Da guerra à paixão, um caminho turbulento - Final

Da guerra à paixão, um caminho turbulento - Final
Passei quatro meses sem ouvir uma única palavra em relação ao Buck. Continuava tão ferido quanto naquele final de tarde de domingo sinistro. Mergulhei no trabalho para esquecer de tudo aquilo, para esquecer que aquele sentimento que não me dava um segundo de paz um dia tivesse existido. Acredito que os rapazes de alguma forma ficaram sabendo do ocorrido, e todos me pouparam para não aumentar ainda mais a minha dor, uma vez que já não era mais segredo para ninguém que eu havia me apaixonado pelo Buck. Durante esse período todo só precisei me confrontar com um único assunto que me ligava ao Buck, a surra que ele havia dado naqueles garotões e, que os pais de um deles, levaram ao tribunal. Quem me procurou não foi o advogado do Buck, mas o promotor público, num encontro extraoficial no restaurante. Relatei a minha versão do ocorrido e me pus à disposição para testemunhar em favor do Buck, afinal ele havia se metido naquilo para me defender, eu não seria tão vil a não reconhecer isso e a me omitir por conta da briga que tivemos.
- Não será preciso que testemunhe no tribunal. Vou redigir sua versão e um oficial de justiça virá colher sua assinatura. – disse o jovem promotor que flertou descaradamente comigo diante dos meus funcionários perplexos.
- O que vai acontecer com o Buck? – perguntei preocupado.
- Ele provavelmente será inocentado, apesar das lesões corporais que causou aos rapazes. Duas garotas com seus respectivos advogados vieram espontaneamente procurar a promotoria para relatar o mesmo que você acaba de me revelar. A provocação partiu deles. A Base Naval me informou que o ex-capitão Buck está passando por um processo de reabilitação de veteranos e, um laudo do psiquiatra que o acompanha atesta que a agressividade do capitão tem origem no que enfrentou no front do Afeganistão. Se me permite, só mais uma pergunta? Qual é exatamente a sua relação com o ex-capitão? – eu não sabia se essa pergunta estava relacionada ao processo ou se era apenas uma curiosidade do promotor para ver se o campo estava livre para uma aproximação dele.
- Somos bons amigos! – respondi, o que fez surgir um sorriso afetuoso no rosto convencido do promotor. Ele não fazia o meu tipo, nunca teria uma chance, mesmo que meu cuzinho estivesse clamando por um macho. De qualquer forma, sob aquelas circunstâncias, era bom que ele pensasse que o caminho estava livre para uma eventual investida, o que favoreceria o Buck, indiretamente.
Nesse interim aconteceu o aniversário da Louise, que resolveu fazer uma pequena comemoração entre os amigos. Eu só tinha me encontrado com ela e o Cliff uma vez desde que regressaram da viagem de núpcias, quando vieram me ver no restaurante e aproveitaram para jantar. Pensei em não ir, sabendo que o Buck provavelmente estaria lá. Mas, o Matt e o Gary, já sabedores do que tinha acontecido entre nós, fizeram pressão para que eu fosse.
- Vocês não podem passar a vida toda se evitando, isso é coisa de criança birrenta. Aposto que a essa altura o Buck já se esqueceu do porquê de outro de seus ataques de fúria. Vamos, vai ser legal! Além do mais, toda a galera vai estar lá, ou nós já não temos mais importância para você? – asseverou o Matt, que aproveitou a oportunidade para me contar que ele e o Buck tinham recebido alta do programa de reabilitação para veteranos.
- Amo vocês, portanto, não me venha com chantagem barata! Ele pode ter esquecido, eu não! Não vou ficar servindo de saco de pancada dele toda vez que estiver revoltado com a vida e mundo. Para mim deu. É melhor que não tenhamos que ficar num mesmo espaço, a chance de as coisas descambarem é grande. – respondi.
- Se vocês não estivessem apaixonados um pelo outro isso não ia acontecer. Pessoas indiferentes e, que não estão nem aí com o outro não tem nenhum problema de ficarem próximas. Acontece que entre vocês dois existe uma corrente com milhares de volts e, basta um vacilo para acontecer um curto-circuito. – afirmou o Gary.
- O que existe entre nós é algo que eu já deixei de tentar entender, é demais para a minha cabeça e para minha paz de espírito. – devolvi.
- Vou dar um toque para ele pegar leve com você. Nenhum de nós gostou do que ele fez com você no Afeganistão e nem nesse novo episódio. Alguém precisa cortar as asinhas dele. – retrucou o Gary.
- Nem pense nisso! Ele já anda com o pé atrás com você, por conta daquela malfadada noite em que você inventou de leva-lo para a minha casa naquele porre homérico. Tive que ouvir barbaridades por conta da sua falta de controle sobre esse baita troço no meio das tuas pernas. – adverti.
- Não sei porquê? Vocês por acaso tinham algum envolvimento? Que eu saiba você estava livre e desimpedido, como aliás, continua. – questionou ele.
- Do que vocês estão falando? – perguntou o Matt
- O enfezadinho me viu descansando na cama com o Seth na manhã seguinte ao porre que tomou no casamento do Cliff e se acha no direito de reclamar. – esclareceu o Gary
- Você descansando na mesma cama que o Seth! Só um parvo engole essa! E o Buck pode ser tudo, menos tolo. O cara tem um ciúme doentio pelo Seth e você, te conhecendo como conheço, vai enfiando seu cacete no que ele mais venera. Tiveram sorte de ele não quebrar a cara dos dois! – garantiu o Matt.
- Vamos parar com esse assunto! Pelo visto com quem eu vou, ou deixo de ir para a cama, já é do conhecimento de todos, que porra!
O Luke e o Matt vieram me buscar e me arrastaram para o aniversário da Louise, sem espaço para protestos. Prevendo que eu estaria lá, o Buck foi o único a não aparecer, reforçando a minha certeza de que entre nós não havia mais nada, mesmo que, oficialmente, nunca tivesse havido algo de concreto. No entanto, fiquei surpreso quando o Luke me contou que o Buck o havia procurado para saber de um diretor da Boeing que talvez lhe conseguisse uma entrevista para um cargo na empresa.
- Eu dei o contato do sujeito e ele o indicou para uma vaga. Faz três meses que o Buck está trabalhando num setor que mantem estrita relação com o meu. Nos vemos praticamente todos os dias. – confirmou o Matt. – E tem mais, faz um mês, talvez pouco mais, que ele saiu da Base Naval e está morando num apartamento.
- Fico feliz que ele esteja dando um rumo à vida dele. Ele merece, passou por muitos perrengues e está mais do que na hora da vida lhe dar um pouco em troca. – afirmei satisfeito.
- Ele me disse que foi você quem tinha preparado o terreno e, que te devia mais essa.
- Bobagem! Ele precisa aprender a ter confiança em si mesmo outra vez. Não foi porque uma ordem, cujo desfecho ele não podia prever, resultou numa tragédia, que ele deva deixar de acreditar em seu valor e no próprio talento.
- A morte do Sam e do Olinsky pirou a cabeça dele, a de todos nós para dizer a real. Nem que vivamos cem anos vamos esquecer daquela cena. – a fisionomia do Matt ficou sisuda.
- Lamento por vocês, e pelo que lhes trouxe de sofrimento. É tremendamente injusto.
Eu tinha contratado recentemente um gerente para o salão do restaurante, o que tinha começado junto comigo havia se mudado de Everett. Doug é o nome dele. A empatia entre nós foi imediata, talvez porque ele tenha comparecido à entrevista com uma camisa de mangas longas dobradas até o cotovelo onde mal cabiam seu peitoral e ombros largos, bem como um jeans justo na altura das coxas musculosas no qual também estava acomodada uma mala de fazer inveja a qualquer garanhão. Eu havia dado um tempo no campo sentimental da minha vida depois dos últimos lances com o Buck. Seria tão mais fácil me envolver com um cara descomplicado, sem um passado tão problemático, mas no amor parece que quanto mais difícil e mais complicadas as coisas são, mais nos sentimos atraídos por elas. Só isso explicava essa minha paixão obsessiva por esse homem que tinha virado minha cabeça do avesso. De vez em quando, ao ficar observando o Doug, descontraído, simpático, atencioso com os clientes e, inconteste, um macho tremendamente sexy, cuja testosterona se podia sentir volatizada numa nuvem ao seu redor, me questionava o porquê de não partir de corpo e alma para cima de um sujeito assim.
Era uma sexta-feira de intenso movimento da semana do 4 de julho, já tarde da noite, quando as portas tinham acabado de ser fechadas e foi feita uma exceção para a entrada tardia de um cliente. O Doug o havia prevenido do horário e feito algumas restrições do cardápio para que não houvesse um tumulto na cozinha que se preparava para o encerramento daquele dia. O pedido que chegou à cozinha foi trivial, um crepe com recheio de aspargos como entrada e um filé ao ponto com crostine de amêndoas e manteiga trufada de gorgonzola com molho demi-glacê de vinho do Porto. O despacho impecável para o salão levou pouco mais vinte minutos, pelo que até elogiei o sous-chef, ao conferir o prato. Minutos depois, o Doug voltava com o prato e uma expressão contrariada.
- O cliente alegou que o filé está cru! – disse ele, aguardando meu veredicto.
- Está ao ponto! Não foi esse o pedido? – retruquei ao cortar o filé e conferir o ponto.
- Foi. – confirmou ele
- Faça outro, por favor, Charles! Ligeiramente mais grelhado, ok? – ordenei.
Conferi mais uma vez a textura do filé antes de enviá-lo para o salão. Perfeito como da primeira vez, apenas mais tostado. Quando vi o Doug regressando com o prato pela segunda vez e com cara de poucos amigos, meu sangue já fervia. Que porra de sujeito é esse que pede para ser atendido após o fechamento e ainda começa a procurar pelo em casca de ovo?
- O que foi agora? – perguntei, antes mesmo de o Doug se manifestar.
- Ele alega que ainda está cru, chefe! – respondeu ele.
- Quem esse sujeito pensa que é, que não sabe diferenciar o que é um filé ao ponto e o que é um filé cru? Cru vai ficar a cara desse cretino! – exclamei exasperando, espetando furiosamente num garfo de trinchar um filé que tinha acabado de tirar do refrigerador, e rumando com a peça em direção ao salão que, felizmente, só tinha duas mesas ainda ocupadas além daquela do cliente pentelho. – Quem é o expert que não sabe diferenciar um filé ao ponto de um filé cru? – bradei enfurecido, fazendo com que todos os olhares se virassem na minha direção. Nisso, vejo o Buck sentado numa das mesas e se denunciando como o encrenqueiro. Eu hesitei entre começar a rir e dar um esculacho nele ali diante de todos. Praticamente grudado nas minhas costas, feito um cão de guarda vinha o Doug, disposto a dar uma lição naquele folgado que havia zombado dele, caso fosse necessário.
- Você! Está querendo me desmoralizar? Eu devia te fazer engolir esse filé para você saber o que é cru! – ameacei, enquanto ele começava a caçoar da minha raiva.
- Zangado?
- Puto! Qual é a sua?
- Precisava ter alguns motivos a mais para te pedir desculpas! – respondeu ele, olhando de cara feia para o Doug, ainda colado em mim.
- Pode deixar Doug! E, traga aquele segundo filé novamente, por favor. Depois, diga ao pessoal da cozinha que podem encerrar tudo. – orientei, deixando o Doug um tanto quanto confuso com a minha reação.
- Belo cão de guarda! – exclamou o Buck
- Você não vai recomeçar, vai? Se estiver caçando encrenca pode sair por aquela porta agora mesmo. – devolvi irado.
- Calma! Vou precisar de um tempo para me acostumar a te ver cercado de machos rivais. Isso leva tempo! – disse caçoando.
- É nisso que dá quanto se abre mão da exclusividade! – retruquei, inconformado com a capacidade que aquele rosto viril tinha de me desconcertar.
- Posso me atrever a perguntar se ela ainda é minha?
- Perguntar até pode, mas não conte com uma resposta!
- Você ainda me ama? – o Doug até se atrapalhou todo enquanto colocava o filé diante do Buck com aquela pergunta direta.
- Obrigado, Doug! Não dê ouvidos ao que sai da boca desse safado! – exclamei. Pela primeira vez o Doug percebeu que teria um obstáculo pela frente se quisesse dar vazão ao que queria comigo. – E, quanto a você, aqui não é hora nem lugar para você me aporrinhar, é meu local de trabalho e quero que a harmonia e disciplina prevaleçam por aqui, entendeu? – afirmei, quando o Doug se afastou.
- Sim senhor, chef! Não tinha reparado que você fica um tesão quando bravo.
- Pelo visto você não reparou em muita coisa desde que nos conhecemos! – devolvi
- Tem razão! Ainda vou ter uma chance de me redimir?
- Engula esse filé de uma vez por todas e me deixei liberar o pessoal, todos estamos cansados. – retruquei.
- Está divino! Como você! – o cínico genioso não dava trégua.
- Talvez seja a cusparada que o sous-chef acrescentou ao tempero depois da sua reclamação. – provoquei rindo.
- Tenho certeza que você jamais permitiria uma barbaridade dessas! Você é perfeccionista demais para deixar isso acontecer. – disse ele.
- Essa é a sua sorte!
- Não! A minha sorte foi ter encontrado você no meu caminho! – eu fiquei em silêncio, aquele era um novo Buck, indubitavelmente. Eu precisava ir devagar para não me machucar outra vez. Fiquei apreciando como ele devorava aquele filé, o safado devia estar faminto.
- O pessoal terminou por hoje, Seth! Posso dispensá-los? – comunicou o Doug, surgindo discretamente ao meu lado.
- Sim, faça isso, obrigado! Pode deixar que eu fecho tudo quando sair.
- Posso te esperar, sem nenhum problema. – devolveu ele, prestativo e não querendo deixar o terreno livre para aquele homem que parecia muito mais próximo de mim do que ele gostaria. Intuitivamente precisei rir, eram dois machos se estudando mutuamente para ver quem estava mais apto a levar a melhor.
- Obrigado, Doug, mas não é preciso! Vá descansar, vá! – devolvi dispensando-o, o que visivelmente não o agradou. – Ah! O serviço do salão e o seu pessoal estiveram impecáveis hoje, Doug, parabéns! – elogiei
- Obrigado e boa noite, Seth! – devolveu ele antes de partir, com o peito enfunado pelo elogio.
- “Posso te esperar, sem nenhum problema, Seth!” – zombou o Buck, procurando imitar a voz sensualmente rouca do Doug, numa evidente crise de ciúmes. – “Também posso te pegar no colo, levar para casa e, se não for pedir demais, dar uma enfiadinha rápida do meu caralho no seu cuzinho”. “Sou pau para toda obra!” – emendou no mesmo tom jocoso.
- Vai começar tudo de novo? Se for, já vou avisando, a porta é serventia da casa! – devolvi exasperado.
- Tá bem, desculpe! Já entendi! – devolveu apressado e sincero, antes que eu o expulsasse como tinha feito na minha casa. – Precisava contratar logo um cara como esse? – continuou, para que eu não lhe desse uma bronca.
- Como esse, como? Não entendi!
- Todo, todo ... ah, você sabe. Todo saradão e com fuça de atorzinho de cinema. – confessou enciumado.
- Em primeiro lugar, eu o contratei pela competência! Como isso veio junto com um belo pacote, resolvi tudo numa única opção. Não sei se você já reparou, mas todo o meu staff é composto por pessoas jovens, talentosas e muito bem-apessoadas. Os garçons gatos atraem a mulherada, as solteiras chamam as amigas, as casadas voltam com os maridos que, por sua vez, se encantam pela beleza e atenção das garotas. Isso, aliado a pratos saborosos mantém a casa cheia. – expliquei
- Pois até hoje eu estou em dúvida se os clientes vêm para cá para saborear os pratos ou para comer o chef tesudo. – retrucou ele, amarrando a cara. Eu ri.
- Você é hilário, Buck! Quando não me tira do sério!
- Quem consegue me tirar do sério é você! Arre!
- Terminou? Então xô! Estou morrendo de sono e não vejo a hora de cair na minha cama. – afirmei.
- Nenhuma sobremesa? Nenhum beijinho? Posso, ao menos, me oferecer para te levar em casa como o seu maitrê Don Juan certamente havia planejado.
- Chega dessa brincadeira, Buck! Estou falando sério! Não me arrume confusão com o meu pessoal, isto aqui é um negócio e eu dependo dele para pagar as minhas contas, entendeu? – eu precisava ser firme ou ele ia começar a se a achar meu dono.
- Sinto que vou ter problemas com esse sujeito! – exclamou ele, só para ter a última palavra. A encarada que dei nele bastou para convencê-lo do meu propósito.
Esses pequenos deslizes no comportamento dele foram se tornando mais raros à medida em que se convencia da força do meu amor por ele. O que ainda o intrigava era o fato de eu não ir para a cama com ele. Não por falta de insistência da parte dele, mas por eu saber que, no momento em que o deixasse enfiar aquele caralhão no meu cuzinho, estaria estabelecido um pacto entre nós no qual ele ditaria as regras e eu as teria de cumprir. E, eu não era do tipo que aceita que minha passividade no sexo se estendesse a todo o restante da relação. Para mim, eram coisas distintas. Submisso ao macho no sexo, porém com pleno domínio da minha vida nos outros aspectos. Me parecia que o Buck ainda não tinha entendido bem essa dinâmica, daí eu relutar em abrir as pernas para levar vara dominadora dele no rabo. O que eu mais estava curtindo nessa fase, era a dedicação dele em me agradar. Nunca o vi tão gentil, carinhoso, cheio de cuidados para comigo, prestativo e se declarando com sussurros nos meus ouvidos ou no meu cangote, o que fazia meu corpo todo se alvoroçar de tesão.
Ele já estava ficando zangado com a minha protelação para conhecer o apartamento dele, e eu sabia que minhas desculpas já não o convenciam mais. Ir ao covil dele era a certeza de sair de lá com o cuzinho esporrado até as bordas. Eu o queria mais do que tudo, e acabei cedendo. A alegria e incredulidade dele no dia em que aceitei sem pestanejar mais uma de suas tentativas foi, por si só, um presente sem igual.
- Você está falando sério? Vem mesmo comigo esta noite? Não vai inventar mais nenhuma daquelas desculpas esfarrapadas? – questionava ele eufórico, quando topei seguir com ele para o apartamento depois de uma sessão de cinema.
- Qual o eto, não estava na hora de eu conhecer o lugar onde está morando? – devolvi.
- Já tinha passado da hora! Vai passar a noite comigo? – ele não queria mais perder tempo e foi direito.
- Epa, epa, epa! Vamos com calma, seu libertino! É para eu conhecer sua casa ou para ser devorado por sua tara? – não importava a resposta dele, uma vez que eu já sabia qual era ela verdadeiramente.
- As duas coisas! – exclamou, me surpreendendo por não inventar subterfúgios. Eu ri, enquanto ele me comprimia contra o carro e me dava um beijo devasso em pleno estacionamento do cinema, antes de seguirmos para a casa dele.
Fiquei admirado com a maneira como ele ajeitou o apartamento espaçoso e bem iluminado. Pelos detalhes percebia-se o capricho nas escolhas e no gosto chique dele. Gostei de saber que o homem com quem pretendia compartilhar a minha vida era uma pessoa organizada e de bom gosto, coisas que até então não havia notado nele.
- Parabéns! Ficou incrível! Lindo! – exclamei, deixando-o todo orgulhoso de si.
- Sentiu que partidão eu sou? – provocou brincando
- Sem dúvida! Acredito que todos os candidatos devem ter sido unânimes em te elogiar. – aticei retrucando.
- Que papo é esse? Só tenho um candidato, faz um tempão que estou mirando nele, mas ele vem se fazendo de difícil. Mas hoje, depois de ele conhecer isso aqui a fundo, tenho certeza que vai mudar ideia. – garantiu, dando uma pegada na rola só para me provocar. O bizarro nisso tudo era que eu sabia que seria exatamente assim.
O olhar dele estava mais focado em mim, que continuava a dar uns passos pelo apê enquanto examinava mais alguns detalhes, do que na garrafa de vinho que estava abrindo, tanto que quase derrubou uma das taças ao servi-lo. O conceito aberto do apê permitia uma vista quase completa da parte social, ficando apenas as duas suítes e uma área de serviço fora do alcance de quem se encontrava no amplo espaço da sala e cozinha. Quando o Buck saiu de trás do balcão onde serviu as duas taças que agora trazia nas mãos em minha direção, sua pica excitada já formava um volume acintoso debaixo do jeans. Ver aquele macho excitado pela minha presença e pelo que estava para acontecer, me deu um baita de um tesão. Essa sensação de virar uma presa nas mãos de um macho sempre me provocava isso. Ele manteve a mão dele sobre a minha quando peguei na taça, ela estava quente e todo o tesão que ele estava sentindo parecia fluir para dentro de mim com aquele contato sensual e prolongado.
- Esse vinho é para me entorpecer e facilitar o seu trabalho? – indaguei, tão cheio de segundas intenções quanto ele.
- É para garantir que você esteja no ponto de não me escapar, digamos!
- Quem foi que disse que eu quero escapar? – minha pergunta fez com que ele tirasse a taça da minha mão, da qual eu havia tomado apenas dois goles, e me puxasse com força contra seu tronco maçudo para um beijo úmido e concupiscente. Essa certeza de que eu estava ali para ser dele pela primeira vez o estava deixando maluco. A espera havia chegado ao fim, ele já não tinha dúvida.
O Buck puxou minha camiseta para cima depois de um tempo acariciando meu torso, tirando-a pela cabeça. Fiquei ligeiramente acanhado quando ele olhou para os meus mamilos e constatou como os biquinhos das tetas estavam enrijecidos de tesão. Era como estar vulneravelmente exposto diante de um predador. Uma sensação ao mesmo tempo prazerosa e assustadora, especialmente por eu estar me lembrando do dia em que segurei no cacetão dele enquanto ele urinava no banheiro do The Irishmen. Eu tinha um orifício anal muito apertado, que nem mesmo os anos de namoro com o Don tinham conseguido lacear, tornando cada coito uma experiência sempre um tanto quanto dolorosa, apesar de todo o prazer que a acompanhava e, o caralhão do Buck não é propriamente um falo dentro dos padrões, mas uma benga cavalar. Nunca tive dúvida de que no dia em que fosse transar com ele pela primeira vez, além de precisar estar psicologicamente muito bem preparado para isso, teria que assumir um cuzinho dilacerado ao final do coito. No momento, era isso que me inquietava.
- Você está tenso! – afirmou, percebendo minha angustia. – Sei que não sou seu primeiro homem, o que está te afligindo? Prometo que vou ser bem carinhoso. – ele parecia estar adivinhando o que acontecia em meu íntimo.
- Eu não esperava outra coisa de você, Buck! É tolice minha, só isso, pelo que você representa para mim. – devolvi.
- Gosto quando você se refere a mim com todo esse carinho. – afirmou.
Ao sentir a boca dele lambendo, chupando e mordiscando um dos meus mamilos, além de parecer estar flutuando no ar, eu só queria ser dele. Meus dedos deslizavam entre os cabelos dele, enquanto ele abria minha calça e a tirava de cima da minha bunda. Ambas as mãos dele vasculhavam e apertavam minhas nádegas lisas e nuas. Com o tesão a explodir, ele não mensurava a força com que seus dentes mordiam e tracionavam os biquinhos das minhas tetas, me fazendo gemer de excitação e dor, o que o estava deixando quase doido. Num rompante, ele me pegou no colo. Eu não sou um homem franzino nem leve, meus oitenta e tantos quilos em um corpo de mais de um metro e oitenta de altura, não são propriamente uma carga fácil de transportar, mas o Buck me conduzia para o quarto como se estivesse carregando um ursinho de pelúcia. Eu já devia ter me dando conta da força que todos aqueles músculos avantajados dele eram capazes de produzir, no entanto, só agora eu tinha a exata dimensão dela. Em breve todo esse potencial estaria concentrado naquele cacete duro e visível dentro do jeans dele, e sendo usado para foder meu cu. Impossível não se sentir apreensivo.
Enquanto ele arrancava as próprias roupas, na pressa insana de seu desejo, eu terminava de me por nu. Segurando numa das minhas mãos, ele me fez rodopiar diante dele para poder contemplar meu corpo totalmente nu pela primeira vez.
- Caralho, Seth! Você é um tesão! – grunhiu ele.
- Está me deixando sem graça!
Depois de ele ter tirado o jeans, eu não conseguia desviar os olhos de seu falo grosso e duro. Também era a primeira vez que eu o via completamente nu, e pude confirmar que era o macho mais lindo, viril e másculo que eu já tinha visto.
- Sonho com a sua mão macia aqui quase que diariamente, depois daquela pegada que você deu nele naquele dia, sabia?
Tínhamos perdido tempo demais, o que sentíamos um pelo outro não podia mais ser adiado, e eu me sentei na beirada da cama e peguei a pica pesada e gigantesca dele na mão, acariciando-a delicadamente enquanto erguia meu olhar na direção do rosto esperançoso dele. Ao aproximar o rosto da virilha dele, o perfume almiscarado de seu sexo entrou como uma lufada de desejo nas minhas narinas. O prepúcio dele, curto e retraído pela ereção, deixava a glande praticamente toda exposta. Ela brilhava por estar úmida com o pré-gozo que minava gota-a-gota continuamente da uretra, exalando aquela aragem viril. Carinhosamente eu a envolvi com os meus lábios, fazendo-os deslizar suavemente sobre a cabeçorra sensível. Ele soltou um gemido longo e prazeroso que vinha desde seu abdômen. Por mais que eu abrisse minha boca, apenas a glande coube nela. Eu a chupei devagar, sempre encarando seu olhar atônito, movendo minha língua suavemente ao redor dela. O volume de pré-gozo que saía ia se avolumando à medida que ele deixava o tesão guiar seus sentidos.
- Ah, Seth! Não acaba comigo antes de eu te ter por inteiro! – gemeu ele. Eu não conseguia parar, a verga dele era saborosa demais para eu parar.
Enquanto eu segurava a jeba e a chupava, ela ia crescendo etosamente e ficando tão dura que eu mal conseguia movê-la. As veias que a revestiam se tornavam cada vez mais salientes e visíveis, o que me fez deslizar a ponta da língua sobre seu emaranhado por toda extensão do cacete, contornando-o e avançando em direção ao chumaço de pentelhos, denso e negro. As pontas dos meus dedos, imersos na pentelhada, sondavam o sexo prodigioso do Buck, num misto de caricias e exploração. Os colhões dele ornavam harmônicos com todo o resto, globosos e grandes, davam volume aquele sacão imenso, quase taurino. Coloquei uma das bolonas na boca, com pentelhos e tudo, e a massageei com delicadeza, sentindo sua textura, calor e perfume. O Buck só gemia, trocava o apoio do corpo de um pé para o outro, impaciente, sedento, excitado, deixando meu boquete lhe recompensar pela longa espera. Por vezes, ele tirava rapidamente a rola da minha boca para evitar que o gozo urgente eclodisse antes de ele usufruir de todo aquele tesão. No fundo, eu queria que ele gozasse na minha boca, a porra de um macho sempre me seduziu e, em se tratando de um pelo qual eu nutria uma afinidade, ela era quase como um bálsamo. Minha imaginação fértil me dizia que a do Buck devia ser um néctar dos deuses. Meu empenho continuado, mamando aquela verga que eu sentia latejar na minha mão e na minha boca, recompensou a dedicação no instante em que vi a pelve do Buck se retesar, os gemidos dele se transformarem um grunhido único e rouco e o gozo quente e viscoso encher minha boca da mais saborosa porra que eu já havia engolido. Ele não tirava os olhos de mim, faceiro e satisfeito, ele me acompanhava em êxtase devorando os goles cremosos de seu esperma.
- Tive tanta inveja do Gary, do Cliff e do Matt naquela noite em que você chupou a caceta deles, e agora consigo entender o porquê de eles nunca terem esquecido daquele dia. – confessou
- Não se torture mais com isso, Buck! Aquilo foi um rompante insano de minha parte, só isso. Não há nem como comparar com o que acabou de acontecer. De hoje em diante, é o teu gozo que me interessa, só o teu. – asseverei.
Sob a pele dele os músculos se contraíam como se ele estivesse inquieto. No entanto, eram tão somente a adrenalina e os hormônios instigando-o a procurar mais prazer. Os beijos tórridos que estávamos trocando e o contato do meu corpo nu junto ao dele, mal deram tempo de a pica amolecer por uns breves minutos antes de uma nova e potente ereção o dominar. Eu estava deitado meio de lado, de bruços, quando os beijos e as mordidinhas dele desceram da minha nuca para as costas e depois para as nádegas, que ele abria, expondo o rego lisinho e a diminuta fenda para a qual convergiam as preguinhas rosadas. A visão do meu cuzinho vulnerável aos seus instintos o fez arfar de tesão. As lambidas e as mordidas nos meus glúteos iam caminhando em direção ao cu. Quanto mais ele se aproximava, mais eu sentia meu ânus se contorcendo de desejo e, mais minha respiração agitada soava como gemidos sedutores. Ele fez a ponta da língua rodopiar sobre a porta do meu cuzinho, tive vontade de gritar de tanto tesão.
- Ai, Buck! – gani sôfrego, deixando evidente o que queria dele.
Me torturar com suas lambidas, chupadas e beijos no reguinho pareciam lhe proporcionar um prazer demoníaco, uma vez que eu me contorcia debaixo dele ansiando para ser enrabado. Eu praticamente enlouquecia quando ele enfiava um dedo no meu cu e o movimentava em círculos para sentir a espasticidade dos meus esfíncteres. Nem olhava mais na direção dele, pois ver toda aquela sanha brilhando em seu olhar de cobiça me deixava maluco. De repente, senti que não era mais a língua dele que roçava ansiosa a minha rosquinha anal, mas a cabeçorra úmida do caralhão, lubrificando-a com o pré-gozo que saía dela. Ele segurou a respiração arfante por uns segundos e, com a glande estufada apontada sobre o meu orifício anal, meteu-a nele num golpe único e abrupto. Eu gritei e finquei os dedos no travesseiro ao qual estava abraçado, como se fossem garras tentando encontrar um apoio e um alívio para aquela dor pungente que tomou conta do meu cu. Eu já previa isso, mas mesmo assim, não com aquela intensidade, embora o tamanho da jeba do Buck já sinalizasse um coito dolorido. Assim que meus esfíncteres encaparam a verga dele, ambos precisaram um tempo para concatenar as respirações aceleradas, ele pelo prazer inusitado de estar dentro da fenda mais apertada que sua rola já sentiu, e eu, para me preparar em ter o cu dilacerado pelo maior caralhão que já tinha entrado nele. O Buck foi muito cuidadoso e carinhoso, abraçou meu tronco, procurou minha boca e me beijou enquanto pressionava lentamente a pica para dentro do meu cuzinho.
- Esse teu cuzinho apertado mata qualquer macho de tanto tesão, Seth! – gemeu ele no meu ouvido, quando nem metade da pica estava dentro de mim.
- Pois trate de se manter bem vivinho! Eu te quero por inteiro! – devolvi arfando, feito uma gazela abatida.
Todo aquele cuidado e preocupação comigo ao enfiar a rola em mim, perguntando a todo momento se estava doendo, se estava me machucando, só tinha uma explicação, ele sabia que meu cu era tremendamente estreito, antes mesmo de meter o pau nele. O Gary, só podia ter sido ele, pois foi o único dos rapazes que me penetrou. O que esses dois teriam conversado sobre mim, para que chegassem a um assunto tão íntimo e privado? As estocadas cada vez mais potentes dissiparam esse pensamento da minha mente. Não era o momento de pensar em outra coisa que não naquele macho entrando prazerosamente nas profundezas mais secretas do meu corpo. Quando o sacão dele começou a bater contra o meu reguinho aberto produzindo um som que passou a preencher o quarto de luxúria e libertinagem, eu me sentia totalmente empalado. Ele esfregava a virilha pentelhuda nas minhas nádegas polpudas, o que fazia o cacetão se mover nas minhas entranhas de um lado para o outro, explorando cada recôndito indevassado do meu cuzinho. Eu intercalava gemidos e ganidos mais pungentes à medida que a dor se fazia mais presente, e arfava sensualmente deixando o prazer tomar conta do meu ser. Aquela posição já não o satisfazia, ele queria acompanhar, pelas expressões do meu rosto, o prazer que estava me proporcionando. Tirou lentamente a jeba do meu cu, girou meu corpo até eu ficar de frente para ele, abriu minhas pernas colocando-as sobre seus ombros e tornou a enfiar o pauzão na rosquinha já rasgada e ferida. Cravei meus dedos em suas costas ao sentir a pica deslizar para dentro de mim, enquanto o encarava cheio de doçura e cumplicidade. O vaivém da jeba esfregando meu ânus arregaçado produzia um ardor inclemente, que eu só conseguia suportar por conta daquele olhar cheio de amor que me fitava.
- Amo você! – gemi com um sorriso apaixonado. Imediatamente, ele colou a boca na minha e como se sua vida dependesse do sabor da minha saliva, me beijou numa sofreguidão desatada. Eu nunca tinha sentido algo tão intenso quanto o que sentia pelo Buck. Indubitavelmente ele era e seria o meu homem para todo o sempre.
Foi em meio ao reconhecimento desse sentimento que eu gozei. Senti a porra fluindo do meu pinto como um filete libertador. Afaguei o rosto dele com os olhos marejados. Alguém podia sentir algo tão intenso e profundo por outro ser? Com nossos corpos fundidos um no outro, eu soube que sim. Ao se movimentar, o Buck já não tirava mais tanto o cacetão do meu cu, as estocadas se transformaram em impulsos curtos, a expressão e todo o corpo dele iam se retesando, os gemidos se tornaram guturais e, me encarando fundo nos olhos, ele começou a gozar. Não demorei a sentir os jatos pegajosos escorrerem abundantes e inundarem meu cuzinho com sua umidade máscula e formigante. Quando todo o peso dele desabou sobre mim, abracei-o e afaguei sua nuca, enquanto ele me beijava e chupava sensualmente os lábios. Éramos um ser único, fundido e com os batimentos cardíacos sincronizados, consumando uma união pactuada muito além de qualquer entendimento.
- Feliz? – perguntei, afagando com as pontas dos dedos os sensuais redemoinhos de pelos do peito dele.
- Muito! Algumas vezes cheguei a temer que isso nunca fosse acontecer. – confessou.
- Sonhei com esse dia desde a primeira vez que te vi. – exprimi sincero.
Ao fechar os braços ao meu redor num aperto acolhedor, reparei na cicatriz que um daqueles três garotões encrenqueiros havia deixado no braço dele. Era um traço ligeiramente rosado oblíquo aos músculos do bíceps vigoroso, perfeitamente visível e destacado do tom da pele ao redor. Levei meus dedos até ela e delicadamente percorri sua extensão, essa marca nunca me deixaria esquecer do quão seguro eu estava nos braços daquele homem.
- Preciso do seu amor, Seth! – murmurou ele.
- Ele é todo seu até o último dos meus suspiros! – asseverei.
- Você fez de mim o mais feliz dos homens, sabia?
- Posso dizer a mesma coisa.
A partir dali nosso relacionamento ganhou visibilidade, estávamos nos amando, estávamos apaixonados, éramos um casal. Os rapazes foram os primeiros a saber, até porque o Buck quis deixar claro que o acesso a mim estava fechado. O mesmo ele começou a fazer com relação ao Doug, tomando discretamente pequenas liberdades comigo quando estávamos na presença dele. Eu me divertia com essa marcação de território entre machos. Parecia algo tão primitivo, que só se podia esperar de animais, no entanto, acontecia aberta e propositalmente entre homens instruídos vivendo em sociedade. Não que o Doug desse a menor importância a essas demonstrações de posse, ele parecia ainda se achar no direito de me reivindicar, ou ao menos, a achar que meu cuzinho ainda lhe podia proporcionar muito prazer. Ele não me assediava, o que eu teria cortado logo de cara, mas se fazia sempre presente, me observando e cuidando, como querendo dizer, quando você quiser, estarei aqui para te satisfazer. Eu me sentia feliz com tudo isso, não nego. De certa forma, eu sempre estive cercado por caras que se mostravam a fim de mim, mesmo quando comprometidos, o que me levava a acreditar que estavam mais atrás do meu cuzinho do que de mim propriamente como pessoa. Daí minha retração e meu cuidado ao me envolver com eles. Mesmo deixando isso claro para o Buck, ele insistia em querer apressar que passássemos a morar juntos. Eu não duvidava do amor dele por mim, muito menos do meu por ele, mas a decepção com o meu ex e, o comportamento do Buck me levaram a ser precavido, a ir com cautela antes de me lançar de corpo e alma naquele relacionamento. Alguém disse que ninguém modifica ninguém, quando muito aceita e se conforma por necessidade ou conveniência. Eu não tinha a pretensão de mudar o gênio impaciente e aguerrido do Buck, só queria ter a certeza de que podia conviver com ele em paz e harmonia. Essa espera não o agradava, ficava me cobrando, questionava se eu realmente o amava, impunha prazos, me chantageava só para se sentir mais seguro. Ele não o fazia de forma agressiva, na verdade camuflava tudo sob um tom de brincadeira. Porém, dava seu recado.
Quando eu achava que estava quase vivendo no paraíso, faltando unicamente nos instalarmos sob o mesmo teto e juntarmos nossas escovas de dentes e, se fosse dado a me deixar influenciar por crendices, podia jurar que comecei a viver meu inferno astral.
O Buck e eu tiramos um final de semana só para namorar, sem toda a galera em volta, apenas nós dois num hotel em Seattle numa suíte com vista da cidade e jacuzzi para transar. Estávamos precisando desse tempo só nosso. Havíamos comprado ingressos para uma peça de teatro, feito reservas num bistrô intimista e, programado longos passeios a pé durante o dia. Havia uma promessa de muitas carícias e sexo pairando no ar, e ambos contávamos os dias para esse fim de semana especial. Enquanto ele dirigia, ficava me encarando com aquela cara de cobiça e safadeza, o que me deixava com um tesão enorme. Após sairmos do teatro e passar por um barzinho, uma vez que ainda era cedo para o jantar reservado no bistrô, dei de cara com o Nick, um amigo gay do Don que, inclusive, lhe apresentou o carinha pelo qual ele me trocou quando fui para o Afeganistão. Enquanto namorava o Don, nunca simpatizei muito com o Nick. Ele é um gay tipo galinha que está sempre à procura de uma pica maior e diferente daquela com a qual está. Até aí nenhum problema, afinal, cada um vive como quer e acha melhor. Ele chegou a ter um “casinho” com o Don, segundo me confessou meu ex, o que talvez também justificasse a minha desconfiança com esse sujeito. Foi ele quem me reconheceu no barzinho e não perdeu tempo em se aproximar. O motivo era óbvio, o tremendo garanhão que me acompanhava. Tratei-o com frieza. Primeiro porque estava interrompendo nossa privacidade, segundo porque seu único objetivo era se fazer notar pelo Buck. Nem nossas respostas monossilábicas às suas perguntas curiosas o intimidaram e, muito menos o fato de não o termos convidado a se sentar conosco o inibiu de forçar sua presença. Feito uma periquita no cio, ele não desgrudava o olhar libidinoso do Buck, o que foi minando minha paciência e me deixando puto e enciumado. A muito custo conseguimos nos livrar dele, obrigando-nos a pedir a conta antes mesmo de havermos terminado de tomar nossos drinques.
- Que figura! – exclamou o Buck, quando chegamos à calçada.
- Sujeitinho desagradável! Detesto bichas rameiras, e esse infeliz é o exemplo clássico delas. Não pode ver outro gay com um macho que já faz de tudo para tirá-lo dele. – retruquei, fazendo o Buck começar a rir.
- Ficou com ciúmes? – inquiriu
- Claro! Não viu como ele dava descaradamente em cima de você! Viado do caralho! – devolvi, antes do Buck me abraçar em plena rua e sussurrar no meu ouvido que eu não corria esse risco.
Passado um tempo, a Boeing promoveu um treinamento motivacional para alguns funcionários e o Buck precisou passar uma semana em Seattle. No dia em que me deu a notícia tínhamos passado a noite juntos nos amando e, na manhã seguinte, ainda com o cuzinho todo esporrado recebi a notícia com um sobressalto que disfarcei para ele não perceber. Tive um pressentimento ruim ao imaginar o Buck solto em Seattle, justamente por conta do Nick. Eles voltarem a se encontrar por coincidência era mais difícil do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Eu não devia estar preocupado com uma bobagem dessas, até porque o Buck também não foi com a cara do sujeito, mas eu estava. Minha cabeça se encheu de caraminholas e, enquanto a semana transcorria mais elas pululavam na minha mente, a ponto de eu me desconcentrar diversas vezes nos meus afazeres.
- Algum problema, chef? – perguntavam meus funcionários quase diariamente, entre eles o Doug.
- Não, está tudo bem! – respondi certo dia quando ele repetiu a pergunta. – Por falar em problemas, Doug, será que você pode ir comigo a Seattle na quinta-feira para tratarmos dos detalhes com aquele novo fornecedor de pescados?
- Claro, é só me dizer a que horas! – estava aí uma chance que ele esperava há tempos, passar um tempinho a sós comigo, fora do ambiente de trabalho, o que talvez fizesse com que eu enxergasse nele outros atributos que não os relacionados ao emprego. Isso nem passava pela minha cabeça quando o convoquei.
Depois de inspecionarmos as instalações e a qualidade dos produtos do fornecedor de pescados e, enquanto caia uma chuva torrencial sobre a cidade, o Doug sugeriu que comemorássemos a nova parceria com o fornecedor dando uma ligeira passada no The 5 Point Cafe para um rápido Happy Hour, enquanto a chuva amainava. Eu queria chegar logo em casa, mas topei e aceitei o convite. Antes tivesse recusado, e teria me poupado o sofrimento.
Pelo horário, o local estava lotado, a maioria tinha pensado como o Doug, esperar a chuva passar enquanto desfrutava de uns drinques com os amigos. Conseguimos dois lugares na extremidade do balcão onde todos que passavam acabavam esbarrando nas nossas costas. Quando dei meu primeiro gole no drinque que o barman acabara de colocar na minha frente, precisei forçar a vista e dar uma piscada para ter certeza do que meus olhos estavam vendo, o Nick e o Buck sentados na última mesa rente à parede no fundo do bar, conversando e rindo como se fossem velhos amigos. Minha expressão mudou instantaneamente, assustando o Doug.
- O que foi, parece que viu um fantasma? – perguntou ele.
- Antes fosse! Que porra é essa? O que esses dois estão fazendo juntos? – questionei, sem que o Doug atinasse com o que eu estava dizendo.
Minhas pernas tremiam tanto que não tive coragem de me levantar, achando que elas não sustentariam meu corpo. Ou eu estava tendo uma miragem, ou o filho da puta do Nick estava com a mão sobre a do Buck, e o miserável não fazia nada para impedir esse contato. Meu sangue ferveu e eu, pisando firme, fui até a mesa, deixando os dois repentinamente etados e perplexos.
- Oi amor, o que faz aqui? Não sabia que você viria a Seattle. – apressou-se a dizer o Buck, enquanto rapidamente enxotava a mão atrevida do Nick.
- Dá para perceber! O que significa isso, pode me explicar? – questionei duro.
- Oi Seth! Você vê que mundo pequeno, encontrei seu namorado por acaso saindo do hotel onde teve o treinamento. – explicou-se o Nick.
- Eu ficaria tremendamente agradecido se você calasse essa sua boca e desse o fora daqui, sua bicha vadia! Você pode enganar qualquer um com esses seus encontros por acaso, mas a mim não. Conheço você melhor do que gostaria, e nunca fui com a sua cara, você bem sabe. – explodi, sem perceber que estava quase berrando, e que meus punhos estavam cerrados, prontos para serem enfiados naquela cara deslavada.
- Calma! Não é nada do que você está pensando, Seth! – devolveu ele, apavorado com meus punhos fechados que se moviam impacientes e ameaçadores.
- Calma, o caralho, sua puta! Eu não respondo por mim se você não der o fora daqui agora mesmo. – afirmei, totalmente descontrolado.
- Seth, meu amor, não há porque você ficar assim. Juro que não está acontecendo nada de errado aqui. Foi realmente uma coincidência ele ter me reconhecido. – afirmou o Buck.
- E você acha que eu vou acreditar nisso? Para você pode ter parecido uma coincidência, já para essa vagabunda estava tudo planejado. – retruquei ríspido, eu estava puto com ele.
Para manter sua cara intacta, o Nick se apressou a sair dali. Ele já tinha abusado demais da sorte comigo, e não queria pagar para ver. O Buck tentou me acalmar, o que só me deixava ainda mais furioso com ele. E, ao constatar que eu estava acompanhado do Doug, quis mudar o foco da discussão.
- E eu posso saber o que esse sujeitinho está fazendo aqui com você? – perguntou atrevido.
- Não brinca comigo, Buck! O assunto aqui não é esse. Eu pego você de mãozinhas dadas com aquela bicha execrável e você tem a coragem de me perguntar o que meu funcionário faz aqui comigo. Ora, tenha santa paciência! Eu não acredito nessa sua cara de pau!
- Não aconteceu nada, amor, eu juro!
- Não aconteceu porque eu peguei vocês dois no flagra. Dentro de uma hora você estaria enrabando aquela bicha em cima de uma cama, pensa que eu não sei.
- Você está passando dos limites, Seth! Eu te amo e não sou homem de duas caras. Eu jamais faria alguma coisa que te magoasse, você sabe disso. – garantiu ele. Mas, eu não estava em condições de acreditar nas palavras dele.
- Está tudo bem com você, Seth? Olá, Buck! – disse o Doug ao se aproximar de nós. O Buck o encarou como se ele fosse o próprio diabo.
- Não, não está nada bem! Posso saber o que faz aqui com meu namorado? – perguntou o Buck, levantando-se da cadeira.
- Vamos sair daqui, Doug! Para mim isso acaba aqui! Por favor, me tire desse lugar. – todos a nossa volta já nos encaravam curiosos, como se estivessem assistindo a um filme e a ação mais esperada estivesse prestes a acontecer.
- Claro, vamos!
- Seth, eu ainda não terminei! – disse o Buck tentando me impedir de sair.
- Não piore as coisas, por favor! – devolvi ao virar as costas e abandonar o lugar.
O Doug dirigiu por todo o caminho de volta sem questionar o meu silêncio, embora estivesse estudando uma maneira de demonstrar que podia ser o homem em cujos braços eu encontraria refúgio e compreensão e, em sua pica, consolo para aquela situação. Eu estava tão abalado que quase caí na armadilha. Ele me deixou em casa, quis velar meu sono e foi se demorando.
- Está bastante tarde, se não se incomodar com o desconforto do sofá, pode ficar.
- Não será incomodo algum, não quero te deixar sozinho essa noite. – devolveu solícito
Meu sono não vinha. A todo instante eu via aquelas duas mãos uma sobre a outra e já duvidava do amor do Buck por mim, como se nunca tivesse tido provas da existência e consistência dele. Nunca tinha sentido uma crise de ciúmes tão intensa. Eu me agitava entre os lençóis quando, na penumbra, o Doug se sentou na cama, quase nu não fosse a cueca.
- Não pense mais nisso!
- Como? O homem que eu amo se encontra com o gay mais depravado que eu conheço e não me fala nada.
- Vocês conversam quando ele voltar! Talvez tenha sido mesmo apenas uma coincidência. – ele só estava sendo elegante com suas palavras para não poder ser acusado de estar se aproveitando da ocasião, o que efetivamente estava, pois fazia questão de exibir a enorme ereção dentro da cueca.
- Vou tentar dormir, Doug! Tente fazer o mesmo, se conseguir naquele sofá.
- Não quer que eu fique aqui com você? Vem cá, deixe eu te abraçar e você vai perceber que nem tudo está perdido. – respondeu ele, sabendo que uma vez em seus braços, metade do caminho até o meu cuzinho estava garantido.
- Melhor não, Doug! Não vamos confundir as coisas. Até amanhã! – eu estava magoado e triste com o Buck, mas o amava acima de tudo, e não me entregaria a outro homem só porque tivemos uma briga, por mais solícito e tesudo que fosse.
O Buck e eu ficamos umas semanas sem nos falarmos depois que ele deu as explicações que julgou seriam suficientes para aplacar minha raiva e meu ciúme. Ele foi sincero, da parte dele foi mesmo apenas o que ele julgou ser uma coincidência e, um pouco de ingenuidade ao acreditar no que o Nick tinha dito a ele a respeito daquele encontro casual. Porém, minha raiva demorou uns dias a perdoa-lo pelo que, na verdade, ele nem tinha feito. Um macho já tinha me trocado por outro, e eu não queria passar pela mesma dor outra vez.
Desde que me contou como era o ambiente de trabalho na Boeing, o Buck mencionou o nome do Josh, um colega de trabalho com o qual ele tinha se identificado e com o qual uma amizade estava se fortalecendo. Ele era casado com a Sadie e tinham um garotinho de uns 5 anos mais ou menos. O Josh o convidou algumas vezes para jantar na casa deles, o que tornou a relação entre os dois mais próxima. De tanto ele mencionar o nome do novo amigo, eu sugeri que ele convidasse o casal a jantar no restaurante para que eu também pudesse conhecê-los, uma vez que o Buck não estava a fim de abrir nossa relação publicamente, em especial em seu ambiente de trabalho, o que poderia gerar desgastes desnecessários. Nunca duvidei do amor do Buck por mim, mas ao contrário de mim, ele tinha mais dificuldade de assumir que estava se relacionando com um gay. Não era de se esperar outra coisa de um homem como ele, sempre visto como machão devido ao seu porte físico e formação, que apenas tateava nesse novo mundo. Eu não o censurava por isso, sabia como a sociedade é preconceituosa e como a exposição de um fato desses podia prejudicar a vida profissional e comunitária de uma pessoa. Portanto, não o cobrava em nada, deixando que ele próprio fosse revelando nosso relacionamento com quem se sentia mais confiante e, no tempo dele. Para o novo casal de amigos ainda não havia chegado esse momento. A sua suposta solteirice, no entanto, atiçou a feminilidade e o furor uterino da Sadie. Um macho como o Buck aguçava a cobiça das mulheres e, não raro, eu tinha presenciado elas dando em cima dele quando saíamos, o que eu costumava levar na esportiva por elas ignorarem completamente o que ele sentia por mim. Rolava um ciuminho velado de minha parte de vez em quando, especialmente quando ele também fazia algum comentário sobre essa ou aquela ser uma gostosa. Mas, isso apenas o fazia procurar meu cuzinho com a tara redobrada.
No dia em que o Buck os levou ao restaurante, isso em meio à crise ainda não totalmente resolvida do que tinha acontecido entre ele e o Nick, eu percebi que teria mais um problema a enfrentar. Descobri, por dedução, que essa amizade acelerada entre o Buck e o Josh estava sendo alimentada e instigada pela Sadie que, sem o menor escrúpulo, estava exibindo seus predicados femininos ao Buck. O Josh era um sujeito um tanto quanto apagado, aparentemente sem muita energia e disposição, que se conformava com uma vida sem sobressaltos e grandes reviravoltas, ao contrário da esposa fogosa. A influência dela sobre o marido foi o que me chamou a atenção logo de cara. Assim como, a sua disposição de sentir a verga volumosa do Buck entrando em suas pernas. Ela se pendurava no Buck como se fossem velhos e íntimos amigos, ao se encontrarem ou despedirem, dava-lhe beijos quase libidinosos, nos encontros trajava-se sensualmente para ter notadas as suas curvas e seus seios turbinados. Por mais cego, distraído e ingênuo que um macho fosse, era impossível não sentir os colhões se manifestando diante dela. E, o Buck os tinha impetuosos, sedentos e desassiados em sua enormidade e composição. O Buck fez questão de me apresentar a eles, como o amigo chef e proprietário do restaurante, omitindo nossa real condição. Enquanto o Josh se derramava em elogios sobre os meus pratos, a Sadie se ocupava em chamar a atenção do Buck, roçando sua perna entre as dele debaixo da mesa. Encarei o Buck com severidade, ele tentava se esquivar, mas ela o perseguia implacavelmente, chegando a sussurrar alguma coisa no ouvido dele, mesmo diante do marido e de mim. Nunca fui dado a faniquitos, cenas de ciúmes públicas, ou coisas do gênero. Sempre achei que ao estar num relacionamento cabia aos dois, por vontade própria, manter essa relação saudável e verdadeira, caso contrário, não havia motivo de ela persistir. Porém, aquela mulher vulgar estava conseguindo me tirar do sério. Só pela nossa troca de olhares, o Buck percebeu que eu não estava aceitando aquilo numa boa, chegando a pedir um tempo para ir ao banheiro, no que ela, logo em seguida, correu atrás dele. Era evidente que enquanto o marido estava distraído comigo, ela teria um tempinho para seduzir aquele macho que incendiava sua vagina. Eu estava tão incomodado com aquilo que chamei o Doug e, discretamente, pedi que fosse checar o paradeiro do Buck, pois só a presença dele, a impediria de assediar meu homem. O Buck voltou momentaneamente aliviado para a mesa, o que só comprovava a minha desconfiança, enquanto a Sadie trazia uma expressão de frustração pela armadilha não ter resultado no que ela queria. Minha troca de olhares com o Doug, confirmou que algo estava rolando quando ele os flagrou. Fiz questão que o Buck se sentasse mais próximo de mim quando voltou a se juntar a nós na mesa, o que ele fez de bom grado, achando que assim estaria livre da ousadia da Sadie. Em menos de dois minutos, ela voltou a se esfregar nele. Foi quando explodi, dando um chute violento na perna dela que a fez soltar um grito que chamou a atenção das mesas ao redor, mesmo ela tendo segurado a dor o mais que pode.
- O que aconteceu, querida? – perguntou assustado o Josh
- Uma câimbra como nunca tive, querido. Que dor insuportável! – gaguejou ela, enquanto eu a encarava e ela tomava consciência de onde tinha partido o chute.
- Pratica algum esporte que exige muito da sua musculatura, Sadie? – perguntei com ironia. – Você é tão jovem para sofrer de câimbras. – emendei, fazendo-a recolher-se toda para que o marido não desconfiasse do que tinha feito.
- Talvez sejam essas suas caminhadas matinais, querida. Você está fazendo mais de 15 quilômetros todos os dias, isso é para esportistas profissionais. – comentou o ingênuo marido, de quem subitamente me tomei de consternação.
O Buck e eu nos entreolhamos e ele sabia que em breve teríamos uma discussão, tudo o que ele não desejava agora que já estávamos quase completamente reconciliados do episódio no The 5 Point Cafe de Seattle. A Sadie saiu mancando do restaurante apoiada pelo braço do marido e, ciente de que eu era muito mais do que um simples amigo do Buck.
- Por que nunca me falou dessa mulher? – perguntei quando o Buck e eu ficamos a sós.
- Porque não tinha nada de especial para falar! – respondeu ele secamente
- Ah não! Quer dizer que ela se oferecendo para você feito uma puta diante do marido nunca foi algo que devesse ser comentado? Isto é, se foi apenas isso que aconteceu entre vocês. Não pense que eu não reparei no tamanho da sua pica quando você levantou para ir ao banheiro. Há quanto tempo está rolando essa baixaria entre vocês e, quantas vezes vocês já transaram, me fala? – aquilo estava me doendo tanto que nem eu saberia explicar porquê.
- Não invente coisas que nunca aconteceram! Não rola e nunca rolou nada entre mim e essa doida! Não sei o que o teu maitrê fofoqueiro te contou, mas não aconteceu absolutamente nada entre nós. A Sadie é uma mulher carente e um pouco atirada demais, é isso. – respondeu ele.
- Não comece a colocar o Doug no meio dessa história! Mulher carente, atirada? Não me diga, coitada! E você resolveu que ia ajudar essa pobre mulher a não se sentir tão carecida de um macho, é isso? – do jeito que o Buck estava dando pouca importância às minhas palavras eu me sentia como se estivesse sendo traído novamente.
- Claro! O Doug precisa sempre estar fora das nossas discussões, afinal ele é o Doug queridinho, um santo que só quer ser seu funcionário mais exemplar e prestativo. – retrucou sarcástico. – Enquanto eu sou um depravado, por ter ficado de pau duro quando uma mulher se esfregou na minha perna! O devasso sou sempre eu! – emendou zangado e enciumado.
- Imagine! Você é o santo! O santo que não consegue se livrar da mão de um gay procurando consolo e uma vara no cu ou, uma pobre mulher carente louca para sentir uma rola entrando na buceta. Sua santidade não lhe permite por um basta nesses achaques e acabar com qualquer esperança de que vá rolar alguma coisa. – afirmei.
- Não seja sarcástico! Você sabe muito bem que nada disso, ou do que você cria em sua imaginação fértil, aconteceu. Eu estou com você porque te amo, apesar dessa sua incrível capacidade de procurar consolo nesse santinho do Doug. – devolveu ele.
- Outra vez batendo na mesma tecla? Estou farto dessas suas insinuações! O Doug é meu funcionário e ponto! A discussão aqui é entre mim e você, ninguém mais.
- Ah é? Então por que a bichinha do Nick e agora a maluca da Sadie são seus pontos de apoio? – questionou.
- É melhor darmos um tempo! Eu não me envolvi com você para ficar tendo uma briga atrás da outra. Eu me envolvi com você porque te amo e queria compartilhar minha vida com você. – declarei, deixando-o aflito.
- É fugindo que você acha que vamos nos acertar? Há quanto tempo eu venho insistindo para morarmos juntos? E, o que você me diz, sempre arrumando um pretexto para adiar essa decisão? – questionou ele. Eu estava tão magoado que começava a suspeitar que nosso relacionamento estava fadado ao fracasso. Precisei me controlar para não começar a chorar, pois o amor que sentia pelo Buck era, naquele momento, a minha única razão de viver. – É tempo que você quer, pois bem eu vou te dar tempo para se decidir se é a pica do Gary ou a pica do Doug, quem sabe a dos dois, que você quer. Só não conte definitivamente mais comigo quando chegar a uma conclusão. – despejou genioso e enraivecido, me deixando falando sozinho.
- É isso que você pensa de mim, então vá. Para você eu nunca passei de uma bicha rameira, não é? Então foda-se você com suas convicções! – berrei ofendido atrás dele. E então aquele nó entalado na minha garganta explodiu me fazendo cair num choro convulsivo, enquanto eu procurava um refúgio num canto da cozinha ainda agitada devido ao movimento daquela noite de sexta-feira. Não demorei a sentir os braços do Doug me envolvendo e me trazendo carinhosamente para junto dele. Por uma fração de segundos aventei a possibilidade de passar a noite com ele, e deixa-lo preencher com seu falo o enorme vazio que eu estava sentindo. Como é que duas criaturas que se amam tanto, podem se deixar levar pelo ciúme dessa maneira?
O sábado amanheceu com uma neblina baixa acompanhada de uma garoa fina. Não tinha ânimo para sair da cama, onde felizmente acordei sozinho não me deixando levar pelas emoções conflitantes do dia anterior. Porém, outro dia cheio de afazeres e compromissos me aguardava. Cheguei a pensar se levar essa vida tão agitada teria algum propósito. Para onde todo esse trabalho e esforço estava me levando, se nem com o homem que eu amo conseguia ter um pouco de tranquilidade? Afugentei esses pensamentos me enfiando debaixo da ducha e rumando para o restaurante depois de um café tomado às pressas.
Um evento promovido pela Boeing com executivos de diversas companhias aéreas mundo afora estava agitando a cidade. As reservas de mesas para o almoço e jantar daquele sábado estavam todas esgotadas e, um cardápio que eu havia criado especialmente para a ocasião começava a ser elaborado pela primeira vez na cozinha, o que demandava uma atenção redobrada de minha parte. O relógio na parede do meu constrito posto dentro da cozinha marcava 11:05 horas quando o rosto hirsuto do Matt surgiu na tela do celular simultâneo ao toque.
- Seth! Você já está sabendo do aconteceu com o Buck? – a voz aflita dele me deixou tenso.
- Não, o quê?
- Acabo de receber um chamado no meu celular de um agente da patrulha rodoviária que encontrou o meu número no celular do Buck, comunicando que ele sofreu um acidente de motocicleta na Interestadual 5 ao sul de Seattle. O helicóptero de resgate o levou ao Northwest Hospital. Estou indo para lá agora e achei que você devia saber. – comunicou ele. Além da pontada aguda que senti no peito, minhas pernas tremiam a ponto de suspeitar delas aguentarem o meu peso se eu me levantasse da cadeira.
- Claro, Matt! Estou indo para lá também, até daqui há pouco. – respondi afobado, tirando apressadamente o dólmã, enquanto chamava pelo sous-chef e pelo Doug, instruindo-os a cuidarem do restaurante na minha ausência.
- Vou com você! Nesse estado você mal vai conseguir dirigir. – afirmou o Doug.
- Não, obrigado, Doug! Você me será mais útil aqui, segurando as pontas enquanto eu não puder. Conto com vocês dois! – respondi, com uma firmeza que o etou.
A garoa da manhã havia se transformado numa chuva persistente, a estrada a minha frente parecia estar fora de foco, o que atribuí aos limpadores do para-brisa se movendo de um lado para o outro sobre o vidro embaçado. No entanto, eram as minhas lágrimas rolando copiosas sobre o rosto angustiado. Comecei a me culpar pela briga idiota do dia anterior, pela maneira com a qual falei com ele, pelo ciúme descabido que me levou a duvidar do amor dele por mim.
O Matt e eu chegamos praticamente juntos à recepção do Pronto-Socorro. Abracei-o com força tentando segurar o choro, grato por ele estar ali comigo. A moça atrás do balcão nos informou que, por enquanto, não poderíamos ter acesso ao Buck, após nos questionar sobre o grau de parentesco que tínhamos com ele.
- É meu namorado! – exclamei convicto, deixando-a um pouco surpresa e perplexa e, fazendo com que os olhares das outras pessoas que também estavam atrás do balcão se virassem na minha direção.
Tivemos que esperar por mais de uma hora até alguem se dignar a nos dar alguma informação sobre o estado do Buck.
- Sr. Seth Turner?
- Sim, sou eu!
- O Sr. Sanders acaba de fazer uns exames que apontaram uma hemorragia craniana devido ao traumatismo crânio-encefálico que sofreu e será operado imediatamente para controle dessa hemorragia. Assim que a operação estiver finalizada o doutor Scott virá falar com o senhor. – não fosse o Matt passar seu braço musculoso ao redor da minha cintura, eu teria desabado ali mesmo.
- Vai dar tudo certo Seth! Você não está sozinho, os rapazes já estão vindo para cá, estamos todos com você e o Buck. – consolou-me o Matt.
- Eu briguei com ele ontem, Matt! Falei horrores para ele, mandei-o se foder! – revelei soluçando.
- Vocês dois brigam por qualquer bobagem desde o dia em que se conheceram, não há novidade alguma nisso. O importante é que se amam na mesma intensidade e calor dessas discussões bobas. O Buck sabe disso e não ia ficar muito tempo brigado com você. – sentenciou
- E se ele não tiver mais tempo para isso?
- Não diga bobagens! Não vá encher sua cabeça de hipóteses que nunca vão acontecer! É hora de ficar forte para quando ele acordar e perguntar por você. – como eu queria acreditar nisso.
O tal Dr. Scott só veio nos procurar ao entardecer. O Buck estava em coma induzido, a cirurgia tinha transcorrido bem, o paciente estava estável e reagindo bem, agora era só aguardar a evolução do quadro. Parecia um discurso que ele já havia repetido centenas de vezes e, que não foi capaz de afastar de mim o medo que não me dava um segundo de paz.
Três dias se passaram sem que eu arredasse o pé da antessala da UTI. O breve período que me concediam para estar ao lado dele era gasto chorando enquanto acariciava seu rosto sereno cheio de tubos. Os rapazes se revezavam por algumas horas para me fazer companhia, uma vez que não conseguiram me convencer a sair um pouco e espairecer.
- Sr. Sanders?
- Sim!
- Meu nome é Seth, sou amigo do seu filho Buck e gostaria de avisar que ele sofreu um acidente na Interestadual 5 há dois dias, passou por uma cirurgia e está na UTI do Northwest Hospital. A sua presença e a da sua esposa são importantes nesse momento. – comuniquei ao ligar para o pai do Buck.
Eles apareceram naquela mesma tarde. Não tinham tido mais contato com o filho desde a briga que tiveram quando o Buck descobriu que o irmão tinha engravidado e tido um filho com a ex-esposa. Achei que estava na hora de reaproxima-los, uma vez que boa parte dos problemas emocionais e psicológicos que levaram o Buck a precisar de tratamento no programa de reabilitação de veteranos da marinha se devia a esse fato. Esses quase seis anos últimos da vida do filho eram uma total incógnita para eles. Não sabiam que ele tinha se mudado para a Base Naval em Everett para o tratamento, não sabiam dos problemas psicológicos do filho, não sabiam que estava trabalhando na Boeing, nem que estava morando em seu próprio apartamento e, muito menos, que estava apaixonado e tendo um relacionamento com um gay. Isso só ficou claro depois do pai dele ter me questionado.
- E você é quem exatamente? – a pergunta arrogante logo me fez descobrir pelo que o Buck tinha passado ao retornar do Afeganistão. O pai dele não era propriamente o que se pode chamar de uma pessoa agradável e simpática.
- Sou Seth Turner! Estive três anos no Afeganistão com o seu filho, foi lá que nos conhecemos. Eu regressei ao país dois anos antes que o Buck e, quando ele voltou, começamos a namorar. – a revelação chocou o velho e o deixou ainda mais arrogante.
- Namorar? É assim que chamam essa coisa agora? É bem a cara do Buck, sair por aí e fazer o que lhe der na veneta com o primeiro que o leve ao mau caminho. Não à toa sempre nos trouxe problemas! – afirmou sarcástico
- É sim essa a palavra que define o que sentimos um pelo outro. Não o conheço por mais de alguns minutos, mas já percebi que o senhor não faz a menor ideia de quem seja o seu filho. Não apenas eu, mas quem esteve sob o comando do Buck ou seus superiores são capazes de atestar o homem responsável, de caráter, sempre preocupado com bem-estar dos que o cercam e, a pessoa com o maior coração que eu já conheci que é o seu filho. Vou lhe dizer mais, senhor Sanders, o que vocês fizeram pelas costas dele, enquanto defendia com unhas e dentes esse país naquele inferno árido e produtor de tudo que é droga ilícita que assola a juventude do mundo, foi uma das coisas mais abomináveis que eu já vi. Se o senhor respeitasse minimamente o virtuoso filho com o qual foi presenteado, teria sido capaz de tornar a traição do irmão e da esposa menos dolorosa para o Buck. São os senhores que estão em débito com ele, não o contrário. – de repente, senti tanta raiva daquele sujeito petulante que toda a minha dor, minha raiva e revolta explodiram nessas palavras.
- Acho que a nossa presença aqui já foi o suficiente, Melissa. Vamos para casa! – exclamou, em direção a esposa.
- Eu vim ver como meu filho está John, e não vou sair daqui enquanto não o tiver visto. Vá você se quiser! – algo me dizia que aquela mulher estava dando seu próprio grito de liberdade diante de um passado que a atormentava.
O velho ficou. Cedi o estreito período de visitas para que pudessem ver o filho. Ambos voltaram abalados com o que viram.
- Você fica aqui? – perguntou a mãe
- Enquanto eu não puder levar o Buck para casa, não saio daqui! – respondi.
- Vocês vivem juntos? – a pergunta do velho refletia mais uma curiosidade do que alguma censura. Ter visto o filho inconsciente devia ter servido como uma espécie de mea culpa para aquele homem.
- Infelizmente ainda não! Me sinto responsável pelo Buck estar aqui. Tivemos uma discussão ontem depois que protelei mais uma vez o pedido dele para morarmos juntos. – revelei.
- Não torne a repetir essa bobagem, Seth! Você sabe muito bem que não tem culpa alguma por esse acidente. Nem sabemos por que o Buck estava na Interestadual 5 e nem qual era seu destino. Assim como conhece o Buck e seus rompantes quando contrariado. – afirmou o Gary, que nesse exato momento vinha para uma visita.
- Este é Gary, outro amigo do Buck que serviu sob seu comando. – disse, apresentando-os.
- Sou muito grata pelo Buck ter tantos amigos preocupados com ele. – afirmou a mãe.
- É possível que ele estivesse vindo falar conosco. Na manhã do último sábado ele nos ligou dizendo que precisava ter uma conversa conosco, mas não apareceu. Achamos que seria para nos cobrar o fato de termos apoiado a união do irmão com a ex-esposa, e nos sentimos aliviados quando ele não veio. – revelou o pai, um tanto quanto envergonhado.
- Não creio! Desde que ele recebeu alta do tratamento, eu venho insistindo para que ele retome o convívio com vocês e passe uma borracha no passado. Só assim ele pode seguir em frente, em paz consigo mesmo. – asseverei, deixando o casal abismado.
Na sexta-feira, durante o horário de visitas, enquanto eu segurava a mão do Buck, ele despertou. Levou um tempo para se acostumar à luz, agitou-se ao sentir que estava num lugar desconhecido e com os braços conectados a algo que o incomodava e, forçou o olhar na minha direção quando ouviu minha voz pedindo para que ficasse tranquilo. Não tirou os olhos de mim, enquanto o médico o examinava e dava instruções às enfermeiras para o libertarem de alguns equipamentos.
- Oi, meu amor! – consegui sussurrar enquanto procurava segurar o choro. – Que bom que está de volta!
- Por que estou aqui? – perguntou, agarrando minha mão e apertando-a com força.
Contei o que sabia. Minha preocupação naquele momento era dizer o quanto o amava e que precisava dele. O medo de o perder sem ter vivido nosso amor em toda sua plenitude me fez ver que já não podia adiar viver sob o mesmo teto dele. A vida era curta e imprevisível demais para eu me dar ao luxo de ficar pesando prós e contras indefinidamente.
- Não saia do meu lado! – exclamou, quando a enfermeira me avisou do término do horário de visitas.
- Estarei aqui do lado de fora, não se aflija!
- Amanhã você segue para o quarto, Buck, e terá todo o tempo para ficar com o Seth. – afirmou o médico. – Se isso o deixar menos impaciente, saiba que ele não saiu daqui desde que você deu entrada no hospital. – emendou, para conseguir a cooperação de seu paciente.
- Eu te amo, Seth! – balbuciou o Buck, com os olhos marejados, enquanto beijava minha mão trêmula.
- Eu sei, amor! Eu sei!
Na manhã seguinte, uma semana do acidente, ele foi transferido para um quarto, com a previsão de receber alta dentro de quatro ou cinco dias. Os rapazes vinham visita-lo com regularidade, assim como os pais que, para eto dele, vieram diariamente saber de sua evolução. Logo no primeiro encontro, o Buck se apressou a dizer que eu era seu namorado.
- Estamos sabendo, filho! – disse o pai, para quem o Buck havia dirigido a notícia de forma incisiva.
- O Seth nos colocou a par de tudo, meu filho! – exclamou a mãe, em tom reconciliatório.
Quando voltamos a ficar a sós, ele estava mais intrigado do que nunca.
- O que andou aprontando enquanto estive apagado?
- Pondo todos os pingos nos ‘is’!
- Todos?
- Sim, todos! E, antes que me pergunte, inclusive a questão de eu te levar para casa assim que te derem alta. – um sorriso matreiro e largo surgiu no rosto dele.
- Você sabe que vou e foder quando isso acontecer, não sabe? – indagou
- É o que mais quero! Isso se você tiver forças suficientes para colocar esse troço em pé. – brinquei.
- Vai duvidando, vai! Dá uma olhada debaixo do lençol e confere o que está te esperando. – proclamou acintoso. Tomei aquele rosto barbado nas mãos e o beijei com todo meu amor e carinho. Aquela era a criatura mais importante da minha vida, sem sombra de dúvida. Como um paxá recebendo as honras de um súdito, ele se deixava cobrir pelos meus beijos, retribuindo-os com o tesão aflorado.
Cinco dias depois, estávamos em casa. Houve um entra e sai da galera felicitando o Buck pelo restabelecimento, mandando-o ter mais juízo dali para a frente, uma vez que quase tinha me matado do coração e, compartilhando a alegria de terem aquele safado novamente entre nós. Não sei qual foi seu objetivo ao divulgar para quem quisesse ouvir que naquela noite tinha uma promessa inadiável a cumprir. Ao revelar do que se tratava, fez os rapazes caírem na risada e tecerem os mais jocosos comentários possíveis. Levei um tempo até entender que, ao divulgar que ia me enrabar, estava marcando definitivamente o território e, pedindo subliminarmente que eu me rendesse à sua velha reinvindicação, morarmos juntos.
Assim que a galera se foi, ao preparar o jantar para nós dois, o Buck veio me encoxar na cozinha. Ao primeiro toque senti que o tesão reprimido dele estava a mil. Bastou ele fungar no meu cangote para a ereção dele ir se tornando cada vez mais perceptível. Ao mesmo tempo que meu cuzinho experimentava espasmos, meu pau começou a endurecer.
- Sabe que é uma delícia cozinhar assim, com esses braços musculosos me agarrando? Acho que vou institucionalizar essa nova maneira de cozinhar lá no restaurante. – murmurei, quando a boca dele vinha suavemente na direção da minha.
- Nem se atreva! Isso só pode acontecer aqui em casa quando estiver sozinho comigo. – devolveu sussurrando e, enfiando a língua libertina na minha boca, onde a chupei para saborear meu macho.
A superação do acidente foi etosa. Já na pegada firme que me colocou sob seu corpo nu na cama, percebi que ele parecia não ter perdido nem sequer um joule de sua energia. O caralhão dele entrou em mim tão intrépido e decidido como se o acidente nunca tivesse acontecido, alojando-se nas minhas entranhas saudosas com uma leve e benvinda dor que, ao fazer arder meu cuzinho, deixou-o encharcado daquela porra perfumada e viril.
A opção de morar na minha casa partiu dele, alegando que ela tinha uma aura de aconchego que o apartamento dele não tinha. Tinha algumas sugestões para pequenas mudanças, o que me levou a encará-lo com certa preocupação. Adequações ao estilo de vida de ambos teriam obviamente que ser feitas, mas eu não queria ver meu cantinho transformado em algo que fugisse à segurança que eu sentia ali.
- Ah! E também falta um cachorro! Um daqueles grandalhões e estabanados. – emendou após concluir seu projeto de mudança. – Sempre quis ter um cachorro quando criança, acho que toda família, para ser uma família, precisa ter um cachorro.
- Com nós dois trabalhando tantas horas por dia, quem é que vai cuidar e fazer companhia para esse cachorro? Eu adoro esses bichinhos, mas me preocupo com a solidão dele. – ponderei.
- Essa vai ser a nossa maior razão para trabalharmos menos, ficarmos mais tempo um com outro, cultivarmos nosso amor com toda a tranquilidade e dedicação. Não é um bom motivo? – questionou, quando sua mão tateava sobre meus mamilos acariciando os biquinhos intumescidos.
- É uma excelente razão, querido! – respondi, colocando um beijo naquele queixo anguloso e barbudo.
- Amo quando me chama de querido! Amo você, Seth!
- Amo você, Buck!
- Eu sei!
- Convencido! – ele sorriu, o mais doce e reconfortante sorriso que já tinha aquecido meu coração.
Pouco antes do final do verão daquele ano, ao pôr-do-sol, o Buck e eu nos casamos na charmosa e pitoresca Solvang no Vale de Santa Inez na Califórnia, uma vila com ares dinamarqueses, cercados por todos os nossos amigos, a família reconciliada dele, tia Natalie e alguns dos meus funcionários, uma vez que fechamos as portas do restaurante por uma semana para que todos estivessem livres. Eu não esperava a presença do Doug, desde que ele me viu naquela aflição e dedicando todo meu amor ao Buck logo após o acidente, ele percebeu que jamais teria uma chance comigo. Por um tempo eu ainda podia sentir o tesão que ele nutria por mim cada vez que ficávamos perto um do outro. Depois, fui percebendo aquele tesão se transformando numa amizade e numa relação profissional em uma simbiose perfeita. O Buck aceitou os cumprimentos sinceros dele sem nenhum ressentimento ou resquício de ciúmes. Já não era mais preciso disputar para ver quem mijava mais longe, ele era o único a ter espaço no meu coração. Com o Gary ele relutou um pouco mais antes de se convencer da amizade dele por mim. Acredito que foram os antecedentes que o fizeram ser menos condescendente com o Gary. Afinal, ele foi um dos três que recebeu meu boquete e, principalmente, foi o único a meter aquela caceta enorme em mim no dia do casamento do Cliff. Foram as minhas ponderações que o levaram a enxergar o Gary como ele realmente era, um cara que vestiu a carapaça de garanhão, que sentia um imenso vazio dentro de si, e cuja solução ele procurava através do sexo. O Gary por ser um macho muito sensual, logo percebeu que era isso que o tornava atraente. Seus inúmeros relacionamentos, todos curtíssimos, sempre começavam pelo sexo, até ele se dar conta de que não estava com a pessoa certa. Eu talvez tenha sido o único da galera que o enxergou por esse prisma e, como também sempre fui muito carinhoso com ele, acreditou que podíamos vir a ter alguma coisa se ele me fizesse sentir a potência e a virilidade de seu falo, esquecendo-se de que uma relação precisa de muito mais do que apenas sexo para dar certo.
O Buck e eu deixamos a festa pouco antes da meia-noite, quando uma lua crescente emergia por detrás das montanhas que cercavam o vale e, nos acomodamos no hotel em Buellton, cuja recepção é uma réplica de um moinho ao estilo escandinavo, a seis quilômetros de distância e, onde passaríamos as próximas duas semanas. Apesar do horário, a noite tinha uma temperatura agradável. Uma cigarra solitária fazia uma de suas últimas cantorias daquele verão. Alguns hóspedes estavam reunidos ao redor de uma fogueira num dos pátios internos, enquanto outros bebericavam seus drinques ao redor da área da piscina quase vazia.
- Quer descer e fazer uma caminhada sob as estrelas? – perguntou o Buck, após ter se livrado do terno.
- Se você não se importar, prefiro ficar na varanda ouvindo a cigarra abraçado a você. – respondi
- Hummm, abraçado a mim, já gostei! – exclamou ele, sorrindo.
- Nunca me senti tão feliz como hoje! Ter você e ser seu é a melhor coisa que já me aconteceu. – asseverei, tomando-o em meus braços quando ele encaixou o corpão musculoso junto a mim na estreita poltrona de vime da varanda.
- Nem em meus sonhos mais extravagantes eu imaginei um dia estar casado com outro homem e me sentir tão realizado e completo como me sinto agora. Você é meu maior presente, Seth! – devolveu ele, aproximando aquele seu queixo anguloso do meu pescoço e começando a beijá-lo numa trilha que seguiu até ele encontrar meus lábios.
Enfiei minha mão por baixo da camiseta dele, dedilhando a faixa de pelos que ia da virilha até o peitoral. Ele abriu um sorriso ao sentir a delicadeza com a qual eu o tocava.
- Esses teus toques sutis me deixam com um puta tesão! Daqui há pouco estou de pau duro! – sussurrou ele.
- Eu sei! Por que você acha que eu gosto de te tocar com toda essa sutileza? – retruquei libidinoso.
- Você gosta do meu pau?
- Humm, deixa eu pensar! – provoquei, fazendo-o me encarar carrancudo, de cenho franzido e uma das sobrancelhas erguidas, numa careta típica de quando queria me cobrar alguma coisa. – Não gosto, adoro! – concluí para tranquiliza-lo.
- Adora, é! – exclamou, pegando minha mão e a levando até seu membro, cuja consistência vinha ganhando corpo desde que aquela conversa começou.
- Sou fissurado de paixão! Gosto do formato, do sabor, da safadeza dele. – afirmei brincando.
- A safadeza é minha, ele só a executa! – devolveu zombando.
- Que seja! Também gosto dessa delícia aqui, e do que ele produz. – continuei provocando, ao fechar a mão ao redor do sacão avantajado, acariciando-o e tateando sobre os testículos que se moviam dentro dele.
- Quase piro quando você me chupa e depois engole minha porra, sabia?
- Faço uma ideia! – devolvi sorrindo. – Eu te amo, meu amor, minha paixão!
- Também te amo, Seth!
Por uns cinco minutos ficamos calados, nos encarando e acariciando o rosto um do outro, como se estivéssemos transferindo para dentro do arquivo de nossas memórias o semblante de quem jamais esqueceríamos. Ao se levantar ele me tomou no colo, caminhou comigo pendurado ao seu pescoço até a cama, despiu minha bermuda, abriu minhas pernas e começou a lamber meu cuzinho. De quando em quando, ele parava e enfiava lentamente um dedo no orifício rosado que piscava diante dele, o que me fazia gemer mais alto. Eu afagava sua cabeleira cada vez que ele voltava a enfiar o rosto entre as minhas pernas e voltava a chupar e lamber meu cu. Quando se despiu, somente a luminosidade que vinha pela porta da varanda trazia um lusco-fusco para dentro da suíte. Àquela pouca luz, aquele corpão parecia o de um titã. Abri meus braços na direção dele e o chamei para me cobrir. Recebi-o com um beijo voluptuoso e um afago na nuca, enquanto ia apartando as pernas para ele se encaixar. Gemi quando senti a pica úmida deslizando no meu rego. Um gritinho sufocado e pungente aflorou aos meus lábios quando ele meteu a cabeçorra no meu cuzinho, distendendo-o para além do limite da resistência. Uma ardência fria se fez sentir, me sinalizando que algumas preguinhas haviam se rompido. Gani ao mesmo tempo que erguia as ancas e cravava a ponta dos dedos em suas costas. Entre movimentos de inspiração e expiração acelerados, esperei pelas próximas estocadas, que colocariam todo aquele caralhão dentro meu cu. O Buck arfava de tesão a cada impulso abrupto que fazia meus esfíncteres encaparem sua jeba latejante. Beijos como se fossemos nos devorar mutuamente mantinham nossas bocas unidas, trocando salivas e sabores, enquanto o vaivém cadenciado da rola dele esfolava minha mucosa anal. Nossos gemidos nos excitavam, aumentavam aquele furor que consumia nossos corpos e os instigavam a se fundirem um no outro. Ébrio de tesão e prazer gozei sobre meu ventre. Ele me seguiu quase simultaneamente, bastando uns poucos movimentos dos quadris estocando meu cu para que seu baixo ventre e sua virilha se retesassem e o gozo explodisse em jatos quentes e cremosos escorrendo nas minhas entranhas. Continuamos engatados, nos beijando e nos acariciando.
- Para todo o sempre! – exclamou ele.
- Para todo o sempre! – devolvi.

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Comentários


foto perfil usuario andriydane

andriydane Comentou em 24/06/2021

Maravilhoso e fascinante como sempre! O que mais me encanta nas suas estórias é que você, de fato, cria um enredo, uma narrativa rica em emoção e sensualidade. Muito obrigado!

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morsolix Comentou em 20/06/2021

É.A tal fidelidade,ato institucional criado pela sociedade faz isso...quebra de uniões.No meio gay virou copia do mundo.Interessante.Bem escrito e final romântico.

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kekogato Comentou em 19/06/2021

Apaixonante, maravilhoso. Parabéns




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Ficha do conto

Foto Perfil kherr
kherr

Nome do conto:
Da guerra à paixão, um caminho turbulento - Final

Codigo do conto:
180821

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
19/06/2021

Quant.de Votos:
6

Quant.de Fotos:
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