Destinos cruzados

Destinos cruzados
Chovia a cântaros. Os limpadores de para-brisas mal davam conta de tirar as grossas gotas que batiam barulhentas contra ele, bem como a nuvem d’água que os pneus da carreta, que seguia à minha frente, levantavam do asfalto. Somavam-se a isso, as copiosas lágrimas que, de quando em quando, desde o momento em que me sentei atrás do volante, teimavam em voltar junto com as lembranças dos nefastos momentos das últimas horas. Foi o turbilhão delas assomando meus pensamentos que me fez pegar as pistas erradas do anel viário urbano me obrigando a acessar a rodovia antiga e sinuosa que serpenteava entre os morros daquela serra na qual me encontrava agora, ao invés de ter seguido uns cinco quilômetros adiante e pegar a rodovia de pistas largas que também seguia rumo sudeste, mas que seguia margeando a costa litorânea e também tinha um traçado mais moderno e mais seguro. Tinha sido mais uma das minhas decisões equivocadas, o que começava a me parecer uma constante na minha vida.
A estrada estava quase deserta àquela hora, era madrugada. Meus faróis iluminavam a traseira da enorme carreta cujas luzes de sinalização mal podiam ser vistas devido ao turbilhão que o deslocamento àquela velocidade produzia, enquanto eu procurava manter uma distância mais do que segura dela. No entanto, eu conseguia distinguir com a clareza da luz de xenônio, o logotipo de um cão de seis patas, que se semelhava ao da multinacional de energia italiana ENI, acrescido das letras YFLog. Às margens da rodovia dominava o breu da noite tempestuosa enquanto a carreta seguia a sinuosidade do asfalto; até que, de repente, vi que ela cruzou sobre o tracejado amarelo contínuo invadindo parcialmente a vista contrária. No mesmo instante, surgiu rente ao lado dela outro veículo que seguia à frente e, de cuja existência eu não suspeitava até então. Não devia haver nem um palmo de distância entre a carreta e as luzes de sinalização vermelhas do veículo, eles praticamente estavam se esfregando um no outro, foi o que me pareceu. Era um modelo SUV como o meu, porém de outra marca. A visão dele foi tão breve como a blitz de um relâmpago, durou apenas alguns segundos, como os que apareciam no céu enegrecido pelas nuvens. Não era só a minha visão que estava embaralhada pela tempestade e pelas lágrimas, era todo meu julgamento sobre pessoas e coisas que já não me permitia mais confiar em mim mesmo.
Ele tinha me surrado mais uma vez, a terceira em duas semanas. Começava a se tornar um hábito cada vez que discutíamos e ele ficava sem argumentos que, na verdade, já nem se preocupava mais em ter, bem como os escrúpulos para usar meu cartão de crédito. A discussão começou por conta dele, ou melhor, por eu me negar a entregá-lo a ele juntamente com a senha, pois tinha cancelado o dele no dia anterior, deixando-o sem acesso à minha conta bancária. Ele se postou furioso diante de mim exigindo que eu reparasse aquela situação, exigindo que eu lhe liberasse o dinheiro para cobrir as despesas que tinha feito.
O Olavo entrou na minha vida como num conto de fadas. Todo gay sonha com um homem como ele – heterossexual, bonito, másculo, charmoso, com uma voracidade sexual interminável, que diz as coisas certas nas horas certas, que se mostra carinhoso, que te leva às nuvens durante o sexo, que se mostra um príncipe que coloca todo seu reino aos teus pés. Foi com esse Olavo que eu me envolvi no meu primeiro relacionamento homossexual, foi para esse Olavo que eu entreguei a minha vida e todo o amor que carregava no coração. Porém, passado algum tempo, quando ele já se sentia seguro dos meus sentimentos, o príncipe virou sapo. Tudo começou discretamente, com pequenas ofensas, com humilhações gratuitas, com xingamentos quando eu não me comportava conforme ele queria, com uma necessidade constante de dinheiro que subitamente ele deixou de ter para depender cada vez mais do meu. Até que veio a primeira bofetada durante um de seus ataques de fúria. Fiquei tão chocado e sem reação que acabei perdoando assim que ele veio me abraçando todo cheio de dengos e pedindo perdão por ter se excedido. Mas, depois de um período de calmaria, veio a segunda bordoada na cara, essa sem um pedido de desculpas. Vieram outras, vieram os socos, vieram as surras que deixavam meu corpo com as marcas de sua violência selvagem criando um enorme vazio no meu peito juntamente com uma revolta que só crescia. O sonho findara levando consigo a paixão, da qual não havia mais resquícios.
- Não vou passar por caloteiro só porque você resolveu dar uma de pão-duro de uma hora para outra. Libera essa senha, sua bicha desgraçada, ou vamos ter uma conversa séria que, posso te garantir, você não vai gostar. – ameaçou o Olavo, espumando de raiva, por eu ter posto em prática o que já tinha lhe afirmado fazer se não começasse a controlar seus gastos, os quais eu vinha bancando há meses.
- Eu te avisei que não te daria mais um centavo, que você só gastasse aquilo que recebe. Se não deu crédito à minhas palavras, agora se vire. – retruquei, segundos antes de sentir o bofetão no rosto que quase me fez perder o equilíbrio.
- Viado do caralho! Com quem você pensa que está lidando? Se somos um casal, não existe essa de grana minha e grana sua, é tudo uma coisa só. Estou te avisando, me passa a senha ou eu te arrebento na porrada. Não me provoque! – continuou ele.
- Acontece que deixamos de ser um casal no momento em que você resolveu deixar seu emprego onde tudo corria bem e você ganhava o suficiente para bancar suas despesas, e resolveu se aventurar como sócio dessa academia que só dá prejuízo e, onde você passa o dia com aquele seu amigo parasita chavecando a mulherada e tomando cerveja. Eu não vou custear isso. Já basta que assumi as despesas de casa, do seu carro, da sua moto e das tuas farras. Coloquei um ponto final e é assim que vai ser de agora em diante. – respondi, juntando a coragem que vinha me faltando nos últimos tempos para cobrar uma atitude dele, mesmo sabendo que isso colocaria nosso relacionamento na berlinda.
- Seu filho da puta miserável! Herdou sozinho uma puta fortuna quando seus pais morreram e vem me cobrar que eu trabalhe naquela merda de emprego para me sustentar. É muita mesquinharia, sua bicha! Pois saiba que se quiser continuar a sentir os prazeres que minha pica te dá, vai ter que pagar por isso. Nada é de graça! – despejou sarcástico.
- Não tenho mais nenhum interesse em você ou na sua pica, ambos são uma desilusão! Quero que você saia dessa casa hoje mesmo! Vá viver sua vida com quem bem entender! Daqui eu quero te ver longe, entendeu? – continuei, pois aquele era mesmo o fim, por mais que eu tivesse relutado em aceita-lo.
- E desde quando você dá ordens aqui, sua puta bichona? – no mesmo instante em que eu estava sendo fodido impiedosa e brutalmente pelo caralhão do Olavo sob uma saraivada de socos e, gritava apavorado com a dor dos socos potentes que seus músculos eram capazes de produzir, a polícia tocava a campainha no portão. – Você chamou a polícia, seu viado miserável? É agora que eu te arrebento de vez, sua cadela desgraçada! – antes de se atrever a me dar mais um soco e tirar apressadamente a caceta do meu rabo dilacerado, foram as batidas contundentes na porta que o desestimularam a prosseguir. No instante em que ele se voltou para a porta eu aproveitei para correr em direção a ela pedindo socorro, sem me importar com minha nudez e o sangue a escorrer pela minha coxa.
Foi mais do que embaraçoso ter de me explicar para os policiais naquelas condições. Embora estivessem me ouvindo, algo me dizia que por trás daqueles semblantes imperturbáveis havia um julgamento em curso. Julgavam minha sexualidade, julgavam minha escolha por um macho, julgavam meu caráter sob suas próprias óticas de vida, mesmo que isso não correspondesse à realidade. Para todos os fins, eu não passava de um viado que estava se dando mal com o macho que fodia meu cu. Foi ver essa percepção estampada naqueles rostos que me impediu de chorar na frente deles, de deixar todo meu sentimentalismo se exteriorizar para aqueles homens, muito provavelmente tão machos e tão donos da verdade quanto o próprio Olavo.
O delegado que atendeu a ocorrência na delegacia tratou o caso com a mesma imparcialidade à qual se habituara ao longo dos anos, vendo os mais escabrosos casos entrarem pelas portas da delegacia. Ao menos ele me ouviu com um ar menos crítico. Se não o fez, pelo menos disfarçou bem. Determinou que eu fosse levado a fazer um exame de corpo de delito, pois estava coberto de hematomas, tinha um corte no canto da boca onde um soco violento chegou a deixar alguns dentes moles, sangrava no supercílio esquerdo onde havia um corte produzido quando fui arremessado contra a quina de uma mesa, e mal podia dar um passo depois que meu cuzinho foi brutal e selvagemente arregaçado pelo cacete do Olavo num coito onde ele extravasou toda sua ira. O Olavo foi detido em flagrante por tortura, agressão e homofobia. Não ia ficar preso por muito tempo. Ninguém fica nesse país por algo tão banal que é dar uma sova num homossexual. Afinal, ele nem chegou a me matar. Essa era a ironia envolvida em tudo o que aconteceu. Não há um grande crime por se agredir homossexuais, negros ou outras minorias num país onde a lei é seletiva e só é aplicada para alguns, enquanto outros são imunes a seus efeitos. Nesses casos, a vítima nunca é inocente aos olhos dessa filosofia, algo ela devia ter feito para apanhar, para ser castigada como merece ou, simplesmente, por ser quem é. Eu sabia disso, assim como sabia que para me livrar definitivamente do jugo do Olavo seriam necessárias muitas outras ações. Acontece que naquele momento eu não estava preparado para encará-las, e decidi procurar abrigo na casa do meu tio que me tutelou durante muitos anos. A família dele era também a minha, a única que eu conheci, ao terminar de ser criado junto com seus dois filhos, Rodrigo e Danilo. Rodrigo, o mais velho, sempre foi muito mais do que apenas um primo, ele foi uma espécie de irmão que eu não tive, depois que perdi precocemente meus pais e fui morar com esse tio que me criou até a minha maioridade, e até que eu pudesse assumir o controle do que meus pais haviam me deixado.
Meu penúltimo semestre na faculdade de medicina havia terminado e, os últimos acontecimentos foram o motivo de eu partir às pressas em direção ao único lugar onde me sentia relativamente seguro. Foi assim que joguei algumas coisas pessoais numa mala e parti sem nem ter me precavido quanto ao horário e as condições climáticas que enfrentaria na estrada. Pior ainda, foi ter me atrapalhado com as pistas e ido parar no acesso da rodovia que não planejava usar para chegar ao meu destino. Porém, tudo isso tinha ficado para trás, assim como os três anos em que dividi minha vida com aquele homem que, de início, foi um excelente companheiro, maravilhoso amante, carismático parceiro, e que acabou por me dar aquela tremenda surra depois de ter vivido às minhas custas durante meses. Nosso relacionamento se deteriorou quando ele passou a me enxergar apenas como uma conta bancária, quando resolveu se dar bem com o que eu herdara dos meus pais, achando que seria possível ficar me explorando em troca de algumas enfiadas da rola no meu cuzinho apertado, carinhoso e romântico.
Cadê o SUV que seguia lá na frente? Será que não fui enganado pelos olhos fatigados de dirigir sob aquelas condições extenuantes? Ele chegou mesmo a existir ou era apenas uma miragem misturada às cenas que me fizeram abandonar tudo às pressas e me meter naquela estrada sem nenhum planejamento prévio, apenas motivado pelo desejo e pela necessidade de deixar tudo para trás? Eu estava confuso. Minha vida andava confusa nos últimos tempos. Eu parecia estar sempre imerso num dilema, tendo que fazer escolhas para driblar o que vinha acontecendo comigo. Mas, o SUV existiu. Eu quase podia jurar que sim. Ele não podia ter simplesmente evaporado. A carreta parecia ter aumentado a velocidade e se distanciava cada vez mais de mim. Só um louco poderia imprimir tanta velocidade naquela estrada sob aquelas condições. Ao meu lado direito, depois do acostamento precário, a vegetação apareceu iluminada por um facho azulado que parecia brotar do chão, e interrompia aquela sequência escura que margeava a rodovia. Por mais insano que fosse, estacionei no acostamento estreito e pedregoso. Desci do carro e vesti a capa amarela emborrachada que sempre trazia comigo no porta-malas para me proteger da chuva e minhas suspeitas se confirmaram à medida que eu me aproximava da ribanceira. O SUV estava lá, em meio ao matagal, uns cinco ou seis metros abaixo, com as quatro rodas no ar e a frente apontando para a ribanceira com os faróis acessos. Essa era a origem do clarão que iluminava a vegetação. Meu coração disparou. Olhei à minha volta, não havia viva alma, nenhum veículo surgiu nos longos e conflitantes minutos que fiquei ali parado sem saber o que fazer. Também, só então, me dei conta de não ter cruzado com nenhum outro veículo no sentido contrário há uma porção de tempo. Aos poucos, eu parecia estar voltando a realidade, ao presente, deixando aqueles pensamentos que me afligiam se diluindo no limbo.
- Alguém aí embaixo? Você está bem? Hei! Está me ouvindo? – gritei a plenos pulmões para que minha voz se sobrepusesse à trovoada. Ninguém respondeu.
Voltei para dentro do carro e liguei para o número de emergência da rodovia e para a polícia rodoviária. O sinal do celular estava fraco, eu mal conseguia ouvir quem me atendeu e, creio, que a pessoa também recebia minhas frases todas truncadas. Repeti lentamente o pedido de socorro umas três vezes antes de ficar completamente sem sinal e a ligação cair. Tornei a descer do carro e voltei à beira do barranco gritando para ver se alguém dentro do SUV me ouvia. Nada, ou estavam inconscientes pelo capotamento ou pior, não havia sobreviventes dentro dele. Essa constatação me comprimiu o peito. Me sentia impotente parado ali contemplando a cena. As rodas que davam tração ao SUV ainda estavam girando o que indicava que alguém mantinha o pé no acelerador. De tempos em tempos eu me voltava para ambos os extremos visíveis da rodovia na esperança de algum veículo aparecer e me ajudar. A estrada continuava estranhamente deserta.
Haviam se passado 10 minutos de quando pedi socorro, eu não conseguia esperar mais. Estava tão agitado que ficar parado ali estava me deixando louco. Mais louco ainda foi eu decidir pegar a valise que sempre carregava comigo depois de ter entrado na faculdade, onde trazia insumos básicos para uma emergência. Não havia nela nada que pudesse salvar alguém gravemente ferido, mas tinha o suficiente para eu fazer um diagnóstico e eventualmente, impedir que um quadro clínico desfavorável seguisse avançando. A terra molhada e a folhagem que a cobria atuaram como um tobogã, ao invés de eu descer, cheguei ao SUV escorregando. O teto do SUV estava a pouco mais de um palmo do nível das janelas, todas com os vidros estraçalhados. Com uma rápida passagem do foco da lanterna que tinha nas mãos dentro do habitáculo, vi que, além do motorista inconsciente caído sobre o airbag do volante, havia mais duas mulheres desfalecidas. A que estava no banco do passageiro sangrava pela cabeça que estava numa posição completamente distorcida em relação ao corpo, apoiada sobre um airbag murcho e uma imensa rocha que penetrara parcialmente pela janela. A que estava no banco traseiro também estava gravemente ferida, se não morta, pois a mesma rocha que sustentava a cabeça da passageira da frente também amassara a lateral traseira e invadira a cabine onde ela estava sentada, ainda presa ao cinto de segurança. De onde eu estava só tinha acesso precário ao motorista, um toque com a ponta dos dedos sobre sua carótida me indicou que ainda estava vivo, pois havia pulso, embora fraco e irregular, o que indicava que, se o socorro não chegasse em breve, pouco seria possível fazer por aquele homem.
Quando ouvi gritos vindos do alto do barranco comecei a responder em meio a um choro convulsivo, finalmente eu não estava mais só naquela situação desesperadora. Um patrulheiro da polícia rodoviária escorregou até mim, instintivamente me pendurei em seu pescoço e, com uma profusão de frases desconexas, tentei colocá-lo a par da situação.
- Você está bem? Acalme-se! Desse jeito não consigo entender nada. – disse ele, me encarando fundo nos olhos.
- Sim, estou! Não é comigo! São eles. Uma carreta atingiu o carro e os lançou para fora da estrada. O motorista precisa de ajuda, ele está vivo, mas está quase sem pulso. Não consegui chegar até as mulheres, não sei como estão. Rápido, é urgente, muito urgente, entende? – continuei esbaforido quando vi que tinha toda a atenção dele.
- Vamos ajudar, não se preocupe! Aquele SUV lá em cima é seu? Você também estava envolvido no acidente?
- Sim. Não. Eu vinha atrás, só vi o que aconteceu. – esclareci.
- Vou tirá-lo daqui, precisamos espaço para tirar estas pessoas do carro. Venha!
- Não! Eu sou médico, quer dizer, sou quase médico, eles vão precisar de assistência. Tomem muito cuidado para removê-los, podem causar lesões irreversíveis. – eu parecia uma matraca de tão agitado.
- Sabemos disso! Há um médico na ambulância que já foi acionada. Você precisa sair daqui e ficar em segurança lá em cima. – sua voz soou mais ditatorial e eu deixei que me puxassem para cima com o auxílio de uma corda.
A chuva continuava a castigar a região. Estava um pouco mais fraca, mas ainda forte o suficiente para tornar aquele resgate uma tarefa árdua para aquela mais de uma dúzia de homens preparados para esse tipo de ação. Depois de tombarem o SUV sobre uma de suas laterais, cortes da lataria e remoção de boa parte do teto, haviam se passado quase três horas quando a primeira mulher subiu dentro de uma espécie de maca rígida. Era a passageira do banco traseiro, estava viva, mas a bacia fraturada e um corte profundo na região temporal direita indicava que seu estado era crítico e, que talvez não chegasse viva ao hospital. O segundo a ser içado foi o motorista, ele tinha uma perna fraturada onde ambos os cotos da tíbia emergiam através de um extenso corte na pele abaixo do joelho e onde espículas ósseas do fêmur haviam atravessado a pele acima do joelho, com possibilidade de uma perfuração da artéria femoral, tinha ferimentos no rosto e na região occipital e sua cabeça havia sido dobrada sobre o peito pelo esmagamento do teto. Ele também estava vivo, como eu constatara, mas precisava de uma cirurgia de emergência para impedir que o fêmur dilacerado perfurasse a artéria femoral levando-o à morte em pouco tempo. A passageira do banco do carona foi içada sem vida.
Enquanto o resgate acontecia, eu relatava ao policial rodoviário os detalhes do acidente, aqueles que eu presenciara em meio àquela nuvem de água que pouco me permitiu enxergar. Não, eu não tinha conseguido ver a placa da carreta. Não, eu não sabia qual era a cor do baú, cinza eu achava, ou era essa a cor das gotículas de água sob a luz dos meus faróis? Não, eu não sabia a hora exata em que a carreta tirou o SUV da estrada, perto da uma da madrugada eu supunha. De repente, eu já não tinha mais certeza se foi a carreta que atingiu o SUV ou se ele se desgovernou e foi ribanceira abaixo sozinho.
- Você está bem? – era a segunda vez que o patrulheiro me fazia essa pergunta, só que desta vez ele encarava os ferimentos do meu rosto. Eu corei.
- Sim, obrigado, estou! Para onde vão levar os feridos?
- Ambos vão para um hospital na cidade que você passou uns 30 quilômetros atrás. Lá vão decidir se ficam ali ou vão ser transferidos para um hospital com mais recursos. – esclareceu ele, sem deixar de me encarar
- Ah!
- Você conhece essas pessoas?
- Não!
- O que aconteceu com seu rosto? Você se envolveu de alguma forma nesse acidente? – começou a parecer que eu estava virando suspeito de alguma coisa.
- Não, claro que não! Eu já disse, eu vinha atrás quando aconteceu o acidente. – repeti, enfático
- E seu rosto? – que merda, ele continuava insistindo e não me vinha nenhuma desculpa plausível, a não ser a verdade, para justificar minha cara destroçada.
- Eu apanhei! – confessei corando. Sem cabeça para inventar algo que não conseguisse sustentar num interrogatório mais profundo, revelei a verdade.
- Apanhou? De quem? – mas que droga! Sujeito obstinado. Eu já me preparava para dizer que isso não era da conta dele, mas aquele olhar penetrante que começava a me fazer sentir nu diante dele estava me sugestionando a contar a verdade por inteiro.
- Do meu ex-namorado! – minha voz mal podia ser ouvida, mas ele entendeu, e seu olhar se voltou para todo meu corpo, da cabeça aos pés, como se estivesse procurando por algo camuflado sob minhas vestes. Aliás, eu parecia um ET com aquela capa amarela ridícula e aquele capuz que me protegia da chuva.
- É um crime desfigurar um rosto tão lindo! Espero que o tenham castigado rigorosamente por um ato tão selvagem! – eu não podia acreditar que essas palavras vinham da boca daquele homem que, diga-se de passagem, era um tremendo de um macho e, cuja calça caqui encharcada e grudada em suas grossas coxas, deixava bem visível o contorno de um cacete imenso, no qual só agora eu começava a reparar. Fiquei mudo e sem ação. Aquele sorriso discreto que se estampou em seu rosto me dizia que, a despeito da situação bizarra em que nos encontrávamos, ele sentia-se fisicamente atraído por mim.
- E existe um castigo rigoroso para quem faz isso com alguém como eu nesse pais? – devolvi
- Tem razão! Mas eu mesmo me encarregaria de puni-lo se ficássemos cara-a-cara. Sempre se pode fazer justiça de forma paralela. – sentenciou ele, mais descontraído.
- Pena eu não ter te conhecido antes, talvez nem chegasse a estar com essa cara horrível. – retruquei, esboçando um sorriso para demonstrar descontração
- Horrível é o único adjetivo que não define seu rosto. Sedutor e bonito cabem melhor para defini-lo. – eu estava levando uma cantada em plena madrugada, no meio de uma estrada deserta entre montanhas, sob uma chuva inclemente e, após uma tragédia. Só mesmo eu para viver uma situação dessas. – Se aceitar meu conselho, sugiro que regresse conosco até a cidade mais próxima e passe a noite num hotel antes de continuar sua viagem. – emendou, ao perceber que eu tinha ficado embaraçado com sua cantada.
- Preciso chegar logo ao meu destino! Se não precisarem mais do meu depoimento, vou continuar. – respondi, o que o deixou um tanto quanto decepcionado, pois havia algo nele que me dizia que ele esperava terminar seu turno de outra maneira.
Rodei mais cerca de 80 quilômetros quando cheguei a um bloqueio de máquinas na pista. Um homem sinalizava, com um bastão onde brilhava uma luz vermelha, que dali ninguém passava. Agora eu conseguia entender o porquê de não ter cruzado com outros veículos na pista contrária, e nem encontrar outros seguindo na mesma direção que eu. A chuva que não dava trégua havia feito deslizar uma barreira. Toneladas de terra e pedras cobriam completamente ambas as pistas. Não havia ninguém além de mim e do homem que sinalizava a estrada centenas de metros antes da montanha de lama, vegetação e rochas à minha frente. Como se explica todos os veículos terem simplesmente evaporado.
- O senhor passou por um posto de combustíveis a cerca de quatro quilômetros, todo trafego represado foi se abrigar por lá, sugiro que faça o mesmo, pois não temos previsão de desbloquear a estrada. – aconselhou o homem. Dei meia volta e procurei o tal posto.
Ele ficava um pouco afastado das margens da rodovia, as entradas estavam meio escondidas entre arbustos altos de buganvílias floridas. Ao alcançar o pátio, vi que havia muitas carretas estacionadas diante do restaurante que ficava pouco atrás do posto, e onde também havia um hotel para caminhoneiros nos dois andares superiores. Havia poucos veículos de passeio, o que mais uma vez reforçou que aquela não era a estrada mais indicada para se tomar quando se queria rumar em direção sudeste. Um funcionário me atendeu quando entrei e me aproximei do balcão do restaurante. Era um sujeito esquisito que parecia ter poucas informações sobre a disponibilidade de um quarto no hotel e, que também não parecia familiarizado com a máquina de café expresso quando lhe pedi um. Ao meu redor, mesas quase todas vazias, à exceção de três onde alguns caminhoneiros jogavam cartas numa delas, dois outros sujeitos tomavam cerveja e outra, na qual um sujeito que mais parecia um criminoso não perdia um lance dos meus movimentos. Não podia haver clima mais opressor. O imenso salão tinha suas luzes parcialmente desligadas, o que fazia do ambiente um cenário lúgubre. O expresso foi finalmente posto diante de mim no balcão, a demora e a postura do cara que me serviu confirmavam que ele mal sabia o que estava fazendo.
- Eu gostaria de um quarto no hotel, é possível?
- Estão todos ocupados! – apressou-se a responder o sujeito, antes mesmo de eu concluir completamente a pergunta.
- Todos? Tem certeza? São dois andares acima do restaurante e, apesar do número expressivo de carretas no pátio, não me parece que sejam tantas pessoas assim. – insisti, pois eu estava exausto com tudo o que tinha me acontecido nas últimas horas e precisava urgentemente de um banho e de uma cama.
- Você quer saber mais do que eu? – grunhiu possesso o camarada.
- Não, claro que não! Me desculpe se dei isso a entender, não foi minha intenção. É que estou muito cansado e passei por um acidente a alguns quilômetros atrás que acabou por tornar esse dia um verdadeiro suplício. – respondi cauteloso, pois o sujeito me encarava com cara de poucos amigos.
- Vou ver o que é possível arranjar! – retrucou ele, ao mesmo tempo em que seus olhos faziam sinal para aquele sujeito sentado sozinho numa das mesas, aquele com cara de criminoso. Que noite, pensei com meus botões.
Minutos depois, eu subia as escadas na companhia do sujeito mal-encarado. Ele precisou procurar pelas chaves dos quartos, pois não sabia onde ficavam, pelo que constatei. Que tipo de espelunca é essa, pensei comigo mesmo. Até parece que essas pessoas estão aqui pela primeira vez, como eu. O quarto ao menos parecia limpo e asseado, ainda predominava um cheiro de desinfetante no ar morno que atingiu minhas narinas assim que a porta foi aberta.
- Está a seu contento? – perguntou o sujeito com a voz rouca de quem é fumante inveterado. Eu já havia percebido isso enquanto subíamos as escadas, o homem todo fedia a cigarro.
- No estado em que me encontro, isso é mais do que suficiente! – respondi.
Eu achava que o banho e o travesseiro macio seriam suficientes para eu embalar no sono, mas não foi o que aconteceu. Eu estava tão irrequieto que podia sentir os batimentos cardíacos ecoando no meu peito, de onde também vinha uma estranha sensação de sufoco. Meu cuzinho ainda continuava ardendo, o Olavo devia ter me machucado bastante durante a foda animalesca, e o espéculo de dimensões desproporcionais que o médico que fez o exame de corpo de delito enfiou nele para examinar e poder descrever as lesões, havia terminado de arregaçar o pouco que ainda estava intacto. Eu precisava tomar um ansiolítico ou não pegaria no sono. Tinha-o deixado no carro e resolvi descer após relutar por mais de três quartos de hora a voltar para debaixo daquela chuva. Vesti apressadamente as mesmas roupas e fui em direção ao carro no estacionamento. Eu tinha trazido o SUV para mais perto da entrada do hotel quando tive a resposta de que havia um quarto disponível. Ao chegar perto dele, vi que havia duas carretas adiante, uma com o mesmo emblema do cão de seis patas e as letras YFLog, engoli em seco. Seria muita coincidência haver duas carretas dessas circulando pela mesma estrada, pensei. Não era de todo impossível, afinal tratava-se, pelo visto, de uma empresa de transportes logísticos e que certamente não tinha apenas uma única carreta. No entanto, duas num espaço tão curto de tempo e na mesma estrada, era algo que suscitava duvidas, especialmente porque eu achava que ela estava envolvida no acidente. Peguei o ansiolítico e aproveitei para pegar a lanterna no porta-luvas. Segui em direção à carreta na intenção de fotografar a placa e enviá-la à polícia para complementar o relato que havia feito aos patrulheiros. Um líquido vermelho escorria de dentro dela, por debaixo das portas, e se misturava com a chuva que lavava o baú metálico. Tinta? Alguma outra substância de cor vermelha vazando de algum recipiente que ela transportava? E, finalmente, com mais uma descarga de adrenalina percorrendo minhas veias. Sangue? Entrei literalmente em pânico quando cheguei a essa conclusão absurda. Você está tão exausto que nem raciocina mais direito, precisa voltar para o quarto, tomar essa porra desse ansiolítico e aquietar o facho até essa noite nefasta passar, é isso ou você vai acabar falando besteira e dando uma de maluco, concluí.
Foi ilusão minha achar que os dois comprimidos que ingeri, numa dose que colocaria um cavalo a nocaute, me fariam dormir com todos aqueles pensamentos vagando desordenados pela minha mente. Mesmo assim, com o quarto imerso em penumbra devido a um poste de iluminação do pátio que lançava sua luz através das frestas da janela, comecei a usar todos os truques que conhecia para fazer o sono chegar. Não consegui. Nem o ritmo cadenciado da chuva caindo do telhado me fez conciliar o sono. Encarei o amanhecer como uma benção, como uma esperança daquele pesadelo terminar. Ledo engano, eu jamais pude imaginar o que aquele dia estava me reservando.
Desci animado achando que àquela hora o salão do restaurante estaria cheio ou, pelo menos, mais animado do que na véspera, com os hóspedes tomando seu café matinal e esperando entre conversas acaloradas que o tempo melhorasse, que ao menos parte da barreira que caíra sobre a estrada já tivesse sido removida nos possibilitando continuar a viagem. Havia, é certo, mais pessoas do que na noite anterior sentadas às mesas, porém, mal passavam de dúzia e meia. Ao invés das conversas costumeiras em tom alto, só havia caras sonolentas expressando desanimo. Tentei verificar se havia perspectivas de a chuva passar consultando a previsão do clima no meu celular. Não havia sinal. Notei também que nenhuma nova postagem havia entrado desde a hora aproximada em que cheguei ao posto de combustíveis. Talvez o temporal tenha danificado uma torre de transmissão das redondezas, pensei.
Pela primeira vez vi uma mulher naquele lugar. Ela servia as mesas e, de quando em quando, lançava um olhar enigmático para o mesmo sujeito que estava atrás do balcão, como se estivesse dando satisfações sobre seus atos. Suas mãos tremiam quando veio à mesa que ocupei junto à janela para poder ver o pátio e a chuva que caía lá fora.
- Bom dia! Qual seu pedido, senhor? – perguntou, numa voz que gaguejava
- Bom dia! Que temporal o da noite passada, não foi? Posso pedir uma omelete? Vi que não consta do cardápio. E, um brioche com queijo e café puro. – devolvi
- Sim, claro, vou mandar fazer a omelete. – ela até tentou esboçar um sorriso de amabilidade, mas só conseguiu acentuar os vincos de tensão que pareciam dominá-la.
Na mesa onde na véspera jogavam cartas parecia que nada tinha mudado, era como se tivessem passado a madrugada toda ali, mais engraçado ainda, parecia uma cena de filme montada com rigor técnico e cenográfico. Voltei a fixar meu olhar para a carreta suspeita, um calafrio percorreu imediatamente a minha espinha. Era apenas meu imaginário ou aquele monstro sobre rodas tinha mesmo lançado o SUV ribanceira abaixo? Isso continuava a martelar minha cabeça. Levei um susto quando a mulher voltou e colocou meu pedido diante de mim. Ela também se assustou com minha reação abrupta. A tensão estava no ar, impregnando tudo naquele lugar.
- Desculpe, não tive a intenção de assustá-la! Humm, a omelete está linda e fofa! Obrigado.
- De nada, senhor!
- A senhora pode me dizer a que horas mais ou menos aquela carreta estacionou no pátio? – perguntei, apontando para o veículo. A mulher precisou se apoiar na beirada da mesa, pois algo perpassou seu corpo com tamanha intensidade que ela não conseguiu se conter. Ao mesmo tempo, lançou um olhar desesperado para o sujeito atrás do balcão e para o outro com cara de criminoso que acabara de ocupar a mesma mesa da véspera, vindo da porta onde um letreiro dizia – Exclusivo para funcionários – e, da qual a mulher tinha saído com a bandeja que me serviu.
- Não sei! – exclamou, antes de praticamente sair correndo. O sujeito com cara de criminoso não deu mais do que dois minutos para sair no encalço dela, ambos desaparecendo atrás da porta. O acesso não é exclusivo para funcionários? Aquele camarada não tinha cara de quem fazia parte do staff do restaurante. Seria o dono?
Fiz minha refeição sem nenhuma pressa. Tempo era o que não me faltava. A julgar pelas condições climáticas, o dia seria longo naquele lugar ermo perdido entre as montanhas. Eu tinha a impressão de que só eu estava incomodado com o clima, que os demais não estavam nem aí para o que acontecia fora daquele estabelecimento, que não tinham nada mais útil a fazer em suas vidas. Na hora seguinte, alguns caminhoneiros saíram das cabines de seus veículos, esfregando os olhos, ajeitando as roupas e cabelos e correndo apressados sob a chuva para dentro do restaurante. Haviam pernoitado nas boleias e estavam em busca de algo para forrar os estômagos. Cada um que entrava fazia uma saudação generalizada, apenas lançando um olhar para todos os que ocupavam as mesas. Um ou outro devolvia o cumprimento. Fui um deles.
Um dos caminhoneiros recém-chegados sentou-se na mesa ao lado da minha e me dirigiu um sorriso enquanto grunhia o – bom dia – simpático. Ele devia ter uns trinta e poucos anos, trajava uma bermuda que lhe chegava aos joelhos e, sobre cujo o cós caia uma barriguinha que estava mais para um pneuzinho do que para um tanquinho. Achei sexy. Muito provavelmente mais pelo volume ligeiramente endurecido na região da virilha do que pela barriguinha. Quando ele reparou que eu notara sua ereção matinal, alargou o sorriso. Imediatamente virei meu rosto em direção à janela, sem conseguir evitar que minhas faces começassem a arder de calor.
- Como está sua omelete? A cara parece bem apetitosa! – perguntou ele, para puxar conversa e se divertir com meu embaraço.
- Boa! Muito boa! – exclamei envergonhado.
- Uma omelete como a dele, por favor! Com bastante bacon. – pediu ele à mulher, que agora se apressava para atender todos que haviam chegado, enquanto ela colocava uma xicara de café e um pãozinho com manteiga diante dele. – Está viajando a trabalho? – perguntou ele se dirigindo a mim novamente.
- Não! – eu ainda precisava de um pouco de coragem para voltar a encará-lo, pois em meio a uma certa rudeza, o cara era bastante tesudo e, sabedor disso, estava se valendo da sedução para entabular conversa comigo. Acho que nunca vou me acostumar a esse tipo de assédio que alguns homens usam para me abordar, parece que eles têm uma capacidade inata de farejar que não sou um homem com os mesmos desejos que os deles.
Antes mesmo de a omelete chegar, ele já havia se mudado para a minha mesa, sentando-se à minha frente e não disfarçando seus olhares cobiçosos sobre mim. Aquela mão de descia de vez em quando para debaixo da mesa não deixava dúvidas de que ele precisava ficar ajeitando a rola enquanto nossa conversa ia se tornando mais amigável. O puto estava sentindo tesão por mim. Não fosse eu me encontrar naquela situação toda, talvez até me sentisse lisonjeado. Ficamos de papo por mais de duas horas. Era ele quem falava e, especialmente, perguntava mais. Subitamente, ao lançar um olhar para o celular dele sobre a mesa, resolvi consultar novamente o meu, para verificar se o sinal havia voltado. Nada.
- Seu celular também está sem sinal? – questionei. Ele confirmou que sim, desde a noite anterior.
Quando o Daniel, era esse o nome do meu interlocutor tarado, pediu licença para ir ao banheiro, fui ter com o sujeito atrás do balcão para ver se podia usar o telefone do restaurante. Eu queria ver se havia uma previsão de desbloqueio da estrada e também ter notícias dos dois acidentados no SUV, pois o patrulheiro havia me dado o nome do hospital para onde foram levados.
- O telefone não está funcionando! – exclamou secamente, como para se ver livre das minhas perguntas.
- Não é possível que esse lugar fique isolado por tantas horas só por causa de um temporal! – devolvi
- É assim mesmo por aqui! Deseja mais alguma coisa? – era óbvio que ele não estava a fim da minha curiosidade.
Também me dirigi ao banheiro, a bermuda que eu havia vestido naquela manhã estava se mostrando inadequada para o friozinho que parecia estar aumentando à medida que as horas passavam e a desesperança de uma abertura nas nuvens ia se tornando certeira. O Daniel devia estar numa das cabines, estava demorando um pouco para voltar, o que configurava não ter ido apenas mijar. Quando fui às pias para lavar as mãos, através do espelho, pude confirmar que ele estava na última cabine, no fundo do banheiro e, sem ter fechado a porta, estava batendo uma punheta. Ouvi um pouco constrangido o gemido gutural que ele soltou enquanto gozava, mas uma curiosidade mórbida me fez ficar ali por mais tempo que o necessário. Ele saiu da cabine com o caralhão cabeçudo ainda na mão, balançando-o e fechando apressadamente a braguilha quando notou minha presença. Ao caminhar na minha direção e na das pias, seu olhar não se desviou nem por um segundo da minha bunda enfiada naquela bermuda inadequada. Tive a certeza de que se lhe fosse permitido naquelas circunstâncias, ele partiria direto para cima de mim e enfiaria aquele cacetão até o talo na minha bunda carnuda. Que ele estava na secura não restava dúvida.
Antes de voltar para o salão, me aproveitando da proximidade do acesso aos fundos do restaurante, no qual estava a tabuleta dizendo – acesso somente de funcionários - atravessei a porta e percorri um corredor curto que dava para outros ambientes, um deles a cozinha. Além da mulher que servira as mesas, havia outra e um rapaz que não contava nem dezoito anos. Eles arregalaram os olhos ao me verem, embora eu lhes dirigisse um sorriso e um ‘oi’.
- O senhor deseja mais alguma coisa? – perguntou apressada a mulher que servira as mesas.
- Vocês têm um telefone que eu possa usar? O celular está sem sinal! – a mulher me apontou um aparelho meio ensebado sobre uma mesa encostada à parede.
- Moço! Por favor, seja rápido! – ela praticamente me implorava.
- Sim, claro! Vou ser rápido. Só quero ter notícias de duas pessoas que se acidentaram na estrada ontem à noite. – esclareci
Eu mal havia terminado de digitar o número do hospital e ouvido o alô da telefonista quando escutei um clique atrás de mim e senti algo gelado tocando minha nuca.
- Coloque o fone no gancho! Agora! – era o sujeito com cara de criminoso que sondava o movimento do salão sentado sozinho naquela mesa que lhe dava visão total de tudo o que acontecia ao redor, apontando uma arma para a minha cabeça. Pude ver cada um dos projéteis dentro do tambor mirando diretamente na minha cara. Por pouco não despenquei no chão, pois minhas pernas repentinamente pareciam ter consistência de gelatina.
- O que é isso? – deixei escapar num quase grito.
- Cala a boca! Mais uma gracinha dessas e você fará uma viagem sem retorno. – ameaçou ele.
As duas mulheres e o rapaz pareciam estátuas me encarando apavorados. Seguindo as ordens do sujeito, que eu agora sabia ser realmente um criminoso, fui me juntar a eles num canto da cozinha. Ao passar por um balcão de alvenaria onde estavam embutidas duas pias, e cuja abertura só se via estando onde as mulheres estavam acuadas, pude ver os corpos de dois homens debaixo dele, ambos tinham uma poça de sangue coagulado junto às cabeças. Instintivamente e, sem o menor controle, soltei um grito. No mesmo instante, levei um soco nas costas que me atirou contra as mulheres e o rapaz. O pesadelo só aumentava. No que diabos de situação eu fui parar, pensei enquanto tentava controlar a tremedeira que tomou conta de mim.
Aos poucos meus pensamentos foram se alinhando. Eu já não tinha a menor dúvida de que a carreta havia tirado o SUV da estrada, de que aquele líquido que saia por debaixo das portas do baú era realmente sangue e não tinta, de que o sujeito que estava atrás do balcão era um comparsa e, de que, quem sabe, outros daqueles supostos clientes também faziam parte da quadrilha.
O homem me obrigou a voltar ao salão, não sem antes me prevenir de que se abrisse minha boca levaria um tiro no meio dos miolos. Eu cambaleava ao voltar para a mesa junto à janela, onde o Daniel me esperava ainda cheio de intenções libidinosas. Ele e os outros que desceram de suas carretas naquela manhã não faziam parte da quadrilha constatei logo a seguir. Mas, não colocaria minha mão no fogo pelos demais que estavam no salão.
- Está tudo bem com você? – perguntou o Daniel
- Sim, está! – balbuciei
- Parece que viu um fantasma! Ou será que foi o que presenciou no banheiro? – questionou dando uma risadinha marota.
- É, acho que sim!
- Desculpe a ousadia, mas não consegui segurar mais a excitação enquanto conversava com você. Se tivesse visto as tuas coxas antes provavelmente teria dado vexame aqui mesmo. – continuou ele.
- É, quem sabe?
- Tem certeza de que está tudo bem com você? Está tão diferente de minutos atrás! Não acredito que o que você viu na minha mão tenha te abalado tanto. – prosseguiu inocente.
- Tenho, tenho sim! – seria prudente revelar o que eu sabia? Qual seria a reação dele se eu contasse que havia dois corpos sem vida sob o balcão da cozinha e talvez outro dentro da carreta lá fora? Era um risco abrir a minha boca, mas eu estava tão apavorado que precisava compartilhar minha aflição com alguém.
- Perdão se me excedi! Não foi meu desejo ser acintoso! Você é um cara muito bonito e gostoso, não dá para ignorar isso.
- Há dois homens mortos baleados lá trás na cozinha, e aquele cara no balcão, mais aquele de camisa xadrez na mesa à esquerda, causaram um acidente grave ontem a noite jogando um SUV fora da estrada. Além de eu suspeitar que há mais alguém morto dentro do baú daquela carreta. Acho que ambos estão armados e mantendo todos aqui dentro sob suas miras. Não olhe diretamente para eles, pelo amor de Deus! – despejei numa torrente de palavras que saiam da minha boca feito uma cachoeira.
O Daniel me encarou num silêncio perscrutador por alguns segundos, como se estivesse se certificando de que não estava diante de um louco varrido.
- Como é que é? – seu tom de voz soou um pouco alto demais, o que fez o sujeito do balcão se voltar para nós.
- Eu te pedi para não chamar a atenção! Estamos correndo um perigo que você não faz ideia. – respondi. Já era tarde, o sujeito que me abordara na cozinha começou a caminhar em direção à nossa mesa.
- Levantem sem soltar um ruído, ou furo os dois aqui mesmo! Venham! – tudo o que eu temia estava acontecendo. Me senti caminhando em direção ao cadafalso. A expressão no rosto do Daniel mostrava toda sua estupefação.
Fomos levados até a cozinha, onde as mulheres e o rapaz permaneciam quase inertes em estado de choque. O sujeito obrigou o rapaz a trazer duas cadeiras e amarrar o Daniel e eu nelas, enquanto ele mesmo cobria nossas bocas com fita adesiva.
- Eu tinha mandado você calar essa boca, não tinha seu merda? Esse é meu último aviso, qualquer nova gracinha e vocês já eram, entendeu, filho da puta? – no mesmo instante um bofetão fez zunir o meu ouvido.
Pela cara com a qual o Daniel me encarava dava para ver que ele ainda estava processando esses últimos minutos. O sujeito olhou ameaçadoramente para as mulheres e o rapaz, o que foi o que bastou para que eles continuassem tão servis e resignados como tinham estado até então. A prova do que aqueles sujeitos eram capazes de fazer estava debaixo do balcão da pia, e isso era mais do que suficiente para eles não se atreverem a contrariá-los. O que me devolveu uma certa calma foi saber que aquilo não podia durar eternamente, a qualquer momento esses bandidos teriam que sair dali de uma forma ou outra.
Estávamos no meio da tarde. O Daniel e eu continuávamos amarrados às cadeiras. As duas mulheres preparavam uma espécie de almoço tardio para as pessoas que estavam no salão, o que me fez constatar que eles não estavam sabendo do que estava acontecendo nos bastidores. Ao que tudo indicava, eram somente os dois os criminosos, o da camisa xadrez e o do balcão. O que não mudara nesse tempo todo foi a chuva. Ela já despencava a mais de vinte e quatro horas seguidas, ora mais intensa, ora num marasmo cansativo.
Entre as idas e vindas do rapaz que desta vez se pôs a servir as mesas, houve um momento em que ele voltou tão afobado e com os olhos tão esbugalhados que pensei que fosse desmaiar antes de colocar a bandeja cheia de pratos sobre a pia.
- O que foi? – perguntou uma das mulheres, ciente de que algo estava em curso no salão.
- Uma viatura da polícia rodoviária acaba de estacionar. Os dois patrulheiros esmiuçaram cada uma das carretas e, em particular, o SUV desse moço. – respondeu ele, apontando na minha direção.
- Deus nos ajude! Ou eles nos livram dessa agonia ou acabamos todos mortos. – revidou a mulher, mais inquieta do que antes.
Eu comecei a me agitar na cadeira, olhava para o rapaz e grunhia por socorro com a mordaça impedindo que ele me compreendesse. O Daniel me imitou. Estávamos vislumbrando uma chance de terminar com tudo aquilo.
- Não chegue perto deles! – advertiu uma das mulheres, desestimulando o rapaz a tirar minha mordaça. – Se o sujeito voltar vai sobrar para você. – emendou ligeira.
Não tardou nem alguns minutos para um dos sujeitos entrar na cozinha com a arma já em punho. Era o do balcão. Algo me dizia que eles começavam a se desestabilizar, que o pavor não era apenas privilégio nosso.
- Para o banheiro, rápido! – ordenou às mulheres e ao rapaz. – Nem preciso dizer que ao menor ruído eu volto para acabar com vocês!
O Daniel levou um soco gratuitamente no rosto, numa demonstração de que ainda estavam no poder, mas que já se sentiam prestes a perdê-lo. Depois que ele se foi, eu desejei ser uma mosca para saber o que estava acontecendo no salão. Meu carro certamente tinha sido citado no relatório do acidente da noite anterior e, a presença dele no estacionamento carecia de uma melhor explicação, pela qual os patrulheiros provavelmente procuravam. A proximidade da cozinha com os banheiros logo me fez ouvir o barulho de uma descarga. Mesmo com as mãos atadas às costas, fiz uma figa torcendo para que fosse um dos patrulheiros investigando e, quem sabe, com muita sorte, procurando por mim, uma vez que não me encontrou no salão. Seria o mesmo patrulheiro da noite anterior? Moreira, era esse o nome bordado na lapela do bolso de sua camisa. Seria muito improvável, o turno dele já devia ter terminado há muito tempo e ele certamente estava de folga. Constatar isso foi como um balde de água fria caindo sobre minha cabeça. Esses patrulheiros nunca tinham me visto, jamais perguntariam por mim.
Enquanto isso, a porta da cozinha se abriu. Um patrulheiro entrou e tentava entender a cena que estava presenciando quando o sujeito de camisa xadrez voltou e colocou a arma na nuca do patrulheiro.
- Coloque a arma lentamente no chão e chute-a para longe! Qualquer movimento e eu atiro! – sentenciou o bandido.
- Você está em maus lençóis, cara! É melhor você me entregar essa arma. – revidou com a voz firme e autoritária.
- Ficou maluco? Ainda não se deu conta de que sou eu quem dá as ordens por aqui? Faça o que mandei, agora! – o patrulheiro foi abaixando lentamente simulando colocar a arma no chão, mas antes de abrir a mão e soltá-la, girou sobre um dos pés e disparou.
O estampido ecoou entre as panelas e utensílios. O criminoso fez um disparo e o projétil atingiu uma das coifas fazendo-a reverberar como o sino de um campanário. Vozes e gritos vinham agora do salão, parecia haver uma revolução em curso lá fora. Mais um disparo do patrulheiro terminou de vez com a reação do criminoso, o segundo tiro também o atingiu, só que desta vez no meio do peito e não na barriga. Com um olhar petrificado que ia se tornando baço, ele caiu inerte. O outro patrulheiro surgiu na porta com as mãos cruzadas na nuca e escoltado pelo sujeito do balcão que, ao ver o comparsa estendido no chão começou a gritar alucinadamente.
- Ninguém se mexe! Solta essa arma, desgraçado! Solta, filho da puta! Eu mato seu companheiro. Eu mato, está entendendo? – em meio ao desespero e, já sem mais nenhuma certeza de que as coisas sairiam como haviam planejado, ele empurrou o patrulheiro para longe de si. Nesse momento, outro disparo feito pelo patrulheiro que tinha matado seu parceiro fez com que ele também cambaleasse e fosse se inclinando pesadamente sobre o ventre. O tiro foi tão certeiro que não precisou de complementação.
Meia hora depois, havia mais carros da polícia e da polícia rodoviária no estacionamento do que outros veículos. Pelo menos duas dezenas de homens fardados perambulavam por todos os lados. Eu estava prestando meu depoimento para um delegado quando vi o Moreira entrando no salão. Sem prestar mais atenção ao meu interlocutor, corri na direção dele e me atirei em seus braços, como tinha feito na noite anterior na estrada. Ele ficou meio sem jeito, mas cercou seus braços parrudos ao redor do meu corpo e me trouxe para junto dele. Sobre os ombros largos dele, vi a expressão de espanto com a qual o Daniel me encarava. Soltei o Moreira no mesmo instante, eu estava involuntariamente protagonizando um show, agarrado ao pescoço de um policial com aquele short inadequado exibindo praticamente todas as minhas coxas grossas onde o tom bronzeado do último verão ainda não tinha se desvanecido.
- Me perdoe! Não foi minha intenção te constranger diante de todos. – apressei-me a justificar.
- É preciso muito mais do que isso para me sentir constrangido perante alguém, esteja certo. – devolveu ele, esboçando um discreto sorriso que, no entanto, não diminuía sua postura profissional.
- Pelo visto está se tornando um hábito eu me pendurar em você precisando de ajuda. – continuei, num tom de voz que permitia apenas a ele me ouvir.
- Tê-lo em meus braços é muito mais prazeroso do que você pode imaginar! Estou feliz por não estar usando aquela capa que escondia esse corpo escultural. – retrucou ele, num sussurro que me causou um frisson. Era a segunda cantada que eu recebia num único dia, muito para as circunstâncias em que se deram.
Depois que todos os que estavam no restaurante serem liberados da delegacia da cidade mais próxima, pedi que o Moreira me indicasse um hotel onde pudesse pernoitar. Ele me respondeu que trataria disso dentro em breve, que tinha algumas coisas a resolver e que logo estaria comigo, que eu esperasse um pouco no carro diante da delegacia. Não decifrei qual a intenção dele por trás disso, mas estava tão abalado com tudo o que me aconteceu nos últimos dois dias que não me pus a questionar nada.
No baú da carreta havia mais dois corpos, o do motorista e o do ajudante. A carga contida nela era de medicamentos que somavam uma pequena fortuna. Os outros caminhoneiros que estiveram no restaurante se perguntavam atônitos como não tinham desconfiado de absolutamente nada do que estava acontecendo à sua volta. Só perceberam que havia algo errado quando começaram os disparos e o alvoroço na cozinha. O Daniel veio até o meu carro, ainda estava surpreso por eu ter descoberto tudo.
- Sabe que cheguei a pensar que você tinha ficado maluco ou que tinha tomado drogas quando voltou à mesa estranho daquele jeito? Me desculpe por ter sido tão lerdo e não ter te dado crédito logo de cara. – afirmou.
- É compreensível, tínhamos acabado de nos conhecer. De repente, surto e venho com uma história para lá de bizarra. Você não tinha como adivinhar. – respondi.
- Mesmo assim! Ainda por cima fiquei me insinuando para você. Quando me lembro de ter me postado diante de você com a pica na mão, me sinto ainda mais ridículo. – sentenciou.
- Se te serve de consolo, foi a coisa mais bonita que eu vi hoje! – exclamei ousado, tornando a reviver a cena e a visão do caralhão cabeçudo e másculo dele. Ele voltou a sorrir, e eu a corar.
- Serve sim! Alguma chance de eu conseguir seu telefone? Ao que me pareceu, tenho um concorrente na disputa.
- Estou numa fase tão maluca da minha vida devido a alguns acontecimentos recentes, que não acho uma boa ideia te dar meu número. Juro que não é nada com você, sou eu quem precisa reavaliar muita coisa antes de me envolver outra vez com alguém. – afirmei
- Isso se aplica ao policial rodoviário também? – questionou ele, demonstrando um pouco de ciúmes.
- Com certeza!
- Assim não saio tão desapontado.
- Esteja certo de que nada em você pode ser motivo de desapontamento, muito pelo contrário. Suas qualidades são imensas! – asseverei. Pelo risinho ladino que ele me lançou eu soube que tinha entendido a duplicidade de sentido nas minhas palavras. Nos despedimos ali com um abraço forte, enquanto seu corpo me comprimia contra meu carro e uma consistência rija entre suas pernas resvalava na minha coxa.
Cogitei voltar para casa quando o Moreira veio me avisar que a estrada só seria desbloqueada parcialmente no dia seguinte. Ele me dissuadiu e me ofereceu abrigo por aquela noite em sua casa. Ao mesmo tempo em que relutava aceitar o convite, sentia uma carência sem tamanho. A mistura perigosa de sentimentos que coloca a gente em situações difíceis ou, no mínimo, das quais nos arrependemos no futuro. Houve pouco espaço para recusas, eu já estava no meio da sala da casa dele, mais uma vez pendurado naquele pescoço musculoso, sentindo os lábios quentes e úmidos dele se esfregando nos meus, quando era tarde demais para interpor qualquer desculpa.
Ele morava só desde que terminara seu último relacionamento com um carinha, depois de se divorciar da mulher com quem ficou casado por cinco anos. Despejei toda minha história recente nos ouvidos dele. Um passado semelhante o fez ser um bom ouvinte. Mais que isso, alguém que parecia ter respostas para minhas agonias.
- Você devia ter me indicado um hotel, assim não teria que me ouvir buzinando nos seus ouvidos.
- E perder a chance de te ter em meus braços? Nem pensar! – revidou rindo.
- Seu ex-parceiro só pode ser um tolo! Abrir mão de alguém tão incrível quanto você.
- Posso afirmar o mesmo do seu! Embora no seu caso, creio que tenha sido melhor você o mandar à merda. Um sujeito que fez o que fez com você devia levar umas boas porradas. Teu rosto ainda têm as marcas da violência dele, mas sem conseguir ofuscar a beleza dele. – para alguém fragilizado como eu estava, aquelas palavras exerciam um poder mágico.
- Não é só o rosto que ainda se recente da violência dele. – proferi num sussurro que o levou a me apertar mais forte em seus braços e caminhar comigo até o quarto. Minha afirmação o excitou a ponto de ele precisar conferir pessoalmente a vilania que me foi imposta.
Ele me soltou sobre a cama. Começou a se despir. Eu não conseguia tirar os olhos do que ia surgindo diante de mim, um tórax largo e com pelos viris distribuídos em redemoinhos, um ventre sarado onde os pelos centralizados entravam cós a dentro. Um matagal denso de pelos pubianos que surgiram assim que ele arriou a calça e a cueca fazendo um cacete enorme dar um salto para a liberdade. Ele crescia enquanto ele tirava os sapatos e a calça pelos pés, começando a externar uma cabeçorra arroxeada e brilhante. Abaixo dele, pendia um sacão onde dois colhões do tamanho de bolas de golfe se moviam sob os pentelhos negros. Meu olhar carregado de meiguice e desejo o fez envaidecido, não que ele não soubesse o quão másculo e viril ele era, mas ver-me reconhecendo suas qualidades tinha outro peso.
- Gostou? – ronronou rouco e sedutor
- Muito! – devolvi murmurando
Depois de tirar os meus tênis ele puxou de uma só vez a bermuda e a cueca, expondo minhas nádegas. Ele soltou o ar por entre os dentes evidenciando o tesão que o instigava. Suas mãos entraram por debaixo da minha camiseta e ele a tirou pela cabeça. Minha vulnerabilidade diante dele não me intimidou, ao contrário, só fez meu tesão aumentar, só fez eu querer me entregar para aquele macho sedento feito um touro no cio. Tive meus mamilos, lambidos, chupados e cobertos de mordidinhas libidinosas. À medida em que os biquinhos enrijeciam e se projetavam ele os apertava entre os dentes da frente e tracionava, até me ouvir gemer e sentir eu me contorcionando sob seu corpo. A respiração dele ia se tornando mais curta e mais acelerada. Havia momentos em que chegava a arfar, especialmente quando sentia minhas mãos deslizando sobre sua nuca, seu rosto hirsuto e sua coluna. Eu tremia da cabeça aos pés, meu cuzinho se revolvia assanhado querendo que aquela verga me preenchesse. Fui me virando lentamente de lado sobre o colchão, dobrando uma das pernas para expor minha bunda e abrir ligeiramente meu rego. O Moreira se ajeitou atrás de mim, terminou de apartar as minhas nádegas e começou a lamber meu reguinho liso e minhas pregas intumescidas. Eu gemi de tanto tesão, da fome sexual desmesurada daquele macho. Eu podia sentir sua respiração quente resvalando no cangote antes de ele levar uma das mãos ao meu queixo e me virar na direção dele. O beijo longo e devasso de nossas línguas se acariciando precedeu as pinceladas que se intensificavam ao longo do meu rego, fazendo a cabeçorra do cacete dele deslizar sobre as minhas preguinhas e a portinha do meu cu. Numa arremetida impetuosa da pelve para a frente, ele meteu a cabeça roliça da pica no meu cuzinho. Eu gritei. Minha rosca anal ainda ressentida pela brutalidade do Olavo experimentava uma dilatação que ia muito além de sua capacidade elástica. Minha carne se rasgava para permitir a penetração daquele caralhão grosso.
- Ai, ai! Espere um pouco, por favor, espere um pouco! Não estou aguentando! – gani desesperado com a dor que crescia num contínuo.
- Está doendo? Quer que eu tire? – perguntou ele, preocupado, ao perceber que eu era bem mais apertado do que ele esperava e também muito mais frágil do que seu ex-parceiro no qual estava acostumado a enfiar a pica toda numa estocada só.
- Não! Só me dá alguns segundos. Ainda estou muito sensível. – devolvi gemendo.
- Não quero te machucar! Eu tiro se você quiser, sem problema! Não precisamos transar se você não estiver a fim.
- É o que mais quero, juro! Só preciso de um tempinho para me acostumar. Você não é só grandão e musculoso de corpo, isso que está tentando enfiar em mim é enorme. – ronronei dengoso, pois não ia desistir de acarinhar aquele macho por inteiro dentro das minhas entranhas.
- Nunca me senti tão fissurado por alguém como por você! Estou quase enlouquecendo de tanto tesão. – grunhiu ele.
Recomeçamos e nos beijar e, aos poucos, eu fui sentindo aquele volume me distendendo e me preenchendo todo, num frenesi sem tamanho. Eu empinava a bunda fazendo-a encaixar-se na virilha dele, os pentelhos roçando minhas nádegas lisas, o sacão aprisionado entre as bandas carnudas e musculosas da minha bunda, e meu cuzinho engolindo e mastigando centímetro a centímetro aquele verga gigantesca, fazendo-a vibrar comprimida entre minha mucosa úmida e quente. Prazer e dor cresciam na mesma proporção, mas eu continuava me entregando, continuava acalentando o caralhão daquele macho que me fazia sentir nas nuvens e estava me fazendo esquecer todos os meus problemas.
- Ai Moreira! – gemi, antes de começar a chupar a língua que ele enfiara na minha boca. Espasmos cresciam no meu ventre, todas as minhas energias pareciam concentradas na minha virilha, o gozo começara a se formar e não tinha mais volta. Outro ganido junto com a contração da pelve me fez ejacular, entreguei-me sem resistência aquele prazer e deixei-o tomar conta do meu corpo.
- Quero você todo meu, Marcelo! Esse seu cuzinho está acabando comigo. Delícia! Delícia! – ronronava ele, intensificando o vaivém com o qual me estocava.
Aquele era um daqueles momentos únicos que a vida nos oferece, breve e especial, que precisa e deve ser usufruído em sua plenitude, pois vai compor as lembranças que farão com que tenhamos, no futuro, a certeza de termos vivido uma vida feliz. Talvez eu nunca mais fosse encontrar o Moreira, no entanto, naquele presente ele personificava a felicidade. Ambos tínhamos consciência disso. Sabíamos que aquele breve encontro não diminuía a intensidade do que sentíamos um pelo outro. Aqueles beijos trocados na sofreguidão do tesão estavam repletos de paixão, simbolizavam a entrega do que tínhamos de melhor a ofertar. O coito quase desesperado representava, além da conjunção dos corpos, a união de nossas almas, de nossa essência como pessoas, o que o tornou intenso e único. Eu nunca tinha visto uma camisinha tão cheia de porra quando ele sacou lentamente o cacetão do meu cuzinho. A porra chegou a vazar e melar os pelos pubianos dele. Fazendo um certo malabarismo para não desperdiçá-la, ele verteu todo o conteúdo da camisinha na palma da mão para depois passá-la nas minhas nádegas espalhando seu sumo viril sobre a minha pele. Depois, com a mão ainda úmida, ele afagou meu rosto e, sutilmente levou as pontas dos dedos indicador e médio aos meus lábios, onde lambi extasiado o sabor daquele macho, o que exacerbou o delírio prazeroso que ele estava sentindo. Ser fodido tão intensamente roubou-me as últimas forças. O calor do corpão dele enroscado no meu, o toque quente de seus braços me envolvendo pareciam um ninho onde eu podia finalmente relaxar em segurança. Adormeci antes dele, afagando os pelos do braço dele, que eu apertava contra o peito.
Despertar com um tímido raio de sol adentrando pela janela foi auspicioso. Eu ainda estava enroscado no Moreira, um braço repousando sobre os pelos do peito dele, uma perna envolta pelas dele, um ronronar profundo de sua respiração tranquila me fazia querer jamais deixar aquele abrigo. Ele levou bem uma meia hora a mais para acordar. Foi se conscientizando que não estava sozinho na cama quando o contato com a minha pele lhe pareceu uma carícia. Esfregou e abriu os olhos para se certificar de que não estava sonhando. Sorriu quando percebeu que não era um sonho e, que o prazer que seu corpo experimentara na noite anterior ainda repercutia nele. Fazia alguns minutos que eu o encarava, que me deliciava com aquele rosto anguloso e másculo, com aquela barba espinhenta por fazer, com aqueles lábios cujo sabor sensual ainda estava presente nos meus. Deslizei suave e lentamente a ponta do dedo contornando seu rosto, o que ampliou aquele sorriso doce com o qual ele me encarava.
- Dormiu bem? – perguntou ele, com a rouquidão matinal na voz sonolenta.
- Como há muito não dormia! Graças a você! – respondi, colocando um beijo delicado no queixo dele.
- Você mereceu e, acabou por me presentear com uma felicidade que eu não sabia existir. – devolveu ele, colando sua boca à minha e enfiando a língua nela, o que aumentou a minha percepção da ereção colossal que roçava minha coxa.
Ele se conteve o quanto pode. Porém, durante a ducha que tomamos juntos no box apertado, o tesão que as minhas mãos ensaboadas deslizando sobre seu corpo provocavam acabou com seu autocontrole e, com uma pegada firme por trás, ele puxou minhas ancas contra sua virilha e enfiou a jeba que deslizava na fissura do meu rego dentro do meu cuzinho. Meus gemidos o alucinavam, sua boca lambia e mordiscava meu pescoço, suas mãos acariciavam a apertavam meus mamilos e o faziam empurrar todo o cacete para o fundo do meu rabo generosamente empinado.
- Recebi a informação de que a estrada foi parcialmente desobstruída e que uma das pistas já permite a passagem de veículos. – disse ele, enquanto tomávamos o desjejum
- Estive seriamente pensando em desistir e voltar para casa. Se eu tivesse tomado a decisão de fazer meia volta quando todo aquele pesadelo começou talvez não tivesse que viver esses momentos angustiantes. – afirmei.
- Assim você não teria me dado o privilégio de te conhecer! O que teria sido um desperdício! – retrucou ele, com uma carinha safada. Sorri com carinho para ele, pois também teria me ressentido de não ter tido essa oportunidade.
- Antes de prosseguir vou ao hospital, ver como estão aquele homem e aquela mulher do SUV. Sinto que preciso fazer isso para me sentir melhor. – revelei.
- Você ficou muito impressionado com o acidente, não foi?
- Sim! Para ser sincero, nunca tinha visto um tão trágico. O corpo daquela mulher no banco do passageiro, todo retorcido e com a cabeça deformada contra a rocha, não me saem da mente. – afirmei.
- Pelo que apuramos ela deve ser a mulher do motorista, pois ambos têm o mesmo sobrenome. A outra vítima deve ser algum parente ou amiga e, segundo as informações que chegaram ao posto da polícia rodoviária, o corpo dela está no IML da cidade à espera de algum familiar para fazer o reconhecimento. Quer que eu te acompanhe até o hospital?
- Seria muito bom ter você ao meu lado. Não vai atrapalhar seu serviço?
- De forma alguma! Quando estiver pronto podemos ir.
No hospital descobri que o motorista do SUV se chama César e que estava prestes a ser transferido para um hospital na cidade onde morava meu tio, pois as cirurgias das quais precisava para reduzir as fraturas e exames mais apurados de sua cabeça e coluna requeriam um hospital mais bem equipado. Ele ainda não havia recobrado a consciência, golpes na cabeça haviam provocado um edema que estava sendo controlado por medicamentos na UTI. O estado da mulher era menos promissor. Estavam-na mantendo também na UTI e esperavam por uma ambulância UTI para poder removê-la para o mesmo hospital em que estavam transferindo o motorista, mas as chances de ela chegar lá ainda com vida eram mínimas.
Me despedir do Moreira foi muito mais difícil do que eu imaginara. Apesar de se poder contar nos dedos de uma mão os dias que estivemos envolvidos um com o outro, aquele não era um – Até breve! – Até amanhã! – Tchau! – era um – Adeus! – definitivo. Diante do posto da polícia rodoviária, onde eu tinha ido para me despedir e agradecer aos patrulheiros tanto pela ajuda do acidente com o SUV quanto do resgate no restaurante do posto de combustíveis, o Moreira e eu estávamos nos encarando ao lado do meu carro. Nenhum de nós encontrava palavras para aquela despedida. Olhos nos olhos, os segundos passavam e o silêncio pesava. Significávamos tanto um para o outro que aquela ruptura ia deixar cicatrizes. Certifiquei-me de estarmos a salvo das vistas dos outros patrulheiros e pousei delicadamente meus lábios sobre os dele. Ele me puxou contra si, deu àquele beijo a intensidade dos sentimentos que estavam em nossos peitos e se virou caminhando na direção da entrada do posto. Eu me sentei ao volante, dei a partida e entrei na estrada. Antes da primeira curva, lágrimas silenciosas rolavam pelo meu rosto. Mais uma coisa ficava para trás.
A preocupação comigo estava estampada no rosto dos meus tios quando os abracei, procurando mais uma vez engolir o nó que havia na minha garganta. Saber que se tem para onde voltar quando tudo à nossa volta parece estar desmoronando é sempre um alívio. Com esse sentimento eu os abraçava demoradamente, enquanto mal me davam tempo, me enchendo de perguntas sobre toda aquela demora. Fui relatando minha saga na cronologia dos acontecimentos. Meu tio e minha tia iam configurando as expressões em seus rostos conforme a história chegava aos seus ouvidos, de preocupação, a espanto e indignação, tudo revelava o quanto estavam abalados com o que passei.
- Eu sempre disse que não era uma boa ideia você ir tão longe para estudar. Seu lugar é aqui, meu querido, ao nosso lado, onde podemos te ajudar e cuidar de você. – disse minha tia, quando terminei meu relato.
- Eu preciso desse tempo só para mim, tia. Preciso saber quem eu sou e que posso cuidar de mim mesmo. Depois, é importante que eu curse uma faculdade renomada, vai fazer diferença no meu futuro profissional. – devolvi, para tranquiliza-la.
- Sei disso tudo, querido! Mas, você já passou por tanta coisa nesses seus poucos anos de vida, que eu não consigo deixar de me preocupar com você. – ela se incumbira do papel da mãe que perdi com uma determinação ferrenha.
Outro reencontro que não me deixou esconder minha alegria foi com o Rodrigo, poucas horas depois, quando ele foi à casa dos pais ao saber que eu havia chegado. Já sabendo por alto pelo que eu havia passado, ele me abraçou com tanta força e impetuosidade que não deixava dúvidas do quanto eu significava para ele. Sentados sozinhos num canto da varanda da casa dos pais, ele me ouviu apreensivo e cheio de momentos de ira tanto contra o que o Olavo tinha feito comigo, quanto os criminosos que puseram minha vida em risco. Embora meus tios soubessem da existência do Olavo e do meu relacionamento com ele, eu omiti tudo o que ele tinha feito comigo. Meu tio era um advogado com prestígio e influência, ocupava um cargo de desembargador e não deixaria barato se soubesse que o Olavo dilapidou meus bens e, especialmente, que tinha usado de violência física para arrancar de mim o dinheiro que bancou suas extravagâncias. Mas, do Rodrigo eu não escondi nada. Ele cerrava os punhos enquanto eu relatava os abusos, as surras, as fodas selvagens, como se quisesse exterminar aquele verme com seus próprios punhos.
- Por que não me ligou antes? Eu precisava saber disso! Alguém precisa dar uma lição naquele canalha! A justiça não vai alcança-lo, você bem sabe. – questionou indignado
- Nas últimas semanas ele praticamente me mantinha prisioneiro no apartamento. Para ir à faculdade ele montava um estreito esquema de vigilância com a ajuda de uns colegas. Até meu celular ele confiscou. Fez tantas ameaças que eu tive medo de contar até para os meus amigos mais próximos. Você não faz ideia do quão violento ele se tornou. Eu tremia só de estar na presença dele, achava que ia me matar a qualquer momento. – revelei
- Canalha miserável! A morte e pouco para esse filho da puta! – rosnou meu primo.
- Agora eu só quero passar essas semanas com vocês, aqui me sinto livre e seguro. Quero esquecer tudo isso antes de voltar para o último semestre da faculdade.
- Você acha que o pai vai te deixar voltar? Não se espante se ele se opuser.
- Mas, eu preciso! Voltar não é uma escolha, é uma necessidade. Com o Olavo preso eu terei algum resguardo. Até porque o delegado que atendeu o flagrante também solicitou medidas protetivas ao juiz. Mesmo quando conseguir a liberdade, o Olavo não pode se aproximar de mim, do apartamento, de lugares que eu frequento e por aí vai. Além disso, essa liberdade ele não deve conseguir tão facilmente, pois durante a prisão, descobriu-se que ele tem uma ficha criminal em dois outros Estados também por agressão e tentativa de assassinato. – revelei.
- Como foi que você não percebeu quem era esse sujeito antes disso tudo? Não se trata só de canalhice, ele é um criminoso.
- Quando nos conhecemos ele era uma pessoa maravilhosa comigo. Me tratava super bem, com carinho e cuidado. Como você sempre fazia. – afirmei. – Quando me mudei, senti muito a sua falta e o que tínhamos juntos. – essa afirmação bastou para ele me abraçar e me beijar.
- Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui para você! Nossa história nunca vai acabar, ela será só nossa até o último dos nossos dias. Eu já te disse isso mais do que mil vezes! – disse ele, fazendo alusão ao relacionamento que mantivemos em segredo durante anos.
- Eu sei, você falou! Mas, você é um homem casado agora, sua mulher está esperando um filho seu, a gravidez dela está sendo problemática, você tem outras coisas com as quais se preocupar além de mim.
- Uma coisa não exclui a outra! Você e eu temos a nossa história, intocável, inabalável. Meu casamento e essa nova família não impedem que eu continue te amando da mesma maneira como sempre foi. Você sabe que eu nunca me acostumei com essa ideia de você se mudar daqui, de conhecer outros caras, de se envolver com outro homem. – sentenciou enciumado.
- O que você quer, que eu fique a depender de alguns instantes que você pode se dedicar a mim e ao que sinto por você? Que eu seja o estepe que cobre as tuas necessidades quando a titular não puder fazê-lo? Eu acho que mereço mais do que isso, não acha? – questionei.
- Você não é um estepe! Eu não preciso ficar repetindo o quanto te amo, o quanto te desejo. Já passamos dessa fase. Nosso amor é sólido, e é isso que importa. – ele parecia ainda não ter entendido, mesmo depois das mudanças pelas quais nosso relacionamento passou, de que viver uma vida dupla não fazia parte dos meus planos.
Como a esposa do Rodrigo estava de resguardo e precisava de apoio, ela havia se mudado temporariamente para a casa dos pais, para junto da mãe que a cuidava. Enquanto isso, o Rodrigo fizera o mesmo. Uma negação para se virar sozinho com qualquer afazer doméstico e, envolvido com as demandas da Start Up que criara, ele havia retornado à casa dos pais, até o final da gravidez da mulher. Portanto, meu regresso se configurava providencial para aquele momento da vida dele.
Minha história com ele começou na adolescência, de forma despretensiosa e velada. Seis anos mais velho do que eu, ele deixava o corpo de adolescente para adquirir um corpo de homem. A virilidade imposta pelos hormônios o encheu de músculos, de pelos sensuais que cobriam partes de sua anatomia cada dia mais robustas e másculas, de um comportamento predador e dominante, que ao mesmo tempo se afigurava protetor e provedor, especialmente para comigo. Depois de anos de convívio, nós nos comunicávamos e nos compreendíamos pela simples troca de olhares. Em dado momento, esses olhares começaram a carregar mais do uma genuína fraternidade entre primos, eles expressavam um sentimento ainda insipiente e confuso que crescia dentro de nós. À medida que meu corpo se definia, não de maneira tão viril quanto a dele, mas com uma musculatura sedutora que preenchia o contorno dos braços, das coxas muito lisas, das nádegas voluptuosamente carnudas, e me fazia deixar aquela cara infantil embora não tirasse dela a expressão de ingenuidade e pureza, ele começava a experimentar uma comichão atormentando o cacete volumoso e grosso que tinha entre as pernas. Ao mesmo tempo, o simples cheiro da pele dele, do suor em suas camisetas, do hálito, que a proximidade de sua boca com o meu rosto provocava, me levava a sentir uma quentura crescendo nas minhas entranhas, uns espasmos involuntários que faziam meu cuzinho piscar numa sofreguidão insana. Aqueles toques que antes tinham apenas um quê de brincadeira, agora faziam aflorar um desejo maior, onde nossos corpos pareciam pedir por um contato profundo. O mais despretensioso pousar das minhas mãos nele o levava e ter ereções indisfarçáveis. O mais displicente olhar dele para a minha bunda me afogueava. O que aconteceu naquela noite abafada de verão dentro do carro, quando ele estacionou junto ao píer iluminado que adentrava ao mar próximo a um rochedo, depois de sairmos, de volta para casa, do barzinho onde estivemos com um grupo de amigos foi decorrência natural dessa necessidade de darmos alento ao frenesi que queimava em nossos corpos. Os vidros embaçados de dois outros carros estacionados a certa distância no ermo da areia batida do canto daquela praia, a lua cheia brilhando por entre as aberturas das nuvens em movimento ligeiro e o barulho das ondas batendo contra os pilares do píer nos tiraram da inércia. Quando a mão dele, apoiada no encosto do meu assento tocou minha nuca e a ereção gigantesca saiu pela braguilha aberta acintosamente para que eu notasse, me fez entregar minha boca ao toque quente e úmido dos lábios dele, e fez minha mão se fechar ao redor do cacetão latejante e voluntarioso. Minutos depois, eu saboreava o melzinho translúcido e perfumado que a pica dele vertia, lambendo e sorvendo cada centímetro da verga reta e pesada que segurava na mão. O Rodrigo grunhia, afagava minha cabeleira macia, erguia a pelve fazendo a caceta entalar na minha garganta quase me sufocando. Quando percebi que o líquido translúcido e aquoso se transformou num creme espesso e esbranquiçado que vinha em jatos tão abundantes que me obrigavam a engoli-lo para não engasgar, eu soube que meu primo era o merecedor da minha virgindade. Eu a entreguei a ele pouco depois, quando a madrugada já corria solta. Ele me despira por completo, tocara seus dedos e sua mão na minha pele nua, beijara regiões tão sensíveis que arrancou gemidos lascivos dos meus lábios. Inclinara seu peso sobre mim depois de ter lambido meu reguinho com sua língua úmida e meteu a cabeçorra que estava pincelando sobre as minhas pregas para dentro do meu cuzinho imaculado. Meu grito se sobrepôs ao marulhar das ondas, minha respiração parou por alguns instantes, meu cu dilacerado doía, mas executava movimentos incontroláveis que sugavam aquela rola para as profundezas dele. Sob meus ganidos sensuais o Rodrigo impulsionava a pica e ia me penetrando ao mesmo tempo em que arregaçava minha mucosa que se distendia além do limite do suportável. No horizonte ao longe, uma luminosidade começava a se erguer sobre o mar, enquanto entre urros guturais e estocadas firmes, dolorosas e abruptas, ele despejava todo seu gozo na maciez do meu cuzinho. Selou-se ali não somente o pacto entre nossos corpos, mas também o dos nossos sentimentos. Saímos dali cientes de que nos amávamos, não como parentes, mas como dois homens adultos, um tão macho que se sentia capaz de satisfazer outro mais sensível, mas não menos homem por conta disso. Os anos só foram consolidando esse amor, até se apresentar na vida dele a existência de uma namorada que virou esposa, e na minha o momento de seguir para outro Estado para cursar a faculdade.
Eu havia me deitado há pouco mais de duas horas achando que, o agito dos dias precedentes e o fato de finalmente estar num lugar onde pudesse me sentir bem, me fizesse adormecer logo. De fato, eu cochilava, mas o sono propriamente dito não vinha. Foi quando o Rodrigo entrou no quarto e se enfiou comigo debaixo do lençol. Acho que meu subconsciente até já esperava por isso, devido aos antecedentes do nosso relacionamento. Toda vez que se sentia carente, tanto emocional quanto sexualmente, o Rodrigo adotava esse comportamento, semelhante ao de um gato que vem se esfregar nas pernas do dono pedindo carinho. Não consegui conter o riso. Ele era a própria encarnação do felino. Só de cueca, onde eu tinha a certeza de haver uma ereção em curso, ele se alojou nas minhas costas, cuidando de encaixar-se perfeitamente às curvas do meu corpo e, sem nenhuma cerimônia, passando o braço sobre a minha cintura.
- Está dormindo? – ronronou, mais uma vez imitando a atitude felina. – Do que está rindo?
- De você!
- O que eu disse ou fiz de tão engraçado?
- Nada! E, tudo!
- Não entendi!
- Sua previsibilidade é espantosa. Por que será que não me espantei nem um pouco com essa sua aparição à qual você quer dar ares de casual?
- Dei tanta bandeira assim?
- Oh, não! Sua discrição chega a ser impressionante com esse bagulho enorme roçando minha bunda. – respondi risonho
- Que culpa eu tenho de sentir tanto a sua falta? Sabe a quantas semanas eu não transo? – perguntou ele.
- Faço uma ideia! Nem sei como sobreviveu à tanta penúria!
- Isso, debocha! Tripudia! Não sabia que você tinha se tornado tão insensível. – devolveu amuado.
- Acha mesmo que me tornei insensível? Que não reparei como você ficou me secando desde que cheguei esta manhã? Vem cá, meu ursão carente! Eu vou te mostrar como sou insensível. – no mesmo instante, surgiu um sorriso largo naquele rosto viril que sempre teve a capacidade de me deixar com um tremendo tesão.
Virei-me de frente para ele e, descendo lentamente a mão da barriga para dentro da cueca, peguei aquele cacetão e o puxei para fora. Dava para sentir os pinotes que o faziam crescer entre os meus dedos. Por uns instantes, fiquei brincando com ele, acariciando, dando puxadinhas de leve, deslizando os dedos para dentro dos pentelhos e depois ao redor do sacão, apalpando e sentindo a consistência dos colhões ingurgitados. Ele me encarava com aquele olhar cobiçoso, uma mistura de safadeza e paixão, sabendo que seus dias de míngua tinham terminado com a minha chegada. Quando comecei a sentir o pré-gozo empapando minha mão, comecei a depositar uma carreira de beijos que não passavam de um tênue toque dos meus lábios sobre o caminho de pelos que ia da barriga dele até os densos pentelhos que circundavam seu sexo prodigioso. Ele deixava escapar gemidos contidos, tentando controlar o tesão que aquilo lhe causava. O ar lhe escapou entre os dentes como um sibilo rouco quando eu coloquei a cabeçorra na boca e a lambi, movendo a língua carinhosamente sobre a mucosa sensível da pica. Só então, me dei conta de quanta saudade eu sentia do sabor amendoado daquele sumo que fluía abundante da caceta dele. Chupei-o com afinco, fazendo-o contorcer-se e grunhir com o tesão crescendo entre a virilha. Para não gozar, ele tirava apressadamente a rola da minha boca, para em seguida, sob esforços hercúleos para manter o controle, voltar a guiar minha cabeça para junto de seu sexo.
- Você sempre soube do que eu precisava, Marcelo! Sempre me entendeu mais do que eu mesmo me entendo, sempre cuidou das minhas necessidades de macho como ninguém mais. Te amo tanto, meu priminho tesudinho! Tanto que você não faz ideia do quanto! – gemia ele
- É? E o que você acha que eu sinto por você, meu ursão?
- Você me ama! – exclamou, tomando meu rosto entre as mãos e me beijando alucinadamente.
Eu montei nele, fui beijando e lambendo a borda da mandíbula, desci para o pescoço, segui rumo à orelha, mordisquei-a enquanto sussurrava que estava feliz por estar nos braços dele. Ele apalpava e apertava minhas nádegas, tinha arriado minha cueca e apoderava-se da nudez aveludada da minha bunda, tinha levado um dedo indecente à portinha do meu cu, rodopiava-o ao redor da fenda piscante e o insinuava entre as preguinhas saltadas. A lembrança de que elas ainda estavam muito sensíveis e machucadas não impediu que o tesão fosse crescendo dentro de mim, agitando minhas entranhas, provocando espasmos que se espalhavam por toda a pelve. Com a pica completamente dura, ele a bolinava dentro do meu rego apertado, tentando enfia-la no meu cuzinho. Espalmei as mãos sobre o peito dele, ergui as ancas que ele segurava entre as mãos e sentei sobre a verga, deixando escapar um ganido assim que a cabeçorra trespassou os esfíncteres dilacerando novamente as preguinhas já rotas. Para aplacar a dor que estava sentindo e, antes de juntar coragem para deixar que toda aquela jeba me penetrasse, eu me inclinei na direção do rosto dele e o beijei. Seus beijos tinham a capacidade de me nutrir, de injetar em mim um ânimo ferrenho, de fazer com que eu me rendesse aos seus caprichos e à sua sanha predatória. Deixei o peso da minha bunda cair lentamente no colo dele, o que fez com a pica deslizasse para as profundezas do meu cu. Ele pulsava selvagem e ganancioso nas minhas entranhas, pronto a me devorar por inteiro. Suas mãos haviam migrado da cintura para os meus mamilos, ele os apertava, puxava os biquinhos aprisionados entre seus dedos enquanto erguia as ancas e me estocava a pica no cu, num vaivém descontrolado. Eu gemia, sussurrava espaçadamente seu nome e deixava que o deleite prazeroso sobrepujasse a dor numa entrega plena. Dominado pelo tesão que mal conseguia controlar, ele girou comigo de modo a ficar em cima de mim, puxou meus joelhos até seus ombros o que franqueou meu cuzinho ainda mais à sua tara. Sem desviar o olhar do meu rosto e do meu olhar devoto, ele me estocava cada vez mais fundo e mais acelerado. Em meio ao prazer que a posse cabal lhe proporcionava ele já não controlava os movimentos impetuosos de sua pelve, ela já se preparava para o gozo e dava ritmo próprio às contrações de sua virilha. O Rodrigo apenas garantia que rola estivesse toda atolada em mim para assegurar que os jatos que eclodiram com a mesma intempestividade de um gêiser me galassem por inteiro. Meu ganido e seu urro entraram em consonância revelando que ambos havíamos chegado ao limite do prazer, ao clímax supremo da satisfação. Puxei-o para mais junto de mim e o cobri de beijos, enquanto a porra morna e pegajosa escorria pelas minhas entranhas encharcadas. Nenhum dos dois tinha a menor dúvida de que as noites que se seguiriam seriam desfrutadas da mesma maneira, com trocas de carícias e sexo; ao menos até ser chegada a hora de eu voltar para a faculdade dentro de algumas semanas.
César, o homem do acidente, não saía da minha cabeça. Havia uma necessidade inexplicável de eu saber como ele estava, uma inquietação pelo bem-estar dele que ia além da curiosidade médica que já fazia parte da minha índole. Como eu obtivera a informação de que ele seria transferido para um hospital da cidade, no dia seguinte, fui procurar notícias dele.
Houve certa resistência para me darem informações sobre o estado clínico dele. Contudo, depois de explicar que fui eu quem testemunhei o acidente e acionei a polícia rodoviária, uma gerente a da recepção permitiu minha entrada. O César permanecia na UTI, em coma induzido, à espera de uma regressão para que fossem programadas as cirurgias ortopédicas. Tive um breve acesso ao leito dele quando do horário de visitas, e pude tirar uma porção de informações com o médico plantonista, que não se negou a me dar todas as explicações quando soube que seríamos colegas de profissão num futuro próximo.
- Você é o primeiro a perguntar por ele, sabe de onde ele é e se tem como entrarmos em contato com algum parente? O serviço social vem tentando a dias encontrar alguém da família. – disse o médico.
- Não sei absolutamente nada sobre ele. Eu presenciei o acidente e não tive mais acesso a ele depois disso. A única informação que obtive foi de que ele seria transferido para cá. – esclareci.
- Entendo! Nos documentos e pertences que foram entregues pela polícia, só encontramos um endereço, mas ao que parece, não foi encontrado ninguém no local. Bem, o serviço social precisa continuar procurando.
- Posso visita-lo todos os dias para saber da evolução?
- Claro! Vou deixar seu nome na recepção.
No quinto dia fui informado de que as cirurgias aconteceriam no dia seguinte, pois o edema cerebral havia cedido e o paciente estava apto a enfrentar o procedimento. Embora eu ficasse esperando por longas horas pelo fim da cirurgia para obter notícias, naquele dia não tive acesso ao César. Já no dia seguinte, encontrei-o desperto pela primeira vez. Ainda estava na UTI, mas iam transferi-lo para um quarto no dia seguinte. Ele verbalizou apenas alguns balbucios devido à medicação, mas me encarava sem conseguir entender quem eu era e o que estava fazendo ao lado do leito dele. Antes de deixa-lo naquele dia, disse que voltaria amanhã e lhe dirigi um sorriso amistoso. Ele devolveu o sorriso, um pouco torto e desengonçado, mas mesmo assim genuíno. Até tamborilei o volante com as pontas dos dedos enquanto dirigia para casa após a saída do hospital. Havia uma felicidade ardendo em meu peito, como se a melhora dele estivesse indicando que aquela história caminhava para um final feliz.
- Que tanto você visita esse sujeito do acidente? Por acaso sabe alguma coisa sobre ele? É meio estranho você estar tão empenhado na recuperação dele, não acha? – questionou o Rodrigo, incomodado com a frequência daquelas minhas visitas ao hospital, assim que estávamos a sós no quarto.
- Quero saber como ele está, se vai melhorar! Soube que ainda não encontraram ninguém da família dele. E, só hoje, eu soube que a mulher que faleceu no dia do acidente era uma amiga do casal e que a família tinha ido reconhecer o corpo no IML da cidade. – respondi.
- E como é esse cara?
- Como assim? É um cara, só isso. Não sei nada dele!
- Tá, só um cara! Um cara daqueles que te deixam assanhado?
- Ah, já entendi! É a velha ciumeira do Rodrigo fazendo esse interrogatório. Está explicado. – respondi
- Que ciumeira o que! Só acho esquisito você se preocupar tanto com ele, se não o conhece. – devolveu ele, fazendo bico.
- É só uma curiosidade natural! Curiosidade médica, só isso! – asseverei
- Então por que é que eu tenho a impressão de que essa coceira na minha testa é uma galhada crescendo? – eu cai na risada, a cara patética do Rodrigo e aquela suspeita infundada eram hilárias.
- Porque você é um bobão, só por isso! Eu colocando chifres na sua testa, de onde você tira esses absurdos?
- Do receio de você entrar noutra fria como aconteceu com o Olavo! É demais eu me preocupar com esses sujeitos pouco confiáveis que você arranja para se envolver?
- Não, não é! Sei que você se importa comigo, mas eu nem conheço o cara, quanto mais me envolver com ele.
- Tá, posso ter exagerado um pouco! Mas, estou de olho! – voltei a rir.
- Sabe com o que você deveria estar preocupado? Com isso aqui. – retruquei, deixando cair a toalha de banho que estava enrolada na minha cintura e empinando minha bunda na virilha dele, enquanto puxava seus braços ao redor do meu tronco e inclinava a cabeça em seu ombro. Tudo com o que ele andava encucado sumiu como que por encanto. Minutos depois, eu estava debruçado de quatro sobre a cama enquanto ele, em pé, movimentava o caralhão sedento num vaivém frenético no meu cuzinho.
Acho que foi o papo com o Rodrigo que me induziu a observar mais detalhadamente aquele homem que dormia quando cheguei ao quarto para o qual ele havia sido transferido no dia seguinte, durante o horário de visitas. Fui informado pela enfermagem que podia ficar no quarto pelo tempo desejado, pois não havia restrição a acompanhantes.
Ele ocupava praticamente toda a cama, tinha um pé saindo debaixo do lençol que o cobria, pelo tamanho, devia calçar 44/45, o que fazia jus ao corpanzil cujo contorno se amoldava abaixo do lençol. Os artelhos eram grossos e grandes, revelando uma ossatura larga e bem estruturada. Eu devia ter fugido daquele rosto anguloso que dormia feito uma criança inocente e, ao qual, uma barba crescida, acrescentava uma virilidade excitante. Porém, eu o observava em silêncio, meio hipnotizado por ele. Achei que devia ter uns 30 anos, ou algo em torno disso. Era um homem lindo, não havia o que contestar. Quanto mais eu olhava para os detalhes daquele rosto, mais rápido pulsava meu coração. Que tolice, pensei em dado momento, quando me propus a desviar os olhos da tranquilidade expressa nele. Mas, não consegui. Subitamente, junto com um inspirar mais forte, um par de olhos cor de âmbar começou a se abrir com uma lentidão pesada. Meu rosto ficou da cor de um pimentão quando ele os fixou em mim, constatando minha presença. Com a boca seca, fiquei pensando no que ia dizer, que desculpa ia dar para justificar a minha presença, um desconhecido que parecia estar sempre ali cada vez que ele abria os olhos.
- Oi! Você! – balbuciou ele.
- Eu? Eu quem? Quem ele pensava que eu era?
- Você é médico? Ou enfermeiro? É você quem está cuidando de mim? – ele imaginava que eu era alguém do hospital.
- Não! Eu... eu... – por que raios aquilo estava sendo tão difícil? É só dizer quem sou, simples assim!
- Estou com a boca seca! – balbuciou ele
- Consegue erguer um pouco a cabeça para não se engasgar? – perguntei, elevando um pouco a cabeça dele com uma das mãos enquanto lhe colocava um copo de água nos lábios. Ele o tomou numa talagada só. – Sente alguma dor, algum desconforto? – perguntei, quando ele voltou a reclinar a cabeça sobre o travesseiro.
- Não! Só sinto minha perna meio presa ou pesada, sei lá! – respondeu
- Foi onde colocaram placas e parafusos para reduzir as fraturas. – esclareci. – É bom que a mantenha imobilizada.
- Qual seu nome? – é agora, pensei. É a hora de contar quem você é.
Ele me ouviu sem interromper, à medida que eu relatava cada detalhe do acidente e do que aconteceu depois, ele ficava cada vez mais estarrecido.
- E foi isso! – exclamei ao final do relato. – Lamento por sua esposa e por sua amiga! – isso eu não devia ter deixado escapar, pelo que vi logo em seguida.
- Minha esposa? Eu não sou casado! – exclamou ele, me encarando como se eu estivesse delirando.
- A mulher com o mesmo sobrenome que o seu. A polícia me disse que era sua esposa. – esclareci, para não parecer um maluco.
- É minha irmã, por isso temos o mesmo sobrenome. Como ela está, e a amiga dela que viajava conosco? – por que tinha que ser eu a estar ali? Ele não sabia de nada. Não era minha função dar esse tipo de notícia para um cara que acabara de voltar de um estado comatoso e a ter sua consciência recobrada.
À medida que eu contava o que sabia, os olhos dele foram de marejados e um choro pungente. Abalado com a perda da irmã ele olhava ao seu redor, para teto e paredes, tentando assimilar toda a tragédia. Do meu rosto desciam grossas lágrimas que pingavam sequencialmente do queixo, quando vi toda aquela dor estampada no rosto dele e, aquela sensação de desamparo ganhando força. Tomei sua mão entre as minhas e a acariciei por uns segundos. Quando ele se inclinou para frente, abracei aquele tórax imenso que soluçava em meus braços e o apertei contra o peito. Era tudo o que eu podia fazer por ele.
Desde que o César estava mais acordado, eu ficava praticamente o dia todo na companhia dele. Descobri que ninguém havia encontrado familiares no endereço que dispunham por se tratar do endereço da casa dos pais e, que estes estavam visitando um irmão dele que morava nos Estados Unidos. Eles estavam a caminho da casa dessa amiga de sua irmã que também falecera no acidente, pois ambas trabalhavam na mesma empresa e estavam em férias. Elas o haviam requisitado como motorista, uma vez que também não tinha planos para aqueles dias. Foram os parentes dessa amiga que trataram do sepultamento da irmã, na falta de alguém da família. Ele não se lembrava de como se deu o acidente. Só sabia que estava dirigindo sob aquele temporal e que a sequência de curvas na estrada o estava deixando tenso devido à baixa visibilidade que a noite escura impunha. Lembrava-se apenas de estar seguindo numa velocidade até abaixo da permitia, uma vez que as condições estavam muito ruins. Não se lembrava de numa carreta, de nenhuma batida em outro veículo, muito menos de ter mergulhando numa ribanceira. Só se lembrava de ter visto meu rosto ao abrir os olhos; quando exatamente, ele não podia afirmar.
- Eu estou aqui ao seu lado. Vou estar pelo tempo que precisar. Vou cuidar de você! – ao ouvir minha última frase pensei, que tipo de maluquice você está prometendo? Perdeu a noção.
- Ainda não sei seu nome.
- Marcelo! – respondi com um sorriso carinhoso e, ao mesmo tempo, tão bobo que eu próprio senti vergonha.
- Você sempre fica ruborizado assim quando se apresenta para alguém? – tome babaca, ele já sacou que você se sente encabulado diante dele. Não respondi, minha cara de sonso falava por si. De qualquer forma, ele parece ter gostado, porque esboçou um sorriso discreto, o primeiro que vi naquele rosto.
Questionei-o dias depois sobre o fato de até então seus pais ignorarem totalmente o que lhes acontecera e, se ele não queria fazer isso, através do meu celular.
- Meus pais sonharam tanto com essa viagem que prefiro não estragá-la. Não há nada que possam fazer, minha irmã se foi e eu estou aqui sendo cuidado. Quando regressarem já devo ter saído do hospital e voltado para a minha casa, é quando vou contar tudo o que aconteceu. – disse ele, muito resoluto de suas intenções, para as quais algumas ponderações de minha parte não conseguiram demovê-lo.
Por duas semanas a perna dele ficou atada a uma tala tracionadora de Buck, restringindo-o ao leito e, portanto, dependente dos cuidados de enfermagem para tudo. A higiene no leito sempre era feita em dupla, sendo um deles um enfermeiro, pois mover aquele corpanzil musculoso com mais de 110Kg não era tarefa fácil. No mais das vezes, eu também me embrenhava na tarefa tentando facilitar o trabalho da enfermagem. Foi somente durante esses procedimentos que passei a notar que não eram apenas suas pernas, seus braços, seu tórax que eram gigantes, mas também o falo retão e pesado, cuja maior façanha consistia em me deixar tímido e pudicamente acanhado. Eu não era nenhum virgenzinho inocente e impressionável diante de um caralho, até porque, tinha grande familiaridade com o do meu primo, que de discreto não tinha nada com seu mais de um palmo de comprimento, bem como o do crápula do Olavo que nos últimos tempos tinha se valido do dote avantajado para perpetrar torturas ao meu cuzinho. E, mais recentemente, com a jeba grossa e cabeçuda do Moreira, mesmo que por apenas dois coitos. Contudo, o cacete do César era cavalar, fenomenalmente gigantesco e, tão ou mais grosso do que uma latinha de energético. Só de olhar para aquela benga eu me intimidava, imaginando o estrago que aquilo faria ao entrar num cuzinho. Embora gays costumem verbalizar que sonham com uma jeba colossal, na prática e, para a maioria deles, é inviável levar uma vara muito grande no cu, já que a capacidade de distensão de um cu é inúmeras vezes menor do que a de uma buceta que, mesmo tendo sido pouco usada, logo apresenta as diástases das fáscias musculares, deixando-as alargadas e mais flácidas, o que faz com que muitas mulheres procurem por cirurgias íntimas na tentativa de rejuvenescer a tchaca. E, eu já tinha sentido na pele, ou melhor, nas preguinhas, o que cacetes avantajados eram capazes de arruinar.
Por não poder ir caminhando até o banheiro, o mero pedido de – Pode me ajudar a colocar o papagaio? Preciso urinar! – me deixava em sobressaltado, sabendo que não só tinha que encarar aquele bagulhão, como tinha que posicioná-lo na entrada do papagaio.
- Nunca conheci um médico com medo de uma pica! – exclamou ele, enquanto eu, ruborizado até a alma, posicionava a dele para que pudesse urinar.
- Não sou médico! Ainda! E, para tudo sempre há uma primeira vez! – devolvi encabulado por ele estar se divertindo com o meu embaraço.
- Mas vai ser dentro de alguns meses! Já devia estar acostumado com a anatomia humana. – retrucou ele, tentando segurar o risinho debochado.
- Engraçadinho! Não tenho problema algum com a anatomia humana, mas quando ela vem se assemelhando à equina ou bovina, eu tenho que questionar meus conhecimentos, afinal, não estou estudando medicina veterinária. – afirmei. Ele riu. – Se nessas condições em que se encontra você consegue fazer piada e tirar sarro da gente, imagino o que não faz quando está em pleno domínio de suas energias.
- Não está a fim de descobrir? Posso te surpreender! – devolveu jocoso.
- Vou pensar no seu caso! Por hora, vê se termina com isso aí! – exclamei, diante do papagaio praticamente transbordando.
Os dias iam passando, ele melhorava numa rapidez impressionante, ia recobrando não só a alegria como a disposição. Os dias seguidos passados junto dele me fizeram ver que o César era um cara com muitas qualidades, era divertido, era boa gente, era expansivo e, com absoluta certeza, não tinha nada contra gays. Ele jogava verde para ver se colhia maduro, me sondando, sem, contudo, ser objetivo, procurando se certificar sobre a minha sexualidade. Eu me esquivava das armadilhas camufladas em suas frases, o que estava me parecendo não estar tendo os resultados que eu esperava.
- Seu namorado não se importa de você ficar cuidando o tempo todo de outro homem? – foi a pergunta que soltou de supetão, quando percebeu que, sem usar de objetividade, não conseguiria arrancar nada de mim.
- Meu namorado. Que namorado? Quem disse que eu tenho um namorado, seu abusado?
- Se não tem, deveria ter! E, aonde foi que você aprendeu a ser tão carinhoso com outro homem? – insistiu
- É sério que você quer esse tipo de conversa comigo? Volte a prestar atenção no jogo que eu estou prestes a te encurralar com a maior moleza. – respondi, tentando fazer com que ele voltasse a se concentrar no game Free Fire que disputávamos no celular. Ele fingiu aceitar uma trégua, mas eu sabia que ela não duraria muito.
Apesar da saia justa, eu me sentia atraído por ele. Tinha quase certeza que ele não estava mais nas desconfianças a respeito da minha sexualidade, mas que já sabia dela, estava apenas esperando ouvir da minha boca que eu era gay. O que ele queria com isso? A cada dia ficava mais difícil escapar do cerco dele. Cheguei a cogitar de abrir o jogo de uma vez, mas receei que depois disso surgisse um clima entre a gente que poria fim àquelas minhas visitas prolongadas e diárias que estavam me fazendo tão bem. Não era a excitação do meu cuzinho quando aquele corpão másculo ficava sem a camuflagem do lençol que me deixava tão interessado nele, embora meus esfíncteres andassem cheios de desejos libidinosos, mas aquela inquietação que fazia meu coração disparar toda vez que aquele olhar envolvente se fixava demoradamente em mim.
As sequelas do meu relacionamento abusivo com o Olavo ainda estavam bem presentes, me lembrando a toda hora, que a prudência era a única maneira de eu não voltar a entrar numa fria. Havia também a questão com o Rodrigo. Voltarmos a viver sob o mesmo teto, tinha reacendido o que eu sentia por ele. Nem o fato de ele agora estar casado e esperando o primeiro filho, parecia ter importância quando sentia seu falo pulsando indômito no meu cuzinho. Portanto, em meio aquele turbilhão que estava vivendo, distinguir exatamente o que estava sentindo pelo César era confuso. Atração física, sem dúvida. Que macho como ele não deixa um gay alucinado? Sentimentos mais profundos, de natureza amorosa, talvez. Que garantias eu tinha de ele sequer cogitar em se envolver nesses termos comigo? Nenhuma. Sendo assim, melhor deixar o tempo correr. Se algo tiver que acontecer entre nós, que os fatos o concretizem.
O César teve alta poucos dias antes do meu regresso para a faculdade. Senti um nó no peito quando ele me abraçou com força e me agradeceu pelos dias que passei cuidando dele. Fizemos promessas de nos encontrarmos em breve, pois havíamos descoberto que moráramos em bairros próximos. Após tê-lo deixado no aeroporto, dirigi para casa com um sentimento sombrio a me atormentar. Temia nunca mais reencontrá-lo.
- Você se apaixonou por esse sujeito, não foi? – questionou meu primo naquela noite, quando eu disse que não estava a fim de transar.
- Não diga bobagens! Onde já se viu eu me apaixonar por um cara só porque o vi algumas vezes? – questionei.
- Partindo de você não seria nenhum espanto! Depois, você não desgrudou dele por seis semanas inteiras.
- Óbvio, ele estava sozinho num hospital e numa cidade estranha depois de um acidente trágico, o mínimo que eu podia fazer era ser solidário. – justifiquei
- A quem você quer enganar? Eu pude notar o jeito que você ficava quando o cara te encarava como se você fosse um pedaço de picanha. Aposto que se não fossem aqueles pinos recém instalados na perna dele, ele teria te enrabado em cima daquela cama de hospital sem o menor constrangimento. – afirmou o Rodrigo enciumado
- Você já reparou que, qualquer homem que troca duas ou três frases comigo para você já é um cara que está a fim de enrabar? – questionei
- E estão mesmo! Vai por mim, eu sei do que estou falando. Os caras veem essa bunda e não pensam noutra coisa que não seja enfiar os cacetes deles dentro dela. Mete uma coisa na tua cabeça, Marcelo, não sou só eu, que sou seu primo, que te acha um tesão. Todo macho hétero, 100% ativo, quando se depara com uma bunda como a sua, com um corpão como o seu, com essa carinha de bom moço, não consegue controlar o tesão na pica, e começa a se cogitar se é realmente só de bucetas que ele gosta ou se um rabão como o seu não seria uma experiência excitante. Esse seu novo amiguinho é um deles, boto a minha mão no fogo! – eu geralmente desconsiderava a opinião do Rodrigo, pois sabia como ele era possessivo e dado a ter ataques de ciúme desde que me descabaçou.
- Não vou mais discutir isso com você! Se eu for dar ouvidos a toda essa ciumeira vou acabar maluco. – ele rosnou sua contrariedade, virou para o outro lado e precisou se contentar apenas com o beijo que coloquei no ombro desnudo dele.
O período passado na casa dos meus tios, apesar de representar uma calmaria, ainda não tinha apagado todos os traumas da separação do Olavo, nem os momentos de terror vividos naquele restaurante de beira de estrada. No entanto, a vida tinha que seguir. Eu tinha um último semestre atarefado na faculdade para concluir.
Ao entrar na minha casa, um calafrio percorreu minha espinha, a cena do Olavo me enrabando violentamente e a surra que se seguiu voltaram a minha mente, tão nítidas quanto no dia em que ocorreram. Minha primeira providência foi ligar para o delegado que tinha efetuado a prisão dele, e perguntar se ele continuava preso, pois temia que a impunidade da justiça já o tivesse liberado e ele pudesse voltar a me procurar. Mesmo ele me confirmando que o Olavo continuava preso, apesar das tentativas dos advogados de conseguirem sua soltura, eu redobrei os cuidados. Em qualquer sombra eu já via a cara furiosa do Olavo pronto para dar cabo da minha vida, conforme uma de suas últimas frases.
Também continuava pensando no César, se havia se recuperado, se tinha retomado sua vida, se ainda se lembraria de mim depois de algumas semanas. Nossa despedida deixou um vazio no meu peito, uma sensação de que aquele homem precisava dos meus cuidados, dos meus carinhos, do meu amor. Tudo isso certamente só estava na minha cabeça, na minha eterna necessidade de ter um macho ao meu lado. O César era a personificação do macho ideal, daquele homem que tanto mulheres quanto gays sonham poder construir uma vida em comum.
As semanas iam passando, eu mal tinha tempo para respirar, mas aquela ligação que ele havia me prometido quando nos despedimos no aeroporto, não acontecia. Até eu me esquecer dela, e já a ter relegado ao rol de promessas vãs feitas no calor e no entusiasmo desses encontros da vida. Por mais intensa que me tinha parecido ser a cruzada dos nossos destinos, tudo podia não ter passado da carência pela qual estava passando. Depois de alguns meses, nem eu mesmo acreditava num reencontro. Não o esqueci, pois isso talvez nunca fosse acontecer, mesmo após décadas; mas ele já não fazia mais parte constante dos meus pensamentos, talvez até aquele deslumbramento inicial por ele, estivesse se apagando em meu peito.
O sujeito atrás de mim dando flashes de luz com os faróis, buzinando como se com isso fosse desafogar o trânsito que avançava aos solavancos da rua estreita para a qual o GPS havia me guiado enquanto eu mesmo, meio que perdido, procurava pelo número do edifício onde morava uma amiga que havia combinado comigo de ir assistir a uma peça de teatro, estava me dando nos nervos. Imbecil do cacete, vociferei comigo mesmo, será que ele não está vendo que está tudo congestionado? Para completar, a mulher que seguia à minha frente, subitamente resolveu estacionar para que a que estava no banco do passageiro descesse; o que ela fez sem a menor pressa escancarando a porta para o leito carroçável e se despedindo da outra como se estivessem na sala de visitas de suas casas. O sujeito perdeu as estribeiras, buzinando feito um alucinado, ele saiu de trás de mim com uma manobra brusca atirando o carro para a direita tentando a ultrapassagem num espaço tão exíguo onde nem metade do carro dele passaria. A colisão com o meu para-choque sacudiu o carro e o empurrou de encontro ao da mulher, enquanto o som oco e de estilhaços se esparramando chegava a mim. Ele desceu do carro espumando de raiva, veio se aproximando da minha janela aos berros proferindo palavrões na mesma intensidade de sua ira. Acautelei-me antes de descer do carro, pois o sujeito era enorme e dono de músculos que por si só já intimidavam, e estava imbuído do propósito de arrebentar tudo o que estava pela frente. Ele estava a dois passos da minha janela quando – não, não consigo acreditar no que estou vendo, me belisca – o César estancou no instante em que me reconheceu. A raiva de seu semblante desapareceu e fez surgir um sorriso doce e amistoso.
- Marcelo! Não acredito, é você, Marcelo! Graças a Deus minhas preces foram atendidas, eu te reencontrei! – parecia que ele ia explodir de tanta alegria. Eu ainda estava estarrecido e meio travado devido a surpresa.
- César! – meu peito palpitava feliz, mas incrédulo. Era ele mesmo, ainda mais lindo do que eu imaginava.
O buzinaço e os palavrões enchiam a rua atraindo os olhares curiosos tanto de quem circulava pelas calçadas quanto dos ocupantes dos estabelecimentos. A mulher desceu do carro histérica e veio tirar satisfações. Por uns minutos eu esqueci o que tinha vindo fazer ali, a pressa do César terminou, e agora éramos nós a aumentarmos o nó no trânsito daquele quarteirão. Eu só conseguia olhar para ele, esqueci até de descer do carro, foi ele quem tentava abrir minha porta para que descesse. – Destrave as portas – disse ele, percebendo que eu não estava atinando com nada. Ele praticamente me puxou para fora, direto em seus braços e me comprimiu o tórax com tamanha força que ficou difícil respirar.
- Marcelo, Marcelo! – repetia sem parar, como se ele próprio não estivesse acreditando que me tinha em seus braços.
- Não viu que eu estava estacionada, seu idiota? Colisão traseira é sua culpa! Vou ligar para o meu marido e você vai ter que se entender com ele. Onde já se viu, com tudo parado bater num carro estacionado? Não aprendeu a dirigir não, seu moleque? – despejava irritava a mulher, que nem eu nem o César estávamos preocupados em ouvir.
Ela continuou esbravejando, cada vez mais irritada, ao perceber que não estávamos prestando atenção ao seu queixume. Eu só pensava e me deixava embalar pelo calor daquele corpão que me mantinha preso a ele. Admirava embevecido, como se nunca o tivesse visto, aquele rosto viril que tinha o mais belo sorriso desse mundo. O César parecia estar passando por algo parecido, pois não desgrudava os olhos de mim, hipnotizado pela expressão de incredulidade dos meus.
- Que palhaçada é essa? Dá para parar com essa viadagem e me explicar por que bateu no meu carro? – questionava a desequilibrada.
- Antes que eu me esqueça, vá à merda, sua cadela histérica! – bradou o César ao me soltar. Subitamente a mulher perdeu o rebolado, estava pasma com o que acabara de ouvir.
- Já chamei meu marido, repita a ele o que acabou de me dizer, se for homem! – devolveu ela.
- Chame o papa se quiser, vagabunda do caralho! – a ira da qual estava tomado antes da colisão estava sendo posta para fora agora, sobre aquela infeliz.
Uma viatura da Companhia de Engenharia de Trânsito acabava de chegar com dois agentes. A mulher agarrou um deles pelo braço e quase o arrastou para junto do carro para mostrar os danos causados ao veículo. Pela cara do sujeito, ele estava pouco se lixando para a lanterna traseira quebrada e para o para-choque rachado. Sem muita paciência, ele a interrompeu bruscamente.
- Por que seu carro está quase atravessado na pista? – questionou o agente.
- Eu estacionei para deixar minha amiga aqui descer. – sentenciou ela, achando que estava coberta de razão.
- Estacionou? É isso que eu ouvi, no meio-fio rebaixado, debaixo de uma placa de proibido estacionar, com as rodas sobre a calçada e bloqueando o tráfego? – à medida que ele a indagava, ela foi ficando sem reação. Um – É – pronunciado sem a mesma petulância com a qual nos destratou saiu quase surdo de sua boca.
- Foi essa a causa da colisão! – afirmei tranquilamente, quando o agente se voltou para mim.
- Não foi, não! Ele bateu na minha traseira, é culpa dele, qualquer motorista sabe disso. – berrou a mulher para o agente.
- Podem me fornecer seus documentos, por favor? – pediu o agente. Prontamente o César e eu lhe entregamos os nossos enquanto ela vasculhava desesperadamente a bolsa à procura dos dela.
- Acho que esqueci os meus em casa. – soltou ela, mansinha como uma chinchila.
Após registrar a ocorrência, o agente nos dispensou ao devolver os documentos, enquanto colocava uma multa nas mãos da mulher por estacionar sobre a calçada e em local proibido, dirigir sem a habilitação e os documentos do veículo, e dando ciência a ela de que o carro seria rebocado para um pátio onde ela poderia retirá-lo assim que apresentasse a documentação e quitasse as taxas devidas. Não consegui segurar o riso diante da cara embasbacada da mulher, que agora estava arrumando confusão com o agente, já no limite de sua paciência com aqueles gritos histéricos.
Havia me esquecido por completo da minha amiga. Ao retornar ao carro havia inúmeras ligações dela questionando sobre meu paradeiro. Pelo horário, nosso teatro já tinha dançado. Eu explicava, por alto, o que havia acontecido com o César ao meu lado na entrada de um estacionamento das redondezas.
- Desculpe ter estragado seu encontro! – exclamou ele, quando desliguei – É a namorada? – perguntou tímido.
- Uma amiga, apenas uma amiga! – respondi. – Por onde andou? Ao que parece o destino nos empurra um para o outro em situações bastante tumultuadas. – acrescentei.
- Só posso louvar essas circunstâncias! Perdi o papelzinho onde anotei seus contatos naquele dia no aeroporto, também fui a todas as faculdades de medicina da cidade para ver se te encontrava, mas não consegui. Estava me preparando para fazer o mesmo em cada hospital dessa cidade. Mal posso acreditar que você esteja ao meu lado novamente, caído do céu! – afirmou ele.
- Pensei que tinha me esquecido! – retruquei tímido. Ali não era o momento de confessar que tinha morrido de saudades dele, que esperei ansiosamente pela ligação dele, que nutri por meses a esperança de ele voltar e dizer que queria namorar comigo. Ele ia pensar que eu era um bobalhão romântico.
- Esquecer você! Me diz como se consegue isso!
O César quis me recompensar pelo programa perdido sugerindo um chopp num barzinho que ele havia descoberto há pouco e no qual afirmou que poderíamos colocar a conversa em dia com muita tranquilidade e privacidade. Dava para ler no olhar dele que esse chopp seria apenas o trampolim para suas reais intenções, finalmente experimentar o potencial da minha bunda carnuda e quase obscenamente sensual, uma vez que agora ele não mais padecia de nenhuma debilidade que lhe restringisse as forças. Durante todo o tempo que fiquei com ele no hospital ele chegou à conclusão que toda aquela dedicação despretensiosa, os cuidados conduzidos com desvelo e carinho constituíam prova mais que contundente do meu interesse por sua virilidade máscula, não deixando margem para a evidência de eu ser gay. Ele nunca teve nenhuma inclinação para estreitar laços com os gays com os quais teve contato ao longo da vida, mas não conseguiu ignorar o que havia de belo e atraente no meu corpo e no meu modo de ser. Ainda no hospital, ele avaliou uma transa comigo como uma experiência inédita, talvez até a descoberta e um prazer diferente daquele que tivera com mulheres, uma vez que já ouvira diversos comentários no sentido de que o sexo com gays tinha infinitas possibilidades de um prazer sem consequências, de sensações no cacete que só um cuzinho apertado era capaz de provocar e que nem de longe podiam ser comparadas com os de uma buceta cuja grande elasticidade jamais se equiparava à estreiteza de um cuzinho agasalhando firmemente a pica do macho. Ao me ter agora tão próximo, com toda aquela beleza e jovialidade, com aquele sorriso ligeiramente tímido e misterioso, aquele par de olhos que pareciam enfeitiçados pelo seu corpo viril e aquelas mãos geladas que tremiam entre as dele; que porém, ele sabia serem quentes, macias e delicadas quando seguraram sua rola junto ao papagaio para que pudesse mijar quando esteve internado, ele só conseguia pensar no meu cuzinho recebendo com a mesma generosidade o caralho que pretendia enfiar nele.
Eu quase podia ler o que se passava na mente dele, o que me deixou repentinamente inseguro e temeroso. Eu não estava preparado para aquele reencontro imprevisto nem para ser sumariamente enrabado por aquele cacete cujas dimensões nunca mais me saíram da cabeça desde que o vi pela primeira vez e que, agora, se mostrava indômito e priápico dentro da calça do César, pronto para esmiuçar os segredos que meu par de nádegas sedutoras podiam esconder. Não nego que voltei a sentir aquele mesmo calor que me agitava o peito quando cuidei dele no hospital, que toda aquela saudade que eu julgava esquecida aflorou como que por encanto com esse reencontro. Porém, todos esses meses sem ninguém, me permitiram reavaliar um novo relacionamento. Eu não podia repetir o desastroso envolvimento com o Olavo, o incestuoso e possessivo relacionamento com o Rodrigo e, para isso, precisava de cautela na aproximação, tempo para avaliar e conhecer aquele César que era, sem dúvida, um tesão de macho, mas de quem eu pouco sabia.
- Está tão calado! Não está feliz de me reencontrar? – observou ele, deslizando a ponta dos dedos sobre a tulipa suada do chopp que estava a sua frente.
- Não esperava te reencontrar, achei que nunca mais nos veríamos. Acho que estou sob o efeito da alegria de ter você novamente diante de mim. – devolvi
- Você nunca saiu dos meus pensamentos! Todos esses meses estava me sentindo frustrado e desacorçoado de voltar a nos vermos, pensei que isso nunca fosse acontecer. – revelou ele, com um pesar que se refletia em seu semblante. Será que esse cara realmente sentiu algo por mim?
- Também já tinha perdido as esperanças! – que mais eu podia dizer, que não a verdade?
- O importante é que você está aqui, ao meu alcance! – exclamou, cobrindo uma das minhas mãos com a dele e revelando toda dubiedade daquelas palavras. Eu não podia ver, mas a outra, debaixo da mesa, estava ajeitando a pica que não parava de crescer cerceada pela braguilha sufocante.
Eu precisava enveredar por um assunto qualquer, sacudir minha cabeça para ver se aqueles pensamentos libidinosos saíssem dela, pois estava prestes a verbalizar o quanto o desejava, o quanto o queria dentro de mim. Ele percebeu que eu estava tão perturbado quanto ele, ansioso por concretizar aquele coito que meses atrás não pode ser realizado.
- Vamos para a minha casa? – perguntou ele, me encarando com firmeza e desejo. – ou para a sua, se preferir. Ou ainda, para qualquer outro lugar onde possamos ficar a sós. Estou louco de tesão, preciso sentir teu corpo nos meus braços ou vou dar vexame aqui mesmo. – revelou ele, quase desesperado. Era assim que eu também me sentia. Contudo, se o deixasse começar a me foder, sabia que não conseguiria abdicar dele caso o tempo me mostrasse que tinha feito outra escolha ilusória.
- Posso te pedir para adiarmos isso por um tempinho? Não me sinto em condições de ficar a sós com você, ainda. – respondi.
- Tem alguém na parada? Não me curte mais? Ficou chateado por eu não ter te procurado mais cedo? – ele queria se culpar de alguma coisa, encontrar uma explicação para o meu aparente distanciamento, com o qual sinceramente não contava.
- Não é nada disso, César! Ambos sabemos o que vai acontecer se ficarmos sozinhos.
- Você não quer?
- Espere, me deixe concluir! Quero mais do que tudo! Porém, não quero errar dessa vez, quero que seja com a pessoa certa, quero que seja para sempre! – retruquei, o que o confortou um pouco, embora não tenha resolvido a questão do cacetão duro que o torturava.
- Estou de pau duro, muito duro! Se é que você me entende. – afirmou ele
- Entendo, claro que entendo! Não pense que não estou assim também. – devolvi
- Então não há porque esperar, vamos nos entregar a esse desejo e deixar a coisa rolar naturalmente. Não vamos desperdiçar essa oportunidade! Eu te quero, você me quer, o que pode nos impedir?
- O receio que sinto de voltar a me envolver com o homem errado! Eu já cometi esse erro e sei o quanto ele me custou. – afiancei
- Acha que sou o homem errado?
- Não, não foi isso que eu quis dizer! Você tem tudo para ser o homem certo, esse é o problema!
- Então não estou te entendendo!
- Preciso de um tempo para te conhecer melhor, é isso! Você pode me dar esse tempo?
- Até posso, mas não prometo que vá me comportar sem avançar o sinal. Eu te quero por demais e, se você der uma olhada debaixo da mesa, verá que não sou só eu. – havia novamente um sorriso no rosto safado dele, e eu soube naquele exato momento que seria a esse sorriso que eu sucumbiria mais cedo ou mais tarde.
Começamos a sair com regularidade, com isso fomos aos poucos conhecendo os amigos mais próximos um do outro e, em poucos meses, estávamos enturmados nos dois círculos de amizade. Eu tinha apenas dois amigos gays entre as minhas amizades, ele nenhum. Contudo, ele me apresentou aos dele como Marcelo, o cara com quem iria se casar no dia em que eu me convencesse de que ele era o homem certo para mim. Isso toda vez extraia risadas por parte das amizades dele, e me rendia um bocado de gozações. Na brincadeira, me aconselhavam a não cair nas garras dele, alegando que ele não passava de um gavião muito do tarado, ao que ele protestava dizendo que eles só sabiam queimar as fichas dele. Era uma galera bem legal que, no fundo, só torcia para que nós nos acertássemos de vez. Longe da presença dele, eles me garantiam que nunca conheceram um cara com tantas qualidades e, que era um amigo com quem se podia contar em todas as horas. Depois desses depoimentos espontâneos eu ficava balançado e inclinado a me jogar de corpo e alma numa relação com o César. Muito provavelmente, já o teria feito, se não fossem as sombras do passado que teimavam em voltar para me tornar descrente de qualquer relacionamento com outro homem, especialmente tão hétero, tão macho e sedento quanto ele.
Tenho que reconhecer que o César foi tremendamente sincero quando disse que não tinha como prometer que ia se comportar sem avançar o sinal e sem tentar me pegar de jeito como ele dizia. Durante os últimos meses ele se arriscou diversas vezes, fazia-o com a sutileza de um passarinho, inventava de tudo para que não parecesse um avanço lascivo e, chegava a se tornar cômico com seus estratagemas.
- Do que está rindo?
- Da sua criatividade e da tua cara-de-pau! Aonde você pretende chegar fingindo que não está esfregando esse bagulhão na minha bunda, enquanto fica tentando me levar no bico com essa conversinha mole? – questionei outra vez, em mais uma de suas tentativas de se dar bem com o meu cuzinho.
- Se você sabe o que estou querendo porque não alivia e me dá uma chance? E, só para esclarecer, quem está me levando no bico há meses é você, fingindo que não está nem aí para o meu cacete, quando eu aposto que você está louco para experimentar tudo o que ele é capaz de te dar. – respondeu ele. Eu sorri, tinha que concordar, pois ele estava mais do que certo. Amo você, seu tesudo do caralho! – não fugi nem me recusei a retribuir o beijo libidinoso que ele colocou na minha boca. Ele ficou ressabiado, de início, não podia ser que eu finalmente havia resolvido ceder às suas investidas; mas, enquanto o beijo se prolongava, como nenhum outro antes, a voracidade indomável que assolava seu coração e seu membro priápico começavam a indicar que dessa vez eu não ia fugir com uma desculpinha esfarrapada qualquer.
Isso aconteceu pouco depois do final de um filme que acabáramos de assistir numa tarde chuvosa e modorrenta de domingo. Os braços do César se fechavam cada vez mais ao redor do meu tronco, me puxavam contra o peito dele, me prendiam como uma torquês junto ao corpão quente dele, facilitando aqueles beijos demorados carregados de paixão que eu lhe cedia sem reservas. Naquele olhar perplexo que me fitava dava para ler – É hoje que vamos resolver essa questão, meu fiel comparsa. – enquanto ele conversava em particular com seu falo rijo e aprisionado dentro da calça.
Fazia algum tempo que eu estava convencido das boas intenções do César, do sentimento verdadeiro que ele dizia sentir por mim, daquela sua prontidão para me fazer sentir seguro e feliz ao lado dele. Eu havia me apaixonado por ele, talvez isso já tivesse acontecido na primeira vez que o vi, se desenvolvido enquanto fiquei com ele durante aquelas semanas no hospital, persistido durante todo o tempo em que não tive mais notícias dele, mas agora não restavam mais dúvidas, eu não podia mais enganar a mim mesmo tentando ludibriar meus sentimentos.
- Você não está de brincadeira comigo, está? Estou doidão como você pode ver. Fala que não está de brincadeira! – incrédulo ele não conseguia atinar com minha súbita rendição.
- É você quem vai precisar descobrir se estou de brincadeira! A começar por isso aqui! – exclamei enigmático e com um sorriso doce e ladino, ao passar minha mão sobre ereção colossal que se desenhava sob a calça.
- Cacete! Não brinca com isso aí, ou não respondo por mim! Vou acabar perdendo a cabeça! – ele já não conseguia falar, só grunhia tomado pelo tesão.
- Se você perder a cabeça, deixa que eu cuido dela! – devolvi numa safadeza insólita, após ter aberto a braguilha dele e tirado lá de dentro o cacetão cabeçudo e babão.
- Caralho, Marcelo! Você está acabando comigo! – voltou a grunhir, enquanto eu acariciava a imensa glande úmida com as pontas dos dedos, e os levava aos lábios para lamber o pré-gozo perfumado dele.
Fui inclinando minha cabeça na direção da virilha dele, ao mesmo tempo em que desabotoava o cós da calça e a arriava enquanto ele erguia as nádegas do sofá, liberando todo seu sexo para as minhas carícias. Aquele caralhão de garanhão não me era desconhecido, eu já havia me estarrecido com suas proporções quando cuidei do César no hospital, mas agora eu podia brincar voluptuosamente com aquele cacete para mostrar quando prazer eu era capaz de proporcionar a ele. Segurei-o numa das mãos e senti como pulsava à medida que ia enrijecendo, levei os lábios até a glande e a cobri com eles, fechando-os delicadamente e lambendo o pré-gozo abundante que já havia lambuzado a minha mão.
- Porra Marcelo, cacete do caralho! Você está querendo me matar com essa boquinha de veludo mamando desse jeito a cabeça da minha caceta? Vou te pegar de jeito, nem adianta fugir, porque vou te pegar! – exclamava ele, na certeza de que meu cu seria dele em questão de minutos.
- Eu disse que ia fugir? – questionei, dirigindo meu olhar lascivo para seu rosto transbordando de alegria e tesão.
Comecei a beijar toda a extensão inferior da pica dele, caminhando com os beijos, lambidas e mordiscadas em direção ao sacão que massageava com a outra mão, fazendo com que os testículos cavalares e consistentes deslizassem sensualmente conforme eu os tocava. O César só ronronava, como se articular qualquer palavra já não fosse mais possível, só havia espaço para deixar todo aquele tesão fluir através de uma respiração acelerada e ruidosa. Ele não desgrudava os olhos da minha boca trabalhando seu cacete, sorvendo o melzinho translúcido e viscoso que não parava de escorrer impregnando o ar com o cheiro instigante de macho. Não dei bola aos reiterados avisos de que ia acabar gozando na minha boca se eu não parasse com aquela devassidão. Desde a primeira vez que me vi frente a frente com o cacete de um macho eu notei minha queda libertina pela porra que esse macho ejaculava na minha boca. Era uma espécie de fetiche que não me deixava sentir nojo daquele fluido viril, mas uma satisfação inexplicável ao saboreá-lo em todas as suas nuances varonis. A do César encheu minha boca no primeiro jato, cremosa e deliciosamente morna, instigou minhas papilas gustativas proporcionando um deleite único. Seu sabor amendoado e ligeiramente adstringente me levou a degluti-lo para dar espaço aos inúmeros outros que se seguiram, acompanhados de um urro grotesco que escapava dos pulmões inflados dele. Foi a porra mais gostosa que eu já havia engolido, e meu olhar meigo fitando o prazer com o qual ele me esporrava era a prova do quanto eu estava gostando daquilo. Sensualizei propositalmente as lambidas lentas e generosas com as quais fui limpando a porra que vazou do cacetão do César; primeiro, em proveito próprio, uma vez que aquele sumo divino precisava ser saboreado como se fosse um bom vinho, segundo, porque isto estava deixando o César cada vez mais tarado, atraentemente tarado. Tomado de um frenesi que já não controlava, ele mal sabia como começar a se aproveitar daquele corpo que havia desnudado, peça por peça, numa sofreguidão desatada. Agora que tinha a minha nudez em suas mãos e a certeza de que eu estava me entregando aos seus caprichos, sentia-se mais perdido do que nunca, dividido por um dilema, me foder com todo seu potencial animalesco e, ao mesmo tempo, preservar meu cuzinho que seria seu brinquedinho pelo resto de nossas vidas. Eu parecia não estar facilitando as coisas para ele ao girar meu corpo um quarto de volta sobre o sofá franqueando o acesso à minha bunda que o atentava com seu volume, suas curvas perfeitas, sua pele alva e aquele rego profundo e acirrante.
- Está me entregando essa bundinha, está seu safado? – sussurrou ele, enquanto se inclinava com seu peito peludo sobre as minhas costas se encaixando nos meus glúteos e chupando minha nuca com uma voracidade selvagem.
- Você não vive dizendo que é o que mais deseja nessa vida? – devolvi despudorado e ansioso.
- Está sabendo que vou te pegar de jeito, não sabe? Eu tinha prometido, e você está me provocando, seu putinho safado e gostoso! – retrucou ele.
- Quero ser seu! Isso responde sua pergunta? – soltei gemendo, pois estava sentindo a pica deslizando no meu rego com os movimentos que ele imprimia à pelve, se esfregando em mim para me atiçar.
A cabeçorra localizou a portinha do meu cu com suas preguinhas úmidas e ligeiramente intumescidas piscando de tanto tesão ao deslizar sobre ela por duas vezes. O César estava afoito demais para esperar que a cabeça da pica se alojasse por si só entre aquelas preguinhas assanhadas, por isso, pegou no cacete e o guiou até a fendinha úmida e enrugada, dando uma arremetida abrupta e enfiando a ponta do caralhão no meu cuzinho. Eu gritei, faltava o ar, eu tinha parado de respirar de tanta ansiedade e não tinha me apercebido disso. Meu cu fazia meses não via uma pica e, muito menos, uma daquele tamanho. Eu sabia que dar o cu era dolorido, descobri isso ao ser desvirginado pelo Rodrigo. Porém, agora me via diante de um novo desafio, receber com todo o carinho a maior jeba que já havia visto, a verga do macho que eu queria que fosse meu até o final dos meus dias.
- Vai devagar, César! Esse bagulhão vai me arrebentar e não sei se vou aguentar. – confessei com a maior sinceridade e receio.
- Já meti a cabeça, não tem mais volta, tesudo! Você vai ser meu. Empina essa bundinha para eu enfiar todo o cacete nesse rabão gostoso. – sussurrava ele numa sanha incontrolável.
Gani e gritei a cada estocada que ia introduzindo todo aquele mastro de carne intempestivo no meu cuzinho. Ao invés de deslizar para dentro, a rola emperrava com o travamento involuntário dos meus esfíncteres tentando se proteger aquele agressor gigantesco, e isso obrigava o César a dar nova e bruta arremetida para conseguir seu intento, alojar todo o caralho naquela maciez tépida que o agasalhava. Eu cheguei ao limite das minhas forças quando a pica estava completamente atolada no meu rabo e o sacão peludo dele se chocando contra meu cu. A dor pungente que se irradiava pela minha pelve não tinha paralelo. O pauzão grosso tinha dilacerado minhas preguinhas, rasgado meus esfíncteres anais e parecia não se saciar nunca, mergulhando nas minhas entranhas e socando minha próstata numa dor que me fazia gritar.
- César, seu bruto! Ai meu cu! – implorei desesperado.
- De jeito, não foi isso que prometi? – grunhiu ele, guiado pelo tesão. – Prometo que vou devagar para não te machucar. – emendou, como se isso fosse amenizar aquela pegada vigorosa que ele tinha.
- É meio tarde não acha? Já me arregaçou todo! – gani, sem deixar de me entregar à sua sanha.
- Ah, Marcelo, meu tesão! Se eu soubesse antes como você é gostoso já tinha te enrabado há muito tempo. – afiançou
Ele me puxou pelas ancas me obrigando a ficar ajoelhado. Sua virilha agora se encaixava perfeitamente à curvatura das minhas nádegas e permitia ao falo, possuído de uma tara animalesca, mergulhar fundo no meu casulo com o vaivém cadenciado que ele imprimia às suas arremetidas. Nunca me senti tão possuído, tão usado e abusado durante um coito, e só conseguia pensar na imensa felicidade que aquele macho estava me fazendo sentir.
- Ai, César! – exclamei, deixando aflorar aquela felicidade sem igual, enquanto gozava esporrando na manta que forrava o sofá.
- O que tem o César? Ele está te deixando maluco, te fazendo sentir o que é um macho tarado por essa bundinha, é isso? – o safado queria me ver capitulando em todos os sentidos.
- É! – balbuciei, sentindo o frenesi que abalava todo meu corpo percorrendo minha coluna.
- É o quê? Fala meu tesão, fala!
- Ai, César! Eu te amo seu desalmado! – confessei. Embora ele já soubesse disso, queria ouvir dos meus lábios esganiçados aquilo que tanto esperava.
- Ah, Marcelo, meu Marcelo! Repete isso mais mil vezes, porque o que sinto por você nunca senti por ninguém.
Ele me tinha por inteiro, não só ali de quatro com o rabo empinado levando sua rola, mas tinha meu coração, tinha todo meu ser exclusivamente para ele. O prazer era imenso, vinha das profundezas daquela bundinha, atiçava seu membro de um jeitinho todo particular, fazia-o sentir-se o mais viril dos machos e, para completar esse prazer todo, eu ainda confessava meu amor. As contrações no abdômen foram crescendo, ele sentia os movimentos de penetração encurtando, a comichão na cabeça da pica o endoidecia, ele queria gritar ao mundo a sua felicidade. O primeiro jato de porra eclodiu com força se esparramando no fundo do meu cu, outros o seguiram num jorro praticamente contínuo, inundando minha bunda que rebolava apertada com sua pica atolada nela. Ele estava gozando feito um garanhão, encharcando meu rabo com sua virilidade pegajosa e morna. Se havia prazer e felicidade maiores do que aquele momento, ambos desconhecíamos. Por bem mais uns três minutos depois de gozar, o cacetão continuava dando pinotes no meu cuzinho. Ambos arfávamos como dois animais envolvidos num combate. O prazer daquela conjunção, que fazia de nós dois um único ser, ia sendo assimilado aos poucos, à medida que nossas respirações voltavam ao ritmo normal. Nossos corpos caíram pesados sobre o sofá, ainda engatados e sem nenhuma pressa de se desgrudarem.
- Amo você! – sussurrei
- Amo você, meu putinho marrento! – ronronou ele. Nunca antes ele precisou de tanta sedução, tanto tempo e tanta espera para foder alguém. Tinha valido cada segundo daquela delonga, pois isso que aquele ser que estava deitado sob o peso de seu corpo tinha lhe proporcionado era como colher uma estrela no céu.
Levou mais alguns meses antes de vivermos sobre o mesmo teto. Mesmo me pegando com uma regularidade quase diária, a paciência de monge dele estava chegando no limite, e não vi mais motivo para não morarmos juntos. O César era diferente de qualquer homem que eu conhecia, era possessivo sem dúvida, mas a certeza do meu amor o amansava e me fazia sentir seguro ao seu lado. Eu não sentia mais medo de apanhar por ter deixado de fazer, ou fazer algo que não estivesse em conformidade com o que ele queria, como tantas vezes aconteceu com o Olavo. Nossas discussões eram bobagens tão insipientes que nos levavam a rir de nós mesmos, tão tinhosos podíamos ser, e sempre terminavam entre beijos lascivos e coitos abarrotados de amor na intimidade do nosso quarto. Tínhamos uma vida inteira pela frente para viver todo aquele amor, e era dessa certeza que nutríamos nossa alma e nossos corações.
Ah! Quase ia me esquecendo e, certamente, o leitor a essas alturas estará se perguntando, e o Rodrigo, aquele primo que foi o primeiro homem da minha vida e, ainda agora, continua a ser uma das criaturas que eu mais amo nesse mundo, o que é feito dele? Bem, ele está curtindo muito a paternidade recente. Porém, o que quero acrescentar aqui e, que vocês deveriam ter podido ver com seus próprios olhos, foi o primeiro encontro dele com o César. A cena não foi apenas bizarra, foi hilária. Os dois se mediram da cabeça aos pés, como dois leões reivindicando o mesmo território. Só faltaram rugir um para o outro, pois se cumprimentaram com expressões grunhidas que, em tudo, se assemelhavam a rugidos. Por mais que tenha me esforçado para disfarçar o riso que aquela cena me provocou, não consegui me conter. Ambos me encaram furiosos. Aquela beligerância não durou uma semana. Ao final dela, estavam tomando chopp, falando de seus trabalhos e compartilhando episódios de suas vidas como se fossem amigos de infância. O Rodrigo me amando como me ama, cedeu seus privilégios sobre mim sem nenhum remorso para o César ao conhecer seu caráter e, especialmente, o amor que sente por mim e que transborda em cada olhar que me dirige. Ele sabe que eu não vou mais me entregar a ele, que agora, definitivamente, essa é uma prerrogativa exclusiva do César e, que parece me deixar muito feliz. Aquilo que houve entre nós durante todos aqueles anos ninguém jamais irá tirar dele, e foram momentos muito bons para serem destruídos por sentimentos mesquinhos. Toda vez que ele e eu trocarmos olhares, haverá de estar escrito no fundo deles – nos amamos com a inocência da juventude, com o furor da adolescência e com a compreensão de adultos.
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Comentários


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reperti Comentou em 23/03/2022

Amo suas histórias, apesar q esse conto Acho a ficou um pouco extenso, principalmente o início, mas curti muito!

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gulosinhosafado1 Comentou em 20/03/2022

Amo muito ler os seus contos! São perfeitos e, esse então, é bom demais! Por favor, continue com o ótimo trabalho. Amei!




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Ficha do conto

Foto Perfil kherr
kherr

Nome do conto:
Destinos cruzados

Codigo do conto:
197531

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
12/03/2022

Quant.de Votos:
5

Quant.de Fotos:
3