— E aqui é a nossa modesta sala de leitura... mas, para ser sincero, quase ninguém se aventura por aqui para ler um livro — ele comentou, um sorriso travesso dançando em seus lábios enquanto piscava para ela com um charme natural e despretensioso. — O pessoal prefere mesmo é se reunir ali no jardim, debaixo da mangueira, para colocar a fofoca em dia.
Michele soltou uma risada genuína, jogando os cabelos longos para o lado com um movimento despreocupado. Ela se sentia estranhamente à vontade, uma sensação de liberdade que não experimentava há tempos, como se a atmosfera simples e acolhedora daquela pensão tivesse a capacidade de quebrar suas barreiras internas, de dissolver as tensões que a acompanhavam. Vestindo seus shorts curtos e sandálias rasteirinhas, sentia-se despojada de suas defesas habituais, e um pensamento único e avassalador dominava sua mente: o desejo impetuoso de se entregar ao jovem guia, de sentir o toque de sua pele, de se perder naqueles braços fortes. Aquele desejo a consumia, tornando o ar denso, era difícil para respirar. Ela só pensava em dar para o jovem guia.
— E você, Flávio? — Michele perguntou, a voz um pouco mais baixa que o normal, enquanto seus olhos curiosos percorriam o salão de leitura empoeirado. — Prefere se juntar às fofocas no jardim ou se perder nas páginas de um livro?
Flávio virou-se para ela, seus olhos castanhos brilhando com um humor travesso. — Sinceramente? Eu prefiro conversar com gente bonita — respondeu ele com um sorriso aberto e um olhar direto que não deixava dúvidas sobre o alvo de seu elogio.
Michele desviou o olhar por um breve instante, um rubor suave colorindo suas bochechas. Mas não conseguiu conter o sorriso que se abriu em seus lábios. Flávio percebeu o efeito de suas palavras e, com um movimento sutil, aproximou-se um pouco mais, seu ombro quase roçando o dela enquanto continuavam a caminhar.
— E aqui... — ele anunciou, abrindo uma porta de madeira maciça que dava acesso a um pequeno salão charmoso, banhado pela luz dourada do final da tarde que entrava pelas grandes janelas de venezianas brancas. A luz dançava no chão de madeira lustrada, criando um ambiente acolhedor e convidativo. — É onde a dona Marisa gosta de fazer alguns eventos especiais. Às vezes tem umas aulas de dança animadas, outras vezes umas rodas de música gostosas... e de vez em quando ela organiza uns jantares caprichados, com a comida deliciosa da Gisele.
— É um lugar muito bonito — Michele murmurou, sua atenção inicialmente focada nos detalhes encantadores do salão: os vasos de flores coloridas sobre as mesas de madeira, o piano antigo em um canto, a luz suave que realçava a atmosfera acolhedora. No entanto, sua concentração vacilou ao sentir a presença de Flávio se intensificar, o calor de seu corpo cada vez mais próximo do seu.
— Mas agora... agora está ainda mais bonito — ele sussurrou, sua voz rouca e baixa carregada de uma intensidade palpável, enquanto seus olhos escuros a fitavam de perto, sem desviar por um instante sequer.
Michele ergueu o olhar, seus olhos encontrando os dele, e por um breve momento, sentiu o ar escapar de seus pulmões. A profundidade dos olhos de Flávio, a sombra de um sorriso meio safado brincando em seus lábios carnudos, a leve abertura entre eles como um convite silencioso... uma onda de calor percorreu o corpo de Michele, fazendo seu pulso acelerar. A promessa solene de abstinência, que até então parecia uma barreira firme, agora se desfazia como fumaça ao vento, a tentação personificada diante dela, irresistível e iminente.
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Enquanto a atmosfera carregada de desejo se instalava em outros cantos da pensão, na sala principal, um espaço amplo e com decoração clássica, o juiz Almeida estava recostado em uma poltrona de couro macio, um semblante de concentração forçada em alguns papéis que repousavam em seu colo. No entanto, a verdade era que seus olhos, astutamente disfarçados por trás das lentes de seus óculos de leitura de aro dourado, estavam fixos em Gisele. A cozinheira, alheia ao olhar do magistrado, movia-se pela sala com um espanador de penas coloridas nas mãos, realizando suas tarefas de limpeza com uma leveza contagiante. Seus fones de ouvido brancos transmitiam a melodia que a embalava, e ela dançava sutilmente enquanto trabalhava, um balanço natural e rítmico de seus quadris generosos, o corpo curvilíneo acompanhando o compasso da música invisível para os demais.
Gisele vestia uma calça legging preta que delineava cada curva de suas pernas fartas e uma camiseta de algodão vermelha, amarrada estrategicamente acima da cintura, expondo uma faixa de pele morena e acentuando ainda mais suas formas voluptuosas. Cada movimento, cada ondulação de seu corpo, parecia uma apresentação particular, um espetáculo silencioso que prendia a atenção do juiz. Almeida a observava com uma discrição quase teatral, permanecendo quase imóvel na poltrona, apenas o leve brilho em seus olhos denunciando seu interesse. Abaixo da mesa de centro de madeira escura, no entanto, um sinal inegável de sua excitação se manifestava: seu pênis crescia lentamente sob o tecido da calça, a visão daquela empregada sensual e despreocupada o deixando em um estado de crescente frenesi. Aquele espetáculo involuntário despertava nele desejos inesperados e intensos.
O juiz Almeida sentia o sangue pulsar quente em suas têmporas, uma onda de calor percorrendo seu corpo a cada movimento de Gisele. Aquela mulher possuía um magnetismo inexplicável, algo que ia além da mera atração física. Não era apenas a exuberância de suas formas, mas a naturalidade com que se movia, a despreocupação em seus gestos, como se fosse completamente alheia ao poder sensual que emanava. Essa inconsciência, paradoxalmente, tornava-a ainda mais fascinante aos olhos do magistrado.
Em um determinado momento, Gisele se abaixou para alcançar um canto empoeirado do rodapé com um pano macio. A curvatura acentuada de seus glúteos ficou ainda mais em evidência, a legging justa moldando-os com uma perfeição que parecia esculpida. A marca sutil de sua calcinha era visível sob o tecido elástico, e na imaginação fértil do juiz, a fenda de seus lábios vaginais se tornava um convite silencioso e tentador. Aquele vislumbre fugaz fez com que qualquer resquício de pensamento profissional se dissipasse de sua mente. Com um movimento abrupto, Almeida fechou a pasta de couro com um estalo seco, o som ecoando no silêncio da sala. Um leve suspiro escapou de seus lábios, uma rendição tácita à força daquela atração. Ele já não se preocupava em disfarçar seu interesse.
“Pecado...”, um pensamento atravessou sua mente, uma breve lembrança de seus votos e de sua posição social. Mas a advertência moral não foi suficiente para desviar seus olhos fixos na figura sensual da empregada. Ele permanecia ali, cativo daquela visão, entregue a um desejo proibido que florescia em segredo dentro daquela pacata pensão.
No andar superior da pensão, o silêncio reinava, quebrado apenas pelo rangido ocasional do assoalho de madeira sob seus pés. Michele e Flávio pararam diante da última porta do corredor, uma porta de madeira escura com detalhes entalhados que a diferenciavam das demais.
— E este aqui — Flávio anunciou, sua voz um sussurro rouco que ecoava no corredor estreito — é o quarto mais bonito de toda a pensão. Fica vazio na maior parte do tempo, esperando... só é usado quando alguém realmente especial chega. — Ele terminou a frase, seus olhos castanhos fixos nos de Michele, carregados de uma intensidade que a fez estremecer por dentro.
— Ah, é? — ela respondeu, um sorriso travesso brincando em seus lábios enquanto o provocava com um tom insinuante. — E quem exatamente tem o privilégio de definir quem é considerado "especial" o suficiente para ocupar este quarto?
— Eu — respondeu Flávio, sua voz agora firme e decidida, sem desviar o olhar do dela.
Um silêncio denso e carregado de eletricidade se instalou entre os dois. A distância que os separava parecia encurtar a cada segundo. Flávio deu mais um passo hesitante, aproximando-se ainda mais. Michele podia sentir a respiração quente dele roçar em seu rosto, inalando a embriagante mistura de cheiro de terra molhada que ainda emanava de sua pele, o aroma sutil de suor limpo, e, inegavelmente, o cheiro inconfundível do desejo que pairava no ar entre eles. Naquele instante, qualquer tentativa de fingimento se tornou fútil. A atração era um campo de força invisível, puxando-os um para o outro com uma intensidade avassaladora.
Flávio deu mais um passo cauteloso, a distância entre eles agora mínima, quase íntima. Michele podia sentir o calor suave de sua respiração em seu rosto, inalando a embriagante mistura de aromas que emanavam dele: a reminiscência terrosa do jardim, o frescor sutil do suor limpo, e inegavelmente, a nota selvagem e inconfundível do desejo que pairava no ar, denso e inegável. Qualquer pretensão de indiferença havia se esvaído, deixando apenas a pura e crua atração entre eles.
— Eu... eu realmente deveria ir — Michele murmurou, a voz rouca e hesitante, como se lutasse contra uma força invisível que a mantinha imóvel. Seus pés, porém, pareciam pregados ao chão, incapazes de obedecer à razão.
— Ou talvez... talvez você devesse ficar um pouco mais — Flávio respondeu em um sussurro grave, seus olhos escuros fixos nos lábios entreabertos de Michele, como se hipnotizado pela sua proximidade.
E ali, naquele corredor antigo da pensão, onde as paredes de madeira testemunharam inúmeras histórias silenciosas, com a luz dourada e lânguida da tarde se filtrando pelas janelas empoeiradas, pintando o chão com listras de luz e sombra, a atmosfera se tornou insuportavelmente quente, carregada de uma tensão que antecede a tempestade. O ar parecia vibrar com a intensidade de seus olhares e o desejo mútuo que finalmente encontrara um espaço para florescer.
Fiquei com a rola dura!