Seduzido por um ogro
Os ponteiros do meu relógio cravavam dez horas em ponto quando a vi apeando da motocicleta, uma Yamaha MT-03 de carenagem e rodas azuis, e após tirar o capacete e entregá-lo ao piloto, que nesse interim também tirou o dele, pendurou-se ao pescoço do sujeito e o beijou libidinosamente como se tivessem acabado de chegar a um motel onde provavelmente foderam por horas até estarem saciados. O fulano era feio de rosto, pelo que pude constatar daquela distância na qual os observava; mas era inegavelmente um tremendo macho pelo corpão parrudo que preenchia o jeans justo, uma camiseta e a jaqueta de couro preta. Enquanto ela o beijava oferecida feito uma puta, ele nem se deu ao trabalho de tirar as mãos do guidão, devolvendo-lhe um beijo insosso. Era notório que tinham passado o final de semana engajados num sexo frenético cujas sessões deviam ter durado mais do que as protagonizadas pelos leões. Não fosse o meu mau humor naquela manhã, eu diria que ele já estava enjoado dela, como uma criança que abusou de uma guloseima e já começa a sentir engulhos pela simples presença dela diante de seus olhos.
Era a terceira vez que ela chegava atrasada naquele mês. Isso sem mencionar que havia faltado o dia todo numa segunda-feira aparecendo no dia seguinte com um atestado médico e, saído antecipadamente numa sexta-feira, deixando todo o serviço por fazer, e sem me avisar, pouco depois de eu ter saído para uma reunião com clientes. Era óbvio que eu havia cometido um erro ao contratá-la como minha secretária seis meses atrás; mais um, do qual estava, naquela manhã, profundamente arrependido. Decidi que tomaria imediatamente providências junto a uma agência de recrutamento para demiti-la o quanto antes.
Eu ainda estava olhando para o estacionamento da empresa pela janela da sala de reuniões quando a vi se dirigindo sem a menor pressa em direção à portaria. A jaqueta aberta permitia ver o top de oncinha que estava por baixo e que deixava à mostra boa parte das imensas tetas, aliado à calça legging preta que se amoldava à exuberante e, provavelmente, turbinada bunda; ela era o protótipo da vagaba, ao qual o cabelo tingido de um loiro pálido completava o estilo. Eu devia estar fora do meu juízo perfeito quando a contratei, pensei arrependido com os meus botões, ao mesmo tempo em que lancei mão do telefone e liguei para a portaria ordenando que o porteiro a mandasse subir diretamente para a minha sala com urgência. O ‘sim, senhor’ que o porteiro gaguejou em resposta denotava que ele havia percebido a fúria embutida nas minhas palavras.
Eu havia conduzido a reunião daquela manhã, nublada e de garoa fina, com os fornecedores, sem a planilha que me permitiria negociar valores de insumos com mais propriedade, pois ela havia se esquecido de pedir que o setor de compras a consolidasse antes do fim de semana. Não era apenas mau humor que me sufocava naquela manhã, era uma raiva incontrolável de esganar aquela rameira do caralho que, desde sua chegada à empresa, tornava meu dia-a-dia ali ainda mais intolerável.
O ronco da motocicleta com o sujeito partindo me distraiu por uns segundos, amenizando aquele ódio que fervilhava em mim. Devia ser outro boçal, pensei, para se envolver com uma notória piranha como a minha secretária. O que o salvava de um julgamento mais severo era aquele corpanzil másculo e viril que, mesmo de longe, não me passou despercebido. Boa parte da quentura que assolava meu peito era certamente proveniente da visão paradisíaca daquele macho.
- Bom dia, César! – exclamou ela, quando entrou na minha sala impregnando-a com outro daqueles seus perfumes adocicados que me deixavam com dor de cabeça e nauseado, e do qual eu já havia pedido que ela se abstivesse, uma vez que deixava minha antessala fedendo a bordel barato. – Me desculpe pelo atraso. Está tendo uma greve de ônibus no meu bairro e eu precisei pedir para o meu namorado me trazer, caso contrário, não conseguiria vir trabalhar. – mentiu ela com a cara mais deslavada que eu já vi. A imensa mochila que ela jogou sobre sua mesa antes de entrar no meu escritório, aquelas roupas típicas de um final de semana na gandaia e aquele ar de quem tinha passado horas fornicando feito uma cadela no cio, desmentiam sua afirmação.
- Só se for para você! – revidei colérico, fazendo-a encolher-se toda e tirar aquele sorriso falso da cara. – Onde está a planilha que eu havia pedido para que deixasse sobre a minha mesa? Eu não sei se a senhora sabia que tínhamos uma reunião com fornecedores esta manhã logo no primeiro horário. Ninguém foi capaz de encontrar essa planilha e eu tive que dar a cara a bater, feito um moleque que não têm argumentos suficientes para se explicar. – despejei furioso, enquanto ela se mantinha postada feito uma estátua diante de mim.
- Foi como eu expliquei, a greve não me permitiu .... – quis continuar ela.
- A greve o caralho, Fátima! Eu quero que a greve de ônibus, o seu bairro ou, seja lá o que for, vá para a merda, está me entendo? Você está aqui para trabalhar e justificar o salário que eu te pago, o resto não me interessa! Por que ninguém conseguiu colocar essa porra dessa planilha na minha mão antes da reunião, você pode me explicar? – interrompi-a, antes que continuasse com suas desculpas esfarrapadas e mentirosas.
- O pessoal do setor de compras não conseguiu me passar todos os dados a tempo antes do final do expediente da sexta-feira. – mentiu ela novamente, gaguejando feito uma galinha.
- Mentira! Eu fui checar com o Arthur e ele me garantiu que te repassou tudo na última quinta-feira. Agora suma da minha frente! Vá cuidar das tuas obrigações, se é que consegue fazer alguma coisa com essa cabeça que ainda deve estar presa naquele sujeito que te deixou no estacionamento. – retruquei quase aos berros. – E mais uma coisa, nem pense em se sentar naquela antessala com essas roupas, isso aqui não é um puteiro, entendeu? – emendei, ao que ela fechou a jaqueta, quase pudicamente, para esconder aquele úbere de vaga leiteira.
- Sim, senhor! – grunhiu ela, raivosa.
Eram dias como aquele que me faziam ver que eu havia caído numa armadilha do destino, após a morte do meu pai a cerca de um ano e meio, quando caí, sem paraquedas, naquela mesa onde ele havia trabalhado a vida toda desde que criou a empresa metalúrgica que produzia uma ampla variedade de parafusos para a indústria automobilística e de maquinário, bem como outros componentes de fixação para as mais variadas empregabilidades. Ele havia depositado todas as suas esperanças e fichas no meu irmão e em mim para continuar a tocar o lucrativo negócio da família, uma vez que minha irmã era não só sua predileta como a princesinha, que não precisava se empenhar em nada além de lhe fazer toda sorte de mimos. Meu irmão casou-se precipitadamente e mudou de cidade sem o menor remorso. Minha irmã não servia para nada além de bater pernas em shoppings e, após conhecer meu cunhado, um panaca sem o menor atrativo, sabia que sua boa vida continuaria a ser bancada por ele. Enquanto minha relação com meu pai não podia ter sido pior, por conta de eu ter revelado ser homossexual, ter cursado arquitetura ao invés de administração de empresas conforme ele queria e, me mostrar alheio a tudo o que acontecia na empresa, buscando por conta própria um empreguinho que pagava minhas contas, o que me era suficiente devido ao modo espartano com o qual eu conduzia minha vida, fui justamente eu que precisei deixar meu emprego e assumir os negócios da família. E aqui, agora, estava eu pagando não apenas os meus pecados como o dos meus irmãos, tendo que fazer e suportar algo que nunca desejei.
O dia estava perdido, naquele estado de espírito eu não tinha condições de tomar decisões acertadas. Saudoso, liguei para a Dona Júlia, a antiga secretária que acompanhou a vida do meu pai desde que fundou a empresa. A meu pedido, ela retardou sua aposentadoria por um ano quando assumi o comando. Só não fui um desastre completo pela ajuda inestimável que ela me deu, sabedora de todos os segredos que envolviam aquela administração. Ela me dera 365 dias como prazo improrrogável para que eu me pusesse a par de tudo que precisasse e contratasse outra secretária. Aquele ano voou como se fosse um foguete espacial. Ainda inseguro e cheio de dúvidas, me vi na posição de implementar mudanças. Na minha total inexperiência e ignorância, achei que tinha que dar uma cara mais moderna aos negócios, trazer pessoas mais jovens e mais dinâmicas, renovar setores da fábrica que me pareciam arcaicos, dar um visual mais condizente com a realidade atual. E foi aí que comecei a meter os pés pelas mãos. A contratação da Fátima foi o resultado disso, apenas um entre os inúmeros erros que cometi.
- Que voz triste é essa, César? Qual foi a cagada que você fez dessa vez? – perguntou a Dona Júlia, com uma voz firme e sorridente, sabedora que minhas ligações sempre tinham a ver com algum problema na empresa.
- É tão obvio assim que eu sou um completo asno? – questionei, precisando daquele colo amistoso e quase maternal.
- Você não é um asno, não seja tão severo consigo mesmo! Lembre-se que seu pai não virou um homem de negócios da noite para o dia, foram anos de dificuldades e problemas, mas ele foi encontrando soluções para tudo. O mesmo vai acontecer com você. – afirmou ela, de sua sabedoria sexagenária.
- Será? Acho que nem em mil anos vou entender disso aqui. – retruquei desolado.
- Não seja dramático! Me diga o que te aflige.
- É a secretária que ficou no seu lugar, uma anta. Alguma chance de eu te convencer a voltar? – arrisquei.
- Nem pensar! Estou curtindo meus netos, viajando, fazendo enfim tudo aquilo que os poucos anos de vida que restam permitem. – devolveu ela, rindo.
- Não custa tentar, não é? – revidei, também rindo.
- Você é bem malandrinho, sabe se fazer de vítima quando quer conseguir alguma coisa. Mas, comigo não cola, você sabe. – brincou ela.
- Pior que sei! Amo você, sabia?
- Sabia! Também te amo, querido. Não esquente a cabeça, tudo vai se arranjar com o tempo. – respondeu ela, o que aliviou um pouco minha agonia.
- Obrigado! Vou tomar as providências necessárias. – afirmei, antes de contatar uma agência de empregos e requisitar uma nova secretária.
No final do expediente de uma sexta-feira, duas semanas depois, ao sair da minha sala para me dirigir ao setor de produção para resolver uma questão, me deparei com o sujeito da motocicleta sentado no sofá da minha antessala.
- Esse é meu namorado, Nelson. – disse a Fátima, para justificar a presença do fulano ali. Limitei-me a acenar com a cabeça, o que foi o suficiente para demonstrar que não estava nada contente de ele estar ali.
- Prazer! – grunhiu o sujeito, esparramado com as pernas bem abertas onde um cacete que mais parecia um salame roubava a cena, e um dos braços apoiado no espaldar do sofá, com a mesma displicência que estaria em sua casa assistindo a uma partida de futebol na TV.
Tão de perto, deu para confirmar que se tratava mesmo de um macho alfa, um macho daqueles que exalam sua virilidade por todos os poros, um colosso de homem, cheio de músculos, pelos, cheiros afrodisíacos, um sonho de consumo para qualquer gay. Não à toa, meu cuzinho inexperiente experimentou um espasmo voluptuoso e descarado. Como eu já havia observado, ele era feio de rosto, traços grosseiros, a pele malcuidada nem a barba hirsuta conseguia disfarçar. Contudo, a ossatura angulosa fazia-o parecer ainda mais másculo. A voz parecia o ribombar de um trovão que penetrava até a alma da gente. E, havia todos aqueles músculos. Músculos imensos que mal cabiam nas roupas, músculos que mexiam com o imaginário de um gay que ficava a vislumbrar o tamanho que não teria o dote de um sujeito como aquele. Se tudo era tão imenso, o cacetão também não devia ficar atrás, foi tudo que pensei durante aquele breve encontro. Eu ia acabar tendo sonhos libidinosos com aquela figura, mais noite menos noite, isso era certo. Apesar de sujeitos truculentos como aquele não fazerem a minha cabeça, muito menos meu desejo de consumo amoroso, eu fiquei tremendamente impressionado, e isso era ruim, pois quando isso acontecia, eu sabia que levaria dias, talvez semanas para que esse sujeito caísse no meu esquecimento. Enquanto isso, meu corpo e eu ficaríamos sonhando com aquele macho os mais depravados sonhos impossíveis.
Senti um prazer indescritível, quase orgástico, três semanas depois, quando demiti a Fátima numa véspera de feriado, algumas semanas antes do final de ano. Não era apenas a coisa certa a se fazer, mas a que já havia passado do tempo para ser posta em prática. Ela recebeu a notícia esboçando uma raiva que tentava camuflar atrás do olhar revoltoso com o qual me encarava. Ela sabia da dificuldade que teria em conseguir outro emprego, até pela maneira como se portava, mais do que pela falta de conhecimentos, e era nisso que devia estar pensando quando, querendo parecer inabalada, ainda me peitou ao se despedir grosseiramente.
- Que a sorte esteja ao seu lado, pois vai precisar muito dela! – exclamei, quando fiz questão que o gerente do RH a conduzisse porta afora. Ela simplesmente mordeu os lábios, sabia que não teria boas referências nossas para um novo emprego.
Faltava pouco para o final do expediente do primeiro dia útil após o feriado quando a Berenice, minha nova secretária, anunciou que o Sr. Nelson estava na portaria desejando falar comigo.
- Nelson? Ele disse de que empresa é? – perguntei, pois não me recordava de ninguém com esse nome.
- Foi o que também perguntei ao porteiro, mas a pessoa não mencionou nenhuma empresa, disse que era um assunto particular. – respondeu ela
- Assunto particular? A essa hora e aqui na fábrica? Não consigo imaginar o que essa pessoa pode ter a tratar comigo. Avise a portaria que não posso recebê-lo, Berenice. Provavelmente é alguém querendo vender alguma coisa e está usando essa desculpa para ter acesso direto à diretoria. Diga para entrar em contato com o setor de compras, não vou perder meu tempo com um representante comercial. – orientei.
Minutos depois, ouvi vozes alteradas na antessala. A Berenice, exaltada, afirmava – “O senhor não pode entrar aí!” – “Quem o permitiu entrar na empresa?” – “Moço, eu vou chamar a segurança se o senhor não se retirar”
- O que está acontecendo aqui, Berenice? Qual é o problema? – questionei, quando ia abrindo a porta da minha sala e ela foi empurrada com violência para dentro quase me derrubando. Era o namorado da Fátima.
Arfando feito um touro enfurecido, ele invadiu minha sala e bateu a porta atrás de si. A desgraçada da Fátima mandou o troglodita para me dar uma surra, veio à minha mente. Comecei a tremer feito vara verde, estava quase me mijando todo só de ver aquele par de olhos me encarando como se eu fosse um inimigo a ser abatido. O sujeito me pareceu ainda maior do que no dia em que ela o apresentou. Eu não sou pequeno nem franzino, como atestam meus 1,80 metros de altura e 84 quilos, mas ele era quase uma cabeça maior do que eu e a somatória de todos aqueles músculos devia superar brincando uns 120 quilos; intimidador, sem dúvida.
- Não dá para me receber, é isso? – questionou, naquela voz trovejante que fazia a pergunta parecer uma acusação.
- O que quer aqui? Não tenho nada a tratar com o senhor. Faça o favor de se retirar! – por mais firmeza que eu tentasse imprimir à voz, ela soou tremida e insegura, revelando o pavor que eu estava sentindo só de pensar naquele cara me dando uns sopapos.
- Como pode saber se não tenho nada a tratar? – devolveu ele. O autocontrole e a calma com que falava só faziam meu medo crescer.
- Porque eu não tenho nada a tratar com os namorados das minhas funcionárias, muito menos daquelas que já foram demitidas. Se o senhor acha que vou perder meu tempo lhe dando meus motivos por ter colocado sua namorada na rua, está muito enganado! – continuei, procurando me mostrar o mais confiante possível. – Façam o favor de acompanhar esse senhor para fora das dependências da empresa, e a entrada dele está permanentemente proibida a qualquer momento e a qualquer pretexto! – ordenei, aos dois seguranças que acudiram ao chamado da Berenice e haviam entrado junto com ela na minha sala.
- Sério? Tu acha que esses dois vão me impedir da falar com você? – perguntou ele com ar debochado. Os dois seguranças estavam tão amedrontados quanto eu. Eles sabiam que não eram páreo para o sujeito.
Ao me dar conta de que estava colocando todos ali em risco, resolvi ceder e ver o que é que ele tinha para despejar sobre mim. Talvez ouvi-lo descarregar uma porção de impropérios e desaforos manteria meu rosto intacto, embora o ego saísse mutilado.
- Pois bem, diga a que veio, seja breve, e depois, saia daqui! – exclamei, mais resoluto e retomando o controle da situação. Fiz sinal para que nos deixassem a sós e, no meu íntimo, implorei para que o troglodita não quebrasse a minha cara.
Como ele havia invadido a empresa empurrando o porteiro e passando por ele à força; sem que eu tivesse conhecimento, a polícia havia sido acionada. Antes de começar a dizer a que veio, a porta da minha sala se abriu novamente com a Berenice à frente acompanhada por quatro policiais. Como ela já havia prevenido os policiais, assim que tomaram ciência da situação, o sujeito foi dominado, apesar de não haver esboçado nenhuma reação, e conduzido para fora.
- O senhor, ou alguém que queria designar, pode nos acompanhar até a delegacia para formalizar a queixa de invasão de propriedade e ameaça à integridade física. – disse o sargento que comandava o grupo.
- Se puderem me fazer o favor de tirá-lo da minha empresa já é o suficiente, não quero dar queixa para não prejudicá-lo. – devolvi.
- O senhor é quem sabe. É bom registrar a queixa, pois caso haja alguma outra tentativa ou ameaça o senhor estará resguardado. – sugeriu o sargento, antes de conduzir o brutamontes para fora.
- O que foi isso, César? Quem é esse sujeito mal-encarado? – perguntou a Berenice, quando tudo voltou ao normal.
- É o namorado, ficante ou, seja lá o que for, da ex-secretária que precisei demitir por má conduta e outras coisinhas mais. – esclareci
- Fiquei apavorada! O cara parece um bicho! – exclamou ela, exaltada.
Eu mesmo levei quase duas horas para me acalmar. Quando me senti em condições de pegar no volante já havia escurecido, e tudo que eu queria era ir para casa, tomar um banho e relaxar para esquecer aquela experiência pavorosa. Ao passar pela portaria perguntei ao porteiro se ele estava bem e lhe desejei um boa noite, ciente de que ele também ainda devia estar tentando superar o ocorrido. O semáforo fechou na esquina do quarteirão seguinte e, antes de me dar conta do que estava acontecendo, uma mão entrou pela fresta aberta do vidro e destravou a porta do carro. Ao ver que era ele novamente, meu coração quase saiu pela boca.
- Vá para o banco do carona! – ordenou ele, entrando no carro e assumindo o volante.
- O que você quer? Por favor, não faça nada comigo! Se vingar não vai devolver o emprego da Fátima, pense nisso. Eu não dei queixa na delegacia, vamos esquecer esse assunto. – implorei, achando que, agora sim, estava literalmente fodido. Se tinha me procurado para se vingar, agora tinha ainda mais argumentos para uma vingança em grande estilo, pensei. Ele dirigia feito um alucinado me conduzindo para sabe-se lá onde.
- Tá com seu cartão de crédito aí? – grunhiu, sem tirar os olhos da pista.
- Então é isso? Você está querendo grana. Pare o carro e vamos conversar. Quanto você quer? – perguntei, achando que tinha encontrado a solução. Ele continuava a dirigir sem me responder. – Para onde está me levando? Se me matar depois de me roubar, sabe que está se metendo numa tremenda enrascada, não sabe? Isso é latrocínio! – de tão nervoso eu falava feito uma matraca.
- Tu tá se cagando todo, não está? – questionou ele, enquanto chegava na entrada de um motel.
- Se isso te deixa feliz, estou com medo sim! Pode se divertir as minhas custas, mas não faça nada comigo. Eu já te falei que te dou a grana que me pedir para me deixar em paz. – respondi.
- Só mencionei o cartão de crédito porque é tu quem vai pagar a conta do motel. Não estou a fim da tua grana, fica tranquilo. – retrucou ele, ao mesmo tempo em que me mandava entregar um documento de identidade para a recepcionista na cabine.
- Por que me trouxe para esse lugar? Fala de uma vez o que quer comigo, cara? – pensei em descer do carro e sair correndo, pedir socorro para a moça que estava nos atendendo, mas bastou ele lançar um olhar repreensivo sobre mim para que toda a coragem que eu havia acumulado se dissipar.
- Entra! – ordenou, após destrancar e abrir a porta da suíte que havia alugado.
Olhei de relance à minha volta e me dei conta de que nunca havia estado num motel. Um cheiro de perfume e produtos de limpeza impregnava o ar. Eu tremia da cabeça aos pés. Ele estava certo, o pavor era tamanho que eu temia pelo controle dos meus esfíncteres. Já imaginava o vexame de me cagar todo enquanto ele quebrava a minha cara. Enquanto isso, havia um risinho pérfido na dele, algo aterrorizador.
- Bem, finalmente estamos sozinhos e podemos conversar. – disse ele, com uma serenidade impressionante no timbre de voz grave.
- Então, se quiser saber porque despedi a Fátima eu explico, você vai entender que eu tinha muitos motivos para isso. Pode falar, quanto quer para me deixar ir embora?
- Dá para você ficar quieto por um minuto e ouvir o que eu tenho para dizer? Tu fala demais, cara! É sempre tão agitado assim? Porra, desse jeito ninguém aguenta! – exclamou ele. Engoli em seco e me calei.
Como não conseguia encará-lo sem sentir o pavor crescendo dentro de mim, olhei à minha volta, para aquelas paredes e para aquele ambiente decorado com gosto duvidoso, um misto de luxuria e breguice. O que o teria levado a me conduzir a esse templo de sacanagem? Provavelmente ia querer que parecesse que eu havia tido relações sexuais consensuais com ele antes de ele me deixar ali todo estropiado, talvez morto. Minhas mãos suadas formigavam e eu as esfregava nas pernas, após ele mandar eu me sentar naquela cama que me deu arrepios só de imaginar a quantidade e o tipo de pessoas que transaram em cima dela.
- Nervoso? Tu é viado, não é? Saquei no primeiro instante que te vi naquele dia. – continuou ele. Pensei em não responder, mas isso certamente o irritaria, e eu não precisava daquele homem furioso comigo dentro daquele quarto.
- É pra estar, não é? Não sei o que quer de mim. – respondi, numa voz apagada.
- E a outra pergunta, por que não respondeu? – insistiu ele.
Fiquei calado. Silêncio constrangedor que pesava no ar.
- Eu sabia! Tu olhou para a minha pica e só faltou babar de tanto tesão. – disse ele, rindo discretamente. – Você sabe que é muito bonito, não sabe? Não faço distinção entre mulher e homem bonito sinto tesão em foder os dois do mesmo jeito. – eu mal podia crer no que estava ouvindo.
- Que papo é esse? Não faço ideia do que você está falando. – retruquei
- Ah, sabe sim! Você não é o primeiro ou primeira que fica com o cuzinho ou a buceta ouriçados quando veem a minha rola. Não precisa disfarçar. Reconheço um viado, mesmo que discreto como você, a quilômetros de distância. É faro de macho. Ajuda muito para conseguir uma boa foda. – dizia ele, com uma naturalidade impressionante. Confesso que cheguei a ficar com tesão.
- O que você quer provar com isso?
- Não quero provar nada! Não foi para isso que te trouxe até aqui.
- E para o que foi?
- Para você provar a minha pica!
- Você só pode estar maluco! Me sequestrar para vir com um papo desses, só pode ser gozação. – afirmei, mais calmo por estar percebendo que ele talvez não quisesse quebrar minha cara nem dar cabo da minha vida.
- Cê vai saber o que é gozação quando vir o meu cacete esporrando, tenho uma porra bem grossa, parece um creme. Eu tô muito a fim de gozar nessa sua bundona arrebitada. Caralho, como ela é gostosa! – exclamou ele, brincando com a mão enfiada dentro da calça, onde uma jeba gigantesca tomava corpo.
- Você armou isso tudo para querer provar o quê? Quer levar a demissão da Fátima para a justiça e mostrar para todos que eu sou gay e que estava de marcação com ela, é isso? Tem câmeras filmando a gente? Não vai colar, cara! – questionei cético, achando que estava sendo vítima de uma armadilha desse pilantra e daquela vadia cheia de truques.
- Cara! Você só consegue pensar e falar em Fátima! Que porra de obsessão é essa? Meu, eu dou umas fodidas na buceta dela como dou em outras duas que estão no meu papo, mas é só isso. Não tenho compromisso com nenhuma delas. É pau na xana e para por aí. Tá tão difícil de entender assim? – revidou ele, inconformado com o meu ceticismo.
- Eu precisava ser um idiota para não perceber o que está rolando aqui. E, te garanto que não sou tão burro assim. – afirmei.
- Pois está sendo! Não viaja, aqui não tem câmeras, pelo menos que eu saiba, não tem Fátima nem o escambau, só tem nós dois e, meu único objetivo é descobrir o que você é capaz de fazer para alegrar a minha rola, só isso, juro! Cara, você é lindão demais para eu desperdiçar essa chance. – eu sentia que estava embarcando numa canoa furada e, que podia me arrepender amargamente se continuasse a dar ouvidos a essa conversinha mole.
- Não vai rolar! – exclamei, para ver se conseguia pôr um fim em tudo aquilo.
- Por quê? Sei que você ficou a fim do meu cacete, para que negar ou fugir? Você tem namorado, marido, é isso? – continuou ele, persistente, tentando encontrar alento para os espasmos que tinham deixado sua verga sufocada dentro do jeans.
- Podemos sair daqui agora? Acho que você já falou tudo que queria que eu ouvisse. – respondi, ameaçando levantar daquela cama onde me sentia acuado.
Foi então que aquela mão enfiada dentro da calça saiu com a maior pica que eu já tinha visto. Nem mesmo em sites de pornografia vi algo tão descomunal. O cara tinha um tronco no meio das pernas, não um pinto. Ao abrir toda a braguilha, o troço cavalar pendia pesado à meia bomba, retão, revestido por veias ingurgitadas e salientes, com uma baita cabeçorra arroxeada se destacando ainda mais grossa que o restante, que vertia um líquido em forma de fio translúcido e viscoso, tamanha era a excitação dele. Quase pirei. Era um caralhão de responsa, lindo, maravilhoso, para dizer o mínimo. Minhas pregas anais nunca tinham ficado tão eriçadas, chegavam a se projetar como se fossem as pétalas de uma flor prestes a desabrochar. Eu ardia num calor sufocante. Já me via enroscado naquele corpanzil e sonhando com aquela rola toda atolada no meu cu. O Nelson deu dois passos na minha direção, meu olhar estava fixo naquele caralhão e não via mais nada além dele, como se estivesse hipnotizado. De repente, senti a mão enorme e pesada dele no meu cangote, forçando minha cabeça para junto da virilha dele. Um cheiro penetrante de macho, suor e pré-gozo entrou pelas minhas narinas.
- É todo seu, viadinho recatado! Me mostra que sabe brincar com seu novo brinquedinho, mostra! – rosnou ele, enquanto pincelava a pica babada no meu rosto afogueado. – Põe na boca, põe viadinho! – ordenou ele, aplicando mais força contra meu cangote.
Eu estava com a cara atolada na virilha pentelhuda dele, respirando aquele ar almiscarado que emanava de seu sexo prodigioso. Me encontrava num caminho sem volta, era chupar aquele macho e acatar as suas ordens ou talvez ser estuprado à força. Meus pensamentos nunca estiveram tão embaralhados, perdidos entre o desejo instintivo de colocar aquele caralhão na boca e saborear todos os seus sabores e aromas, e a determinação de manter o recato e o pudor de um gay enrustido. Quando o Nelson me obrigou a encará-lo puxando minha cabeça pelos cabelos, e meu olhar se encontrou com o dele, eu abri timidamente os lábios, deixei-o enfiar a jeba na minha boca e comecei a chupar aquela carne quente e úmida que latejava sobre a minha língua. Ele soltou ruidosamente o ar por entre os dentes, pronunciou meu nome e abriu um sorriso. Minha decisão estava tomada, eu ia até onde ele fosse me levar, já não dava para continuar resistindo aos meus próprios instintos. Puxei o jeans dele até seus pés, apoiei minhas mãos nas coxas musculosas e peludas, lambi delicada e demoradamente toda a extensão da rola, até ficar cara-a-cara com um baita sacão, alojamento dos dois imensos colhões onde estava guardada toda uma provisão de uma prole fecunda. Não me contentei em lamber aquelas bolas maciças, coloquei-as na boca e as massageei carinhosamente com a língua. Os urros do Nelson ecoaram pela suíte, alardeando o prazer que eu lhe proporcionava.
- Caralho, César! Puta boquinha aveludada! Você vai ter que dar conta desse tesão todo que está acendendo em mim. – ronronou ele. Se ele soubesse a intensidade com que labaredas queimavam minhas entranhas, já teria me fodido até a alma.
Tive a confirmação do tamanho do tesão dele quando, poucos minutos depois, sem que eu interrompesse as lambidas e sugadas que dava naquela cabeçorra, tive a boca encharcada de uma porra espessa e esbranquiçada, deliciosamente morna e ligeiramente amendoada. Para não me afogar nela, devotamente a engoli, jato após jato, sob o olhar pasmo e delirante dele, acompanhado de gemidos guturais que brotavam daquele tórax vigoroso.
- Que mamada! Puta merda, que mamada! Nunca ninguém tinha mamado minha pica com tanta devoção. – sussurrou ele, enquanto acariciava meu rosto e, com o polegar, colocava para dentro dos meus lábios um pouco do seu sêmen que havia escorrido para o meu queixo.
Confuso como jamais estive, eu definiria que meu espirito naquele momento oscilava entre uma felicidade inédita e um arrependimento consciencioso. Feliz, porque como qualquer gay, ver a satisfação do macho se materializar numa farta esporrada, era a prova da sua capacidade de sedução. Arrependido, porque estava me colocando numa posição de vulnerabilidade frente a um completo desconhecido, cujas intenções e caráter me eram totalmente desconhecidas; enfim, uma tremenda tolice.
O Nelson me olhava com um brilho estranho no olhar pouco depois de eu ter concluído o boquete. Sem dizer nada, suas mãos passaram das carícias pelo meu rosto à retirada lenta e cobiçosa das minhas roupas, até eu ficar completamente nu diante dele. Eu já tinha visto outros caras olharem para mim com aquele mesmo olhar, porém nunca tão intenso e voluptuoso. Minha pele se arrepiava toda por onde as mãos deles deslizavam. Eu não me mexia, parecia ter criado raízes sob meus pés. Minha respiração acelerava como se alguém pisasse num acelerador que eu não podia controlar. Meu pinto se enrijecia involuntariamente. Meus mamilos cresciam e os biquinhos intumescidos ganhavam consistência. Eu estava sentindo um tesão enorme com aquele macho, com o pau cada vez mais duro, me escrutinando e se apossando do meu corpo. Uma das mãos do Nelson veio parar mais uma vez na minha nuca, e ele me empurrou em direção à cama, obrigando-me a ajoelhar sobre o colchão enquanto forçava minha cabeça para baixo. De quatro, com as pernas ligeiramente afastadas, meu cu nunca esteve tão vulnerável e exposto. Soltei um gemido languido quando senti um dedo cutucando a portinha do meu cuzinho. A sensação era de total insegurança, especialmente porque eu, de relance, conseguia ver aquele caralhão sedento a perigosos centímetros do meu cu, semelhante a estar sob a mira de uma arma. Minha respiração começava a falhar, longos períodos em total suspensão antes que me atrevesse a inspirar novamente. Subitamente, mais uma inusitada e deliciosa sensação, a língua do Nelson, assanhada e úmida, deslizando dentro do meu reguinho liso. Novos gemidos eclodiram através dos meus lábios, o que parecia instigá-lo. Enquanto eu arfava, ele lambia, mordiscava minhas nádegas e minha rosquinha anal num frenesi desumano. Meus gemidos dominavam e repercutiam naquelas paredes que deviam estar acostumadas aos sons dos mais pecaminosos encontros carnais. Agora ele estava em pé, as mãos cerceando e controlando firmemente minha cintura, o caralhão babando deslizando sobre meu rego, enquanto minhas pregas anais se projetavam chuchando o ar, piscando alucinadas à procura daquela cabeçorra deliciosa que eu havia chupado a pouco. Quando a senti cobrindo meu orifício ávido inspirei uma última vez e, com um golpe abrupto, ele meteu ativamente aquele cacetão gigantesco e grosso no meu cuzinho.
- Ai, meu cu! Ai, meu cu! – gritei desesperado, quando uma dor pungente se alastrava pela minha pelve, e ele me puxava de encontro a sua virilha me impedindo de escapulir.
Mais algumas estocadas enérgicas terminaram de colocar toda a pica no meu rabo, nem meus gritos o impediram de consumar seu desejo. Sentindo a lividez aumentando à medida que a pica me empalava, deixei-me cair sobre aqueles lençóis profanos, ganindo feito uma cadela pega no cio. O Nelson ia debruçando seu peso sobre o meu corpo enquanto sua pelve agitada mantinha os movimentos cadenciados de um macho copulando. Nossos corpos pareciam querer se fundir à despeito de nossas vontades, estavam sendo regidos simplesmente pelo tesão mutuo. Quanto mais cravada nas minhas entranhas eu sentia aquela jeba, mais eu arrebitava a bunda e travava as nádegas, contraindo-as para que agasalhassem aquela carne viril que me lanhava.
- Tesão da porra! Como tu é gostoso, cara! Geme viadinho, geme! Geme e sente o macho te fodendo! – sussurrava ele junto ao meu cangote, enquanto lambia e mordia minha orelha e meu pescoço.
Nunca ninguém havia me dominado tão intensa e explicitamente. O Nelson me tinha por inteiro, fazendo de mim nada mais que uma fêmea a ser inseminada por puro deleite próprio. Com os dedos crispados eu me agarrava aos lençóis; enquanto o vaivém do cacetão, como se uma estaca estivesse sendo cravada no solo, esfolava prazerosamente a minha mucosa anal. O ar morno que o arfar dele levava à pele da minha nuca parecia amenizar toda aquela dor que se espalhava pelas minhas entranhas devassadas. Os pelos do peito dele, molhados de suor, roçavam minhas costas. Sob meu ventre outra umidade se fazia sentir, eu estava gozando de tanto tesão e prazer que aquela pica entalada no meu cuzinho estava me dando. Por vezes, eu tinha a impressão, durante as estocadas, que ela iria aflorar na minha boca, me varando por inteiro. Aos poucos, o Nelson começou a arfar mais visceral e ruidosamente, eram grunhidos roucos que cresciam à medida que os movimentos de sua pelve se tornavam menos ritmados e mais truncados, alojando mais fundo o cacete no meu cu, até eu começar a sentir o gozo dele escorrendo para dentro de mim, molhando e preenchendo meu ânus, junto com o urro retumbante que ele liberou em pleno delírio.
A caceta ainda ficou alguns minutos dando pinotes dentro de mim depois que ele gozou e envolveu meu tronco em seus braços, como se não quisesse se apartar do meu corpo. Espasmos se espalhavam pelo meu corpo quando ele começou lentamente a tirar a pica do meu cu. A passagem da cabeçorra pelos meus esfíncteres, mais saliente que o restante da pica, me obrigou a soltar um gritinho, tamanha era a sensibilidade naquela região. O Nelson se deixou cair pesadamente ao meu lado, colocou ambas as mãos sob a cabeça e ficou olhando para o teto espelhado que refletia a imagem de nossos corpos nus; o meu de bruços e o dele de frente, como uma espécie de Yin e Yang, forças fundamentais opostas e complementares, a passividade e a absorção em contraponto à energia e a atividade.
- Nunca fodi uma bicha tão gostosa quanto tu, cara! Acho que foi a maior gozada que já dei na vida. – ronronou ele.
- Então deve estar feliz agora, não é? – questionei, algo repressivo. – Conseguiu o que queria!
- Vai me dizer que também não gostou? Você gemeu feito uma virgenzinha sentindo o primeiro tesão da vida. – sentenciou.
- Se foi assim que você interpretou, quem sou eu para desmentir! – eu estava realmente feliz e satisfeito com o que tinha acontecido, mas também estava zangado e revoltado, nem sei bem com o quê. Talvez até comigo mesmo, talvez porque aquele sujeito que estava deitado ao meu lado não significasse nada na minha vida e, certamente pouco se importava com o que ia dentro de mim.
Tão logo pude, me levantei e, cambaleando e travando as pernas para que minhas vísceras não escorregassem pelo túnel que parecia ter sido aberto no meu cu, rumei em direção ao banheiro. Cada passo era uma tortura. Um filete de sangue havia alcançado o joelho da minha coxa direita quando abri a água da ducha. A rola cavalar do Nelson havia arregaçado meu cuzinho. A água tépida que descia pelo meu corpo parecia um bálsamo não só para aquela dor entranhada e contínua, mas também para a minha alma conturbada. O Nelson se juntou a mim dentro do box, enlaçando os braços na minha cintura e me dando uma leve encoxada, enquanto com uma mordida deixava marcada a pele da minha nuca com seus dentes.
Nunca me senti tão aniquilado quanto no momento em que passamos pela portaria para deixar o motel, tive que pagar a conta com o meu cartão. Aquele sujeito, um total estranho, que eu conhecia fazia meia dúzia de dias, tinha me fodido e arrebentado com meu cu, e eu estava pagando e bancando a luxuria e perfídia dele. Humilhação era pouco para definir o que eu senti naquele momento.
- Por que está tão calado? – perguntou ele enquanto dirigia mais uma vez o meu carro, vendo minha introversão e silêncio desde que deixamos o motel.
- O que eu teria a dizer?
- Sei lá! O quanto gostou da nossa transa, porque sei que você curtiu, quando poderemos repetir a noitada, algo nesse sentido. – disse ele.
- Uma coisa eu preciso admitir, você é um sujeito convencido. – retruquei
- Por que está dizendo isso?
- Você obriga uma pessoa que mal conhece a vir a um motel com você, trepa até se satisfazer, força essa pessoa a pagar por ter sido fodida e ainda afirma, categoricamente, que essa pessoa gostou da sua performance. É preciso ser bem convencido para isso, não acha? – devolvi.
- Ficou zangado? Eu não percebi que estava forçando a barra tanto assim, me pareceu que você estava curtindo. – disse ele.
- Talvez eu não saiba mesmo expressar o que sinto. Azar meu, não é?
- Por que está dizendo isso?
- Sei que não é da sua conta, mas vou te contar algo que nunca contei para outra pessoa até hoje. Durante a faculdade, fiquei babando por um carinha que cursava engenharia. Era o cara mais bonito da turma, tipo parrudo e cheio de músculos feito você. Cada vez que ele sorria eu sentia uma verdadeira revolução acontecendo aqui dentro do meu peito. Certa vez, a galera resolveu acampar durante a semana da pátria que antecedia as provas do bimestre e, como ele era muito popular com as garotas e tinha amizades em todas as turmas das outras faculdades, foi convidado a ir conosco. Ele e eu tínhamos um ótimo relacionamento, até porque, de vez em quando, um pegava carona com o outro por alguma razão. Eu já tinha me assumido homossexual para a minha família, mas não para qualquer outra pessoa fora de casa. A possibilidade de compartilhar a mesma barraca com ele parecia um sonho. Sabe como é quando uma galera universitária se junta, rola muita diversão, rolam algumas bebidas e por aí vai. Pois bem, durante um luau na praia ele abusou das caipirinhas de vodca e do pisco sour que a galera tinha preparado e ficou bem saidinho para o meu lado. Eu estava adorando, achei que ia rolar a minha primeira vez com o carinha pelo qual estava tanto a fim. Começou mesmo a rolar uma pegação quando, já de madrugada, fomos nos deitar na barraca. Ele mal entrou na barraca e já tirou a roupa, eu, mais tímido, tirei a minha mais envergonhadamente. Ao me ver nu, tentando colocar uma bermuda para dormir, ele de tão bêbado se apoiou em mim, lançando o corpo sobre o meu. Caímos sobre os colchonetes e ele ficou de pau duro, ambos para ser sincero. Ele se agarrava em mim e esfregava a benga dura nas minhas coxas, enquanto eu me virava de lado franqueando minha bunda na esperança de ele meter aquela delicia em mim. Quase enlouqueci quando ele começou a pincelar a caceta na minha bunda, parecia um sonho se tornando real. Todo um sonho de perder a virgindade com o cara certo estava se materializando. Só que depois de algumas pinceladas ele gozou no meu reguinho e literalmente desmaiou tão alcoolizado estava. Com o barulho das ondas quebrando ao longe interrompendo o silêncio da noite abafada, eu comecei a chorar. Eu estava tão preparado para dar todo aquele sentimento acumulado dentro de mim para ele que, ao vê-lo ali entorpecido e sem a menor consciência do que havia feito, uma avalanche de frustração se abateu sobre mim. Nem na manhã seguinte, nem nos dias que seguiram e, muito menos durante todo o restante dos nossos cursos, nunca trocamos uma única palavra sobre aquela madrugada. Foi como se ela nunca tivesse acontecido. – revelei, enquanto ele me ouvia sem dizer palavra.
- Por que está me contando isso? Vai me dizer que até a pouco você era virgem? – questionou ele, dando-se conta de que tinha acabado de tirar meu cabaço.
Sem pestanejar e com uma manobra um tanto arriscada que fechou o carro que seguia emparelhado conosco, ele estacionou junto à calçada. Ficamos nos encarando por alguns minutos em silêncio, a troca de olhares falava por si.
- Irônico, não é? Todo gay sonha em ser desvirginado pelo cara pelo qual está apaixonado, o cara que naquele momento parece o certo, o que vai ser seu amor pelo restante da vida. Ao que parece não nasci para ter essa sorte. O que deveria ter sido o primeiro, despejou seu gozo nas minhas nádegas sem me penetrar. Na oportunidade seguinte que se criou, eu tive que bancar a conta do motel para que me arregaçassem o cu. – concluí.
- César, não sei nem o que dizer!
- Não diga mais nada, só me deixe onde você quiser descer e seguir o seu caminho. Está tudo bem! – novo silêncio se formou e não foi quebrado até ele descer do carro e me devolver o volante em frente a um edifício num bairro não muito distante da minha casa.
Tive que ligar para a Berenice avisando que não ia à empresa no dia seguinte. Eu mal conseguia dar alguns passos sem sentir meu ventre se rasgando por dentro. Apesar de seguidas lavagens, minhas preguinhas rotas liberavam um plasma tingindo as cuecas. A imagem daquele troglodita engatado no meu cu arrebentando com seu caralhão tudo o que encontrava pela frente não me saía da cabeça, parecia o flashback de uma cena de filme cujos personagens eram alheios a mim. Ao encostar a cabeça no travesseiro naquela noite, eu estava ciente de que aquela era mais uma página a ser virada na minha vida. Embora não conseguisse conciliar o sono, tinha dado por encerrada essa história.
Voltei ao trabalho na terça-feira, ainda com dificuldade de abrir as pernas e apoiar a bunda normalmente nas cadeiras, mas empenhado a me enfiar de corpo e alma no trabalho para esquecer tudo o que aconteceu. Meu algoz tinha degustado o prazer de sua vingança, eu que aprendesse a lidar com isso.
- Está tudo bem com o senhor? Me parece tão abatido. Está com algum problema de saúde que o levou a cancelar toda sua agenda de ontem? – perguntou a Berenice assim que cheguei ao escritório.
- Não, não, está tudo bem, obrigado! Acho temos trabalho redobrado hoje, não é? – respondi. Ela apenas sorriu concordando.
No dia seguinte, quarta-feira, tudo corria bem até meu celular tocar no final da tarde e eu ver um Nelson sem camisa e uma profusão de músculos sorrindo na tela. Como o número dele veio parar na minha agenda e, pior, como foi que o meu foi parar no dele? Foi a primeira coisa que o fiz esclarecer quando atendi a ligação. Ele havia inserido seu número no meu celular enquanto eu estava na ducha do motel, e obtido o meu com a Fátima. Antes que eu tivesse tempo para expor meu desagrado, ele se pôs a falar.
- Vou te passar um endereço pelo Whatsapp, esteja lá hoje às 20:00 hs em ponto, temos um encontro. – despejou ele.
- Preste atenção Nelson, que fique bem claro para você, não vamos nos ver mais, nem hoje nem nunca. Você conseguiu o que queria e ponto final. Vamos tratar isso com civilidade para que tudo fique bem para ambos, Ok? – respondi.
- Não está nada bem! Restam questões importantes a serem resolvidas, tanto para você quanto para mim, e é isso que estou querendo consertar. Portanto, no endereço e no horário combinados estou te esperando. Acho desnecessário dizer que vou te buscar, nem que seja no inferno, se for preciso. Até mais tarde! – ele desligou antes de eu revidar.
Eu já estava com o telefone nas mãos quando pensei em ligar para o advogado da empresa e pedir uma orientação quanto ao que fazer. Desisti quando me vislumbrei explicando que tinha sido fodido num motel pelo namorado da ex-secretária. Que credibilidade eu teria depois disso com meus funcionários, clientes e fornecedores? Nenhuma. A solução para esse problema eu mesmo teria que encontrar, e sozinho.
Com as mãos suadas, andar trôpego eu me vi diante de uma academia esportiva. O endereço ficava num bairro nobre na cidade e, pelos carros estacionados nas vagas, era frequentada por pessoas financeiramente estáveis.
- O Nelson está? – perguntei, com uma voz fraca, para a garota bombada e sorridente da recepção.
- Seu nome, por favor?
- César! – minha voz teimava em não sair
“Professor Nelson, o César o aguarda na recepção” ouvi pelos autofalantes encobrindo por uns instantes a música ruidosa que dominava o ambiente.
- Obrigado! – balbuciei para a moça, me questionando o porquê de ela ter se referido a ele como professor. Enquanto ele não aprecia, a curiosidade falou mais alto. – O Nelson é professor do que? – perguntei
- De capoeira e jiu-jitsu! Você vai tomar lições com ele? – respondeu ela.
- Ainda não sei, talvez! – nada podia ser mais falso.
Quando o vi caminhando na minha direção precisei apoiar o braço sobre o balcão, pois minhas pernas começaram a tremer feito gelatina, e meu cuzinho se revolvia em contrações doloridas. Ele sorria, usava uma camiseta cavada ajustada ao tronco musculoso e uma bermuda folgada onde o caralhão balançava livre e solto a cada passo que ele dava. Havia energia naquele caminhar e também muita sedução.
- Oi! Me dá uns minutinhos, terminei minha última aula há pouco. Já volto a te encontrar. – disse ele, enquanto me apertava num abraço forte. Fiquei mudo, vendo aqueles ombros incrivelmente largos se afastando até desaparecerem atrás de uma coluna.
- Vocês são amigos? César, não é? Está me ouvindo moço?
- Hã? O que? Ah, sim! Não! Quer dizer, somos conhecidos. – respondi à garota, depois de ela me tirar daquele torpor.
Com os cabelos ainda molhados e em desalinho, o Nelson voltou usando um jeans que me pareceu recém comprado, uma camisa azul de listrinhas finas onde mal cabiam seus músculos, e a mesma jaqueta de couro preta com que estava no dia em que a Fátima nos apresentou. Era um macho que jamais passaria despercebido por onde passasse. A virilidade, o cheiro almiscarado que a testosterona circulando em suas veias fazia aflorar em sua pele, aquela barba densa e trazida sempre por fazer completavam um figurino irresistível para qualquer mulher ou gay.
- Vamos! – exclamou, num sussurro junto ao meu ouvido. Sei que impostou um tom propositalmente grave à voz para me impressionar, bem como para me dissuadir a fazer qualquer protesto.
- Espere, vamos conversar primeiro, e esclarecer tudo de uma vez por todas. – me atrevi a retrucar quando estávamos no estacionamento.
- Aqui não é lugar! Anda, sobe na garupa e conversamos quando chegarmos ao nosso destino. – devolveu ele, com firmeza.
- Você acha que estou em condições de subir na garupa dessa motocicleta? Eu não sei se você se lembra, Nelson, mas anteontem você arregaçou meu cu até ele sangrar. Eu não tenho a mínima condição de me sentar nesse banco e enfrentar os solavancos das ruas. – expus, tomado de uma coragem repentina. Ele colocou um risinho naquela cara arrogante.
- Está tão mal assim?
- Sádico! Debochado! É aqui mesmo que vamos terminar de esclarecer seja lá que pendências você ainda tenha. – sentenciei.
- Já disse, aqui não! Vamos no seu carro então. Me passa a chave! – por incrível que pareça eu coloquei a chave na mão dele enquanto as minhas mãos, frias e suadas, tremiam.
Eu conhecia o trajeto que ele estava fazendo, o que me deixou um pouco menos preocupado com o que ele estava para fazer comigo. Primeiro, paramos diante de uma floricultura. Ele desceu, levou a chave e entrou na loja. Voltou minutos depois com um maço de flores em tonalidades de laranja e amarelo composto de gérberas, lírios e astromélias.
- São para você! – disse me entregando o buquê, para meu total espanto. O que significa isso, pensei com meus botões.
Ele dirigiu por mais uns vinte minutos antes de estacionar diante de um restaurante pequeno e meio intimista no qual eu já estivera uma vez.
- Chegamos! – avisou, enquanto pegava o ticket do valet.
- O que significa tudo isso, Nelson? Você está tirando uma com a minha cara? – questionei.
- Cara! Você não pode baixar a guarda um mínimo que seja? – devolveu ele
- Depois do que você fez? Acho que tenho razões de sobra, não tenho? É o meu cartão que vai bancar isso tudo novamente? – perguntei
- Sabe que em outras circunstâncias eu daria uma porrada bem no meio da cara do sujeito que fizesse esse tipo de pergunta. – respondeu ele. Resolvi me calar, eu não precisava de um escândalo em público.
Ele pediu um filé enorme que veio à mesa quase tão fresco quanto estava no boi de onde saiu. Eu pedi uma meia porção de massa que, ao ser posta à minha frente pelo garçom provocou um risinho irônico na cara do Nelson.
- É com isso que você pretende manter esse corpão escultural em forma? Não é à toa que não consegue se defender. – zombou sarcástico
- Não estou numa selva onde precise me defender de predadores! – respondi com a cara amarrada. Ele riu.
- Tô pra conhecer um cara mais mal humorado, travadão e fechado para a vida do que você. Agora entendo por que ainda estava virgem até anteontem. – disse baixando a voz e se certificando de que ninguém o ouvia.
- Estou me lixando para sua opinião!
O jantar não foi de todo ruim, se eu o admitir com sinceridade. O Nelson tinha lá suas qualidades, sabia ser engraçado, tinha um papo leve, soltava umas cantadas sutis, o que provavelmente era responsável por ele ter uma vida sexual tão ativa e diversificada. Éramos, sem a menor dúvida, lados opostos de uma mesma moeda. Quando ele terminou de pagar a conta, sem me pedir nada, eu pensei que ele estava tentando se redimir pela maneira truculenta como tinha entrado na minha vida e, sem esquecer de mencionar, no meu cu.
Porém, isso não durou mais do que alguns quarteirões que ele percorreu ao volante do meu carro, quando o vi embicando na entrada de outro motel. Só de imaginar ele me cobrindo novamente como um garanhão cobre uma égua eu comecei a ficar inquieto e a protestar. Eu não ia deixar ele me foder outra vez. Não, de forma alguma. Por mais que minha boca estivesse salivando ao me recordar do sabor único da porra dele e, por mais que uma imagem do cacetão dele babando estivesse afixada diante dos meus olhos, meu corpo não ia aguentar outro coito como o de dois dias atrás.
- Eu vou descer do carro! Chega, Nelson! Destrave as portas ou vou começar a fazer um escarcéu aqui mesmo. – ameacei
- Fica bem quietinho aí! Você não vai a lugar algum antes de termos uma boa conversa.
- Aqui? Num motel? Você deve estar de brincadeira!
- Você conhece outro lugar melhor para se fazer as pazes? – ele fez a pergunta com um risinho libidinoso nos lábios carnudos e úmidos. Porra, esse cara não deixa de ser um tesão nem por um segundo, constatei.
A familiaridade dele com um quarto de motel era algo impressionante. Quase dava para jurar que ele conhecia todos da cidade com a mesma identidade que conhecia sua própria casa. Quanto a mim, parecia um pássaro recém engaiolado. A suíte era um pouco mais sofisticada que a anterior. Também tinha cheiros menos agressivos, o que não me impediu de pensar na insalubridade do ambiente.
- Vai ficar aí encolhido? Não sou nenhum bicho-papão! Tire a camisa, você tem um torso tão lindo. – começou ele, enquanto tirava a dele.
- O seu conceito de termos uma boa conversa e, como você diz, fazer as pazes, é bem diferente do meu. Não preciso ficar nu para fazer isso. – devolvi
- Todo tesão que a sua beleza, seu jeito de ser e seu sorriso provocam na gente, você é capaz de aniquilar com meia dúzia de palavras. Agora entendo porque você continuava virgem até o que, seus 28, talvez 30 anos. Você espanta qualquer um que se aproxime mais intimamente. – afirmou, como se fosse o dono da verdade.
- 28! Quando se é seletivo não é um pinto qualquer que faz com se perca a cabeça. – retruquei
- Eu me encaixo nessa categoria dos com um pinto qualquer? – perguntou, ao pé do meu ouvido com aquele seu tom de voz de garanhão, grave e rouco, cuja função era fazer sua presa estremecer da cabeça aos pés. Devo admitir que sussurrando assim era tremendamente eficaz. Ele sentia o quanto de terreno conquistava com essa simples estratégia, uma vez que aquela voz vinda daquele corpão quase colado à gente, tinha a capacidade de desnortear qualquer um.
Eu podia sentir o calor que emanava do corpo dele quando senti suas mãos descendo dos meus ombros até a cintura, quando lentamente começou a desabotoar a minha camisa, quando seus lábios roçaram provocantes o meu mamilo. Instintivamente levei as minhas até os cabelos dele e deixei meus dedos deslizar entre eles. Aproveitando-se da minha consensualidade, ele começou a passar as mãos nas minhas nádegas, apertou-as com força algumas vezes antes de abrir a minha calça. Seus ombros largos e nus eram uma tentação à qual não resisti, afaguei-os sentindo a quentura sensual de sua pele. À essas alturas, meu cuzinho já se contorcia como que pedindo por uma rola. Constatar que meu próprio corpo me traía com seus desejos libidinosos só me provava que nossa razão é muito limitada quando está sob a influência do tesão. E, naquele momento, era assim que eu estava, permissivo e carnal. Não demorei a sentir as mãos dele deslizando sobre minhas nádegas nuas e quentes, a ouvir sua respiração se acelerando e toda sua musculatura se empertigando. Com um único e abrupto puxão pela bunda, ele me trouxe para junto de seu tórax, fazendo com que o meu roçasse no dele, peludo, quente e através do qual eu podia sentir os batimentos do seu coração. Enrosquei minhas pernas ao redor da cintura dele e deixei que mordiscasse meus mamilos, ora um, ora outro, prendendo meus biquinhos excitados entre os dentes e tracionando-os até eu soltar um gemido. A impaciência daquelas mãos enormes não encontrava limites, explorar a pele aveludada das minhas nádegas não bastava para satisfazer os instintos primais daquele macho. Foi então que um dedo lascivo e tarado começou a cutucar as minhas preguinhas anais, mal recuperadas do coito selvagem da antevéspera. Meu gemido penoso quando o dedo se insinuou entre os esfíncteres lhe indicou que eu ainda padecia de uma cura incompleta, o que o deixou quase maluco, com o tesão à mil.
- Quero teu cuzinho! – grunhiu ele
- Você vai me machucar. – minha frase soou dúbia. Não se saberia afirmar se era uma exclamação ou uma pergunta. Contudo, para ele, serviu para aumentar a excitação.
Ele me inclinou lentamente sobre a cama, terminou de tirar a minha cueca que estava entalada junto com a calça num engruvinhado ao redor dos tornozelos. Ao me soltar para terminar de se despir, eu me virei de bruços, me preparando para levar mais uma vez aquela jeba colossal no cu. Porém, ele controlava sua urgência com uma habilidade profissional, me fazendo ficar sentado e de frente para ele, mais precisamente, cara-a-cara com seu falo que enrijecia despudorado sob meu olhar ávido. Ergui meu olhar até encontrar o dele, acompanhado de um sorriso generoso de quem diz – é todo seu. Peguei suavemente a pica na mão, o que a fez dar um pinote e crescer uns bons centímetros. Senti seu peso e, não resistindo mais, coloquei a imensa glande na boca. Como ele havia se banhado antes de sair da academia, dessa vez, dentre os aromas que emanavam dela, faltou apenas o do suor, os demais estavam lá presentes e intensos. O Nelson me segurou pela cabeça e deu umas metidas fazendo a cabeçorra chegar à minha garganta e impedir que eu respirasse, me obrigando a cravar as pontas dos dedos em suas coxas peludas. Vendo a minha agonia, ele parou depois da quarta metida quando então, comecei a lamber e a sugar carinhosamente o pré-gozo que escorria do orifício uretral largo. Depois de alguns minutos me empenhando, eu já sonhava com uma farta esporrada, em degustar o esperma cremoso de macho que ele ejaculava em profusão. Porém, ele tinha outros planos. Ao perceber que não conseguiria segurar o gozo por muito mais tempo, ele tirou a rola da minha boca, me puxou até a beira da cama, abriu minhas pernas e as apoiou em seus ombros e veio feito um touro ensandecido, com o cacetão duro feito pedra direto para cima do meu cuzinho arroxeado e inchado devido as lesões do primeiro coito.
- Cara, que puta cu gostoso é esse! Você está mesmo com as preguinhas ainda inchadas e fofidas! Dá um tesão do caralho ver esse cuzinho assim. – ronronou ele, observando detalhadamente como meu cuzinho piscava desejoso, mesmo ferido como estava.
- Resultado da sua brutalidade! Você é um ogro pervertido e selvagem. – devolvi
- Não se esqueça que foi devido a esse ogro selvagem que você conheceu os prazeres do sexo e, finalmente, deixou de ser um virgem enrustido. Devia me agradecer! – retrucou petulante e cheio de sedução.
Apavorado, eu espalmei as mãos sobre suas coxas tentando segurar seu ímpeto selvagem. Felizmente funcionou, não pela força que empreguei para detê-lo, mas pelo desespero que ele viu no meu semblante. Depois de fazer o caralhão deslizar algumas vezes sobre a portinha do meu cu, ele apontou a cabeçorra contra ela e deu a primeira forçada. Eu gani, segurei a respiração e me preparei para ser arrebentado. Não aconteceu. Veio a segunda forçada, mais intensa, mais determinada. A pica ainda não entrou. Veio a terceira tentativa, essa acompanhada do olhar suplicante dele, da determinação a lhe consumir a razão me fazendo compreender sua necessidade. Um lapso meu, que não durou mais que alguns milésimos de segundo, relaxando e abrindo os esfíncteres, fez com que a caceta deslizasse para as profundezas do meu cuzinho com a velocidade que o metrô percorre o túnel. Eu gritei. A rola, grossa demais para o meu buraquinho, feriu minhas preguinhas já lanhadas espalhando uma dor lancinante. O Nelson parou após a estocada, fixou um olhar doce em mim, inspirou profundamente algumas vezes como que procurando desanuviar a tensão que estava conduzindo seus atos e, sorriu. Aquilo me derreteu como sorvete num dia de verão, e eu ergui minha pelve comprimindo meu cuzinho contra a verga dele que me penetrou mais alguns centímetros. Meu desejo estava explícito encorajando-o a prosseguir até que, após mais algumas estocadas carinhosas, eu conseguia contrair a musculatura anal e apertar acalentadoramente a pica dele no meu cuzinho. A mais sublime das sensações que eu já havia sentido começou a se materializar durante o vaivém cadenciado que ele imprimiu fodendo meu rabo carinhosamente. O tesão não era enorme apenas em mim, mas também nele, como pude perceber. O que o levou a procurar minha boca e, algo que até então ele nunca havia feito com um gay, beijou meus lábios com intensidade e sofreguidão, degustando minha língua e minha saliva e fodendo com a dele aquela boca que o recebia dadivosa. As pontas dos meus dedos deslizavam pelos ombros e costas dele, ora apenas com um roçar delicado, ora enterrando-se na pele dele quando a pica socava fundo em mim, comprimindo minha próstata contra o púbis, o que fazia escapar um gemido sensual que o excitava.
- Foi assim que você sonhou a sua primeira vez? – perguntou, percorrendo com as costas dos dedos o contorno do meu rosto
- Não cheguei nem perto disso! – confessei sincero. – Como tudo em você, não faltou exagero. Primeiro as flores, depois o jantar e, agora isso. Desculpa ter demorado a entender suas intenções.
- Eu é que te peço desculpas por não ter conseguido perceber sua virgindade naquele dia, de ter sido tão insensível e pensar só em mim e no meu prazer, de ter frustrado seus sonhos. – sentenciou, igualmente sincero.
Até aquele dia eu não sabia o que significava uma entrega por inteiro e, foi imerso no mais sublime dos prazeres que eu descobri, no vaivém daquele caralhão nas minhas entranhas, a intensidade e força dessa entrega. Eu me dei por inteiro para aquele macho, deixando-o reger meus sentimentos como bem lhe aprouvesse. Algo no fundo dos olhos cintilantes dele me deu a certeza de que ele também experimentava uma entrega tão completa e abnegada pela primeira vez, proporcionando-lhe um prazer imensamente maior dos que já tinha experimentado.
- Essa foi a foda mais especial que já tive, César! Cara, você é muito, mas muito gostoso. – confessou. Enquanto me revelava seu prazer, o gozo eclodiu no meu cuzinho me inundando com sua porra espessa e pegajosa, enquanto gemíamos em deleite.
Passamos a nos encontrar com frequência. Aprofundamos nossa relação e descobrimo-nos mutuamente ao longo daquele ano. Ele queria me fazer crer que estava transando apenas comigo, depois que descobriu que transar com um gay acarretava menos consequências e preocupações, mas eu não acreditei plenamente nesse discurso. Porém, me entregava a ele com o coração e a alma aberta. Trouxe-o para a minha casa algumas vezes, e ele fez o mesmo comigo. Tivemos feriadões e finais de semana incríveis passados em viagens curtas e noites de muito sexo e luxuria. Nos curtíamos, nos gostávamos, mas aquilo não cresceu e nem se transformou em amor. Éramos diferentes, tínhamos projetos de vida distintos, havia mais diferenças a superar do que semelhanças a nos unir. De uma certa forma, estávamos atados um ao outro e, embora isso não nos aguilhoasse, impedia que seguíssemos nossas vidas em total liberdade. Decidi que havia chegado a hora, depois de dezesseis meses trocando afagos e tendo o mais maravilhoso dos sexos, de cada um seguir seu caminho, e tive uma conversa franca com ele.
- Gostemos ou não de admitir, mas temos diferenças gigantescas entre nós. Nunca vou poder bancar a vida que você merece, e também não sou o tipo de homem que se deixa sustentar. Chame como quiser, mas sou machista demais nesse sentido. Eu sustendo quem eu fodo, não o contrário. – iniciou ele, para minha surpresa, compreendendo, após meu breve preambulo, que chegara a hora de terminar o que havia entre nós.
- Por mais tesudo que você seja, fica claro que seu futuro é ao lado de uma mulher. Há poucos homens como você, completos e 100% machos capazes de satisfazer tanto uma mulher quanto outro homem, e é o que mais admiro em você, essa capacidade, esse poder de nos levar ao paraíso exercendo sua dominância sem ser aviltante.
- Não é segredo para você que não sou nenhum santo, nem que já estive em mais bucetas e cus do que boa parte de outros homens, mas o que aconteceu entre nós depois daquele primeiro beijo que te dei, que aliás foi o primeiro que dei num cara, fez algo mudar dentro de mim e você se tornou muito especial, o que sinto por você não tem paralelo. – revelou
- Isso está me cheirando a discurso ensaiado. Para quantos incautos você já soltou a mesma lábia? – brinquei, pois aquele clima de despedida estava começando a mexer comigo. – Brincadeira, sei que o que temos é muito especial, da minha parte também, pode ter certeza. – emendei ligeiro.
- Você merece um macho que te dê amor, segurança e que seja do seu nível, e é isso que eu torço que encontre. – revelou
- Eu também desejo do fundo do meu coração que você encontre a garota certa, não uma Fátima da vida, mas a mulher que lhe materialize o potencial de filhos que você carrega nesses colhões sempre cheios do mais delicioso sêmen. – afirmei, acariciando as costas de sua mão
- Sabe do que você precisa? Não pelo corpo, que já é escultural, mas para encontrar um cara que é o seu tipo, pois se descobri uma coisa em você, é que curte um macho parrudo que te domine na cama e te dê segurança e amor fora dela. Você precisa frequentar uma das academias onde dou aulas, uma é aquela onde você foi me encontrar algumas vezes e a outra também é frequentada por bacanas, tipo advogados, médicos, empresários. Tem uns caras malhando lá que são o seu tipo e que, se o virem exercitando esse corpão tesudo, vão ficar com a pica dura no mesmo instante querendo descobrir todo potencial dessa bundona carnuda e roliça.
- Que tipo de cupido pervertido você está querendo bancar? Eu numa academia? Não levo jeito e nem tenho paciência para isso. – respondi, ao que ele riu.
- Preguiçoso!
Não paramos de nos ver por completo, ainda marcávamos encontros para um chopp, um jantarzinho descompromissado, um encontro com amigos que se tornaram comuns, mas o sexo acabou, sem neuras, sem mágoas. Estávamos livres e abertos para o novo. Em nosso último encontro num almoço de domingo, ele me apresentou uma garota bonita, discreta, de sorriso genuíno e que tinha um comportamento tímido. Em muitos aspectos me vi refletido nela e não duvido que foi isso que cativou o coração do Nelson. Uma prova de que nosso relacionamento, apesar de curto, deixou lições.
Um dia, a caminho de casa no início da noite, exausto, eu aguardava o semáforo abrir em meio ao transito caótico do final de tarde quando olhei para o lado e vi que na construção recém-concluída, cuja obra acompanhei ao passar por ela diariamente, haviam fixado as letras com o nome de uma academia esportiva. Será que o Nelson estava certo? Eu continuava na secura desde que transei com ele pela última vez. Será que o homem dos meus sonhos pode frequentar um lugar como esse? A pergunta martelou na minha cabeça durante a semana toda, e plantava uma porção de questões na minha mente toda a noite quando passava em frente à academia. Na sexta-feira, após um dia estafante na empresa, resolvi entrar e me inscrever num programa de fitness que a recepcionista me sugeriu. É como canja de galinha quando se está enfermo pensei comigo mesmo, se bem não faz, mal também não há de fazer mexer o esqueleto de vez em quando.
Na semana seguinte lá estava eu, após madrugar para ir à academia antes do trabalho. Estava tendo dificuldade em ajustar e lidar com um troço que o instrutor tinha me dito chamar-se Crossmith. Como ele estava se dedicando a outro aluno naquele momento, eu fiquei tentando ajustar o aparelho conforme ele havia me instruído, sem sucesso. De repente, vejo um cara rindo de uma prancha abdominal que ficava próxima, e vindo em meu auxílio.
- Novato? – questionou, sem tirar aquele risinho de quem se diverte às custas do perrengue alheio.
- E bota novato nisso! – respondi rindo
Enquanto ele fazia os ajustes necessários no aparelho e tornava a mostrar como se faziam os movimentos, minha concentração foi parar no meio das coxas grossas e peludas, onde uma benga avantajada deixava ver seu contorno prodigioso.
- Deu para entender? – perguntou ele. Eu nem tinha prestado atenção no que ele havia dito, só via aquela benga e nada mais.
- Hã? Ah, deu sim. – respondi. Se tivesse que fazer como havia instruído seria um completo desastre. Ele continuava rindo e tirando uma com a minha cara, sabia que eu não tinha prestado atenção, e já suspeitava no que eu havia me concentrado.
Tenho certeza que foi pura sacanagem dele enfiar a mão dentro do short e mexer naquele caralhão justamente naquele momento. Qual é a desse cara, pensei? Agora é que minha concentração foi literalmente para as picas. Porém, voltando a prestar atenção no rosto anguloso e hirsuto dele e naquele corpão torneado com uma musculatura vigorosa, eu percebi que ele estava tão alheio quanto eu, fixado na dobra exposta, através da fenda aberta do meu short, entre as minhas nádegas e as coxas. Ele se viu obrigado a levar a mão para dentro do short não por sacanagem, mas porque a caceta começou a ficar assanhada com aquela visão. Tomamos um café juntos naquela manhã antes de seguirmos para nossas obrigações. Foi o primeiro de muitos, antes de começarmos a fazer essa refeição matinal no apartamento que montamos em conjunto cerca de um ano depois. Era ela que nos recobrava as energias das noites passadas sob os lençóis nos amando numa conjunção perfeita.