redator-chefe no Canadá. A caminho do hotel, recebi uma mensagem dele, me informando que eu teria cento e dez segundos para transmitir um apanhado dos acontecimentos daquela manhã uma entrada ao vivo durante o telejornal noturno daquele dia. A repressão violenta às manifestações tinha enchido as ruas de militares numa demonstração de força do governo, e dado à cidade uma aparência de campo de batalha. Minhas imagens e meus textos refletiam essa tensão e chegavam aos mais remotos cantos do mundo, junto com as matérias de outros jornalistas estrangeiros que afluíram à cidade em clima belicoso.
Às três horas da madrugada meu quarto de hotel foi invadido por meia dúzia de homens, alguns fardados e dois vestindo ternos baratos, que usaram o cartão da recepção para abrir a porta e me arrancar da cama. Os dois homens corpulentos de terno eram seguramente agentes do Comitê de Segurança do Estado que traziam à tiracolo os outros quatro militares, todos garotões musculosos que mal cabiam em suas fardas para dar ares de importância e intimidação ao que tinham para me dizer. O que liderava o grupo, mais maduro, de terno, me fez ressuscitar a figura do major Khodkevich, e me fez sentir um arrepio percorrer minha coluna. Eu bem sabia o que um homem como aquele era capaz de fazer para galgar um posto na hierarquia daqueles gabinetes obscuros do edifício da Avenida da Independência esquina com a Ulitsa Komsomol’skaya. Ele se aproximou tanto do meu rosto que pude sentir o hálito fétido de tabaco e má higiene oral sendo exalado quando me intimidou, agarrando meu queixo e apertando-o com força.
- Dorogoy mister Patrey Sokolov, vy sami vzyali nas v etot vizi! = Caro senhor Patrey Sokolov, o senhor mesmo nos levou a essa visita! – começou em russo, com um risinho debochado, enquanto os demais olhavam para as minhas coxas e para a bunda onde o tecido do short do pijama estava enfiado no rego.
O outro sujeito de terno andava pelo quarto, deslizava as pontas dos dedos de uma mão sobre todas as superfícies, abriu meu notebook que estava sobre a mesa próxima à janela, ligou-o e começou a vasculhar meus arquivos.
- Isto é uma propriedade particular, os senhores não têm o direito de violar a minha privacidade. – afirmei, tentando disfarçar o tremor que havia em todo meu corpo. O sujeito que me segurava apertou novamente meu queixo com mais força, enquanto o outro continuava abrindo páginas e arquivos.
- Somos nós quem decidimos o que é privado nesse país, e certamente as imagens e os textos que o senhor enviou mundo afora, não se enquadram nessa situação. – afirmou arrogante, o que chefiava o grupo. – Nós só estamos aqui para garantir que o senhor não envie mentiras sobre o governo deste país para as nações que estão armando um complô para destituir o presidente e criar uma anarquia em nosso território. – emendou.
- Estou apenas exercendo minha função de jornalista, que é informar a população dos fatos. – revidei, dando um soco na mão do sujeito para que soltasse meu queixo. Ele riu da minha ousadia.
- Tome cuidado, senhor Patrey, tome muito cuidado com o que escreve e divulga! Incitar rebeliões é crime nesse país, o senhor pode estar sujeito a muitas cláusulas da lei. – ameaçou, ainda rindo sarcasticamente.
Como havia me soltado, ele pegou meu iPhone 12 ProMax sobre a mesa de cabeceira e examinou-o com despeito.
- Belo brinquedinho, não acha, senhor Sokolov? Deve valer uma pequena fortuna, eu suponho. Uns € 1500, ou mais? – questionou irônico.
- Certamente alguns milhares de rublos bielorrussos! Muito provavelmente mais do que o senhor ganha por mês exercendo sua nobre função! – devolvi no mesmo tom sarcástico. Seu rosto se fechou e a mão formou um punho cerrado. Os garotões militares se entreolharam, deviam me considerar um louco por ousar me dirigir nesses termos àquele representante da força de segurança do Estado, ou muito corajoso. Foi a primeira vez que tiraram aqueles olhares de cobiça da minha bunda avantajada metida naquele short sumário.
- Desbloqueie-o! – ordenou irado. Atendi a ordem, pois sabia que qualquer recusa minha podia me custar muito caro. Ele o examinou, embora eu notasse que estava se atrapalhando no manuseio.
- Difícil para o senhor lidar com uma tecnologia tão moderna, não é? – tripudiei, o que fez surgirem alguns discretos esboços de sorriso no rosto dos militares, especialmente no que tinha uma estrela bordada nos galões sobre o ombros e, para cujo azul hipnotizante de seus olhos meu olhar se desviava, apesar de toda a tensão pela qual eu estava passando.
- Eu seria bem mais cauteloso ao fazer afirmações, senhor Sokolov! – exclamou, puto por ver sua autoridade sendo espezinhada. – Receio que seja obrigado a confiscá-lo, será uma perda significativa para o senhor, não será? – emendou.
- Nem tanto! Mas seguramente o senhor vai satisfazer seu desejo de se exibir aos seus comparsas com algo tão valioso. – devolvi, uma vez que ele o estava simplesmente roubando valendo-se de sua posição, e não o confiscando como queria me fazer crer.
- O senhor joga muito bem com as palavras, senhor Patrey! Devo parabenizá-lo! – exclamou.
- É meu trabalho! – meus revides o estavam deixando sem paciência. Ele devia ter imaginado que intimidar um garotão novato seria tarefa fácil, e mostraria aos seus acompanhantes o quão hábil e poderoso ele era. Ao ver tudo indo por água abaixo, começavam a lhe latejar as veias das têmporas, e todas as humilhações que teve de passar para chegar naquele cargo, começavam a injetar uma raiva crescente em seu peito. – Terminou aí, Vasyli? – perguntou impaciente e espumando ao sujeito que vasculhava meu notebook.
- Não há outros arquivos com conteúdo diferente daquele que já foi divulgado, - esclareceu o sujeito.
- Então creio que nossa visita se encerra por aqui, senhor Sokolov! – exclamou o chefe.
Ao passar rente à mesa, ele desferiu um violento soco sobre o notebook, fazendo com que pedaços de plástico saíssem voando, depois pegou o que restou e o atirou contra a parede.
- Tenha uma boa noite, senhor Patrey Sokolov! Não nos obrigue a lhe fazer mais uma visita. A próxima não será tão amistosa, posso lhe assegurar! – exclamou, antes de enfiar a mão bem profunda e devassamente no meio das minhas nádegas, e caminhando em direção à saída. Dois dos garotões chegaram a ajeitar as picas dentro das calças quando olharam embasbacados para aquela mão entrando tão libertina na minha bunda. Eu tremia feito uma vara verde quando eles bateram a porta e eu corri para trancá-la. No dia seguinte mudei de hotel, ciente de que dali em diante teria que ficar mudando minha localização com frequência, se quisesse continuar exercendo meu trabalho sem colocar minha vida em risco.
A divulgação dos resultados da última eleição, dando nova vitória de 80% do último ditador europeu, sobre sua adversária política, Svetlana Tikhanovskaya, que precisou fugir do país devido à repressão, foi a gota d’água e o estopim para que milhares de revoltosos saíssem às ruas de diversas cidades em protestos reprimidos com forte ação policial e militar. A Praça da Independência e seus arredores em Minsk estavam abarrotadas de manifestantes naquele domingo frio e chuvoso, militares, policiais e agentes infiltrados prendiam as pessoas sem conseguirem provar quais leis tinham descumprido, o simples fato de estarem nas ruas e nas manifestações já era motivo para o cárcere. Havia uma estimativa de que 830 pessoas tinham sido presas no país naquele único dia, entre elas, colegas jornalistas que cobriam as manifestações. Embora estivesse usando meu colete fosforescente identificando minha função com a palavra – PRESS – estampada no peito e nas costas, fui vítima por parte de militares fortemente armados de alguns safanões e empurrões, um dos quais me fez perder o equilíbrio e cair, enquanto registrava o desenrolar do manifesto. Quatro jornalistas estrangeiros estavam sendo levados a um quartel quando resolvi seguir o comboio policial que os conduzia. No quartel já havia centenas de presos aglomerados em salas numa balburdia sem tamanho. Infiltrei-me para conseguir captar algumas imagens e comecei a entrevistar pessoas que tinham sido espancadas e torturadas e estavam com ferimentos espalhados pelo rosto e corpo, alguns bastante feios que escondiam prováveis fraturas ósseas debaixo do sangramento. De repente, reconheci no meio dos militares que desciam os cassetetes sobre aqueles que ainda não se calaram apesar da ordem para fazê-lo, um daqueles garotões que estiveram no meu quarto de hotel. Naquela madrugada a fisionomia dele me despertou a atenção não apenas pelo vigoroso corpo distribuído em mais de um metro e noventa de altura, como também por seus olhos profundamente azuis e os ângulos másculos de seu rosto. Ele foi um dos que ajeitou a rola quando o agente do Comitê de Segurança do Estado apalpou depravadamente minha bunda. Ele também me reconheceu e, ao notar que ele vinha na minha direção, comecei a correr em direção à saída. Corri em zigue-zague entre a aglomeração para tentar driblá-lo, mas não consegui, ele me alcançou poucos metros antes do portão de ferro que dava para a rua.
- Pare! – ordenou, com uma voz grave e potente. Continuei a correr, a rua seria minha única salvação. – Pare! Estou mandando! – repetiu, quando sua mão conseguiu agarrar meu colete e me puxar para trás.
- A imprensa ainda é livre nesse país! Estou devidamente identificado e você está cometendo uma arbitrariedade! – exclamei, quando ficamos cara a cara.
- Isso de pouco vai te valer se o pegarem aqui dentro. – devolveu ele, me deixando confuso.
- O que dizer com isso? É uma ameaça? – indaguei, embora o olhar dele não me parecesse belicoso.
- Quero dizer que não estará seguro se continuar por aqui. E seria um pecado se esse corpo escultural sofresse qualquer arranhão. – eu mal podia crer no que estava ouvindo.
- Aonde quer chegar com essa conversa? Vai me prender também, ou vai me deixar seguir meu caminho?
- Se fosse te prender certamente não seria aqui, mas sobre uma cama. Quanto a te deixar seguir seu caminho, eu ouso te perguntar se você não estaria disposto a cruzá-lo com o meu. – ele falava com tanta naturalidade e confiança que fiquei abismado.
- Isso, por acaso, é uma cantada? – perguntei, simpatizando com a audácia dele.
- Se é assim que você quer chamar, por mim tudo bem. Mas eu ficaria feliz se pudéssemos nos encontrar esta noite, Patrey, depois que eu deixar o trabalho e, quem sabe, tomarmos uma cerveja juntos, longe do tumulto das ruas. – não me contive e ri.
- É assim que você reprime os revoltosos, convidando-os para um encontro? – caçoei.
- Não estou convidando um revoltoso, seu colete deixa isso bem claro. Estou convidando um cara tremendamente gostoso com o qual eu teria muitos outros planos que não o de reprimi-lo e encarcerá-lo.
- Você .... você não existe! – eu tropecei no início da frase, pois tive vontade de mencionar seu nome, mas me toquei que não sabia como ele se chamava.
- Artem! Imenso prazer! – exclamou, parecendo adivinhar meus pensamentos, e tomando uma das minhas mãos entre as suas, confortavelmente quentes e poderosas. – Existo sim, e gostaria de te provar o quanto eu existo. – emendou, com um sorriso ladino.
- Foi só uma maneira de dizer. Dá para ver que você existe, sem que haja qualquer indecisão quanto isso. – devolvi, o que o deixou contente, tendo praticamente como certo que, dentro de poucas horas, seu cacete estaria alojado entre as nádegas opulentas que o seduziram quando o short apertado do pijama estava sendo mastigado por elas, imagem que ele ainda guardava bem viva em sua memória.
- Não quero te pressionar, mas infelizmente tenho pouco tempo para reiterar meu convite. Não é nada prudente eu ficar aqui conversando com você, enquanto aquela confusão lá dentro continuar. – argumentou, me encarando tão obstinadamente que eu fiquei tentado a aceitar o encontro e o que viria na sequência dele. O volume que havia entre suas pernas era, com certeza, uma fonte inesgotável de prazer.
- Onde? A que horas? – minhas perguntas abriram um enorme sorriso no rosto dele.
- Me deixe seu número de telefone, não sei quando serei liberado, ligo quando estiver livre e te digo onde. – respondeu.
- Esse número não é privado, é da empresa para a qual trabalho. – esclareci, até porque eu não queria que ele tivesse meios de me localizar futuramente.
- Passo no seu hotel, então. Pode ser?
- Ok! Ficamos combinados assim. – ele não ia me encontrar no hotel, mas se eu ainda estivesse sentindo a comichão que estava atiçando minhas preguinhas anais, eu daria um jeito de estar lá. – Até depois, Artem! – exclamei, estendendo-lhe a mão em despedida.
- Até mais tarde, Patrey! – ele acariciou a palma da minha mão com seu dedo médio, olhou em volta para se certificar de que não estávamos sendo alvo de olhares alheios e discretamente levou-a à boca, colocando um beijo úmido nas costas dela. O pauzão dele estava atravessado sobre a perna direita, duro como o cano da pistola que estava no coldre amarrado a ela.
Foto 1 do Conto erotico: Corações refugiados - Parte I

Foto 2 do Conto erotico: Corações refugiados - Parte I

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Comentários


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boapinta Comentou em 01/02/2021

Você escreve muito bem! Tá de parabéns!




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Ficha do conto

Foto Perfil kherr
kherr

Nome do conto:
Corações refugiados - Parte I

Codigo do conto:
172132

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
31/01/2021

Quant.de Votos:
6

Quant.de Fotos:
4