Corações refugiados - Final

Corações refugiados - Final - ?????? ???????? = Serdtsa bezhentsev -
Saí dali com a intenção de seguir para o meu novo hotel, pois tinha imagens em vídeo e material suficiente para digitar um ou dois artigos e enviá-los à sede da TV, antes que pudessem ser arrancados de minhas mãos à força. No meio do caminho, recebi uma ligação do Yagor pedindo que fosse encontrá-lo com urgência num edifício em ruínas nos arredores da cidade; estavam torturando jornalistas e civis presos naquela tarde, e ele queria o apoio da mídia quando ele e outros militantes da organização que liderava fossem abordar os militares e expor seus abusos.
Além de ermo, a localidade que ele me indicara parecia não ter visto uma alma humana há muito tempo, tudo estava imerso no silêncio quando o motorista do taxi estacionou próximo à construção decadente.
- Espere aqui um momento, por favor. – pedi, pois temia ter caído numa armadilha.
- Este lugar está abandonado há anos, não vai encontrar ninguém por aqui. – disse o motorista, receoso de me deixar sozinho naquele lugar.
Caminhei até a construção com o mato chegando na altura dos meus joelhos. Não havia ninguém; mas por todo lado no chão e paredes carcomidas havia manchas de sangue coagulado, e recente. Voltei correndo ao taxi, o local devia estar sob vigília. Tentei ligar para o Yagor, após uma ligeira demora, e um chiado de alguns segundos, começavam os toques de chamada, e a ligação entrava na caixa de mensagens. Na segunda tentativa, me toquei de que meu número estava sendo captado, o celular do Yagor havia sido grampeado.
- Buceta! Que merda! – exclamei, no banco de trás, fazendo com que o motorista me indagasse sobre o que eu tinha dito.
Pedi que ele me deixasse a alguns quarteirões do meu hotel, as ruas estavam lotadas e a melhor opção seria seguir a pé. Agora o serviço de inteligência do Comitê de Segurança do Estado tinha o número do meu novo celular, logo estariam no meu encalço, pensei comigo. Se grampearam o celular do Yagor, é porque o capturaram, senti uma pontada funda no peito e, revendo em minha mente aquelas manchas de sangue na construção abandonada, comecei a temer pela vida dele. O que fazer? Será que já estavam atrás de mim? Se voltasse ao hotel, seria pego, concluí. A chuva continuava caindo, menos volumosa, mas tinha trazido um vento frio com ela e a noite desceu mais rápido. Andei alguns quarteirões à esmo, me decidindo o que fazer. Com a cabeça rodando à mil, a imagem da pica do Artem voltou a povoar meus pensamentos. Um espasmo sutil e gostoso travou meu cuzinho. O caralho dele, mesmo dentro da calça, tinha seguramente mais do que um palmo, dar aquele macho um pouco de afeto não me faria mal algum. Até porque, já fazia algumas semanas que meu namorado tinha me dado o pé na bunda, depois de se cansar das minhas constantes viagens e ausências que o obrigavam a se contentar com algumas punhetas, ao invés das carícias dos meus esfíncteres. Meu antigo hotel ficava a doze quadras de onde eu estava, seria uma longa caminhada, mesmo assim, eu chegaria até ele mais ou menos no horário em que o Artem havia previsto estar livre. Passava das 20:00 horas quando estava a uns duzentos metros na calçada do hotel, quando fui puxado para junto da vitrine de uma loja coberta de tapumes. Soltei um grito, achando que tinham me descoberto e me torturariam até eu confessar inclusive o que não fiz.
- Você não pode ficar aqui, estão à sua espera no lobby do hotel. – era o Artem. Ele estava à paisana, mas em serviço, os tumultos não permitiram que fosse dispensado. – Tem outro lugar para onde possa ir e ficar em segurança? – perguntou preocupado.
- Sim, acho que sim! – respondi, embora estivesse começando a achar que já não havia mais um lugar seguro para mim na cidade em que nasci.
- Então siga para lá! Rápido! Que lugar é esse? – perguntou. Hesitei em responder, só aquele par de olhos azuis me dizia que eu podia me abrir.
- Outro hotel. – respondi. Se ele não fosse tão sincero como eu supunha, ao menos teriam que percorrer muitos hotéis na cidade antes de me encontrarem.
- Infelizmente ainda moro com meus pais, senão te levaria para lá. – disse ele.
- Nem sei como te agradecer! Deixe comigo, vou me virar. Estarei seguro, vou me cuidar. – afirmei, para tranquilizá-lo.
- Eu gostaria de acreditar nisso, Patrey! O único lugar em que estaria seguro seria debaixo de mim com esse tesão de bunda encaixado na minha virilha. – sentenciou, me prensando contra a vitrine e colando sua boca avidamente à minha, enquanto sua pelve simulava os movimentos de uma penetração.
- É bom saber disso! – devolvi, um pouco tímido diante de tamanha demonstração de cobiça. Corri, literalmente, em direção ao meu novo hotel.
Deixei a placa de – NÃO PERTURBE – presa à maçaneta da porta do meu quarto. Dois dias fora de circulação, dificultaria o trabalho de me encontrarem. Aproveitei para escrever três reportagens e enviá-las ao meu redator, permanecendo praticamente todo o tempo dentro do quarto. Da minha janela dava para acompanhar o movimento na rua, e foi o que me distraiu nesse período.
- Patrey? Patrey Sokolov? – perguntou a voz feminina do número não identificado que apareceu na tela do meu celular. Eu ia desligar, mas a aflição naquela voz me levou a responder.
- Quem é? – perguntei.
- Arina! Sou amiga do Yagor. Tenho que ser rápida, creio que nossos números estão sendo rastreados. – disse apressadamente. Meu coração quase saiu pela boca.
- O que aconteceu com o Yagor? Ele está bem? Onde ele está? Eles o feriram? – eu parecia uma matraca.
- Ele foi baleado. Fomos emboscados pelo exército e ele levou um tiro no abdômen. – disse a voz tumultuada, respirando ofegante enquanto falava.
- Ai, meu Deus! Como ele está? Onde ele está? – eu berrava, minhas pernas me obrigaram a procurar sustentação na cadeira onde havia digitado os textos.
- Eles o operaram, removeram o projétil e suturaram parte do fígado que o projétil lacerou. Ele está na UTI do Bol'nitsa Skoroy Meditsinskoy Pomoshchi, com previsão de liberação para o quarto no final da tarde de amanhã. – foi explicando.
- E como ele está? Ainda há riscos na recuperação dele?
- Os médicos me garantiram que ele está bem dentro das possibilidades, que agora só depende do organismo dele reagir, e dos cuidados que devem ser tomados. No entanto, o maior risco que ele está correndo independe do tiro e da cirurgia, vão matá-lo se o encontrarem. – ela começava a pausar as frases, temendo revelar mais do que devia. – É por isso que precisamos da sua ajuda. Temos que tirá-lo daqui o quanto antes, mesmo não totalmente recuperado. No hospital eu me passei por sua mulher e justifiquei o tiro como tendo sido resultado do ciúme dele por um suposto amante que eu teria. Eu apresentei documentos falsos na internação. Mas a polícia está fazendo uma varredura em todos os hospitais para ver se encontra revoltosos feridos nas manifestações. – explicou ela.
- Pare de falar! Se estivermos sendo grampeados a situação dele pode piorar. Você precisa tirá-lo daí o mais rápido possível. Onde posso te encontrar?
Ela marcou comigo num café, ambos seguimos para lá nos certificando de não estarmos sendo seguidos. O lugar não parecia ser bem frequentado, desocupados e usuários de drogas pareciam ser os clientes assíduos do local. Ela me explicou como fariam o resgate do Yagor naquele início de noite, mas não sabiam para onde levá-lo depois disso, pois os endereços deles já faziam parte dos locais monitorados pela polícia.
- Vou dar um jeito! – exclamei, embora não soubesse como. – Me diga se ele está bem. – de repente, não consegui segurar as lágrimas.
- Depois que levou o tiro, durante todo o trajeto na traseira coberta de lona de um caminhão do exército, onde havia outros feridos, ele não parava de falar seu nome. Um dos nossos militantes, em melhor estado, disse que ele pedia para não morrer antes de reencontrar seu único e grande amor, e então, balbuciava seu nome sem parar, até que perdeu os sentidos quando o puseram numa maca e entraram com ele no setor de emergências do hospital. – revelou ela.
- Eu o amo desde a infância! – exclamei, aos prantos. Ela deu um sorriso condescendente.
Despedi-me dela e comecei a andar apressado pela calçada molhada pela garoa que começara a cair, para onde estava indo, nem eu mesmo sabia. O 62 da vulica Kamiennahorskaja, sim, era isso, me disse a luz que subitamente clareou meus pensamentos. O Voyshelk ou a mãe e as irmãs dele ainda deviam morar lá. Não me negariam abrigo e ajuda, em nome da nossa antiga amizade. Entrei num taxi e passei o endereço, tremendo de excitação. Rever o Voyshelk mexia comigo, aqueles olhos transbordando doçura, aquela boca que tantas e tantas vezes havia deixado meus lábios entorpecidos com seus beijos lascivos, o peito largo e vigoroso onde deitava minha cabeça depois de ele esfolar meu ânus com sua verga calibrosa, suas mãos alisando meu corpo e me fazendo flutuar nas nuvens, eram tantas as recordações.
Toquei a campainha insistentemente, até que uma velha com um lenço amarrado à cabeça à moda das antigas matronas russas apareceu na porta do apartamento vizinho. Irritada, ela me disse que o morador só voltava no final da tarde, mas que devido aos últimos acontecimentos, podia ser que nem voltaria. Não, ela não saberia me dizer o nome do morador. Era um sujeito esquisito, que mal conversava com os vizinhos, e tinha ficado pior depois que a esposa e a filha o deixaram, disse a velha. Mas, usa farda! Acrescentou revelando assim, tudo o que sabia a respeito do ocupante daquele apartamento. Era o Voyshelk, concluí. Só podia ser. Até para não ficar circulando pelas ruas criando uma oportunidade de ser localizado pelos agentes do Comitê de Segurança do Estado, sentei-me em frente a porta do apartamento onde tantas vezes estivera na minha infância e adolescência. A velha não gostou, voltou para dentro de casa como se minha presença a tivesse ultrajado.
Ao ouvir passos firmes subindo o lance de escadas, por volta das 18:00 horas, um arrepio atravessou me corpo. Era o Voyshelk. Grande, ele havia crescido um bocado depois da última vez que o vi, há doze anos, muito mais musculoso, forte, quepe militar debaixo do braço esquerdo, passadas decididas que mostravam as coxas musculosas distendendo o tecido da calça e, o sorriso que se abriu assim que me reconheceu. Ergui-me ligeiro, e me atirei em seus braços, que se fecharam ao meu redor com tanta força que senti minhas costelas comprimindo meus pulmões. O beijo que me impediu de proferir qualquer palavra, começou intenso antes de ele me prensar contra a parede do corredor e enfiar sua língua na minha boca como se estivesse me fodendo. O quepe dele caiu no chão, suas mãos inquietas vasculhavam meu corpo como se estivessem procurando por algo valioso. Eu tremia, abria minha boca e retribuía aquele beijo saudoso, enquanto minhas preguinhas anais entravam em convulsão.
- Como é bom ter você de volta! – exclamou ele, quando se deu por saciado com o beijo.
- Estou tão feliz por ter te reencontrado! Senti muita saudade sua! – devolvi.
- Você está tão lindo, duvido que os homens tenham te dado um tempo para sentir saudades minhas. – afirmou.
- Que homens? Me acha tão leviano assim? – questionei.
- Não te acho leviano, mas sei da capacidade que esse corpo tem de seduzir. Eu mesmo sempre fui vítima dele.
- Vítima ou algoz? – ele riu, voltou a me apertar em seus braços e me deu um novo e demorado beijo. – Vai me violar aqui fora mesmo no corredor? Sua vizinha já se invocou comigo, se nos flagrar fazendo obscenidades vai ter um colapso.
- A velha Iria Kravchenko? Ela que vá cuidar de seus gatos e me esqueça, ou a farei ter pesadelos. – a aspereza em sua voz me fez crer que ele já tivera desavenças com a velha. – Vamos entrar, ao menos assim ninguém terá motivos para se escandalizar com o que estiver fazendo com você. – emendou, como se a razão de eu ter procurado por ele estivesse ligada aos nossos antigos encontros sexuais.
Não deixei que nossa conversa para resgatar os acontecimentos dos últimos doze anos durasse mais do que meia hora, eu tinha pressa, o Yagor tinha pressa, meu tempo para colocá-lo em segurança estava correndo.
- Preciso muito da sua ajuda! – eu não sabia como ele ia encarar meu pedido, e comecei a temer sua reação.
- Andou se metendo em confusão? Precisa que eu te livre de um tarado cobiçando sua bunda? Ou quer que eu tire o seu atraso? – zombou.
- Não! Preciso que me ajude a trazer o Yagor para cá!. – ele pareceu não entender o pedido.
- O Yagor? O que tem ele? Pensei estava na França, metido com organizações incitadoras de rebeldes em países que não rezam pela cartilha dos americanos e seus cúmplices? – devolveu. Logo vi que a maior barreira que teria que vencer, era sua filosofia, seu pensamento socialista e ditatorial. Quase pensei em desistir do meu pedido, podia estar entregando o Yagor de bandeja para seus perseguidores. Mas eu não tinha opção, não havia outra maneira de salvá-lo sem a ajuda do Voyshelk.
- Levou um tiro dessa polícia opressora comandada pelo presidente ditador. E eu preciso tirar ele do hospital onde está antes que eles resolvam terminar o serviço. – revelei.
- O quê? Você está louco! Não me diga que você também faz parte desses arruaceiros que estão aí pelas ruas, comprando ideias impostas pela OTAN e seus aliados? Se ele levou um tiro é porque estava arrumando confusão. – a expressão amistosa que havia em seu rosto quando cheguei, desapareça por completo.
- Esqueça a política, esqueça ideologias, lembre-se de como éramos amigos, somos amigos, melhor dizendo, pois alguns anos de afastamento não acabam com uma amizade, nem com nossos sentimentos mais verdadeiros. Me ajude a salvar a vida dele, por favor, Voy? – usar o diminutivo de seu nome, coisa que apenas eu fazia, deixou-o calado por uns minutos e perdido em lembranças.
- Sabe que o que está me pedindo é impossível. Eu sou um militar de carreira, não posso trair minha pátria. Terá que se virar com a ajuda de outros, e contar com a minha benevolência e silêncio para não colocar todos vocês na prisão. – afirmou.
- Você mudou tanto assim? Teus sentimentos por mim se perderam no meio da disciplina militar? Tornou-se um homem tão insensível que se opõe a estender a mão para seus melhores amigos? – questionei. Ele passou a mão pelos cabelos, deu um soco no móvel que estava ao lado.
- Você não tinha o direito de vir à minha casa me pedir uma coisa dessas! Não posso te ajudar! – em seu íntimo travava uma batalha entre o justo, o amor e o dever.
- Eu não o faria se tivesse outras opções, juro! Nunca quis o seu mal, ou que qualquer coisa prejudicasse sua felicidade. – por um momento achei que ele viria me apertar em seus braços vendo a minha aflição. Ele se manteve impassível, me acolher junto dele seria uma demonstração de fraqueza. – Por favor, Voy, não me recuse manter nosso amigo vivo. – acrescentei. E então eu fui até ele, enfiei meus dedos entre os espaços dos botões de sua camisa e puxei delicadamente os pelos do peito dele.
- Além de viado, virou puta? Se vendendo para salvar a pele de um cara que na adolescência só queria enfiar a pica no seu cu?
- Eu iria muito além disso, se a vida de qualquer um de vocês dois dependesse disso. – respondi. Meus dedos acariciando seu peito acalmaram sua obstinação.
- Se o Yagor está num hospital se restabelecendo de uma cirurgia delicada, como quer trazê-lo para cá? Não há como cuidar dele aqui!
- Isso já está tudo planejado, eu só preciso que nos dê abrigo, eu cuidarei dele, você não precisa fazer nada, só nos dar um teto e manter a nossa localização em segredo. – começava a sentir um alívio ao vê-lo aceitar a possibilidade de nos dar abrigo.
- Nossa localização, porquê? Você também está sendo procurado?
- Creio que sim! Tenho feito umas matérias sobre a situação política no país. Parece que alguém não gostou do que escrevi e remeti à imprensa estrangeira. Quase fui estuprado numa das últimas madrugadas por um agente do Comitê de Segurança do Estado e sua equipe no quarto do hotel em que estava hospedado. – revelar, mesmo exagerando um pouco, que alguém se arvorara a me violar, iria fazer o Voyshelk ceder, eu tinha certeza disso.
- Como é que é? Quem foram essas pessoas? Esse ‘quase estuprado’ quer dizer o quê? O que foi que fizeram com você? – ele estava exaltado outra vez, felizmente não contra mim e meu pedido.
- Não sei quem eram. Dois eram agentes do Comitê de Segurança, tinham todas as características, um vasculhou meus arquivos no notebook enquanto o outro me ameaçava e se valia de sua autoridade para abusar de mim, depois roubou meu celular e espatifou o notebook contra a parede, na frente de quatro militares, soldados e um tenente, pelas insígnias na farda. Mas isso não é o que importa, minha preocupação no momento é outra.
- E só agora você vem me pedir ajuda? – questinou estrarrecido. Comecei a rir. – O que foi? Eu disse alguma coisa engraçada?
- Há pouco ficou bravo comigo porque vim te pedir ajuda, e agora me questiona porque demorei a fazê-lo. Decida-se se vai me expulsar da sua casa ou se vai me dar abrigo, e ao Yagor. – foi a vez de ele colocar um sorriso contido no rosto.
- Ah, Patrey! .... – ele ia continuar, mas o interrompi.
- ... o que é que eu faço com você? – terminei, pois ele havia repetido essa frase centenas de vezes. Dessa vez ele sorriu com vontade, achando graça das minhas palavras. – Me beija? – emendei ligeiro, me pendurando em seu pescoço. O beijo começou suave, curtos e sutis toques de lábios, e evoluiu para algo tão primitivo e voraz quanto um coito, com as mãos dele entrando pelo cós da minha calça e amassando minhas nádegas em extremo tesão.
Antes que aquilo se transformasse realmente num coito, eu o interrompi e liguei para a Arina comunicando que havia encontrado um local para o Yagor se recuperar. O Voy não me deixou participar do resgate no hospital, nem de ir ao encontro dos companheiros do Yagor, não me deixaria correr mais riscos e, se eu não estivesse de acordo, podia dizer adeus à sua ajuda. Fiquei roendo as unhas, andando pelo apartamento feito um alucinado, olhando para aquele relógio cujos ponteiros haviam resolvido parar no tempo. Lá embaixo, no estacionamento, começou uma pequena movimentação depois que um carro estacionou numa vaga. Não era a polícia, nem os militares. Eu já não sabia mais em quem acreditar e no que pensar. Só o Voyshelk desceu, era o carro dele. Além de olhar atentamente ao redor, ele destrancou a porta do hall de entrada do edifício, voltou para junto do carro e, com a ajuda de outros dois sujeitos, carregou o corpão de um terceiro. Yagor, meus lábios pronunciaram de tanta felicidade. Desci correndo de encontro a eles, mas fui recriminado assim que o Voyshelk me viu.
- Eu não mandei você esperar no apartamento? – ele usou a mesma voz que usava com seus comandados, não me importei.
Assim que entramos no hall iluminado, e meus olhos viram o estado do Yagor, sedado ou entorpecido, não dava para saber, comecei a chorar. Seu rosto estava desfigurado, e uma larga faixa de ataduras envolvia seu abdômen musculoso. Ele parecia um moribundo.
- Vá para cima! Verifique se está tudo livre para que possamos levá-lo. – ordenou o Voyshelk, obedeci como se fosse meu pai me mandando lavar as mãos antes do almoço quando era criança.
Quando o colocaram na cama do quarto que outrora pertencera às irmãs do Voyshelk, e os dois sujeitos foram embora, deixando um envelope com as medicações que o Yagor precisava tomar e uns números de telefone, caso precisássemos que providenciassem alguma coisa, eu me sentei na beira da cama, levei minhas mãos até aquele rosto irreconhecível, e deixei que as lágrimas descessem para purgar toda dor que estava em meu peito.
- Não fique assim! Vamos cuidar dele. Tudo vai dar certo. – asseverou o Voyshelk colocando suas mãos pesadas nos meus ombros, depois de acompanhar os sujeitos até a porta.
- A respiração dele está tão fraca! E esse rosto, o que fizeram com o rosto do nosso amigo, Voy, o que fizeram? – reclinei meu tronco de encontro as pernas do Voy e ergui meu rosto na direção do dele.
- Você está impressionado! Ele vai ficar bem. – como eu queria acreditar nele.
Os dias das duas primeiras semanas passavam sem que se observasse uma melhora nas condições do Yagor. Uma enfermeira que a organização para qual o Yagor dava suporte jurídico, também militante, veio fazer as trocas das bolsas de medicamentos injetáveis que o Yagor recebia por um acesso venoso, assim como da nutrição parenteral que o sustentava. As explicações e orientações dela me deixaram mais tranquilo, ao menos agora eu não me sentia um inútil e sabia como cuidar dele. Enquanto o Voyshelk seguia diariamente para o trabalho mantendo sua rotina como se nada estivesse acontecendo, eu passava horas sentado próximo ao Yagor, observando-o como uma ave de rapina, para identificar qualquer mínima mudança que indicasse que ele estava se restabelecendo. Quando a enfermeira ia embora, eu voltava para junto dele, acariciava seu rosto menos inchado, afagava aquele tronco viril e sussurrava – amo você, meu amor – ao mesmo tempo que pedia para ele melhorar.
- Não precisa ficar de plantão ao lado dele o tempo todo! Os ferimentos dele vão se curar sem que você precise ficar acariciando esse inconsequente revoltoso o tempo todo. – dizia o Voy, querendo parte daquele carinho que tinha para dar. Fui até ele e o abracei. Ele estava sem camisa. Beijei o peito dele, e introduzi dois dedos no cós da calça, após desafivelar o cinto.
- Obrigado por nos ajudar! Voltamos a ser um trio, o que não deixava que nada e nem ninguém se metesse conosco, lembra?
- Você não precisa se vender para mim, só causa disso!
- Grosso! Você apenas se transformou na versão adulta do Voyshelk bronco e xucro da adolescência. Acha que só porque estou te acariciando estou me vendendo? Que sou incapaz de dar afeto sem pensar em levar um macho para a cama? – questionei.
- Sou grosso, sim! E você bem sabe o quanto, não sabe? Minha grossura te fez gemer muito, se é que você se esqueceu.
- Nunca esqueci de um só segundo que passei com você, e disso você também sabe, já que está me cobrando lembranças.
- Ah, Patrey! – antes de ele continuar, começamos a rir, ambos conheciam de cor aquela frase.
No segundo dia no apartamento, um porta-retrato sobre a cômoda do quarto do Voyshelk chamou minha atenção. Uma moça loira, de traços delicados, tinha a seu lado uma menininha que devia ter uns quatro anos de idade, ambas sorriam para a câmera. Uma noite, enquanto eu lavava a louça da janta e ele me ajudava a secar, me atrevi a perguntar quem eram as duas correndo o risco de trazer recordações dolorosas a ele, embora suspeitasse que fossem sua esposa e filha.
- Katerina, minha ex-esposa e Sofie, nossa filha. – respondeu direto, sem demonstrar qualquer abalo.
- Posso perguntar onde estão?
- Em Homiel, na casa dos pais dela. – suas respostas curtas me indicavam que não era um assunto do qual gostava de falar.
- Por que estão lá e não com você? – ele demorou a responder, certamente se fosse outro a fazer a pergunta ele não responderia
- Nos separamos!
- Por quê? – outro silêncio prolongado
- Descobri que não a amava o suficiente para aguentar sua aporrinhação. – a objetividade dele me espantou.
- Não teria sido o contrário?
- É você quem sabe por que me separei dela?
- Não, não sou eu. Conheço você, conheço seu gênio, conheço como sabe ofender quem te ama. – afirmei.
- Pois então, se me conhece tão bem, por que veio me procurar quando precisou de ajuda para salvar o seu macho?
- Porque me enquadro entre aqueles que te ama. – respondi. Ele se calou. – O Yagor não é meu macho, só para constar!
- Não é porque você não deixa!
- Não diga besteiras! Você não sabe nada sobre meus sentimentos.
- Não é difícil de adivinhar!
- Sempre me espantei com a sua habilidade de afugentar as pessoas que tentam se aproximar de você. Ainda posso ver como distribuía socos quando as pessoas não concordavam com suas ideias. Nunca havia dialogo, só pancadaria.
- Se sabe disso, não devia ficar aí me provocando.
- Foi isso que você com ela, não foi? Espancou-a como seu pai espancava sua mãe.
- Cala essa boca! Cala a tua boca, viado do caralho! – o copo que ele secava foi se espatifar contra o armário suspenso sobre a pia, alguns estilhaços atingiram meu braço, e três pontinhos de sangue afloraram da minha pele. – Suma da minha frente antes que eu jogue você e seu macho no meio da rua! – rosnou furioso.
Caminhei compassadamente até o quarto que dividia com o Yagor, sem demonstrar que aquelas palavras haviam de alguma forma me assustado ou intimidado. Encostei a porta e chorei. O coração do Voyshelk sempre foi blindado para mim, talvez não só para mim, mas para todos, só que isso me machucava como ele não fazia ideia. Havia dois dias que o Yagor abrira os olhos depois da cirurgia, nos curtos períodos em que ficava desperto, tinha me reconhecido e segurado minha mão nas dele. A enfermeira havia substituído alguns medicamentos que ele tomava através do soro, por sua apresentação em comprimidos.
- O que foi? Por que está chorando? – a voz dele ainda era mole, como se pronunciar as palavras lhe exigisse muito esforço.
- Não estou chorando! Está se sentindo melhor? Está na hora da sua medicação noturna. – respondi, sem olhar diretamente para o rosto dele.
- Não quero esses comprimidos, eles me dão muito sono. Quero conversar com você. – devolveu.
- Precisa tomar todos eles para ficar bom. Quero te ver saindo dessa cama o quanto antes.
- Prefiro que você entre aqui e fique comigo! – o primeiro esboço de um sorriso apareceu no semblante dele. Ganhou um beijo nos lábios completamente sarados.
Era cedo, mas resolvi me despir e dormir. A briga com o Voyshelk me deixou cansado. A porta do quarto chiou e ele entrou, passou os braços pela minha cintura e beijou meu ombro nu. Eu havia apagado a luz e não conseguia ver seu rosto. Ele me encoxou e percebeu que eu estava só de cueca.
- Me perdoa! – sussurrou no meu ouvido, junto com um beijo molhado.
- Sou eu quem te deve desculpas. Não precisava ter falado o que não devia. – devolvi, deixando que o peso do meu corpo se reclinasse contra o dele.
- Vem comigo! – eu sabia que isso ia acontecer. Desde o momento em que nos reencontramos eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu ia sentir aquele homem dentro de mim.
Ele me guiou até o quarto dele, praticamente na mesma posição em que me pegou, enleando minha cintura e caminhando com o corpo colado ao meu. Ele não se preocupou em fechar a porta, apenas a encostou um pouco. Estávamos sós no apartamento, o doente no quarto ao lado, sob efeito de remédios, não contava; a presença dele ao menos não contava para o que pretendia fazer comigo.
Quando me soltou, parecia perdido, como se não soubesse o que fazer, ou temesse fazer o que não devia. Ficou me observando sem dizer nada, contudo seu olhar fazia um discurso. Voltei a me aproximar dele, enfiei novamente as pontas dos dedos onde os pelos do peito dele eram mais densos. Ele continuava imóvel e impassível, sempre gostou quando eu brincava com seus pelos, desde quando começaram a crescer em seu tronco. Fiquei nas pontas dos pés para colocar um beijo em seus lábios, ele era uns doze centímetros mais alto do que eu. Fui prendendo os lábios dele com os meus aos poucos, delicadamente, me encaixando entre os dele e mudando de posição a cada vez que fazia a apreensão. Suas mãos voltaram a pegar minha cintura, depois foram deslizando vagarosamente para as nádegas, quando a presença da cueca cobrindo meus glúteos começou a incomodá-lo, ele a puxou para baixo, e suas mãos tocaram diretamente minha pele. Também começou a ficar de pau duro, o que levou meus dedos lentamente do peito para a barriga dele, penetrando, aos poucos e sensualmente, a calça, até que toda minha mão se fechou sobre seu membro. No instante do toque, houve uma distensão mais pronunciada que fez o membro quase dobrar de tamanho. Ele soltou o ar entre os dentes. Desabotoei a calça e soltei o bichão pesado, que livre, continuava latejando e crescendo, fazendo emergir a ponta da cabeçorra do prepúcio que se retraía, como uma embalagem que vai ficando pequena para o conteúdo. O Voyshelk sempre gostou de me exibir seu falo, orgulhava-se do dote vultuoso com o qual foi agraciado e, particularmente comigo, deleitava-se pela maneira como eu o admirava e afagava. Na puberdade, quando começou a comparar o tamanho do dele com o meu, milímetro a milímetro, costumava dizer que não queria que o meu crescesse muito, que eu já tinha uma bunda grande e não precisava de um pinto grande também. Ao ver o dele deslanchando e o meu praticamente estagnado, disse que se eu quisesse um pinto grande, ele me daria o dele, mas com a condição que fosse dentro do meu cuzinho. Por muito tempo ele me aporrinhou com essa conversa, até o dia em que eu concordei com a proposta dele, que acabou se materializando alguns meses depois, quando me desvirginou.
Ajoelhei-me aos seus pés e coloquei a pica do Voyshelk na boca, um gemido contido ecoou pelo quarto. Há doze anos eu não sentia o aroma daquela verga, mas o reconheci no mesmo momento em que meus lábios se fecharam ao redor dela, um perfume almiscarado, penetrante, levemente resinado que vinha acompanhado de um sutil sabor salgado do pré-gozo, e um odor de canela do escroto.
- Não vai me chupar? – perguntou impaciente.
- Estou primeiramente matando a saudade do seu cheiro, posso? – devolvi.
- Onde você está fungando só tem cheiro de suor, pois ainda não tomei banho, urina que impregna o prepúcio e desde os últimos minutos, talvez desse melzinho que está saindo da minha rola. – respondeu.
- Engano seu! – afirmei, relatando tão detalhadamente como mencionei acima, cada um dos aromas que eu identificaria como sendo dele mesmo de olhos vendados.
- Consegue sentir tudo isso na minha pica? – questionou, entre surpreso e lisonjeado. Eu acenei com a cabeça que sim, ele sorriu.
O Voyshelk sempre foi duro na queda, eu já estava há mais de quinze minutos mamando aquela caceta e, apesar do tesão que o fazia contorcer-se buliçosamente, ele reprimia o gozo. Quando transávamos com mais frequência, eu havia desenvolvido uma tática de encará-lo com um olhar suplicante, como o de um mendigo implorando por uns trocados, que sempre funcionava, fazendo-o ejacular em segundos. Porém, a tática não estava se mostrando produtiva, pensei que tivesse perdido a habilidade, que ele já não se entusiasmasse mais tanto pela minha boca, pois devia ter conhecido outras mais engenhosas.
- Não adianta ficar me tentando e torturando, vou galar seu cuzinho como você jamais foi galado. – asseverou. Foi bom saber que não havia perdido a habilidade.
- Se você fosse uma mulher há muito tempo eu já teria te engravidado. – afirmou.
- Gostaria que eu fosse uma mulher? Tantas vezes você deixou claro que não ficaria comigo por que você é macho e eu viado. Se eu fosse mulher ficaria comigo, me amaria?
- Não, gosto e amo você do jeito que é. Um Patrey mulher não combina com você, não daria ao teu corpo as peculiaridades que me atraem e me fazem sentir tanto tesão por ele.
- Sente tesão por mim?
- Por que me pergunta se sabe que sim?
- Porque é a primeira vez que você me diz isso, e é gostoso de ouvir. – afirmei.
- Safado!
- Se sente tesão pelo meu corpo, e me acha safado, enfia esse bagulhão em mim.
Ao ouvir minhas palavras quase despejou o gozo na minha boca, foi por um triz que não perdeu o controle. Impediu-me de recolocar a jeba na boca, pois não ia suportar muito mais, ao invés de me deixar continuar chupando, abaixou minha cueca e enfiou um dedo no meu cu. Gemi o nome dele.
- Deita na cama, safado! – ordenou, eu obedeci, após me livrar de vez da cueca.
Ele terminou de se despir, engatinhou até onde eu estava cercando meu corpo com seus braços e pernas. Puxei-o pelo pescoço até a altura que me permitiu beijar sua boca, molhei-a com meus lábios, e o provoquei até ele enfiar a língua dele nela. Ele me virou de bruços, beijou minhas costas e, com a ponta da língua, deslizou sobre os ossos da minha coluna até alcançar o rego, abriu-o, lambeu minha rosquinha pregueada, enfiou outra vez um dedo nela, tomou posição e guiando a pica com a mão, meteu-a no meu cuzinho. Meu grito saiu antes que eu afundasse o rosto no travesseiro com o intuito de abafá-lo. O Voyshelk adulto não mudara seu jeito de penetrar um parceiro ou parceira, continuava bruto, insidioso e acurado. Era através da reação de quem estava penetrando que ele determinava com se consumaria a inserção daquele pauzão, que muito bem se prestaria como artifício de tortura. Depois de me ouvir gritar é que ele se dava conta do quão apertado eu era, e de que me rasgara. Nunca pedia desculpas por seu arroubo, era o olhar que o fazia, e eu sempre fui vulnerável a esse olhar. Ele me estocou com cuidado, mesmo assim gemi, mais pelo tesão saudoso que sentia por aquele macho do que pela dor que se alastrava nas minhas entranhas. Uma vez ele me confessou que gostava de me ouvir gemendo durante o coito, que meu gemido parecia o de um gatinho ainda de olhos fechados que não encontrava a teta da mãe. O vaivém daquela pica grossa estocando meu rabo me levou ao delírio, quanto mais eu empinava a bunda com mais força ele me estocava. Quando a cabeçorra socava minha próstata eu gania, sem que isso perturbasse a sanha com que ele me fodia. Repentinamente ele parou, soltou o corpo sobre o meu, arfando, e me confessou que nunca mais encontrou um cu como o meu, um cu que se entregava da maneira como o meu se entregava a ele.
- É porque você é especial, é único, Voy! – balbuciei.
Ele girou meu corpo para que ficássemos de frente, ergueu minhas pernas e tornou a meter o caralho na minha rosquinha. Envolvi-o em meus braços, afaguei sua nuca e o beijei. Os movimentos do quadril dele recomeçaram, a caceta deslizava até o fundo do meu cu, voltava até onde os meus esfíncteres travados retinham a saliência da cabeçorra sem deixá-la escapulir, e tornava a mergulhar na minha carne rija. Explodindo de prazer comecei a ejacular. Ele tomou meu rosto nas mãos e me beijou demoradamente, enfiando a língua e me fodendo a boca com ela. Depois transformou esse beijo devasso num beijo amoroso, suave, doce. Gozou como tinha prometido, jatos potentes injetavam seu néctar viril, espesso e pegajoso, no meu cuzinho. Quando parou, ficou me encarando, estava chorando. Afaguei seu rosto e, com a ponta dos polegares, desviei suas lágrimas.
- Sou um facínora como meu pai! Ela me deixou porque dei umas surras nela! Você sabe que eu não presto, não sabe? Que homem bate em quem o serve na cama? Só um ser desprezível como eu! – ele ia despejando toda sua tristeza e arrependimento, pois sabia que se nesse mundo havia alguém que o conhecia e amava, essa pessoa era eu.
- Procure-a, diga que se arrependeu, diga que ainda a ama, que vai cuidar e proteger a ela e à filhinha de vocês. Mostre a ela esse Voyshelk maravilhoso que está aqui comigo agora. – sugeri.
- Isso não é mais possível. Ela está casada. Um homem, melhor do que eu, está cuidando delas. – revelou. Eu não sabia mais o que dizer, por isso o mantive aconchegado nas minhas entranhas e o afaguei até ele cair no sono e dormir feito um bebê, talvez em paz como há muito não se sentia.
Levantei-me cedo na manhã seguinte, o Voy dormia a sono solto, o sexo tinha feito bem a ele, o que me deixou feliz. Era sábado, ele não precisava seguir para o trabalho, por isso deixei-o na cama, saindo de fininho para que meus movimentos não o despertassem. Também estava preocupado com o Yagor, tinha o deixado sozinho desde a noite anterior, e estava no horário de ele tomar a medicação. Ao contrário do Voyshelk, o Yagor estava acordado, sentado na cama com as costas reclinadas na cabeceira. A cara não era de bons amigos e, quando entrei no quarto, ele lançou um olhar em direção à cama ao lado, intacta, e franziu ainda mais o cenho.
- Bom dia! Já acordado? Sinal de que o ânimo está voltando aos poucos. – cumprimentei, dando um beijo em suas bochechas, e colocando dois comprimidos entre seus lábios.
- Onde esteve? – perguntou, segurando meu pulso com força.
- Cuidando do meu outro doente! – respondi sincero, e contente por perceber que ele já tinha forças suficientes para apertar minha mão daquele jeito. Ele não me soltou de imediato, talvez tivesse pensado que eu iria mentir, inventando alguma desculpa esfarrapada para não dizer que tinha passado a noite com o Voyshelk, mas resignou-se ante a minha resposta.
Para minha felicidade o Yagor melhorava a cada dia, permanecia mais tempo sentado e vigilante, tinha um apetite de leão, dava alguns passos sem ajuda, embora eu corresse em sua direção para apoiá-lo e evitar que a fraqueza ocasionasse alguma vertigem e ele caísse. Quando lhe convinha, para ganhar meus cuidados, ele ainda se fazia de doente, especialmente nas refeições, tinha que ser eu a lhe colocar as colheradas de sopa na boca, ou as garfadas de suas comidas prediletas, que eu me dispunha a preparar. Outros momentos de pura firula aconteciam quando tinha que banhá-lo, eram ‘ais’ e ‘uis’ o tempo todo, porém tinha que ser eu a ensaboá-lo e secá-lo, pois alegava e fingia ainda não estar em condições para isso.
- Trate de não abusar, seus pontos ainda são frágeis, você ouviu o que a enfermeira recomendou. Além disso ainda está fraco para fazer estripulias por aí! – afirmei quando ele teimou em querer sair da cama e se engraçar para o meu lado.
- Tenho forças sobrando para não precisar mais ficar preso nessa cama feito um inválido. É só você olhar para isso aqui para confirmar. – sentenciou, me exibindo sua ereção todo animadinho para transar.
- O que está te sobrando é muita safadeza e falta de juízo, por isso se mete em confusão e está aí nessas condições! Devolvi.
- Vem fazer amor comigo, vem? Vai negar carinho aos desejos de um moribundo? – provocou.
- Não use essa palavra nem brincando! – respondi zangado. Ele estava lindo, havia emagrecido, mas continuava uma tentação irresistível com a pouca roupa cobrindo seus músculos.
- Vem, senta aqui! – pediu, apontando para o colo e a ereção.
- Você não pode forçar o abdômen! Deixa de ser tarado! – no entanto, meu cuzinho não pensava com a mesma severidade que eu, mesmo estando esfolado por ter abrigado o Voyshelk entre suas preguinhas. Tirei sensualmente a roupa diante do olhar cobiçoso dele. Sentei-me sobre suas pernas, que ele abriu ligeiramente pouco antes das nádegas tocarem suas coxas peludas. Tomei seu rosto nas mãos, estava na hora de fazer a barba dele, constatei ao sentir as palmas das mãos sendo pinicadas, e o beijei. Ele me puxou para junto dele, o que fez minha bunda parar sobre sua ereção.
- Não faça força! – adverti-o com seriedade.
- Você é que manda, eu só obedeço! – devolveu com seu cinismo vitimizado.
Rebolei fazendo a ereção deslizar no meu rego. Ele apalpava e amassava meus glúteos tomado pelo tesão. Ergui um pouco as ancas e fui sentando devagar fazendo o cacetão deslizar lentamente para dentro do meu cuzinho. Ele não tirava os olhos do meu rosto onde as expressões desenhavam minha aflição e dor da penetração na rosquinha rota. Quando estava todo dentro de mim, me beijou, e eu retribuí rebolando mansamente para não machucá-lo. Eu podia sentir a verga pulsando e bulindo meu cu à medida que erguia minha bunda e voltava a me sentar nela. Me toquei de nunca termos transado naquela posição e, ver o prazer dele estampado tão próximo do meu rosto, atiçou meu tesão. O Yagor estava mesmo precisando acasalar, pois não fiquei rebolando e mastigando a pica dele por mais do que dez minutos quando ele agarrou minhas ancas e encheu meu cu de porra. Me desmanchei em dengos antes de levantar e sair de cima dele. Um pouco do esperma cremoso gotejou do meu rabo antes que pudesse fechar as pernas, fazendo-o sussurrar – tesudo gostoso – ao me beijar antes de me soltar.
- Está tudo funcionando! – balbuciou sorridente, como se tivesse descoberto um tesouro, pela performance do falo.
- É, está tudo funcionando, seu libertino! – retruquei, fazendo-o abrir um sorriso largo, e erguer os braços reclinando a cabeça nas mãos juntadas em concha.
- Ainda não foi como eu gostaria, mas já é um recomeço.
- Pois eu gostei bastante! Foi uma variação prazerosa em relação a ficar sempre por baixo, com você montado em mim, enfiando esse cacetão conforme dá na sua veneta. Ele riu.
Quando fui à cozinha preparar o café, o Voyshelk entrou, meio sonolento e esfregando os olhos, veio diretamente ao meu encontro, pelado, e me abraçou, me deixando sentir sua ereção matinal através da camiseta que eu estava usando e que mal chegava a cobrir completamente a minha bunda. Estremeci só de pensar nele a enfiando no meu cuzinho esporrado. No que eu estava me transformando? Me senti uma cadela de rua que os machos cobrem ao sentirem que está no cio.
- Por que não me esperou na cama? Sabe o que eu quero fazer com você, não sabe? – sussurrou junto ao meu ouvido, lambendo minha nuca. Carente como o Voy estava, seria uma crueldade negar-lhe meu corpo.
A cada domingo, os protestos nas ruas da capital e de cidades maiores continuavam pedindo a renúncia do presidente, que a fuga para a Lituânia, da Svetlana Tikhanovskaya, a fim de não ser presa pela repressão, só conseguiram atrair mais alguns milhares de pessoas. Também a continuidade dos meus artigos chegando regularmente à mídia internacional, fez com que meu nome passasse a figurar na lista de perseguidos pelo regime, onde o do Yagor já constava a um bom tempo. Eu temia sair às ruas, temia ser reconhecido por algum agente do Comitê de Segurança do Estado e ser levado a uma chefatura para ser interrogado e torturado, pois era assim que os opositores estavam sendo tratados. Sair de Belarus estava se tornando urgente. Em seu último e-mail, meu redator me aconselhou a deixar o país, pois minha integridade física já não podia mais ser garantida depois de o presidente acusar que nações estrangeiras estavam inferindo em assuntos internos para destitui-lo do poder e, de que usaria de todos os meios para garantir a estabilidade política em Belarus. Esses meios que ele citou eram velhos conhecidos da comunidade internacional, uma vez que ainda seguiam a mesma lógica daqueles empregados por Putin na Rússia para mantê-lo no poder, repressão ferrenha, torturas e sumiço de opositores.
Membros da organização de direitos humanos à qual o Yagor pertencia, também vieram nos alertar que nossa presença em Minsk estava sob forte risco. Tinha sido a enfermeira que cuidava do Yagor, juntamente com a Artina, a nos trazer o recado para fugirmos o quanto antes. Havia até um esquema planejado para nos levar à fronteira da Lituânia, uma vez que nossa saída por algum aeroporto muito certamente não seria permitida.
- Viu no que você se meteu! – argumentou o Voyshelk.
- Só fiz o que minha consciência mandou. Nos dias de hoje não é mais possível admitir ditaduras, cerceamento de direitos civis, sujeição a uma economia engessada e empobrecedora numa sociedade civilizada. Sei que você tem consciência disso, assim como outros milhares de militares, portanto, não deveriam continuar dando apoio a esse lunático que em 26 anos no poder está acabando com a economia e tirando direitos políticos. – retruquei.
- Tudo bem, concordo que está na última hora de nos livrarmos desse sujeito, mas não você envolvido diretamente nisso. – ele me abraçou protetoramente, eu sabia qual era sua grande preocupação.
O esquema para levar ao Yagor e a mim à segurança do outro lado da fronteira me foi explicado por dois companheiros do Yagor no bar do Lobby do Hotel Europe na vulica Internacyjanalnaja, numa tarde chuvosa da última semana de novembro. Foi um desatino eu ter concordado em me encontrar com eles justamente onde circulavam muitos estrangeiros, inclusive jornalistas, e onde o Comitê de Segurança havia espalhado agentes em cada esquina, conforme o Voyshelk havia previsto. Foi um custo para convencê-lo a me deixar ir ao encontro, especialmente sem ele. Mas eu não queria vê-lo envolvido nessa história mais do que já estava, pois seu futuro seria incerto se descobrissem que ele acobertava dois procurados em sua casa. Como militar, seguramente seria acusado de alta traição, e Belarus ainda mantinha a pena de morte em sua legislação.
Eu mal havia dado uns passos na calçada ao sair do encontro no hotel quando fui abordado. Os ternos baratos, o físico avantajado dentro deles, a disciplina dos gestos, me diziam que eram agentes do Comitê. Tentaram parecer educados na ironia da abordagem ao me solicitarem os documentos. Entreguei minha identidade de cidadão bielorrusso, o que segurava o documento em sua mão gigantesca, desviava o olhar da fotografia do documento para o meu rosto esboçando um risinho de escárnio. A qualidade e o corte fino do sobretudo que eu estava usando revelava tratar-se de uma peça importada, cara, acessível a alguém de posses, deixando-os pouco à vontade com a abordagem.
- O senhor está hospedado no Europe, senhor Sokolov? – perguntou, mesmo assim, o que tinha meu documento em mãos.
- Não! Vim apenas tratar de negócios. – respondi.
- Devo concluir que seja empresário, então. – continuou ele, o outro agente já começava a se sentir acuado e inseguro.
- Pode-se dizer que sim! – a resposta o deixou confuso, mas não o intimidou. – Aqui mesmo em Belarus?
- Não! – ele sabia que continuar insistindo podia lhe custar uma advertência por parte de seus superiores, se eu tivesse influência política nos altos escalões do governo, o que era comum em abastados que financiavam boa parte das corrupções cometidas pelo governo. O outro o encarava suplicando em pensamento que ele acabasse logo com aquilo.
- Então o senhor deveria portar um passaporte. – persistiu.
- Como cidadão bielorrusso? Creio que o agente está um pouco perdido na legislação do nosso país, não está? – quando o chamei de agente o abalo que sofreu se expressou em seu rosto, a autoconfiança e a empáfia sumiram como que por encanto.
- Uma boa noite, senhor Sokolov! – exclamou, me devolvendo o documento. Assim que se virou, deu de cara com o Artem e outro militar fardados. Pensei que o sujeito fosse ter um colapso ali mesmo.
- Algum problema? – perguntou o Artem, encarando os sujeitos com desdém.
- Acredito que não, tenente! Estes senhores estavam me confundindo com um estrangeiro, ou com algum desses revoltosos que vem agitando as ruas. – respondi, sorrindo amistosamente para o Artem.
- Lamento a confusão, até já pedi desculpas ao senhor Sokolov. – gaguejou o sujeito, não sustentando o olhar no Artem e no outro militar.
- Creio que a parte das desculpas o agente esqueceu, mas de qualquer forma está tudo esclarecido, o pobre coitado só estava cumprindo ordens. – afirmei. O que deixou o agente humilhado e espumando de raiva.
- Dispensados então, senhores! – exclamou o Artem, batendo continência. Ri quando os dois praticamente correram para longe dali, como crianças fugindo de uma bronca.
- Bom revê-lo! – exclamou o Artem, num tom bastante sedutor na voz branda.
- Também estou contente em te rever. Está se tornando um hábito você vir em meu socorro, muito obrigado!– respondi, deixando-o feliz. Ele me apresentou o amigo, outro oficial bastante jovem como ele, acrescentando que esteve me procurando pelos hotéis do centro da cidade para o encontro que acabou não se realizando.
- Como você acabou de constatar, estou me esquivando desses agentes. – eu não sabia se o amigo dele pensava como ele, portanto, fui cauteloso.
- Não se aflija, o Yuri é como eu, não nos empenhamos em seguir ordens ditatoriais. Há prazeres muito mais compensatórios nessa vida. – o safado não tinha me esquecido, eu podia jurar que, dando uma pequena brecha, ele me levaria a um quarto de hotel ali próximo e me foderia até estar saciado, muito provavelmente levando o amigo para apimentar ainda mais a trepada.
- Fico feliz de saber! A mentalidade do povo está mudando, o que é vital se quiser viver numa democracia. Mas, isso é secundário a alegria que nosso reencontro me deu. – afirmei, o que o fez sacar um pedaço de papel e uma caneta do bolso em me escrever seu endereço e número de telefone.
- Vou esperar que entre em contato! Para o que precisar, e para aquilo que está em suspenso.
- Obrigado, Artem! Te conhecer foi muito, muito bom!
- Até breve, Patrey! Pode ser melhor ainda, você sabe! – devolveu esperançoso. Eu devia mesmo não estar no meu juízo perfeito, com o Voy e o Yagor perseguindo meu cuzinho sem descanso, eu ainda ficava jogando charme para esses dois caras parrudos e sexys, alimentando seus desejos libidinosos. Só um maluco faz isso.
O dia D havia chegado. Eu estava uma pilha de nervos. Não bastasse o pavor de sermos pegos durante o trajeto, o Voyshelk havia encasquetado que iria conosco até a fronteira com a Lituânia, único país que, nos últimos meses, estava deixando opositores do governo Lukashenko cruzarem a fronteira sem grandes problemas. Ele estava nos obrigando a desistir do esquema montado pelos colegas do Yagor na organização humanitária, e aceitar que ele fosse dirigindo o próprio carro até a Lituânia.
- Você não vai se não for como eu estou sugerindo. Se ele quiser ir, que vá. Mas, não colocando sua vida em risco. – impôs o Voy, sem aceitar argumentos em contrário.
- Se fizermos o que está sugerindo, sugerindo não, mandando, estaremos os três em risco, ao invés de dois. Eu vou com o Yagor conforme planejado, pois teremos suporte durante a fuga, e você fica, sem que alguém possa vir a te acusar de ter dado fuga a opositores. E está acabado! – firmei pé.
- Veja só esse rabudo dando uma de macho, Yagor! Era só o que me faltava! Vai ser como eu estou determinando ou não vai ser, vocês escolhem. – sentenciou o Voy.
- Você está acabando com a minha paciência, Voyshelk Khodkevich! Quem você pensa que é para me dar ordens? Não sou um dos teus soldadinhos para me sujeitar as suas sandices sem questionamentos, entendeu? – retruquei zangado. Ele não detestava quando eu o chamava pelo nome completo.
- Eu vou te mostrar quem eu sou com isso aqui! – devolveu ele furioso, pegando na pica.
- Vocês dois vão parar com essa discussão ridícula? Eu vou sozinho, terei ajuda dos meus colegas e vocês dois ficam aqui, quebrando o pau ou trepando até chegarem a um acordo, entendidos? – questionou o Yagor num tom de voz elevado que era para nos intimidar.
- Então vá! Foi você quem se meteu nessa confusão, então resolva-a sem colocar o Patrey em risco, pois isso eu não vou permitir. – retrucou o Voyshelk.
- Eu já tomei minha decisão! Vou com o Yagor e fim de papo! Sou adulto, maior de idade e vacinado, não recebo mais ordens de ninguém! Nem mesmo as suas, Voyshelk Khodkevich!
- É o que veremos! – continuou ameaçando o Voy, irredutível e turrão como sempre.
- Quando os colegas do Yagor chegaram, por volta das 23:00 horas, como combinado, e ele e eu descemos até o estacionamento em frente aos blocos de edifícios, o Voyshelk desceu conosco como se fosse nos ajudar com a bagagem e se despedir. Porém, ao chegarmos junto ao carro no qual estavam os amigos do Yagor, o Voy sacou sua pistola e deu voz de prisão aos dois. Ficamos estarrecidos, e os dois começaram a suspeitar que havíamos preparado uma cilada para apanhá-los.
- Ficou doido! – berrou enfurecido o Yagor. – Seu traidor desgraçado! Vou quebrar essa sua cara traiçoeira com as minhas próprias mãos! – mas ele ainda estava sem condições físicas de enfrentar o Voy de igual para igual.
- Chega! Seus panacas imbecis! Querem chamar a atenção da vizinhança para que sejamos realmente todos presos antes mesmo de tentarmos fugir? Abaixe essa arma, Voy! Ou eu mesmo a arranco das tuas mãos, ou você dá um tiro em mim, você escolhe! – intervi exasperado.
- Saiam daqui! Eu mesmo vou levá-los até a fronteira sãos e salvos, não se preocupem! – garantiu o Voy aos dois amigos do Yagor que, ainda assustados, não hesitaram em aceitar a determinação do homem que estava colocando em risco suas próprias vidas.
- Puto! Eu te odeio, sabia? Sempre foi assim, desde criança. Se não for como você quer, ninguém brinca, não era sempre assim? – questionei furioso.
- Vamos pegar o meu carro e partir o quanto antes, temos um longo percurso a percorrer e temos que aproveitar a madrugada quando a vigília nas rodovias é menor. – determinou o Voy. Não nos restava outra opção senão seguir com ele.
Havia um ar de triunfo na cara que o Voy queria deixar transparecer serena, embora eu conseguisse identificar um sorrisinho maroto por baixo da máscara com a qual ele queria ser visto, quando pegou a rodovia M6. O trajeto de pouco mais de duzentos quilômetros até Salcininkai na fronteira de Belarus com a Lituânia, não era o mais curto, mas aquele onde havia menos bloqueios e vigilância policial, e onde a chance de sermos parados àquela hora seria bem menor. E ainda, se porventura fossemos parados num bloqueio, o Voyshelk usaria sua patente militar para dar uma justificativa ao transporte de dois civis, cidadãos bielorrussos.
- Você sabe porque tive que agir assim, você não me deu escolhas. E, sabe que eu jamais concordaria com você se o Patrey corresse algum perigo. – sentenciou o Voyshelk, procurando se justificar e ficar novamente numa boa com o Yagor.
- Tudo bem! Pensando melhor, desta forma colocamos menos pessoas em risco. Vi nos olhos dos meus colegas o alívio que sentiram ao estarem desincumbidos dessa tarefa arriscada. – concordou o Yagor.
- Os dois são uns putos, os dois! – exclamei revoltado. – Armam o maior fuzuê e depois ficam numa boa, enquanto o palhaço aqui fica tentando colocar panos frios nas brigas de vocês. – afirmei irado. Ambos riram.
- Vamos fazer uma parada naquele posto de gasolina, com essa confusão toda, não reparei que o ponteiro de combustível não nos levaria até a fronteira. Além disso, preciso mijar. – disse o Voy.
- Também estou com a bexiga estourando. – sentenciou o Yagor.
- Depois o bobinho sou eu! Os dois suprassumos da esperteza empreendem uma fuga sem se lembrar que precisam mijar e abastecer o carro antes de partirem. Espertalhões! – retruquei, fazendo-os caçoar novamente de mim.
Assim que entramos na lanchonete do posto, percebemos que acabamos de fazer uma grande cagada. Numa mesinha quadrada, bem próxima ao balcão, onde um sujeito de rosto vermelho tentava manter os olhos abertos lutando contra o sono, havia três policiais devorando schawarmas e tomando café, provavelmente para aguentarem o plantão da madrugada. Não havíamos visto nenhuma viatura no estacionamento, mas ao me aproximar do balcão, vi que ela estava estacionada num corredor lateral próximo à entrada dos sanitários. Meu primeiro impulso foi dar meia volta e avisar o Voy e o Yagor da surpresa que os aguardava quando fossem entrar no salão. Logo vi que seria mais uma imprudência, os três policiais, bastante jovens, com idades que deviam oscilar entre cinco anos menos do que eu, me acompanharam com seus olhares de cupidez, nada disfarçados, desde que empurrei a porta do estabelecimento. Um deles, o único que estava sentado de frente para a porta de entrada, chegou a esboçar um sorriso e erguer seu copo de café na minha direção, foi quando também começou a minha tremedeira, pois os outros dois se viraram imediatamente na minha direção tentando entender o gesto do companheiro. Tanto o exército quanto as forças policiais vinham investindo e arregimentando para suas fileiras, uma rapaziada de excelente aparência, corpos vigorosos quando não bem malhados, e músculos atemorizadores sob suas fardas bem ajustadas. Por consequência, também acabavam levando para os quartéis e chefaturas, um bando de machos que ainda não tinha total controle sobre a testosterona que lhes corria nas veias. Prova disso, eram os olhares daqueles três para o principal foco do meu corpo, a bunda roliça metida no jeans bem ajustado às minhas coxas e corpo. Eu devolvi um sorriso acanhado, tentando parecer descontraído, mas estava quase me borrando de medo. Bastava um deles me abordar com uma cantada qualquer, para eu ficar sem uma justificativa plausível para estar naquele lugar àquela hora da madrugada. Isso quase estava para acontecer quando o Voyshelk e o Yagor entraram no salão e se juntaram a mim no balcão. O policial tesudo que havia me cumprimentado voltou a se sentar quando já empreendia uma abordagem, ao constatar que eu não estava sozinho. Pedi rapidamente três garrafas d´água para o sujeito do balcão para podermos sair dali o quanto antes.
- Estão seguindo para a Lituânia? – perguntou um dos policias quando já estávamos a caminho da saída. Eu gelei.
- Não, moramos em Varnakeli. – respondeu o Voyshelk com sua voz grave e firme.
- Todos vocês? – continuou o policial. Tanto o Voy quanto o Yagor logo sacaram qual era a do policial, saber se eu era das imediações.
- Não, nosso amigo aqui está visitando o país, fomos lhe mostrar a capital. – afirmou o Yagor.
- Você não parece bem! Está com algum problema, podemos ajudar? – o carinha era sexy, mas um grude.
- Está tudo bem, obrigado! Tenho uns probleminhas com meu rim e acho que ele está querendo me dar trabalho novamente. – explicou o Yagor, para justificar seu caminhar cauteloso, lento, e ainda um tanto quanto dolorido.
- Sei como é! Meu pai também sofre com cálculos renais. Boa viagem! – exclamou o policial, frustrado por não ter conseguido me abordar sem a presença daqueles dois machos que me acompanhavam.
- Não nos faltava mais nada! – exclamei quando entramos no carro. – A tua cara, seu doente renal, e a minha devem estar no topo da lista de procurados pelo regime, basta um daqueles saradões cismar de consultar os arquivos da polícia e teremos uma escolta não solicitada. Custava terem segurado um pouco mais o mijo? – ponderei apavorado.
- Não fomos nós quem chamamos a atenção deles, mas essa tua bunda pedindo pica! – retrucou o Yagor.
Estávamos a pouco mais de três quilômetros da Propuska Benyakoni, o posto alfandegário da fronteira quando o vidro traseiro do carro foi estilhaçado por um tiro. Havia duas viaturas em nosso encalço, e eu quase podia jurar que numa delas estavam os três policiais da lanchonete. O Voyshelk acelerou e mais dois tiros atingiram a lataria, ele dirigia feito louco.
- Sabe atirar? –perguntou ao Yagor que estava no banco de trás.
- Claro! – respondeu ele.
- Vocês estão malucos? Atirar contra a polícia vai piorar nossa situação. Pare o carro, Voy! – desperdicei meu latim, os dois iam fazer como sempre, seguir o que estava em suas cabeças e não na minha.
O primeiro disparo do Yagor fez com que uma das viaturas atravessasse a pista na contramão e saísse da rodovia sem controle. Que ele havia alvejado o motorista não restava dúvida, se estava vivo ou morto determinaria a extensão de nossas sentenças judiciais.
- Belo tiro para um amador! – elogiou o Voy.
- Pare o carro, Voy, pelo amor de Deus! Vamos nos ferrar quando nos pegarem. – supliquei.
- ‘Se’ nos pegarem, o que eu te garanto que não vai acontecer! – respondeu ele.
Estalos na lataria significavam que o carro estava virando uma peneira. Até então, nenhum dos tiros havia acertado nada além do estofamento dos bancos e um dos pneus, que fez o carro gingar quase fazendo o Voy perder o controle da direção. As luzes do posto da aduana surgiram à nossa frente, apesar da placa apontar um limite de velocidade de 20Km/h nos trezentos metros que o antecediam, o Voy se aproximava da chancela de uma das cabines livres a mais de 100Km/h. Do posto policial anexo, saíram dois homens munidos de AKs-74 abrindo fogo contra o carro. A chancela se espatifou quando a frente do carro bateu nela na velocidade em que o Voy vinha. Duzentos metros depois, em território lituano, e ainda seguidos por uma viatura policial daquele país, por estarmos excedendo o limite de velocidade para aquela zona, o carro foi perdendo velocidade, como se o Voy tivesse tirado o pé do acelerador. Ainda estávamos sob as luzes dos postes que iluminavam a rodovia naquele trecho, quando vi a mancha de sangue crescendo na camisa do Voy.
- Voy! Eles acertaram o Voy! – gritei feito louco. O carro ziguezagueava na pista perdendo velocidade e me obrigando a segurar o volante para não batermos contra as proteções laterais de concreto da rodovia.
Eles o alvejaram com dois tiros, um no peito e outro no abdômen, ambos vertiam um filete rutilante de sangue. Ele estava pálido demais para justificar aquela palidez só por conta do pouco sangue que saia dos orifícios queimados em sua pele. As hemorragias profusas deviam ser internas. O carro estava rolando devagar quando puxei o freio de estacionamento. O Yagor e eu descemos do carro e corremos para a porta do motorista. Não fosse o cinto de segurança, o Voyshelk teria caindo para fora. Eu gritava e gesticulava ensandecidamente na direção da viatura policial que acabara de estacionar atrás de nós. O Yagor começou a explicar a nossa situação e a pedir ajuda para o Voy. Enquanto o policial acionava uma ambulância pelo rádio da viatura, eu segurava a cabeça dele no meu colo, ele me encarava com seu olhar doce e desamparado, que eu conhecia desde a infância.
- Fim da linha! Chegou a minha hora de descer do trem, essa é a minha estação! – ele parecia delirar, mas estava bem lúcido.
- Fica quieto, não gaste suas energias, a guarda da fronteira já acionou uma ambulância, logo devem estar aqui.
- Cuida dele para mim! – pediu ao Yagor.
- Faremos isso juntos! Você bem sabe que um só não dá conta de cuidar do Patrey. – afirmou o Yagor.
- Você sempre o amou, não foi? Ia jogar fora sua felicidade para cuidar de mim como sempre fez. Não posso levar essa conta para onde estou indo, jamais conseguiria quita-la. – disse ele a mim, com a voz perdendo energia.
- Não diga bobagens! Você não vai a lugar algum! É isso que dá quando não me dá ouvidos! – ralhei
- Eu não podia estragar a felicidade da pessoa que mais amei nessa vida. Você vai entender minhas razões algum dia. – ele tossiu algumas vezes num esforço para terminar as frases.
- Fica quieto, Voyshelk! – exclamei, quando seu corpo ficava cada vez mais pesado.
- Vou ficar, vou ficar! Segura minha mão, estou com medo. – balbuciou.
- Não faz isso comigo Voy, por favor, não faz isso comigo! – exclamei quando seus olhos se fecharam e ele já não ouvia mais nada. Sacudi aquele monte de músculos sem vida, e desabei num choro convulsivo, apertando sua cabeça contra o peito e soluçando feito uma criança. Agora era definitivo, o trio se desfizera para todo o sempre. O Yagor não tinha mais com quem competir, e eu não tinha mais motivo para estar dividido.
Senti os braços do Yagor me envolvendo quando se ajoelhou ao meu lado, me aconchegando em seu tronco colossal, e achei que não suportaria mais um grãozinho de dor que fosse, quando ele passou a mão na cabeça do Voyshelk e sussurrou:
- Até algum dia, meu amigo! Jogaremos bola no verão e faremos bonecos de neve no inverno, nós três, como sempre fizemos.
Quando a ambulância chegou não havia mais o que ser feito. Depois de um depoimento na chefatura de polícia de Salcininkai fomos liberados e levados para a capital Vilnius, num ato de gentileza e solidariedade da polícia local quando constataram que éramos meramente cidadãos bielorrussos perseguidos pelo regime ditatorial.
No dia seguinte, nem uma pequena nota sobre o ocorrido na fronteira durante a madrugada saiu nos jornais de Belarus. A última coisa que o já pressionado presidente precisava era um cidadão bielorrusso mártir na oposição. Mas eu não me calei. Assim que fomos deixados no hotel em Vilnius, eu me pus a digitar um artigo contando em detalhes a nossa epopeia, enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto e meu corpo exaurido clamava por uma cama. O artigo foi manchete em inúmeras mídias por toda a Europa, alcançando as grandes e importantes nações do outro lado do Atlântico e do Pacífico, expondo mais uma das barbáries cometidas pelo governo Lukashenko. Era certo que com isso eu terminava de fechar definitivamente as portas no meu país tanto para mim quanto para o Yagor, enquanto o atual governo estivesse no poder. Mas nossa fuga e o destino trágico de um jovem major do exército repercutiu entre a população de Belarus descontente com o governo, fazendo aumentar o número de adeptos que pediam abertamente mudanças e a queda de Lukaschenko, tanto entre civis quanto entre militares.
Duas semanas depois, e após termos cuidado do funeral do Voyshelk, eu e o Yagor estávamos em segurança na minha casa na Alemanha. Meus pais nos acolheram nos três primeiros dias, tão pesarosos quanto nós dois, pois o Voy era para eles como um filho, o irmão que eles não me deram. Os pais do Yagor também nos fizeram uma visita tirando uma folga de seus cargos, o pai na Sorbonne, e a mãe na Université PSL criada em 2010, ano em que eles deixaram Belarus por melhores salários, como haviam feito os meus pais.
Eu larguei meu emprego na empresa canadense. Me sentia como se estivesse faltando um membro do meu corpo, e me questionava se ter seguido a carreira de jornalista tinha valido à pena, uma vez que o preso que paguei pela liberdade de publicar meus artigos e defender minhas opiniões tinha me tirado um dos mais valiosos tesouros da minha vida. Porém, minha fama já estava selada, e não demorei a receber propostas para continuar sendo correspondente internacional especializado em assuntos do leste europeu que em seu todo, ainda não havia alcançado a democracia em todas as suas repúblicas. Fui aceito para um cargo que não demandava mais tantas viagens para cobrir os fatos no poderoso conglomerado Betelsmann AG sediado na pequena e vizinha Gütersloh, que me permitia trabalhar alguns dias da semana em casa, em Bielefeld, para onde o Yagor e eu nos mudamos. Ele deixou de assessorar a organização para a qual vinha dando apoio jurídico e passou a advogar num escritório local, o que também lhe garantia a volta tranquila para casa nos finais de tarde, sem que sua vida corresse perigo.
Alguns meses depois, recebi um e-mail de uma das irmãs do Voyshelk no meu escritório na Betelsmann. A simples menção do nome dele no e-mail me levou às lágrimas. O enorme vazio e a dor ainda estavam no meu peito, mais vivos do que nunca. Ela queria se encontrar comigo, por isso convidei-a a passar um final de semana conosco. Ela se atirou nos meus braços quando fomos buscá-la na estação ferroviária, e choramos juntos. O Yagor tentava se fazer de durão, sempre agia assim, desde criança, mas seus olhos marejados eram a prova viva de que, também nele, as feridas emocionais ainda não estavam cicatrizadas. Dasha queria saber detalhes de como foi aquela fatídica madrugada em que o irmão perdeu a vida, e também me entregou um álbum de fotografias que estava no apartamento da vulica Kamiennahorskaja. O exército não lhes dera grandes esclarecimentos, mentira nos fatos, ao conceder a pensão à mãe do Voyshelk. Sem conseguir conter o choro, que me obrigou a interromper o relato por diversas vezes, fiz com que ela soubesse de toda a verdade, do heroísmo do irmão para deixar sãos e salvos seus dois maiores amigos.
- Você vai gostar do que ele juntou nesse álbum. – disse ela, depois do relato feito.
Folheando as páginas repletas de fotografias nas quais o Voyshelk e eu aparecíamos juntos em diversas ocasiões desde nossa mais tenra idade até as vésperas do dia em que ele embarcou para servir o exército. Em algumas também aparecia o Yagor, mas via-se claramente que todo o álbum tinha um único objetivo, guardar recordações minhas. Abaixo de uma ou outra fotografia ele havia escrito algumas palavras ligadas à imagem e, constrangedoramente, nalgumas chegou a expressar o amor que sentia por mim, não o amor de amigo, de irmão, mas o mais veemente amor carnal, a paixão que jamais conseguiu admitir. Precisei parar de virar as páginas, pois eu chorava desoladamente, passando as pontas dos dedos sobre o rosto dele nas fotografias.
- O Voy sempre foi apaixonado por você! – verbalizou ela. – Nem sempre me dei conta do que significavam os longos períodos em que ficava sentado nalgum lugar com o olhar perdido no horizonte, das crises de mau humor, dos socos que desferia em paredes e móveis. Eu era muito jovem para entender o que se passava com ele. Sempre achei que fosse por conta da desavença com nosso pai, do clima de instabilidade que reinava em nossa casa, dos desmandos do meu pai e dos choros reprimidos pelos cantos da minha mãe. Porém, ao encontrar esse álbum compreendi do que se tratava. A postura machista nunca o deixou se declarar para você, o amor clandestino que tinha que ficar sob o manto de trevas e não podia ser revelado sem que sua figura de macho ficasse abalada. – afirmou ela.
- Eu sempre soube que ele me amava e que lutava contra esse amor com unhas e dentes. Quando ficava atormentado como você mencionou, ele me xingava, queria me bater, me culpava de qualquer situação que tivesse acontecido, para poder descarregar o que trazia no peito. Ele nunca me bateu, seria incapaz de me machucar. Mas arrumava confusão com os outros garotos e com o Yagor, a quem nunca deixou de ver como seu grande e único rival. A disputa entre os dois, fosse qual fosse o motivo alegado, no fundo sempre fui eu. Eu levei anos para perceber que estava apaixonado pelo Yagor, pois o Voyshelk sempre ficava jogando seu charme sobre mim e desviava o foco dos meus sentimentos. Passei anos confuso e dividido entre esses dois turrões cabeça-dura. Eu só me decidi quando o Voy me deixou para servir o exército e me garantiu que jamais teria qualquer coisa comigo, porque ele era macho e eu um viado. – revelei.
- Ele detestava e virava uma fera quando o comparávamos ao papai, mas era como ele agia. Tanto que a esposa o abandonou depois de ele ter dado algumas surras nela, como meu pai fazia com a minha mãe. – confirmou ela.
- Nos dias em que estivemos abrigados no apartamento dele, eu joguei isso na cara dele, foi a primeira vez que tive medo de ele me dar um soco na cara. – revelei.
O Yagor e eu perguntamos se ela, a irmã e a mãe estavam precisando de alguma coisa, que nos disporíamos a ajudar se fosse preciso. Ela nos garantiu que não. A mãe recebia as pensões do major que havia falecido e do Voyshelk, ela e a irmã tinham um bom emprego e ambas estavam em relacionamentos sérios com dois rapazes também recém-formados.
- Mantenha contato comigo, Dasha. Vocês ocupam um lugar muito, muito especial no meu coração, não só pela memória do Voy, mas porque guardo boas recordações da sua família. – disse ao me despedir dela no meio da tarde do domingo, antes de ela embarcar no trem de volta.
Eu estava calado quando o Yagor dirigia para casa depois de deixarmos a Dasha na estação. Não conseguia tirar aqueles olhares de dor que pareciam sempre fazer parte da fisionomia do Voyshelk, ainda mais sabendo que muita daquela dor era responsabilidade minha. O Yagor pareceu ler meus pensamentos.
- Não se culpe tanto! Você nunca negou nada a ele, nem seu amor nem seu corpo. E quer saber do que mais, aquele safado seria o único macho com quem eu aceitaria dividir o seu cuzinho se isso pudesse trazê-lo de volta para junto de nós. – a fala do Yagor, embargada pela emoção, exacerbou minhas lágrimas, por me mostrar a dimensão do que ele sentia pelo Voyshelk.
- Eu já te disse o quanto te amo? – perguntei.
- Já, mas pode repetir milhões de vezes, sou um pouco lerdo para compreender as coisas, sabia? – devolveu ele. Eu consegui finalmente rir. Levei minha mão à nuca dele e afaguei-o no início da implantação dos cabelos, onde toques suaves tinham o poder de enrijecer, em questão de segundos, aquele cacetão grosso no meio de suas pernas. – Sabe que vou te pegar assim que chegarmos em casa, não sabe? – perguntou ele, virando seu rosto ladino na minha direção.
- E por que você acha que eu estou te acariciando? – devolvi, com um sorriso tímido. Que ele é meu homem, meu macho, sussurrei pouco depois, em seus braços, quando o primeiro jato de seu sêmen começou a encharcar meu cuzinho esfolado, e ele mordiscava um dos biquinhos dos meus mamilos, discretamente inchado pela voracidade com a qual vinha sendo abusado.
Refugiado – s.m. = Pessoa que, em razão de uma guerra ou por sua religião, etnia, orientação sexual, ideologia política etc., foi obrigada a sair de sua terra natal e se mudar para outra, por ser alvo de perseguição. Indivíduo que se mudou para um lugar seguro, buscando proteção. Quem se refugiou; pessoa que busca escapar de um perigo.
Foto 1 do Conto erotico: Corações refugiados - Final

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Comentários


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tarado-uk Comentou em 02/02/2021

Parabéns! Devoro seus contos cada vez que os vejo publicados.

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rhslopes1 Comentou em 01/02/2021

Pena, que o fim foi em partes tragico, minja mente vagou na possibilidade que o Voy viesse a se salvar, ou ainda um ménage... infelizmente não aconteceu.... parabéns pelo conto....




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Ficha do conto

Foto Perfil kherr
kherr

Nome do conto:
Corações refugiados - Final

Codigo do conto:
172133

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
31/01/2021

Quant.de Votos:
7

Quant.de Fotos:
3