Cilada de uma paixão adolescente Continuação ... Com o passar do tempo, nosso relacionamento parecia ir ficando cada vez mais torto. O Jeff me procurava fora do período do colégio, saíamos para diversos lugares, ele me levava para o haras ou para a casa dele e me comia num frenesi desenfreado, ou aparecia em casa, quando meus avós não estavam com o mesmo intuito. Nesses momentos ele geralmente era atencioso, carinhoso, e seu humor quase sempre tornava esses momentos mágicos. Terminei o curso de direção bem antes do previsto graças ao empenho dele em me ensinar a dirigir. O pretexto de me ensinar foi o primeiro passo para ficar mais tempo ao meu lado, e ele me fazia pagar as aulas com uma foda sacana, que confesso, eu recompensava com grata satisfação. Por outro lado, no colégio eu convivia com outro Jeff. Ou melhor, quase não convivia. Nunca ficávamos juntos. Na verdade, eu ficava com um grupo de amigos e amigas, e ele com aquela turma um tanto quanto explosiva do fundão da sala. Durante as partidas de vôlei estávamos sempre em times opostos, algo que o contrariava devido ao meu desempenho e, especialmente, por que o Taylor costumava estar no meu time. Taylor encontrou na minha companhia, uma maneira de enfrentar aqueles sujeitos que, até a minha chegada, sempre foram invencíveis nas partidas. Ele não simpatizava em nada com aquele fundão, nem eles com sua maneira livre de se comportar. Aos poucos ele foi constituindo um grupo que por ínfimas coisas rivalizava com o grupo do Jeff. A confiança que a prática do taekwondo lhe dava, fazia com que ignorasse qualquer provocação daqueles brutamontes do grupo rival. Por diversas vezes o Jeff havia me proibido de jogar no time de vôlei do Taylor, mas, o fato de eu gostar de jogar, e o treinador insistir naquela formação de sucesso, quase sempre tornavam essas proibições nulas. Durante um torneio estadual os dois times do colégio se viram na final e, ante a possibilidade de perder o jogo, como acontecera diversas vezes, desde que eu participava do time oponente, os ânimos do Jeff estavam mais explosivos do que nunca. Estávamos ganhando o jogo com relativa vantagem quando o pior aconteceu. O Taylor e o Jeff entraram num embate durante o jogo e a animosidade cultivada ao longo do tempo explodiu como uma bomba. Para não serem expulsos, o que comprometeria toda a partida, ambos ficaram trocando insultos e medindo forças como dois touros no mesmo piquete. Vencemos mais uma vez uma partida contra nossos adversários clássicos, foi o suficiente para a fúria do Jeff extravasar por todos os seus poros. - O que foi aquela competição de testosterona com o Taylor? – perguntei, quando ele saiu cantando os pneus da picape depois da partida. - Competição de testosterona? – ele contrai os lábios, a raiva está ali prestes a explodir. - É. Por que será que eu fiquei com a impressão de que aquilo foi um concurso de quem mija mais longe? O macho que mija mais longe é o melhor. – eu estudava as palavras, para não deixa-lo ainda mais furioso. - Porque foi! – rosnou, dando um soco no volante. A picape levantando as folhas multicoloridas das árvores, que mais pareciam esqueletos, que o inicio do inverno deixava espalhadas ao longo da estrada para o haras. Ele desceu do carro e entrou no celeiro batendo os passos. Encontramos o Rodriguez nos seus afazeres. Esse homem nunca usa camisa? Os músculos dos braços e da barriga estão indecentemente expostos, e eu não consigo deixar de olhar para o movimento sensual que eles fazem enquanto ele faz o seu trabalho. O Jeff passa por ele em direção à parte superior do celeiro e não responde ao seu cumprimento. Eu o sigo logo atrás. - Oi Rodriguez! – respondo com um sorriso quando ele me acena com a cabeça. Percebo que ficou contente. - Não fique assim! O jogo de vocês foi ótimo, você precisa admitir. – disse conciliador, e com uma doçura proposital na voz. Ele grunhiu e fez uma careta. - Acalme-se, e também se refaça da competição de testosterona. Tenho a certeza que vai se sentir melhor. – falei, enquanto pegava duas latinhas de Coca na geladeira camuflada. - Eu vou te mostrar o que é uma competição de testosterona! – Seus olhos ardem sobre mim, com aquela expressão ‘eu quero você e quero agora’. Quando lhe estendo a latinha de Coca ele me puxa pelo braço ao seu encontro. Caio desajeitadamente sobre ele, e antes de conseguir protestar, sua língua está na minha boca. Ele morde meus lábios, está particularmente bruto. A minha camiseta sobe e sai passando pela minha cabeça num movimento brusco. - Tire as calças! – ordena. Obedeço e faço o jeans deslizar junto com a cueca até os pés. Tiro os sapatos e dou um passo à frente, nu e envergonhado. Ele me chama com as mãos, suas pernas estão bem abertas, e o jeans parece querer explodir sobre a forte musculatura de suas coxas. Entro no alcance de suas mãos e ele aperta minhas nádegas. Ele me encara e eu sustento o olhar, dois bobos teimosos olhando um para o outro. Aquela energia vai ficando mais tangível, atraindo-nos mutuamente. - Como sempre, Luke, você é muito desafiador. – o grunhido é rouco e ameaçador. Tento beijá-lo para aplacar sua raiva, mas ele me impede. Ao invés de me deixar abraça-lo ele se levanta me deitando sobre o sofá, e vai até as portas fechadas da estante. Escancara as duas portas, e vem com um par de algemas, um rolo de fita adesiva prateada e uma espécie de chicote, curto e com um pedaço retangular de couro preto na ponta. Meu corpo estremece de pavor e excitação. - Você precisa ser domado para não repetir o comportamento rebelde de hoje! – disse, o olhar fixo e impassível sobre o meu corpo. Ele encaixou meus pulsos nas algemas e me fez debruçar sobre o braço do sofá. O couro gelado arrepiou minha barriga. - O que você vai fazer Jeff? Por favor, não me machuque! – supliquei trêmulo. Ele colocou o indicador diante dos lábios e soltou o ar num sibilo. Rasgou um pedaço da fita adesiva e a grudou diante da minha boca. Abriu minhas pernas e expos meu cuzinho. Ajoelhou-se atrás de mim e mordiscou minha bunda. A barba dele perfurava a pele sensível das minhas nádegas. Meu corpo fervia, e meu couro cabeludo estava todo ouriçado. Os lábios úmidos dele lambuzavam meus glúteos. Comecei a gemer baixinho, minha respiração se acelerava. Senti o toque áspero de sua língua habilidosa sobre as preguinhas, meu corpo queria entrar em convulsão. Eu me agitava fazendo o couro do sofá ranger. - Não se mexa! Quero você bem paradinho, entendeu? – sussurrou, quando enfiou o rosto na minha nuca e me agarrou pelos cabelos puxando minha cabeça delicadamente para trás. Ele colocou um dedo dentro de mim. Meus esfíncteres o comprimiram firmemente, enquanto ele o fazia rodopiar em círculos lá dentro deslizando sobre a mucosa morna. Saboreio aquela sensação, e gemo à medida que um frenesi percorre todo o meu corpo, atingindo e enrijecendo todos os músculos do meu baixo ventre. A respiração do Jeff fica ofegante, e ele enfia outro dedo em mim. Empurro a pélvis para cima, para junto da palma da mão dele, e ele responde, esfregando-a contra meu cuzinho. Com a outra mão ele desfere um tapa forte na minha nádega. Eu a contraio e seus dedos se tornam mais presentes no meu íntimo. Ele acaricia a nádega e desfere mais um tapa, ele ecoa com um som metálico naquele ambiente amplo, e minha pele arde como fogo. Ele repete os mesmos movimentos, caricia, tapa, carícia, tapa numa sequência lenta, mas constante. Minha bunda está doendo e eu, inquieto, tento me mexer. Ele me censura beliscando a mucosa interna do meu cu, e interpondo sua perna entre as minhas cada vez que as tento fechar. Os dedos dele saem do meu cuzinho, e ele pega aquele instrumento parecido com um chicote. Chuta meus pés para que eu os separe ainda mais. O rego se abre expondo o anelzinho rosado. A haste do chicote desce violentamente até o fundo do reguinho, e atinge meu cu num estalo seco, quando ele me golpeia. A ponta de couro arde sobre o meu cóccix. Solto um grito que só consegue estufar um pouco a fita adesiva colada aos meus lábios. O som sai como um ganido abafado. A sequência torturante só termina quando conto o sexto golpe. Durante esse período ele despe o jeans e a cueca deixando a benga experimentar uma ereção livre e prazerosa. Espasmos contraem todo o meu corpo, e o suor escorre pelas minhas têmporas. Ele joga o chicote sobre o sofá e agarra meus quadris puxando-os contra sua virilha. Guia a pica totalmente distendida e dura para dentro do meu cuzinho. Ele entra em mim me abrindo e me preenchendo, geme alto, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás. O caralhão estoca as profundezas das minhas entranhas, e meus músculos anais se contraem involuntariamente, chupitando a fera quente que pulsa em mim. O bruto me estoca como um animal selvagem, enquanto as lágrimas brotam férteis e rolam pelo meu rosto. Subitamente percebo que é a primeira vez que ele não se preocupa em colocar uma camisinha. E mesmo naquela agonia toda, naquela dor que vai se irradiando pungente pelas minhas entranhas, eu espero ansioso pelo néctar viril dele. Ele chega com um urro que escapa entre os dentes cerrados dele, farto, em jatos pegajosos e quentes, que vão escorrendo pelo cuzinho em brasa. - Você é meu, Luke! E eu estou protegendo o que é somente meu. – balbuciou ofegante, ao deixar seu peso cair sobre o meu corpo. Quando ele saiu de mim e me livrou das algemas, eu mal podia me sustentar sobre as pernas trêmulas. Um filete de sangue escorria pelo lado interno de uma das minhas coxas, e eu soluçava baixinho, tímido e envergonhado. Ele se aproximou de mim e me apertou em seus braços, secou as lágrimas que desciam pelo rosto afogueado, com o polegar, e tocou suavemente seus lábios nos meus. O calor do corpo dele foi me acalmando, e eu estava outra vez seguro naquele peito forte, por onde meus dedos deslizavam sem que ele me impedisse. - Existe algo em você que me toca em algum nível profundo que eu ainda não fui capaz de compreender. É tipo um feitiço que me impede de resistir a você, e não quero perde-lo. Seja mais paciente e compreensivo comigo, e tenha outro tanto de fé em mim. Por favor. Estou me esforçando para mudar. – suplicou desolado. - Eu sou seu, você não vai me perder! – murmuro. Ele parece tão vulnerável. Seguro seu rosto e beijo-o levemente nos lábios, ele não se opõe. Mal posso caminhar. Ele me ajudou a me limpar, enquanto olhava para as minhas nádegas cheias de vergões vermelhos, o cuzinho completamente inchado e sangrando, suas mãos faziam a toalha úmida acariciar aquela pele fustigada por seu destempero varonil. Diante do meu olhar atônito ele me estendeu um absorvente feminino. De onde veio aquilo e, intrigantemente, quem usava uma coisa dessas ali? - Fixe-o na cueca. Vai impedir que você de chegar em casa todo manchado de sangue. – disse calmamente, e seguro de si. Precisei descer a escada, amparado pelo braço dele ao redor da minha cintura. Mal pude encarar o Rodriguez com aqueles olhos inchados e denunciadores. Pensei no quanto ele já presenciara naquele reduto. Era impossível que ele não soubesse o que o patrão fazia ali em cima. Corei quando ele se despediu de mim. - Até mais Luke! – suas palavras tinham mais a conotação de ‘boa sorte, Luke!’ do que de um até breve. Comecei a chorar quando o Jeff me colocou na picape, e eu não consegui apoiar a bunda no banco. Só fui conseguir dormir bem tarde naquela noite, após ingerir uma batelada de analgésicos e antinflamatórios. As sequelas ficaram no meu corpo por mais de uma semana. Estávamos em meados de abril quando recebi uma ligação de Corine, pouco depois de ter voltado do colégio. Estranhei o inusitado, especialmente porque acabara de me despedir do Jeff há pouco mais de uma hora. - Olá, Luke! Como estão seus avós? Faz algumas semanas que você não aparece por aqui. – sua voz denotava contentamento, e isso me tranquilizou. - Tudo em ordem. Estamos num período de provas e isso está ocupando meu tempo. – respondi, curioso e na expectativa de descobrir o motivo daquela ligação. - No próximo sábado à tarde o time de polo do Jeff vai participar de um jogo que patrocinamos todos os anos, com fins caritativos, vai ser no clube de polo em Denver e, o Albert e eu gostaríamos que você estivesse presente. Sua amizade com o Jeff tem sido muito benéfica para ele, e estamos muito felizes e agradecidos a você por isso. – disse, com uma espontaneidade estonteante. - Bem, ele não me disse nada. Mas eu posso ir. – fiquei me indagando porque ele não me contou nada a respeito. - Você sabe como ele é reservado. O time dele venceu nos últimos quatro anos, e ele não gosta de fazer muitos comentários sobre suas vitórias. – falou calmamente. – Mas tenho certeza de que ele vai gostar de te ver por lá. Falando nisso, você tem como ir a Denver, ou quer que eu mande um motorista apanhá-lo em sua casa? – prontificou-se. - Não se preocupe, tenho como ir. E, obrigado pelo convite. – agradeci - Não por isso. Estamos todos te esperando. Dê minhas recomendações a sua avó. Espero que venha almoçar conosco em breve. – disse animada. - Obrigado. Até sábado então. – retorqui. Será que o Jeff sabe desse convite? Por que ele não o fez pessoalmente? Será que ele me quer por lá? Essas perguntas martelaram minha cabeça até a hora do jantar. Esperei em vão até na véspera do jogo para ver se o Jeff me contava alguma coisa a respeito. Nem diante do meu questionamento sobre seu final de semana ele tocou no assunto. Ele me fodeu em seu quarto, depois das aulas, e me deixou em casa no final da tarde, sem dizer uma palavra. Decidi não contar que Corine me convidara. Eu nunca saíra de Boulder dirigindo meu carro, achei que precisava me sentir mais confiante antes de pegar uma estrada, embora meu avô elogiasse minha prudência e habilidade na direção. Tanto que me deixa dirigir seu Audi SUV Q7 quando sai comigo. Uma demonstração de confiança que me comove. O sábado amanheceu nublado, mas antes do almoço um sol brilhante e fraco iluminou o céu incrivelmente azul. Fazia dezoito graus e o ar cheirava à seiva das árvores que começavam a rebrotar depois do inverno. Depois do almoço entro no closet e abro meus armários. O que vestir num evento desses? Fico devaneando, por fim, me decido pelo jeans clássico, camiseta polo branca, e jogo displicentemente um suéter creme de malha grossa sobre os ombros, acho que pode esfriar ao entardecer. O espelho que ocupa toda a parede dos fundos do closet reflete uma imagem que me deixa satisfeito. Meu cabelo está magistralmente desgrenhado, e a figura refletida no espelho, com o jeans apertado ao redor das grossas coxas musculosas parece saída de uma revista de moda. Abro um sorriso bobo para mim mesmo. Ajustei o GPS do painel, pois havia ido poucas vezes a Denver durante esses meses, e não dominava totalmente o caminho, além do que, o clube de polo ficava ao sul e fora do limite urbano. Conectei o iPod ao sistema multimídia do carro, o qual o Jeff me deu de presente depois de eu me encantar com uma seleção de músicas que ele havia baixado, e peguei a CO-93 rumo a Denver, ao som dos acordes do concerto número três de Brandenburgo de Bach, seguido de ‘beautiful day’ do U2, bem apropriado para aquela tarde esplendorosa. Quando ‘Brave’ de Josh Groban saia dos alto-falantes eu estava tão descontraído tamborilando o volante e, pensando no quão eclético era o gosto musical do Jeff, que quase perdi o acesso a US-85. Havia pouco movimento na estrada e as montanhas ao longe no horizonte foram me acompanhando como sentinelas. Faltava pouco para o início da partida quando cheguei ao estacionamento do clube de polo, um lugar sofisticado. Os campos cobertos de grama verde e cercados por árvores frondosas que formavam uma barreira contra uma brisa fria que soprava do norte, os cavaleiros com suas vestimentas coloridas, e o desfile de cavalos de raça enchia o ar com um clima equestre e endinheirado. Havia uma pequena multidão espalhada na beira do campo, e próxima a uma arquibancada. Depois de alguns minutos consegui distinguir a silhueta da Corine com Albert ao seu lado, ambos estavam impecavelmente vestidos em trajes esportes. Uma rodinha havia se formado ao redor deles e, após mais alguns passos, consegui identificar o físico atlético do Jeff de costas para mim. Os ombros muito largos e os quadris estreitos formavam um triangulo invertido típico de um macho portentoso. Eu adorava olhar para aquelas costas quando ele se deitava ao meu lado depois de uma foda. Achava-o muito sexy. Ele não me viu chegando, e nem a loura platinada pendurada em seu pescoço. - Luke, querido! Que bom que você veio! – exclamou Corine, assim que percebeu minha aproximação. - Salve, Luke! – adiantou-se Albert, para me dar um abraço efusivo que me fez corar. Jeff se virou num sobressalto. O rosto que há pouco estava com uma expressão risonha da conversa que rolava no grupinho, tornou-se séria e perplexa. Seus olhos se estreitaram e os lábios ganharam uma linha rígida e tensa. Ele estava contrariado. - Oi Luke! Que bom vê-lo. – balbuciou, num quase rosnar. A loira platinada não desviava o olhar de mim e nem tirava aqueles braços do pescoço do Jeff. Ei, alguém te avisou que ele é meu. Ela devia ter uns trinta e muitos, corpo turbinado por, no mínimo, quatrocentos mililitros de silicone em cada peito, e talvez o dobro disso nas nádegas. O cabelo curto, estilo Chanel, os lábios de um vermelho berrante, preenchidos com Botox, e a maquiagem carregada para aquela hora do dia, davam-lhe um aspecto vulgar; que o vestido azul turquesa com apenas uma alça e muito justo, tornava ainda mais evidente. - Eu não sei se você já conhecia a Anabel, a namorada do Jeff? – disse Corine, nos apresentando. – Este é Luke, o melhor amigo do Jeff. – acrescentou. Ela continuou com o olhar fixo em mim, e colocou um sorriso largo e falso em seu rosto ao grunir um ‘oi’. Fuzilei-a com meu olhar, ao baixar os óculos de sol. O Jeff parecia ter perdido a voz. Estava rijo feito uma estátua e, assim que conseguiu se recompor, fez um movimento desvencilhando-se dos braços da loura platinada. - O que faz aqui? – rosnou baixinho. - Aceitei o convite que Corine me fez ao ligar lá para casa esta semana. – respondi carrancudo. – Fiz mal? – indaguei petulante. - Não, claro que não! Fui pego de surpresa, só isso. Você podia ter me avisado que viria. – disse, as palavras pronunciadas cautelosamente para não deixar transparecer sua raiva. - Pensei que você soubesse. Mas percebo claramente que não. – retruquei, tentando manter uma postura descontraída, voltando a fuzilar a loira com o olhar. - Não é nada importante. Em outro lugar e, com calma, eu te explico. – disse, visivelmente perturbado. - Não creio que isso precise de explicações! – exclamei, com um sorriso irônico. Um garoto apareceu correndo, e foi avisando os jogadores que a partida estava para começar, e que eles deviam se dirigir aos cavalos. Senti um alívio com sua intromissão, pois vi que estávamos prestes a ter uma discussão. - Tenho que ir agora. Você não vá a lugar algum antes que eu volte para te pegar! E isso não é um pedido, entendeu? – determinou, com a expressão séria. E, dando alguns passos, me puxou pelo braço e me afastou do grupo, acrescentando num sussurro só para os meus ouvidos. – A propósito, você está lindo. Deveria ser proibido existir alguém assim tão bonito. – Sua expressão ficou leve e ele esboçou um sorriso contido. - Você também! – emendei, menos sisudo. A partida terminou junto com a chegada do crepúsculo. O time dele venceu, e havia certa euforia ao redor das mesas montadas ao lado de um palanque, e destinadas a convidados VIP. O mestre de cerimônias anunciou a composição do time vencedor, e entre uma menção e outra, Corine sussurrava em meu ouvido a que família abastada pertencia o jogador. A mais ruidosa manifestação aconteceu quando anunciaram o nome do Jeff, talvez proporcional à importância de seu sobrenome. Quando Jeff voltou a se juntar a nós, Albert propôs um brinde, abrindo uma grande garrafa de champanha, que dois garçons impecáveis, trajando blazer branco e gravata borboleta preta, serviram em taças muito geladas. A loira se pendurou mais uma vez nele, e beijou-o descarada e sensualmente, como se estivessem sozinhos num quarto de motel. Ele procurou disfarçadamente tirar os braços dela de seu pescoço, constrangido com o arroubo fora de propósito. Eu me mantive ligeiramente afastado; primeiro, por que não estava disposto a assistir aquela cena deplorável, segundo, por que estava me sentindo um pouco deslocado entre aquelas pessoas que não conhecia. - Gostou da partida? – perguntou Albert, quando ele e Corine se achegaram a mim. - Sim. É um espetáculo muito bonito. Não entendo muito do jogo, mas deu para ver que é bem legal. – respondi - Você deveria ir com o Jeff até o haras, temos um campo lá, onde ele costuma treinar, e ter algumas aulas com ele, aposto que você aprende rápido. – disse Corine, com um sorriso maternal. - É, quem sabe? – disse, para não deixa-la sem resposta. – Tive que baixar o olhar, receoso de que pudessem ler o pensamento que passava na minha mente. As aulas que estou tendo lá no haras são bem diferentes. O jogo que ele joga comigo tem outras regras, nem sempre muito agradáveis, ou nem sempre isentas de dor. Não sei o que o Jeff fez para se livrar da loira platinada com trinta e muitos. Ele se juntou a nós já anunciando que estávamos de partida. Quando Albert o questionou sobre Anabel ele desconversou, dizendo que ela já tinha outro programa. Caminhamos lado a lado, em silêncio, nossos braços se roçando de tão próximos, até o estacionamento. - Me dê a chave! – ordena irritado, quando estamos ao lado do meu carro. - Eu gostaria de dirigir. – digo, me arrependendo das palavras. - Fim de papo, Luke. Não me provoque. Faço uma cara feia para ele e entrego a chave. De repente, ele me agarra e me empurra contra a porta, a boca na minha, reivindicando-me avidamente, uma mão na minha bunda, apertando-me contra sua virilha, e a outra na nuca puxando-minha cabeça para trás. Ele roça o corpo contra o meu, aprisionando-me, a respiração ofegante. Lembro-o de que estamos em público, embora rastreando os arredores não consiga ver ninguém. Eu sinto sua ereção, ele me quer. Fico excitado ao me dar conta da necessidade que tenho dele, mesmo estando com raiva dele. - Por que você tem que me desafiar? – balbucia ele entre seus beijos ardentes. - Porque eu posso! – exclamo ofegante. - Você é enlouquecedor, não consigo me saciar de você. Preciso te comer! – sussurra. Mas quando ele coloca o carro em movimento, a expressão taciturna e zangada volta. Ah, o garotão mal-humorado voltou com tudo. Não vou deixar ele me intimidar. Quem foi pego no flagra foi ele e não eu. Se alguém deve explicações esse alguém é ele. Eu apenas aceitei um simples convite do qual não lhe dei ciência. Anoiteceu e ele pisa no acelerador na estrada quase deserta. Não sei para onde está indo. - Quer dizer que você tem uma namorada? – provoquei. - Não sei se posso chama-la assim. – retruca nervoso. - E que nome você daria àquela velha tingida, turbinada, com boca de bagre, e vulgar, pendurada no seu pescoço cheia de carinho para dar? – o tom da minha voz vai subindo enquanto falo. - Está com ciúmes? – há um risinho irônico escondido por trás de seus lábios. - Você faz um escândalo dizendo que o Taylor quer entrar dentro das minhas cuecas, mas agora eu sei com quem você aprendeu a usar aquele arsenal sádico que você guarda no celeiro. A sua experiência no assunto deve ter vindo de exaustivas aulas com madame ‘deixa que eu adestro mancebos’. – estou com tanta raiva que cravo os dedos nas minhas coxas. - Ele quer foder você! E você é meu! – rosna ele - E com ela você faz o que? Conta histórias da carochinha? – indago petulante. - Eu sou macho. Tenho o direito de ter uma namorada. É bom para a minha imagem. – argumenta - Ah, claro! Uma mulher, mesmo que seja uma desfrutável, é a sua garantia de ser um macho. – revido provocativo. - Você não entende nada disso! – diz, displicentemente. – E eu sei que sou macho, com ou sem mulher. Não preciso provar isso para ninguém. – acrescenta irado. - Não é o que está me parecendo! – digo, com sarcasmo. – Ou foi ela quem tirou a sua virgindade e te ensinou a ser homem? – insinuo - Se você continuar a me provocar, eu paro o carro na beira da estrada, e vou aplicar seu castigo aqui mesmo. E, garanto, você não vai gostar! – ameaçou. - Um jeito bem civilizado de ter uma discussão! – retruquei. Ele aumenta o volume da música. A voz rouca de Paloma Faith cantando ‘Only love can hurt like this’ domina o ambiente. Um nó vai subindo pela minha garganta. Droga! Não vou chorar na frente dele. Ele está indo para o haras, começo a reconhecer o caminho. O céu está limpo e cheio de estrelas quando ele estaciona em frente a casa de madeira. Meu dou conta de que é a primeira vez que entro nela, mesmo tendo estado tantas vezes aqui. Ele dá a volta e abre a porta para eu sair do carro. Uma gentileza dedicada às mulheres, senhor Jeff. Será que faz parte dos preparativos para o castigo? Um espasmo percorre meu corpo. Está frio aqui fora. A casa é suntuosa, decorada com bom gosto. Ele me aponta a escada, e antes que eu comece a subir, o Rodriguez aparece vindo de um corredor lateral. - Senhor Richmond! – seu cumprimento é servil. Incrivelmente, ele está sem camisa, o cós do jeans deixa aparecer o elástico da cueca, e as duas cavidades insinuantes ao lado da barriga de músculos definidos. Deve estar fazendo uns nove graus lá fora. - Boa noite Rodriguez! – responde, me encarando com censura. - Luke! – Rodriguez estica os lábios no que interpreto ser um sorriso. - Oi Rodriguez! Tudo bem? Você vai acabar se resfriando. – retribuo, num sorriso franco. - Estou acostumado. Mas obrigado pela preocupação. – ele me devolve um sorriso insinuante. - Ainda bem que você tem uma cobertura exuberante sobre seus pulmões! – comento, enquanto passo deliberadamente a língua sobre os lábios encarando o Jeff. - Temos algo para comer? Pergunta Jeff, dirigindo-se ao Rodriguez com a cara amarrada. - Não. Mas posso buscar se quiser. – prontifica-se. - Está com fome? O que gostaria de comer? – Jeff, me encara. - Para dizer a verdade estou. Comi pouco no almoço. O que você preferir. – respondo, os músculos do Rodriguez fazem com que algo entre as minhas coxas se contraia quase como uma cólica, mas uma cólica gostosa. O Jeff acerta os detalhes com o Rodriguez e eu subo as escadas, mesmo não sabendo para onde ir. Pouco depois o Jeff está atrás de mim, me dá um tapa na bunda e me indica uma porta num corredor depois de uma saleta. É um quarto grande, há uma lareira, duas portas que dão para um terraço. Vejo parte do céu estrelado através das portas de vidro. Uma cama de casal espaçosa, com um rico trabalho de entalhe na cabeceira de madeira, domina o mobiliário. Tenho a certeza de que é ali que vou ser fodido. - É aqui que vou ser castigado? – pergunto de supetão. - Só se você fizer por merecer. – revida malicioso. - Estou com muita raiva de você! – digo, deslizando os dedos sobre uma cômoda. - Não está não. Está com ciúmes! – devolve convicto. - E se estivesse? Não diminui o seu erro. – retruco - Não cometi erro algum. Eu já disse que um macho precisa ter uma mulher ao seu lado. Está tão difícil de entender isso? – ele franze as sobrancelhas para mim. - Você me disse que gosta de me comer, de me foder, e com ela, você faz amor? – as últimas palavras quase não conseguem passar pelo nó que está na minha garganta. - Não. – ele revira os olhos, aborrecido. - Não o que? – balbucio inseguro. - Não faço amor com ela. Eu transo com ela e faço uso dos brinquedos que tanto te apavoram. Satisfeito? – sua irritação aumenta. - Aquilo é sadismo. Não sei se sofrer dores e torturas fazendo sexo seja algo a que eu consiga me acostumar. – continuo - É um jogo. Quem joga conhece as regras. – sua resposta é seca. - Você deixa ela te acariciar? Por que eu não tenho esse direito? – pergunto curioso. - Ela é mulher. Mulheres acariciam homens, não há nada de errado nisso. – retruca. - E o que há de errado com o carinho que eu quero te dar? Ele é diferente, ou não presta? – sei que estou provocando, mas preciso de respostas. - Eu não sei! – Ops, ponto para mim. Ele me olha incrédulo. Por uns instantes percebo que todas as suas convicções e conceitos estão em xeque. Ele é um libertino devastadoramente sensual e com intenções libidinosas. Chego à conclusão de que sou seu brinquedinho sexual. Algo se comprime em meu peito. No andar de baixo a voz do Rodriguez chama pelo Jeff. Descemos, e na sala de jantar há uma mesa bem posta, uma senhora de meia idade termina de ajeitar as travessas e nos deixa a sós. É fast food, mas está saborosa. Ele me encara de maneira enigmática. Eu gostaria de saber o que se passa em sua mente. Às vezes tenho a impressão de que ele tem uma porção de questões não resolvidas naqueles meandros. - Vamos terminar nosso vinho lá na sala. – sugere, e segue atrás de mim. Consigo sentir seu olhar penetrante na minha bunda. Há um sorriso depravado em sua expressão quando chegamos à sala, onde a lareira arde aconchegantemente. - O que foi? – pergunto, antes de ele se acomodar numa poltrona junto a lareira. - Esse jeans é novo? – pergunta, depois de sorver um gole de vinho. - Sim. Por quê? Foi um dos que minha avó me presentou quando cheguei aqui. – respondi. Eu admirava absorto alguns objetos decorativos que estavam numas prateleiras junto à lareira. - Você o preenche muito bem! – murmura, me secando. Enrubesço, mas me abaixo para pegar a pinça, e juntar a lenha que se espalhou dentro da lareira, empinando propositalmente a bunda. Ele arregala os olhos lascivos. Volto-me para ele e me inclino para pegar seu querido e desejado rosto entre as mãos, beijando-o suavemente, e derramando todo o amor que sinto nesse contato carinhoso. Ele, surpreendentemente, não se esquiva como das outras vezes em que tentei fazer isso. Quero que ele sinta o quão imprescindível ele se tornou em minha vida. Jeff geme e me aperta contra seu peito, segurando-me como se eu fosse o ar que ele precisa para respirar e se manter vivo. Nossos olhares se encontram, olhos castanhos fumegantes mergulhando em olhos azuis reluzentes, e isso me traz uma certeza. Estou apaixonado. - Ah, Luke. – sussurra, a voz docemente rouca. – Quero você! Subo a escada na frente dele, estamos de mãos dadas. Entro no mesmo quarto em que estivemos antes do jantar. Beijo levemente a borda de sua mandíbula e deixo meus dedos afoitos entrarem pelo colarinho aberto dele. Ele coloca sua mão sobre a minha e me encara como se eu estivesse ultrapassando os limites. Faço um beicinho contrariado. - Bem, creio que você está merecendo uma punição. Ai, ele vai me bater outra vez, meu coração dispara. – Vejamos quais foram os seus delitos. – Ele começa a contar esticando os grossos dedos da mão. – Primeiro, não me contar que foi convidado para assistir a minha partida de polo. Segundo, fazer uma cena de ciúmes infantil por conta de alguém que não tem nenhuma importância na minha vida. Terceiro, provocar ciúmes em mim, flertando com um empregado meu. Quarto, empinar essa bundona deliciosa para mim, durante a última meia hora. – Há um brilho delinquente em seu olhar. Num instante sinto-me quente, alvoroçado e com o cuzinho túrgido. Ele consegue fazer meu tesão aflorar só com esse olhar guloso e predador. Fico maravilhado com a profundidade dos sentimentos que tenho por esse homem. Eu o amo com toda a intensidade e inocência de adolescente. Ele desliza suavemente meu jeans, junto com a cueca, ao longo das minhas coxas e o abaixa até os meus pés, dou um passo para o lado saindo deles. Ele me faz sentir completamente exposto ao dar um beijo leve e uma mordiscada em cada nádega. Ele se debruça sobre mim, espremendo-me de encontro à beirada da cama. Eu o sinto encostado em minha bunda se esfregando, duro. Ele se move para a minha esquerda, de forma que fica em pé ao meu lado, a ereção está aos pinotes a centímetros do meu rosto. Solto um gemido e meu coração salta até a boca. Estou ofegante e uma onda de tesão corre, densa e fervilhante, por minhas veias. Ele acaricia meus cabelos com ternura e força a aproximação da minha boca na sua rola. Inalo o cheiro voluptuoso do caralhão dele. Agarro o cacete e o coloco na boca, sugando com força a glande lustrosa. Ele solta um gemido do fundo da garganta. Começo a chupar aquele tronco latejante movimentando minha cabeça para frente e para trás, em movimentos frenéticos, enquanto meus lábios apertam intensamente aquele falo grosso. Acaricio seus pelos pubianos enquanto começo a beijar e lamber suas bolas. O pré-gozo espesso pinga no meu rosto. Ele me levanta e me estende de bruços sobre a cama. - Abra as pernas! - Ordena e, por uns segundos hesito. Ele me bate com força na nádega esquerda. Solto um gemido, e ele me bate de novo na nádega direita. Abro as pernas, ofegante. Ele coloca o peso do seu corpo sobre o meu. Estou completamente indefeso. Permaneço deitado, ofegante, sabendo que ele vai ser bruto. Ele enfia dois dedos em mim e os mexe num movimento circular. A sensação me faz querer chorar, é deliciosa, fecho os olhos e me entrego. Ele se apoia na cama e, lentamente, entra em mim, a pica me preenche dilacerando minhas pregas. Ouço seu gemido de puro prazer quase em sintonia com o meu grito sufocado. Ele agarra meu quadril com suas mãos potentes, sai de dentro de mim e volta, desta vez entrando com mais força, fazendo-me gritar. Há uma convulsão acontecendo nas minhas entranhas. Ele sai de mim mais uma vez, e então entra com força, e repete isso de novo, e de novo, bem devagar, deliberadamente, num ritmo punitivo e brutal. Eu me entrego exausto, ganindo em desespero. Aos poucos ele começa a suavizar as estocadas, e uma plenitude se espalha por todo meu baixo ventre. Sinto-o inteiro dentro de mim, pulsando como um animal intrépido. Ele chupa meu pescoço, arfando profundamente. Envolve meu tórax em seus braços e me aperta. Um mamilo está numa de suas mãos e ele o aperta, puxa e torce com força, numa tortura sublime. Ergo minha cabeça de encontro ao ombro dele e ele me beija, penetrando a língua habilidosa na minha boca à caça da minha. Sinto que gozei ao perceber que estou com as coxas lambuzadas. O corpo dele se enrijece, levo três estocadas secas, sequenciais e profundas, sinto meu cuzinho sendo inundado pelos jatos de porra viscosos que ele deixa explodir em mim. O peso dele se derrama languidamente sobre mim, enquanto eu continuo a travar ritmicamente meus esfíncteres anais em torno de sua jeba. Não sei quanto tempo ficamos assim, imóveis, deixando que nossos corpos reassumissem seu metabolismo normal. Ele saiu de mim, sem que a pica tivesse amolecido completamente, e deslizou para o meu lado. Inclinei-me sobre ele e comecei a beijá-lo com uma liberdade que até então, ele jamais permitira. Meus beijos são suaves, lentos e percorrem a borda de sua mandíbula, o pescoço e o peito peludo onde, por fim, pouso a cabeça num aconchego seguro. - Obrigado, Luke! – murmura ele, acariciando meus cabelos. - Você é a única pessoa problemática, inconstante, dominadora e enigmática que eu conheço intimamente. – sussurro, num desabafo. - Pensei que eu fosse a única pessoa que você conhecia intimamente! – Ele sorri arqueando a sobrancelha. - É, isso também. – rebato. Esses momentos mais ternos foram se repetindo com maior frequência. Ele já não me impedia de demonstrar meu afeto em carícias que o incendiavam. Eu os fazia tão discreta e veladamente, para que ninguém suspeitasse de qualquer coisa, que elas ganharam o status de algo instigador e libidinoso. No entanto, ele às vezes voltava a me parecer frio e distante. Trocara a loira platinada por uma garota menos chamativa e mais próxima da idade dele. Mesmo sabendo que isso me mortificou, manteve-se irredutível e incapaz de se contentar com o amor que eu lhe dedicava. No final de maio chegaram duas correspondências para mim, das universidades para as quais havia me candidatado. Era uma quinta-feira quando minha avó me entregou os envelopes, assim que retornei do colégio. Sua expectativa transbordava no olhar angelical. Havia uma tristeza escondida no fundo da sua alma, com a possibilidade de eu deixa-los para seguir meu rumo. A ansiosidade também se apoderou de mim, junto com o receio de deixar a segurança daquela casa e me afastar do amor que eles me dedicavam. Não consegui abrir os envelopes, deixando-os sobre o aparador do hall. A perspicácia de seus anos de experiência compreendeu minhas incertezas, e nenhum dos dois tocou mais no assunto. O semestre caminhava para o final, no colégio só se falava das provas finais e, aqueles que iam recebendo as cartas de aceitação das universidades para as quais pleitearam uma vaga, anunciavam, cheios de orgulho, o fato de terem ingressado na universidade. O Jeff me comunicou a vaga em engenharia na universidade do Colorado no campus de Boulder, portanto, sua vida continuaria por ali, e isso lhe bastou. Também ficou me perguntando se eu obtive resposta das universidades e, por algum motivo, eu menti, negando. Estava apreensivo demais para abrir aquelas correspondências e, mais ainda, para discutir com ele, caso fosse aceito, pois isso significava outra guinada na minha vida. Três semanas depois até a ansiedade dos meus avós estava me matando. Estavam curiosos por uma resposta e, embora não o demonstrassem, sua agonia era visível. Não dava mais para protelar a abertura daqueles envelopes. Numa noite em que até o sono me fugiu por conta desse impasse, desci a escada, peguei os envelopes e os abri em plena madrugada. PREZADO SENHOR LUKE HENDERSON – É COM IMENSO PRAZER QUE COMUNICAMOS QUE O PROGRAMA DE ADMISSÃO DA UNIVERSIDADE DE CORNELL FEZ UMA RECOMENDAÇÃO E A MESMA FOI ACEITA PELA FACULDADE DE MEDICINA PARA SUA ADMISSÃO NO PRIMEIRO ANO DO PROGRAMA ACADÊMICO A SE INICIAR EM 18 DE SETEMBRO PRÓXIMO – NOSSAS CONGRATULAÇÕES. O texto emitido pela Universidade de Wisconsin continha em suas palavras o mesmo conteúdo. Um turbilhão de pensamentos avassalava minha mente e outro tanto de sentimentos produzia o mesmo efeito em meu coração, tudo a um só tempo. Ri por entre lágrimas, me alegrei no meio da dor, nada e tudo faziam o mesmo sentido. Sentia-me exausto, sentado à mesa da cozinha, segurando as duas cartas nas mãos, e olhando fixamente para elas. Minha vida estava naquelas folhas com um texto impessoal escrito por desconhecidos. Deixei-as cair sobre a mesa e fui dormir. Minhas premonições se confirmaram. Meus avós me cumprimentaram e me abraçaram, quando desci para o café da manhã ainda de pijama. No entanto, o fato de eu ter que sair da casa deles também pesava no fundo de suas almas. A saída de um filhote do ninho para alçar voo próprio os atropelava pela segunda vez. Se foi duro ver esse sentimento comprimir seus corações, eu imaginava como seria dar essa notícia ao Jeff. Estávamos no celeiro ao entardecer de um domingo, depois de um dia agitado em que voltamos de um acampamento no parque nacional da floresta de Arapaho, para onde havíamos ido, na sexta-feira à tarde, carregando nossas bikes na caçamba da picape. O Jeff acabava de tirar, pela segunda vez, o caralhão ainda pingando sêmen do meu cuzinho esfolado. O esforço físico do final de semana ao invés de esgotá-lo parecia ter-lhe injetado mais adrenalina e, particularmente, mais testosterona nas veias. As duas vezes em que ele entrou em mim foram delicadas e gentis como nunca antes. Ele está deitado, e segura minha cabeça em seu peito, desliza minha mão até seu membro toda vez que eu ameaço tirá-la de lá para acariciar os pelos de sua barriga. De uns tempos para cá a maciez da minha mão brincando com sua rola tornou-se sua sensação predileta. - Recebi a resposta das universidades de Cornell e Wisconsin. – digo, massageando seus testículos com a ponta dos dedos. - E aí? Aceitaram? – sua voz está surpresa e cautelosa. - Sim. As duas. – balbucio inseguro. Um silêncio demorado se instala. Nas cocheiras lá em baixo começa uma sequência de relinchos, como se os cavalos estivessem dando um boa noite. - Já se decidiu? – há angustia em sua voz. - Sim. – de repente começo a sentir medo. - Onde? – a palavra sai como um grunhido. - Cornell! – aquela calma aparente dele, aquele silêncio dominando o ar. Como isso vai acabar? - Parabéns! – ele bufa. - Preciso de certezas. Tenho que me sentir seguro. Desde a separação dos meus pais eu vivo um pesadelo. Estou sem referência alguma, e não sei viver assim. – minha voz sai embargada, e eu seco as primeiras lágrimas. - E eu não consegui te dar essa segurança! – exclama, é mais uma autocensura do que um comentário dirigido a mim. - Não! – sussurro - Pensei que você fosse mais compreensivo. – disse, sem me encarar. - Eu sou Jeff! Eu sou tão compreensivo que aceito as migalhas de seu afeto. Aceito aquele pouco que você está disposto a oferecer para uma relação como a nossa. Que nunca vai ser plena, por que você me vê apenas como seu brinquedo sexual, não como alguém que precisa do seu amor. – uma súbita coragem se cria dentro de mim. - Eu mudei tanto por você! – resmunga - Eu sei. E eu te amo por isso também. Mas eu não posso amar sozinho, Jeff. Não é justo comigo mesmo. Eu também tenho direito a uma vida plena. E, é isso que estou indo procurar. – ouvir as minhas próprias palavras me dá mais convicção sobre a minha decisão. - Não sei se consigo mais viver sem o seu amor. – seus olhos estão marejados. - Vai conseguir. Você traduz a palavra amor como algo que te dá prazer aqui, e não aqui. – digo, primeiro apertando seu membro entre os dedos, e depois pousando minha mão sobre seu coração. – E eu torço para que um dia você compreenda o significado dela aqui. – minha mão desliza sobre seu coração que palpita acelerado. No início de setembro daquele ano ele me leva até o aeroporto de Denver. Me despedir dos meus avós tirou meu último chão firme sob os pés. E, até para eles, foi difícil conter o sofrimento que esta ruptura produziu. Jeff dirigia o Porsche 911 em silêncio, sem pressa, pois eu estava bastante adiantado para o meu voo até Nova Iorque. Eu temia fazer qualquer comentário, receoso de que aquele nó na garganta sobrepujasse meu autocontrole. Para piorar as coisas, eu que até então não havia me concentrado na seleção musical do iPod que ele conectara ao painel, e que vinha compondo apenas um som de fundo, quase perdido; comecei a distinguir os acordes de ‘Come Undone’ do Duran Duran, a mesma música que nos acompanhou até a casa dos meus avós, após ele ter tirado a minha virgindade naquele celeiro que, de agora em diante, não seria mais que uma lembrança. A última cena que ficou gravada em minha memória e, que ainda me dói profundamente, foi seu rosto transfigurado por um choro contido atrás dos grandes painéis de vidro que separavam o corredor de embarque do túnel de acesso à aeronave. Eu acenei para ele com o rosto coberto de lágrimas e um soluço a me sacudir o peito. Quando o avião começou a correr pela pista eu senti como se os pedaços do meu coração estivesse espalhados sobre o asfalto e que jamais eu os conseguiria juntar novamente, e um choro convulsivo e pungente eclodiu sem freios, enquanto eu me afundava na poltrona. Benvindo a idade adulta Luke!
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Nem tenho palavras, simplesmente isso... E concordando com os comentários abaixo, espero ansiosamente uma continuação! Essa história fez com que eu desejasse que os dois não se separassem, isso doeu até em mim e tenho certeza que doeu em quem leu também. Novamente, meus parabéns a mais um conto digno de novela!
Esse conto é lindo, a forma que foi escrito nos mantem curiosos pra saber o que vai acontecer, esse conto merece uma continuação. Simplesmente perfeito.